Etiqueta: Elisabete Tavares

  • Pobres: ai agora é que os media se preocupam?!

    Pobres: ai agora é que os media se preocupam?!


    Os governantes de diversos países, incluindo Portugal, e os bancos centrais só conseguiram destruir a Economia e fazer disparar os níveis de pobreza graças à ajuda preciosa dos principais órgãos de comunicação social. Sem a sua submissão, em geral, jamais se teria feito a destruição que se fez em termos económicos, sociais e de saúde e bem-estar da população.

    Muitos, além de submissos, ainda assumiram o papel de cheerleaders das muitas políticas e medidas impostas desde 2020, na pandemia e não só. Aplaudiram (e aplaudem), promoveram, publicitaram e encorajaram. Com os seus “especialistas” em coro, queriam mais. Pior. Perseguiram quem a elas se opôs. Querem hoje, de novo, mais medidas. Com os seus “especialistas”. Com os seus editoriais. Pedem mais, sempre mais. Mais medidas. Mais doses de vacina. “Mais” guerra. Mesmo que tudo isso implique menos saúde, menos liberdade, menos democracia, menos jornalismo. Menos Europa. Menos comida.

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    Os media ajudaram, desde 2020, a amassar o pão que hoje não chega às mesas de muitas famílias. O pão que não sobra para alimentar os mais pobres e frágeis.

    Tudo o que os governos têm feito nos últimos dois anos, tem sido acompanhado pela aprovação e até sonoros aplausos por parte dos principais media. Contraditório? Zero ou quase nenhum. Os media, em geral, escolheram o seu lado em 2020, pisando o Jornalismo e os deveres dos jornalistas. Os media escolheram o seu lado em 2021 e em 2022, ajudando a destruir a economia e a saúde dos portugueses (e dos europeus). Agora, é que se lembram dos pobres?

    Durante dois anos, a maioria dos principais órgãos de comunicação colocaram-se do lado de medidas extremas que tiveram como base o “combate à pandemia de covid-19”. Agora, aparecem como “denunciantes” da fome e do aumento da pobreza. Começam a “denunciar” e a tomar “as dores” dos que sofrem devido à crise económica.

    Na sua maioria, defenderam todas as medidas, colocaram zero questões a todas as ilegalidades cometidas. Os que levantaram a voz contra as medidas foram insultados pelos media (ou através deles), que não deram qualquer hipótese ao contraditório, em geral.

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    Mas agora, em 2022, os media preocupam-se com os “pobrezinhos”, com os que passam fome. Com os desempregados. Agora? Depois de terem apoiado todas as medidas que provocaram a crise e dado a mão aos governantes que as decidiram? Agora vêm tarde.

    Sabe-se hoje o que já se sabia em 2020: confinar era um erro colossal. Todas as restrições que países como Portugal decidiram adotar – alinhado, em geral, com os restantes países europeus – causaram uma catástrofe económica. Já se sabia que isso iria acontecer, desde 2020. Na altura, era moda dizer “primeiro, salvar vidas; a Economia vê-se depois”.

    Não. A Economia não se vê depois. Porque a Economia somos todos nós. E, além disso, não se salvaram vidas a confinar e a impor medidas grotescas e ilegais. Pelo contrário, pelo que se vê da comparação entre a gestão da pandemia na Suécia e em países como Portugal. E vê-se agora também nas mortes em excesso.

    Em 2020 e em 2021, analistas alertaram para o enorme risco de uma crise alimentar. Economistas alertaram para o perigo da inflação. De nada valeu. Estamos, de novo, perante uma grave crise que está sobretudo a afetar as famílias e os mais frágeis da sociedade.

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    Nesta crise, os media são cúmplices. São responsáveis por ela. Os media são co-responsáveis pela pobreza causada por políticas nefastas e irracionais. Os media são responsáveis pelo desemprego criado. Pela fome. Não foi a covid-19. Não foi a guerra na Ucrânia.

    Foram os governos ajudados pelos media e todo o seu arsenal de “especialistas/ consultores”. Com as suas manchetes amigas dos governos e as aberturas de noticiários alinhados com “as autoridades”, os media foram um braço importante dos que criaram a atual crise que vivemos. Uma crise que está a ser uma oportunidade para retirar direitos e eliminar a democracia.

    Virem agora sacudir a água do capote e fingir que estão muito preocupados com os “pobres” e que querem denunciar que há fome, é mais do que hipócrita. É um insulto. É um insulto para quem perdeu o seu emprego. Para quem não tem o que pôr na mesa ao jantar.

    É um insulto para os economistas que há muito alertavam para o perigo da inflação. Para os analistas que avisaram sobre a crise alimentar. É um insulto para os que têm processos disciplinares por defenderem os mais frágeis. Para os que têm levantado a voz e dado a cara, arriscando a carreira, contra as medidas irresponsáveis e até criminosas que têm sido adotadas.

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    E não me refiro apenas à gestão da pandemia mas também às decisões irresponsáveis e anti-europeias que Bruxelas tomou em 2022. Mais uma vez, tentam vender a ideia de que todas as decisões são “para o bem”, que querem defender “a liberdade” e “a democracia”. “A democracia, a liberdade e os valores europeus que têm sido amputados e espezinhados desde 2020?

    E Bruxelas ainda tem o desplante de dizer que está a “defender a democracia”. Tudo isto com os media sempre prontos para, com submissão perante os governantes, massificarem as frases e palavras-chave do marketing político. Um coro. Afinados. A tocar a mesma música.

    Mas, apesar de terem já começado a “tomar as dores” dos “pobrezinhos” e dos que passam fome, os media ainda não tomaram as dores dos que estão doentes. Dos jovens apanhados por uma pandemia de doenças mentais devido às medidas que lhes foram impostas.

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    Não tomaram as dores dos que sofrem com reações adversas graves devido a doses de vacinas que foram, muitos deles, forçados a tomar para manterem o emprego.

    Os media não pensam ainda nos milhares de famílias dos europeus que têm morrido sem grande explicação ou investigação. Lá foram começando, a custo, a noticiar as mortes em excesso, mas sem grande acompanhamento do tema.

    Os media ainda não tomaram as dores dos mortos e dos que ficaram doentes devido ou na sequência de medidas impostas. Talvez porque, no fundo, bem lá no fundo, os media sabem. Que são eles também responsáveis por estas mortes e estes doentes. No fundo, eles sabem que ajudaram a destruir vidas e famílias, além de empregos, além da economia. Eles sabem. E nós também.

  • O Pacto de Silêncio dos media mainstream vai rebentar quando?

    O Pacto de Silêncio dos media mainstream vai rebentar quando?


    Se um dia nos tivessem dito que iríamos testemunhar uma onda de supressão de informação de relevo para a população, por parte dos maiores grupos de comunicação social, daríamos uma gargalhada. Diríamos que jamais isso aconteceria a não ser que Portugal deixasse, obviamente, de ser uma Democracia. Que a Europa, por qualquer catástrofe, se transformasse numa espécie de “Federação” totalitária. Pois, era isso que faríamos. Mas enganar-nos-íamos, porque esse dia chegou.

    Assistimos nas últimas duas semanas – pelo menos – à divulgação de informação crucial, que em outros tempos seria abertura de noticiários e faria manchete nos diários. Informação tão relevante que tem gerado a indignação de milhões em todo o Mundo.

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    O que fez a imprensa mainstream? Fez aquilo que tem feito nos últimos dois anos. Manteve o Pacto de Silêncio. Simplesmente fingiu e finge que nada aconteceu. Que nenhuma revelação foi feita. Manteve o seu Pacto de Silêncio também com as gigantes tecnológicas. E se um órgão de comunicação social independente ou um jornalista independente noticiasse a informação – como fez em alguns destes casos o PÁGINA UM –, esperava-o o ostracismo e a censura nas redes sociais. Mesmo agências noticiosas – cuja função é noticiar a actualidade e fornecer notícias aos restantes meios de comunicação social – fingem que nada se passa.

    E pur si muove! – assim terá dito Galileu Galilei, quando foi obrigado a renegar a visão heliocêntrica do Universo perante o santo Ofício. Apesar deste Pacto de Silêncio, apesar da censura, passa-se algo. Mesmo que os principais media finjam que não, as pessoas vão acabar por descobrir a informação que está a ser sonegada pela imprensa mainstream, de uma maneira ou de outra.

    Comecemos pelo “segredo” mais mal guardado, porque não se passou numa esconsa cave de uma aldeia recôndita, mas no Parlamento Europeu. Trata-se da audição de uma responsável da farmacêutica norte-americana Pfizer perante os eurodeputados de uma comissão sobre a gestão da pandemia de Covid-19. 

    Audição de Janine Small no Parlamento Europeu

    A representante da Pfizer, Janine Small, admitiu, sem pestanejar, que a farmacêutica norte-americana nunca testou a sua “vacina” contra a covid-19 para apurar se evitaria a transmissão do vírus SARS-CoV-2 quando foi pedida a autorização do uso de emergência para este fármaco. Recorde-se que, há mais de um ano, assumindo que o dito fármaco conseguiria “estancar” a transmissão entre vacinados, foi criado o impensável certificado digital covid, que segregava a população que optava por não se vacinar, quer porque acreditava na imunidade natural, quer porque considerava não estar em grupo de risco, quer por receio dos efeitos adversos, quer por outras quaisquer razões.

    As pessoas que não tinham certificado foram impedidas de viajar, de entrar em restaurantes ou espectáculos, olhadas com desdém ou censura social, colocadas como entes insensíveis, irresponsáveis ou até criminosas. Pessoas foram ameaçadas. Trabalhadores perderam os seus empregos. Cidadãos foram forçados a tomar as novas vacinas para poderem circular, trabalhar, estudar…

    Numa conferência de imprensa realizada ontem, seis eurodeputados exigiram, de novo, que seja fornecida mais informação sobre as vacinas contra a covid-19, muita da qual se mantém secreta. O PÁGINA UM continua a ser o único órgão de comunicação em Portugal que tem lutado por conhecer essa informação, que o Infarmed continua a sonegar desde Dezembro do ano passado e que o Tribunal Administrativo anda para decidir desde Abril.

