Etiqueta: Diogo Cabrita

  • Visão política ao correr da pena

    Visão política ao correr da pena


    Há muitas soluções para governar uma casa! Reduzir despesa ou aumentar eficiência nos rendimentos, trabalhar mais horas, rentabilizar o espaço onde se vive. Há uma criatividade, sobretudo na pobreza, que constrói soluções para a necessidade. Encontramos isso em África e na América do Sul, onde a segurança social quase não ajuda. Não vemos tanto os vendedores de rua e as multiplicidades mercantilistas na Europa e na América, onde o Estado Social reduz a rua como sustento.

    Portugal é um país a meio de tudo. Tem Estado Social pobre. Tem gente muito pobre sem qualquer ambição, que se aguenta com os pagamentos-esmola a que damos nome de apoios sociais. E temos um desconhecido César Boaventura que tem património de mil milhões que lhe choveu nas contas. Não sabe como nem de onde. Já tínhamos muitos no passado, do BES e do BPN. Ninguém sabia como ficava rico.

    Entretanto, dizer mal do Chega é o desporto demagógico do momento. O César Boaventura vale fundos de página apesar de representar tudo o que é incompreensível a quem trabalha. O Chega tem dezenas de comentadores constantes.

    Se o próximo Governo reabrir as centrais a carvão do Pego e de Sines, recupera 6 mil milhões que pagamos a Espanha por energia a carvão… Estranha decisão do Governo da geringonça.

    Se esse Governo reduzir a torrente de turismo que nos dilacera os preços das rendas e a habitação, não necessita aeroporto nenhum e trabalha para um sustentabilidade ecológica realmente contabilizável, e poupa oito mil milhões em obras públicas. Turismo é rendimento fácil e não garantido. Turismo é bom, mas está associado a paquetes e aviões altamente poluentes. Reduzir rendas e ter casas para os portugueses é bom.

    Se o próximo Governo reduzir impostos e trouxer as empresas que preferem pagar na Holanda o IRC, recupera perto de 25 mil milhões de euros. O IRC elevado tem sido uma hemorragia de capitais.
    Se o governo incentivar uma fiscalização à fuga fiscal recupera 20 mil milhões…

    Dinheiro desbaratado pelo PS não falta!!

    Se introduzir as parcerias público-privadas (PPP) na Saúde, apenas de onde as retirou, já melhora o desastre actual do Serviço Nacional de Saúde (SNS).

    O regime populista e demagógico instalado decidiu que as frases feitas contra o Chega eram a música da vitória, mas a realidade é que ele parece estar a crescer. Cresce porque descobertas idiotas como Sebastião Bugalho, estranhos regressos como o de Relvas, ocupam espaço televisivo a denegrir com cegueira. Ventura apresentou medidas para Portugal que são como todas as outras, promessas! Não são vazias nem mentiras. Prometeu reverter a história do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF). Não duvido que o fará. Prometeu fiscalização dos que recebem benficios sociais. Não vejo mal nisso. Nunca disse que os terminava. Prometeu reduzir impostos e aumentar pensões. Fez o que fizeram todos os outros, só que a promessa do Partido Socialista (PS) não tem respaldo pelo acréscimo brutal de impostos nos últimos oito anos, pela redução brutal do poder de compra, mesmo que com aumentos de salários, e numa falsidade que é a chuva de  contribuições de milhares de salários baixos que chegam de emigração em trânsito. Mas estão em trânsito até à consolidação burocrática. Parece que entraram 700 mil nos últimos cinco anos. Não estão cá!

    Mas os Bugalhos não falam disto. Os comentários ao discurso de André Ventura no encerramento do congresso são uma das mais encenadas farsas da política portuguesa. Uma série de apoucadores da realidade dos factos. Ventura diz o mesmo que o bloco sobre o enriquecimento ilícito. Ventura diz o mesmo do Partido Social Democrata (PSD) sobre redução de impostos. E dizia mais barbaridades no passado que agora, já percebeu que não trazem vantagem competitiva. A realidade desgovernada chega para os portugueses estarem cansados e perdidos.

    Nunca se fala da criminal destruição da democracia que foi ter um CDS com cem mil votos e sem representação parlamentar. Deu assim maioria ao PS. O regime eleitoral mantido pelo PS e PSD serviu agora para cidades como Coimbra, Viana do Castelo, Castelo Branco, Beja, Covilhã… só puderem escolher entre três partidos que elegem. O Chega é um deles. Quem criou esta importância para o Chega? Eles! Os dois burros que nos governam desde 1975. Os outros votos serão lixo. A 10 de Março há um momento complexo que pode redundar em instabilidade ou em uma definição clara do caminho. Os portugueses vão escolher independentemente dos bugalhos. Mas forçados por uma ausência da reforma eleitoral que já devia ter acontecido e que agora mata as opções mais pequenas.

    Os corpos de polícia estão revoltados com as medidas sem transversalidade e sem coerência que surgiram para a PJ. Não esquecem que polícia morto a cumprir o seu dever vale muito menos que outras indemnizações sem coerência com a jurisprudência do país.

