Quando, a 30 de Janeiro de 2022, contra a expectativa da maioria dos portugueses, o Partido Socialista ganhou as eleições legislativas, com maioria absoluta, fiquei a aguardar a apresentação do novo Governo.
António Costa vinha de meses difíceis.
Tinham sido muitos os casos “estranhos” no seu mandato, vários os ministros debaixo de fogo, imensos os comentadores que consideravam “desajustados”, para as funções, alguns dos ministros, e havia, também, alguns destes a querer bater com a porta.
Pensaram, todos os que se preocupam com a governação, que o líder do Partido Socialista iria aproveitar aquela extraordinária votação, que os eleitores lhe tinham dado, para fazer uma limpeza radical na estrutura governativa.
Tinha motivos, e Poder, para tal.
Era a hora de retirar, dos Ministérios, todas as maçãs podres.
Que eram muitas.
Talvez fosse, até, mais correcto dizer que ele deveria retirar, daquele cesto chamado Governo, as poucas maçãs que continuavam boas e não tinham sido “tocadas” pelas que, completamente putrefactas, as rodeavam.
Quando, a 30 de Março, o Governo tomou posse, a desilusão foi total.
Percebeu-se que, de novo, se tinha optado pelo pagamento de serviços prestados ao Partido, em detrimento da qualidade.
Os Ministérios e Secretarias de Estado, com raríssimas excepções, foram entregues a carreiristas lambe-botas.
A tomada de posse foi um desfilar de gente medíocre, sem vida e sem carreira outra que não a escalada, no Partido, desde especialistas em colar cartazes a moços de recados das figuras de referência.
Na realidade, eu só estranhei a entrada de algumas personalidades, poucas, com conhecimentos e coragem para conseguir algum sucesso.
Apesar da convicção de que os seus companheiros, nesta missão, lhes iriam dificultar essa tarefa.
Quando vi uma delas, o Ministro da Economia, a ser atacado por Secretários de Estado absolutamente acéfalos, sem uma tomada de posição firme do Primeiro-Ministro, fiquei com a certeza de que este Governo iria ser o bombo da festa da Oposição.
Os inúmeros casos que se seguiram, e que mostraram, à saciedade, a total incompetência, e até insanidade mental, de alguns dos governantes, mostraram, à evidência, a fragilidade da equipa.
São muitos, são incompetentes, são burros!
Numa palavra, o Governo é mau.
Muito mau.
A Oposição tentou aproveitar para convencer o Presidente da República a dissolver o Parlamento e levar o País a eleições antecipadas.
Embora não o afirmando taxativamente.
Mesmo quando o “líder” da Oposição, repetindo as frases de um seu antecessor (Passos Coelho), garantia que “o PSD não está cheio de vontade deiraopote“, percebíamos que estas frases soavam a falso.
O problema do líder social-democrata, contudo, é igual ao do Primeiro-Ministro: está rodeado de incompetentes e imbecis.
E sabe que, a querer construir uma nova “Geringonça”, vai ter que se entender com o pessoal do “Chega”.
E aquilo não são maçãs podres.
Porque não há, ali, maçãs…
O problema é que talvez ele seja o único português que ainda não percebeu isso.
Maior prova de que a Oposição é péssima é que nem Marcelo a leva a sério, por muito que isso lhe custe!
Só que, é difícil não se perceber que o actual PSD nunca ganhará umas eleições legislativas.
A Oposição tem, portanto, um caminho difícil.
Logo à partida porque encontra, à sua frente, um monte terrivelmente íngreme e difícil de transpor ou, mesmo, de rodear.
É um monte que tem de se fazer com cautela, desconfiando de todo o terreno a pisar e, sobretudo, dos companheiros de caminhada.
Talvez não precise de ter um olho nos burros e outros nos ciganos porque, à sua volta, não há ciganos.
Mas o monte ergue-se, imenso, no caminho de todos os portugueses.
Um monte que cheira a falso, que se sabe perigoso, sem caminhos visíveis, sem mapas, sem bússola.
Um grande, imenso, tenebroso, monte negro.
Talvez esteja na hora de seguir, pela primeira vez, um conselho de Passos Coelho e… emigrarmos.
Vítor Ilharco é secretário-geral da APAR – Associação Portuguesa de Apoio ao Recluso
N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.
Há coisa de um par de anos, numa das minhas habituais deslocações entre Suécia e Portugal, julgo que no aeroporto de Frankfurt, entrei num avião que me traria a Lisboa.
Ao meu lado estava um dos arguidos do processo Casa Pia. Por esta altura já ele tinha passado por todo um calvário público. Detido para interrogatório, preso preventivamente vários meses e constituído arguido. Nunca chegou a ir a julgamento, foi ilibado e o Estado Português foi condenando a pagar-lhe uma indeminização. Contudo, o julgamento público estava feito e a sentença dada: aquele homem era um pedófilo.
Quando me sentei ao lado dele, apesar de saber todos estes detalhes que acima escrevi, interrogava-me, apenas, se de facto o teria feito.
O julgamento na praça pública fica para a vida.
Duram dias, semanas, meses.
Moldam a opinião de todos e, quando anos depois aparece a notícia de que, afinal, estava tudo errado, e o tribunal ilibou o Joaquim ou o Manel, já ninguém lê o rodapé.
A credibilidade de uma vida, para quem a tem, destrói-se em dois dias com um par de insinuações sem qualquer prova material.
Quer isto dizer que as insinuações são sempre falsas e os visados inocentes? Não. Não sei. Não faço ideia.
Quer apenas dizer que nós, inconscientemente, traçamos o veredicto na nossa cabeça e descartamos tudo o que o tribunal venha a dizer posteriormente. É humano. Não sei bem se será racional, mas, provavelmente, estará de alguma forma ligada com a nossa pouca fé no sistema de justiça português.
Boaventura de Sousa Santos é o mais recente exemplo deste tipo de casos.
Tenho pouca simpatia pelo dito, e certamente, vindo eu da área de ciências exactas, tenho alguma dificuldade em encontrar o brilho que lhe apontam no pensamento alternativo. Para Boaventura de Sousa Santos, isto do conhecimento científico ser hierarquicamente superior, é uma chatice.
Há que trazer à tona coisas que se sentem, mas não se comprovam, deixando o detalhe das evidências para outras calendas. Interpretação minha do pensamento dele. Ou senso comum, como ele diria.
Isto para dizer que me custa escrever o que virá depois, mas que me parece lógico e razoável. Ao contrário do Boaventura, eu aprecio ciências exactas e provas concretas. E acho perigoso e pouco recomendável que, à mínima insinuação, uma pessoa se transforme em culpada. Mesmo que seja.
De entre as várias acusações que lhe são dirigidas, fiquei curioso com uma em particular: uma aluna, em 2014, alegadamente terá rejeitado uma investida de Boaventura no apartamento deste. Diz ela que as portas se fecharam a partir daí e que o assédio sexual se tornou moral.
Tenho sempre a tendência, lá está, vinda do julgamento público, de achar que homens em locais de poder se aproveitam desse poder. Parece-me simples de encaixar essa ideia. Mas não consigo perceber porque vai uma aluna para casa de um professor, com 70 anos de idade, à noite, discutir um trabalho que poderia fazer na universidade e quando, ela própria, já relatava assédio sexual da parte do mesmíssimo professor. É no mínimo esquisito.