    Também foi pedida a realização de uma comissão de inquérito sobre a gestão da covid-19 para que os cidadãos europeus possam ser informados sobre a verdade que se mantém escondida em torno da segurança e eficácia das vacinas contra a Covid-19 e os contratos secretos feitos entre a Comissão Europeia e as farmacêuticas.

    Para as pessoas que não tomaram as novas vacinas e que foram perseguidas e discriminadas, apurar a verdade é crucial. Mas o apuramento dos factos é ainda mais importante para os milhões de europeus que foram levados a tomar as novas vacinas, muitos sob coacção.

    Neste tópico, até se compreende que os media mainstream queiram meter a cabeça na areia. Afinal, eles desempenharam um papel fundamental em “vender” as novas vacinas à população e a quase “criminalizar” todos os que não as tomaram.

    Entretanto, do outro lado do Atlântico, no estado norte-americano da Califórnia, uma nova lei prevê a punição dos médicos que se oponham ou meramente questionem as políticas de saúde oficiais. Sim, leu bem. O estado da Califórnia tornou ilegal que qualquer médico discorde do governo em matérias sobre saúde. Se ainda não está chocado, vamos prosseguir.

    Na Califórnia, médicos podem ser punidos se discordarem das orientações políticas.

    Até porque, entretanto, na Florida, as autoridades de Saúde lançaram uma nova recomendação no sentido de não se vacinarem os homens com idades entre os 18 e 39 anos com vacinas mRNA. 

    A recomendação está fundamentada num estudo científico oficial do Departamento de Saúde da Florida que apurou a a ocorrência de um aumento de 84% de incidência de mortes relacionadas com problemas cardíacos entre os homens dentro daquela faixa etária nos 28 dias após a vacinação. Adiantou que, “com o elevado nível de imunidade à covid-19 que existe a nível global, o benefício de vacinar é inferior a este risco anormal de mortes por problemas cardíacos entre os homens neste grupo de idades”. Joseph Ladapo – cirurgião-geral da Florida, homónima da “nossa” Graça Freitas –, doutorado em Políticas de Saúde na Universidade de Harvard, partilhou essa recomendação na sua conta oficial na rede social Twitter

    E o que aconteceu logo? Seguindo a perigosa tendência de censura das grandes tecnológicas, o Twitter apagou-lhe a recomendação oficial. Assim. A onda de choque que o acto de censura gerou fez com que o Twitter voltasse a repor o tweet. Mas o mal estava feito e o sinal dado: já não vivemos numa democracia e foi eliminada a liberdade de expressão no mundo dito ocidental.

    Mas, perguntam: isto saiu em algum órgão de comunicação social mainstream em Portugal? Não vimos nada.

    A prova definitiva – se é que era necessária – de estarmos numa época de censura, ainda mais “apadrinhada” pela imprensa mainstream, chegou após a publicação, no final de Setembro, de um artigo cientifico de um reputado médico e especialista em Medicina Baseada em Evidência. O artigo, que foi revisto por pares, pedia a suspensão da administração das vacinas contra a covid-19 por questões de segurança. O autor do estudo, Aseem Malhotra, até promoveu a toma das vacinas contra a covid-19, mas mudou de opinião devido aos seus efeitos adversos, sobretudo nos mais jovens e jovens adultos, e à baixa eficácia observada na prevenção da infecção e transmissão do SARS-COV-2.

    O Facebook suspendeu a conta do reputado cardiologista por três dias, mas no futuro poderá suspender por muito mais tempo. Malhotra acusou entretanto o Facebook de ser “uma ameaça à democracia” por “deliberadamente suprimir a liberdade de expressão e a verdade sobre o produto mRNA” e frisou que Mark Zuckerberg é um inimigo da democracia e que “é assim que deve ser mencionado”.

    Facebook tem aplicado, nas últimas semanas, “castigos” por causa de posts com referências à covid-19, mesmo se citando artigos científicos.

    Aliás, o PÁGINA UM noticiou as conclusões do artigo científico e foi alvo de censura no Facebook, que apagou também o post sobre a notícia, num aparente “processo de silenciamento em curso“.

    Estas censuras nas redes sociais são tornadas possíveis com a ajuda dos media tradicionais e de supostas empresas de “verificação de factos”, cujas análises, muitas vezes erradas e pobres, conduzem à censura de informação nas plataformas como o Facebook.

    Vale a pena lembrar que as grandes tecnológicas financiam empresas e media para fazerem “verificação de factos”. Ora, estas empresas seguem as guidelines das grandes tecnológicas. Muitas são financiadas quase na íntegra pelas tecnológicas, como sucede com o português Polígrafo que recebeu 860 mil euros do Facebook em apenas dois anos. Isto significou 91% do total das receitas. Ou seja, o Polígrafo trabalha para o Facebook, não para os seus potenciais leitores.

    Ou seja, aquilo que aparentemente seria positivo – a luta contra a desinformação – está a ser o alimento de um “monstro”, promovendo a censura mesmo de factos e informações verídicas, bastando que contrariem aquilo que é “aceite” como “verdade” pelos “verificadores de factos” e as grandes tecnológicas.

    Mas há casos cada vez mais graves, e que transcendem matérias de Saúde e as redes sociais. Na semana passada, a Repórtes Sem Fronteiras denunciou que o Tribunal do Comércio francês ordenou que o jornal Reflets parasse de publicar artigos sobre o grupo Altice e o seu presidente-executivo, Patrick Drahi. A RSF considera a decisão uma “violação da lei da Imprensa”, não apenas porque “o tribunal impõe uma proibição em relação a artigos ainda não publicados” mas também por recusar “aplicar a excepção jornalística especificada na lei sobre segredo comercial”.

    O jornal francês veio já, contudo, garantir que não respeitará o tribunal, mas e aqui: alguém escreveu sobre este tema na imprensa mainstream? Não.

    Para terminar, outra notícia de relevo que praticamente passou despercebida em Portugal – somente o Observador abordou hoje o tema – é a revelação de que a empresa de comunicação e relações públicas Weber Shandwick tanto trabalha para a Pfizer e a Moderna como para a poderosa CDC – Centers for Disease Control and Prevention, a agência de saúde norte-americana, que muito tem promovido a vacinação contra a covid-19, incluindo de crianças.

    Repórteres Sem Fronteiras denunciaram proibição ilegalmente decretada pelo Tribunal de Comércio francês

    Note-se que a revelação foi feita por um pequeno órgão de comunicação social, o The DisInformation Chronicle.

    O óbvio conflito de interesses existente está a gerar celeuma, com a CDC a ser criticada pela contratação daquela firma que está comprometida com as duas fabricantes de vacinas contra a covid-19. A empresa disse ao Daily Mail que levou a cabo um “processo completo de verificação e mitigação para evitar conflitos de interesse”, mas isso parece-nos música para os ouvidos.

    Acontecimentos e informações como os descritos acima, e muitos outros, não são mencionados na maioria dos principais órgãos de comunicação social, os quais são grandes aliados das tecnológicas que operam redes sociais. Estas duas indústrias criaram uma simbiose artificial, alimentada por financiamento e interesses mútuos, para agradar ao grande poder económico e às “autoridades” que dependem de políticos.

    Que existe um Pacto de Silêncio entre os grandes grupos de media nacionais e internacionais e as tecnológicas, que de forma dominadora e em oligopólio operam redes sociais, disso não há qualquer dúvida. Que esse Pacto de Silêncio é já óbvio para muitos, também não há dúvida.

    Quanto tempo vai levar até que essa barragem de censura nacional e global rebente, é a dúvida que permanece.

    A batalha pelo jornalismo, os factos, a transparência, essa vai prosseguir. E todos temos responsabilidade para que o desfecho seja apenas um: a vitória da liberdade e da verdade. O PÁGINA UM não quer apenas testemunhar esse evento; quer agir para que suceda.

  • O fantástico Euromilhões dos bancos: tudo legal, tudo imoral

    O fantástico Euromilhões dos bancos: tudo legal, tudo imoral


    “Mas que bronca!” A frase proferida por um banqueiro resume o seu sentimento em relação ao lucro extra que os bancos europeus estão a arrecadar graças a um “erro” do Banco Central Europeu. “O BCE cometeu um erro gigantesco. Agora quer resolver isto, mas não é fácil”. Apesar de considerar-se um “escândalo”, o que certo é que nenhum banco irá deixar de aproveitar esta oportunidade caída do céu (ou melhor, do BCE).

    Os bancos estão sentados numa almofada de milhões e milhões de euros em fundos públicos. Agora, estão a usar esses fundos para ter um lucro extra. Estão a depositar os dinheiros públicos junto do banco central. Com a subida das taxas de juro, é só ouvir o “tlim, tlim” dos juros a entrar nos seus cofres.

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    Os bancos europeus conseguiram ter essa mala de dinheiro porque o BCE decidiu, em 2020, pagar à banca para ficarem com os fundos públicos. Isso mesmo. O objectivo do BCE era incentivar os bancos a emprestar dinheiro e a minimizar os impactos da crise económica provocada pelas medidas drásticas e polémicas adoptadas por governos europeus na pandemia – que incluíram devastadores confinamentos.

    No total, os bancos europeus estão sentados em cima de 2,1 biliões de euros em fundos públicos provenientes da terceira operação de empréstimos direccionados de longo prazo (TLTRO), segundo dados citados pela Reuters. É um valor astronómico que o BCE tem de pagar aos bancos em juros.

    Segundo analistas do banco ING, o total de excesso de liquidez nas mãos da banca europeia ascende a 4,6 biliões de euros. Com a actual taxa de juro, o BCE teria de pagar 34,5 mil milhões de euros em juros por ano, aos bancos. Se a taxa de juro subir para 2,5% em 2023, o valor a cair no colo dos bancos subiriam para 115 mil milhões de euros.

    Agora, a factura bateu à porta do BCE. Com uma inflação galopante, começou a subir as taxas de juro mais cedo do que tinha previsto quando começou a pagar aos bancos para se endividarem.