    Polícia atropelado tem menos moldura penal que atropelo de gato. Jovem de 16 anos pode escolher sexo e não pode conduzir camião ou votar… A estupidez e a ilógica têm consequências!!!
    Governar uma casa tem de ter critérios lógicos, coerentes, pratos iguais para todos, regras semelhantes.

    Diogo Cabrita é médico


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.

  • Vacina Sputnik, meu estupor (ou meu amor?)

    Vacina Sputnik, meu estupor (ou meu amor?)


    Em Dezembro de 2022, o médico germânico Mersad Alimoradi defendeu a sua opinião sobre vantagens da vacinação contra a covid 19 e descreveu um extenso estudo comparativo entre as diferentes vacinas. Estudou a literatura sobre as diferentes apostas, mRNA, vírus atenuado, e vírus inactivado. Para ele, era tudo igual!

    Nesta sequência, temos a Pfizer, a Sputnik da Rússia e a Sinopharm dos Chineses. Houve dezenas de artigos do mundo científico que durante a covid-19 expressaram as vantagens da primeira e as inúmeras desvantagens das segundas, apesar de serem fáceis de distribuir, não terem constrangimentos de produção, serem seguras em termos de riscos para efeitos secundários.  Houve revistas científicas a colocar dados que eram refutados rapidamente por cientistas opinativos na gestão da estratégia pandémica.

    A vacina Sputnik ficou em Portugal associada a uma má imagem, que obviamente foi introduzida com fins comerciais e de escolha em prol das vacinas da Pfizer, da Moderna e da Astra Zeneca. O tempo veio provar o contrário, e sobretudo veio demonstrar que a Sputnik V era mesmo melhor que a da Pfizer.  

    Ficam célebres os esclarecimentos do Governo português para a compra de vacinas, sempre baseados na recomendação de peritos. Infelizmente, os especialistas recebiam dinheiro de algumas farmacêuticas. No Brasil, onde a confusão de política com saúde foi ainda maior, os especialistas derramaram litros de imprensa e televisão contra Bolsonaro por ter comprado 60% de vacinas da Sputnik, levando à recusa em as tomar de muitos brasileiros. Realidade construída por jornalismo medíocre.

    Bolsonaro seria mesmo vilipendiado pelo diretor da Pfizer. Houve também Trump a debitar ataques à vacina atenuada da Sputnik porque era Russa. Revistas importantes fizeram claras verificações de qualidade e de paridade em eficácia das propostas para vacinar, mas não se coibiram de lhe aplicar um ‘achismo’ de autor que empurrava para uma escolha.

    Um artigo da Nature de Novembro de 2021, apesar de colocar a Pfizer no topo da eficácia, admitia que afinal, “nenhuma vacina foi associada de forma estatisticamente significativa a uma diminuição do risco em comparação com outras vacinas”. A realidade, vista à posteriori, encarregou-se, aliás, de demonstrar que os países vacinados por Pfizer e outras mRNA não obtiveram sucessos fantásticos no resultado final da pandemia em relação aos países que escolheram e distribuíram Sputnik e Sinopharm.

    Comparar os quadros permite perceber, ao fim destes anos, que os resultados, quando não martelados por políticos dão surpresas substanciais e não podem ser usados para concluir enormidades. Muitas ditaduras tiveram melhores resultados que democracias, e isso não permite pensar que a ditadura é uma vacina para as pandemias.

    Vale a pena começar a rever o que a instrumentalização da informação fez com que pessoas que temos por inteligentes se tenham entregado a discursos basistas, a análises de uma superficialidade anedótica e ignorante e agora sejam incapazes de rever o que então escreveram. Carecemos de perceber os resultados finais de uma crise.

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    Nenhum dos grandes críticos da Suécia ainda bateu com a mão no peito e percebeu como a sua estratégia foi a melhor. A Suécia é um país de terceira idade e por isso é comparável connosco e o Japão. Ainda ninguém se interrogou sobre o país envelhecido que é o Japão ter tido excelentes resultados. Aquilo que importa é expurgar da saúde os discursos ideológicos, as convenções de bom senso porque a doença é como o dinheiro: fria, sem pena, sem magia, com e sem lógica, com sorte ou azar. A doença não respeita protocolos, não serve lógicas políticas e sobretudo é de um egoísmo brutal! 

    Diogo Cabrita é médico


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.

  • Reflexões sobre (más) reformas

    Reflexões sobre (más) reformas


    As Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR) terão em Março de 2024 concluída a sua reforma, no decurso de um diploma legal de Maio do ano passado. Mas de que estamos a falar?

