Se entro e ainda está fresco, é doce o cheiro. Sinto a água, ainda no embrulho, recordações de infância trazem-me o barulho de lama, debaixo dos pés, gotas, soltas, sujas, terra, pó, areia.
Traço 1 para 4. Traço 1 para 2.
Existem números desenhados a branco, ali, no cimento. Não os vemos, mas eles estão lá (junto ao ferro), não os entendo, mas eles já se levantam (junto ao osso).
Nervuras de férreo metal, incrustadas com cimento, já petrificado; as mãos do teimoso que recusa as luvas, a pele a queimar. O cimento tudo come, come a água até de nós. E à medida que seca, na nervura do teu pescoço, endurece as circulações e impede o ar chegando à mente.
Em apneia (e a água por ele a ser bebida).
Cimento há em que lhe puseram conchas de mar, lá… sal, mais praia.
Cimento fica que começa a romper (fissurar), o estalo a percorrer o eixo à procura de uma água da juventude, que por mais voltas jamais regressa. Chegou ao fim.
O curioso mundo do cimento – e do betão, que se arma, que se armam em pedra, sem o ser. Não os entendo muito bem: são, para mim, construções de lama, com números brancos escondidos, e o senhor engenheiro a fazer troça de mim.
Mas é, afinal, uma caixa de madeira que o embrulha, para a existência, precisa da mãe-árvore para nascer.
Mas a talocha, o afago, a meiguice de emassar, até o nível soluçar a sua bolha, apenas quando o retiramos… aí, sim, sinto carinho; aí, sim, sinto escultura.
Que trabalho, que pesado, que suado.
Reboco. Fino, areado, delgado.
Reboco.
Andamos todos a emassar cimento, fissurado.
Mariana Santos Martins é arquitecta
N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.
Aquilo que aconteceu em Loures, no Hospital Beatriz Ângelo, está a acontecer no país inteiro: doentes esperam horas em Urgências, cada vez em menor número, para encontrar soluções que careciam de camas, cada vez em menor número, com patologias cada vez mais difíceis de estabilizar sem internamentos.
Também me recordo da decisão do Partido Socialista (PS) de reverter aquela parceria público-privada (PPP) convertendo a casa num problema, onde antes não existia. Também é verdade que aquilo que se passou está directamente relacionado com a idade/saúde dos doentes: pessoas de 95 anos não têm, neste país, um envelhecimento saudável e muitas estão gravemente doentes, e portanto é normal que possam morrer a qualquer momento.
A esperança média de vida dos homens portugueses ronda os 80 anos. Anormal é não morrer a partir dessa idade. Anormal é pensar que vamos viver eternamente. Anormal é não se aconchegar quem sofre. Anormal é não se evitar transferências de doentes devido à área de residência. Se morresse onde aportou doente, sendo atendido com brevidade, nada era escandaloso nem enchia noticiários.
Depois há um bombeiro a incendiar os telejornais, porque não usaram as suas capacidades. Uma pessoa da saúde que se lança nos meios de comunicação para demonstrar as suas convicções, devia ter caminho rápido para a rua do seu trabalho, note-se bem, pago pelo Estado. Portanto, temos uma política de saúde que conduz a mortes nos hospitais e às portas destes. Mas votámos em maioria quem já governa há oito anos ainda a falar do Passos Coelho.
A opção de encerrar para poupar dinheiro foi uma escolha escolar, uma opção de ministros e de políticos que não compreendem o país dos 650 euros por mês. Ninguém consegue sobreviver sozinho com salários indignos que se perpetuam para garantir os erros políticos, como seja:
1 – Fechar as centrais elétricas (seis mil milhões de euros);
3 – Encarniçar o apoio ao BES (talvez dez mil milhões de euros, se incluirmos PT, Banco Novo, etc.);
4 – Persistir com as perdas fiscais/económicas por termos um tribunal administrativo ineficiente e de prescrições garantidas (talvez mais de quinze mil milhões euros);
5 – A manutenção de milhares de lugares ineficientes na Função Publica (talvez outros cinco mil milhões de euros), através do subsídio de fundações falidas, entidades inadequadas e outros chupismos do grande odre que é o Estado;
6 – Perdas no IVA de empresas milionárias como a EDP (centenas de milhões de euros na venda das barragens;
7 – Perdões fiscais e indultos a grandes devedores do Estado;
8 – Ausência de políticas atractivas para as empresas que não querem pagar o IRC em Portugal (talvez mais de 20 mil milhões de euros).
No mês de Setembro, o Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra encerra a enfermaria F nos Covões e, portanto, vai reduzir dezasseis camas, juntando-se às mais de 200 que já se reduziram nos últimos 10 anos. Mas essas camas tinham ocupações zero? Não, estavam sempre cheias.
Portanto, isto é um F às pessoas.
É uma expressão, uma interjeição do poder sobre os doentes: que se F.
A política de converter a capacidade de trabalho dos profissionais de saúde em tibieza, em negligência forçada, em fio da navalha com altas precoces, adiamento de internamentos.
Tudo tem consequências e tudo acarreta dor e desconforto sobretudo ao grupo dos 650 euros. Onde vais tratar-te? Onde vais esperar pela vaga? Onde vais curar-te?
Vai-te F.
Diogo Cabrita é médico
N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.
Em Portugal, em apenas um ano, terão morrido em excesso, segundo os cálculos que fiz para a notícia de ontem do PÁGINA UM, 60 jovens com idades entre os 15 e os 24 anos. Desconhece-se as causas dessas mortes porque as autoridades não as querem estudar. Não terão sido “espectaculares”, mediáticas. Foram uma hoje, outra daqui a uns dias. Silenciosas. Não foram acidentes com sangue e dor.
Tenho apenas uma certeza: com investigação e sem medos de descobrir verdades inconvenientes, algumas poderiam ter sido evitáveis. E depende de nós evitar outras, no futuro. Até porque a tendência de excesso de mortes entre jovens – e que não tem paralelo em outros grupos etários próximos – já se descortinava, como o PÁGINA UM revelou no ano passado, desde meados de Setembro de 2022.
Um dos grandes dramas deste tipo de temas – gravíssimos – é não terem rostos concretos, nomes sequer. Um autocarro de 60 jovens, com nomes e vidas concretas, a despenhar-se por falta de manutenção de uma estrada daria investigações, demissões, processos judiciais, um sem-número de notícias.
Mas as 60 mortes apontadas pelo PÁGINA UM não passam de um número vago, ainda mais uma estimativa, mesmo se obtida através de números concretos: aquele número – 60 – é mesmo relativo a jovens reais, que morreram mesmo, e que somando aos restantes dão um excesso; esse excesso inexplicável.
E devia ter explicação. Tem de ter explicação. Procurar a causa de uma morte não tem um objectivo de voyeurismo nem fará ressuscitar ninguém nem necessariamente responsabilizar alguém – tem como principal desiderato detectar alguma anomalia para a corrigir. Para salvar outros, para que não tenham o mesmo triste destino.
Não investigar só porque se podem surgir verdades politicamente inconvenientes é um crime tão mais grave do que o homicídio.
Quis escrever um editorial para apelar à maior sensibilização do excesso de mortes de jovens, mas que não têm rosto, porque não se estudam causas nem sequer oficialmente se quer quantificar. Mas como?
Estes jovens que perderam a vida eram reais: tinham nomes e família, e uma vida pela frente. Mas quem eram eles? Quem são os 60 em excesso? Como lhes dar um rosto, um nome, uma vida pela frente que poderiam ter e perderam sem glória, porque até esquecidos são. Nem servem para que se saiba o que lhes aconteceu para que outros não lhe tomem o caminho.
Lembrei-me assim de recorrer à inteligência artificial.
Pedi ao ChatGPT – alguma utilidade tem, embora necessitando do meu apoio e edição – e pedi-lhe para sugerir, ficcionando, nomes completos, com dois nomes próprios e dois apelidos para cada um, com a indicação das respectivas idades, entre os 15 e os 24 anos, inclusive, com o local onde viviam, e o que faziam e também o que teriam feito se tivessem vivido até aos 80 anos.
E depois dei indicações ao Midjourney para, com os dados e a biografia, dar rostos a estes “rostos ignorados”.
São “estes” então os 60 jovens que “morreram” em excesso “escolhidos” assim com ajuda de inteligência artificial – e feito deste modo, porque as autoridades políticas e de Saúde não nos querem dar os rostos reais de uma tragédia da qual, nem que seja pelo silêncio ou inacção, somos também responsáveis.
Marta Isabel Rodrigues Horácio
Idade: 20 anos
Local: Bragança
Ocupação: Estudante de Biologia
Biografia: Marta era uma jovem entusiasta da Natureza e da Conservação. Ela sonhava em se tornar uma bióloga marinha e trabalhar para proteger os oceanos. Ao longo dos anos, ela teria se dedicado à pesquisa de espécies marinhas ameaçadas e teria liderado várias campanhas de consciencialização sobre a poluição dos mares.
Marta Isabel Rodrigues Horácio, imaginada pelo Midjourney.
Diogo Miguel Pereira Mourão
Idade: 18 anos
Local: Beja
Ocupação: Estudante secundário
Biografia: Diogo era um jovem talentoso e apaixonado por música. Ele tocava guitarra e tinha uma voz incrível. Ele sonhava em seguir carreira na música e compor suas próprias canções. Ao longo dos anos, ele teria lançado álbuns aclamados e se apresentado em palcos ao redor do Mundo.
Diogo Miguel Pereira Mourão, imaginado pelo Midjourney.
Mariana Beatriz Seabra Martinha
Idade: 19 anos
Local: Covilhã
Ocupação: Estudante de Ciências Farmacêuticas
Biografia: Mariana era uma jovem determinada e dedicada à Ciência. Ela se formou em Farmácia e estava comprometida em melhorar a saúde da comunidade. Com o tempo, ela teria se destacado como pesquisadora e contribuído para importantes avanços na área dos medicamentos.
Mariana Beatriz Seabra Martinha, imaginada pelo Midjourney.
Rafael Pedro Martins Pizarro
Idade: 21 anos
Local: Loulé
Ocupação: Estudante de Educação Física
Biografia: Rafael tinha um amor inabalável pelo desporto e pelo movimento. Ele estava estudando para se tornar um professor de Educação Física e queria inspirar jovens a adoptarem um estilo de vida saudável. Ele teria criado programas desportivos para crianças e adultos e se tornado um mentor para muitos.
Rafael Pedro Martins Pizarro, imaginado pelo Midjourney.
Maria Virgínia Fernandes Costa
Idade: 17 anos
Local: Arouca
Ocupação: Estudante do Secundário
Biografia: Maria era apaixonada pela História e pela Antiguidade. Ela desejava estudar Arqueologia e tinha o desejo de desvendar os segredos do passado. Ao longo dos anos, ela teria participado de escavações importantes e contribuído para o entendimento da cultura de sua região.