    Mas agora dava jeito ao BCE livrar-se de tanta liquidez. Analistas do banco ING apontam que o BCE pode decidir mexer no múltiplo de reservas mínimas exigidas aos bancos pela liquidez que detêm ou remunerar parte do excesso de liquidez dos bancos a uma taxa de 0%, para os levar a reduzir o montante de fundos detidos.

    Claro que os bancos agora não entregam a mala do dinheiro. Não, quando podem ficar sentados a contar os euros garantidos pelos juros que os depósitos dos fundos públicos garantem.

    Esse dinheiro está a agora de lado, a render e a trazer lucros chorudos para os bancos.

    Tudo isto é perfeitamente legal. Tudo isto é perfeitamente legítimo. Mas é também igualmente altamente imoral.

    Os bancos receberam dinheiro para pedirem emprestado ao banco central para ajudar a economia em tempos de crise. Usar os fundos públicos que lhes foram disponibilizados devido à crise para lucrarem com o seu depósito junto do banco central é lamentável.

    Agora, esta gigantesca onda de dinheiro público nas mãos dos bancos é um problema para o BCE que se vê a braços com aumentos da inflação.

    Mas é também um escândalo. É aberrante que bancos possam estar sentados em cima de tanto dinheiro público e, sem mexerem uma palha, lucrarem com ele.

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    O BCE analisa como vai tentar travar estes lucros para a banca. Mas descalçar a bota não é fácil.

    Seja como for, fica sempre no ar aquela ideia de que, nas crises, o ‘banqueiro capitalista’ sai sempre a ganhar.

    Neste caso, mesmo achando que é um escândalo, banqueiros esfregam as mãos de contentes. E vão continuar agarrados à mala, só devolvendo o dinheiro no fim do prazo do empréstimo especial (TLTRO), em Junho de 2023. Até lá, é facturar. Aos milhões.

    No fim de contas, o BCE não sai bem na fotografia. Afinal, falhou os seus cálculos relativos ao calendário de subida das taxas de juro e deu de mão beijada uma dupla prenda aos bancos: primeiro, pagou-lhes para receberem dinheiro emprestado; agora paga os juros dos depósitos que os bancos fizeram com o dinheiro emprestado. Para os bancos é um Euromilhões. Para os europeus, a braços com menor poder de compra e preços a disparar, esta situação é, no mínimo surreal. Surreal e imoral.

    Afinal, a crise quando bate à porta, não é para todos.

  • A Europa de von der Leyen não é só dela; é também a minha (e a tua) Europa

    A Europa de von der Leyen não é só dela; é também a minha (e a tua) Europa


    Muitos foram os discursos de políticos e burocratas de Bruxelas que ouvi ao longo de mais de duas décadas como jornalista. Invariavelmente, têm pontos semelhantes. Vamos ficar “mais fortes”, “mais unidos”, sendo sempre “solidários”. A Europa vai conceder “ajudas” e “apoios” para investimentos e “desenvolvimento” deste ou daquele setor, desta ou daquela indústria, consoante o tema popular da época. E a Europa vai prevalecer.  

    É comum haver referências nos discursos a “direitos humanos”, “democracia”. E, de novo, “solidariedade”. A moda do “temos de cuidar uns dos outros” ganha forma nos últimos discursos. Sendo que ainda não percebi se é só aplicável à “plebe” ou se também se aplicará essa máxima aos poderosos e aos seus amigos em multinacionais e bancos, aqueles que andam em jactos privados e a quem nunca faltará água nem luz.

    Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, e Vladimir Putin na Conferência de Berlim, em 19 de Janeiro de 2020

    Em todo o caso, a expressão “cuidarmos uns dos outros” e pelo “bem comum” ditas por políticos e burocratas europeus faz-me hoje lembrar mais – e de forma arrepiante – o regime totalitário Chinês, devido ao comportamento de Bruxelas na pandemia. 

    O discurso da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, falhou em trazer algo de novo. Cumpriu o esquema habitual dos discursos escritos pelas equipas de comunicação: mostrar força, identificar inimigos a combater (“nós, os heróis e bons, contra os vilões e maus) e, claro, esperança, solidariedade. Muita esperança e solidariedade. E paz no Mundo, como nos concursos das “Misses”. 

    Estes discursos fazem-me lembrar os guiões já escritos e repetidos pelos vendedores de call centers. A pessoa do lado de lá do telefone muda. Mas o guião para vender o seguro ou ou serviço de TV e Internet é sempre o mesmo. 

    Gostaria de estar aqui a escrever algo diferente. A aplaudir o discurso de um líder europeu, que mostrasse um caminho claro de prosperidade e bem-estar para a Europa e os seus cidadãos, com a promoção da diversidade e inclusão, e com reformas urgentes e políticas e decisões de investimento estudadas e a pensar no longo prazo.   

    Xi Jinping, presidente da República Popular da China

    Mas, no discurso de von der Leyen, vi o habitual. Dinheiro que será transferido para o desenvolvimento de certos negócios e setores de atividade para encher os bolsos de alguns a pretexto de uma “necessidade” e uma crise que, por acaso, foi criada por decisões políticas irresponsáveis.

    A distração gerada em torno do “inimigo a combater” – da China à Rússia. Como se a Europa não tivesse os seus próprios inimigos cá dentro, bem no coração do Velho Continente. Os “inimigos” de hoje são os “amigos” de ontem e serão, de novo, os “amigos” de amanhã, consoante as conveniências políticas, económicas e financeiras. Mas servem bem como distração dos verdadeiros inimigos e problemas dos europeus. Um inimigo exterior distrai o “povo”. Resulta sempre.

    Nos últimos dois anos, tudo o que a Europa representava no Mundo foi reduzido a pó pela Comissão Europeia. E von der Leyen tem sido o rosto dessa destruição e dessa traição à Europa. 

    Foram enterrados direitos humanos. Foram eliminados direitos civis. Foi implementado um regime de segregação, com cidadãos de classe A e de classe B. Responsáveis da Comissão Europeia proferiram discursos de incentivo ao ódio contra europeus que optaram por se manter sem vacinas contra a covid. Chegaram a falar em pandemia de não vacinados – o que era totalmente falso.  

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    Foram introduzidas leis e normas que limitam o direito à informação por parte da população e reprimem a liberdade de expressão. Foram promovidas barreiras à transparência, o que tanto favorece a corrupção e negócios opacos e lesivos para os cidadãos – veja-se o caso dos contratos com farmacêuticas. A Ciência foi substituída por uma religião ligada às farmacêuticas e interesses políticos, com cientistas de renome a serem ignorados e as suas opiniões e avisos a serem postos de lado.  

    Destruíram-se pequenos e médios negócios enquanto bancos e grandes grupos reforçam lucros. Criou-se pobreza, aprofundou-se a desigualdade e retirou-se ainda mais dignidade a trabalhadores. O estado da economia, o disparar dos preços dos bens e serviços, a diminuição do poder de compra, são um espelho de políticas irresponsáveis levadas a cabo na Europa, nos últimos dois anos. 

    Mas, o pior de tudo, foi a destruição causada ao nível de vidas. O número de vítimas covid é um pavor em comparação com países que aplicaram medidas fundamentadas cientificamente e com bom senso (com a Suécia a sobressair nesta matéria).

    O número de mortes em excesso em países europeus é hoje um pavor. Portugal está no topo. Estão a morrer mais adolescentes e jovens, incluindo em Portugal. Não há investigações independentes ao que se está a passar. Não se quer investigar nem perceber. Mas sabe-se que os confinamentos foram destrutivos e sabe-se que faltou o bom senso e a verdadeira Ciência em medidas aplicadas em países europeus, incluindo Portugal.

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    (Basta lembrar a promoção da concentração de consumidores nos supermercados, aos sábados de manhã, em plena pandemia, entre muitos outros exemplos.)  

    O apoio à guerra na Ucrânia e a solidariedade para com os ucranianos – esta, naturalmente necessária – foi o motivo usado para, de forma consciente e intencional, os líderes europeus atirarem a Europa para um possível Inverno gelado e sabe-se lá quais os direitos civis e humanos que serão pisados com o pretexto de “crise energética” e das alterações climáticas. 

    Este é o Estado da Nação na Europa.

    Mas, algo de muito positivo tem acontecido nos últimos dois anos. Cidadãos têm-se levantado e expressado a sua voz em defesa dos valores europeus e do modo de vida europeu. Cidadãos têm-se unido em comunidades, em projetos ecológicos, têm criado movimentos, empresas, projetos. Cidadãos têm-se conectado, têm debatido. Têm-se manifestado.

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    Além dos burocratas e políticos de Bruxelas, com os seus discursos preparados e amigos em multinacionais, existe toda uma Europa vibrante, viva e poderosa, livre, solidária, constituída pelos seus cidadãos, famílias, empresas. Eles são a alma deste Continente e, com as suas culturas, semelhanças e diferenças, fazem, no seu dia-a-dia, esta Europa em que vivemos, com o que tem de bom e o que tem a melhorar. 

    Honestamente, é nesses que tenho esperança. Nos europeus e nos que, não sendo europeus, encontraram na Europa a sua casa. Esperança que se unam cada vez mais em comunidades e projetos em comum. Que criem negócios e empregos. Que criem famílias.

    No entanto, numa coisa concordo com Ursula von der Leyen: a democracia está em risco. E, no caso da Europa, a presidente da Comissão Europeia é uma das responsáveis por ter colocado a democracia em perigo, com as políticas seguidas desde 2020.

    Se nada fizermos para promovermos o debate e para se implementarem políticas alternativas às que têm sido seguidas por Bruxelas, a Luz que a Europa foi outrora para o Mundo extinguir-se-á.  