E, no fim de todo este embrulho, com todas as queixas envolvidas, e já cinco anos depois de voltar ao seu país de origem (Brasil), a aluna volta a aceitar um convite de Boaventura de Sousa Santos para se encontrarem na Bahia. Nesta altura uma mulher com 35 anos, ou perto disso.
Perdoar-me-ão, pelo menos, de me sentir confuso com esta lógica do pensamento.
Será Boaventura mais um velho licencioso, predador e abusador do poder que a universidade lhe atribuiu? Não faço ideia e aliás, agora que penso nisso, vou colocar um “alegadamente licencioso” para não ser processado como o embaixador Seixas da Costa ao referir o óbvio sobre Sérgio Conceição.
Acredito que seja um tipo a evitar, mas, mesmo para personagens destas, por mais odioso que seja o papel de advogado do diabo, não chega mandar umas bocas e ir buscar os paus para a fogueira da inquisição. É preciso mais.
Um dos professores a quem uma das alunas se queixou terá dito que “Boaventura é brilhante, mas já todos sabemos que é assim”.
Se, de facto, é esse o caso, deve ser facílimo apanhá-lo com o pé em ramo verde. Sugiro que levem para as reuniões um smartphone com o gravador ligado. É absolutamente impercetível e funciona como o Javisol: deixa tudo claro em poucos minutos.
Tiago Franco é engenheiro de desenvolvimento na EcarX (Suécia)
N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.
O PÁGINA UM, sempre em continuidade desde Dezembro de 2021, renasce hoje com um novo design, mais moderno, num estilo mais próximo de um jornal digital.
Este é um esforço que, em primeira linha, se deve à colaboração do José Maria Gonçalves Pereira e do António Almeida – que, no seu caso, nos tem acompanhado desde os primórdios.
Com este modelo do site do PÁGINA UM confirma-se a magia do projecto, e também a nossa quimera, que afinal se tem alcançado no quotidiano, ao longo dos últimos 16 meses: é possível a criação de um projecto editorial de acesso livre, que se afirma pela acutilância e irreverência, sem quaisquer reverências, e que conjuga dois (bons) géneros de pessoas: o primeiro grupo, aquelas que vêem o PÁGINA UM como um modelo de jornal absolutamente independente – que deve ser acarinhado e apoiado financeiramente através de donativos, tanto mais que o modelo de negócio (em contraponto com a mercantilização do jornalismo na imprensa mainstream) não inclui anúncios nem parcerias comerciais; e o segundo grupo, aquelas pessoas que colaboram, pro bono ou a troco de pequenas compensações, em tarefas que colocam o jornal como uma referência na imprensa portuguesa.
Não falo numa referência em termos de dimensão e de desafogo financeiro (mesmo se o desafogo financeiro na imprensa mainstream se faz, em muitos casos, à custa de passivos estratosféricos, que colocam sempre em causa a independência), mas de prática e de princípios deontológicos, mostrando aos leitores aquilo que deve ser o jornalismo.
Sabemos que, perante uma redacção minúscula, dificilmente conseguiremos uma abordagem temática similar à da imprensa mainstream, mas temos dado cartas – e mais haverá – sobre como deve (e tem de) ser o comportamento do jornalismo perante os poderes económicos e políticos. Além das investigações que temos apresentado, os processos de intimação que temos colocado no Tribunal Administrativo de Lisboa para a obtenção de informação pública, com a extraordinária coragem do nosso advogado Rui Amores, são exemplos paradigmáticos. Não que estejamos a fazer muito; os outros é que, nesta matéria, nada fazem. E deviam fazer.
Em todo o caso, o novo design do PÁGINA UM mostra sobretudo a nossa vitalidade, e é o corolário do sucesso que nos foi concedido e confiado pelos leitores que nos apoiam. É mais do que prova de sobrevivência; é uma prova de vitalidade: para fazermos esta aposta num novo design é porque estamos cientes e conscientes de que o projecto editorial, mesmo nos moldes actuais, apresenta potencial para crescer, para obter financiamentos para crescer mesmo se somente através dos donativos dos leitores. E isso consegue-se também se, em paralelo, mantivermos ou até crescermos em quantidade informativa com a qualidade de sempre.
E este novo design mostra também a vitalidade e interesse dos nossos colunistas habituais, que já ocupam as nossas páginas diariamente. Assim, os artigos de opinião e as crónicas do Tiago Franco, Clara Pinto Correia, Frederico Duarte Carvalho, Mariana Santos Martins, Vítor Ilharco e Diogo Cabrita passam a ter uma maior visibilidade logo na página principal do site.
Por outro lado, com este novo design fica mais clara a nossa aposta na Cultura, existindo a possibilidade de se produzir mais temáticas nesta secção – para além dos ensaios (que serão retomados em breve) de Carlos Jorge Figueiredo Jorge, ou da crítica de cinema e de séries televisivas do Bernardo Almeida –, para além das recensões habituais, sobretudo a cargo da Ana Luísa Pereira, Maria Carneiro e Paulo Moreiras (e também das minhas e dos outros colaboradores do PÁGINA UM).
Esta segunda fase da vida do PÁGINA UM também contará com um pequeno reforço de meios humanos. A Maria Afonso Peixoto passará, nos próximos tempos, a ter uma presença mais assídua, bem como a Elisabete Tavares, que se tem vindo a destacar, neste momento, na criação de podcasts de análise ao quotidiano. Haverá, muito em breve, novidades sobre o P1 PODCAST, que constitui um projecto paralelo do PÁGINA UM, com recursos autónomos, mas também sem publicidade nem parcerias comerciais.
Já agora, por falar na Elisabete Tavares, é da sua safra a intimista entrevista que hoje publicamos, em manchete, com a psicóloga Laura Sanches, que merece ser lida (e reflectida) para compreendermos os perigos que ainda pairam sobre a nossa democracia e vida pós-pandemia. E sobre as novas gerações.
Convém, aliás, referir que as entrevistas serão uma das nossas apostas nos próximos tempos, procurando ouvir sobretudo quem julgamos que deve ser ouvido. E que queira expor-nos os seus pontos de vista sem contemplações.
Por fim, um agradecimento especial a todos aqueles que nos têm acompanhado e sobretudo apoiado desde os primórdios desta aventura do PÁGINA UM, em Outubro de 2021, quando a semente nasceu. Se hoje estamos aqui, a fazer um jornalismo incómodo – um pleonasmo que, por esquecido, convém aqui usar –, deve-se aos nossos leitores, aqueles que nos apoiam mesmo sabendo que não precisariam de apoiar para nos lerem – mas que sabem bem que a informação, mesmo gratuita, tem um valor. E nos tempos que correm parece tão rara que deve ser cuidada e mantida.
A apresentadora Maria Botelho Moniz teve o seu nome visado por um cronista que se referiu às suas características físicas de forma depreciativa. Aproveitemos nós então para dizer coisas verdadeiramente importantes sobre o nome Botelho Moniz. Ouça também esta crónica no P1 PODCAST.
Quero agradecer ao cronista Alexandre Pais o facto de ter chamado a atenção para o aspecto físico da apresentadora Maria Botelho Moniz, pois sem ele e sem o alarido público que a crónica provocou, não teria agora uma oportunidade de dizer algumas coisas que eu sei.