Maria Virgínia Fernandes Costa, imaginada pelo Midjourney.
André Filipe Martins Rodrigues
Idade: 22 anos
Local: Caldas da Rainha
Ocupação: Estudante de Engenharia Civil
Biografia: André tinha uma paixão por construir desde criança. Ele sonhava em projectar pontes e edifícios inovadores que pudessem resistir ao tempo. Com o passar dos anos, ele teria se tornado um engenheiro renomado, responsável por projetos icónicos que marcariam a paisagem urbana.
André Filipe Martins Rodrigues, imaginado pelo Midjourney.
Ana Camila Costa Froes
Idade: 15 anos
Local: Idanha-a-Nova
Ocupação: Estudante do Secundário
Biografia: Ana era uma alma sensível e empática. Ela sonhava em se tornar psicóloga para ajudar as pessoas a superar suas dificuldades emocionais. Ao longo dos anos, ela teria aberto sua própria clínica e oferecido apoio a muitos que buscavam orientação.
Ana Camila Costa Froes, imaginada pelo Midjourney.
Ricardo Miguel Carneiro Lima
Idade: 24 anos
Local: Vila Real
Ocupação: Fotógrafo
Biografia: Ricardo tinha um olhar artístico único desde jovem. Ele se apaixonou pela fotografia e buscava capturar a beleza nas coisas comuns. Com o tempo, ele teria viajado pelo Mundo, documentando culturas e paisagens diversas, deixando um legado de imagens inspiradoras.
Ricardo Miguel Carneiro Lima, imaginado pelo Midjourney.
Maria Alice Sarmento Sousa
Idade: 23 anos
Local: Lisboa
Ocupação: Estudante de Astronomia
Biografia: Maria Alice tinha os olhos voltados para as estrelas desde criança. Ela sonhava em explorar o cosmos e descobrir os segredos do Universo. Ao longo dos anos, ela teria contribuído para importantes avanços na Astronomia e inspirado futuras gerações de cientistas.
Maria Alice Sarmento Sousa, imaginada pelo Midjourney.
João Pedro Oliveira Vilhena
Idade: 20 anos
Local: Nazaré
Ocupação: Estudante de Biologia Marinha
Biografia: João tinha uma conexão profunda com o oceano. Ele sonhava em proteger a vida marinha e os ecossistemas costeiros. Ao longo dos anos, ele teria liderado expedições de pesquisa e campanhas de conscientização para preservar os mares que tanto amava.
João Pedro Oliveira Vilhena, imaginado pelo Midjourney.
Miguel Filipe Gregório de Freitas
Idade: 17 anos
Local: Lisboa
Ocupação: Estudante secundário
Biografia: Miguel tinha um espírito aventureiro desde criança. Ele sonhava em explorar o Mundo e documentar suas jornadas por meio da escrita e da fotografia. Com o tempo, ele teria escrito livros inspiradores sobre suas viagens e incentivado outros a explorarem novos horizontes.
Miguel Filipe Gregório de Freitas, imaginado pelo Midjourney.
Débora Maria Seabra Tochas
Idade: 20 anos
Local: Sintra
Ocupação: Estudante de História da Arte
Biografia: Débora tinha uma paixão pela Arte e pela História desde pequena. Ela sonhava em se tornar uma historiadora de Arte e compartilhar seu conhecimento sobre as obras e os artistas que a encantavam. Ao longo dos anos, ela teria trabalhado em museus importantes e seria curadora de exposições significativas.
Débora Maria Seabra Tochas, imaginada pelo Midjourney.
Tiago Miguel Oliveira e Silva
Idade: 22 anos
Local: Tavira
Ocupação: Estudante de Biomedicina
Biografia: Tiago tinha um desejo fervoroso de contribuir para a saúde das pessoas. Ele sonhava em fazer descobertas médicas que pudessem salvar vidas. Com o tempo, ele teria realizado pesquisas inovadoras e desenvolvido tratamentos que melhoraram a qualidade de vida de muitos.
Tiago Miguel Oliveira e Silva, imaginado pelo Midjourney.
Carolina Inês Rocha Coutinho
Idade: 19 anos
Local: Ponte de Lima
Ocupação: Estudante de Filosofia
Biografia: Carolina tinha uma mente curiosa e questionadora. Ela sonhava em explorar as profundezas da filosofia e estimular conversas significativas. Ao longo dos anos, ela teria escrito livros que desafiaram o pensamento convencional e inspirado muitos a refletirem sobre a vida.
Carolina Inês Rocha Coutinho, imaginada pelo Midjourney.
João Pedro Silva Santos
Idade: 21 anos
Local: Lisboa
Ocupação: Estudante de Engenharia Civil
Biografia: João tinha uma mente analítica e criativa. Ele sonhava em projectar estruturas que resistissem ao teste do tempo. Com o tempo, ele teria deixado sua marca em pontes e edifícios emblemáticos que se tornaram parte da paisagem urbana.
João Pedro Silva Santos, imaginado pelo Midjourney.
Sofia Mariana Almeida Simões
Idade: 20 anos
Local: Sesimbra
Ocupação: Estudante de Arquitetura
Biografia: Sofia tinha uma imaginação vívida desde a infância. Ela sonhava em criar espaços que pudessem inspirar e influenciar as vidas das pessoas. Ao longo dos anos, ela teria projectado edifícios que combinavam forma e função de maneira única, transformando paisagens urbanas.
Sofia Mariana Almeida Simões, imaginada pelo Midjourney.
Ricardo Manuel Santos Martins
Idade: 24 anos
Local: Cascais
Ocupação: Fotógrafo de Natureza
Biografia: Ricardo tinha uma conexão profunda com o mundo natural. Ele sonhava em compartilhar a beleza da Natureza por meio de suas fotografias. Com o tempo, ele teria capturado imagens impressionantes de animais selvagens e paisagens intocadas, inspirando a conservação ambiental.
Ricardo Manuel Santos Martins, imaginado pelo Midjourney.
Lídia Maria Ribeiro Brandão
Idade: 21 anos
Local: Miranda do Douro
Ocupação: Estudante de Línguas e Culturas Estrangeiras
Biografia: Lídia tinha uma paixão por explorar diferentes culturas e línguas. Ela sonhava em ser uma ponte entre diferentes comunidades. Ao longo dos anos, ela teria viajado extensivamente, aprendido e ensinado línguas e promovido a compreensão intercultural.
Lídia Maria Ribeiro Brandão, imaginada pelo Midjourney.
Pedro Miguel Nogueira Araújo
Idade: 19 anos
Local: Viana do Castelo
Ocupação: Estudante de Ciências da Computação
Biografia: Pedro tinha um fascínio por tecnologia e inovação desde jovem. Ele sonhava em criar soluções tecnológicas que facilitassem a vida das pessoas. Com o tempo, ele teria desenvolvido aplicativos e programas que transformaram a maneira como interagimos com o mundo digital.
Pedro Miguel Nogueira Araújo, imaginado pelo Midjourney.
Carla Alexandra Lopes da Silva
Idade: 18 anos
Local: Óbidos
Ocupação: Estudante secundária
Biografia: Carla tinha um coração generoso e sempre estava disposta a ajudar os outros. Ela sonhava em trabalhar em projectos de voluntariado para causas sociais. Ao longo dos anos, ela teria se envolvido em organizações que faziam a diferença na vida das pessoas menos favorecidas.
Carla Alexandra Lopes da Silva, imaginada pelo Midjourney.
Miguel Diogo Braga Temido
Idade: 20 anos
Local: Marinha Grande
Ocupação: Estudante de Biologia Marinha
Biografia: Miguel tinha um amor profundo pelo oceano e suas criaturas. Ele sonhava em mergulhar nas profundezas e descobrir novas espécies marinhas. Ao longo dos anos, ele teria liderado expedições de pesquisa e contribuído para a preservação dos ecossistemas marinhos.
Miguel Diogo Braga Temido, imaginado pelo Midjourney.
Ângela Sofia Fernandes Mateus
Idade: 21 anos
Local: Figueira da Foz
Ocupação: Estudante de Medicina
Biografia: Ângela tinha um chamamento para cuidar dos outros desde jovem. Ela sonhava em ser médica para aliviar o sofrimento das pessoas. Ao longo dos anos, ela teria se especializado em Oncologia Pediátrica, oferecendo esperança e cura a crianças e suas famílias.
Ângela Sofia Fernandes Mateus, imaginada pelo Midjourney.
Telmo Joaquim Pinto Santiago
Idade: 19 anos
Local: Mafra
Ocupação: Estudante de Engenharia Ambiental
Biografia: Telmo tinha uma profunda preocupação com o Ambiente desde criança. Ele sonhava em criar soluções sustentáveis para os desafios globais. Com o tempo, ele teria liderado projetos de reciclagem e conservação que contribuíram para um mundo mais verde.
Telmo Joaquim Pinto Santiago, imaginado pelo Midjourney.
Filipa Alexandra Bacelar Rebelo
Idade: 22 anos
Local: Porto
Ocupação: Professora de Educação Infantil
Biografia: Filipa tinha um amor especial pelas crianças e pelo aprendizado. Ela sonhava em ser professora para inspirar as gerações futuras. Ao longo dos anos, ela teria criado um ambiente acolhedor para suas crianças, ajudando-as a descobrir o mundo com curiosidade.
Filipa Alexandra Bacelar Rebelo, imaginada pelo Midjourney.
Francisco Manuel Martins Alves
Idade: 18 anos
Local: Nazaré
Ocupação: Estudante secundário
Biografia: Francisco tinha um espírito alegre e uma paixão pela música desde jovem. Ele sonhava em ser músico e compartilhar sua alegria por meio das notas. Com o tempo, ele teria formado uma banda que trouxe harmonia e felicidade para muitos.
Francisco Manuel Martins Alves, imaginado pelo Midjourney.
Liliana Maria Ribeiro Oliveira
Idade: 23 anos
Local: Sintra
Ocupação: Professora de Artes
Biografia: Liliana tinha um dom criativo desde jovem. Ela sonhava em inspirar outros por meio da Arte. Ao longo dos anos, ela teria ensinado a próxima geração a expressar-se artisticamente e a ver o mundo de maneira única.
Liliana Maria Ribeiro Oliveira, imaginada pelo Midjourney.
Ricardo Miguel Herdeiro Marmoto
Idade: 21 anos
Local: Coimbra
Ocupação: Estudante de Engenharia Electotécnica
Biografia: Ricardo sempre esteve intrigado pela eletricidade e inovação. Ele sonhava em desenvolver tecnologias que tornassem o Mundo mais eficiente e sustentável. Ao longo dos anos, ele teria liderado projetos de energias renováveis que transformaram a matriz energética do país.