  • A SIÊNSIA, ou a Nova Ordem Ignorante de regresso a Portugal

    A SIÊNSIA, ou a Nova Ordem Ignorante de regresso a Portugal


    Ouço diversas vezes: “Mas como é que não és covideira?” E ouço isto porque, aparentemente, sou insistente com a lavagem das mãos, o descalçar de sapatos em casa, a troca de roupa…

    Não sou, porém, adepta do álcool-gel; não uso. Aprecio o sabão azul e branco. Gosto de meter as mãos na terra e andar descalça na praia e na relva. Nunca consegui andar no metro ou autocarro sem bilhete válido. Gosto de cumprir regras, tenho os impostos em dia.

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    Mas se me pedem para seguir regras irracionais, e sem fundamentação, obviamente exijo saber em que bases se decidiu adoptar tais regras. E, na inexistência de resposta ou de fundamentação válida, irei naturalmente optar por não seguir essas “regras” disparatadas.

    (Na minha juventude, cheguei a sair de uma sala de aula em protesto por um professor expulsar injustamente dois alunos.)

    Não sigo palermices nem normas absurdas só porque alguém se lembrou de as adoptar na base do “porque sim”. Viver numa democracia permite-me ser racional e exigir respostas dos decisores e governantes. Em países com regimes totalitários, não é assim. Prevalece o obscurantismo e o irracional. Prevalece o “porque sim”.

    Em geral, o português tem um problema com a lógica, a razão e exigência de transparência e de justificações, normais numa democracia. Demasiados anos de pobreza, fome e ditadura, fizeram erodir a réstia de auto-estima e a sobriedade cívica que teriam sido úteis em 2020.

    O combate à epidemia de covid-19, tanto ou mais do que a doença, foi uma catástrofe em Portugal. Os números provam-no. O excesso de mortalidade recorde também o comprova.

    Ainda assim, é ver portugueses ainda hoje a confiar nas mesmas autoridades e personalidades que conduziram a população para tamanha catástrofe.

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    Mas isso pode ter explicação parcial nos milhões distribuídos pelos media convencionais, bloggers, actores, artistas, cantores e micro a médio influencers. Tudo para que passassem propaganda.

    Assim, sem qualquer surpresa, a sempre mal fundamentada Direção-Geral da Saúde (DGS) prepara a chegada do Outono a Portugal. Com ciência, desta vez? Não. Nada disso. A era da SIÊNSIA prossegue, porque floresceu, amadureceu e está pronta nova colheita.

    Neste Outono, a DGS sinaliza o regresso dos mitos, das mistificações, dos amuletos… e da desinformação veiculada com a ajuda (dos sempre prestáveis à vassalagem) media convencionais e dos milhares de mini e médios influencers e bloggers (que se prestam a passar propaganda a troco de uns trocos). A população estará, de novo, entregue aos pobres de espírito, incluindo de espírito científico, para mal dos nossos pecados.

    Pobres tempos de baixo nível (ou nenhum) de literacia em Ciência, em Medicina, em bom senso, em pensamento racional e lógico. Tempos altos para a “ciência” comercial – manipulada e financiada por indústrias e fundos estatais (e dos contribuintes europeus) a soldo de interesses políticos obscuros.

    O facto de as autoridades de saúde, nomeadamente em Portugal, continuarem a esconder dados estatísticos é prova mais do que suficiente da podridão que se vive em termos de Política de Saúde.

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    Assim, vejamos os mitos que se prepararam para regressar este Outono. O primeiro, e um dos queridos à DGS: as máscaras, esse amuleto que para a DGS significa “protecção contra esse mal que é a covid-19 e tudo o mais que ande no ar”.

    A Suécia, esse país fervoroso seguidor da “Ciência”, desde logo enterrou esse mito aberrante, perigoso, atroz e bafiento. Por afastar em geral esse e outros mitos amados pela SIÊNSIA seguida pela DGS, a Suécia conseguiu combater eficazmente o vírus SARS-CoV-2, e ficar, de longe, com as melhores estatísticas em matéria de covid-19 e sobretudo de Saúde Pública.

    Outro mito é o dos confinamentos – essa medida perigosa para a saúde que, em geral, a Suécia também recusou adoptar, e bem. Já Portugal, por via da “condução” da DGS – fervorosa seguidora da SIÊNSIA –, está agora nos lugares cimeiros desse trágico pódio em que nenhum país decente quereria estar. Portugal está entre os líderes em mortes em excesso, em casos covid-19 e outras estatísticas não-covid.

    E, como se isso já não fosse péssimo e agoirento, a DGS continua a teimar em conduzir os portugueses, e o país, para as catacumbas da escuridão científica e da Saúde Pública.

    Não lhe bastou publicitar, durante o Verão, esse mito de “a indigestão ser causada por banhos após o almoço”. Não lhe chegou. Também tem de continuar a arrastar o país, e os portugueses, pelos caminhos da sua SIÊNSIA.

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    Outro objetivo, já anunciado em parangonas pela DGS para este Outono, é vacinar em força as crianças e jovens. Não morrem de covid-19, mas vacina-se à mesma, mesmo se se mostra por demais evidente que a imunidade de grupo foi uma falácia, uma mentira impingida durante meses a fio.

    E os efeitos adversos em crianças e jovens? Não lhes importa o rácio risco/benefício, que cada vez mais aponta para o afastamento dos mais jovens destas vacinas?

    Nada disso interessa a quem segue a religião da SIÊNSIA. O dinheiro a rodos para pagar campanhas nos media convencionais e para pagar a artistas, actores, cantores e todo o tipo de personalidades nas redes sociais e fora delas está garantido, para escoar o produto armazenado e mostrar estatísticas sobre vacinação que colocarão Portugal no topo da percentagem de população vacinada. Se com tudo isto, ou apesar disto, Portugal se mantém no topo das piores estatísticas de Saúde Pública na Europa, já pouco importa.

    E dinheiro para fazer o que a Ciência diz, para se fazerem, por exemplo, testes serológicos na população (para aferir da imunidade natural e da necessidade ou não de vacinação); para isso há? Na realidade, não se sabe, até porque seria preciso que a DGS seguisse a Ciência, e que quisesse estudar e agir com prudência e exactidão.

    Aliás, Ciência é coisa que não importa à DGS – por muito que seja invocada – nem, na verdade, à maior rede social com sistema de créditos, o Facebook. Desde 2020, o Facebook tem sido um dos principais instrumentos para cortar com um dos princípios basilares da Ciência – o debate –, impondo o unanimismo da SIÊNSIA.

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    Assim, nada de escrever sobre estudos sérios e credíveis não financiados por farmacêuticas, sobre imunidade natural, sobre a inutilidade do uso de máscaras na transmissão do vírus, e muito menos autorizar vozes de cientistas que pedem com urgência a divulgação integral dos dados sobre as vacinas e os seus efeitos adversos.

    Desde 2020, quem tentar efetivamente abordar temas científicos no Facebook, será castigado – como seria na China se falasse sobre violações de direitos humanos e o direito humano à liberdade de expressão e sérias investigações científicas.

    No Facebook, como nos media, continuará a haver espaço apenas para os promotores – a soldo da DGS ou da Comissão Europeia – da SIÊNSIA.

    A SIÊNSIA é hoje o garante de um crescente controlo sobre uma população (à nora e amedrontada); é hoje o garante do aumento das vendas de produtos fármacos (pouco ou nada transparentes quanto à sua eficácia, segurança e necessidade); é o garante da criação de investidores multimilionários; é o garante de mais estados de emergência e de calamidade ilegais (que permitem a governantes alargarem o seu poder de ação e aprovar legislação outrora apenas sonhada e concretizada por ditadores).

    Infelizmente, Portugal não é o único país seguidor da SIÊNSIA. Até mesmo o Brasil de Bolsonaro, veja-se, acompanha já também essa religião. E não é por causa da questão da hidroxicloroquina, ou sequer por o ainda presidente brasileiro ter dito que a covid-19 era uma gripezinha.

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    Na verdade, poucos sabem, mas, actualmente, um brasileiro ou estrangeiro adulto não-residente só pode entrar no Brasil se tiver tomado as doses exigidas de vacina contra a covid-19. Teste negativo ou certificado de recuperação não valem. Mas se for um brasileiro ou estrangeiro residente no país a entrar, estejam à vontade. Podem entrar no Brasil aviões cheios de pessoas com covid-19, e assim espalhar o vírus no Brasil? Sim, mas esses infectados têm é de estar vacinados! Podem entrar no Brasil aviões cheios de brasileiros e estrangeiros residentes no país sem todas as doses da vacina e sem covid-19? Sim. E sem todas as doses da vacina e com covid-19? Também podem.

    Tudo isto é SIÊNSIA. Aceite e propagada como se fosse Ciência.

    O objectivo não tem já nada a ver com travar uma epidemia e um vírus. O objetivo é já só educar “o povo” sobre quem manda, e sobre o que acontece ao “povo” que não obedece a ordens, independentemente de serem irracionais e de até acarretarem potenciais problemas graves do ponto de vista da Saúde Pública, da Economia e do bem-estar.

    Restará aos portugueses racionais e agnósticos, que resistem a esta religião dita SIÊNSIA – que só na aparência ecoa como a (antiga) Ciência –, prosseguirem com as suas vidas, mas também lutarem contra o avanço desta Nova Ordem Ignorante.

  • Jornalismo ‘zombie’: o grande drama

    Jornalismo ‘zombie’: o grande drama


    Em tempos, os jornalistas eram temidos pela sua tenacidade em investigar e expor os corruptos. Hoje, são os jornalistas, em geral, que têm medo. Estão reféns do medo e manietados por um corporativismo tóxico e por uma cultura bafienta do “só se critica em privado”. E assim não se investiga nada, e evita-se também resolver os problemas, limpar o sector dos media dos interesses e personagens que o tolhem.

    O medo é um dos fatores que hoje em dia mais reduz jornalistas a meros agentes de comunicação ao serviço de governantes e empresa. Há vários medos.

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    Houve e há jornalistas com medo (pânico mesmo) de apanhar covid-19. Então, por causa disso, esquecem o que é ser jornalista. Noticiavam e noticiam apenas e somente o que diz a Direcção-Geral da Saúde (DGS), a Organização Mundial de Saúde (OMS), Graça de Freitas, Marta Temido e os “especialistas autorizados” (na maioria, consultores a lucrar com serviços a farmacêuticas e entidades públicas do sector da saúde).

