Devíamos estar de queixo caído. Boquiabertos. Os portugueses acabam de ver o Estado Democrático rebentar com um primeiro-ministro eleito por maioria. Outra versão é que um primeiro-ministro destruiu a credibilidade de uma maioria.
Eleito por força de uma estúpida votação, que tem por base uma estúpida Lei Eleitoral, que destrói centenas de milhares de votos, assim se chegou à maioria vigente. A ausência de círculos nacionais para repescar os que votam nos círculos menores, onde os partidos pequenos se tornam irrelevantes, é uma exigência democrática.
Pudemos ver como o entorno de um homem lhe pode ser prejudicial. A insistência na provocação (exemplo do uso de Galamba como confronto à Presidência), a pesporrência de não conversar com as oposições, não criar uma larga maioria para as reformas do país – tudo veio adensar o confronto.
Por graça, recordo o que esta gente falou de Isaltino e seus almoços. A falta de vergonha própria demonstra que Isaltino, ao lado deles, é um amador. Afinal, vinho “galambada” é mais caro que Pêra Manca. Se espelho matasse….
É o tempo de pensar no engenheiro Simões, que passeava envelopes de 100 mil euros aqui por Coimbra. Ele, afinal, é amigo do secretário dos 75 mil. Estes são os que criticaram Berardo, os que berravam contra o esquecimento e a falta de dados de Espírito Santo.
Não sei que diga.
O formigueiro carrega e trabalha enquanto estas cigarras desbaratam. Não sei se as pessoas percebem que são sempre os que têm discursos impolutos que nos enterram as mãos nos bolsos. São os mesmos das certezas sobre a estratégia covid. Espantam-me os ideólogos das estratégias sustentáveis. São sempre os dos grandes discursos e alterações “modernas, importantes e amigas do ambiente” que nos agarram a carteira.
Condeno de modo veemente o Ministério Público de amadores, de processos dúbios e morosos e pouco fundamentados. Condeno os homolarapiens que nos arrombam a credibilidade democrática. Mas condeno, sobretudo, a construção de uma classe política que não se forja no trabalho, no desenvolvimento fora dos corredores palacianos. A exposição à vida comum tem de ser necessária para a ascensão política.
Percebo que o mundo vai neste caminho de formigagem – o povo que vota condicionado pelos gestores da informação. Os filtros que nos roubam janelas da realidade. Amanhã podemos ter ainda o PS a governar o carreiro que cumpre as directivas sem questionar. A dúvida não mora por estes lados.
O que se nos oferece pode ser mentira, e temos de duvidar do hidrogénio. Temos de ter cautela com a mobilidade eléctrica. Temos de perceber se nos estão a enganar, e para isso há um tempo de reflexão que pode ser agora. As certezas da sustentabilidade foram conduzindo os portugueses para o 1% de ricos.
Uma distribuição da riqueza inaceitável: com destruição consistente e persistente da loja, do pequeno comércio, da cabeleireira, do consultório, do escritório, arrasando a classe média empresarial. A concentração é uma política que emana dos regulamentos, das regras, das exigências impossíveis para os mais pequenos. Em Março votamos de novo.
Diogo Cabrita é médico
N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.
Estranha espécie que se dedica a erguer pirâmides de pedra para encerrar labirintos, para encerrar mortos, múmias, objectos. Antecâmaras, túneis estreitos (labirintos), blocos, blocos, blocos. Tudo a barrar o caminho.
Estranha a espécie que quer entrar nesse labirinto, cuidadosamente, esgueirando o que possa por caminhos asfixiados, como escaravelhos luzidios, espalmados, deslizantes junto a grãos sólidos enquanto, magicamente, numa bolsa de ar, revelam asas e se erguem a flutuar, se afastam do mundo compacto (não são daqui, não são daqui).
Talvez as pirâmides, talvez as barragens, talvez as pontes (o ferro, cravado na alma do globo), talvez as torres, talvez as estradas, tenham sido feitas para escaravelhos luzidios (espalmados) que, se quiserem, revelam asas e se erguem (a flutuar), voam e afastam-se (do ferro cravado na alma), pois, visto de longe, olha o lindo que é, olha a linda espécie que ali desliza junto a grãos sólidos, e afinal nem sólidos são (o que é sólido?) e o vento leva sem problema, sem esforço, revelando asas e erguendo-os a flutuar, numa tempestade de areia sem fim a esconder pirâmides (e barragens e pontes e torres e estradas).