Não, caro Alexandre, não vou falar de ti e das coisas que sei sobre ti – trabalhei com ele no 24 Horas e Tal&Qual e poderia contar factos, mas isso seria dar demasiada importância a assuntos que só interessam a uns poucos. Só tenho a dizer que não me surpreendeu o conteúdo da crónica. Está coerente com aquilo que há muito o Alexandre faz e tem o seu público.
Maria Botelho Moniz
Aquilo que o Alexandre não faz, vou fazer eu: vou contar-vos algumas coisas sobre o nome Botelho Moniz que, acredito, a grande maioria das pessoas não sabe e que são bem mais importantes do que andar a discutir o aspecto físico de uma das pessoas que ostenta o nome dessa família.
O bisavô de Maria Botelho Moniz, chamava-se Jorge Botelho Moniz e, tendo nascido em 1898, entrou cedo na vida política. Pode-se mesmo dizer que foi com um estrondo, pois esteve envolvido no golpe de Sidónio Pais, a 5 de Dezembro de 1917, com apenas 19 anos. No ano seguinte, foi eleito deputado pelo Partido Nacional Republicano. Será depois um dos participantes do golpe militar do 28 de Maio de 1926, juntamente com o seu irmão, Júlio Botelho Moniz.
Se a bisneta Maria tem no sangue a comunicação, então isso também se justifica pelas raízes familiares, pois o bisavô foi o fundador da Rádio Clube Português, em 1931. Segundo as informações que podemos ler sobre ele no News Museum, Jorge era amigo de Salazar e, durante a guerra civil de Espanha, por estar à frente uma rádio privada, conseguia ser mais activo na defesa da propaganda nacionalista espanhola do que a própria Emissora Nacional, que tinha de manter uma posição mais neutral.
Foi, segundo a página da Assembleia da República com a sua ficha parlamentar, um “dos entusiastas da fundação da Legião Portuguesa”. Entre outros cargos que teve ao longo da vida, destaca-se ainda o de Administrador da RTP, em 1957, quatro anos antes da sua morte, em 1961.
Jorge Botelho Moniz (1898-1971) e Júlio Botelho Moniz (1900-1970)
O nome de Jorge Botelho Moniz será ainda recordado por ter sido ele, no início dos anos 50, responsável pelo fim da chamada Lei do Banimento. Essa era a lei que, vinda ainda do tempo da monarquia, mantinha banida de Portugal a família real descendente do rei D. Miguel, derrotado na guerra civil de 1832-34 pelos liberais de D. Pedro IV.
Na sequência do fim da lei, um pequeno príncipe chamado Dom Duarte de Bragança, foi autorizado a vir viver em Portugal e ser hoje considerado como pretendente ao Trono de Portugal, apesar de ser descendente de uma linhagem banido desse direito.
Coisas que a ditadura de Salazar conseguiu criar e que a República de hoje, ao ter em Dom Duarte a única e aparente réplica monárquica, aproveita isso como se fosse um seguro de vida. E é algo que bem que podem agradecer ao bisavô de Maria Botelho Moniz.
Enquanto Jorge era uma pessoa bem integrada no regime de Salazar e um fiel seguidor das ideias do Estado Novo, o seu irmão Júlio, militar de carreira, tornou-se no ministro da Defesa, mas ficaria conhecido por ter estado na origem de uma tentativa de golpe militar. No mesmo dia em que o soviético Iuri Gagarin se tornava no primeiro homem no espaço, 12 de Abril de 1961, o tio-bisavô de Maria Botelho Moniz tentava atirar por terra o regime de Salazar. Queria promover a independência das colónias e evitar uma guerra, mas sem sucesso.
António Salazar, à direita. Foto: Horácio Novais (1910-1988).
A tentativa de golpe de Júlio Botelho Moniz levou então a uma remodelação no Governo e foi nessa altura que Adriano Moreira se tornou no ministro do Ultramar, tendo Salazar passado a assumir a pasta anteriormente detida pelo tio-bisavô de Maria Botelho Moniz. Só 13 anos mais tarde e muitos mortos depois é que Portugal encontrou a Democracia que hoje vamos tendo.
Como se vê, haveria muito mais para se dizer sobre Maria Botelho Moniz. Muito mais do que o mero comentário a respeito do seu aspecto físico que – cá entre nós, há quem goste e muito. Mas como a Imprensa portuguesa, nestes últimos 50 anos, não produziu grandes nomes, lamento apenas que fiquemos a conhecer Alexandre Pais por ter dito o que disse em vez de falar daquilo que eu sei.
Frederico Duarte Carvalho é jornalista e escritor
N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.
Como bom ateu que sou, trato as religiões todas por igual. A nenhuma reservo particular importância na minha vida e vejo-as, quase todas, como motivo de divisão e conflito entre as pessoas.
Entro numa basílica católica, numa catedral ortodoxa, numa mesquita secular ou num templo budista com o mesmo interesse: a arquitectura, os materiais, as decorações, os motivos.
Gosto de imaginar como é que se construíram monumentos, tão magníficos e imponentes, há 500 ou 600 anos. Ignoro o que representam ou como foram financiados. Concentro-me na obra e aprecio a beleza daquilo que o Homem consegue fazer.
A Páscoa nunca teve outro significado para mim que não fosse a de, enquanto criança, abrir um ovo de chocolate. Era uma desculpa para doces. Ponto final. Lembro-me de, há uns anos, na Igreja da Natividade (Belém-Palestina), ver alguns visitantes ao suposto sítio onde nascera Jesus a beijar a salva de prata que assinalava o local. Entre choro e comoção, demonstravam a sua fé. Poucas horas depois, via judeus, a alguns quilómetros dali, encostados, entre pedidos, ao Muro das Lamentações (Jerusalém).
Nada, absolutamente nada, nestes rituais cruza qualquer um dos meus caminhos ou pensamentos. Respeito a fé alheia, ainda que não me consiga rever na devoção. É como sandes de leitão: respeito quem a coma, mas não percebo por que o fazem.
Dou por mim a cruzar a Praça do Vaticano no fim-de-semana da Páscoa. Não vim para aqui por acaso, mas a altura do ano foi uma mera coincidência. Passaram nove anos desde a última visita à Cidade Eterna, se a memória não me atraiçoa.
São quase 19 horas, de um sábado, e a interminável fila para ver a esplendorosa Basílica de São Pedro tem agora os seus últimos resistentes. Tal como eles, aperto o passo e penso que vou fazer uma visita nos últimos cinco minutos de abertura diária.
Quando lá entro, perco-me a olhar para cima e admiro a imensidão da catedral. Há gente sentada. Muita gente sentada. Guardas por todo o lado e senhores com fato que distribuem velas e livros de canções. Imagino que tenha outro nome técnico, mas é aquele livro que as pessoas na missa usam para fazer o coro no refrão da música. Julgo que me percebem.
Vou ouvindo uns zunzuns e as portas fecham. Vai haver missa e eu estou lá. Pensava que, na Páscoa, só se fazia aquela missa do Domingo de manhã que passava sempre na TVI e que, por norma, nos levava a mudar de canal. Afinal não, também há qualquer coisa no Sábado.
Baixam as luzes e pedem silêncio para a entrada do Santo Padre. Francisco vai mesmo contrariar a frase “ir a Roma e não ver o papa” e, ao fim de 20 minutos, aparece no meio de vários cardeais, guardas e um périplo digno de uma entrada em cena dos Queen.