    Reduzem a sua atividade a espalharem a linha de comunicação das farmacêuticas, ávidas de vender produtos aos Estados e à população, e de quem tem ligações a esta indústria. Recusam investigar. Recusam fazer perguntas inteligentes e de interesse para a população.

    Uma colega jornalista em pânico de apanhar covid-19 chegou mesmo a dizer-me que “nós precisamos praticar um Jornalismo responsável”, que, na visão dela, corresponde a espalhar propaganda de entidades públicas e farmacêuticas. A espalhar também desinformação que tem sido veiculada sob o disfarce de “política de saúde”, “combate à pandemia” e medidas que visam “o bem comum”.

    Jornalistas dominados pelas emoções, pelo medo, deveriam ter suspendido a carteira profissional enquanto não voltassem a ser jornalistas de verdade, com domínio das emoções e usando a lógica, o raciocínio como ferramentas. Sem usar a lógica, o raciocínio, aquilo que resulta é um Jornalismo zombie que se alimenta de sucessivos atropelos ao Código Deontológico e ao Estatuto do Jornalista.

    Destes jornalistas dominados pelo pânico, houve mesmo alguns que, sempre que podiam, espalharam o ódio e defenderam a perseguição criminosa de todos os portugueses e famílias que compreenderam melhor do que eles a real situação em que temos vivido. Uma realidade dominada por medidas sem qualquer fundamentação científica, medidas absurdas, irracionais, ilegais, inconstitucionais. E medidas que provocaram o caos no Serviço Nacional de Saúde (SNS) e levaram à deterioração da saúde, não só dos mais vulneráveis, como também das crianças e jovens.

    Os resultados estão à vista no número elevadíssimo de casos positivos em Portugal (apesar da campanha agressiva de vacinação) e nas mortes em excesso por todas as causas, sem explicação até hoje e sem uma investigação independente no horizonte.

    A cultura de censura e pensamento único que se instalou nas redações contribuiu para deixar o Jornalismo moribundo, em coma, durante dois anos. Naturalmente, houve jornalistas que ficaram em silêncio e pactuaram com a legião de fanáticos e zombies da propaganda sobre covid/vacinação, com medo de serem chamados de negacionistas e serem alvo de segregação. Ficaram calados, mesmo quando os meios onde trabalham publicaram disparates, notícias falsas e de incentivo ao ódio.

    Estes jornalistas ficaram com medo de perderem o emprego, se falassem, se fizessem Jornalismo. Ficaram com medo de serem mal vistos, de ficarem à parte. De não serem promovidos. De deixarem de ser convidados para almoços, jantares. Para ir tomar café. Para ir fumar o cigarro.

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    Estes jornalistas ficaram com medo de não terem como pagar a renovação da cozinha. De pagar as prestações da casa. De não conseguir cumprir com a pensão de alimentos. De não conseguirem manter os filhos em colégios/universidades caros. De não conseguirem construir a piscina na casa de campo.  De perderem “o respeito” nas redações e os amigos jornalistas que viraram zombies na pandemia.

    Ter medo é normal. Mas, ser jornalista é conseguir viver e trabalhar tendo medo de todas essas coisas. Ter medo de apanhar covid-19. Ter medo de ser posto de lado. Ter medo de ser enxovalhado por colegas ignorantes, incompetentes e que viraram fanáticos da propaganda de “especialistas” (e de “estudos” pagos por empresas que lucraram como nunca desde 2020) e também da propaganda de governantes – que viram na pandemia uma oportunidade para fazerem novas leis e reforçarem o seu poder de forma inadmissível em democracia (como tentar eliminar o direito à liberdade de expressão e de manifestação).

    Ser jornalista é poder ter medo – e, ainda assim, fazer perguntas. É investigar, mesmo quando estamos perante uma epidemia. Quem diz uma epidemia, diz uma guerra. Uma crise financeira. Uma crise energética. Uma crise climática.

    Portugal tem excelentes jornalistas, como tem outros menos bons. Mas tem hoje, sobretudo, jornalistas desmoralizados. Tem jornalistas com medo. Medo de falar nas redações. Medo de falar em público. Medo de questionar, de criticar, de “levantar ondas”.

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    Nos últimos dois anos, procurei expor a desinformação e as campanhas anti-jornalismo e anti-democracia que vários media passaram para o público em geral. “És a ovelha negra do Jornalismo em Portugal”, disse-me um dia um profissional de comunicação. Pois, talvez. Certo é que recebi também mensagens de incentivo de colegas jornalistas e ex-jornalistas. Recebi telefonemas de alguns que estavam (e estão) simplesmente em choque com tudo o que se passou desde 2020. O clima de medo que se instalou. O clima de censura que se instalou.

    O problema do Jornalismo não é a sua morte. É o seu suicídio. Está a ser morto por dentro. Pelo corporativismo. Pelos jornalistas fanáticos e zombies. Pela cultura portuguesa do “fala, mas só entre amigos”. Pelo facto de o sector viver numa bolha e de braços dados com políticos e empresas. Pelo baixo nível de literacia sobre Saúde, Ciência e análise de dados – que ficou evidente desde 2020 nas notícias pavorosas e falsas que foram divulgadas.

    Também pelas chamadas “parcerias comerciais” entre empresas, Governo e grupos de media.  Há uns anos, ouvi numa redacção um colega a queixar-se do facto de os conteúdos “patrocinados” estarem a roubar cada vez mais espaço aos trabalhos dos jornalistas. Prontamente, o diretor respondeu: “Podem não gostar desses conteúdos, mas são eles que pagam os salários”.

    Pois, mas estão também a contribuir para matar o Jornalismo.

    Não seria preferível deixar as empresas de media fecharem do que matar o Jornalismo e ter jornalistas a viver desanimados dia após dia? Além disso, convém dizer que este discurso de “poupança” não engloba as avenças chorudas pagas a amigos comentadores e os salários e condições principescas de alguns dirigentes.

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    Assisti a jornalistas a ganhar perto do salário mínimo, a recibos verdes, a dividirem minúsculos apartamentos com os amigos. Enquanto isso, eram contratados novos quadros e comentadores, pagos a peso de ouro, e que, no final, nada acrescentaram, nem trouxeram mais leitores nem mais qualidade ao meio.

    E, sim, mesmo no sector dos media há “tachos” para amigos do partido A ou B. Do amigo C ou D.

    É assim.

    Os jornalistas perderam o seu poder.

    Em parte, porque se renderam aos medos.

    Em parte, porque esqueceram o que é ser jornalista.

    Em parte, porque se calam perante as desigualdades salariais e os gastos excessivos com alguns quadros e comentadores.

    Em parte, porque alguns se venderam ao poder e ao dinheiro.

    E, em parte, porque alguns se tornaram fanáticos defensores de uma religião anti-ciência que nasceu em 2020, que se baseia em premissas falsas, sem qualquer fundamentação na ciência verdadeira – a que não obedece a interesses políticos ou de empresas. 

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    E devido a tudo isto junto, no global, na soma, está-se a matar o Jornalismo.

    Junta-se a este cenário, o silêncio e inacção da Comissão Profissional da Carteira de Jornalista (CCPJ), sobretudo perante a atitude indigna daqueles que promoveram e incentivaram o ódio e fizeram manchetes /aberturas falsas de telejornais e jornais.

    Nem mesmo quando a Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) enviou à CCPJ casos de jornalistas da CNN que divulgaram uma notícia falsa e difamatória para eventual abertura de um processo pela Comissão, a CCPJ quis logo actuar. Ficou, de forma cobarde, em silêncio e recusou, por agora, abrir processos.

    Esta atitude integra-se no corporativismo tóxico e nefasto existente no sector. Entidades como a CCPJ integram a “bolha” em que muitos jornalistas vivem – alheios ao dever de informar, noticiar a verdade, de forma objetiva e rigorosa. A CCPJ partilha da cultura dos “bons costumes”, da cultura que confunde crítica fundamentada com o acto de “falar mal” de alguém ou de uma entidade. A cultura do “todos precisam proteger-se uns aos outros”, mesmo que isso esteja a matar o Jornalismo. Porque tudo isto é veneno para o Jornalismo e os jornalistas.

    Sobra o Sindicato de Jornalistas, que tem procurado actuar para a melhoria das condições no sector e para recomendar boas práticas. Mas tem muito a fazer, nomeadamente no escândalo que envolve as chamadas “parcerias comerciais” – em que jornalistas lucram para participar em eventos de natureza comercial.

    Foto do encontro entre Augusto Santos Silva, presidente da Assembleia da República, e membros da Comissão da Carteira Profissional de Jornalista em 14 de Julho de 2022.

    Também poderia ter-se manifestado de forma mais assertiva perante as notícias falsas e incentivo ao ódio que foi promovido por diversos jornalistas e vários órgãos de comunicação social desde 2020, nomeadamente através do tempo antena que deram a personalidades apresentadas como médicos ou especialistas, mas que na prática escondiam interesses pessoais e profissionais.

    O seu silêncio quanto à praga das notícias recicladas – sobretudo com origem na agência Lusa – é preocupante. Quando o jornalismo está a afundar, a CCPJ pode até dormir, mas o Sindicato, estando mais desperto, não pode deixar de defender o bom jornalismo. Mesmo que doa a muita gente no sector.

    Sobre a ERC, o seu actual Conselho Regulador tomou posições favoráveis ao bom jornalismo. Mas falhou rotundamente – e soube que falhou – quando tomou, recentemente, uma decisão baseada em premissas falsas, numa denúncia que visou apenas condicionar as investigações de um jornalista. A ERC tomou a decisão a favor da vingança do denunciante sem ouvir de forma justa e isenta o jornalista cujas notícias levaram à abertura de um processo de contra-ordenação contra o visado pelas notícias, e que foi afastado da função de consultor pelo Infarmed.