Ricardo Miguel Herdeiro Marmoto, imaginado pelo Midjourney.
Cláudia Eduarda Castanheira Marques
Idade: 19 anos
Local: Tavira
Ocupação: Estudante de História
Biografia: Cláudia tinha uma paixão pela História desde criança. Ela sonhava em descobrir os segredos do passado e compartilhar essas histórias com outros. Ao longo dos anos, ela teria se tornado uma historiadora renomada, recontando eventos passados de maneira cativante.
Cláudia Eduarda Castanheira Marques, imaginada pelo Midjourney.
Beatriz Maria Godinho Ribeiro
Idade: 20 anos
Local: Sertã
Ocupação: Estudante de Engenharia Mecânica
Biografia: Beatriz tinha um talento natural para desmontar e montar objectos desde jovem. Ela sonhava em criar máquinas inovadoras que pudessem mudar o Mundo. Ao longo dos anos, ela teria projetado dispositivos revolucionários que facilitariam a vida das pessoas.
Beatriz Maria Godinho Ribeiro, imaginada pelo Midjourney.
Marta Filipa Gaspar Alemão
Idade: 16 anos
Local: Cascais
Ocupação: Estudante secundária
Biografia: Marta tinha uma voz poderosa e uma paixão pela justiça social. Ela sonhava em usar sua voz para defender os direitos dos menos privilegiados. Ao longo dos anos, ela teria se envolvido em movimentos sociais e usado sua música para inspirar mudanças positivas.
Marta Filipa Gaspar Alemão, imaginada pelo Midjourney.
Renato Alexandre Piçarra Ganhão
Idade: 22 anos
Local: Reguengos de Monsaraz
Ocupação: Estudante de Biologia
Biografia: Renato tinha uma profunda conexão com a Natureza desde criança. Ele sonhava em explorar os ecossistemas mais remotos do mundo. Ao longo dos anos, ele teria liderado expedições de pesquisa e contribuído para a preservação da biodiversidade.
Renato Alexandre Piçarra Ganhão, imaginado pelo Midjourney.
Leonor Maria Melo França
Idade: 21 anos
Local: Lisboa
Ocupação: Estudante de Arqueologia
Biografia: Leonor era fascinada pelo passado e pelo mistério das civilizações antigas. Ela sonhava em desenterrar segredos esquecidos e compartilhar a História da Humanidade. Ao longo dos anos, ela teria feito descobertas arqueológicas importantes e enriquecido o conhecimento sobre o passado.
Leonor Maria Melo França, imaginada pelo Midjourney.
Jaime Filipe Garcia Paixão
Idade: 19 anos
Local: Aljezur
Ocupação: Estudante de Ecologia
Biografia: Jaime tinha uma paixão pelo estudo dos ecossistemas e pela conservação da vida selvagem. Ele sonhava em criar um mundo onde humanos e Natureza coexistissem harmoniosamente. Ao longo dos anos, ele teria liderado campanhas de preservação e educado a sociedade sobre a importância da biodiversidade.
Jaime Filipe Garcia Paixão, imaginado pelo Midjourney.
Madalena Maria Anjos Loureiro
Idade: 18 anos
Local: Cascais
Ocupação: Estudante secundária
Biografia: Madalena tinha um coração generoso e um talento para a escrita desde jovem. Ela sonhava em contar histórias que inspirassem e conectassem as pessoas. Ao longo dos anos, ela teria se tornado uma autora prolífica, compartilhando suas narrativas emocionantes com o mundo.
Madalena Maria Anjos Loureiro, imaginada pelo Midjourney.
João Rafael Sousa Rebelo
Idade: 20 anos
Local: Óbidos
Ocupação: Estudante de Engenharia de Energias Renováveis
Biografia: João tinha um forte senso de responsabilidade ambiental desde jovem. Ele sonhava em criar soluções energéticas sustentáveis para o planeta. Ao longo dos anos, ele teria desenvolvido tecnologias revolucionárias que reduziriam a dependência de combustíveis fósseis.
João Rafael Sousa Rebelo, imaginado pelo Midjourney.
Soraia Maria Santos Peralta
Idade: 21 anos
Local: Sintra
Ocupação: Estudante de Psicologia
Biografia: Soraia tinha uma empatia natural desde criança. Ela sonhava em ajudar as pessoas a superar seus desafios emocionais. Ao longo dos anos, ela teria se especializado em terapia familiar e guiado muitas famílias rumo à cura e à compreensão.
Soraia Maria Santos Peralta, imaginada pelo Midjourney.
José Januário Fernandes Portugal
Idade: 19 anos
Local: Peniche
Ocupação: Estudante de Biologia Marinha
Biografia: José tinha uma ligação profunda com o oceano e suas criaturas desde jovem. Ele sonhava em explorar recifes de coral e contribuir para a conservação marinha. Ao longo dos anos, ele teria liderado projetos para proteger ecossistemas marinhos delicados.
José Januário Fernandes Portugal, imaginado pelo Midjourney.
Rosa Vanessa Miguéis Saraiva
Idade: 20 anos
Local: Oeiras
Ocupação: Estudante de Ecoturismo
Biografia: Rosa tinha um amor pela Natureza e pela viagem. Ela sonhava em promover o turismo sustentável que beneficiasse as comunidades locais e o Ambiente. Ao longo dos anos, ela teria criado experiências de ecoturismo que respeitavam a Cultura e a Natureza.
Rosa Vanessa Miguéis Saraiva, imaginada pelo Midjourney.
Catarina Maria Costa Godinho
Idade: 23 anos
Local: Nazaré
Ocupação: Engenheiro Civil
Biografia: Catarina tinha um olho aguçado para design e construção desde jovem. Ela sonhava em criar edifícios que fossem esteticamente agradáveis e funcionalmente eficientes. Ao longo dos anos, ela teria deixado sua marca em arranha-céus icónicos e estruturas de ponte impressionantes.
Catarina Maria Costa Godinho, imaginada pelo Midjourney.
Andreia Maria Tavares Salles
Idade: 16 anos
Local: Lisboa
Ocupação: Estudante secundária
Biografia: Andreia tinha uma paixão pelo activismo social desde jovem. Ela sonhava em ser uma voz para os menos ouvidos. Ao longo dos anos, ela teria liderado movimentos de justiça social que inspiraram mudanças políticas e sociais significativas.
Andreia Maria Tavares Salles, imaginada pelo Midjourney.
João Miguel Ivo Santos
Idade: 20 anos
Local: Cascais
Ocupação: Estudante de Biologia Marinha
Biografia: João tinha uma ligação profunda com o oceano e seus habitantes. Ele sonhava em compreender os ecossistemas marinhos e combater a poluição. Ao longo dos anos, ele teria liderado campanhas de consciencialização e trabalhado para restaurar habitats marinhos.
João Miguel Ivo Santos, imaginado pelo Midjourney.
Vítor Manuel Gomes Carmo
Idade: 21 anos
Local: Seixal
Ocupação: Estudante de Antropologia
Biografia: Vítor tinha um fascínio pela diversidade cultural desde jovem. Ela sonhava em estudar e preservar tradições culturais únicas. Ao longo dos anos, ela teria viajado pelo Mundo, documentando rituais e histórias que enriqueceriam o conhecimento humano.
Vítor Manuel Gomes Carmo, imaginado pelo Midjourney.
Luís Paulo Patrício Belchior
Idade: 18 anos
Local: Nazaré
Ocupação: Estudante secundário
Biografia: Luís tinha uma paixão por Ciência e inovação. Ele sonhava em se tornar um cientista renomado, fazendo descobertas que melhorassem a vida das pessoas. Ao longo dos anos, ele teria contribuído para avanços significativos em tecnologias de saúde.
Luís Paulo Patrício Belchior, imaginado pelo Midjourney.
Bárbara Maria Vieira Fernandes
Idade: 22 anos
Local: Setúbal
Ocupação: Estudante de Biomedicina
Biografia: Bárbara tinha um desejo de curar desde jovem. Ela sonhava em trabalhar na pesquisa médica para encontrar soluções para doenças complexas. Ao longo dos anos, ela teria liderado equipes que desenvolveriam terapias inovadoras e melhorariam a qualidade de vida das pessoas.
Bárbara Maria Vieira Fernandes, imaginada pelo Midjourney.
João Paulo Godinho Santos
Idade: 19 anos
Local: Oeiras
Ocupação: Estudante de Astronomia
Biografia: João tinha um fascínio pelo espaço e pelas estrelas desde criança. Ele sonhava em desvendar os mistérios do Universo. Ao longo dos anos, ele teria feito descobertas astronómicas revolucionárias e inspirado gerações de cientistas.
João Paulo Godinho Santos, imaginado pelo Midjourney.
Maria Vitória Soares Ribeiro
Idade: 20 anos
Local: Montijo
Ocupação: Estudante de Sociologia
Biografia: Maria Vitória tinha um desejo ardente de entender a sociedade e suas complexidades. Ela sonhava em ser uma voz para os menos privilegiados, analisando as questões sociais e promovendo a igualdade. Ao longo dos anos, ela teria escrito livros influentes e iniciado movimentos de mudança.
Maria Vitória Soares Ribeiro, imaginada pelo Midjourney.
Tiago João Fernandes Cardoso
Idade: 23 anos
Local: Vila Nova de Gaia
Ocupação: Biólogo de Conservação
Biografia: Tiago tinha um amor profundo pela Natureza desde jovem. Ele sonhava em proteger espécies ameaçadas e seus habitats. Ao longo dos anos, ele teria liderado esforços para a preservação da biodiversidade e ajudado a salvar ecossistemas valiosos.
Tiago João Fernandes Cardoso, imaginado pelo Midjourney.
Bruna Fernanda Magalhães Antunes
Idade: 21 anos
Local: Cascais
Ocupação: Estudante de Arquitectura Paisagista
Biografia: Bruna tinha uma afinidade com a beleza natural e o design desde criança. Ela sonhava em criar espaços que unissem a estética humana à natureza. Ao longo dos anos, ela teria projectado jardins e parques que proporcionariam tranquilidade e inspiração.
Bruna Fernanda Magalhães Antunes, imaginada pelo Midjourney.
José Carlos Santiago Santos
Idade: 19 anos
Local: Sesimbra
Ocupação: Estudante de Oceanografia
Biografia: José tinha uma ligação com o mar desde jovem. Ele sonhava em explorar os mistérios das profundezas oceânicas. Ao longo dos anos, ele teria feito descobertas sobre ecossistemas marinhos pouco conhecidos e contribuído para a preservação dos oceanos.
José Carlos Santiago Santos, imaginado pelo Midjourney.