    Estamos a falar de cinco CCDR com cinco Presidentes e quatro vice-presidentes, e estes terão estatuto de gestores públicos, com salários melhores e com indemnização se forem demitidos. As CCDR viram institutos públicos, com gestão financeira autónoma, gerindo uma diversidade enorme de assuntos, e integrando institutos e direcções-gerais nas áreas de ambiente, território, agricultura e saúde. É uma reforma ao estilo do desaparecimento do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) para o integrar nas outras polícias.

    brown bridge with light

    A realidade permite antever conflitos de funções e enormes atritos administrativos. As Câmaras também têm funções nestes domínios e vão encontrar presidentes de CCDRs a ingerir nas decisões deles, referentes a PDM, florestas, utilização pública, etc.

    O caminho é o mesmo para as Unidades Locais de Saúde (ULS). A construção de monstros ingovernáveis como a ULS de Coimbra, com mais de quinze mil funcionários, terá consequências nas baixas de qualidade, na conflitualidade interinstitucional, na sensação subjectiva de submissão de todos aqueles que são abarbatados pelo Hospital Universitário de Coimbra, que deste modo utiliza as outras ‘casas’ e lhes mata a história e a organização.

    A ULS de Coimbra é um tiro no porta-aviões e teremos de penar uma década para repor o Serviço Nacional de Saúde (SNS) em níveis de atendimento e de qualidade semelhantes ao que existia em 1998. A realidade é hoje uma estrada de ambulâncias em serviços de táxi para gaudio de milhares de abusadores e de utilizadores sem escrúpulos.

    Um negócio que a par dos cuidados continuados veio parasitar os custos da saúde. Hoje, gastam-se muitos milhões de euros numa ideologia contra a família e a importância dela no cuidar e no restabelecer. A aposta tem de ser no domicílio, no respaldo familiar protegido e acarinhado.

    Estamos a construir um futuro que altera funcionalidades ancestrais que estavam a funcionar, que ninguém avaliou para remodelar e se decidiu implodir em prol de uma reformulação sem reflexão. Há exemplos destes disparates no passado que serviriam de exemplo para o que aí vem.

    A reestruturação da EDP não trouxe qualquer vantagem para os portugueses que agora pagam mais e têm mais dificuldade em lidar com a central telefónica dos call centers. A TDT foi muito pior para os lugares recônditos do interior obrigando o povo a ter de se sujeitar a preços elevados se quiser ter informação. 

    Outro exemplo glorioso das reformas malsucedidas foi a criação do tribunal administrativo, e de uma maneira de litigar que demora décadas, fazendo Portugal perder milhões e milhões de euros em infindáveis litigâncias com empresas.

    black transmission towers under green sky

    Que mudança faria sentido? Obviamente que toda aquela que brota de uma realidade incontestável. Imaginemos a reforma da administração do território com base na redefinição dos municípios. Claro que faz sentido acabar com um município de um território desertificado, com menos de seis mil votantes. Claro que faz sentido subdividir por cada zona de cem mil indivíduos uma capacidade organizativa a que podemos denominar município.

    Assim, Lisboa teria vários municípios, mas desapareciam milhares por esse país, construindo capacidades representativas mais eloquentes. Deste modo a gestão do espaço por pessoas eleitas retirava significado a estas divagações de siglas, copiadas de outros países, que nos empobrecem cada vez mais.    

    Diogo Cabrita é médico


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.

  • Cinco propostas (eleitorais) para os partidos

    Cinco propostas (eleitorais) para os partidos


    Com as eleições legislativas anunciadas para Março do próximo ano, as propostas não devem sair apenas dos partidos, mas também dos cidadãos. Aqui seguem as minhas cinco propostas que insisto em apresentar:

    1 – Mudança da Lei Eleitoral

    A sensação de partilha obriga a construir soluções sem desperdício. Cada voto dos portugueses deve servir nas contas eleitorais. É inadmissível que certos votos sejam atirados para o caixote do lixo ou para estratégias de custo da oportunidade. “Não voto em quem gosto para escolher um que desacredito menos.” Esta realidade acontece nos círculos que elegem poucos deputados no sistema eleitoral vigente, como em Portalegre, Beja, Évora, Guarda, Bragança ou Vila Real. Foi assim que cem mil portugueses escolheram o CDS e ele não elegeu ninguém. Foi desse modo que o PS se afirmou absoluto. A criação de um círculo nacional para onde transitam os votos que não conseguem eleger ninguém nos pequenos círculos é essencial.

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    2- Um automóvel português

    Temos uma indústria monumental de serviços e de peças na grande complexidade da construção automóvel. Somos dependentes das decisões estrangeiras e dos encerramentos prováveis na chantagem da subsidiação. O projecto de construir um carro moderno, eléctrico, com versatilidade, com multiplicidade de formas, com adaptação a militar é uma oportunidade perdida para fixar este conhecimento e experiência. Um carro que em cidade se encosta a outros carros iguais e se move para este, oeste, norte e sul a partir de parado. O “Luso Múltipla” tem de sair de uma ideia e ajudar Portugal.

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    3 – Remodelar a política de saúde.