    Contribui ainda para o estado vegetativo em que se encontra o jornalismo, os sucessivos “congressos de jornalistas”, que debatem os desafios do sector. Porém, com poucas ou nenhumas consequências práticas para uma maior justiça salarial, igualdade do género, boas práticas e o fim das contratações de amigos comentadores com remunerações chorudas completamente desadequadas para um sector “em crise” eterna. 

    letter wood stamp lot

    Se há uma crise no Jornalismo em Portugal, como a que atravessamos hoje, deve-se falar dela, sim. E em público. Para que se possam resolver os problemas e permitir que os jornalistas ganhem autoestima e tenham consciência do seu verdadeiro poder para noticiar a verdade e investigar os que lucram à custa do bem-estar da população. À custa de enganar a população.

    Os jornalistas devem manifestar-se nas redações, e publicamente, e baterem-se por melhores condições de trabalho e maior investimento em jornalismo verdadeiro, que investiga.

    Voltar a ganhar paixão pela profissão.

    Os jornalistas não precisam ser temidos por fazerem o seu trabalho. Mas precisam voltar a ser respeitados.  Para isso, terão de ajudar os media a limparem-se e a livrarem-se dos hábitos e das más práticas que se infiltraram de forma nefasta no sector – no sector onde quem manda hoje são interesses políticos e os “clientes” das “parcerias comerciais”. E os medos.

  • Viva a nova ERC: Entidade Repressora e da Censura da Comunicação Social

    Viva a nova ERC: Entidade Repressora e da Censura da Comunicação Social


    Com uma simples deliberação, cheia de nulidades, o Conselho Regulador da Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) fez o impensável num país democrático, em 2022: condenou o jornalismo de investigação.

    O Conselho Regulador assumiu, numa recente deliberação irregular, as dores de quem, apresentando conflitos de interesse, tentou por várias vias silenciar o jornalista que o investigava.

    Na sua deliberação, adoptada de forma opaca e irregular, o Conselho Regulador da ERC fez mais ainda. Deixou, com a sua decisão, um sério e forte aviso aos jornalistas em Portugal: podem escrever notícias, sim senhor, desde que não investiguem a fundo e não se metam com pessoas e entidades com bolsos largos, financiados por indústrias poderosas.

    Esta decisão do Conselho Regulador da ERC seria triste – e até cómica – se não fosse tão grave e perigosa.
    O resumo do caso é simples.

    O jornal PÁGINA UM investigou a Sociedade Portuguesa de Pneumologia (SPP) e o seu presidente. Detectou conflitos de interesse e contabilizou dinheiros que entraram em caixa naquela sociedade médica.

    As notícias, fruto dessa investigação, estão solidamente fundamentadas em dados e factos, que podem ser facilmente verificados por qualquer jornalista, jurista da ERC, membro do Conselho Regulador da ERC, ou cidadão.

    O PÁGINA UM deu sempre a oportunidade aos visados para darem as suas versões dos acontecimentos e responderem aos factos encontrados pelo jornal.

    António Morais, ao centro, numa foto durante a cerimónia de posse como presidente da Sociedade Portuguesa de Pneumologia em Janeiro de 2019. Investigação do PÁGINA UM levou à sua saída de consultor do Infarmed e à abertura de um processo de contra-ordenação, mas a Entidade Reguladora para a Comunicação Social aprestou-se a dar-lhe “apoio”.

    A solidificar ainda mais o rigor, objectividade, imparcialidade e seriedade da investigação do PÁGINA UM, houve consequências materiais da divulgação das notícias sobre a SPP e o seu presidente. António Morais acabou por ser alvo de um processo de contra-ordenação e foi ainda afastado do Infarmed, onde era consultor.

    Mas nem estes factos chegam para o Conselho Regulador da ERC aferir do “rigor” e precisão da investigação do PÁGINA UM e da óbvia, duplamente comprovada, veracidade dos factos e dados noticiados pelo jornal.

    Não. O Conselho Regulador da ERC defende os visados pela investigação jornalística. O que o Conselho Regulador da ERC condena com a sua decisão ilegal é claro: como se atreveu um jornalista a investigar a SPP e o seu presidente?

    Como se atreveu a publicar notícias rigorosas, imparciais, independentes, isentas e factuais sobre a SPP e o seu presidente?

    Mas por que é que o jornal não faz como outros media e dá apenas o que vem nos press releases? Porque não disponibiliza apenas um microfone à SPP (ou outras entidades e personalidades) e passa, durante 15 a 30 minutos, a opinião da SPP, sem perguntas incómodas nem hipóteses de contraditório?

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    Apanhado “com as calças na mão”, por ter sido descoberto que tinha deliberado antes de o PÁGINA UM poder juntar dados e testemunhos ao processo, como está previsto no Código do Procedimento Administrativo, o Conselho Regulador da ERC entrou em pânico.

    Impediu na terça-feira o jornalista e director do PÁGINA UM, Pedro Almeida Vieira, de consultar livremente documentos relativos a processos de interesse jornalístico, na sua sede. O director e jornalista teve de, naturalmente, chamar a polícia para apresentar queixa da ERC e fazer valer a Lei.

    Os dirigentes da ERC fizeram o que é habitual em Portugal, quando se quer passar mensagens para os media e espalhar factos (verdadeiros ou falsos) e dados sem qualquer contraditório: emitiu, na própria terça-feira, um comunicado que foi instantaneamente divulgado pela agência Lusa.

    Isto apesar de não se tratar sequer de uma notícia urgente.

    A Lusa, infelizmente, escreveu e publicou a notícia como simples papagaio da ERC.

    Não ouviu sequer o jornalista visado pelas informações falsas e difamatórias emitidas pelo Conselho Regulador da ERC. Mais. Escreveu na notícia que se trata de “um cidadão”, fazendo “corta e cola” do conteúdo do comunicado.

    Só que não. Não se trata apenas de um cidadão, mas de um jornalista com carteira profissional, no exercício da sua função e a interagir de forma legítima com a entidade reguladora.

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    Só por isto, a Lusa merece censura e reprovação, por ir atrás do tom difamatório veiculado pelo Conselho Regulador da ERC, e difundi-lo sem a menor objetividade, imparcialidade e respeito pelo jornalista.

    Não cabe à Lusa, nem aos media em geral, difundirem conteúdos ofensivos e que denigrem a imagem e reputação de alguém sem sequer ouvir o visado pelo comunicado. Mas isto é tão óbvio que não pensei que teria de o escrever aqui.

    Sou jornalista há 25 anos, 11 deles na Reuters.

    Jamais imaginei vir a assistir ao ataque que o Conselho Regulador da ERC está a fazer contra todos os jornalistas em Portugal.

    Sim, porque este ataque não é contra um jornalista ou um jornal. É contra mim. É contra todos os jornalistas que são dignos de usar a carteira profissional.

    Este ataque do Conselho Regulador da ERC à Imprensa, ao Jornalismo e, em particular ao jornalismo de investigação, só se encontra em países de má fama para a liberdade de Imprensa e para a “saúde” dos jornalistas.

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    Apelo, contudo, a que não se confunda os funcionários da ERC e a própria instituição com o seu Conselho Regulador. Sempre presenciei um atendimento de excelência por parte dos funcionários e técnicos da ERC. Mantenho a opinião positiva que tenho da ERC. Condeno veementemente – como jornalista e como cidadã portuguesa – a actuação do seu actual Conselho Regulador.

    Perante a deliberação ilegal contra o PÁGINA UM, e o jornalismo e os jornalistas, só resta à Assembleia da República cumprir o seu dever: dissolver o atual Conselho Regulador da ERC, por se estar perante um “caso de graves irregularidades no funcionamento do órgão”.

    Aprovar uma deliberação com esta gravidade, contra a liberdade de Imprensa, actuando de forma, no mínimo, irregular. Adotar a deliberação sem permitir obrigatoriamente que o PÁGINA UM juntasse dados e testemunhos ao processo, demonstrando com isso a sua incompetência e má-fé. Fazendo-se de “vítima” após ser apanhado nestas irregularidades. Difamando, de seguida, o jornalista através de um comunicado de imprensa.

    Por tudo isto, só resta a dissolução urgente do Conselho Regulador.

    Não tem quaisquer condições para se manter em funcionamento com os seus atuais membros. Perdeu toda a credibilidade. Constitui uma ameaça aos jornalistas e à Imprensa. Constitui uma ameaça à própria ERC, à sua reputação e bom nome.

    Não o fazendo, os partidos e os deputados com assento parlamentar consentem que seja destruído o jornalismo de investigação, e que os jornalistas fiquem sob a ameaça de serem um dia processados por fazerem o seu trabalho. Só isso. Simplesmente por isso. Por terem a “ousadia” de fazerem jornalismo.

  • Nós?! Somos mesmo nós os responsáveis?

    Nós?! Somos mesmo nós os responsáveis?


    Durante dois anos, António Costa e Marta Temido implementaram em Portugal medidas sem base científica, moralmente inaceitáveis e irresponsáveis, constitucionalmente reprováveis e censuráveis, mas que estão, ainda assim e mesmo assim, a dar gordos lucros a empresas, indústrias, e a consultores, médicos, académicos e “especialistas”.

    Fizeram-no na função de cúmplices de uma Comissão Europeia que traiu os europeus e a Europa. Os resultados das medidas estão à vista nos óbitos e nas doenças, sobretudo dos mais vulneráveis, e na Economia e poder de compra dos portugueses.

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    Agora, com a ajuda de alguns órgãos de comunicação social, está em curso nova “lavagem cerebral” aos portugueses: convencê-los de que a crise na Saúde é um “falhanço” da sociedade. De todos nós. Como se fôssemos TODOS responsáveis pelas mortes. Pois. Não e não! Não somos!

    Nos meses mais recentes, os media andaram, em geral, a assobiar para o lado enquanto o PÁGINA UM denunciava problemas e deficiências no Serviço Nacional de Saúde (SNS) e no excesso de mortalidade por todas as causas. Mais de 10.000 mortos meses e meses seguidos. Nove, para ser mais precisa. Três recordes absolutos nos últimos três meses: Maio, Junho e Julho.