A missa corre em várias línguas, Português de Vera Cruz incluído. Estão milhares de fiéis dentro da Basílica. Imagino que fossem fiéis, talvez alguns fossem apenas pessoas que pensavam ver as cúpulas da Basílica de São Pedro antes da hora de encerramento.
O Papa mal consegue falar ou mexer-se. É ajudado para se levantar, para se deslocar, para se sentar. E até para falar. Há um clima de santidade no ar. Há um luxo imenso nas paredes, nas roupas, nos ornamentos. Tudo brilha.
Saio de lá a pensar, como em todas ocasiões semelhantes, que foi uma experiência interessante. Digo-o sem preconceitos.
Da mesma forma que gostava de entrar em Meca (o que infelizmente me é vedado), gostei de ver tantos crentes numa cerimónia com o representante de Deus na Terra. Julgo que é assim que os católicos o definem, mas certamente estarei a ofender alguém.
Fora das paredes do Vaticano, contudo, o brilho do ouro é substituído pela realidade italiana. Dezenas de sem-abrigo dormem nas arcadas, ali a poucos metros da praça onde, no dia seguinte, Francisco apelará à paz na Ucrânia e ao combate à pobreza.
Todas as noites, quando os turistas se vão embora e só os polícias ficam na Praça de São Pedro, cartões com cobertores descobrem um canto protegido. Tendas de uma pessoa são montadas. Colchões são arrastados.
A ironia de uma noite passada, ao relento, com vista para um dos mais ricos Estados do Mundo, onde se prega a fé cristã e a ajuda ao próximo.
Ali, a poucos metros do Banco do Vaticano e de tesouros oferecidos pelas cortes europeias durante séculos, uma riqueza incalculável, insuficiente para dar guarida ou uma sopa quente a quem faz das arcadas do Vaticano, a sua casa. Há lá ironia maior?
Em 2021, ao fim do primeiro ano de pandemia, cerca de 5,6 milhões de pessoas, onde se incluíam um terço de todos os emigrantes, vivia em risco de pobreza. Esse período fez com que 22% da população italiana ficasse em risco de não ter acesso a comida.
Lembremo-nos que Itália foi dos países europeus que mais sofreu com confinamentos. A população empobreceu e teve, nos últimos anos, várias crises de refugiados por causa de intervenções militares desastrosas.
Líbia e Síria são alguns dos exemplos. Desde 2022, receberam mais uma onda de refugiados da Ucrânia e, como todos os europeus, vão perdendo poder de compra, enquanto são obrigados a pagar a disputa entre russos e americanos, com o patrocínio dos idiotas úteis da União Europeia.
Nunca vi, em Itália, tantas pessoas na rua a viver em caixotes como desta vez. Maradona, outro génio meio louco, disse em tempos numa afronta à Igreja Católica que, se de facto estivessem preocupados com a fome em África, em vez de rezarem, podiam começar a raspar as paredes do Vaticano. Bem sei que soa a demagogia, mas convenhamos, era de facto mais útil.
Ursula von der Leyen foi à China de braço dado com Macron, ofender um pouco o presidente chinês e complicar ainda mais a nossa vida. Macron, com Paris a ferro e fogo, foi meter-se numa aventura para a qual não tem arcaboiço, como lhe fez entender Xi Jinping.
Von der Leyen levou o recital do costume e procurou, achava ela, explicar o que os chineses devem fazer. O resultado é uma ofensa que os afastará ainda mais, novas mortes ucranianas e mais empobrecimento europeu. Aquele que tem varrido a Europa no ano pós-pandemia e que é visível de Kiev ao exterior das ricas paredes do Vaticano.
Enquanto pensava nisto, voltava a passar nas arcadas do Vaticano, a poucas horas da missa de Domingo. Tudo limpo. Tudo impecavelmente limpo e vigiado pela polícia. Os caixotes foram dobrados, as tendas desmontadas, os sem-abrigo foram para parte incerta.
Como vos explicarão em Hollywood, importa o que a câmara capta. Tudo o que está fora do enquadramento não existe. Domingo, o Vaticano aparece em todas as televisões do Mundo. Há que brilhar. Há que rezar pelos pobrezinhos sem os ver.
Segunda-feira tudo volta ao normal. Com os caixotes, a vista do saco de cama para a Basílica, a hipocrisia da fé e o desinteresse de quem nos rege.
Deve ser por isso que nunca, fé alguma, me seduziu.
Tiago Franco é engenheiro de desenvolvimento na EcarX (Suécia)
N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.
Em Portugal, a cor da pele – ou a raça ou etnia, termos que, em si mesmo, devem ser usados sempre com a máxima prudência, porque o wokismo está ao virar da esquina para tachar epítetos – é considerada um dado nominativo e, por esse motivo, quase nunca é recolhido para efeitos de estudos sociológicos, económicos, sociais ou sanitários.
Ora, mas como grande parte de toda a informação relevante para a elaboração de diagnósticos e de avaliação de políticas económicas, sociais e de saúde pública somente fazem sentido se a componente étnica e racial constituir uma variável com informação fiável, ficamos sempre às cegas.
Por exemplo, não conseguimos em Portugal comparar, com uma base minimamente rigorosa, qual o rendimento médio da população negra em comparação com a população de origem caucasiana; não conseguimos comparar o grau de qualificação da população de etnia cigana; e não conseguimos sequer saber qual a esperança média de vida e o impacte de determinadas doenças – por exemplo, a letalidade da covid-19, hélas – nas diferentes etnias que vivem no nosso país.
Não se sabe porque, ai Jesus!, seria uma promoção do racismo recolher essa informação sensível. E assim protegida a intimidade dos negros, assim ignoramos as carências da população negra. Assim protegida a intimidade da população cigana, assim a ignoramos e a estigmatizamos, com mitos e preconceitos.
O racismo é, na verdade, o reflexo da ignorância, de um medo tantas vezes infundado ao desconhecido. O racismo alimenta-se do desconhecimento, da congeminação de preconceitos, da alimentação de estigmas, de mitos, do boato.
Esta reflexão sobre a forma como em Portugal se colocam sempre mil obstáculos em incluir a variável étnica em estudos – e de isso ser, para mim, um acto de perpetuação do racismo e da discriminação –, surge a propósito de dados divulgados na sexta-feira passada no The New York Times sobre o impacte da pandemia – covid-19 e outras doenças – naquele Estado norte-americano.
Ora, como se sabe, o sistema de saúde norte-americano não é universal, estando muito dependente do tipo de seguro individual e, obviamente, dos rendimentos. E existem enormes diferenças em função das etnias, que não está associada a questões genéticas.
No Estado de Nova Iorque, mesmo antes da pandemia, a esperança média de vida da população negra não chegava sequer aos 79 anos, sendo três anos inferior à da população branca e hispânica.
Em 2020, com o impacte da covid-19 e de toda a desestabilização dos serviços de saúde nos Estados Unidos, sendo certo que a queda da esperança média de vida foi substancial e generalizada em todas as etnias – muito pela elevada mortalidade na população idosa –, a população negra e hispânica foram as mais afectadas comparando com a (mais rica) população branca.
Enquanto a “perda” no primeiro ano na população hispânica – que pela alimentação mais saudável era até superior à população branca em 2019 – e na população negra foi de seis anos (passando de cerca de 83 anos para 77,3; e de um pouco menos de 79 para 73 anos –, a “queda” na população branca foi de três anos, passando para 80,1 anos.