Nada sobra.
– Eu sei fazer casas. O triângulo é o telhado, mãe.
Pois é. O triângulo é só o telhado, o que está abaixo é que é a casa (o que é uma casa?) As casas servem para guardar coisas, às vezes também nos guardam a nós (desde que mantenham o telhado), traumas, vidas, silêncios, ruído. Um choro, uma gargalhada, o eco de uma discussão (coisas), e às vezes os mortos (os nossos), e até os vivos (mortos), que esquecemos lá dentro cuidando que cuidam das coisas, que as alimentam e duvidam (duvidam, duvidam).
Os mascarados prosseguem, vestem as coisas e são blocos de pedra que erguem pirâmides, cuidando que dentro deles os labirintos não importam, ar escuro não ocupa espaço, nem constitui caminho (não entrem, não entrem, não entrem).
As pirâmides mantêm-se porque precisamos de as ter no horizonte, a pontuar o êxodo, a areia infinita erguida a flutuar perante os nossos olhos, que alívio, ali há gente (e coisas e mortos). Desde ali podemos mapear, referenciar, encontrar rotas. O mundo sem rotas é enorme e pode comer-nos. A deriva assusta e causa-nos hesitação (duvidam, duvidam).
Rotas e rotinas (precisamos de as ter no horizonte, a pontuar, a flutuar, que alívio) devoram-nos e empurram-nos para dentro de labirintos. Se já não sabemos encontrar a entrada, não vale a pena voltar atrás, mesmo adivinhando (duvidando) o risco de não chegar ao fim, e ficar morto num espaço de ar escuro (não ocupa espaço), ficar ali sem chegar ao fim – afinal qual era o fim, qual era a saída, qual era o centro, qual era o propósito?
Nada sobra.
Parte 2 – Devida (à leviandade dos cadernos virtuais, que se apagam quando mudamos de andamento)
É possível morrer de coração partido. Parte. Põe-se o órgão dentro de casas com triângulos, labirintos, ar escuro que não ocupa espaço.
Estará tudo a morrer de coração partido. Parte. Não há cola que chegue para restaurar estilhaços desses. Almas em bocadinhos não voltam tão cedo.
Reparem que as folhas que são levemente sacudidas lá fora parecem pardais, para o míope ou para o desavisado, certamente pardais, passarinhos tímidos em pequenos saltos. Se partidas (as folhas) não saltam tanto, encostam-se umas às outras à espera da vassoura, a compostar o caminho.
Mas caindo destes esvoaçares (saltitando), que isto de movimentos diáfanos não aquecem o corpo em tempos outonais, nada como ver aquelas três mulheres de avental e mangas arregaçadas, saindo do prédio cor de rosa (e o cabelo de uma está também cor de rosa, escuro, curto, encaracolado), com várias vassouras, mopas, esfregonas e um balde em cada mão.
O sol de São Martinho a cruzar as sombras e a embater-lhes nos olhos (que se franzem), duas gerações (e aposto que a mais velha é danada com as outras duas!), argolas douradas nos lóbulos das orelhas, um meio sorriso e aquela aura de alheamento, aquelas ondas enquanto caminham, aquele saltitar do que é que interessa tudo isso, se é preciso é esfregar devidamente aquele canto desprezado entre o caixilho e o peitoril, que se acumula em negrumes húmidos e infecta a vida das pessoas.
Do salto de pardal à pirâmide, as folhas de outo tono a acumularem na valeta, o escaravelho a esgueirar-se nas areias, os blocos à nossa volta e chamem as senhoras da limpeza! Chamem-nas que alguém tem de limpar isto e tem de limpar várias vezes, daqui até ao equinócio de Março, não sobra assim tanto tempo para decidirmos se concretizamos um ensaio sobre a nossa lucidez. Não sobra assim tanto tempo para sermos amargos e evitarmos partir mais corações na vã esperança de os ver mais leves na balança final.
Mariana Santos Martins é arquitecta
N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.