Diana Filipa Barbosa Mendes
Idade: 17 anos
Local: Vila Franca de Xira
Ocupação: Estudante secundária
Biografia: Diana tinha um espírito aventureiro e uma paixão por contar histórias. Ela sonhava em explorar o mundo e escrever sobre suas experiências. Ao longo dos anos, ela teria se tornado uma renomada autora de livros de viagens, transportando leitores para lugares exóticos.
Diana Filipa Barbosa Mendes, imaginada pelo Midjourney.
Laura Joana Vieira de Almeida
Idade: 22 anos
Local: Évora
Ocupação: Estudante de Antropologia
Biografia: Laura tinha um interesse profundo pelas culturas humanas desde jovem. Ela sonhava em viajar o mundo e estudar diferentes modos de vida. Ao longo dos anos, ela teria se tornado uma antropóloga respeitada, contribuindo para a compreensão global.
Laura Joana Vieira de Almeida, imaginada pelo Midjourney.
José Miguel Costa Fernandes
Idade: 20 anos
Local: Mira
Ocupação: Estudante de Agronomia
Biografia: José tinha um amor pela terra e suas colheitas desde criança. Ele sonhava em desenvolver métodos agrícolas sustentáveis. Ao longo dos anos, ele teria se tornado um especialista em agricultura regenerativa, revitalizando solos e comunidades.
José Miguel Costa Fernandes, imaginado pelo Midjourney.
Raquel Filipa Miranda Jorge
Idade: 21 anos
Local: Coimbra
Ocupação: Estudante de Direito
Biografia: Raquel tinha um senso de justiça inabalável desde jovem. Ela sonhava em lutar pelos direitos humanos e promover a igualdade perante a lei. Ao longo dos anos, ela teria se tornado uma advogada renomada, defendendo os oprimidos e inspirando reformas legais.
Raquel Filipa Miranda Jorge, imaginada pelo Midjourney.
João Diogo Fernandes Ribeiro
Idade: 23 anos
Local: Porto
Ocupação: Engenheiro de Software
Biografia: João tinha uma mente analítica e criativa. Ele sonhava em criar aplicativos que facilitassem a vida das pessoas. Ao longo dos anos, ele teria desenvolvido soluções tecnológicas inovadoras que tornariam o quotidiano mais eficiente.
João Diogo Fernandes Ribeiro, imaginado pelo Midjourney.
Carolina Sofia Sampaio e Castro
Idade: 19 anos
Local: Porto
Ocupação: Estudante de Psicologia
Biografia: Carolina tinha um coração compassivo e um desejo de ajudar os outros. Ela sonhava em ser psicóloga infantil, auxiliando crianças a superar desafios emocionais. Ao longo dos anos, ela teria oferecido apoio a jovens em busca de equilíbrio emocional.
Carolina Sofia Sampaio e Castro, imaginada pelo Midjourney.
Ana Maria Gouveia Bettencourt
Idade: 21 anos
Local: Faro
Ocupação: Estudante de Conservação e Restauro
Biografia: Ana tinha um talento para restaurar objetos antigos desde jovem. Ela sonhava em preservar a história através da recuperação de artefactos valiosos. Ao longo dos anos, ela teria restaurado obras de arte e artefactos culturais que contam a história da humanidade.
Ana Maria Gouveia Bettencourt, imaginada pelo Midjourney.
Jorge António Rodrigues Costa
Idade: 20 anos
Local: Câmara de Lobos
Ocupação: Estudante de Astronomia
Biografia: Jorge tinha uma paixão pelo cosmos desde criança. Ele sonhava em desvendar os segredos do universo e inspirar outros a olhar para as estrelas. Ao longo dos anos, ele teria feito descobertas que ampliariam nossa compreensão do espaço sideral.
Jorge Amtónio Rodrigues Costa, imaginado pelo Midjourney.
Clara Maria Bonifácio Matias
Idade: 22 anos
Local: Braga
Ocupação: Estudante de Artes Cénicas
Biografia: Clara tinha um amor pelo teatro e pelo drama desde jovem. Ela sonhava em emocionar e inspirar as pessoas através de suas performances. Ao longo dos anos, ela teria se tornado uma atriz respeitada, dando vida a personagens memoráveis.
Clara Maria Bonifácio Matias, imaginada pelo Midjourney.
João Sérgio Pereira Costa
Idade: 19 anos
Local: Viseu
Ocupação: Estudante de Medicina
Biografia: João tinha uma paixão pelo bem-estar dos outros desde jovem. Ele sonhava em ser médico para aliviar o sofrimento das pessoas. Ao longo dos anos, ele teria se especializado em medicina de emergência, salvando vidas em situações críticas.
João Sérgio Pereira Costa, imaginado pelo Midjourney.
Catarina Inês Fernandes Santos
Idade: 18 anos
Local: Leiria
Ocupação: Estudante secundária
Biografia: Catarina tinha um espírito criativo e uma paixão por escrever desde criança. Ela sonhava em ser autora e compartilhar suas histórias com o mundo. Ao longo dos anos, ela teria escrito romances cativantes que tocariam os corações de leitores de todas as idades.
Catarina Inês Fernandes Santos. imaginada pelo Midjourney.
Nos últimos dias tem feito notícia o veto presidencial à legislação “Mais Habitação” – o nome já diz tudo –, que tem como propósito “solucionar” a grave crise que se vive no mercado imobiliário em Portugal.
Efectivamente, o cenário é dramático: os preços das casas e dos arrendamentos sobem a ritmos sem precedentes; as prestações ao banco praticamente duplicaram no espaço de um ano, em resultado da subida das taxas de juro pelo Banco Central Europeu (BCE); a alta de preços é agravada pela entrada descontrolada de um enorme contingente de estrangeiros, muitos deles utilizados como mão-de-obra escrava por empresários sem quaisquer escrúpulos.
A inscrição do “direito à habitação” na Constituição da República Portuguesa (CRP) justifica todos os intervencionismos. Na verdade, não se trata de um direito, mas simplesmente de um bem económico. Esta confusão entre direitos e bens económicos é aproveitada pela casta parasitária e está na origem de todas as crises.
Os verdadeiros direitos têm um carácter negativo: os denominados direitos naturais. Tenho direito ao fruto do meu trabalho, à liberdade de dispor da minha propriedade, à minha privacidade, à minha personalidade, à minha liberdade – deslocar-me para qualquer parte –, à minha liberdade de expressão, à vida, à liberdade de seleccionar o projecto de vida que julgue melhor.
Em nenhum momento estou a agredir os demais, apenas peço que não interfiram com os meus direitos, com as minhas ambições, sempre que não colidam com os direitos dos demais. Os Estados que melhor protegem estes direitos – até agora, todos falharam clamorosamente neste âmbito, embora em diferentes graus –, são aqueles que proporcionam a maior prosperidade aos seus cidadãos.
Por que razão então “a casa grátis”, a “saúde grátis”, as “escolas grátis” não são direitos?
Marina Gonçalves, ministra da Habitação, à esquerda.
Pela simples razão de se tratarem de bens económicos. Apenas são possíveis pela combinação de recursos provenientes da natureza (terreno e matérias-primas), de bens de capital (máquinas, equipamentos) e do labor humano. Infelizmente, não vivemos no paraíso, onde não existem as leis da escassez. As ideologias totalitárias sempre prometeram este paraíso de abundância, que apenas existe na cabeça de infelizes manipulados.
Para se proporcionar direitos positivos a uma parte da população, como é o caso da “casa grátis”, obrigatoriamente há uma outra parte que será agredida. São múltiplas as agressões que podem ter lugar. Para se obter saúde “grátis”, o médico deverá trabalhar para a população de forma gratuita? O construtor do hospital também? Ou, em alternativa, assalta-se uma parte da população para pagar a saúde dos que têm a felicidade de não serem assaltados?
Veja-se o caso da liberdade de dispor livremente da propriedade: se o Estado impõe o valor da última renda cobrada ao inquilino nos novos contratos de arrendamento, não está a agredir a liberdade negocial do proprietário; ou quando exige que arrenda coercivamente, não está a obrigá-lo a algo contra a sua vontade?
E quando impede um determinado projecto de vida, por exemplo, ao colocar um fim à emissão de licenças de alojamento local a partir de uma determinada data? Não se está a impedir essa actividade àqueles que não as possuem? Não deveria ser o mercado a decidir se os novos empresários vingam? Com o aumento da oferta, de imediato pressiona-se no sentido descendente os preços praticados, tornando menos atractiva a actividade, provocando, por esta via, o ajustamento da oferta à procura.
O que dizer da legalização de uma actividade criminosa para um pequeno grupo de entidades licenciadas pelo Banco Central? Se um simples cidadão decidir imprimir notas em sua casa, o seu destino é a cadeia (artigo 262.º do CPP), enquanto bancos e Bancos Centrais podem fazer contrafacção de moeda com total impunidade, diminuindo, desta forma, o poder aquisitivo – inflação – dos depósitos e notas de cada um.
A agressão permanente aos direitos naturais, usando como pretexto a necessidade de proporcionar direitos positivos à população – saúde “grátis”, casa “grátis”, rendas de favor, estímulos monetários para evitar recessões…–, generaliza a discriminação dos cidadãos perante a lei. Esta deixa de ser cega e igual para todos.
O senhorio passa a receber uma renda inferior àquela que o mercado pratica, incentivando-o a retirar a casa do mercado. O proprietário perde aquilo que é seu, pois é obrigado a arrendar coercivamente. O cidadão de sucesso torna-se um “cidadão de segunda”, sujeitando-se a taxas de tributação de 70% e 80% (IRS, SS empregador e trabalhador, IVA…). O empresário que gostaria de entrar no negócio do alojamento local deixa de o poder fazer, em virtude de não se emitirem mais licenças. Neste contexto, a lei torna-se injusta e discrimina permanentemente.
À boleia do populismo dos direitos positivos, em que se rouba uma minoria para distribuir migalhas pelas massas e obter o seu voto, a casta parasitária manipula a sociedade para nos colocar todos contra todos. Os “malvados dos ricos”, os “malvados dos proprietários”, os “malvados dos especuladores”, os “malvados dos proprietários”, os “malvados dos negacionistas”, a “malvada evasão fiscal” – na verdade, a legítima defesa de um monstruoso assalto.
Para a sua perpetuação no poder, a casta parasitária recorre à mais vil manipulação, à mais obscena propaganda e uma doutrinação sem quaisquer escrúpulos da população. É a Joaninha e os Impostos para as crianças; a evasão fiscal que impede a ajuda aos “pobrezinhos”, não sendo possível dar-lhes a casa, o emprego, a saúde, a educação, apesar do assalto de 106 mil milhões de Euros, cerca de 10 mil Euros por português; a “necessária justiça social”, uma espécie de Robin dos Bosques, em que se roubam os “ricos” para dar aos pobres, tudo em nome do “bem-comum”, sempre definido por um grupo de tiranos que se acha no direito de decidir as nossas vidas – quem não se recorda dos “especialistas” da putativa pandemia.