    São inúmeras coisas a fazer. Corrigir o paradigma contra os consultórios, incentivando o método da escolha do doente ir à frente do pagamento. O doente vai a quem quer, perto de casa, e esse escolhido referencia, estuda, pede exames ou trata. Deixa de ser necessário haver tantas urgências abertas.  O pequeno é a solução para os próximos três anos enquanto se redefinem estratégias. Reduzir o número de Centros de Responsabilidade Integrados (CRI). Pagar melhor os gestos que integram no sistema, como as consultas, e reduzir a avalanche de horas extraordinárias. Aplicar Inteligência Artificial na imagiologia. Reverter os dois percursos ideológicos: concentração (os centros hospitalares e as unidades de saúde e cuidados continuados) e desperdício (não carecemos de três serviços de transplante, não carecemos de protocolos ineficientes e que só servem para defesa do sistema, etc). Apostar na saúde oral. Apostar na prevenção das doenças.

    doctor holding red stethoscope

    4 – Reorganizar o futebol e outras modalidades

    Incentivar o desporto escolar e o desporto em geral. Acabar com as claques dos clubes que afastam os cidadãos dos estádios. Negociar com Espanha que o primeiro classificado dos nossos campeonatos de modalidades, competia no ano seguinte, no campeonato do país vizinho. Dava-se dimensão competitiva aos clubes de forma rotativa. Incentivar um jornal equilibrado de notícias sobre o desporto, e não apenas futebol.  

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    5 – Construir a rede nacional de edifícios devolutos há mais de 15 anos

    Para acabar com o flagelo da falta de casas e do seu preço excessivo, o Estado garantirá que os donos das propriedades em abandono cheguem a acordo, ou então expropria com fins beneméritos. Uma entidade pública garante a construção, reconstrução, remodelação de antigos mosteiros, castelos, quarteis, prédios e coloca pessoas a utilizar sob contrato de responsabilidade e colaboração na manutenção. A recolocação de pessoas no interior seria privilegiada em parceria com os industriais dessas regiões. Mover pessoas obriga a dar-lhes funções ou trabalho.

    Diogo Cabrita é médico


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.

  • Quatro exemplos de luta

    Quatro exemplos de luta


    Recentemente, numa reunião do Ministério da Justiça, ouvi o professor de Psiquiatria Miguel Xavier, coordenador nacional das políticas da Saúde Mental, a zurzir as decisões e procrastinação de Marta Temido a propósito da ineficiência e desleixo neste sector. Foi dito o que Maomé não contava dos toucinhos. “Demitam-me se estou errado”, assim protestava a gestão técnica sobre a governação. Um homem com obra conhecida na matéria, insurgiu-se diante do público de modo categórico.

    Entretanto, ouvi na televisão esta semana, António Levy Gomes, diretor de Neuropediatria do Hospital de Santa Maria – que denunciou o caso das gémeas luso-brasileiras –, a distribuir pancada em Marcelo, no filho dele e em António Costa. Para Levy Gomes, esta ‘santíssima trindade’ era toda corrida por utilização indevida, por usurpação de funções demonstrada por e neste caso.

    Acresce a isto ter-me chegado numa publicação o depoimento de Carlos Matias Ramos, ex-presidente do LNEC e antigo bastonário da Ordem dos Engenheiros, que considera que os valores apresentados pelo presidente da ANA, José Luís Arnaut, para a construção do aeroporto em Alcochete, não são verdadeiros. Homem da sociedade civil, como os descritos anteriormente, ele demonstra desde há vários anos como Alcochete é a melhor solução.

    Recordo ainda de memória os depoimentos de instituições da sociedade civil sobre criações aberrantes do Estado onde ficava patente a deriva na gestão dos problemas e as oportunidades perdidas de fazer melhor. O bastonário da Ordem dos Médicos Dentistas chamava a Entidade Reguladora da Saúde a entidade de cobranças coercivas.

    Por sua vez, Santana Castilho tem escrito no Público dezenas de críticas pertinentes às políticas de Educação e demonstrado como o harmónio de decisões transporta uma ineficiência e uma incapacidade de gerir o problema.

    Enfim, há um incontável número de artigos de opinião espalhados pelos jornais que revelam a frustração dos que trabalham, e por esse método guindam a cargos de direcção, com o poder ao centro.

    As reformas estão por fazer e os protagonistas têm sido o PS e o PSD, que se intercalam na governação desde o 25 de Abril. Produzimos necessidades que nos distraem, discursos que nos retiram do essencial e que projectam obras ineficientes, mas o primordial está sempre a patinar. A verba de correcção das ineficiências nunca chega ao poder próximo e, desse modo, os que podiam fazer porque sabem, os que podiam decidir porque estão na essência do conhecimento, nunca encontram afinal respaldo na política para a execução.

    A sociedade civil não está morta, como o demonstram estes quatro seres superiores, mas está revoltada e cansada.   

    Diogo Cabrita é médico


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.

  • TVDE: Todo o veneno desta estupidez

    TVDE: Todo o veneno desta estupidez


    O problema dos demagogos e dos “levezinhos” está num ditado popular: gato escondido com rabo de fora. Em Março, levamos às urnas a avaliação de oito anos de Partido Socialista (PS). Não está em causa o Estado democrático garantido pelas suas instituições. O Estado não é o governo de António Costa ou de Passos Coelho. O Estado é muito mais e sobrevive a todos estes actores.