Tempos difíceis criam homens fortes; homens fortes criam tempos fáceis; tempos fáceis criam homens fracos; e homens fracos criam tempos difíceis – há quem conceba a existência deste ciclo perpétuo como um aspecto incontornável da vida.
Mesmo sabendo que a realidade é sempre demasiado complexa para se resumir a rótulos ou frases pré-fabricadas, considero que este paradigma é aplicável a muitas situações e momentos históricos. E o que vivemos, os tempos mais recentes, são disso um exemplo.
Se tivesse de situar a fase em que nos encontramos, diria que nos estamos na parte que cruza os “tempos fáceis” com “homens fracos”, adivinhando-se – e desenhando-se já –, por isso, tempos desafiantes. Tempos fáceis construídos pela geração que corresponde aos nossos avós, os “velhos” de agora.
Uma geração que viveu privações, guerras, e pobreza, foi a mesma que nos legou um mundo com substanciais avanços científicos e sociais e melhorias notáveis na qualidade de vida. Os jovens e crianças de hoje têm um mundo de possibilidades e oportunidades que os seus antepassados (não muito longínquos) não tiveram; muitas vezes, à distância de um clique, como se costuma dizer.
Ao mesmo tempo, as camadas mais jovens, que tudo têm e tiveram “de bandeja” – e ainda bem –, parecem evidenciar, paradoxalmente, sinais gritantes de desorientação, insatisfação, falta de sentido e uma expectativa de que tudo lhes é devido, como e quando querem.
Aqui, não se pretende generalizar nem dramatizar, sendo certo que todas as gerações têm as suas especificidades, e vêm sempre com qualidades e “defeitos” conforme a época em que se inserem. Mas este artigo surge como uma reflexão acerca de uma notícia do Expresso, dando conta de uma crescente infantilização dos jovens no ensino superior – notada (e lamentada) pelos docentes –, e acompanhada de uma hiper-protecção por parte dos pais.
Como alguém que nasceu na década de 1990, e que passou pelo ensino universitário em anos recentes, a minha experiência corrobora este artigo. É visível, nas universidades, remessas de alunos que parecem ter apenas um lema: “exigir, exigir, exigir”. A tolerância à frustração é nula, ou quase inexistente. A mais pequena adversidade serve de motivo para um protesto musculado ou para uma reivindicação. Receber um “não” de um professor, mais do que uma vez, é suficiente para enfurecer os alunos e levá-los a desfazerem-se em queixas aos coordenadores.
Os alunos têm uma enorme dificuldade em manter-se concentrados, em tolerar uma aula mais teórica e expositiva. Alguns, choram se obtém nota menos boa, não obstante o seu esforço não ter merecido uma classificação melhor – e isto, mesmo no meio de um clima de facilitismo, onde os docentes tendem a “puxar” as notas para cima. Os professores têm de ceder às exigências dos jovens, corresponder às suas vontades e caprichos. As matérias, têm de lhes ser todas facultadas conforme acharem melhor, a “papinha” tem de estar toda feita.
De facto, o que se denota não é um espírito aguerrido ou contestatário dito “saudável”, de alguém que se rebela contra uma injustiça ou luta por causas ajustadas e pertinentes. Não. Aquilo que vemos é mesmo o que vulgarmente se denomina de “meninos mimados”, que fazem birras desproporcionais e creem não ter quaisquer deveres correspondentes aos seus direitos, que não toleram a mais pequena contrariedade ou obstáculo. É natural – é a geração que se habituou a ter tudo antes de sequer precisar de dizer “ai”.
Este paradigma está nos antípodas do experimentado pelos que hoje são idosos. Foi proporcionado por pais que, felizmente, alcançaram maior estabilidade e prosperidade, e quiseram, como é lógico, dar aos seus filhos tanto quanto possível. Não existem culpas a ser apontadas: houve uma confluência de circunstâncias e de mudanças sociais por trás da juventude actual.
Uma juventude com excelentes qualidades, mas que parte com uma certa desvantagem por ter crescido numa bolha de facilidades, fomentando a ilusão de que o mundo gira em seu redor. São também, amiúde, estes jovens que, por falta de sérias preocupações, se indignam, nas redes sociais, com as “causas da moda” – sejam as alterações climáticas provocadas pelo metano das vacas, o flagelo do misgendering (errar-se nos pronomes de alguém), ou a luta incessante contra o patriarcado, sem se aperceberem que, provavelmente, pertencem à geração mais afortunada a pisar a Terra desde que o Mundo é Mundo.
