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  • 25 de Abril: sucesso ou desastre?

    25 de Abril: sucesso ou desastre?


    Comemora-se amanhã os 49 anos do actual regime, que já tem mais anos de vida que o anterior, pois este iniciou-se em 1926 e durou até 1974 – ou seja, 48 anos. Mais uma vez, a nossa classe parasitária, de cravo na lapela, lançará uns discursos encomiásticos à “gloriosa” revolução que pôs fim aos anos de “obscurantismo” e “trevas”, ao regime dos infames três F: Fado, Futebol e Fátima.

    Na verdade, nunca o quase milenar povo português viveu debaixo de tanta propaganda, mentira e manipulação. Os últimos três anos foram paradigmáticos, nunca como agora a Administração Pública foi tão obscurantista: nada informa, nada partilha, nada publica, apesar da lei e a Constituição da República (CRP) obrigá-la a ser transparente.

    E a imprensa? Esta recebe subsídios milionários do Estado para propagar a narrativa oficial, para nunca se dar conta de qualquer bancarrota – as três anteriores apareceram do céu aos trambolhões, onde a culpa era sempre dos “especuladores” e não do regabofe de despesa pública –, para calar e censurar qualquer voz dissidente. Até publicam, sem qualquer contraditório ou vergonha na cara, uma peça de propaganda a explicar-nos que o excesso de mortalidade em 2022 resultou do facto de estarmos velhos!

    Os órgãos de propaganda continuam a ocultar de forma despudorada a verdade à população, em particular o desastre económico deste regime socialista. Aliás, sempre foi o objectivo; no preâmbulo da CRP temos às claras tal desiderato: “…abrir caminho para uma sociedade socialista”. O fim talvez esteja quando o Estado assalte todo o nosso rendimento e em troca eles devolvam umas esmolas, já que ultimamente se tornaram peritos em tal exercício de manipulação de massas.

    A propaganda nunca nos revela os resultados económicos do actual regime. Em 47 anos, logrou o feito de convergir 0,3 pontos percentuais em relação à média do PIB per capita, corrigido pela paridade do poder de compra (PPC), de 12 países desenvolvidos – para os quais existe uma longa série histórica.

    Evolução do PIB per capita português em percentagem da média aritmética simples de 12 países: Alemanha, Austrália, Áustria, Bélgica, Canadá, Dinamarca, Estados Unidos da América, França, Holanda, Noruega, Reino Unido e Suécia (em USD; corrigido pela PPC). Fonte: Luciano Amaral (Convergência e crescimento económico em Portugal no pós-guerra) até 1992; Bancode Portugal a partir de 1992.

    Em comparação, o regime do Estado Novo convergiu 32,5 pontos percentuais, de longe e sem qualquer margem de dúvida aquele que mais enriqueceu, em termos relativos, o povo português nos últimos 200 anos – isto apesar dos panegíricos aos bem-aventurados que nos pastoreiam há 49 anos.

    A “democracia” alcançou este “notável feito” – convergência de 0,3 pontos percentuais – recorrendo a um endividamento público sem paralelo. Enquanto o Estado Novo deixou uma dívida pública que representava 13,9% do PIB em 1974, baixando-a em 60 pontos percentuais em relação ao final da Primeira República, a “democracia” subiu-a em 100 pontos percentuais, encontrando-se agora acima dos 110% do PIB – 272,6 mil milhões de Euros no final de 2022 vs. um PIB de 239,3 mil milhões de Euros.

    A recente queda apenas foi possível com a impressora do Banco Central Europeu (BCE) durante a putativa pandemia, brindando-nos com uma inflação de 7,8% (2022; Fonte: INE), algo nunca visto em 30 anos (1992: 9,6%; Fonte: INE), e um saque fiscal à boleia da subida dos preços gerada pelas autoridades socialistas. Resultado? Um butim nunca visto: 106,1 mil milhões de Euros!

    Evolução da dívida pública portuguesa em percentagem do PIB (1850-2022; Unidade:% do PIB). Fonte: Mata e Valério (1994); Banco Mundial; Eurostat. Análise do autor.

    Há 22 anos, precisamente em 2000, o assalto do Estado ao nosso bolso situava-se em 39% do PIB, quando agora é 44% do PIB. Estes 5 pontos percentuais permitiram uma pilhagem adicional de 11,8 mil milhões, algo como 1.140 Euros por português – incluindo crianças e idosos – ou 4.570 Euros por uma família de 4 pessoas!

    Também podemos medir este espólio em “ajudas” à Bancarroteira Nacional, mais conhecida por TAP: cerca de 3,7 vezes os 3,2 mil milhões esmifrados aos contribuintes em nome da manutenção em mãos nacionais das “Caravelas do Século XXI”!

    Podíamos pensar, como não convergimos com os países mais ricos, será que estamos a melhorar na ordenação no caso do indicador PIB per capita (corrigido pelo PPC) na União Europeia? Será que este inexorável assalto ao nosso bolso, cada vez maior, diga-se, levou-nos a algum lado? Este regime socialista está a conduzir-nos a algum lado?

    Evolução do PIB e Receitas totais do Estado 2000 vs. 2022 (Unidade: milhões de €). Fonte: Eurostat e Pordata.

    Nada disso. Portugal encontrava-se na 16º posição em 2000 para os 27 países que hoje fazem parte da União Europeia (UE). Atrás de si, vários países que tinham vivido o horror comunista, como a Roménia, a Bulgária, a Polónia ou os países bálticos.

    Em 2021, já nos encontrávamos na 22º posição, apenas existindo cinco países atrás de Portugal. Para ser o carro vassoura já pouco falta!

    Com este desastre económico, o que nos “vende” o actual regime para vencer os desafios dos próximos anos? Uma revisão constitucional ilegal, que atropela o artigo 288º da CRP em vigor, com o propósito de eliminar a nossa liberdade – bastando um funcionário administrativo para decretar a nossa prisão – e a nossa privacidade. Tudo em nome do combate ao terrorismo, quando os Estados são os maiores terroristas à face da Terra!

    Ao mesmo tempo, temos uma população em “fúria”, onde idiotas-úteis do regime exploram este sentimento, que se julga no direito de ter uma casa “gratuita”, ou seja, acha que tem a faculdade de assaltar o próximo em nome de um “direito”. Como sempre, pedem ao assaltante-mor que faça o serviço por elas: (i) que assalte os “ricos” e lhes construa uma casa; ou (ii) simplesmente confisque os “ricos”.

    PIB per capita corrigido pela paridade do poder de compra (PPC) em 2000 para os 27 países da União Europeia (Unidade: USD/ano). Fonte: Banco Mundial. Análise do autor.

    Os idiotas-úteis do regime, agora promotores de manifestações em nome do roubo ao próximo, são não só cobardes, mas também falsos moralistas: durante a putativa pandemia era vê-los felizes em casa a desinfectar tudo e um par de botas com álcool-gel a cada cinco minutos, de fralda facial, enquanto defendiam inoculações experimentais, “medidas” de combate ao vírus invisível e dinheiro imprenso a rodos pelo BCE, enquanto iam a festas divertirem-se e zombavam de todos os energúmenos crentes da farsa.