    Sem nunca citar o PÁGINA UM, lá alguns media começaram a pegar no tema, mas procurando seguir as explicações “oficiais”, falando em “ondas de calor” e dando a palavra a “especialistas”, que nunca falavam em números com base científica para justificar as suas “teses”, e fingindo que não sabiam do desaparecimento de dados públicos, denunciados pelo PÁGINA UM.

    Os óbitos em excesso exigem uma investigação imediata e urgente do Ministério Público. E não. Não foram apenas as ondas de calor, a covid e a “long covid” a explicar tudo. E se tiverem sido, que fique provado. Com dados e factos apurados de forma independente. A investigação é inadiável e necessária para se saber como travar esta onda de mortes e para apurar responsáveis pela situação.

    [Aliás, sobre a “long covid”, chamo a atenção à campanha institucional a nível europeu que está em curso e que se vai intensificar nos próximos meses. Existe o grave risco de a “long covid” ser usada pelos gabinetes de comunicação para justificar muitos problemas de saúde dos europeus e crise na saúde em Portugal. Convém ter a abertura para estudar todas as hipóteses. E não meter culpas logo na hipótese mais “conveniente”. Há que exigir provas e estudos independentes.]

    Esta tendência, para “a culpa é de todos”, não é nova. Tem sido aliás uma linha ideológica em voga baseada na “culpa” e no “pecado”, muito da cultura católica, para exigir expiação, submissão e punição. Uma ideologia assente, por outro lado, na desresponsabilização daqueles que são os verdadeiros responsáveis, porque se assumem como sentenciadores e repressores de todos, de todos nós, os “culpados”.

    Aconteceu na pandemia, com a culpa sobre as crianças, jovens, pessoas sem vacina… por serem os grandes “transmissores” do vírus. Mentiras constantemente transmitidas, que se inculcaram na mente das pessoas como verdades.

    Mitos, como demonstrou a Ciência – a verdadeira, não a “nova ciência” feita religião, baseada na crença da sapiência da “nova trindade” formada por farmacêuticas, governos e media.

    man holding chain-link fence

    Está em vias de acontecer com as alterações climáticas, com a dupla Governos e indústrias a espalharem a mensagem de que, mais uma vez, a culpa é sobretudo de todos nós e do nosso modo de vida.

    Como se as alterações climáticas não tivessem nada a ver com as políticas e o conluio de governos e empresas poluentes, ao longo de décadas e décadas, em detrimento do ambiente, da saúde e do bem-estar das populações.

    Também acontece com os aumentos dos preços dos bens e da energia – e a consequente redução dramática do poder de compra dos portugueses (dos europeus) – que são hoje vendidos como sendo sobretudo “culpa do Putin”.

    Putin é como as ondas de calor, a “long covid” e as alterações climáticas: todos são parte do problema, mas estão também todos a servir para branquear os verdadeiros responsáveis pelas graves crises sanitária, energética e económica que atravessamos. E assim se escapam os decisores políticos, os que implementam medidas e fazem leis, e agem.

    No caso da crise na saúde dos portugueses e nos aumentos dos preços, dois anos de medidas absurdas e irresponsáveis para “combater” a pandemia estão a mostrar os seus reais efeitos.

    E não. Não tiveram efeito a diminuir a epidemia. Aliás, os países com mais confinamentos e violações dos direitos humanos e civis – como a Austrália e a Nova Zelândia – estão agora a sentir os efeitos das suas políticas desastrosas. Tal como Portugal.

    woman inside laboratory

    Na crise da energia, quem decidiu aplicar medidas – como sanções à Rússia – que, obviamente, prejudicam gravemente os cidadãos europeus?

    Que haja campanhas de lavagem de imagem por políticos – e seus gabinetes de comunicação, de propaganda e “gestão de crise” pagos pelos contribuintes –, sabemos que é normal. E até expectável, embora seja uma prática própria de uma política doentia e tóxica.

    Agora, que haja órgãos de comunicação social a ajudar nesta “lavagem de imagem” e no branqueamento de responsabilidades, é simplesmente inaceitável. Inconcebível. Inadmissível. E também, por tudo isso, uma grave violação dos deveres de qualquer jornalista.

    Querem convencer-nos agora que “somos todos” – que é “A SOCIEDADE” – os responsáveis pelos que morrem. Que temos de ser TODOS a pagar pela crise energética. Sermos “agentes de poupança energética”, até metermo-nos na vida dos vizinhos – sermos “bufos” – como se fez durante a pandemia para sermos todos “agentes de saúde pública”.

    Querem convencer-nos agora que teremos TODOS (mais uma vez) de “obedecer” a medidas “excecionais” e de emergência, sob a ameaça de pagarmos multas. Onde já vimos isto?

    group of person walking on road

    Mas o que acontece a quem decidiu medidas e exigiu seguir caminhos irresponsáveis, e agora lava as mãos? A quem colaborou, apoiou, aplaudiu as medidas, quem aceitou ser “agente de saúde pública”? A quem apoiou medidas de segregação e discriminação? A quem entrou na propaganda infantil de que “tudo e mais um par de botas” é culpa da guerra na Ucrânia e de Putin?

    Cabe-nos a todos estar atentos e exigir que a verdade seja apurada e os verdadeiros responsáveis sejam responsabilizados. Tanto pela crise na saúde, pelos mortos, pela crise energética, pela crise económica e o aumento dos preços. Cabe-nos exigir que se apure a verdade para se conseguirem adotar medidas para travar mais mortes. Para impedir que governos e (ir)responsáveis políticos arrastem os europeus e a Europa para uma crise profunda.

    Para isso, sim, é nossa a responsabilidade. Não fiquemos à espera que os media em geral – cativos de interesses e reféns de ‘parcerias comerciais’ – o façam por todos nós. Não. Não o irão fazer. Não irão pedir investigações independentes às mortes, nem clamar pelo Ministério Público.

    Temos de ser nós, os cidadãos. A pedir responsabilidades comprovadas e baseadas em factos. A garantir que a História dos últimos dois anos não será branqueada. A assegurar que o que tem acontecido desde 2020 não será alvo de esquecimento. A exigir justiça para os que têm morrido. A impedir que, sob o pretexto de uma crise energética e económica, se eliminem ainda mais direitos civis, se rasgue mais uma ou duas páginas da Constituição e se coloque mais uma pá de terra sobre a Democracia.

    Cabe-nos a todos rejeitar mais ameaças, mais multas, mais leis de “exceção”, mais medidas “temporárias”, que, a pretexto de uma crise energética, visam enfraquecer a Democracia e subjugar a população ao poder político e económico, enquanto as grandes empresas e o Estado lucram como nunca.

    Todos devemos procurar gerir bem os recursos de que dispomos – da água à energia. Todos devemos atuar na prevenção da transmissão de todo o tipo de doenças contagiosas. Mas não é isso que está em causa, mais uma vez.

    man in gray shirt jumping during night time

    No próximo Outono/Inverno, ao regresso eventual de medidas ineficazes sob o pretexto de “combate” à pandemia, vai somar-se um novo condicionamento psicológico e social em torno da poupança energética. Abriu-se a caixa de Pandora e – entre vírus e crises variadas – a sede por subjugar a população e instalar uma ditadura apresenta hoje ventos favoráveis.

    Temos um caminho pela frente, até porque foram implementadas, desde 2020, leis e tratados internacionais perigosos e que, obviamente, terão de ser revertidos por atentarem contra a Constituição, a Democracia e a soberania do país.

    E o caminho começa já.

    Por exigir que estes 10.000 óbitos mensais não fiquem sem responsáveis verdadeiros.

    Por garantir que não haverá mais atropelos à verdade dos factos nem manipulação da opinião pública. Não no nosso “turno”. Não na nossa vez de “escrever a História”.

    Por isso, sim, por garantir isto, somos todos responsáveis. Todos mesmo. Mesmo os que foram colaboradores da ditadura sanitária insana que nos trouxe até aqui.

  • A reciclagem de notícias: como pôr um fim ao “churnalism”

    A reciclagem de notícias: como pôr um fim ao “churnalism”


    A divulgação em massa de notícias recicladas, baseadas em agências noticiosas ou em comunicados de imprensa, é uma das chagas do jornalismo e um dos entraves a uma sociedade bem informada.  

    É como uma erva daninha que cobre todo o terreno dos media em Portugal.

    A massificação das notícias é uma realidade. As mesmas notícias aparecem invariavelmente em todos os media. É o famoso corta-e-cola.

    man reading newspaper in bulletin board

    Uma notícia que surja na agência Lusa, por exemplo, é de imediato replicada e divulgada por todos os media. Um comunicado de imprensa – seja do Governo ou de uma empresa influente – é disseminado de imediato. Todos os órgãos de comunicação o replicam. Assim. Sem pensar. Sem verificar o rigor da mensagem que divulgam, na maior parte dos casos. Sem verificar dados. Nada. Sem fazer uma pergunta que seja. Sem questionar se está correta a informação, se é sequer… relevante para os leitores.

    Aquilo que interessa é aumentar o número de conteúdos disponíveis e atrair o maior número de cliques para o site. Mas o caso alarga-se a televisões, a rádios, a jornais. Como uma praga.  

    O jornalismo do corta-e-cola – ou churnalism, como ficou conhecido no termo em inglês – é uma realidade e nem sempre os leitores se apercebem do que se passa. De onde surgem notícias, como surgem, como se disseminam tão rapidamente. O problema não é de hoje nem se cinge a Portugal. 

    O caso da agência Lusa é o mais paradigmático em Portugal: todas as notícias que são publicadas pela agência são automaticamente replicadas em minutos por todos os media. Mas não é caso único. Se um jornal publica uma notícia, os restantes media encarregam-se de a disseminar rapidamente. Porquê? Porque têm de ter as notícias que todos têm. Porquê? Para terem cliques, ou seja, mais audiência. 

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    E nenhum órgão de comunicação social quer ficar de fora de toda a notícia que é massificada. Uma espécie de floresta de eucalipto sem qualquer biodiversidade. A pobreza daí resultante para o jornalismo e para a sociedade é evidente.