A este propósito, numa entrevista, uma comentadora canadiana mostrava-se complacente com estes jovens, tão abençoados como atormentados, dizendo que acha mais difícil esta ausência de sentido para a vida do que ter de se enfrentar guerras e fome, como foi o caso dos nossos avós. Se é mais difícil, não sei, mas também estou solidária com todos os jovens “infantilizados”, que cresceram com muito mais facilidades do que dificuldades – um grupo no qual até me incluo, em larga medida.
Mesmo com receio dos tempos potencialmente difíceis ao virar da esquina, e que terão de ser, aliás, enfrentados e resolvidos pelos mais jovens, estou, naturalmente, a torcer por eles; e por todos nós, que somos o futuro.
Maria Afonso Peixoto é jornalista
N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.
Quem foi assistindo, ao longo desta semana, às movimentações em torno da demissão do primeiro-ministro, após as diligências do Ministério Público na denominada Operação Influencer, está a ser ‘bombardeado’ com a ideia de que António Costa é a ‘camisa’ do Partido Socialista. Ou seja, por uma qualquer razão, que convém menorizar, desgastou-se, troca-se e continua-se com a mesma pele, o mesmo corpo, os mesmos procedimentos.
Não. António Costa não é um mero actor secundário de um partido que, desde o início da democracia – já lá vão quase 50 anos – compartilha a cena política, e a governação, de um país que ‘custa’ a desenvolver-se de forma ética e democraticamente saudável. António Costa é o pulso, ou melhor, o coração do actual Partido Socialista, até em termos históricos. Está na política que mexe desde 1995. São 28 anos, dos quais os últimos oito anos ele se serviu para ‘secar’ a ideologia de um Estado Social, substituindo-o por Estado Negocial.
Na verdade, nos últimos anos, em parte fruto da infalível ceifeira do tempo, o Partido Socialista moldado por António Costa perdeu todas as suas referências: hoje, não há ideólogos para ‘cantar os amanhãs’; hoje não há ‘senadores’; hoje não há referências, hoje, não há auto-crítica. Estou a falar de gente credível. Hoje, apenas temos negócios e negociatas.
Aproveitando uma comunicação social branda – fruto da crónica crise financeira dos media agarrados a um modelo de negócios de ‘prestação de serviços’ –, a máquina do Estado confundiu-se com a máquina do Governo. A Administração Pública, que serve os cidadãos, passou a servir o Partido Socialista.
Aquilo que vem sendo revelado pelas diligências do Ministério Público – corrupção financeira e moral, tráfico de influências, pressão sobre funcionários públicos, alterações legislativas a pedido, benefícios ilegítimos de interesses empresariais em claro prejuízo do interesse das comunidades – não é um caso isolado. É o quotidiano. Como jornalista desde os anos 90, foi um ‘choque’ confrontar-me com uma máquina administrativa tolhida por um Governo, onde tudo se esconde, onde as negociatas se ‘cheiram’ na forma como os contratos públicos – o ‘sangue’ dos nossos impostos – são elaborados.
No PÁGINA UM temos levantado o véu de alguns destes negócios, através da análise de contratos públicos ou mesmo na procura de informação, onde escritórios de advogados bem pagos pelo Estado se esforçam caninamente para manter o obscurantismo, para esconder o icebergue de corrupção que grassa o país.
Perante tudo isto, não consigo compreender, portanto, como possa ser possível – e até admissível numa democracia adulta – que o Partido Socialista possa passar incólume pela Operação Influencer, e sobretudo por aquilo que representa e exemplifica. Não pode o Partido Socialista sair incólume com elogios ao estadista António Costa que, independentemente da sua culpa pessoal, tem desde já enormes responsabilidades políticas, nem que seja pelo ‘legado cáustico” do Governo Sócrates, onde ele chegou a ser o número dois.
