Etiqueta: Diogo Cabrita

  • O relator

    O relator


    Vamos estar sucumbidos pelo relato preliminar da comissão de inquérito parlamentar ao caso TAP e sobretudo às indemnizações milionárias. Vamos estar a conjecturar sobre a honorabilidade, a ética republicana, e sobretudo a dívida de gratidão.

    Serventuários do poder, com baixa literacia, com falta de experiência de vida, vão ascendendo à nata dos partidos. Gente que sozinha não se guindou a lugar nenhum consegue o apoio dos chefes da matilha e sobe. Sobe, sobe balão sobe.

    hot air balloon pfestival

    Deste modo tivemos a Caixa Geral de Depósitos (CGD) e o inquérito que poupava Vara e tantos outros. Ilibados! Já vão décadas socialistas, mas entretanto a justiça parece ter cumprido a sua missão independente, e levou-os ao presídio.

    Lembram-se da comissão sobre os submarinos? Sem culpa! O mesmo que a comissão sobre a ponte de Entre-Os-Rios e sobretudo a dos Carvalhos no Funchal? Ilibados! O Carvalho matou 13 pessoas enquanto dançava, sem incúria e sem maldade.

    Houve também uma comissão sobre Pedrógão que assacou culpas aos raios da tempestade seca. Não limparam, não cuidaram, não preveniram, mas o raio que o parta! Ilibação.

    Lembram Tancos? O culpado era do mexilhão. Houve uma Comissão sobre o BES onde se riu o Berardo, onde não se lembrava de nada o melhor CEO português – o Bava. O Bava até foi condecorado pelo Estado, enquanto roubava milhões, se premiava pelos maus negócios e destruía a PT. Recordo Comissões onde o Alzheimer era petulante – com Victor Constâncio fomos ao rigor de como esquecer a catapulta jornada milionária em Bruxelas. Agora está cheio de demência o Salgado.  Também na TAP havia muita dificuldade na memória. Ilibados! Como não?

    O caso mais interessante é que foi rápida a indemnização do emigrante morto às mãos do SEF, mas não há indemnizações a quem morre à guarda do Estado nas cadeias, não há indemnizações céleres em Pedrógão, Oliveira do Hospital, vítimas do desvario da PT e BES, vítimas de iatrogenia no SNS, vítimas de atropelamento por carros do Estado com ministros dentro. Ilibados!

    O problema não são as comissões, mas o modo como elegemos estas pessoas. Temos de pensar nos círculos uninominais, temos de impedir o aconchego dos líderes aos medíocres, temos de criar círculos nacionais onde votamos as pessoas, onde escolhemos mérito e carreira.

    Esta é uma democracia doente que serve os interesses da geração que agora está no poder após substituir a geração de Abril.

    grayscale photography of woman praying while holding prayer beads

    Carregados ao colo pelo sampaísmo, por uma esquerda trauliteira, uma agenda ideológica só de palavras, um complot de domínio do aparelho de estado, impediram reformas profundas, criaram constrangimentos ao mérito, impulsionaram a gestão por normas e regras em vez de liderança competente. 

    Criando normativos e certificações, qualquer um pode chegar ao poder de modo protegido e balizado, não tomar decisões fora do protocolo e, desse modo, pára o normal funcionamento do Estado. Um líder decide, assume responsabilidades, tem memória, cumpre as suas funções, exige e deve ser vigiado por quem o escolheu com lucidez e transparência. Os outros serão sempre ilibados!  

    Diogo Cabrita é médico


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.

  • Os cidaDeus do Haka Woke

    Os cidaDeus do Haka Woke


    Woke vem do inglês stay woke e para nós é um “acorda” intenso. Talvez um Acordai do Lopes Graça. Hoje todos temos uma concepção mais desperta para os problemas do Mundo, todos fomos catequizados pelo politicamente correcto e todos seguimos, revoltados, os maus tratos a animais e a pessoas. No entanto, a sensibilidade é escalável.

    Os woke querem despertar a nossa revolta para os problemas ancestrais de escravatura, a segregação racial, sexual, identitária, etc. Há uma ocupação do espaço político pelo movimento woke. Parece que o uso da expressão se generalizou em 2014 com o movimento Black Lives Matter.

    yellow and brown leaves on white ceramic tiles

    Os migrantes incluem-se nesta sopa woke. A sopa inflamatória dos woke, conjuga dezenas de temas e congrega a rede social num espaço vigiado, muito escrutinado que possuem línguas afiadas e viperinas. Um woke discorda de nós e imediatamente nos cataloga de fascista, retrógrado, racista, criminoso.

    A gritaria recorda-me o Haka, gritado e encenado pelos neozelandeses e pelas neozelandesas antes dos jogos de rugby. O Haka woke é uma barbaridade sobre os que insistem nas touradas, sobre os que não seguem a cartilha da responsabilidade humana como principal causa de aquecimento global, sobre os que defendem que o excesso de gatos é uma praga para o ecossistema, sobre os que defendem prostituição legal e clara, sobre os que discordam da política das migrações europeia, sobre os que em nome da redução de consumo e de pegada ecológica acham que deve haver balizas aos pets, sobre os que não concordam com a humanização animal, sobre os que acham errado indemnizar a História, devolver patrimónios conquistados.