No meio desta roubalheira, apenas a casta parasitária prospera. A cada bancarrota estão cada vez mais ricos. A cada crise, as suas contas bancárias e propriedades incrementam exponencialmente. Em paralelo, o pequeno empresário é arruinado em nome do combate ao “vírus”; o aforrador vê a sua propriedade confiscada em nome de “casas grátis” para “os pobres e débeis”; a maioria é obrigada a pagar preços monopolistas a uma minoria com contactos privilegiados junto da casta parasitária, prosperando sistematicamente em negócios que envolvam a partilha do butim; o idoso, que levou todas as “vacinas” pagas a partir do saque, corre o risco de não ter acesso aos mais básicos cuidados de saúde e mesmo morrer; a população com rendimentos fixos é assaltada pela inflação criada pelo cartel bancário, onde a contrafacção de moeda está legalizada – para eles obviamente!
Em conclusão, os direitos positivos propagandeados pela casta parasitária não são mais que uma insidiosa forma de nos ludibriar, confiscar, esbulhar e assaltar com a máxima violência. Apenas nos pedem, todos os dias, que aceitemos tudo isto com um sorriso nos lábios.
Luís Gomes é gestor (Faculdade de Economia de Coimbra) e empresário
N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.
“Escrevo num domingo, manhã alta, num dia amplo de luz suave, em que, sobre os telhados da cidade interrompida, o azul do céu sempre inédito fecha no esquecimento a existência misteriosa de astros…“, assim surge Lisboa retratada no Livro do Desassossego, de Bernardo Soares, pseudónimo de Fernando Pessoa.
E acrescentava o grande poeta: “É domingo em mim também…“
Rua de Santa Catarina (Miradouro do Adamastor).
E em mim também é domingo. E, por isso, caro leitor, neste azulado dia, dei por mim deambulando por esta Lisboa antiga, com supostos toques de modernidade. Porém, cada vez mais porca. Mais feia. Mais má. E a escrever sobre o que vi. E sobretudo sobre o que senti.
Confesso que tenho um defeito: embora costume andar muito em nefelibatices, sigo a praxe de escrutinar o chão, ou aquilo que o rodeia, mais do que esticar o nariz para o céu. Mesmo nos dias como os de hoje: lindos de querer mais.
E, hélas, irrita-me esta Lisboa que me faz sempre recordar o olhar crítico do meu oitocentista amigo Guilherme Centazzi que, no seu romance A alma do justo, publicado em 1861, assim já retratava a capital: “Lisboa, que todos nós estamos vendo, e que os estrangeiros e os vindouros hão-de julgar pelo que lerem… Lisboa (não se faça do preto branco, nem se queira embutir gato por lebre), examinada em globo é uma coisa; em detalhe, é outra. Em globo, ninguém lhe negará aparato, beleza, opulência, grandeza, etc., etc. Em detalhe, de fora para dentro, é tal e qual como esse famigerado siciliano que, no domingo, se paramentava com luzentes vestiduras, sem despir a camisa com que tinha andado a mariscar os anzóis durante a semana. Lisboa, em síntese, é majestosa; em análise, é um covil lastimoso de miséria e lama.“
Eis-me então deambulando hoje por esta Lisboa antiga do século XXI, embora com milhões para limpezas. E que teve mais 614 mil euros em reforço que voaram para uma empresa de trabalho temporário por causa de uma semana de Jornada Mundial da Juventude. Sim, o mesmo município que destinou só para este ano quase 33,8 milhões de euros para a limpeza urbana. Sim, o mesmo município que, em Abril passado, aprovou a transferência de 2,4 milhões de euros até 2025 para as juntas de freguesia da cidade.
Aliás, é sempre muito instrutivo ler os comunicados do Departamento de Marca e Comunicação da autarquia, que nos custará 2 milhões de euros só este ano. Coisa pouca. Na mesma notícia de finais de Abril, assim catalogam os comunicados, escreve alguém desse departamento que “para responder ao aumento da produção de resíduos, provocados pelo turismo, foram ainda aprovados na reunião os contratos interadministrativos para um aumento das rotinas de limpeza urbana, como o despejo de papeleiras e varredura de vias. Estes contratos totalizam 7,858 milhões de euros para as 24 Juntas de Freguesia.”
Rua do Almada, Bica.
E acrescentam ainda que “as Juntas de Freguesia estão na primeira linha de contacto com os lisboetas, verificando as necessidades imediatas nos seus territórios. Neste sentido, há aspetos específicos no setor da higiene urbana, como a recolha de resíduos, que podem ter uma resposta mais rápida e eficaz por parte das juntas.”
Dinheiro não falta. Aliás, parafraseando Almada Negreiros: “Quando eu nasci, as decisões que hão-de limpar as ruas já estavam todas tomadas, só faltava uma coisa – limpar as ruas.”
Eu, morador lisboeta desde os idos de 1994, na antiga freguesia de Santa Catarina, agora Misericórdia, tenho vindo a pedir misericórdia para uma cidade decente, com um pingo de estética e aprumo. Veja-se: não se peça demasiado a autarquias, quer sejamos munícipes quer sejamos fregueses.
Do Governo deve exigir-se mais, muito mais, mas das Câmaras Municipais e das Juntas de Freguesia somente que nos limpem e cuidem do espaço público, e que não chateiem o nosso quotidiano. Na verdade, espera-se deles que, não conseguindo facilitar-nos a vida, pelo menos não a compliquem.
Rua da Bica de Duarte Belo
Ora, durante muitos anos, as autarquias de Lisboa (a mastodôntica e as mais pequeninas), pelo menos não complicavam. Mas também os problemas eram menores. A turba turística que surgiu na última década e meia, que nos traz coisas boas, também as trouxe menos agradáveis, sendo a limpeza urbana uma delas.
Ora, e que fizeram as autarquias alfacinhas perante este novo problema, sabendo também que cobram agora 2 euros diários por cada turista que pernoita. Nas zonas históricas eliminaram em 2019 (salvo erro) a recolha selectiva periódica de recicláveis e a diária de indiferenciados, através de sacos resistentes disponibilizados pelos serviços camarários, e começaram a pespegar, sem nexo e sem qualquer avaliação, contentores verdes, em grande parte “colando” estruturas metálicas em edifícios privados.
Recordo-me ainda que, na minha rua, e depois de muitas reuniões – era Duarte Cordeiro, actual ministro do Ambiente, o vereador responsável na autarquia por este feito –, queria a Junta da Freguesia da Misericórdia grudar três contentores verdes mesmo ao lado da porta de casa.
Eu, que nem sou muito sensível a lixos – porque já muito vi, como se pode comprovar em intervenção histórica de 1994, histórica por já estar na RTP Arquivos –, sabia muito bem no que aquilo daria, mesmo a despeito das promessas de limpeza, desinfecções, fumigações, tudo asséptico, e nem sei já bem se me prometeram lavar o rabinho com água de rosas.
Rua da Emenda, Chiado.
E, portanto, lá tive eu de arrancar à força de braços, em certo dia de Fevereiro de 2019, as ditas estruturas de metal que me quiseram prender ao meu edifício, que nem sequer era público, e nem autorização pediram ou aviso deram, e entregando-as assim na Junta de Freguesia da Misericórdia, sob competente documento, a ser assinado, à laia de guia de devolução.
Convém aqui declarar que o “à força de braços” se deveu mais à ainda frescura do cimento, e não tanto aos meus poderes físicos, apesar de ter compreendido melhor a activação emocional do doutor Bruce Banner quando o chateiam…
A doutora Carla Madeira, a “presidenta da Junta”, bem ameaçou que havia um processo judicial contra mim, mas deve ter dado no mesmo dos dois que o juiz Sebastião Póvoas, ex-presidente da Entidade Reguladora para a Comunicação Social, me pôs: em água de bacalhau. Ou, se se quiser, deram com os burrinhos na água.
Bendigo, quase benzendo-me, aquela tarde em que arranquei pela raiz aquelas estruturas, de contrário, estaria agora, e irremediavelmente, com os verdes monos acoplados à porta de minha casa, competindo em desmazelo, feiura e perigo à saúde públicas com os que se espalham nas demais vias de Lisboa antiga, mesmo se vazios de lixo. Na verdade, conspurcados, esventrados e espalhados como quase todos estão, admira-me até que nenhum almeida – atenção, eu sou Almeida! – os varra dali…
Agora a sério: aquilo que se assiste, ou já nem se nota, tamanho o desleixo, é de uma atroz falta de sentido de serviço público quer da Câmara Municipal de Lisboa e das suas Juntas de Freguesia – neste caso, da Misericórdia.
Ali nas redondezas de onde vivo, até já dava de barato aceitar a triste ideia, com absoluta ausência de sentido estético, em se colocar ecopontos subterrâneos (mas com a parte metálica bem visível, na parte leste do pequeno largo na desembocadura da Rua de Santa Catarina com a Rua Marechal Saldanha, tendo a norte o restaurante da Associação Nacional das Farmácias, a este o Hotel Verride e a sul o miradouro do Adamastor. Quem foi a aventesma com aquela ideia? Quem foi a criatura que a aprovou?
Travessa das Mercês, Bairro Alto.
Ainda mais, colocaram depois, em redor, mais uns famigerados monos verdes. Á volta, e alguns já em cima. Deve ser por alguma combinação que ainda não descortinei.
Diz o provérbio lusitano que quem torto nasce, nunca ou tarde se endireita. Curiosamente, os brasileiros, aprendi há anos, são menos esperançosos, e dizem que aquilo que torto brota não tem remissão: nunca se endireitará.
E assim, cá temos, todos têm, as ruas de Lisboa com contentores verdes.
Quer dizer, verdes ou esverdeados de diversas tonalidades, consoante os grafittis, o verdete, o sujo encardido, e os lixos que escorrem e borbotam.
Lisboa antiga está, portanto, assim: com uma paisagem de contentores feitos monos. Muitos já sem tampa, outros esventrados, outros tantos deslocados das tais estruturas metálicas. Todos sujos. Muito sujos.
É certo que não seria suposto a tal água de rosas para lavar contentores, mas o desmazelo é absoluto. As pedras das estradas em derredor, e a calçada dos passeios, enfim, têm agora entranhado não um passado de pés e pneus, mas sim as cores e os odores das águas lixiviantes. Um nojo. Uma vergonha. Um perigo público, sobretudo quando paredes-meias com restaurantes, comércio… e portas de casa. Quem foi que disse mesmo “aqui mora gente”?