    Em nenhum momento denunciaram os verdadeiros culpados: o Estado e o sistema financeiro. O primeiro continua a fazer de conta que a ruína a que chegou há anos o parque imobiliário, em particular Lisboa e Porto, foi obra e graça do Espírito Santo e não do congelamento de rendas que arruinou os proprietários durante os anos 70 e 80, onde a inflação era superior a 20% e o roubo aos proprietários se efectuava sem apelo nem agravo.

    O segundo actua através da prática de reservas fraccionadas e é liderado por um inimputável Banco Central. Este sistema inflaciona os preços das casas, através de crédito emitido do “nada”, gerando dinheiro do “ar” e uma ilusão de prosperidade.

    PIB per capita corrigido pela paridade do poder de compra (PPC) em 2021 para os 27 países da União Europeia (Unidade: USD/ano). Fonte: Banco Mundial. Análise do autor.

    Aliás, até proporcionou ao nosso governo uma “vida boa” durante a putativa pandemia: o Estado emitia dívida pública e o Banco Central Europeu (BCE) imprimia dinheiro do “ar” e comprava essa dívida, que depois servia para pagar aos funcionários públicos e apaniguados do regime. Alguém se indignou com os “lucros excessivos” dos laboratórios e das farmacêuticas?

    Desde 1974, a nossa soberania tem sido vendida ao desbarato. De um país que estava no topo da lista dos países com maiores reservas de Ouro do mundo, entregámos desde então a nossa soberania monetária a funcionários desconhecidos e não eleitos ao leme do BCE. São agora os verdadeiros “Donos Disto Tudo”, ditando ordens aos capatazes que “supostamente elegemos” durante o circo denominado de “eleições livres”.

    As nossas leis são “confeccionadas” em Bruxelas por burocratas não-eleitos, que não conhecemos de parte alguma e que não podemos castigar com o nosso voto. Somos totalmente impotentes, a “democracia” é um mero simulacro, o nosso parlamento é um verbo de encher e praticamente toda a legislação não sofre qualquer escrutínio. Provém de iluminados, que sabem o que é melhor para nós!

    Mas o mais esquizofrénico do presente regime é o partido da “extrema-direita”, apelidado desta forma pelos órgãos de propaganda e idiotas-úteis do regime, que não é mais do que uma colecção de dissidentes de terceira e quarta linha de um dos dois partidos socialistas que nos arruínam há 49 anos. A zombaria é infinita!

    Pasme-se, até defende todas as bandeiras do regime, como o assalto perpetrado pela Bancarroteira Nacional em 2020 e 2021 ao nosso bolso: “Assim que tomou a palavra, o líder do Chega defendeu a ideia de que ‘a TAP é uma empresa estratégica, [algo] que ninguém nega’. E prosseguiu: “É uma empresa que, além de fazer a ligação ao exterior — e também temos as empresas privadas —, é preciso não esquecer, e o Tiago [Mayan Gonçalves] sabe isto, certamente: a questão da TAP não é só a própria empresa, é também todo o emprego e toda a economia indireta que gera à volta da TAP”. Conclusão: “É uma grande irresponsabilidade, Tiago, aparecer neste debate a dizer simplesmente, [como] uma espécie de Bloco de Esquerda invertido, ‘Não pagamos’, que é agora a posição da Iniciativa Liberal. Que é: ‘Não se pague nada, deixe-se tudo falir e o mercado vai funcionar.’ Tiago, isso não funciona assim neste país, não é assim que funciona.”. Vejam: os argumentos são todos semelhantes, parecem imanados da mesma cabeça!

    Mais, até defende limitar as margens de lucro da “grande distribuição”, uma espécie de tabelamento de preços, algo que sempre falhou ao longo da história, pois, são, segundo o partido de “extrema-direita”, “preços pornográficos” e que constituem um “assalto ao bolso dos portugueses”. Em conclusão, temos um suposto partido do “contra” e que constitui uma “ameaça à “democracia”, mas que defende todas as bandeiras do regime socialista! É hilariante se não fosse trágico!

    Mas a coisa não se ficou por aqui, até foi o partido que espoletou a presente revisão constitucional ilegal com o propósito de eliminar a nossa liberdade e privacidade, introduzindo a possibilidade de internamento compulsivo! Isto era tudo em nome de uma “doença” com uma taxa de sobrevivência de 99,8%! Agora, até parece que existem membros deste partido que são “negacionistas” – uma palavra que serve para calar qualquer um- e que falam como se fossem alheios a tudo isto!

    Em conclusão, o problema não é o roubo violentíssimo ao nosso bolso; o problema não é a falta de liberdade individual; o problema não é a falta de liberdade económica; o problema não é a inexistência de uma imprensa livre, sem censura; o problema não é a tirania de Bruxelas, que impõe certificados nazis e que nos impõe todos os dias uma economia hiper regulamentada e tributada; o problema não são os dois partidos socialistas do regime, nem tão pouco a extrema-esquerda que apoiou o circo covid-19; o problema não são os liberais que defendem agendas globalistas, calando-se perante o confisco de terras dos agricultores na Holanda.

    Não, nada disto.

    Para certos “sectores”, o problema está num partido de “extrema-direita”, mesmo se, na essência defende, tudo o que o regime defende!

    Mas, enfim, comemoremos então mais um ano desta esquizofrenia, deste “sucesso” a que chamam “democracia”!

    Luís Gomes é gestor (Faculdade de Economia de Coimbra) e empresário


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.

  • 25 de Abril, sempre!

    25 de Abril, sempre!


    Sento-me para escrever a Crónica semanal e recordo o início da minha vida profissional, no “Jornal do Fundão”, na década de 70 do século passado.

    Dirigido por um Homem superior, António Paulouro, este Jornal era uma referência de coragem, de liberdade e de luta pelo fim da ditadura.

    Quando integrei a Redacção, o Jornal tinha acabado uma suspensão de seis meses, imposta pelos tribunais do regime, por ter publicado uma notícia sobre o prémio atribuído, pela Sociedade Portuguesa de Autores, a Luandino Vieira pelo seu livro “Luaanda”.

    Ainda hoje sinto a desilusão que, como jovem, senti ao perceber que tudo o que eu escrevia teria de ser lido e aprovado, antes de poder ser publicado, não só pelo chefe de redacção ou director mas, principalmente, por um coronel da Censura

    E quando digo tudo, era mesmo tudo.

    A mais pequena alusão à governação, fosse do Poder Central fosse da Junta de Freguesia da terra, era vista e analisada à lupa.

    Muitas vezes, o censor conseguia descobrir, no mais anódino texto, intenções que nunca tinham passado pela cabeça do seu autor.

    Verdade seja dita que, também muitas vezes, deixavam passar textos carregados de ironia e sarcasmo que os incultos coronéis não compreendiam.