Evolução da esperança média de vida no Estado de Nova Iorque. Fonte: NYT
Este indicador demonstra não apenas um impacte das políticas económicas, sociais e de saúde antes como durante a pandemia, mostrando que o impacte das doenças não atinge todos por igual.
E em Portugal, o que sucedeu?
Não se sabe, porque não se pode saber. Saber seria ser-se racista.
Mas conhecerem-se esses dados permitiria que os políticos não tivessem a desculpa da ignorância para não actuarem, para não corrigirem essas desigualdades absurdas. E não corrigirem as desigualdades, supostamente evidentes mas não quantificáveis, logo não “avaliáveis” (em termos de diagnóstico e de avaliação de medidas), isso sim, é que é um acto de perpétuo racismo.
Por isso, quando se defende em Portugal que a recolha de dados étnicos se mostrará sempre uma atitude intolerável, discriminatória e mesmo racista, eu acho exactamente o contrário: racismo é a manutenção desta ignorância sobre dados fundamentais para se definirem políticas sociais que combatam as desigualdades, a discriminação e o “negócio da lamúria”.
Para deixar de se ser racista, convém conhecermos como vive cada uma das nossas etnias. Somente assim se eliminam os preconceitos e se ganha empatia e se promove a equidade, e por fim a igualdade de oportunidades.
Ontem, o PÁGINA UM revelou, em primeira-mão, a deliberação da Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) sobre os contratos comerciais entre o Porto Canal e entidades públicas, que resultou na abertura de três processos, o envio de uma comunicação ao Tribunal de Contas e a remessa de um caso de participação de um jornalista na execução de contratos de índole comercial para efeitos disciplinares junto da Comissão da Carteira Profissional de Jornalista.
O assunto é de inegável interesse. Basta observar outras situações em que a ERC e o canal televisivo associado ao Futebol Clube do Porto, presidido por Jorge Nuno Pinto da Costa, se envolvem.
A jornalista e pivot da SIC Marta Atalaya durante uma conferência no âmbito de uma parceria comercial entre o seu empregador e uma farmacêutica.
Porém, o assunto não foi pegado, até agora pela imprensa, apesar da notícia do PÁGINA UM ter já um número muito apreciável de leituras (já acima das 12 mil, por agora). E não digo, desta vez, que seja por uma certa “aversão”, na imprensa mainstream, a se citar o PÁGINA UM – que tem funcionado como uma espécie de “consciência pesada”. Basicamente, é por cagufa.
Sim, cagufa. Miúfa. Cagaço. Medo, enfim.
Sim, porque – e aleluia!, elogie-se! –, finalmente a ERC entendeu que a vergonha tinha de parar. No decurso da análise do regulador ao Porto Canal esteve, em grande medida, a identificação de ligações entre jornalistas habilitados com a carteira profissional e contratos comerciais que , directa ou indirectamente, estipulavam tarefas, compromissos e funções de informação. Ou seja, colocavam a independência e a linha editorial em causa.
Bem sei que há muitas equipas de marketing e muitas administrações e direcções de grupos empresariais de media – na verdade, quase todas – que surgem agora a defender que a evolução do mercado levou à necessidade de reformulação de conceitos comunicacionais e blá blá blá blá… Tudo tretas: uma coisa são os canais de comunicação, que podem e devem – por questões de sustentabilidade financeira – ser veículos de mensagens publicitárias; outra coisa é garantir, mesmo que caia Carmo e Trindade, que os “conteúdos” informativos têm de ser isentos, rigorosos e independentes, e executados por jornalistas que nada devem fazer na parte comercial ou de marketing.
Rosalia Amorim, directora do Diário de Notícias, é uma habitué na moderação de eventos realizados pela Global Media e pagos pelo Estado, empresas e autarquias.
E essa independência pode – e deve – ser completa, mesmo arriscando a perda de clientes das tais mensagens publicitárias. Mais vale a morte do Jornalismo do que um Jornalismo Prostituto. Siga-se pois a máxima de Cristo, segundo o Evangelho de São Mateus: “Dai, pois, a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus”. Ou, prosaicamente, “Dai, pois, ao Marketing o que é do Marketing, e ao Jornalismo o que é do Jornalismo”.
Mas o Jornalismo nunca morrerá. A prazo, é sempre a isenção, o rigor e a independência da informação que sustentam um órgão de comunicação social. Não o digo com o mesmo modelo do PÁGINA UM – que leva ao extremo essa máxima, como contraponto, renunciando às receitas publicitárias. O modelo do PÁGINA UM serve sobretudo para demonstrar que a qualidade “vende” até mesmo se o produto é “oferecido”, seguindo os princípios económicos da disposição a pagar (willingness to pay). Se o produto “qualidade” for escasso, as pessoas valorizam-no.
A isenção, o rigor e a independência podem não trazer anunciantes imediatos, mas trazem leitores, trazem consumidores das tais mensagens publicitárias; e garante-se assim “fluxo normal e saudável”: as empresas pagam para apenas anunciar os seus produtos e mensagens num órgão de comunicação social de uma forma independente da informação.
Público, e o seu director Manuel Carvalho, têm executado contratos comerciais susceptíveis de interferirem com a independência editorial do jornal.
Ora, aquilo que foi sucedendo com a imprensa – sem prejuízo das novas tecnologias – foi a subversão deste equilíbrio, de sorte que se vendeu a alma ao diabo. Começou-se com publireportagens – que mesmo assim tinham uma clara distinção entre o conteúdo jornalístico – e acabou-se nisto: na mais completa e pornográfica promiscuidade entre entidades públicas e privadas e órgãos de comunicação social, com os seus jornalistas transformados em tarefeiros para executar contratos comerciais, sem que o leitor se aperceba se aquilo que lê, ouve e/ou vê é um produto jornalístico ou é afinal uma encomenda paga pelo patrocinador.
Aquilo que a ERC finalmente fez com os contratos do Porto Canal, com a deliberação divulgada pelo PÁGINA UM, é somente a ponta de um icebergue que temos, ao longo dos últimos meses aqui anunciado. O jornalista Pedro Carvalho da Silva, do Porto Canal, é apenas um dos muitos “jornalistas comerciais” da nossa praça.
E estamos a falar ao mais alto nível. Ou seja, de jornalistas com cargos de direcção. Por exemplo, Manuel Carvalho, o ainda director do Público, ou David Pontes, que o vai substituir em Junho, já participaram activamente na concretização de diversos contratos comerciais, através da sua presença como moderadores em tarefas estipuladas nos cadernos de encargos.
Na Mobi Summit do ano passado, um evento de uma empresa municipal de Cascais, chegou a ser nomeado um “curador editorial”, Paulo Tavares, antigo jornalista, que coordenava a cobertura mediática pelos periódicos da Global Media. Esta função não existe na Lei da Imprensa nem os jornalistas podem estar sob a alçada de pessoas sem carteira profissional de jornalista ou equiparado.
Rosália Amorim (CP 1788), pela sua tamanha presença em eventos de índole comercial, é de jure directora do Diário de Notícias, mas parece acumular de facto o cargo de comercial da Global Media. Mas está longe de ser a única neste grupo de media.