    A Haka woke é uma igreja ululante e insultante que cai sobre quem ousar divergir dos seus paradigmas. A pandemia foi um exemplo da força descontrolada do eu opinativo sobre o respeito dos outros.

    rugby team dancing in the field

    O eu opinado não necessita ser sábio, não carece de dúvidas; é um novo texto religioso que leva a mudar a escrita, obriga a alterar a linguagem, penaliza discursos. O grande problema é que nada é imutável e todo o conhecimento científico tem por pressuposto a incerteza, porque uma ínfima descoberta pode mudar todo um raciocínio bem construído.

    Mas hoje há milhões de eus gabarolas, de pessoas que não estudando concluíram certezas: são os “cidaDeus” que não entendem que há outros. Os cidaDeus falam haka, ligam o telemóvel alto em restaurantes, colocam colunas de música na praia, estacionam frente a garagens, furam pneus para castigar compradores, pressionam condutores mais lentos.

    Claro que a maioria destes eus é internauta e ulula despido, ou insulta sem travões. Há cidaDeus woke e há os que o não são. Pegam-se num fanatismo cansativo que está a desmerecer as redes sociais. O inaceitável para cada um baixou de limiar, e agora basta um sussurro, um vislumbre, uma vírgula mal colocada para choverem perfis falsos e perfis verdadeiros carregados de ódio, língua de fora, palavrões, perfídia.

    a couple of kids that are on a slide

    Os trolls fabricam-se a pedido dos partidos. Um troll só tem direitos e sensibilidade; para os outros é toca a lavrar. Vêm desestabilizar, enfurecer, provocar os incautos que ousaram deixar a opinião. Desde 2014 com a cultura woke este fascismo tem tomado a governação da Europa que agora está a viver o ateísmo aos cidaDeus. Uma onda de direita já conquistou a Dinamarca, a Finlândia, a Itália, a Suécia, e é uma força crescente em França, Portugal, Espanha, Alemanha.

    A vitória dos novos ateus existe há vários anos na Hungria e Polónia. Comedimento é a palavra-chave para este problema, bom senso é essencial para alterar este percurso, mas o que não serve mesmo é o cinzentismo do PSD, a falta de posicionamento daqueles que estão exaustos dos cidaDeus que falam haka e tem por ideologia o woke.

    Diogo Cabrita é médico


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.

  • O Mediterrâneo tem duas margens

    O Mediterrâneo tem duas margens


    Uma globalização de investimento implica uma política com ingerência. Um país é governado pelos seus povos no uso da democracia, mas a realidade é que os títeres e os bufões sobem da incultura e da incapacidade de análise dos que votam.

    Votar é um direito transversal, livre e igualitário. Claro que há agremiações onde alguns possuem direitos acrescidos outorgando-lhes o poder de votar mais vezes que os outros. Também há países onde o voto é obrigatório e tem penalizações para quem não o exerce.

    aerial photography of body of water

    Nada invalida a ideia de que deveria ser transversal, igualitário e livre. Assim o voto incumbe quem o recebe de cumprir um mandato que deve ser temporário, vigiado pelas instituições adequadas e coerente com os princípios constitucionais.

    Assim, quando escolhemos relacionar as democracias com os títeres e os ditadores, damos um passo complexo entre direitos e deveres. Um Estado democrático tem de engolir dezenas de sapos para negociar com um regime sem lei e sem ordem. Os incumprimentos, as regras alteradas constantemente, a corrupção, a incapacidade de controlar os portos e a chegada de produtos criam um processo de constrangimento aos investidores.

    Os países deste género têm de ser isolados num processo “ingerente” que os devolva à democracia e aos direitos humanos. As chegadas de migrantes de países desgovernados, miseráveis, com agentes políticos empenhados no eu e esquecidos dos outros, onde o cumprimento dos contratos não se realiza, onde a justiça é cativa do poder, devem ser repensados. Temos o direito de ajudar a mulher maltratada, os animais abandonados, mas não podemos ter acção directa sobre a brutalidade dos estados e a sua incompetência?  

    people walking on street during daytime

    Os migrantes em barcos e a pé existem em vários circuitos de fuga da miséria. A Venezuela distribuiu refugiados por todos os países à sua volta. A Nicarágua é uma dor de alma. Na Ásia há verdadeiros produtores de fluxos migratórios, como nas Filipinas.

    Para o Mediterrâneo a situação é dramática e apocalíptica. Morrem no mar crianças às centenas. Mas a culpa não é dos corruptos e loucos, e dos ladrões que governam os países que originam os fluxos por guerras e fome e desemprego.

    Não! Dr. Guterres, a culpa não é nossa, que lhes damos emprego, e simultaneamente damos segurança social, subsídios e benesses aos nossos que recusam trabalhar. Não, Dr. Guterres! A culpa não é deste lado do Mediterrâneo. Refira os nomes dos Presidentes que roubam as ajudas internacionais, os valores que pagamos para tentar que não mandem mais pessoas. Depois, eles usam os migrantes de novo, como pressão da mão estendida.