    De qualquer modo, era imensa a revolta que existia por sabermos que nada do que escrevêssemos poderia ser impresso sem que essa gente mesquinha, medrosa e consciente dos seus pequenos poderes autorizasse.

    Várias vezes pisámos o risco vermelho, que a ditadura impunha, e o resultado eram processos judiciais.

    Valia-nos a ignorância da maioria dos censores e polícias do regime.

    Eram joguetes na mão dos governantes, obedecendo cegamente a todas as ordens que recebiam.

    Recordo uma rusga ao Jornal, por um grupo de elementos da PIDE, que tinham, como função, apreender tudo o que se relacionasse com a política ultramarina.

    Das estantes de livros do gabinete do Director carregaram todos os que tivessem, no título, uma alusão às “províncias ultramarinas”.

    António Paulouro perguntou, espantado, a um dos agentes, se também iria apreender o livro que tinha nas mãos.

    A resposta foi:

    – “Evidentemente. O título ‘Factos e Figuras do Ultramar’, obriga-nos a isso. A ordem é, levar tudo que mencione o Ultramar.”

    red LED light

    E apreendeu um exemplar do livro de Marcelo Caetano.

    Que também não fazia muita falta, há que reconhecer.

    Durante os anos em que trabalhei no Jornal, até ao 25 de Abril, fui impedido de escrever notícias sobre factos absolutamente humilhantes para cidadãos europeus.

    Em Portugal não havia eleições, as mulheres não podiam viajar para o estrangeiro sem uma autorização escrita dos maridos, as professoras primárias não se podiam casar sem uma autorização especial, os funcionários públicos tinham que assinar uma declaração garantindo que partilhavam a ideologia do regime, rejeitavam a Maçonaria e garantiam não serem membros dela, antes de poderem tomar posse.

    O Poder geria as organizações juvenis (nomeadamente na Mocidade Portuguesa) que usava para ensinar, aos jovens, a ideologia defendida pelo regime e a obedecer e a respeitar o líder.

    Para além da PIDE, o regime apoiava-se, também, em organizações paramilitares, como a Legião Portuguesa, para proteger o regime das ideologias oposicionistas, com especial realce para o comunismo;

    Os trabalhadores estavam impedidos de criar sindicatos. Só existiam os que eram controlados pelo Estado.

    brown rope in close up photography

    Os cidadãos estavam proibidos de falar contra o Governo, de emitir opinião, de ver filmes, peças de teatro ou revistas onde se pusessem em causa estas ideias.

    Não tinham acesso a livros que defendessem opiniões diferentes das impostas pela governação.

    A riqueza estava concentrada nas mãos de meia dúzia de famílias.

    Portugal era um país “orgulhosamente só”, primeiro governado por um labrego que nunca tinha ido ao estrangeiro e que, de Portugal, só conhecia o gabinete, de onde ditava estas regras absurdas, e Santa Comba Dão, onde ia regar umas couves na sua pequena courela e, depois, por um professor universitário sem coragem para acabar com toda esta miséria intelectual.

    O 25 de Abril foi, citando Sophia de Mello Breyner, o fim do período em que lamentávamos:

    Quando a pátria que temos não a temos

    Perdida por silêncio e por renúncia

    Até a voz do mar se torna exílio

    E a luz que nos rodeia é como grades

    e passámos ao dia exemplarmente retratado como:

    Esta é a madrugada que eu esperava

    O dia inicial inteiro e limpo

    Onde emergimos da noite e do silêncio

    E livres habitamos a substância do tempo

    Hoje, quando graças aos Capitães de Abril posso escrever o que verdadeiramente sinto, só lamento ter que viver, lado a lado, com imbecis que continuam a criticar o Dia da Liberdade e que só podem ser ou acéfalos (por quem tenho pena) ou fascistas (que odeio).

    Critico, com veemência, muitas atitudes de quem nos governa, sabendo que tenho esse direito e esse dever.

    Mas, com muito mais empenho, criticarei os que querem e pensam ter forças para voltar àquele passado que nos tornava inferiores.

    25 de Abril, sempre!

    Vítor Ilharco é secretário-geral da APAR – Associação Portuguesa de Apoio ao Recluso


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.

  • Medina, o pináculo de um governo de aldrabões

    Medina, o pináculo de um governo de aldrabões


    Hoje, o nosso colunista Tiago Franco escreveu, na sua coluna de opinião do PÁGINA UM, sobre os “engenheiros roubados a Portugal” que chegam à Suécia “sem nunca terem recebido um salário” no nosso país, “e que, em pouco tempo, se adaptam a tudo o que lhes aparece pela frente: ao clima que não ajuda ninguém, ao modo de vida, aos ritmos de trabalho, às tecnologias que nunca viram”, acrescentando que “destacam-se perante colegas muito mais velhos, com anos disto”.

    E pasmado – força de expressão –, o Tiago Franco diz que gostaria de saber “de onde virá tanta fome de aprender”, colocando três perguntas essenciais, quando se confronta aquilo que podemos ser como pessoas, de nacionalidade portuguesa, e aquilo que Portugal, lamentavelmente, é:

    “Onde é que errámos?”

    “Como é que ficámos tão pobres?”

    “De que forma é que fazemos este pessoal regressar e produzir em Portugal?”

    Fernando Medina, em foto hoje colocada no Twitter, “transportando” Mário Soares, entretanto falecido em 2017.

    E eu respondo-lhe.

    Errámos porque permitimos que um Governo desça tão baixo que até tem um ministro como Medina.

    Ficámos tão pobres porque permitimos que Governos tenham ministros como Medina.

    E, quanto à terceira questão: que esqueça ele regressos de emigrantes portugueses em massa enquanto tivermos políticos como Medina.

    Fernando Medina, o Medina, surge aqui como representante de um homem que sempre viveu debaixo de António Costa – não direi que é um capacho, mas andou sempre onde andaram os pés do actual primeiro-ministro –, mas também como metonímia de político medíocre, sem chama nem garra, sem uma ideia nem plano, que passeia a sua nulidade num país político sem glória nem honra.

    Os Medinas – que encontram, no actual Governo a sua máxima plenitude – vivem com e da manipulação, da mentira e da sem-vergonhice, mas confiantes da ilimitada capacidade dos portugueses – dos que aqui estão, não dos que partem – em suportar todas as suas diatribes.

    Os Medinas, e sobretudo o seu máximo representante, o Fernando, já esteve envolvido nas mais díspares polémicas, a começar com o caso das denúncias de activistas à embaixada russa, antes da Rússia ser um pária para o mundo lusitano, quando ele era o alcaide alfacinha. Este ano, já perdi a conta aos casos e aos casinhos deste Governo, quase sempre tendo o Fernando envolvido, mas sempre conseguindo ele, com o beneplácito de todos, incluindo do seu eterno chefe Costa, manter-se como um sempre-em-pé.

    Hoje, Medina, o Fernando, e todos os outros Medinas do Governo espetaram mais um prego no caixão da nossa já podre democracia.