Há alguns meses, em Outubro do ano passado, noticiámos que num evento (Mobi Summit) patrocinado por uma empresa municipal de Cascais quase todos os debates foram moderados por directores das publicações da Global Media, demonstrando a forte ingerência de jornalista num evento comunicacional. Além de Rosália Amorim, também Joana Petiz (directora-adjunta do Diário de Notícias e directora do Dinheiro Vivo, CP 4449) e Pedro Cruz (director executivo da TSF, CP 1611) moderaram três debates, cada um. Pedro Ivo Carvalho, director-adjunto do Jornal de Notícias, CP 3104) moderou dois e Jorge Flores (editor executivo do Motor 24, sem registo de carteira profissional) um.
Neste evento, a quantidade de “jornalistas comerciais” foi avassaladora. Por exemplo, Rute Coelho (CP 1893) tanto escreveu no Diário de Notícias como no site do evento Portugal Mobi Summit. Esta jornalista, com mais de 20 anos de experiência, revelou-se como um dos casos evidentes de “mercantilização” do jornalismo, impedido por lei, uma vez que oferece serviços de relações públicas e consultoria em marketing no LinkedIn. Além desta, houve participação na cobertura mediática por mais três jornalistas Elisabete Silva (CP 4391), Ana Meireles (CP 2808) e Carla Aguiar (CP 739), que foi a autora da peça sobre a intervenção do ministro Duarte Cordeiro. Esta jornalista do Jornal de Notícias fez também pelo menos uma entrevista a um participante do Mobi Summit antes da realização do evento.
Para completar o leque de directores que já tiveram tarefas promíscuas, identifico também Inês Cardoso, directora do Jornal de Notícias, e Mafalda Anjos, directora da Visão. Sobre a Visão, aliás, regressarei ao tema em breve.
O jornalista Bernardo Ferrão, que apresenta também o Polígrafo SIC, já moderou conferências de índole comercial entre a Impresa e farmacêuticas.
Por diversas vezes falei aqui também numa dupla de “jornalistas comerciais”, que personificam a libertinagem absoluta e absurda, onde já nenhuma fronteira de decência e ética subsiste. São eles os jornalistas Francisco de Almeida Fernandes (CP 7706) e Fátima Ferrão (CP 6197), que a pretexto de trabalharem numa agência de produção de conteúdos, fazem tanto notícias como free lancers para periódicos, sobretudo da Global Media e da Impresa, como conteúdos patrocinados para cumprimentos de contratos comerciais nessas mesmas empresas de comunicação.
A empresa onde trabalham estes jornalistas (a Mad Brain) concebia e executava a revista Energiser da Galp, fruto de uma parceria comercial com a Impresa. Nada lhes aconteceu desde que o PÁGINA UM denunciou este fartote de indecência.
Aliás, foram as promiscuidades (e ainda mais pornográficas, porque nada se esconde) detectadas, que o PÁGINA UM, em Maio do ano passado, em vez de continuamente fazer notícias, acabou por elencar 56 contratos suspeitos (e juntou posteriormente mais cerca de uma dezena), envolvendo os principais grupos de media e entidades públicas, onde aparentemente se exigia a participação activa de jornalistas para a sua execução, numa clara ingerência na linha editorial independente que se exige. E mandou tudo para a ERC, a aguardar comentários. A ERC prometeu averiguar, e espero ainda sentado.
A Mad Brain é uma empresa de conteúdos onde dois jornalistas tanto escrevem notícias como conteúdos patrocinados, e onde, na verdade, se ignora se as notícias são ou não também conteúdos patrocinados.
Mas não estava ainda incluída a participação de jornalistas da SIC na execução de um contrato de 31 mil euros entre a Impresa e a Ordem dos Contabilistas para a cobertura de um congresso, onde vários jornalistas a darem o “corpo ao manifesto”, como foram os casos dos pivots e jornalistas Bento Rodrigues (CP 1270) e Rodrigo Pratas (CP 3979) e dos jornalistas Débora Henriques (CP 5674) e Afonso Guedes (CP 7857).
E isto só para citar os contratos com entidades públicas, cujos contornos são conhecidos. Imagina-se apenas o que se passará com empresas privadas, onde os contratos ficam no segredo dos deuses. Com as farmacêuticas, por exemplo. Pela amostra de que já falei aqui, dá para se ter uma ideia do regabofe.
Por tudo isto, compreende-se que muitos vendilhões do templo não estejam muito interessados em noticiar que a ERC – esperando que não seja isto o canto do cisne do actual Conselho Regulador, a ser eliminado pelo próximo – anda agora, finalmente, à “caça de jornalistas comerciais”; daqueles que, na verdade, têm contribuído para a perda de confiança pública na imprensa.
ERC identificou, pela primeira vez, um jornalista por estar associado à concretização de um contrato comercial. O primeiro de muitos ou um canto de cisne?
É preciso uma lavagem de ética na profissão, por muitas dores que tal cause, e por alguns empregos que se percam. Depois deste “tiro” da ERC com a deliberação sobre o Porto Canal, não é mais suportável a inacção da corporativa (e cultora do amiguismo) Comissão da Carteira Profissional do Jornalista nem a postura ambígua do Sindicato dos Jornalistas, que criticam estas promiscuidades, mas que calam na hora de identificar nomes e responsabilizar atitudes.
Espero que este seja o primeiro passo para inverter o actual pântano do jornalismo português. Precisamos, cada vez mais, de uma imprensa forte e credível – e credível pelo seu rigor e independência, e não pelos fatos & gravatas & voz certa, ou pela maquilhagem & postura & beleza. Sem uma imprensa forte e credível, com uma imprensa na dependência financeira de patrocinadores que mexem os cordelinhos da linha editorial, apenas teremos informação oca e manipulação grosseira, tudo aquilo que mina uma democracia.
Por todo o lado a cidade ergue-se em cima dela própria, as pedras cansadas a vergar corroídas pelo cheiro de urina que vagueia por entre recantos, creolina e cara lavada em pontos de inflexão, graffiti bonito e colorido em caixas de electricidade feias, como maquilhagem e transformismo urbano.
Tudo pronto para a fotografia. Tudo mentira. (E o que é a verdade senão a nossa mentira? Onde estás, Voltaire?)
De buraco em buraco saltamos, desviamos caminho para não tropeçar, cabeça baixa para não parar. (E a fome a rastejar ao nosso lado.)
– Isto chega a uma certa idade é o que mais é, é cair a toda a hora!
– Pois olhe ela caiu, partiu duas costelas e agora lá está, deitada.
Que nos fizeram estes anos? Que nos fazem ainda? Aprisionaram-nos em casa, exigiram-nos guia de saída, injectaram a salvação no nosso braço (o que é a lei?), taparam-nos a cara (o que é o direito?), enervaram-nos a pele e sujaram-nos o pensamento. A cidade em cima dela própria, tudo é novo, tudo é velho (e o cheiro, a pestilência).
Foi só isso e já passou? Esqueceram 2008? 2010? 1995? Tantas datas e as cidades em cima delas próprias e em cima de nós, soterrados em fedor de urina e creolina a desinfectar a superfície. Que visão, a ascenção e queda de uma civilização. Que circo de figurinos e o Parvo no molhe, a apontar-lhes as chagas.
– Eu descontei 47 anos, olhe este joelho, ando aqui que não me posso apoiar nele.
– E a sua quintinha?
– Eu tenho-a toda bonita, não se vê uma erva, assim é que eu gosto, de a ver de lá de cima, é um mimo.