Aquilo que se mostra mais surreal é que, sobretudo na Bica, pouco antes da operação de embutimento (ou embrutecimento) dos contentores nas paredes, a autarquia tinha despendido não sei quanto (mas serão sempre milhões, que tudo o que for inferior não é obra digna de se fazer) a redefinir e pavimentar passeios.
Travessa da Espera, Bairro Alto.
Nas zonas históricas, os passeios são agora para os monos verdes, tal como há umas décadas eram para os pneus de carros mal estacionados. Agora como antes, não havendo passeios, os transeuntes – feita palavras, mas que serve para o efeito de jocoso jogo de palavras a uso – transitam por onde o tráfego passa ou passeia. Um salutar convívio.
E, portanto, por vezes é uma sorte se alguns dos monos se forem perdendo, ou se se retirarem para uma troca nunca mais feita. Sempre se livram os passeios, embora as tais estruturas se mantenham perenes.
Será talvez interessante classificar como património essas estruturas para que os vindouros se mostrem estupefactos com as burrices cometidas em pleno século XXI. A conservação da estupidez tem uma função didáctica para o futuro.
Eu não consigo imaginar que Moedas e a sua equipa de vereação andem por Lisboa. Ou um qualquer governante, ou político (e de qualquer quadrante).
Eu acho que não andam. Não podem andar, e ainda mais num dia como o de hoje, bonito, azul, brilhante, mas com as ruas desmazeladas e os omnipresentes monos sujos, porcos e maus e maltratarem uma cidade que até tem recursos financeiros para se lavar e limpar.
Rua do Norte, Bairro Alto.
Vejo na Pordata que Lisboa teve 13.334.237 milhões de dormidas em 2022. Só aqui, em taxas de turismo, Carlos Moedas – sem incluir os munícipes, que pagam taxa de recolha e tratamento de lixos por indexação à conta da água – sacou quase 27 milhões de euros.
Ora, façamos ainda umas contas para perceber o desafogo autárquico com base no tarifário do serviço de gestão de resíduos urbanos em Lisboa relativo a 2022, composto por tarifas variáveis e tarifas de disponibilidade. Sabendo-se que cada lisboeta, segundo a EPAL, consome 135 litros de água por dia, e que a população da capital é de cerca de 546 mil habitantes, temos então uma receita anual de 4,6 milhões de euros apenas de tarifas variáveis. Considerando a tarifa de disponibilidade, e só contando habitações (cerca de 320 mil), a autarquia encaixa mais quase 8,6 milhões de euros.
Portanto, só por turistas e habitantes, a Câmara Municipal de Lisboa saca mais de 30 milhões, depreendendo que mais uns quantos milhões surgirão de pagamentos do sector de serviços, sobretudo comércio e restauração.
Não se diga, portanto, que não há dinheiro para comprar uns esfregões para lavar decentemente, de quando em vez, os tampos dos contentores que, obrigatoriamente, são tocados por quem quer colocar os sacos de lixos nos verdes monos.
Tantos mil cuidados na pandemia, e estes atentados à saúde pública ao virar de cada esquina… e não só nas esquinas.
E pensar que esta tarde estive a revelar as promiscuidades do Dr. Filipe Froes e mais as suas 324 colaborações com farmacêuticas desde 2013 e os 453.635,37 euros arrecadados, fora eventuais prebendas não declaradas no Portal da Transparência do Infarmed… e eis-me aqui, agora, no Estádio da Luz, para assistir ao primeiro jogo em casa do Benfica no campeonato de futebol da época da graça de 2023 e 2024. Numa varanda com boa vista.
Meto-me em tortuosos caminhos, seguindo por estes trilhos, quando os que tinha espinhosos já eram. Não exageremos. Meto-me porque quero. Ou sou impelido por certas forças, que não já as minhas. Enfim, “de um abismo ressoa para outro abismo o fragor das tuas cascatas; todas as tuas vagas e torrentes passaram sobre mim.”
Exagero, mais uma vez. Sempre assim sucederá, prometo, daqui de onde vos escrevo: da Varanda do Benfica, ou da Varanda da Luz – logo me decidirei até ao fim do jogo. Se calhar intercalo. Ou calo-me.
(entretanto, muito calmo, por aqui. Em 15 minutos, um livre do turco Köckü contra a barreira… e estava eu a escrever isto e quase marcava o Rafa, para grande defesa do guarda-redes do Estrela… e a seguir um remate bem esgalhado de… acho eu, João Neves, ligeiramente ao lado… continuemos…)
Portanto, tirando a impossibilidade de exagerar no resultado – que, por aí, terei de ser rigoroso, e isto por agora está num inquietante nulo –, servirá esta primeira crónica para, airosamente, com alguma aisance, assim espero, justificar aquilo que estou para aqui fazendo. E, ainda por cima, escrevendo. E prometendo repetir in saecula saeculorum.
Primeiro, estou tentando juntar o útil ao agradável, não sabendo bem qual a parte da utilidade e a parte da agradabilidade – e isto, assumindo, por antecipação, que algum proveito e prazer daqui virá. Exige-me o corpo e a mente sair dos árduos labores das investigações jornalísticas, das burocracias, das arrelias, embora temperadas pelos apoios dos leitores (dá-lhes já graxa), e dessa sorte me pareceu ideia acertada aproveitar-me do estatuto de jornalista e sacar uma acreditação que, mais do que poupar dinheiro, me poupa tempo, porquanto o pedido de acreditação se faz em segundos, o levantamento da acreditação num ápice é, e depois um passeio de cão por vinha vindimada até à tribuna de imprensa – e ainda mais com direito a lanche de reforço. Um figo. Quer dizer, o sumo é de pêssego.
(até porque, neste ínterim, se acumulam oportunidades para o Benfica; temo que o golo surja… ou não… já se escafederam 35 minutos e a asa do cântaro dos homens da Amadora [não lhes chamemos da Porcalhota, à antiga, mesmo se usando nesta narração, um estilo barroco] anda não se escaqueirou na fonte)
Segundo, tenho o ensejo de me armar em cronista de banalidades e coisas fúteis nesta aventura pela crónica futebolística. Concretizo: não percebo grande coisa de tácticas – embora seja curioso das minudências dos intérpretes da bola (e, portanto, seguirei a novela da bernarda entre o Schmidt e o Vlachodimos, com a mesma curiosidade com que acompanhei os efeitos da birra do Sérgio Conceição) –, e nem se justificaria um relato de um jogo específico (ainda mais do meu clube) num jornal independente que anda por outros campeonatos e em outras modalidades. Portanto, isto será uma espécie de crónica à la Nelson Rodrigues, mas sem os conhecimentos do dito, sem o sotaque do dito e, provavelmente, sem a qualidade do dito – conquanto me divirta e me faça espairecer.
(e temos o intervalo)
Terceiro, tenho, perante o meu olhar – ou melhor, sou eu o observado –, a crítica inquisitiva de alguns leitores, que, prevejo já, me podem – e muito justamente – acusar de uma reles parceria comercial, sendo certo que, esses, enfim, só poderão ser uns lagartos invejosos e ou ciumentos tripeiros.
(ai Jesus! Não… não é o do Al Hilal. É mesmo o do Céu: pênalti contra o Benfica… revertido pelo VAR. Ah, sportinguistas!: este VAR “pia” diferente; funciona bem…)
Mas, continuando – e mesmo se brincando –, tenho consciência da existência de um conflito de interesses. Podendo, como jornalista, escrever em qualquer estádio, por que motivo escolho eu logo o Estádio da Luz? Caramba, desculpem-me o pecadilho: é pelas vistas; também não me podem exigir clausura integral e absoluta imaculidade.
(além disso, escrever aqui é um teste aos nervos, sobretudo se, como no jogo desta noite, o Benfica pensa que se ganha pelas oportunidades – e não pelos golos… e entretanto: GOLOOOOOO. Golo do Casper Tengstedt [como se pronuncia mesmo o nome deste dinamarquês?])
Mesmo assim, e pelas tosses e prevenções, fiz já o trabalho de casa, e fui ler a Deliberação ERC/2023/266, divulgada este mês, da Entidade Reguladora para a Comunicação Social, sobre a renovação da licença da BenficaTV à cata de qualquer irregularidade grave para propagar aos sete ventos no PÁGINA UM. Mas daqui não consegui sacar o “alvará” da minha independência perante a dependência (desde a infância) clubística: a ERC escreve, na dita deliberação, que “em conclusão e face ao exposto considera-se que o operador Benfica TV, S.A., tem tido um desempenho, ao longo dos quinze anos de exercício de atividade, conformado e consentâneo com o normativo legal aplicável, sendo de conferir deferimento ao pedido de renovação da autorização para o exercício da atividade de televisão através do serviço de programas BTV 1”. Má, mas mesmo má, foi a recente avaliação à CMTV, similar no objectivo, feita pela mesma ERC. Estive a ler aquilo e ainda pensei que cassavam a licença à Cofina.
(o estádio está mais aliviado; estranho jogo, que poderia ter dado para uma cabazada das antigas, e acaba numa coisa poucochinha)
Mas deixemos o regulador em paz, cujos membros merecem terminar o mandato em tranquilidade. Em todo o caso, escrevi-lhes ontem…
(e para fechar, parecendo coisa fácil, já nos descontos [que são agora à dúzia, os minutos] um golo de belo efeito de Rafa, com um ainda mais belo movimento e passe de David Neres… e logo a seguir, depois da reposição, quase seguia outro; bola ao poste esquerdo, remate do Rafa. Ó Rafa, os outros tipos querem ir a banhos e agora é que metes o gás todo?)
Em todo o caso, ó Rui Costa, reparei, entretanto, que as entidades responsáveis pela Benfica TV (como registo da ERC nº 523392), pela BNews (com registo da ERC nº 127919) e pel’O Benfica (com o número de registo da ERC nº 101759) não preencheram ainda os indicadores financeiros e económicos no Portal da Transparência dos Media relativos ao ano passado. Os que lá estão vão até 2021. E sabes quem é o responsável máximo desta lacuna, não sabes?… Claro!
Mas não te apoquentes em demasia: no teu campeonato há iguais e piores. A Avenida dos Aliados, do Porto Canal (vulgo, canal do FCP, com o registo da ERC nº 523388), também não entregou os dados económicos do ano passado. O jornal do Sporting (com registo da ERC nº 100313) não entrega contas na ERC desde 2019. Salva-se a empresa da Sporting TV (com registo da ERC nº 523408), que tem as contas em dia no regulador. E descansa que há pior onde nem seria de supor: nas empresas de media… e algumas até devem milhões ao Fisco…
(fim do jogo: Benfica ganha por 2 a 0; talvez a parte mais interessante da primeira crónica de uma colecção cuja ideia “nasceu” quando o Benfica, na passada segunda-feira, ganhava ao intervalo ao Boavista…)
Enfim, e com isto o estádio esvazia, e eu vou ter de me pôr na alheta. Só mais uns acertos. Não sei como me saí. Se mal me saí hoje, tentarei melhorar na próxima. Se não se endireitar – enfim, considerem isto como terapêutico: para mim, claro.