    Dias sem fim, andou o Governo a garantir a existência de um parecer jurídico defendendo justa causa para o despedimento da ex-CEO da TAP, Christine Ourmières-Widener. Para salvar o coiro, o Governo não se importou de imolar uma estrangeira e uma mulher num circo mediático.

    A seguir, o Governo fez aquilo que melhor sabe fazer, e que durante a pandemia melhor desenvolveu: manipulou, mentiu e escondeu, não exactamente por esta ordem, até porque age de acordo com as circunstâncias. E confia numa comunicação social dócil.

    Ainda ontem, através de uma nota enviada à agência Lusa – que, nos últimos anos, parece funcionar como uma espécie de Pravda do Governo de Costa –, o gabinete da ministra-Adjunta e dos Assuntos Parlamentares, Ana Catarina Mendes, sustentava que “o parecer em causa não cabe no âmbito da comissão parlamentar de inquérito” e que “a sua divulgação envolve[ria] riscos na defesa jurídica da posição do Estado”.

    E hoje, afinal, Medina, o Fernando, como ministro de um Governo podre, veio dizer que, afinal, o parecer nunca existiu. E mantém-se, consta, ele como ministro… e todos os outros.

    Enfim, temos um Governo de gente de má índole, que desonra as palavras, os actos, os portugueses. Um país onde o próprio Presidente da República permite que sejamos geridos por um Governo de aldrabões. Um Governo que nos envergonha. Um Governo que só nos ajuda a ser piores. Cá dentro.

    E queres tu, Tiago Franco, regressar da Suécia e veres regressar os nossos compatriotas? Para isto? Para esta “merdina”?

  • Bem-feito por portugueses, fora de Portugal

    Bem-feito por portugueses, fora de Portugal


    Num espaço de poucos meses, o meu cenário profissional alterou-se. Os prazos esgotaram-me e as equipas de Engenharia, responsáveis pelo desenvolvimento de carros eléctricos, passaram a trabalhar a contra-relógio.

    Há dois problemas base nesta indústria dos popós.

    O primeiro é termos deixado de produzir veículos que nos levam de A para B para passarmos a produzir plataformas de entretenimento em cima de rodas. Ou seja, iPads com motor.

    street time lapse photography

    O segundo, consequência do primeiro, é que as pessoas se aborrecem depressa e, tal como nos iPhones, é preciso andar constantemente com novidades no mercado – ou, como diria Steve Jobs, a vender a mesma coisa com um novo design a um preço mais alto.

    Há 10 anos, um carro desenvolvia-se em quatro anos e durava 10. Agora, cria-se em pouco mais de um ano e ao fim de dois já precisa de uns retoques. Óptimo para a bolsa de emprego, péssimo para os Verões em casa com a família.

    Há, na verdade, ainda um terceiro problema, desde os primórdios, quando se contratou o primeiro profissional de propaganda: por norma, os génios do mercado e artistas do marketing prometem, naquelas galas de apresentação, coisas sem fazerem a mínima ideia daquilo que custa inventá-las.

    Assim, os departamentos de Engenharia descobrem que devem criar um carro com asas, movido a azeite, não poluente, que se desloque sozinho e que venha com cinema e máquina de pipocas – e, de preferência, pronto para o mês que vem.

    man in black jacket standing beside white sedan

    No meio do arranca-rabo que acontece, e das cabeças que vão rolando, ouço gritos. Nunca tinha ouvido gritos, e muito menos este tipo de exigência, na pacata e tranquila Suécia. Não se importa apenas o investimento chinês, mas também, aparentemente, alguns métodos de trabalho. O meu empregador é uma multinacional chinesa do sector automóvel.

    No meio desta confusão e loucura em que se tornaram os sete dias da semana – sim, sete –, aparecem seis portugueses: uma equipa inteira de putos, com poucos meses de experiência, mas que, ao fim de poucos dias no lagar, já estão a produzir azeite de finíssima qualidade.

    Engenheiros roubados a Portugal que chegam aqui sem nunca terem recebido um salário desse lado, e que, em pouco tempo, se adaptam a tudo o que lhes aparece pela frente: ao clima que não ajuda ninguém, ao modo de vida, aos ritmos de trabalho, às tecnologias que nunca viram. Aprendem enquanto vão fazendo, e destacam-se perante colegas muito mais velhos, com anos disto.

    Olho para eles, e pergunto-me de onde virá tanta fome de aprender e, especialmente, tanta garra de colocar no mercado algo que nunca conseguirão comprar. Aqui entre nós, sinto algum orgulho neles. Não são meus filhos e, até há pouco tempo, nem os conhecia, mas a contribuição, entre tantas equipas, eleva, na minha opinião, o nome de Portugal.

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    Por cada um que chega e apresenta bons desempenhos, há sempre alguém do lado de quem contrata que pergunta: “há mais destes por lá?”.

    E, dessa forma, acabam por ir abrindo caminho para o seguinte. São elogiados. Ouço-os várias vezes a receberem elogios. Imagino que fiquem satisfeitos com o reconhecimento numa fase tão precoce da carreira.

    O que seria do nosso país se conseguisse reter todo este talento, nas diversas áreas, que emigram aos milhares todos os anos?

    As diferenças de formação são também óbvias entre portugueses e outras nacionalidades. Não vou aqui referir quais são essas nacionalidades, mas direi, pelo que vejo em redor, que os tempos de aprendizagem são muito menores para estes miúdos que fogem dos lusos subúrbios e se lançam na selva da emigração sem grandes dúvidas ou receios.

    O ensino público português é bom. Pelo menos, na minha área, posso perfeitamente comprovar que o investimento feito não é desperdiçado. Pode não ir para o PIB português, mas vai, com alguma certeza, para o PIB de um país desenvolvido qualquer.

    brown wooden table and chairs

    E pergunto-me: onde é que errámos? Como é que ficámos tão pobres? De que forma é que fazemos este pessoal regressar e produzir em Portugal? São as três questões que coloco quase diariamente.

    Triste fado de um país que forma, e bem, para benefício de outros.

    Enquanto isto, para o ano, quando virem o novo e pequenino Volvo eléctrico na rua, ou o magnífico Polestar 4, saibam pelo menos que uma fatia do que lá vai dentro foi exclusivamente feito por portugueses.

    E se tiverem um, aproveitem. Se forem como eu, que só trabalho neles, mas nunca os compro, em todo o caso apreciem, com ligeiro orgulho lusitano, quando passarem na faixa da esquerda.

    Tiago Franco é engenheiro de desenvolvimento na EcarX (Suécia)


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.

  • Eles sabem (balada romântica para robôs)

    Eles sabem (balada romântica para robôs)


    Se um pardal enervadamente esvoaça na rua, pousando entretanto para debicar uma beata de cigarro junto ao passeio, sentimos nos ossos o asco que ficou intrínseco a considerar que sim, estamos num mundo à parte do mundo natural.

    Nós, e todas as nossas coisas, somos entidades sujas a poluir o mundo, desligados e impositivos. Tudo o que fabricamos e construímos desintegra-se em três vezes mais partículas de lixo que entope pulmões, quem o vê, envergonha-se.