    As políticas de contenção da migração têm de ser interferentes, ingerir com as decisões, seguir o dinheiro que é dado para apoios, frequentemente sem prestação de contas.

    Os cidadãos europeus não fazem ideia da quantidade bárbara de milhões de euros que se distribuem em programas inócuos, incompetentes e desnecessários pelo Mundo fora. Damos dinheiro para sossegar os negócios. Damos dinheiro para as vaidades dos criadores de ilusões que invadem com ONGs o Mediterrâneo, e acreditam ser importantes para mudar o curso desta tragédia.

    Os discursos de António Guterres são fantásticos, são de qualidade livresca, mas a realidade é um martelo que entrega 500 mortos hoje e muitos mais amanhã. O problema não é aqui! O problema é lá, de onde estão a sair de campos de refugiados, mártires de traficantes, entregues à ineficiência dos políticos, produtos de ilusões sobre grandes salários na Europa. 

    Diogo Cabrita é médico


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.

  • O himalaia da estupidez

    O himalaia da estupidez


    A covid-19, doença chegada de um mercado chinês sob transmissor ainda pouco claro, apesar de se terem massacrado milhões de visons, e acusado pangolins e morcegos, acabou por decreto.

    Já não há doença! Ontem havia, mas agora não!

    Destruídos milhões de negócios e empresas, desequilibrado o padrão mundial de comércio e chegado à mortalidade cataclísmica de 4,1 milhões de pessoas em três anos de desgraça. Os valores são crus e frios, não têm família, não gozam de emoções, e por isso, em 2019 só de doença cardiovascular morreram 9 milhões de pessoas no Mundo, mais do dobro de toda a crise covid-19. Estes números crescem a cada ano, e por isso, nos anos sob a ditadura pandémica, morreram 21 milhões de pessoas de doenças cardiovasculares e Doença Pulmonar Obstrutiva. Muitos milhões morreram de cancro e vários milhões de fome e outras infecções.

    woman peeping at window

    O que aprendemos da covid-19? Primeiro, que matava muitos idosos, e sobretudo aqueles que frequentavam residências, lares e cuidados continuados. Os idosos nas suas residências, autónomos, em seus lugares ficaram para contar a história do tempo em que ninguém os visitava, em que os plastificaram, em que lhes falavam com acrílicos de permeio.

    Os lares, os lugares onde a concentração de idosos era maior, tiveram grandes dificuldades em conter o vírus. Nem as medidas mais fascistas, o desrespeito constitucional do direito à liberdade, a presença de escafandros, as desinfecções de mãos, pés e boca, contiveram o SARS-CoV-2. 

    Então, países como a Suécia, a Dinamarca, introduziram uma discussão sobre os lares, as medidas de envelhecimento saudável, a opção autónoma, independente, o reforço do pensamento de que a nossa casa é um castelo defensivo.

    a blurry photo of a man walking down a street

    Os idosos amontoados são uma bênção das epidemias, são uma selva seca onde nasce a chama. A opção pode ser investir nos domicílios, subsidiar a colocação de polibans, a colocação de suportes de mobilidade, a educação e formação para exercício, o apoio aos familiares que cuidam.

    Portugal foi numa via diferente. Portugal, através das suas cabeças extraordinárias, vai lançar mais cinco mil camas de cuidados continuados. Portugal vai ajudar a concentração, para preparar o cenário da próxima gripe, da próxima legionela, do SARS-CoV-3.

    Por vezes, vou ao espelho e digo dez vezes que sou eu que não entendo, sou eu que sou estúpido, sou eu que ignoro os factos.

    Depois, vejo os jornais, pesquiso e encontro números que demonstram como esta solução tem sido uma tragédia e uma indignidade. São imperdoáveis os dois anos de cárcere a que se votaram os idosos. O resultado foi que neles se deram as maiores taxas de mortalidade da covid-19 – aqui e noutros países.

    Envelhecer é uma programação, tem uma logística própria, tem uma previsibilidade – não podes envelhecer e ficar sem acesso à tua casa. Não podes deixar-te num prédio sem elevador até à perda da locomoção.

    two men playing chess

    A nossa existência pode ser pensada com antecedência e o nosso envelhecimento deve ser equacionado e preparado. Claro que há instituições pensadas com sofisticação, com elevação, onde se encontram momentos muito agradáveis, actividades importantes para o bem-estar e a manutenção de tarefas.

    Claro que há famílias limitadas nas opções, porque a vida é um tractor sem sentimentos, que nos lavra as vontades e desejos. Estúpido mesmo é optar por mais este serviço político de distribuir umas camas de cuidados continuados que vão ter custos de manutenção a ultrapassar os mil milhões. O investimento nos votos continua até que uma bancarrota regresse.  

    Diogo Cabrita é médico


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.