A Bíblia do Diabo é tão pesada como uma pessoa, de tão grande que é. Chama-se Codex Gigas e em princípio foi diligentemente escrita no século XIII por monges beneditinos na República Checa.
No meio das guerras que marcam as pedras das cidades europeias, no meio das falências que permitiram que os Cistercienses comprassem esta obra de conhecimento do mundo não perecível, e no meio de empréstimos que se prolongam no tempo, este Codex viajou para um castelo que sofreu um incêndio.
Poderia ter-se perdido no tempo para nós mas, reza a lenda, alguém o salvou em corpo do meio do inferno e o lançou de uma janela, tendo vindo a cair em cima de um espectador que até se magoou, por ter levado com aquela entidade feita de peles de burro em cima das costas.
O Diabo ocupa figura de destaque numa sua representação desenhada em corpo inteiro, com ar travesso e olhos esbugalhados. O céu, também representado noutra página, não tem lá ninguém. Está vazio. (Curioso, com tanta gente a bater com a mão no peito.)
Haverá sempre quem carregue em corpo as palavras, nem que as tenha de lançar de uma janela, arriscando a esmagar alguém que se limita a assistir.
Nada é planeado agora para o futuro distante. A velocidade tornou-se um vício e só trotinetas e eventos vazios é que existem.
Na verdade, ninguém quer um uso responsável das urnas. E por isso mesmo se sucedem os mesmos ou então surgem as vozinhas de pregão no balcão do café. Pessoas tacanhas que fazem exercício de encontrar culpados para as agruras mais partilhadas pelos demais, trepando assim ao poleiro, caturras coloridas e barulhentas.
Na verdade, Portugal não tem quem movimente corações (alguma vez teve?). Depois de sangue azul de privilégio e ocasionais megalomaníacos, depois de se importar a república, de baterem portas no vaivém de entrada e saída, de um chapéu tacanho e censor pôr ordem na casa para gáudio dos órfãos. Depois de jovens nos libertarem e se libertarem a si do diabo gigante do poder, os chacais têm estado a roer os ossos que sobram de uma nação que tinha tudo para o ser por vocação.
Sempre tivemos o corpo, corpo velho de cidades construídas em cima de cidades. Temos até a alma. Mas, na verdade, falta-nos a mente.
Mariana Santos Martins é arquitecta
N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.
No presente ano, estamos a viver uma crise bancária que parece estar apenas a começar. Já tivemos a queda de três bancos norte-americanos: o Silvergate, o Silicon Valley e o Signature.
Tudo indicava que o Credit Suisse iria pelo mesmo caminho, mas foi salvo in extremis pelo Governo suíço, após este ter prestado uma garantia contra perdas no valor de 9 mil milhões de Francos suíços (CHFs) para que o UBS, o seu principal concorrente, aceitasse adquiri-lo – deduz-se que o armário deverá estar atolado de cadáveres!
Entretanto, os Bancos Centrais não têm parado de intervir, no sentido de devolver a necessária “confiança” ao “bom funcionamento” do sistema bancário; no caso do Credit Suisse, após a queda do Silicon Valley, o Banco Central suíço aprovou uma linha de crédito de 50 mil milhões CHFs a seu favor. O Banco Central norte-americano foi ainda mais longe: forneceu uma linha de crédito de 2 biliões de Dólares norte-americanos (USD) a todo o sistema bancário norte-americano, aceitando colateral avaliado ao custo de aquisição – as regras são sempre ajustáveis!
Entretanto, depois de muitas juras no combate à inflação, o balanço do Banco Central norte-americano voltou a expandir-se, desta vez, 300 mil milhões de USD em apenas duas semanas. Os bancos são agora a prioridade, a inflação fica para depois!
Será que esta crise apareceu do nada, de forma acidental? Aparentemente, os CEOs e as administrações destas instituições conheciam em profundidade a situação, pois “abandonaram o barco” mesmo a tempo.
Evolução do balanço do Banco Central norte-americano entre o final de 2019 e 15 de Março de 2023 (Unidade: biliões de USD). Fonte: St. Louis Fed. Análise do autor.
Uns dias antes do colapso do Silicon Valley (SVB), o seu então CEO “despachou” o equivalente a 4 milhões de USD em acções (SVB); o mesmo fez o fundo de Peter Thiel, o Founders Fund, neste caso transferiu para outras instituições bancárias todos os depósitos no SVB. O mesmo fez o nosso celebérrimo banqueiro Horta Osório com as suas acções do Credit Suisse. Todos sabiam, menos o público e os reguladores, já que a 9 de Março, 1 dia antes, o Departamento de Protecção Financeira e Inovação do Estado norte-americano da Califórnia afirmava: o SVB era uma “instituição sólida!”
Toda esta sequência de eventos aparenta ser deliberada. Senão vejamos; numa primeira fase, imprimiu-se dinheiro como se não houvesse amanhã; claro está, nunca nos podemos esquecer que foi em nome da salvação da Economia, um bem maior. Entre Março de 2020 e Abril de 2022, o balanço do Banco Central norte-americano expandiu-se em 4,8 biliões de USD (12 zeros).
Em consequência da enorme expansão monetária, os preços das principais matérias-primas dispararam. Entre Março de 2020 e o início da guerra na Ucrânia, Fevereiro de 2022, as subidas foram assinaláveis! Alguns exemplos: o Petróleo subiu 351%, ao ritmo de 121%/ano, o Gás Natural subiu 169%, ao ritmo de 68%/ano e a Aveia subiu 155%, ao ritmo de 64%/ano – ainda alguém se surpreende com uma inflação a dois dígitos?
Subida/descida do preço de diferentes matérias-primas entre 30 de Março de 2020 e 23 de Fevereiro de 2022 (Unidade: %; Medido em €). Fonte: Yahoo Finance. Análise do autor.
Em resumo, a energia e a comida foi inflacionada por biliões e biliões impressos – criados do nada – pelos Bancos Centrais.
Com a subida das taxas de juro pelos Bancos Centrais para “combater” aquilo que criaram! – a inflação que vivemos –, os activos dos bancos perderam valor de mercado. A taxa de juro tem uma relação inversa com o valor das obrigações com cupão fixo, como é o caso das obrigações do tesouro. Que “alvos” foram escolhidos para esta crise bancária?
Precisamente os bancos que tinham uma “boa relação” – enfim, proporcionavam serviços bancários normais, como uma conta bancária e transferências – com as empresas de Criptomoedas: o Silvergate e o Signature, ambos com investimentos no sector; o SVB com fortes ligações à comunidade empresarial da Califórnia dona de empresas de Criptomoedas.
De imediato soaram os alarmes; a mesma regulação que nada viu, parece ser agora a inevitável solução: as Criptomoedas são seguramente as “culpadas de tudo isto”. Nos órgãos de propaganda nacionais até afirmavam o seguinte: “o Signature tem depósitos em Criptomoedas, Bitcoin e outras” – sacrilégio! – e o Silvergate – vejam lá! – prestava serviços bancários à FTX. Um crime de lesa-pátria! Podemos concluir que as pessoas deste sector devem ser tratadas como párias.
A etapa seguinte é agora a concentração a favor dos bancos gigantes norte-americanos, atendendo que os pequenos são mais frágeis na hora de uma eventual corrida ao banco – vejam lá, os clientes apenas reclamam o que é seu!