    (Vamos pedir desculpa aos pardais.)

    brown and white bird on brown rock in water

    Eles sabem que as investigações são gritos ecoados no vento.

    Eles sabem que as manifestações são pulgas sacudidas em cão sarnento.

    Eles sabem que braços e pernas se cansam e que a máquina continua, avassaladora, devoradora.

    Até os foguetes e luzes de reacções e revoluções mais não são que bailado de pernas esticadas e movimentos coreografados.

    E assim, ainda antes dos carros voarem, o fantasma da inteligência artificial finalmente adquire contornos e aterroriza muitos. Outros há que relativizam, é uma ferramenta, é só mais um martelo, é o curso natural do nosso curso artificial e desconectado (pede desculpa ao pardal).

    Até o senhor do espaço, do carro eléctrico mais bem publicitado da indústria e do pardal azul (também conhecido como Twitter) continua o seu caminho para entrar dentro de cérebros. E até ele se levanta, em mais um esvoaçar coreografado, e diz ao Robot que fique em coma uns seis meses, que vá dormir, que pare de crescer e aprender.

    Que estranho tal pedido.

    Como pedirmos aos nossos filhos que se congelem no tempo (mas o tempo continua, sempre o tempo).

    Claro que o pedido ser feito por gigantes, que competem em roubar o fogo aos deuses, é só uma coincidência (será?), e que os receios de estarmos a tactear uma caixa de Pandora são legítimos (ou infundados?).

    Há pelo menos um século que desenhamos e contamos histórias de antecipação a este momento.

    Quase todas ilustradas de forma assustadora.

    Quase todas inevitáveis, um caminho inexorável onde a Humanidade se encarrilou há muito tempo.

    E, mesmo assim, estamos espantados. Como se não fosse suposto termos chegado aqui.

    photo of girl laying left hand on white digital robot

    Eles sabem, mas nós não sabemos. Nós continuamos o nosso dia, a fazer tanta coisa, a processar informação a alta velocidade. A tentar determinar o que é importante, o que é essencial, o que é mesquinho e o que é transcendente e incontornável. O que é melhor e o que é pior. Qual o caminho enquanto navegamos sem ter mapa.

    Parece que o medo é que a criação reflicta o seu criador.

    Parece que o medo é que o filho mate o pai, assim que foque o olhar e conclua que o pardal vale mais que nós.

    Mariana Santos Martins é arquitecta


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.

  • O que Eça diria sobre Eça

    O que Eça diria sobre Eça

    O Parlamento português decidiu, por unanimidade, trasladar os restos mortais de Eça de Queiroz para o Panteão Nacional. A cerimónia está marcada para Julho. Agora, o que diria Eça sobre essa homenagem? Uma opinião livre e pessoal fica registada. Ouça também esta crónica no P1 PODCAST.


    Certamente que Eça de Queiroz ficaria contente por saber que o seu valor era reconhecido com honras de Panteão. Mas será que lhe agradaria saber que os deputados do Parlamento que, de forma unânime, aprovaram esta decisão são pessoas que ele, muito provavelmente, iria criticar?

    Eça, afinal, escreveu frases como esta: “O País perdeu a inteligência e a consciência moral. Os costumes estão dissolvidos e os caracteres corrompidos. A prática da vida tem por única direcção a conveniência. Não há princípio que não seja desmentido, nem instituição que não seja escarnecida. Ninguém se respeita. Não existe nenhuma solidariedade entre os cidadãos”.

    Uma frase que continua assim: “Já se não crê na honestidade dos homens públicos. A classe média abate-se progressivamente na imbecilidade e na inércia. O povo está na miséria. Os serviços públicos vão abandonados a uma rotina dormente”.

    E, para terminar: “A ruína económica cresce, cresce, cresce… O comércio definha, a indústria enfraquece. O salário diminui. A renda diminui. O Estado é considerado na sua acção fiscal como um ladrão e tratado como um inimigo. Neste salve-se quem puder a burguesia proprietária de casas explora o aluguel. A agiotagem explora o juro”.

    Isto que citei, consta da colectânea “Uma Campanha Alegre” e diz respeito ao primitivo prólogo das Farpas, Estudo social de Portugal em 1871. São frases do homem cujos ossos vão agora repousar na antiga Igreja de Santa Engrácia. A tal das obras infinitas.

    Realmente, o que diria Eça sobre Eça e a homenagem à sua pessoa? Na minha opinião pessoal – e que deve ser apenas tida como tal –, Eça diria que, apesar de compreender a decisão, ainda assim o deviam recordar como alguém que escreveu sobre um País que existia enquanto ele também existia. Se agora, os descendentes dos homens daquele tempo, decidiram reconhecê-lo como um génio, como um grande do País com honras de Panteão, ao menos que chegassem a essa conclusão por o País não continuar na mesma situação em que ele o deixara!

    Diria ainda Eça que, caso as suas palavras fossem lidas ainda com a mesma luz e clareza na actualidade, ou seja, se houvesse hoje um português que as lesse como óbvias e não as citasse despudoradamente como sendo de um génio que merecia estar no Panteão – sem saberem o que o génio quis dizer na altura –, então a melhor homenagem seria deixarem-no estar tranquilo, no Douro, perto da sua Tormes e do seu Jacinto.

    Teria bem mais valor um visitante que tivesse a maçada de empreender uma viagem de propósito para o visitar e, com a devida demonstração de esforço e dedicação de uma deslocação com intenção de ir desde a cidade às serras, após mais de 120 anos desde a sua morte, essa sim seria a verdadeira homenagem à sua pessoa!

    Agora, vai para um Panteão que nem existia como tal quando ele morreu e que conhecia como a Santa Engrácia das obras inacabadas. Foi terminado em 1966, quando uma ditadura celebrava 40 anos. E vem agora, esta estranha forma de Democracia, que para ali já mandou toda a gente que politicamente lhe convinha, querer juntar o nome de Eça a uma lista de mortos apenas para a perpetuação da glória efémera de uns quantos políticos vivos e que nunca ninguém se lembrará de os visitar depois de mortos. Creio que Eça preferiria querer continuar a ser um génio do povo, sem necessidade de demonstração.

    A 28 de Novembro de 1892, Eça escreveu na Gazeta de Notícias um artigo sobre os grandes homens de França, onde analisava precisamente como aquele País e aquela cultura que tanto o marcara, decidira homenagear os seus grandes. Concluía que a França não deveria continuar a procurar mais nomes grandes e deixar “solitário no seu Panthéon como foi único no século pelo génio e pela universalidade da glória” apenas um escritor: Victor Hugo.  

    Quem souber a diferença entre quem foi Eusebiozinho e Eusébio da Silva Ferreira, poderá perceber melhor do que muitos o que Eça de Queiroz teria a dizer sobre a decisão do Parlamento português em autorizar a trasladação dos seus restos mortais para o Panteão.