  • A formiga não pode carregar o leão às costas

    A formiga não pode carregar o leão às costas


    O valor total dos meus rendimentos consiste na soma de todos os salários que recebo, todas as rendas que me pagam por aluguéis, da venda de produtos que fabrico, dos arrendamentos que fizer de casas, quartos ou carros. Também posso ter um terreno que produz bens alimentares ou outros e a sua venda junta-se aos meus rendimentos.

    O meu rendimento anual é o meu Produto Interno Bruto (PIB). Mas agora vamos tirar daqui os salários de empregada, a escola dos filhos, a gasolina, os seguros, a água, a luz, as comunicações, as taxas aos bancos, os impostos ao Estado e temos o valor que fica para brilhar, para as festas, para investir.

    red ant on white mushroom

    Peguemos agora no caso português. Dos cerca de 10,4 milhões de habitantes, 2,4 milhões de são idosos e temos ainda 1,5 milhões de pessoas com menos de 15 anos. Ficamos assim com um potencial de 6,5 milhões de pessoas, mas desce para pouco mais de 4,9 milhões de trabalhadores, se considerarmos os estudantes, os desempregados e outra população inactiva.

    Com isto se constrói o PIB do país, com os que trabalham, com os impostos que todos pagamos e muito do que se descreveu no início. Os funcionários da máquina do Estado Central são mais de meio milhão, e na Administração Pública local e regional estão 160 mil. Além destes, há os das empresas de capital do Estado, com gestão “privada”.

    Eles, na realidade, recebem dinheiro do PIB e não são contribuintes a não ser que paguem muito IVA, paguem muito IMI ou sejam empreendedores agrícolas, lojistas, vendedores, etc. O salário dos funcionários sai do bolo que se constrói dos impostos e daquilo que o Estado deveria produzir ou vender.

    10 and 5 euro banknotes

    Se o dinheiro não chegar ao fim do ano, posso emitir títulos de dívida que os amigos compram se confiarem. A confiança está controlada pelas agências de rating, ou pelos vizinhos no bairro das formigas. É o caso dos Títulos do Tesouro do Estado. Isto, para o meu PIB, tem agora um custo, que é o juro que pagarei ao meu cliente. Tem a vantagem de me disponibilizar capital em tempo útil que me pode fazer ganhar dinheiro, se bem utilizado. Tem o custo de ter de pagar juros sobre o valor que me adianta.

    Portugal, sob o ruído da TAP e do galambismo teve um ataque ao bolso das poupanças reduzindo a taxa de juro dos Títulos de Tesouro de 3,5% para 2,5%. Mais, converteu numa dificuldade a libertação dos títulos por herdeiros, ou seja, atacou a liquidez das famílias.

    Num país muito estranho, onde a pobreza é das mais importantes da Europa, o povo não liga às questões financeiras, e paga. Paga o que não pagam outros europeus por um carro, por uma casa, por taxas de luz e água. 

    Há até quem não repare que o petróleo está a preços mais baixos que antes do início da guerra da Ucrânia. Portugal é cego e gosta de ser enganado. Quando a Banca, cheia de lucros, pede que acabem os produtos de poupança do Estado, não se ouvem gritos nas ruas. Talvez porque os portugueses coloquem mais dinheiro na raspadinha que nas poupanças. Veja-se: 1,5 mil milhões de euros são só para raspar encostados às mesas dos cafés. Outro tanto é para jogar no Euromilhões e no Totoloto.

    O desinteresse na poupança vem de uma mentalidade pobre que não se importa de conseguir reformas abaixo de 500 euros mensais.

    Esta realidade que nos coloca nas mãos de João Moreira Rato e outros gestores que detestam os contribuintes, amam os grandes investidores e nunca valorizam o esforço da formiga, preocupa-me há muitos anos.

    Houve dezenas de Prémios Nobel da Economia que aconselhavam uma aposta no microcrédito, um crédito para o empreendedor pequeno e cuidadoso, que defendiam a libertação de dinheiro para a iniciativa das pequenas e médias empresas. A construção da sociedade sem soluços, sem crises, obriga a uma estrutura onde a poupança serve de almofada e garante a estabilidade das famílias.

    pink pig coin bank on brown wooden table

    O Mundo não pode ser apenas dos predadores, como parece ser o novo Estado, que dilapida a saúde, o ensino, que nos consome os direitos básicos, como a energia, a água, e a comunicação.

    A formiga não pode carregar o leão às costas. O PIB não comporta devaneios extravagantes, subidas inesperadas de taxas, inflação nos alimentos que ninguém consegue explicar. Se o valor total do PIB não comporta os gastos da família temos de nos vender aos juros agiotas dos predadores. Esse cenário já nos colocou nas garras do FMI mais que duas vezes.   

    Diogo Cabrita é médico


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  • Deve a Saúde ser um embarque cheio de consentimentos?

    Deve a Saúde ser um embarque cheio de consentimentos?


    Voar é um conhecimento e um treino que alguns pagaram para ter, outros foram premiados com essa sabedoria em funções públicas.

    Se fores de avião, não assinas um consentimento e não perguntas as consequências ou os azares envolvidos.