    Portugal leva a votos a avaliação de oito anos de medidas realizadas pelo PS, e o exemplo dos TVDE é importante. Faz uns dias que foram fiscalizados 1.500 veículos pela GNR e PSP e encontraram-se todos os crimes expectáveis numa actividade dominada pelos erros múltiplos das políticas socialistas.

    Políticas erradas de vistos de imigração. Gente sem contratos, plataformas sem leis, gestores a roubar, carros sem fiscalização. Migrantes arrebanhados sem critério para funções para as quais são inadequados. Patrões inapresentáveis, como os de Odemira, presenças de máfias de maltratar. Todos os cogumelos brotam das decisões húmidas e pouco reflectidas, e sempre sem respaldo transversal numa maioria ao centro.

    Tudo isto seria impossível de imputar ao Governo se, em 2018, o PS não tivesse mudado a lei de 2014 de Passos Coelho, e depois se esquecesse de a corrigir e regulamentar.

    Um Governo que não ouve ninguém, como o conjunto de reflexões da Autoridade da Mobilidade e dos Transportes (AMT), que é o regulador económico independente do Ecossistema da Mobilidade e dos Transportes – um relato exaustivo e ponderado do que se passava com a nova lei à PS.

    Depois, decidiu que a DECO também não teria razão. As declarações que aconselhavam mudanças na lei e no regime jurídico aplicável ao transporte individual de passageiros em veículos descaracterizados a partir de plataforma electrónica, bem como destas plataformas, foram para a gaveta da História.

    Ou seja, todos os que observavam e recomendavam, ou reflectiam, sobre as decisões e alterações eram contra-revolucionários, negacionistas, vindos da direita.

    António Costa

    A rusga das autoridades demonstra o que se passa em Portugal com os TVDE desde que António Costa governa. É uma recorrência nas políticas de reciclagem, nas opções da energia, nas telecomunicações, no triste SIRESP, na inominável Televisão Digital Terrestre de invenção socialista.

    Este é o pacote do PS de onde me afastei. Não é um partido conciliador, um grupo de encontro de consensos e de boas práticas, mas sim um instrumento ideológico da globalização feroz.

    Pedro Nuno Santos é ainda mais evidente como arauto desta fantasia que destruiu as Parcerias Público Privadas e assim conseguiu “fechamentos” em Loures, Vila Franca e Braga, sem arrependimento. É músico no funeral de 4 mil milhões na TAP. É o “cantautor” da balada da EFACEC. É adjunto dos 6 mil milhões derramados na energia por fechar o Pego e Sines. É um defensor acérrimo das políticas contra as forças de segurança e a favor das indemnizações milionárias de um cidadão violento no aeroporto, e de um tipo que levava o filho na carrinha dos crimes.

    O problema não está em condenar a violência e indemnizar as vítimas: está em que as mulheres de polícias mortos às mãos de assassinos, em nossa defesa, nunca viram tanto dinheiro nas suas vidas. Dois pesos e duas medidas.

    Pedro Nuno Santos

    Foi a mesma Lucília Gago que deu origem a estas indemnizações fora da caixa, que pôs agora em causa o primeiro-ministro e o Governo. Agora é uma “bruxa má” que atacou o PS. Estes demagogos perigosos devem ir para casa e aprender o que custa pagar o rendimento sobre o trabalho, o IUC, o IMI, o IRC, etc.

    No caso da operação ‘TVDE Seguro’, entre segunda e sexta-feira passadas, as autoridades fiscalizaram quase 1.500 condutores de TVDE, tendo sido detectadas, entre as diversas irregularidades, a inexistência de contratos laborais escritos, desrespeito pelos períodos de descanso e falta de licença. No total, foram registados, pela PSP e pela GNR, 569 autos de contraordenação.

    Diogo Cabrita é médico


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  • Não sei que diga

    Não sei que diga


    Não sei que vos diga.

    Devíamos estar de queixo caído. Boquiabertos. Os portugueses acabam de ver o Estado Democrático rebentar com um primeiro-ministro eleito por maioria. Outra versão é que um primeiro-ministro destruiu a credibilidade de uma maioria.

    Eleito por força de uma estúpida votação, que tem por base uma estúpida Lei Eleitoral, que destrói centenas de milhares de votos, assim se chegou à maioria vigente. A ausência de círculos nacionais para repescar os que votam nos círculos menores, onde os partidos pequenos se tornam irrelevantes, é uma exigência democrática.

    Pudemos ver como o entorno de um homem lhe pode ser prejudicial. A insistência na provocação (exemplo do uso de Galamba como confronto à Presidência), a pesporrência de não conversar com as oposições, não criar uma larga maioria para as reformas do país – tudo veio adensar o confronto.

    Por graça, recordo o que esta gente falou de Isaltino e seus almoços. A falta de vergonha própria demonstra que Isaltino, ao lado deles, é um amador. Afinal, vinho “galambada” é mais caro que Pêra Manca. Se espelho matasse….