    Não resisto ainda a contar aquilo que, certa vez, uma pessoa da família de Eça, partilhou como sendo uma pequena anedota sobre a inauguração da sua estátua no Largo Barão de Quintela – a original, em pedra, do escultor Teixeira Lopes, inaugurada em 1903 e que hoje está no jardim do Museu da Cidade, no Campo Grande e que, por ser constantemente vandalizada, foi substituída por uma réplica em bronze.

    Uma empregada de Eça e da sua mulher, D. Emília de Castro Pamplona, ao ver a estátua onde o escritor está abraçado à figura alegórica da verdade nua, com o escrito “Sobre a nudez forte da Verdade o manto diáphano da fantasia”, comentou depois ao chegar a casa: “O Senhor Eça está muito parecido, mas agora a senhora Dona Emília, ai meu Deus, não deveria estar assim”.

    Eça conhecia-nos melhor do que ninguém. Estamos todos no fundo da sua pena, sobretudo nessa obra magistral que é Os Maias. Sei disso, porque vejo-os todos os dias nas ruas. Somos os seus personagens. E quando sigo pelas Janelas Verdes, sei que não existe o Ramalhete, mas é aí que está a casa que os Maias vieram habitar em Lisboa. E quando corro para o autocarro, penso sempre: “Ainda o apanho! Ainda o apanho!”

    Frederico Duarte Carvalho é jornalista e escritor


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.

  • P1 PODCAST e a sustentabilidade financeira do Página Um

    P1 PODCAST e a sustentabilidade financeira do Página Um


    Nascido em Dezembro de 2021, o PÁGINA UM é manifestamente um jornal diferente. Assumidamente independente, sem publicidade e sem parcerias comerciais nem mecenas. Sem reverências. Sem concessões. Fazemos aquilo que os outros não fazem ou não querem fazer, mesmo com parcos meios humanos e financeiros – a independência absoluta tem essas desvantagens. Os processos de intimação que temos colocado nos tribunais, perante a cultura do obscurantismo que reina em Portugal, são disso exemplos paradigmáticos.

    Mas sabemos – e eu sei, pessoalmente, em particular – que este “modelo de negócios”, chamemos-lhe assim, implica limitações muito fortes, sobretudo se, como é o caso do PÁGINA UM, os donativos dos leitores são a única fonte de financiamento e, mesmo assim, o acesso às notícias é inteiramente livre. Ou seja, os leitores que nos apoiam, sustentam a produção das nossas notícias e permitem, em simultâneo, que leitores com menores posses tenham também acesso.

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    Para o PÁGINA UM conseguir fazer mais – e queremos fazer mais, de forma sustentável, sem endividamento (o nosso passivo é zero) –, temos também de diversificar as nossas plataformas ou a forma como chegamos aos nossos leitores. O design do novo site enquadra-se nessa estratégia de consolidação e contínua melhoria.

    Foi também com esta filosofia em mente que criámos no início do ano o P1 PODCAST, que, neste momento, é constituído sobretudo pelos podcasts diários da Elisabete Tavares (Caramba,ó Galamba) – que hoje chegou ao 100º episódio –, mas também pelos “debates” entre mim e o Luís Gomes (Os economistas do diabo), pela minha improvisada “crítica de imprensa” (Que nos salves, São Francisco de Sales) e pela crónica semanal do Frederico Duarte Carvalho (Histórias que eu sei).

    Produzir estes podcasts – e outros mais que temos em mente – não deve, contudo, afectar a necessária prossecução da actividade normal do PÁGINA UM, nem pode retirar, de forma contínua, financiamento à nossa actividade como jornal de investigação. Produzir tanta diversidade com tão poucos meios implicaria reduzir a qualidade.

    Por esse motivo – e embora tenha sido já anunciado previamente –, o P1 PODCAST somente tem condições para se manter se for sustentável de forma autónoma do ponto de vista financeiro. Ora, como os recursos financeiros do PÁGINA UM se têm mantido estáveis, não temos outra hipótese que não seja a aplicação de subscrições para a audição dos nossos podcasts por um período máximo de 10 dias.

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    Ou seja, significa que, a partir de hoje, apenas os subscritores (através de um pagamento mensal de 5,99 euros) terão acesso, durante os primeiros 10 dias de cada emissão, aos podcasts que formos produzindo. Findos esses 10 dias, para cada emissão, o acesso passa a ser livre.

    Sabemos que para alguns dos nossos leitores – sobretudo os que nos apoiam com maior regularidade –, o pedido de apoio suplementar em troca de acesso aos conteúdos do P1 PODCAST no período inicial de 10 dias será profundamente injusta, até porque muitos deles apoiam com valores bem superiores. Contudo, por razões logísticas e operacionais, não se mostra possível fornecer senhas de acesso aos apoiantes regulares, uma vez que o sistema de subscrições é gerido por uma entidade externa ao PÁGINA UM (e.g., Spotify). Com outros meios, porventura teremos oportunidade de implementar um sistema de gestão que controlemos directamente.

    Temos consciência que esta é também uma experiência que fazemos, um teste à nossa credibilidade – mas também uma forma de mantermos o espírito e a filosofia do PÁGINA UM como jornal, que é o nosso core business: manter a linha editorial independente, sem publicidade e sem parcerias comerciais, e de acesso livre. Mas isso não significa que seja um jornal de custo zero; significa sim que o jornalismo independente depende mesmo dos leitores. E dos ouvintes para o P1 PODCAST.

    Por isso, se concluirmos, em breve, que o P1 PODCAST não é um projecto sustentável, e que “canibaliza” os recursos do PÁGINA UM, não hesitaremos em dar um passo atrás para nos dedicarmos em exlusivo apenas no jornal digital. É nele que apostamos as “nossas fichas”.


    Para aceder aos conteúdos do P1 PODCAST (apoio mensal de 5,99 euros) em exclusivo durante os primeiros 10 dias de cada emissão, clique AQUI.

  • Montenegro e a chapada em Ventura

    Montenegro e a chapada em Ventura


    Luís Montenegro foi à CNN fazer serviço público. Começo com um elogio para dizer, em seguida, que acho o presidente do PSD um fraquíssimo candidato e uma óptima notícia para António Costa.

    Ainda assim, e finalmente, durante a entrevista a Maria João Avillez, respondeu ele à questão que há meses lhe faziam: “vai com o Chega?”

    Não, não vai. Pela primeira vez desde a era Rui Rio, que, à mesma questão, ele respondia “nim”. Desta vez, Montenegro foi claro na demarcação dos limites da cerca sanitária imposta ao Chega.

    Luís Montenegro

    Não quer coligações com políticos xenófobos, racistas e populistas. Seja no Governo ou no apoio parlamentar como acontece, por exemplo, na solução de governo encontrada na Suécia – onde os nacionalistas viabilizaram o Executivo de direita, a troco de várias medidas impostas no programa de Governo.

    A atitude de Montenegro segue a tendência que, se a memória não me atraiçoa, os Liberais, na altura pela voz de Cotrim Figueiredo, já tinham iniciado nas últimas legislativas: recusa de qualquer coligação com o Chega.