    Queres viajar? Então pagas o bilhete e entras na estrutura que levantará voo.

    building interior photograph

    É segura? Acreditamos que sim. Leva uns pilotos que podem cometer erros, ou que podem enlouquecer? Há inúmeras listas de procedimentos para evitar falhas. Dupla validação, controle listado de automatismos, verificações constantes, repetição de regras. No fim, pode sempre haver falhas e a competência das pessoas é importante.

    Há um piloto que conseguirá amarar. Há o piloto que planará e fará aterragens em situações extremas. Tudo isto se tenta melhorar impondo mais normas e mais computadores e inteligência artificial. O facto histórico é que voamos e mergulhamos nessa aventura sem assinar coisa nenhuma e sem garantias.

    Já no Direito é tudo semelhante: embarcas numa peleja “tribunalesca” sem garantias de coisa alguma, sem consentimentos informados e deixas-te conduzir na batalha jurídica por advogados e juízes sem qualquer rumo previsível.

    Na restauração ninguém se lembrou de colocar consentimentos ou contratos a quem vai comer e beber. Então, porque surgiu todo o empenho em haver consentimentos nos actos de saúde?

    Como se pode explicar um voo a um turista? Os manómetros, os aparelhos envolvidos, a tecnologia em acção? E uma cirurgia? E um tratamento? Há rotinas, protocolos, estatísticas que permitem ter ilusões sobre resultados, há certezas que nascem de surpreendentes efeitos secundários, e tudo isso é a Saúde e a sua linguagem.

    doctor having operation

    O negócio da Saúde construiu um sem número de registos e de indicações e linhas orientadoras que não são garantias científicas, mas sim práticas defensivas para evitar indemnizações que surgem do contrato com consentimentos.

    Ninguém pode garantir que o menino em terapia não se suicida. Pode pregar-lhe com mais drogas, mais anestesias da vontade, mas a garantia de que não sobrevém um desastre, não existe. O erro zero também é impossível, apesar de ser desejado na Aviação, na Saúde e na Restauração. 

    O que é uma evidência em Saúde? É uma contabilidade numérica em que milhares de utilizações de uma prática, ou fármaco, corresponderam a uma série de resultados desejados ou pretendidos. Na realidade, se a amostra fosse outra, podiam haver resultados diferentes. Reduz-se isto em mais exposição, maior número de sujeitos testados, ou até na sua padronização mais específica. Então, podemos construir um resultado? Infelizmente, sim.

    person in green crew neck long sleeve shirt wearing blue face mask

    Os consentimentos referem-se a regras e a protocolos e a uma sempre incompleta informação. Quando julgamos dominar um tema, pensem o longe que estamos de um salto de paraquedas, ou de um voo num planador, ou da ignorância em que vamos voar. 

    Estas obsessões que hoje dominam a Saúde trouxeram qualidade, por um lado, mas muita ilusão, por outra; e muita estupidez em “tresleituras” de telemóvel, muita utilização para efeitos sem ganhos em Saúde. E tudo isto balizado em textos de milhares de letras cheios de autorizações e consentimentos. Como entraríamos num avião com este método? 

    Diogo Cabrita é médico


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.

  • As duas TAPs que nos custou o fecho da Central do Pego

    As duas TAPs que nos custou o fecho da Central do Pego


    No dia 30 de novembro de 2021 fechou a Central Termoelétrica do Pego. Estava a funcionar há 28 anos, sendo uma das mais modernas e menos poluentes da Península Ibérica e da Europa.

    Apesar do desemprego, da redução de actividade social, e mais fuga de gente daquela região, o encerramento não contou com a firme oposição do presidente da Câmara de Abrantes, Manuel Jorge Valamatos que cumpriu com o seu papel de membro do partido do Governo: concordou, compreendeu, e lavou-se de esperanças no futuro!

    Central do Pego. Foto: Medio Tejo

    Apesar de renovada tecnologicamente há poucos anos para ser menos poluente, e mesmo com a subida galopante dos preços da energia (no mercado ibérico subiu, em menos de um ano, de 30 euros por MWh para 281 euros), o Governo manteve a sua decisão política. Uma escolha ideológica que não teve em conta custos nem consequências. Havia que cumprir a meta de Bruxelas no Plano Nacional para as Alterações Climáticas.

    A central a carvão do Pego, que era responsável por 4% das emissões do país, foi a instalação com o segundo maior peso nas emissões de dióxido de carbono em Portugal na última década, a seguir à Central Termoelétrica de Sines, cujo encerramento ocorreu em Janeiro de 2021. Em termos absolutos, a média anual de emissões de gases com efeito de estufa (GEE) pela central do Pego entre 2008 e 2019 foi de 4,7 milhões de toneladas de dióxido de carbono.

    Os impostos com relevância ambiental em Portugal corresponderam em 2021, a 5,0 mil milhões de euros. São os impostos cobrados pelo consumo de energia que tem vindo a regressar aos valores pré pandemia e com tendência a aumentar. Em Portugal, o turismo que aporta em navios colossais (os paquetes) é já responsável por mais GEE do que todo o parque automóvel de Lisboa, Porto, Braga e margem Sul do Tejo juntas (mais poluentes que o Pego a trabalhar).