    É o tempo de pensar no engenheiro Simões, que passeava envelopes de 100 mil euros aqui por Coimbra. Ele, afinal, é amigo do secretário dos 75 mil. Estes são os que criticaram Berardo, os que berravam contra o esquecimento e a falta de dados de Espírito Santo.

    Não sei que diga.

    O formigueiro carrega e trabalha enquanto estas cigarras desbaratam. Não sei se as pessoas percebem que são sempre os que têm discursos impolutos que nos enterram as mãos nos bolsos. São os mesmos das certezas sobre a estratégia covid. Espantam-me os ideólogos das estratégias sustentáveis. São sempre os dos grandes discursos e alterações “modernas, importantes e amigas do ambiente” que nos agarram a carteira.

    Condeno de modo veemente o Ministério Público de amadores, de processos dúbios e morosos e pouco fundamentados. Condeno os homolarapiens que nos arrombam a credibilidade democrática. Mas condeno, sobretudo, a construção de uma classe política que não se forja no trabalho, no desenvolvimento fora dos corredores palacianos. A exposição à vida comum tem de ser necessária para a ascensão política.

    Percebo que o mundo vai neste caminho de formigagem  – o povo que vota condicionado pelos gestores da informação. Os filtros que nos roubam janelas da realidade. Amanhã podemos ter ainda o PS a governar o carreiro que cumpre as directivas sem questionar. A dúvida não mora por estes lados.

    timelapse photo of people passing the street

    O que se nos oferece pode ser mentira, e temos de duvidar do hidrogénio. Temos de ter cautela com a mobilidade eléctrica. Temos de perceber se nos estão a enganar, e para isso há um tempo de reflexão que pode ser agora. As certezas da sustentabilidade foram conduzindo os portugueses para o 1% de ricos.

    Uma distribuição da riqueza inaceitável: com destruição consistente e persistente da loja, do pequeno comércio, da cabeleireira, do consultório, do escritório, arrasando a classe média empresarial. A concentração é uma política que emana dos regulamentos, das regras, das exigências impossíveis para os mais pequenos. Em Março votamos de novo.

    Diogo Cabrita é médico


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.

  • O desperdício e o exagero

    O desperdício e o exagero


    As instituições públicas são hoje vítimas da cultura desresponsabilizada. O “quero lá saber”; o “não me importa”; o “isto é tudo nosso”, permitiu um regabofe que desautoriza as coordenações e a gestão.

    Retomo a manhã num hospital onde passaram a noite dezenas de computadores ligados, onde os ares condicionados estiveram a bombar para salas desertas, onde o calor desmedido vai para a rua pelas janelas abertas, onde as luzes acesas não importam a ninguém.

    Person Holding Syringe

    De manhã, chegarão os cumpridores de protocolos, os carneiros e as ovelhas que fazem o que lhes dizem – cumprem, portanto!

    São os mesmos que deixaram as luzes acesas, os computadores ligados, as torneiras a pingar, e não registam. São os mesmos que não levantam os pratos, não arrumam os tabuleiros e não se questionam. Porque coloco uma tolha de papel nos tabuleiros da cantina ou do restaurante? Porque preciso de telemóvel de manhã? Para que serve este ruído que coloco nos ouvidos ao despertar? Porque tomo banhos tão demorados? Porque deixo a torneira aberta enquanto esfrego os dentes? Porque?

    São os mesmos do discurso sustentável e amigos dos animais.

    Nunca se questionam do valor da pegada ecológica dos seus pets. Nunca se interrogam da enormidade de coisas desnecessárias que fazem. Antes de ver doentes, já pediram análises e exames complementares. Antes de palpar, auscultar, sentir, já têm opinião. Abrir coisas sem ter certeza de as utilizar. O desperdício e a cultura de não reutilizar instalaram-se como normas e protocolos indiscutíveis.

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    Não há perguntas, e quando se levantam, são como ofensas. Claro que os volumes de entradas e saídas levam a rotinas, e estas facilitam os gestos repetidos. O discurso da identidade, da individualidade, morre nesta prática repetitiva.

    Há uma cultura defensiva que sobre passa a sustentabilidade. Melhor fazer tudo do que ser acusado de alguma coisa. Assim, desresponsabilizar é diluir decisões, é aumentar desperdício, é fazer exames de modo incontrolado. Hoje, a cidadania vive dos medos televisivos.

    Os problemas hiperbolizados nas reportagens insanas, onde os miseráveis explanam suas dores, onde os protestos geram audiências que não cuidam de saber, não cuidam de perguntar, mas atiram ódios e likes para matar.

    person in gray long sleeve shirt holding black tablet computer

    É o tempo das perguntas-aforismo: “Pode ser grave”; “pode haver alguma coisa”; “como pode garantir isso?” O pânico gera sempre processos irracionais e o medo pode ser construído, induzido, incutido. Afinal o medo é um negócio também. Temos de perceber e interiorizar que a vida é sem garantia. A vida decorre sem certezas.