    Esta é uma excelente notícia para quase todos os partidos. Desde logo para o PS e para a esquerda que ganham novo fôlego. Uma coligação com o Chega valeria ao PSD, com as sondagens de hoje, um Governo de direita garantido. Os Liberais também poderão aproveitar a boleia de Montenegro e cativarem alguns votos à direita, de forma a “substituírem” o Chega nessa suposta aliança. Montenegro, como é óbvio, não fechou a porta a outras coligações porque sabe que, sozinho, terá dificuldades em vencer.

    André Ventura reagiu como se esperaria a esta declaração de interesses, ou seja, com mais um disparate: vai avançar com a candidatura para primeiro-ministro sozinho e disputar a vitória com o PS. É esta a estratégia. Pessoalmente, acho bem. E se fosse líder da IL estaria agora a esfregar as mãos de contente, pelo maná que me estaria a cair no colo.

    André Ventura

    Voltemos à entrevista. Maria João Avillez cortou a palavra de cada vez que Montenegro falou no PS e obrigou-o a comprometer-se com a posição do Chega. Essa parte da entrevista foi engraçada, uma vez que ele, tal como Rui Rio, começou por fugir ao tema dizendo que era cedo, que ia lutar por maioria absoluta e que ninguém questionava o PS a propósito das alianças com a “extrema-esquerda” – um conceito muito próprio. Até disse que alguma esquerda portuguesa apoiava a invasão da Ucrânia por um Governo de extrema-direita (Montenegro também está baralhado como outros).

    Avillez, como quem estava a tourear, só descansou quando o deixou de joelhos, e o homem lá disse que racistas e xenófobos não, e que, nesse perfil, nem CDS ou IL encaixavam. Por esta altura do campeonato, se para ver o Chega longe tivermos que aturar o Nuno Melo, até se pode considerar um mal menor.

    Fico agora curioso para ver se Luís Montenegro manterá a palavra quando as sondagens forem mais a sério, e, já agora, para perceber que eleitorado mais conseguirá o Chega convencer.

    Terão atingido o pico nas últimas legislativas?

    António Costa

    Eu acho que não. Até considero que as trapalhadas da maioria socialista estão a fazer, essencialmente, campanha eleitoral a favor de André Ventura. Ainda assim, não acredito que sozinho o Chega tenha capacidade de ameaçar a governação. Criada a cerca sanitária, se não for quebrada por ninguém, talvez seja possível viver e reduzir a quantidades de racistas e xenófobos na Assembleia da República.

    A esperança da esquerda reside agora, e curiosamente, nos Liberais. As voltas que a vida dá.

    Também não é um cenário animador, mas entre as trapalhadas do PS, uma coligação entre PSD/IL e qualquer coisa que meta o Chega, apesar de tudo, o cheiro não é o mesmo.

    Tiago Franco é engenheiro de desenvolvimento na EcarX (Suécia)


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.

  • Diana, a destemperança e a irracionalidade

    Diana, a destemperança e a irracionalidade


    Acusações podem ser falsas ou verdadeiras. O grito de alerta pode ser público ou nas instituições adequadas. Todos podemos recorrer aos tribunais para atacar quem nos prejudica ou nos está a causar dolo. Para isso eles existem. O Ministério Público pode ser chamado a filtrar algumas das acusações, mas não impede o cidadão de se constituir assistente num processo e avançar, embora com custas.

    O que não gosto?

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    Não gosto de ver acusar pessoas na praça pública como se fossem roupa suja. Não gosto de ver ataques da honorabilidade que podem redundar em inocência, mas nunca mais branca e imaculada, porque a imprensa e a rede social sujam para sempre.

    Atentar contra a honra de outros deve ser uma cerimónia, um gesto de reflexão com avaliação de amigos. Os amigos verdadeiros não se esticam, não empertigam, não gritam mais que o ofendido.

    A Diana usou a rede social sem cuidar do julgamento. Juntaram-se milhares de pessoas aos gritos do aprendiz de cirurgião, envolvendo as suas emoções, suas circunstâncias, sem cuidar de reflectir, de colocar dúvidas ou de seguir a lógica: inocente até prova em contrário, in dubio pro reo.

    Dezenas de jovens médicos (no triste espectáculo que muitas vezes é o lugar “médicos unidos”) solidarizaram os seus dramas, suas vivências, seus egos narcísicos e pouco humildes com uma história que desconhecem. A boçalidade veio à rua vestida de bata, com estetoscópio aos ombros.

    doctor holding red stethoscope

    Acusações a colegas são legítimas, são necessárias, mas devem decorrer nos lugares certos. Este costume de mal dizer, como agora experimenta o Professor Boaventura de Sousa Santos e outros catedráticos de Coimbra, acarreta um problema psiquiátrico de colagem do eu ao que acabamos de ouvir. “Parece mesmo a história que me emociona e eu vivi”.

    Pumba! Lá estão todos solidários e aos gritos. Boaventura está a comer de um prato que a esquerda adora – o insulto aos adversários políticos, a ofensa gratuita, a mentira abaixo da cintura. Bolsonaro, Trump, Ventura, sabem do que estou a falar. Claro que Lula, António Costa, Seguro já beberam deste cálice também.

    Pode ser que as acusações tenham fundamento, não duvido que algumas tenham lógica, mas pela vida de trinta anos de cirurgia posso garantir que já vi inábeis com grandes sucessos, gente cheia de conhecimento e habilidades ter rotundos fracassos.

    A Medicina não é uma ciência exacta, e não é verdade que aquilo que as pessoas afirmam corresponda a má prática. A maioria das queixas em saúde devem-se à forma como se fala, ou por tempos de espera – e nada disso é Medicina.

    medical professionals working

    A realidade exposta pelo Professor Villaverde Cabral é que “os que pior dizem do SNS nunca o utilizaram”. A verdade também é que mais de 95% das queixas contra médicos em tribunal se mostraram infundadas, sendo uma decisão que não envolve corporativismo. Também é verdade que mais de 95% das pessoas que usaram o SNS se referiram elogiosamente em inquéritos.

    Quanto mais grave a doença melhor a aferição. A verdade é que a sorte e o azar existem. A realidade é que, muitas vezes, o melhor é não causar dano.

    Não sou corporativo, e até sou demasiado conhecido e visado por ser incómodo, e por tudo isso, estou aborrecido com o que se está a passar em Faro, com o protagonismo que a desorientada comunicação social dá a esta Diana, e com o que estão a fazer com Boaventura Sousa Santos de quem já escrevi duras críticas.

    O problema está na inocência – imaginem, por um segundo, a quantidade de mentiras que já brotaram de divórcios. Lembrem-se durante um curto tempo dos inocentes que Portugal encarcerou sem razão alguma. Reflictam sobre a possibilidade de alguém vos fazer o mesmo. Basta entrar sozinho num elevador com uma maluca que se ponha aos gritos e estás acusado de assédio. Basta um tipo gritar que maltratas o teu cão e o mundo incendeia-se.

    grayscale photography of woman praying while holding prayer beads

    Aquilo que me doeu mais foi a quantidade de gente sofrida, cheia de azedume, que se solidarizou sem qualquer freio ou cuidado com esta jovem. Todos os textos e discursos desta médica são de uma moralidade que não lhe pertence.