    Manuel Jorge Valamatos, presidente da autarquia de Abrantes. Foto: Médio Tejo

    José Grácio, presidente executivo da Trust Energy, accionista maioritário da Tejo Energia, que detém a concessão da Central do Pego está em conflito com o Estado, quer por ter perdido o concurso público para o futuro da Central, quer por entender que o encerramento foi um erro estratégico. Esperam-se batalhas legais antes da Endesa tomar posse.

    Portugal pagou, em 2022, mais seis mil milhões de euros pela energia importada do que em 2012, sendo muita dela originária de centrais de carvão espanholas, francesas ou alemãs. O importante era reduzir a produção aqui nem que o custo fossem duas TAPs, o valor pelo qual a China Three Gorges nos comprou a electricidade, as tranches que fomos pondo no BES.

    Somos um país pobre e com um povo taciturno e miserável que paga seis mil milhões por uma bandeira ideológica quando as emissões de GEE aumentaram em toda a Europa e inclusive em Portugal em 2023.

    Quanto ao futuro da Central, o concurso deu como primeiro lugar a Endesa e segundo a GreenVolt. A Endesa tem como base o funcionamento a hidrogénio verde e afirma ir investir seiscentos milhões no Pego, mas com começo sem data. A GreenVolt garante que iria ter um projecto funcional ainda este ano e a evoluir ao longo dos anos para energia sustentável. 

    traffic light sign underwater

    “O gás com efeito de estufa é um gás na atmosfera que actua de forma parecido ao vidro numa estufa: absorve a energia e o calor do Sol que são irradiados pela superfície da Terra, conserva-os na atmosfera e evitando que escapem para o espaço. Muitos GEE, são libertados de forma natural na atmosfera, mas a actividade humana acrescenta enormes quantidades, aumentando assim o efeito de estufa que contribui para o aquecimento global.”

    De facto, temos de ir vasculhar fundo para encontrar os valores que justifiquem o discurso ambientalista cheio de hipérboles e de frases feitas sobre o impacto humano no aumento das temperaturas. Usam, frequentemente sem quantificar ou comprovar as palavras “acrescenta”, “aumenta”, “contribui de modo importante”, mas sempre omitindo os efeitos nefastos da própria Natureza – vulcões, fogos (o sector LULUCF – Land Use, Land Use Change and Forests que tem transitado entre emissor e redutor de dióxido de carbono) questões de rotação da Terra em maior ou menor proximidade do Sol (recordar o Afélio e o Periélio), o eixo de rotação da Terra, o efeito do dióxido de carbono no clima, “mesmo sabendo que o dióxido de carbono foi, provavelmente, muito alto no Ordoviciano Superior. No entanto, a subsequente queda do dióxido de carbono foi breve o suficiente para não ser registada no modelo GEOCARB, mas ainda assim baixa o suficiente (com a ajuda de um Sol mais fraco) para desencadear formações de gelo permanentes. Em outras palavras, foi uma era quente com um breve mergulho em um período frio, devido a uma coincidência de fatores.”

    Earth with clouds above the African continent

    Claro que me serve igualmente qualquer das teses em discussão, e fascino com a lição de Geologia Histórica de Richard Alley. Há um aparente aquecimento global e devemos ter o nosso contributo, sobretudo individual, reduzindo, comprando menos, gastando menos, viajando menos, tendo menos pets, diminuindo a pegada global. 

    Preocupados com a ideologia mais do que com as contas públicas, somos conduzidos nestas penitências de baixos salários, cobranças abusivas de impostos sobre o trabalho, multas ambientais num mundo globalizado onde não castigamos os que competem connosco usando preços almofadados em zero cumprimentos, em total desrespeito de direitos humanos, animais e de Natureza.

    Enfim, para que percebam o peso da ideologia nestas decisões onerosas para o contribuinte: em termos absolutos, a média anual de emissões de GEE pela central do Pego entre 2008 e 2019 foi de 4,7 milhões de toneladas de dióxido de carbono. Um pequeno nada nas emissões nacionais ao longo desse tempo. Mas pagámos duas TAPs e o PSD não falou.

    Diogo Cabrita é médico


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.

  • Onde está a Oposição no ataque aos jovens e às famílias?

    Onde está a Oposição no ataque aos jovens e às famílias?


    A subida da Euribor é um ataque às famílias e sobretudo ao crédito jovem. A Euribor provocou um cataclismo nas finanças familiares. Os empréstimos tinham uma taxa de esforço bem estudada e equilibrada que agora rompe com um acréscimo de 100%. Onde se pagava 600 euros cabem agora valores de 1150.