    Os perigos deste tipo de prática são evidentes, a começar pela possível disseminação rápida e acelerada de eventuais notícias falsas, incorretas, imprecisas ou parciais. Quem esfrega as mãos de contente com esta praga são as agências de comunicação, empresas, o Governo e todos os que querem pôr alguma “mensagem” a circular.  Hoje em dia, uma notícia rapidamente se espalha como sendo verdadeira em todos os órgãos de comunicação social. Sem perguntas incómodas nem “comos ou porquês”.   

    Os media “lavam as suas mãos” de eventuais incorreções ou disseminação de falsas notícias, falsas estimativas, falsas conclusões. Se a notícia é da Lusa, então a culpa é da Lusa. Se foi de um jornal, é desse jornal. Isto, quando se admite sequer publicamente o erro na notícia, na estimativa, no anúncio.

    Esta desresponsabilização é grave e errada e incentiva a que qualquer notícia reciclada se instale como verdadeira, mesmo que o não seja. A pressa é uma das desculpas utilizadas pelos media para não verificarem as notícias que reciclam. As magras redações será outro dos argumentos. Mas não chega. 

    Os órgãos de comunicação social devem ser responsáveis por verificarem todas as notícias que divulgam junto dos seus leitores. Devem fazer perguntas e questionar. 

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    Publicar notícias da Lusa atrás de notícias da Lusa, intervaladas por anúncios de empresas e comunicados do Governo, não é o objetivo no Jornalismo. Não pode ser. 

    Se todos os media tivessem de identificar a amarelo, por exemplo, todas as notícias que reciclam e todas as de que são meros papagaios, então o público, os seus leitores, teriam uma ideia da dimensão do problema. E da dimensão do perigo.

    Imaginem que todos os media tinham de colocar um aviso em todas as notícias em que não verificaram as fontes, o rigor da informação, etc… O panorama seria bem diferente. E os leitores leriam aquelas notícias com outros olhos. Mas os media não o fazem. Não querem fazer. Têm horror a fazer.

    Pergunta o leitor: então, mas e os diretores dos jornais, das televisões, das rádios? Onde estão? Não querem eles melhores notícias? Grandes cachas? Claro que querem.

    O problema é que há diretores concentrados em ajudar a executar produtos comerciais e não editoriais. Há muitos anos, seria normal uma secretária de um diretor de jornal estar coberta de pilhas e pilhas de papéis, documentos e jornais. Agora, há diretores que nas suas secretárias têm, a par de jornais, um ou mais dossiers e conjuntos de pastinhas coloridas com micas, cada uma contendo um “contrato de parceria” a executar pelo jornal.

    Antes, o diretor estava focado em ter o jornal com as melhores cachas e entrevistas. Agora, há diretores trans: têm carteira profissional, mas são também marketeers. Trabalham para os “clientes” do Grupo de media onde trabalham.

    O objetivo confunde-se e já não é sempre o de fazer notícias, mas vender “oportunidades” aos clientes para divulgarem as suas mensagens, serviços e produtos aos leitores.

    Assim, se a este “jornalismo” de clientela juntarmos o igualmente instalado churnalism, conseguimos perceber como os media chegaram ao ponto em que se encontram, com notícias invariavelmente iguais, sejam elas verdadeiras ou não, rigorosas ou não, imparciais ou parciais. Desde que não incomodem “clientes”.

    Melhorar a literacia dos cidadãos em matéria do que são as boas e as más práticas em Jornalismo é crucial. Educar sobre Jornalismo (e o que não é Jornalismo) torna-se imperativo num mundo mediático cada vez mais ocupado por notícias recicladas – “eucaliptos” – e “notícias” com interesses comerciais envolvidos.

    A solução passa também pelos próprios jornalistas e a oposição que devem demonstrar a esta prática persistente. Mais notícias próprias – em vez de recicladas – valorizam o trabalho dos jornalistas, bem como a sua imagem perante o público. Uma classe valorizada mais rapidamente vai exigir melhores condições de trabalho para um exercício da profissão com mais dignidade. Com mais dignidade e qualidade.

  • A democracia hoje e as bases de dados escondidas pela DGS

    A democracia hoje e as bases de dados escondidas pela DGS


    O perigo é real. Uma democracia está doente quando as autoridades responsáveis pela política de Saúde Pública escondem dados, e até divulgam “pareceres” enviesados e fraquíssimos do ponto de vista médico-científico, como recentemente apontou o presidente do Colégio de Pediatria da Ordem dos Médicos, Jorge Amil Dias, em declarações ao Nascer do Sol.

    É tão importante votar como exigir transparências às autoridades e a abertura imediata do acesso a bases de dados sobre saúde em Portugal. É um dever cívico de cada português.

    O que esconde a Direção-Geral da Saúde (DGS)? O que esconde o Ministério da Saúde? Quais os motivos que levam a que os portugueses sejam impedidos de aceder a dados e estatísticas sobre saúde? Quais os motivos que levam a que os portugueses não tenham acesso a dados que são disponibilizados por outros países aos seus cidadãos? Por que motivo são divulgados “pareceres” com pouca – ou nenhuma – fundamentação séria e credível (como foi o caso do “parecer” mais recente sobre a incidência de miocardites em crianças divulgado pela DGS)?

    Se não fossem as investigações que o PÁGINA UM tem levado a cabo, o obscurantismo seria muito maior, nomeadamente sobre a realidade dos internamentos e óbitos nos hospitais em matéria de covid-19. Mas também sobre o tema da realidade da covid-19 e a sua incidência nas crianças e nos jovens.

    Mas o facto de haver um meio de comunicação social a conseguir destapar alguma da informação que as autoridades têm tentado esconder não elimina a urgente necessidade de forçar a DGS e o Ministério da Saúde a divulgarem mais dados cruciais a que todos temos direito em aceder.

    Desde o início da pandemia que vários portugueses têm alertado para a forma descontextualizada de comunicação dos dados em Portugal em torno de covid-19.

    A doença é grave, e pode ser fatal para doentes dos grupos de risco. Não é a gravidade da doença que está em causa. Mas sim o facto de os (poucos) dados divulgados exigirem rigor e transparência. Contexto. Tem faltado disso desde Março de 2020.

    A baixa literacia matemática e científica nos media clássicos portugueses ajudou à opacidade na divulgação de dados sobre saúde junto da população. Também os interesses comerciais falaram alto. Além de haver jornalistas que defendem que a população deve estar em pânico para “obedecer” – e este ponto merece um artigo por si só.

    A situação é hoje muito grave. Em 2022 continua vedado o acesso a diferentes bases de dados sobre saúde em Portugal. O que se pretende esconder ao impedir o acesso a dados sobre saúde em Portugal? O que se pretende branquear ou omitir? Estarão as bases de dados a serem “limpas” e expurgadas de informação? Quer-se esconder o aumento de óbitos em determinadas faixas etárias em 2021? Ou quer-se esconder que o número de suicídios em jovens disparou desde 2020? O que se quer esconder?

    Não sabemos. Mas quando a DGS esconde informação, cria-se também o espaço para que se levante a especulação. Ninguém ganha neste cenário de opacidade, muito menos o jornalismo e a população.

    Mais recentemente, tivemos o tema da vacinação e dos doentes com vacina e sem vacina contra a covid-19. Foi escandalosa a comunicação falsa, divulgada recentemente sobre o número de internados com e sem vacina. Depois, este aspecto foi corrigido, mas já tinha sido divulgada amplamente essa desinformação fomentada pelos media em geral. Este tema dos dados em torno da população com e sem vacina é sensível e merece todo o rigor e transparência.

    O PÁGINA UM tem tentado obter acesso a várias bases de dados sobre saúde em Portugal. É uma batalha que foi iniciada de forma solitária, e dura há meses. Esta não é a batalha de um jornal apenas.

    woman peeking on glass door

    As autoridades de saúde devem ser impedidas de continuar a esconder dados. Ponto final. Devem ser obrigadas a ser transparentes junto dos cidadãos, daqueles que lhes pagam os salários.

    Esta é uma batalha de todos nós, portugueses. Não deve ser apenas uma batalha de jornalistas em busca de informação para esclarecer a população, e divulgar factos de relevo para todos. Esta é uma batalha pela defesa do Estado de Direito. Esta é uma batalha pela defesa da democracia.

    Falar em democracia quando há dados fundamentais escondidos da população, sem exigir que sejam tornados públicos, é incoerente. É perfeitamente aceitável, perante os acontecimentos, que a atual situação suscite a dúvida sobre se a DGS estará a ser instrumentalizada politicamente, ou se há interesses que estão a tirar partido da sonegação de dados sobre saúde em Portugal.

    Nota-se agora que, graças aos trabalhos pioneiros do PÁGINA UM, até os órgãos de comunicação social clássicos começaram a pedir a divulgação de dados por parte da DGS. É um começo. Mas não chega. O acesso às bases de dados que estão a ser escondidas é uma emergência.

    Aquilo que se passou nos últimos dois anos em matéria de política de Saúde em Portugal vai ter de ser escrutinado. Em nome das vítimas de covid-19, das vítimas de SIDA, de cancro, de AVC, de ataques cardíacos, de tudo. Em nome de todas as vítimas que morreram sozinhas em casa ou em lares. De todas as vítimas que foram alvo de negligência ou de omissão de auxílio. De todas as vítimas de suicídio. Em nome das famílias. Em nome da democracia e do direito à informação que lhe é inerente.

    É inaceitável, repito, que em 2022 haja autoridades de saúde de um país como Portugal a esconder bases de dados dos cidadãos. Mas está a acontecer. Cabe-nos a todos garantir que a saúde da nossa democracia e do Estado de Direito. Exigir a divulgação de dados sobre saúde é uma obrigação de todos nós.

    A opacidade só tem lugar em países onde a democracia não tem lugar. Garantir a democracia é muito mais do que votar. É escrutinar, vigiar, exigir. E exercer o dever cívico de questionar e confrontar as autoridades sempre que se desviem do caminho e escolham a censura e a opacidade. E esse é um dever individual. Uma responsabilidade de cada um.


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.