    Já os sinais existem para se lhes dar atenção. Se fizermos milhares de exames sem sinais de perigo, estamos a gerar desperdício. A cultura dos rastreios é cada vez mais discutível! Os rastreios geram muito poucos diagnósticos para o volume que se gasta. Há toda uma indústria do rastreio que gera negócios avultados. Uma observação cuidada das pessoas tem muito maior eficiência.

    A realidade de hoje são milhões de toneladas de lixo e desperdício construídas para obrigação de normas e milhões de inutilidades para satisfazer a desresponsabilização. Os supermercados dão aulas de desperdício quando vendem maçãs embaladas duplamente. Mas eles cumprem normas europeias, desenhadas por meninos que legislam em diarreia sobre coisas de que não tiveram qualquer experiência. Os hospitais são supermercados com tripla embalagem para a maçã.

    O desperdício e o exagero são pois a doença nova das sociedades que vivem sob o mando dos legisladores. A melhor regra que conheço é o Código de Estrada, mas a realidade das megacidades asiáticas e africanas comprova que no caos também se desenrascam. Prefiro viver com regras, prefiro uma sociedade com educação.

    E o que é a educação? É a percepção da importância dos outros nas nossas vidas. Porque os outros existem, não devo ter o telefone aos gritos. Porque respeito os outros, devo deixar entrar na fila um a um. Porque somos pessoas, não devo pedir exames desnecessários. Porque somos gente, devemos falar mais que teclar nas redes.

    Diogo Cabrita é médico


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.

  • Uma história de ausências em oito anos

    Uma história de ausências em oito anos


    A forma como se gerem os lixos urbanos envolve as autarquias, mais do que o Governo, mas obrigaria a uma acção ministerial e da Agência Portuguesa do Ambiente. Há já oito anos que saiu Passos Coelho e o pagamento por tonelagem em aterro continua a ser o padrão-moeda para o lixo.

    Não houve aposta na reciclagem, na redução de consumos, na educação para uma política de recolha mais elaborada. As autarquias ganham muito mais em levar para aterro do que em reciclar. A ideologia diz que o lixo não pode estar com os privados, não pode ser gerido por empresas que revolucionariam este assunto. A realidade mostra, porém, que o Continente e o Pingo Doce, por exemplo, têm feito mais do que o Governo para reduzir desperdícios.

    Close-Up Photo of Plastic Bottle

    O Governo elabora discursos pouco razoáveis, ideologia anti-pasta de papel e anti-plástico, mas esquecendo as consequências de medidas específicas ou a indicação para melhores práticas. O plástico permitiu embalar líquidos que hoje estão nas mãos dos clientes, e que, de outro modo, seria impossível lhes chegarem. O uso de tetra brick (com plástico, papel e folha de alumínio) substitui algumas embalagens de plástico, mas não permite tudo.

    O sangue ainda não pode ir no pacote, mas vai no saco plástico. Os sabões líquidos, os shampoos, os detergentes circulam em plásticos e não se podem trocar por papel. Por sua vez, o papel carece de madeiras como eucalipto, ou cânhamo, e se não tivermos madeiras apropriadas não temos papel sem o importar de lugares com mais produção e menos ideologia.

    A globalização da poluição é ser aqui extremamente sustentável, mas pagar a outros para não o serem. Já dei o exemplo das centrais do Pego e de Sines, que nos custaram, em eletricidade, seis mil milhões em 2022, com a “vantagem sustentável” de importar a mesma energia de carvão, mas agora das centrais espanholas na nossa fronteira. Os demagogos ditos de esquerda não param de nos surpreender e delapidar os impostos.

    Assorted Color Plastic Trash Bins

    Outra ausência é o tema do aeroporto de Lisboa. Um dia assisti a uma conferência onde surgiam as imagens satélite das pistas de Portugal. Parecia que a forma não oval da Portela condicionava muito as aterragens e descolagens. Faro parecia ser o melhor dos aeroportos deste ponto de vista. As variáveis envolvidas estavam nas gares, nos horários desfasados, na circulação dos aviões em pista. Um manancial de soluções podia remediar com rapidez os constrangimentos de Lisboa.

    Por outro lado, a decisão de um novo aeroporto de Lisboa é uma história peculiar, pois há inúmeros aeroportos e aeródromos em Portugal, sendo alguns de sucesso e outros não. O parque aeronáutico de Évora da Embraer parece um êxito. Beja parece um fantasma. Vistos do ar, Figueira dos Cavaleiros LPFC, Leiria LPJF, Amendoeira LPMN, e muitos outros, podem ser equacionados pelas zonas de pouca densidade populacional que os envolvem. Como o Montijo, são pré-existências que não se pode dizer que condicionam a biodiversidade.

    Mas, enfim, toda esta inércia deve ser culpa de Passos Coelho, do Governo PSD que já caiu em 2015…

    Diogo Cabrita é médico


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.