    Jovens trabalhadores que decidiram comprar casa, receberam em Abril e Maio a novidade de que o seu salário não chega para cumprir as suas obrigações bancárias. Há milhares de jovens que recebem 900 a 1.200 euros mensais e agora ficam relapsos ou não comem. Trabalham, assumiram compromissos com a cabeça no lugar, sem sobre-endividamento, sem jogadas marotas. De repente, os contratos são unilateralmente alterados, envolvendo a palavra dada e a honorabilidade de quem fez contas e assumiu sem leviandade a compra.

    four person holding each others waist at daytime

    Este é o tempo da terceira podridão bancária dos últimos 15 anos. Houve a crise da sobrevalorização de empresas e da colocação em carteiras de valor rentável, o lixo nascido da mentira. A avidez tresloucada levou milhões de pessoas à falência. Depois nasceu a banca que nos põe a trabalhar, a preencher toda a papelada e a usar contacto online e passou a cobrar taxas sobre o que agora fazemos nós.

    A taxação brutal e incompreensível de cada gesto, de cada transação. Funcionários despedidos aos milhões por esse Mundo fora, encerramento de balcões, juros mínimos sobre depósitos a prazo, taxas cada vez maiores sobre os créditos e, abra-se a boca de espanto, com mais lucros e com menos despesas, os bancos passaram a taxar qualquer movimento de capital.

    Agora há um novo filão: o incumprimento dos jovens converte-os em devedores depois de perderem o bem. A valia do imóvel desce e passa para outras mãos por 75% do seu valor. Os 25% que sobram, o jovem continua a dever, e a pagar sem estar a comprar nada.

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    Entretanto, os fundos imobiliários internacionais constroem arranha céus onde existiu a FIL, compram milhares de imóveis do crédito malparado por valores de circunstância. Em tudo isto, há um aparente conluio, pois estas vendas não estão ali à mão de quem as necessita. Disto não se fala em Portugal.

    Andam a brincar connosco na Assembleia da República. Quero lá saber do computador do Francisco, das palmadas na Eugénia, da sexualidade apocalíptica dos “transgénios”, da pouca vergonha do que disse o não-sei-da- quantas. Quero lá saber se o Costa vai à bola com Orban.

    Preocupa-me sim a miséria a ser distribuída sobre a classe média e os seus filhos. Uma inflação que já não tem nada que ver com a Ucrânia nem com a Pandemia. A dimensão vigarista da mobilidade elétrica. A desonra que é a TAP onde injectámos mais de 4 mil milhões. O não julgamento do homem que fez volatilizarem-se doze, ou talvez vinte mil milhões com o Rio Forte, o Rio Tinto, a PT, o Rio de Notas que foi o BES.

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    A Oposição tem de ser melhor do que este lodaçal, este bando de energúmenos que não aporta os nossos problemas e insiste no comezinho e no ridículo. Há portugueses em sofrimento. Há um SNS em parkinsonismo. Há milhares de professores em luta pelo que lhes é de direito absoluto, sem delongas e sem tibiezas. Roubar é roubar e só tem um verbo – roubar! É primo do furto, da mão alheia, do gamanço, da fanação.

    Já chega!

    Roubam nos impostos do rendimento do trabalho – o terceiro lugar da Europa. Roubam em impostos sobre o que já adquirimos – o imposto automóvel e o IMI são criações gatunas. Roubam em valores exorbitantes de IVA nas aquisições. Roubam em obrigações de certificadores e entidades reguladoras de toda a actividade económica. Cobram injustamente a locomoção em pórticos da falta de vergonha. Perto de 70% do que construímos com trabalho vai embora nesta teia de cobranças directas e indirectas. Mas onde está a direita? Mas de que fala a Oposição?

    Diogo Cabrita é médico


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.

  • O sedentarismo e o novo saudável

    O sedentarismo e o novo saudável


    O sedentarismo bulímico convoca para a saciedade de uma inexistência – comer por estar sentado – e está a conduzir a Humanidade à obesidade, e à epidemia maior do século.

    O vírus gordo é a maior causa de morte, arrastando consigo a hipertensão, a diabetes, a obstipação, as doenças de sobrecarga das articulações e ossos, as doenças pulmonares, a doença do sono.

    Este síndrome metabólico mata muito mais gente que o HIV, que o H1N1, que o SARS-CoV-2 –, aliás, mais que os três vírus juntos.

    person standing on white digital bathroom scale

    Numa governação para a saúde, a aposta dos Ministérios devia ser no combate ao sedentarismo e na defesa de estilos de vida saudáveis e por uma prevenção eficaz. Devemos perceber que há também o consumo de álcool como um multiplicador de gordura e uma permissividade social à sua utilização desenfreada.

    Por outro lado, as Queimas das Fitas nas universidades, que se aproximam, são uma alarvidade etílica paternalmente consentida que envergonharia sociedades mais conservadoras. 

    Não é menos verdade que o inimigo público principal são os cartéis que influenciam a alimentação – e depois o tratamento das doenças derivadas da construção da obesidade.

    Os clusters dos medicamentos influenciadores da cor, do gosto, do tamanho, da durabilidade dos alimentos estão já em todos os produtos processados e colocados à venda nos hipermercados.

    O poder destas empresas estende-se ao que colocamos na terra, às rações dos animais, e aos ciclos de vida de espécies verdes e animais, nascendo mais depressa, crescendo mais rápido e reproduzindo-se mais vezes. ~

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    Este é o ponto de ordem para uma nova política, uma nova dimensão organizativa das sociedades. Aquilo que comemos e a forma como comemos é lugar de uma reestruturação do pensamento.