Queiram, portanto, leitores benévolos (ou beneméritos, que melhores serão), abrir as vossas piedosas portas da compreensão e acender a lâmpada da vossa paciência, para que a minha saúde melhore com a escrita destas crónicas, enquanto vejo futebol. E se não fizer bem à saúde (prevejo que o Benfica vai ter um campeonato trémulo), pelo menos que o meu ego se exalte, que arredado anda de carícias literárias.
Ah, e decidi-me por Da Varanda da Luz. É título mais esotérico.
E reparo que nem sequer tive tempo para comentar as incidências dos meus colegas de carteira, sobretudo o do lado esquerdo, muito compenetrado no relato para uma rádio (local, presumo…). Inveja: ele parecia conhecer todos os jogadores. Ou, pelo menos, inventou com convicção. E sem gaguejos.
Entretanto, lá em baixo, treinam os jogadores do Benfica que não entraram, as bancadas estão vazias, tirando dois ou três jornalistas, enquanto na televisão os treinadores palram. Esta vida não me parece má de todo. Talvez regresse mesmo daqui a duas semanas. Acho que será contra o Vitória de Guimarães. Qualquer um servirá para este desiderato…
Eu sou um artigo em si mesmo, porque não consigo explicar e descrever todas as dúvidas e constrangimentos que me assaltam em relação ao Serviço Nacional de Saúde (SNS).
Escrevi e descrevi inúmeras situações que careciam de mudança. Tentei explanar, de modo claro, as opções que nos conduziam a erros de postura e de funcionamento no ideológico e idealizado serviço de prestação pública que dá pela sigla SNS.
Vi como gente dedicada se fartou, testemunhei o cansaço dos prestadores, a destruição de instituições de referência. Não importava ter ganhado prémios, ter sido o melhor, ter apresentado resultados fantásticos, havia sempre almas destruidoras que chegavam e tomando de assalto o poder decidiam pelo arraso e a destruição.
Recordo a construção da cirurgia de ambulatório do Santo António, gerida pelo Dr. Paulo Lemos. Demitido sem razão lógica após a construção. Eu próprio fui afastado da liderança daquilo que ajudei a construir com centenas de horas de dádiva aos Covões – por mim e internos e jovens especialistas. Servi para a construção, já para a manutenção foi o vê-se-te-avias. Só que dei centenas de horas ao Estado e à instituição que defendia.
Arrependimento não mata – ou estava fulminado! Fiz parte do grupo que viu premiado o Hospital de Águeda em 2005. Fechado como instituição. Fiz parte do grupo que elevou o Hospital José Luciano de Castro, em Anadia, a melhor hospital nacional, aferido pelos doentes em 2013 e 2014. Foi entregue à gestão da Misericórdia em 2016, sem nunca mais se atingir este padrão.
Sou testemunha da destruição do projecto do Hospital de São Sebastião na Vila da Feira. Vi como se acabou com o melhor hospital português em 2018 – Braga.
Urgências exemplares, tivemos uma nos Covões e outra em São José. Ambas sofreram reduções e compromissos que as limitaram. No caso dos Covões, estamos mais ou menos ao nível do enterrado, o subaquático.
O SNS foi arrasado por gestão inadequada, falta de prestação de contas, falta de exigência sobre os que abusavam do estatuto de funcionário público. Há uma infeliz sequência de premiar os comportamentos desadequados e não apoiar os prestadores interessados e com espírito de serviço e de missão.
O prémio para muitos chegou antes do trabalho realizado. A construção de Centros de Responsabilidade Integrados (CRI) foi uma lambada no empenho dos que ficaram fora das mamas de distribuir dinheiro. Os centros hospitalares demonstraram à saciedade como instituições se tornavam ingovernáveis.
O encerramento de serviços de atendimento permanente e de pequenas urgências, associados com a falta de consultas abertas nos Centros de Saúde e nas Unidades de Saúde Familiar (USF), conduziu à demência de atendimentos nas urgências. Há milhares de pessoas que recorrem a urgências para ver resolvido o seu pequeno problema, mas a minha dor é sempre um “por maior”, e é intransmissível, e é condutora de ansiedade.
Podíamos resolver esta questão, mas há um desinteresse evidente da tutela e dos actores políticos. Compromissos inconfessáveis com a privada? Opção pela destruição progressiva do SNS? Antes havia mais hospitais, mais camas, mais atendimentos, menos médicos e menos enfermeiros, muito poucos técnicos de saúde, diminuta presença de administradores de carreira e, de facto, entre 1975 e 2001, nunca ouvi encerramentos de instituições nem programas de mudança de lugar de atendimento.
As instituições são muito o resultado das pessoas que aí trabalham, e, se permitimos o absentismo, não colocamos limite às ausências e às baldas a preguiça corrói. A liderança vigiada, que presta contas, implica a presença de capacidades de decisão, de qualidades de gestão e de opções financeiras e ainda algumas escolhas de protagonistas.
A incoerência é outra das traves mestras do constrangimento. Criam-se fronteiras ao desempenho de alguns e depois roga-se pelas suas habilidades numa porta ao lado onde faltam os certificados e os da primazia. A saúde ruma para um paradigma que não me agrada, mas infelizmente o problema começa a parecer-me transversal.
Diogo Cabrita é médico
N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.
Esta é a pergunta que os portugueses fazem amiúde.
Na realidade, como se pode justificar o número de incêndios em Portugal.
Claro que o fogo pode deflagrar, em qualquer local, pelas mais diversas razões, e sabemos ser praticamente impossível evitar todas as ignições ao longo do país.
Mas quando, durante a noite, vários focos acontecem numa mesma mata, dificilmente se aceitará que não haja intervenção de mão criminosa.
Quando os especialistas analisam a situação conseguem apontar alguns problemas graves e de relativamente fácil solução.
Segundo um trabalho, do “Blogger” Francisco Lampreia, publicado em Agosto de 2022, “nas últimas duas décadas, de acordo com o relatório “O Mediterrâneo Arde”, de 2019, a média de área ardida do nosso país mais do que duplicou em comparação com a época de 1980 a 1989.
Será esse o resultado do surgimento de uma onda de piromaníacos em Portugal? Talvez.
Ou estará Portugal cada vez mais vulnerável a incêndios?
Se olharmos para o FWI (um índice de perigo de incêndio rural que quantifica o efeito da humidade do combustível e do vento no comportamento do fogo) de Portugal, disponível no site do IPMA, é possível ver que praticamente todo o país apresenta um índice de FWI muito elevado.”
A Polícia Judiciária, todavia, não descartava a hipótese de fogo posto.
O diretor nacional adjunto da Polícia Judiciária, igualmente em Agosto de 2022 (dia 18) revelava que, “este ano, está a registar-se um aumento das ignições” e informava que “com a época de incêndios ainda a meio, Portugal é, nesta altura, o terceiro país da União Europeia com a maior área ardida. Crimes muitas vezes cometidos por pessoas de idades diferentes, mas com um perfil semelhante.”
Aproveitou para, contrariando as notícias mais frequentes, garantir que “quando os alegados incendiários são presentes às autoridades, as medidas de coação aplicadas costumam levar a mais detenções do que noutros tipos de crimes.”
Por sua vez a TSF emitiu, a 4 de Março do corrente ano de 2023, uma reportagem intitulada “Metade dos incêndios florestais em Portugal tiveram origem criminosa”.
O que deixava sobressaltado qualquer cidadão atento.
Segundo os jornalistas, “os dados revelados pela Agência para a Gestão Integrada dos Fogos Rurais (AGIFR) mostram que houve 4892 fogos com origem criminosa e foram detidas 51 pessoas pelo crime de incêndio florestal.
A AGIFR apresentou o relatório de balanço do ano onde adianta que se registaram em 2020, 6.257 autos, 4.892 crimes e 51 detidos por crime de incêndio florestal, num ano que existiram 9.690 incêndios rurais, dos “quais resultaram 67 mil hectares de área ardida”.
A questão que importava esclarecer era se o número de pirómanos, em Portugal, era mais elevado do que nos restantes países ou se, pelo contrário, os incêndios podiam ser “encomendados” a delinquentes e, nesse caso, por quem?
É que, se tal acontecesse, a prisão dos incendiários não resolveria, por si só, o problema já que seriam facilmente substituídos.
A solução seria, também aqui, seguir o rasto do dinheiro.
Tentar saber quem ganha com os incêndios.
A “vox populi” acusa, sempre, os madeireiros.
Qual a realidade?
É verdade que, por exemplo, depois dos fogos em Pedrogão, o preço da madeira queimada baixou de modo acentuado (de 36 para 27 euros a tonelada, menos de 25%) mas com as Associações destes empresários, que a compram aos produtores, a garantir que os preços eram impostos pela indústria.
O Presidente da Associação de Produtores Florestais de Vila de Reis garantia que “É um mito que apareceu e ainda não morreu. Para os madeireiros isto não é nada interessante. Podem fazer um bom negócio agora, mas são precisos anos para que a floresta volte a crescer. Para quê aproveitar agora para comprar madeira queimada mais barata se isso acaba e se ficam anos sem nada, nada para ninguém?”
A notícia que, acreditava eu, iria ser um grande choque, mas que depressa foi esquecida, veio de Espanha, em 2017.
O Jornal “El Mundo” publicou, então, um artigo sobre os concursos para aquisição de meios de combate ao fogo em Portugal com o título “Quem ganha dinheiro quando arde Portugal?”.
Aí escrevia, preto no branco, que “Portugal recorre ao sector privado para ter apoio aéreo no combate aos fogos, mas que o problema, conhecido da Polícia Judiciária Portuguesa, está em que as empresas manipulam os concursos públicos o que, nos últimos 12 anos, teria rendido 821 milhões de euros.”
Continuando sem se saber quem ganha muito com os fogos, podemos dizer, todavia, e com toda a segurança, quem ganha pouco: os Bombeiros.
Um Bombeiro Sapador aufere menos de mil euros por mês.
Um Bombeiro Voluntário recebe 2,5 euros por hora ou 61 euros por dia, mas desde que trabalhe as 24 horas!
Para além disso, claro, todos os elogios dos políticos que enchem a boca de extraordinários adjectivos sempre que qualificam o trabalho dos “Soldados da Paz”.
Vítor Ilharco é secretário-geral da APAR – Associação Portuguesa de Apoio ao Recluso
N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.
Já estivemos bem mais embrulhados, em panos, rodeados por fibras, delicada ou grosseiramente entrançadas, a cobrir todos os objectos e todos os cantos e recantos. Mas eles, os panos, ainda lá estão.