    Ninguém é a defesa da moral alheia, ninguém é a fronteira do bem e do mal, ninguém é a garantia da qualidade, ninguém consegue o erro zero. A humildade devia chover sobre esta gente que transporta regadores de trampa nas casas alheias. Talvez um pouco de senso e reflexão, dissolvidos como açúcar na humildade desse jeito também. 

    Já agora dizer que as declarações mais lúcidas, assertivas que ouvi foram do Carlos Cortes, bastonário da Ordem dos Médicos.

    Diogo Cabrita é médico


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.

  • Ga-jas

    Ga-jas

    Uma luz solar minúscula, que não passa de um de um dos cem mil sóis da nossa galáxia, será dificilmente detectada. E a nossa galáxia é um dos mil milhões de galáxias, rodando a velocidades que excedem a velocidade da luz – até que cada galáxia acaba por arder, para ser substituída pelas novas galáxias que preservam o equilíbrio desta dança.
    Timothy Leary
    THE SEVEN TONGUES OF GOD, 1965


    Deixei-vos, na última semana, prestes a começar a ouvir o monólogo improvisado de um actor com um grave problema oncológico, que veio viver aqui para Estremoz com o filho de quatro anos, Miguel, a quem tenciona dedicar este seu último trabalho. Gonçalo estudou Shakespeare em Londres, especializou-se nos seus monólogos, recebeu críticas entusiásticas e ovações em pé. Quando voltou para Portugal foi devidamente ostracizado, como o País tanto gosta de fazer aos que se destacam no estrangeiro sem a ajuda de ninguém. Nunca se queixou. Aceitou papéis parvos em novelas e participações em reality-shows, continuando a trabalhar na sua arte, mas agora em português, aperfeiçoando cada vez mais o estilo e aguardando a hora certa. Ao saber-se gravemente doente veio viver para uma rua perto da minha, e decidiu começar a falar de Pai para Filho. Convidada a assistir ao primeiro improviso, sentei-me silenciosamente ao lado do Miguel, também ele muito atento na sua cadeirinha, liguei o gravador, e ouvi o monólogo delicioso que aqui partilho convosco.


    “Querido Miguéu,” começou o Gonçalo num tom firme mas carinhoso, sem qualquer teatralidade, “por favor, ouve o teu Pai. Tens mesmo que ouvir o Pai agora, porque a seguir ninguém vai ter tomates para te dizer tudo isto, por muito que tudo isto seja verdade.”

    Embora falasse sem qualquer esforço aparente, havia no seu tom de voz qualquer coisa de tal forma dramática que o Miguel ficou imóvel, de boca aberta, a olhar para o Pai.

    “Quando fores um homem crescido”, continuou o Gonçalo, “por favor, promete-me que vais ter muito cuidado com o pior que pode haver, meu querido filho. Sabes o que é o que pior que pode haver, para um crescido, Miguel? O Pai diz-te. O pior que pode haver é não nos defendermos a tempo e depois sermos vítimas deste Género… deste cerco constante deste Género… sei lá, desta porcaria deste circo deste Género Feminino. Tu vais ver. Juro-te, é que tu vais mesmo ver! Cresce só mais uns aninhos, que vais logo ver! Tem cuidado, Bebé. Nunca oiças nada do que elas te disserem. Se por acaso ouvires mesmo alguma coisa, esquece-te logo do que foi. E, sobretudo, nunca respondas a nada do que elas te perguntarem, porque nunca hás-de conseguir responder-lhes o que elas queriam ouvir, e te garanto que não há ninguém neste mundo que saiba verdadeiramente o que é que elas querem ouvir, assim para cada contexto, para cada momento, até para qualquer porra de qualquer fotografia. Nem se respira. Tu tens é que ser bruto, mas mesmo um ganda bruto, porque, assim como assim, mais cedo ou mais tarde, elas vão TODAS, SEMPRE, acabar por te acusar de seres um ganda bruto. Então olha, goza-te bem disso. Deixa-lhes sempre a puta da cama por fazer. Esquece-te sempre de limpar o raio que o parta do lavatório depois de te barbeares. Vê se consegues deixar sempre a tampa da retrete para cima, porque nunca ninguém disse que elas é que têm o direito de mandar na casa de banho. E, se puderes, deixa todos os dias imensas palavras por dizer. Todos os dias, mesmo. Convictamente. Deliberadamente. Como se fosse uma religião. Não se pode dar qualquer espécie de confiança a uma GA-JA quando se quer passar bem e viver em paz.

    Miguel, animadíssimo com a animação crescente do Pai, deu um murro na mesinha da sua cadeirinha alta de bebé e repetiu, todo enfático,

    “Uma GA-JA!”

    Gonçalo fez-lhe um grande sorriso, muito orgulhoso dos seus ensinamentos e da boa recepção do Miguel. Respirou fundo, bebeu um copo de água, piscou o olho ao Filho, e prosseguiu.

    O meu Pai, José Pinto Correia
    Tinha seis ga-jas lá em casa, portanto imagina-se o que terá sofrido.

    “Então vá, Miguéu. Muita atenção, agora, boa? É importante. Vamos mas é a uma boa CENA DE GAJOS, porque por hoje já tivemos toneladas de paciência para os números delas, e portanto já temos todo o direito de curtir sem ter que dar explicações a ninguém.”

    “Querido filhote, alguma vez te disse qual é a especialidade do teu Pai? O Pai é um actor de Shakespeare. E o seu melhor sempre foram os monólogos. E portanto, como já te dei os meus conselhos mais importantes e depois não sei se depois ainda te volto a ver, aqui vai um Monólogo de Shakespeare, improvisado só para ti.”

    Céus. Afinal nada daquilo, e aquilo já tinha sido do caraças, era ainda o monólogo. Era “apenas” o prólogo do monólogo. Em certa medida, fôra o prólogo porque se notava que Gonçalo ficava cansado com facilidade: não conseguia tirar a mão do fundo das costas, sentou-se ao meu lado para respirar fundo e tomar dois opióides valentes, aproveitou para esvaziar toda a garrafa de água, e só quando eu lhe perguntei se queria que fosse buscar-lhe outra é que se lembrou que eu também estava ali. Riu-se, disse que sim, agarrou avidamente na garrafa de litro e meio que eu lhe trouxe do frigorífico, e entretanto já estava o Miguéu a fazer uma birra porque queria mais.

    “Devias falar sentado”, sugeri eu.

    “Monólogos de Shakespeare sentado? Não, não posso, sentado não consigo. Só preciso de respirar um bocado e esperar que os comprimidos façam efeito. Conta tu uma história qualquer ao puto para ele estar sossegado entretanto, pode ser?”

    Claro que podia ser. Cansado, doente, ignorado pelo seu país, escondido do caos do mundo numa casinha de Estremoz, o Gonçalo tinha ali uma audiência captiva.

    Clara Pinto Correia é bióloga, professora universitária e escritora