    As consequências desta reflexão são ideológicas e definem outro posicionamento que já não será de esquerda ou de direita, nem conservador ou modernista.

    O cidadão gordo, que se alimenta sem cuidar do trato que damos aos animais, sem pensar no sal que utiliza, nos açúcares que ingere, é um padrão em fim de ciclo.

    Os cidadãos do amanhã saudável exigem uma mortandade menor, não querem as vacas que pastam onde esteve a Amazónia, escolhem menos produtos, praticam exercício, retiram os sofás da sala de estar, e colocam passadeiras para caminharem frente a uma televisão, que tentarão controlar nos seus conteúdos.

    Estamos à porta de um confronto ideológico brutal onde tudo se modifica.

    macro shot of vegetable lot

    A comida cartelizada pelo leite e o açúcar é amiga dos grandes produtores do vinho e cerveja. Todos produzem e utilizam de modo liberal os adjuvantes que terão efeitos secundários perversos no corpo.

    Os mesmos cartéis garantem que não morremos destas pequenas maleitas, pois são eles que detêm o poder da grande farmacêutica que está lá para nos manter um pouco doentes, mas duradouros, com ajuda de medicamentos.

    O sedentário vai estar em confronto com o obstinado saudável. Ele também acredita nos suplementos da Big Pharma – mas agora são outros nomes, outras indicações e, sobretudo, servem para dar saúde. Os dois carregam telemóveis e ambos consomem aplicações que ajudam ao sedentarismo. Não vás, pede na app.

    Diogo Cabrita é médico


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.

  • O que importa neste momento?

    O que importa neste momento?


    Importa saber que os combustíveis estão a um preço mais baixo do que em 2008. As taxas de juro Euribor estão 4,6 pontos percentuais mais altas que em 2022. A electricidade está muito mais cara que em 2020. A água é controlada por privados e está mais cara que em 2022.

    Os devedores de crédito à banca estão com mais 400 euros por mês em empréstimos de 150 mil euros. Os salários de 900 euros não conseguem pagar os novos encargos com a banca, pelo que, em dois meses, o crédito malparado triplica.

    As famílias em 2010 encostaram aos idosos, que poupavam, para apoiar a crise resultante do subprime e da subida do petróleo e dos juros da dívida pública.

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    As três coisas anteriores mataram o deslumbramento de Sócrates, não os seus investimentos.

    Foi então que surgiu um idólatra do estoicismo, e vivemos “para lá da Troika”. Hoje temos António Costa, o optimista, que normalmente resolve tudo debitando promessas financeiras, arrojadas carteiras e aumentos.

    Na verdade, a governação anterior caracterizava-se por cativar a promessa, e depois iniciou as dádivas, aumentos, que se contraíram com impostos. Toma lá, dá cá.

    Estamos, pois, chegados à maior de todas as mentiras: a guerra conduziu à inflação. A grande realidade mostra que a guerra é uma enorme desculpa para a inflação, e esta uma construção financeira para o Banco Central Europeu se encher de milhões.

    Vejam os dados reais. Não há aumento de combustível desde há alguns meses. Houve até uma descida de 60 cêntimos nos postos mais baratos. O barril de crude está longe do que pagava o Governo de Sócrates. Então, que se passa na esfera do poder que nos controla?

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    Isso é teoria conspirativa, é alucinação, é chalupismo.

    Pois seria, se não tivéssemos dados brutais como o número de habitações em Lisboa na mão de fundos capitalistas.

    Pois seria, se não tivéssemos lucros brutais a surgir na banca, na electricidade, na água, no digital.

    Este é, aliás, um ponto importante.  Caminhamos para um mundo em que, presos aos telemóveis, vamos pagar cada uma das suas aplicações e funcionalidades. Taxas que já se executam para garantir uma televisão com aquilo que desejamos ver. O resto é quase tudo lixo, ou informação controlada pelo dono, normalmente os fundos, outra vez.

    Os filmes e os cartoons vão sugerindo esta realidade que permite saber onde estamos, com quem, comprando o quê, gostando de quem, permitindo sugestões das aplicações que temos nos telefones. 

    Há uma vontade enorme de normalizar a linguagem e até as opiniões. Há uma vontade anti-religiosa que se resguarda no anticlerical e que atingiu a força máxima na China, onde a religiosidade quase desapareceu. Abdicar da dúvida, da reflexão, da componente mágica da vida pode ser um caminho para certificar o próprio discurso. Os certificadores são de novo os fundos.

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    Reparemos, com despudor, no que consiste a cassete dos grupos mais fanáticos, ou engajados: controlar o discurso converte os fiéis em peregrinos e votantes.

    Agora é o tempo de “controlar as falsidades”, os tipos que dizem coisas como as que acabei de dizer. Calam-me em breve, com o voto favorável dos do ” fascismo nunca mais”. Eles mandam já na Catarina Martins e nos sindicatos.

    Diogo Cabrita é médico


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.