Estão descidos sobre as nossas janelas, estão repousados sob os nossos pés, estão embrulhados em cadeiras e sofás, capturados entre o colchão e a cama, até invisivelmente entalados em recheios de paredes e tectos. Lã de rocha, lã de vidro.
Como a roupa que escolhemos para nos envolver, as casas pedem o carinho do tecido. O abafo de roupa pesada, gramagem alta, ou a frescura de malhas, finas e abertas.
O tecido rodeia-nos, para dar silêncio. Poucos se apercebem que o tecido nos foi sendo retirado das vidas, quando fomos recusando os naperons de crochet que avós tricotavam, para ali pousarem, na televisão, no aparador, na mesa. Despimos as casas, e elas, nuas, se envergonham agora de frio, com gritos a baterem contra a sua pele e a atordoarem-nos os ouvidos.
Deixem a vossa casa vestir-se, e ela absorverá o som, e dar-vos-à sossego.
O fio de algodão em nós, padronizados em matemática, encostavam-se aos vidros para filtrar luz e a temperatura.
O peso ondulado da cortina, em queda junto à parede, guardava-nos o pudor, nos resguardava a intimidade.
O laço do felpo cobrindo o chão em alcatifa.
O ponto apertado do tapete, a fita leve da passadeira.
A nódoa de vinho tinto naquela toalha de mesa.
Os pêlos da gata no canto das mantas, na cama.
O vaivém das flanelas e dos linhos, em picos, nas primaveras e nos outonos.
Pano. E aquele respirar junto com o mundo, no balançar do cósmico vazio.
E no fim, a mortalha, embrulhem-me em musselina, e enterrem-me de pé, com uma árvore plantada na moleirinha.
Quero sair da terra depois de morta e espreguiçar os braços no ar…
… e no meio, o toque gentil do tecido, subindo o corpo. E só retirado se me puder vestir contigo.
Mariana Santos Martins é arquitecta
N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.
Há dias, na rede social X li um tweet da jornalista do DN Fernanda Câncio – uma das muitas vozes jornalísticas que me chamariam (chamaram) negacionista – a anunciar que tinha covid-19. O rol de comentários e as reacções da dita jornalista fizeram-me, em simultâneo, rir e lamentar: a pandemia – chamemos-lhe assim, porque houve efeitos graves em termos de Saúde Pública, tanto pelo SARS-CoV-2 como pela gestão política – ainda vive como o maior dos pânicos na cabeça de muita gente. E continuar a viver na cabeça de jornalistas medrosos é uma grande merda, porque serão estes primeiros que vão andar aos gritos a dizer que o bicho está vivo, ressuscitou e vem ainda mais enfurecido…
Sou hoje um opositor nato sobre a vacinação contra a covid-19. Primeiro, porque claramente se escondem os efeitos adversos das vacinas e até mesmo os negócios obscuros em seu redor. Segundo, porque, a par do obscurantismo em redor das reacções adversas e dos negócios, este fármaco mostra-se completamente desnecessário para a esmagadora maioria da população,a começar pelos jovens saudáveis e a estender-se por aqueles que já tiveram contacto quer com as diversas variantes do SARS-CoV-2 quer com algumas (espero que poucas) doses de vacinas.
Na verdade, quem teve covid-19 ou foi já inoculado, aquilo que mais deve desejar é ser “visitado” com regularidade pelo “bicho”. Quantas mais vezes e mais frequentemente, melhor. Quantas mais vezes e mais frequentemente, menos sentirá a “visita”.
Falo pela minha experiência. E vou contá-la, porque está quantificada.
Há precisamente dois anos, estava então a recuperar de um longo internamento hospitalar, fruto da covid-19 misturada por um sedentarismo imposto, que me afectara as defesas imunitárias, por uma pneumonia bacteriana nosocomial e por uma negligência médica (fio de cateter alojado no coração).
Sobrevivi, porque a Ciência e os médicos também “existem” para isso: para nos salvarem se estivermos no lado mais improvável das estatísticas. Na verdade, não seria suposto que alguém da minha idade, com poucas comorbilidades – para além dos efeitos do sedentarismo imposto por uma péssima gestão política de uma pandemia – padecesse consequências tão gravosas.
Mas aconteceu e sobrevivi. Um dia isto não correrá tão bem, mas parece ser essa a Lei da Vida. Porém, esta percepção da morte e da nossa finitude não deve afectar o direito ao livre-arbítrio com base no conhecimento, e por isso jamais emparceirei com o maior inimigo da racionalidade: o pânico. E sobretudo do pânico colectivo que, tantas vezes, empurra indivíduos inteligentes para as turbas ululantes que correm em direcção ao populismo – que pode vir de um suposto filantropo nos corredores da OMS, de um marinheiro com ego maior que um submarino, de um médico insuflado pelas farmacêuticas ou até de jornalistas travestidos de missionários.
Costumo dizer que não me chocou o comportamento das massas durante a pandemia, quando se assistia aos maiores dislates na perseguição de outras visões, mas sim as atitudes insanas e as cobardias dos “intelectuais”. Chocou-me sobretudo as posições de muitos jornalistas, demasiados. Então nas direcções editoriais não há um só que me mereça, neste momento, o mínimo de respeito: em vez de se assumirem como os bastiões da democracia, comportaram-se como os bastões de um fascismo asséptico e moralista.
Não foram períodos muito dignificantes para muitas pessoas – mesmo que o neguem agora. A opressão e a perseguição nunca defendem boas causas.
Portanto, continuando: poucas semanas depois da minha saída do hospital, enquanto subia a Calçada da Estrela e a Calçada do Combro para recuperar fôlego e para demonstrar que isso da “covid longa” dependia mais da mente do que do corpo, andava eu já a receber chamadas dos centros de vacinação para levar a “pica”. Mesmo antes dos supostos seis meses que então dava à “imunidade natural”, provinda do contacto com o “vírus selvagem”.
Não aceitei a dádiva, e mais do que nunca li sobre esta matéria. Artigos científicos, claro. Sobre efeitos das vacinas mas sobretudo sobre o risco de uma reinfecção tão ou mais grave – neste último caso, sempre se mostrou virtualmente próxima de zero.
Assim, mesmo com a imposição anticonstitucional e carente de qualquer ética do acesso a locais públicos e a viagens a não ser que se fosse vacinado, não tive qualquer dúvida em não me vacinar.
Não o fiz por pirraça ou por ideologia. Nem por ser “negacionista” (como poderia ser?) nem para irritar os marketeers Froes & Guimarães ou pelos despautérios da doutora Graça Freitas, que ficará na História do século XXI por ser uma Autoridade Nacional da Saúde que orgulhosamente anunciava não saber mexer num computador. Também não recusei por concordar com o princípio enunciado por Friedrich Nietzsche de que aquilo que não nos mata torna-nos mais fortes.
Não me vacinei por causa da Ciência. E pelo princípio, muito da Medicina – que parece ter sido Ciência invadida por dogmas, a ponto de se tornar numa religião inquisitorialmente gerida à bastonada por um bastonário – primum non nocere: primeiro, não prejudicar.
Recusei, mas sem recusar, contudo, a possibilidade de estar errado: de que a imunidade natural – dos efeitos benéficos por um contacto prévio com o vírus não ser suficientemente duradouro e forte para “aguentar” novo embate, mesmo sabendo-se que as variantes Ómicron se mostraram muito menos “agressivas”.
Por isso, segui a Ciência: aquela que, por exemplo, costumava recomendar só tomar um fármaco se o risco compensar eventuais prejuízos. E, ainda mais, no caso da vacina contra a covid-19, a qual ainda não se conhecem todos os efeitos adversos. E a postura das autoridades de Saúde – reféns dos Governos e dos lobbies – em esconder informação não abona para a confiança.
Daí que, meio ano depois da minha primeira infecção – e das outras maleitas –, fiz então um teste serológico IgG para apurar os níveis de imunidade. A análise deu 427 BAU/ml, sendo que 33,8 BAU/ml é o valor de referência para a existência de uma resposta imunitária à covid -19.
Ainda pedi, vejam lá, à Direcção-Geral da Saúde comentários sobre o assunto para saber se recomendavam a vacinação nessas circunstâncias. Responderam-me? Claro que não. E não foi por falta de insistência, porque além de um e-mail em 28 de Dezembro de 2021, houve mais dois em Janeiro de 2022.
Resultados dos meus testes serológicos IgG em 20 de Dezembro de 2021 e em 24 de Março de 2022
Três meses mais tarde, novo teste serológico para “testar” a durabilidade da imunidade: em 24 de Março de 2022, o valor foi de 438 BAU/ml. Em vez de descer até subiu um pouco. Terá havido novo contacto: não sei; se houve, não senti.
Outros três meses se passaram, e em Junho de 2022 nova amostra de sangue, e o resultado saiu: 331 BAU/ml. Baixou em relação ao trimestre anterior, mas bem acima dos 33,8 BAU/ml de valor de referência.
Poucas semanas depois, sucedeu algo que me “beneficiou”: tive confirmadamente covid-19, com dores de garanta, um pouco de mal-estar geral. Tive muitas gripes muito piores. Passou em dois dias. Que fiz: novo teste serológico para saber – tinha de fazer isso para ser Ciência – como evoluíram os anticorpos IgG. Pois bem, subiram para 846 BAU/ml. Terá sido, enfim, o equivalente a um “booster” natural, certo?
Confesso que nunca mais pensei no assunto. E só por causa da jornalista Fernanda Câncio – e o pavor que se vislumbra ainda em muitas cabecinhas jornalísticas (a ponto de embandeiram logo no “circo das vacinas” que se têm de escoar) – fui fazer, na sexta-feira passada, novo teste serológico IgG. O resultado tem algo de simbólico: 1640 BAU/ml, que remete para um feliz ano para os portugueses, que arremessaram da janela o jugo castelhano.
Resultados dos meus testes serológicos IgG em 22 de Junho e em 26 de Julho de 2022 e em 11 de Agosto de 2023
Acho que, enfim, é tempo de os jornalistas começarem a ser jornalistas. E acabarem com o festim dos lobbies que nos querem manter sequestrados pelo medo, sem questionar reacções adversos de fármacos, sem questionar dinheiros escandalosamente pagos enquanto o SNS cai de podre e cresce o número de portugueses sem sequer médico de família, e que sofrem (e morrem) por um sem-número de doenças evitáveis e curáveis.
Entretanto, tenho andado aqui a pensar em que momento terei eu contactado novamente com o SARS-CoV-2 a ponto de chegar aos 1640 BAU/ml sem sequer ter dado por sintomas. Terá sido há três semanas com aquela garganta raspada que me “obrigou” a comprar uns rebuçados Dr. Bayard?