São os bancos de média dimensão, como o First Republic Bank, conforme se pode observar no gráfico seguinte, que estão a sofrer fortes quedas em bolsa no presente ano, até à sessão de 22 de Março perdia 90% desde o início do ano. O Bank of America, que cai 17% no presente ano, registou uma subida assinalável dos depósitos de clientes após a queda do SVB.
Os bancos da zona Euro, como é caso do nosso conhecido Millennium BCP, todos muito obedientes a empurrar as empresas de Criptomoedas para a marginalidade, apesar da grandiloquente asserção num passado próximo: “Não vamos passar a ser um banco cripto, o cripto é que vai passar a fazer parte do BCP”, registam bons desempenhos em bolsa, passando ao lado desta crise – por agora!
Assim, tudo está preparado para o anúncio da solução numa bandeja de prata: a Moeda Digital do Banco Central, mais conhecida pela sigla inglesa CBDC. São mais seguras que os bancos e certamente “mais reguladas” que as Criptomoedas; estou certo que será esta a linha de argumentação nos próximos tempos.
Evolução do Bitcoin, Ethereum e principais bancos norte-americanos e europeus entre o final de 2022 e a sessão de 22 de Março de 2022 (Unidade: %; medido em Euros). Fonte: Yahoo Finance. Análise do autor.
Para quê continuar com os bancos, quando agora estão todos falidos? Nada como eliminar os bancos, que apenas atrapalham, passando a usar unicamente as Moedas Digitais do Banco Central. Uma coisa está garantida: o Banco Central nunca abrirá falência, basta digitar zeros no computador e o dinheiro – neste caso, tokens infinitos – aparece. Qual a necessidade de dormir mal se o risco de falência é totalmente eliminado, bastando utilizar unicamente as Moedas Digitais do Banco Central.
Há apenas um detalhe nesta narrativa perfeita em que importa reflectir. O número de Moedas Digitais do Banco Central em circulação não terá limite, podendo haver um risco de elevada inflação; por outro lado, servirá como instrumento de controlo social, pois até o Banco Central norte-americano o confessa.
Estimado leitor: não se deixe embalar pelo conto da sereia, as CBDCs são o advento da tirania digital!
Luís Gomes é gestor (Faculdade de Economia de Coimbra) e empresário
N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.
Num mundo de mentiras diárias, o passado dia 1 de Abril trouxe uma verdade à tona: a actual presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, está cada vez mais próxima de vir a ser secretária-geral da NATO. Ouça também esta crónica no P1 PODCAST.
A notícia chegou-me no dia 1 de Abril via mensagem de uma pessoa amiga: “Von der Leyen está na corrida para secretária-geral da NATO”. Essa era uma hipótese que apresentei na crónica de 14 de Março – Perguntei à minha bola de cristal. Nessa altura, escrevi que o nosso primeiro-ministro, António Costa, era um bom nome para ser o próximo secretário-geral da NATO ou, caso não fosse possível, o cargo também poderia ser entregue à actual presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.
Perguntei então à pessoa que me mandara a mensagem se não seria uma brincadeira de 1 de Abril, ao qual ela acrescentou que não: era uma notícia do dia anterior e vinha no jornal britânico The Sun. Isso já era outra coisa. O The Sun é aquele jornal que nós aprendemos na escola de jornalismo a classificar de tablóide, um jornal popular, famoso pela rapariga da página três. E se isto era um assunto que eles queriam abordar, então a questão era mesmo séria.
Ursula von der Leyen
As fontes do The Sun vinham do meio diplomático e, ao ler o artigo, percebi o motivo da notícia surgir num jornal popular de Londres: o governo britânico não estava de acordo com a escolha e iria vetar o nome da ex-ministra da Defesa da Alemanha, dizendo que a sua folha de serviço no tempo do governo do seu país tinha sido fraca. Só que isso é típico dos britânicos: suspeitar dos alemães.
Explicava ainda o The Sun que o fim do mandato de Von der Leyen à frente da Comissão Europeia só termina em 2024, para o ano. As eleições europeias deverão ser em Maio, pelo que Von der Leyen teria de cumprir o seu mandato até essa altura e, quem sabe, ser reeleita quando houvesse uma nova composição do Parlamento Europeu. No entanto, segundo o jornal britânico, vários países membros da NATO tinham já “sugerido” que ela aceitasse assumir o cargo em Outubro deste ano, altura em que o actual secretário-geral, o norueguês Jens Stoltenberg, deverá sair.
Muitos jogos de bastidores devem estar a ser combinados neste momento. E, sobretudo, longe do escrutínio público próprio da democracia, pois o cargo não é sujeito a uma eleição aberta: é combinado entre os líderes dos países membros. Aliás, o The Sun também explicou isso mesmo. Disse que os norte-americanos não costumam apresentar um candidato, pois garantem um general seu como o Comandante Supremo Aliado da Europa. O actual chama-se Cristopher G. Cavoli.
Para os britânicos, o futuro secretário-geral da NATO deveria ser o actual ministro da Defesa, Ben Wallace. Outros nomes avançados pelo jornal de Londres incluem a primeira-ministra da Estónia, Kaja Kallas, embora se diga que não está interessada no cargo devido ao facto de ser de um país com fronteiras com a Rússia. Também se fala na ministra das Finanças do Canadá, Chrystia Freeland, que tem sangue ucraniano nas veias. Só que as hipóteses de ser escolhida também são escassas por causa do fraco investimento do Canadá nas contas da aliança.
Acredito que o lugar esteja a ser preparado para Ursula. Ela vem de uma família ligada à política – o seu pai, Ernst Albrecht, era um antigo director-geral na União Europeia e foi primeiro-ministro do Estado alemão da Baixa Saxónia. Ela está suficientemente alinhada contra a Rússia de Putin e, embora ache difícil que Von der Leyen saia da Comissão Europeia antes do mandato terminar – pois iria criar uma situação difícil de gerir, com um sucessor para um período de apenas um ano –, não podemos deixar de dizer como os ingleses: the plot thickens, ou seja, a trama adensa-se.
Para resolver este imbróglio, convinha que Jens Stoltenberg ficasse mais uns meses no cargo, indo para além de Outubro, dando assim tempo a Von der Leyen de terminar o mandato e poder depois manter-se em Bruxelas, agora na cadeira da NATO.
António Costa, primeiro-ministro de Portugal.
Resta saber o que pensa António Costa destas mudanças. Não é segredo que deseja trocar Lisboa por Bruxelas. As recentes sondagens que dão o PS empatado com o PSD são já um prenúncio dessa situação e nota-se o cansaço e enfado em querer resolver os problemas nacionais. Também no dia 1 de Abril, não foi mentira nenhuma, houve a manifestação em Lisboa pelos direitos à habitação e sente-se que os problemas da população estão a ficar sem soluções viáveis.
Por isso, as próximas eleições europeias, em 2024, vão ser decisivas para avaliar o pulso à Nação. E caso o PS ganhe por “poucochinho”, será que que Costa vai querer continuar em Lisboa ou emigrar para Bruxelas? Será que Ursula arranja por lá um emprego para o amigo?
Não faço futurologia, pois não é essa a função de um jornalista. Mas não posso deixar de notar que há notícias de dia 1 de Abril que, sem o parecer, estão relacionadas.
Basta sabermos ler.
Frederico Duarte Carvalho é jornalista e escritor
N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.