  • Saúde: uma autópsia – parte III

    Saúde: uma autópsia – parte III


    A grande realidade: a saúde converteu-se num sistema ao estilo da McDonald’s. Todos os actos e procedimentos e diagnósticos são codificados numa classificação estatística internacional, o ICD-10. Todos os serviços são auditados, ou querem ser, por normas internacionais ISO, por vezes por certificadores internacionais.

    Todos os profissionais são formatados e formados em escolas, com cursos – menos os que entram por cunha (que na McDonald’s não acontece de modo tão partidário). 

    medical professionals working

    Temos um sistema repetitivo, verificado, com inúmeros protocolos e consentimentos, regras muito específicas, e sobretudo cada dia mais mecanicista. Os programas pretendem mais vendas, menores custos, mais eficiência, menos consumo, mas simultaneamente mais segurança para o prestador, e em tese mais segurança para o consumidor. 

    De facto, a pressa é inimiga da qualidade, embora quanto mais se faz e se repete menos nos enganamos, menos erros existem. A saúde McDonald’s é uma ideia que eu próprio alimentei durante décadas. No fundo, mais gente pode ser tratada. Conseguir por preços menores, objectivos mais vistosos, é um sonho de qualquer empresário.

    Os problemas surgem, porém, nas altas mais precoces, nos internamentos que estão sob a pressão de novas chegadas, de ritmos de produtividade aumentados, com menos camas, com menor relação profissional/ doente. As rotinas tornam-se cegas e, portanto, fazem-se inúmeros exames em excesso, criam-se mecanismos protocolados que são cegos à individualidade, desenham-se normas protectoras da decisão, mesmo que incluam inocuidades, desperdícios, crimes ao ambiente.

    doctor holding red stethoscope

    A saúde está carregada de parvoíces – como a esterilização do ânus ou da boca (obviamente impossíveis porque a sua existência é imunda e assim deve ser) –, os pensos estéreis em feridas conspurcadas, a utilização de material esterilizado para fazer um toque rectal. Há toneladas de desperdício nas compras de material com datas de utilização curtas. O lixo gerado por um acto médico é impressionante. Em rigor, nunca se provou que houvesse mais infecções ou problemas quando a Medicina se exercia nos consultórios não escrutinados pela Entidade Reguladora da Saúde (ERS) ou pelas Administrações Regionais de Saúde (ARS) ou pela Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS).

    A Fábrica da Saúde não é um serviço nacional. A fábrica é um negócio onde milhares de pessoas entram carregadas de medos gerados por informação estúpida e viciosa (só se fala do mau e do que corre mal), e por essa razão se entregam a outra crença: querem informações (consentimentos informados) de que não percebem patavina.

    Outra crença vem das farmacêuticas e da tecnologia, que contra todo o ruído do medo, arvoram que a saúde está muito evoluída. De facto não está, e pode correr mal tudo aquilo que se faz. Uma punção, um exame simples, uma cirurgia, podem correr mal – não que maioritariamente seja assim, mas inevitavelmente, por vezes, não é como se quer.

    grayscale photo of tubes

    Uns ganham milhões nas vendas – querem que até os que têm saúde procurem a fábrica. Outros ganham produzindo números e incentivam actos que se podiam evitar. Outros procuram conforto para as frustrações na fábrica. Uns desejam o impossível, arriscam o imponderável, pedem a ultrapassagem dos limites médicos. Os trabalhadores pedem exames em excesso para se protegerem das decisões.

    Os políticos tornaram a Saúde um campo ideológico. Tudo de graça para todos é uma corrida para a bancarrota da prestação. A Saúde é como uma fábrica gerida por um deslumbrado. As carnes entram para fazer salsichas em grande número e já não importa a forma. Importa o registo, a escrita e a contabilidade, mesmo que o cuidar se perca, mesmo que a mão carinhosa invisível desapareça.

    Como se aumentam custos materiais na Saúde, reduz-se em pessoal. Não se promove o incentivo à prestação de qualidade. Não se premeia os que melhor trabalham e cuidam. Não se opta pelo melhor, mas pelo mais barato. Este paradigma McDonald’s é uma construção ideológica de uma esquerda que acredita que somos todos iguais, que podemos criar fórmulas igualitárias, repetíveis e, sobretudo, que podemos padronizar tratamentos – a tal evidência.

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    A medicina baseada na evidência é uma alegoria com custos demenciais que vai conduzir à destruição do Serviços Nacional de Saúde (SNS) por uma via sofisticada. Eu já encontrei essa outra estrutura na Arábia Saudita, quando um administrador observa e manuseia os seguros que o cliente paga e decide aquilo que o médico pode ou não fazer. A prestação é gerida pelo pagador – o seguro.

    Os médicos estão a ser desenhados neste padrão. As escolas não se importam com o ensino dos custos, com a necessidade de gestão clínica, porque agora o importante é sugar do pagador o mais possível, gerindo do menu aquilo que se aplica melhor.

    Diogo Cabrita é médico


    Recomenda-se a leitura da parte I e da parte II desta Saúde: uma autópsia


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.