Não se pode assistir agora a um frenético passear de putativos candidatos a secretário-geral do Partido Socialista, onde até já despontam dois dos ‘coadjuvantes’ de António Costa, como são exemplo Pedro Nuno Santos (mas ninguém se lembra dos motivos da sua recente demissão?) e José Luís Carneiro. Não há ‘salvação’ possível, nem deveria haver perdão aceitável, para um partido que, depois do “pântano” de Guterres e da “cloaca” de Sócrates, leva agora, de novo, o país para os braços de mais uma etapa de uma crise crónica, de uma incessante crise moral, social e económica em que o Estado – dividido entre o Partido Socialista e o Partido Social Democrata – se esforça apenas para sacar o máximo possível dos contribuintes para distribuir o máximo possível entre os seus apaniguados e clientes.
Como escrevi no início, não pode ser admissível aceitar-se – mesmo sabendo dos alegados ‘perigos’ de uma viragem à direita, e o risco do crescimento da influência política de uma direita mais ‘radical – que o Partido Socialista saía de António Costa da mesma forma que o Partido de António Costa fez com José Sócrates. Não pode sequer ser aceitável sequer que, perante a gravidade das fortes suspeitas do Ministério Público –, o Governo ainda em funções mantenha pessoas como João Galamba ou Duarte Cordeiro, como se nada sucedesse.
Aliás, na verdade, nem António Costa deveria, moralmente, manter-se em funções de gestão governamental até às eleições legislativas. Politicamente, deveria estar ‘morto’ e enterrar-se, e o Partido Socialista ‘refundar-se’, fazendo uma ‘purga’ ideológica, de pessoas, de procedimentos. Mudar simplesmente Costa, como se fosse uma ‘camisa’ gasta, não assumindo que a ‘doença’ do Partido Socialista é o seu já disforme e irreversível ‘corpo’, pode a curto prazo servir os interesses corporativos que se têm alimentado do Estado nas últimas décadas.
Conseguindo convencer o eleitorado que basta trocar a ‘camisa’ Costa, mantendo-se o status quo, para assim evitar uma ascensão imediata da direita ao Governo – e fazendo até ‘ressuscitar’ a famigerada geringonça – pode até convencer o eleitorado a curto prazo. Mas apenas vai adiar uma solução para o país, que não passa por ideologias, mas sim por pessoas, ou melhor por corporações de políticos, como aqueles que António Costa foi alimentando no Partido Socialista, enquanto todos se banqueteavam com as benesses do Estado.
Tudo isto não nos deve impedir de olhar para uma alternativa a António Costa e ao Partido Socialista com apreensão. Mas mais do que temermos Luís Montenegro como primeiro-ministro (que, concedo, pode vir a ser pior do que Santana Lopes no seu efémero mandato) ou uma ascensão do Chega ao Governo (que a ocorrer será mais uma ‘lição’ para a forma como não se geriu a democracia pós-25 de Abril e não a uma colagem ideológica dos portugueses à extrema-direita), devemos sim temer mais anos de um Partido Socialista pós-Sócrates e pós-Costa com os mesmos vícios.
Talvez seja melhor, como cidadãos, que procuremos antes que o Estado – como entidade própria e ao nosso serviço – se proteja, e nos proteja, com instrumentos de controlo e fiscalização dos políticos, com o reforço da transparência, da estrutura do Ministério Público e do Tribunal de Contas, e com um aumento da celeridade e melhoria nas decisões por parte dos tribunais.
Numa democracia sólida, eu não temo nenhum partido. Numa democracia débil, eu temo qualquer partido, mas ainda mais aqueles que transformaram a democracia portuguesa numa coisa débil – como o fez António Costa e o ‘seu’ Partido Socialista nos últimos anos. E quem assim escreve ainda acredita no Estado Social, apesar de tudo.
Dizem-se “competentes” e “independentes” ao mesmo tempo que distribuem, em conferências patrocinadas, elogios e sorrisos por governantes, banqueiros e empresários. Falam em atingir “objectivos” e em “trabalhar em equipa”, mas apostam em estagiários low cost ou que trabalham de graça.
Foram estes directores de órgãos de comunicação social que ajudaram a criar (e a manter incólume) a “marca” António Costa – ajudados por muitos comentadores. Como agora vão ajudar a criar a marca do seu sucessor (e assim aparecem “Pedros Nuno Santos” a serem promovidos, com o seu tempo de antena num programa dito “informativo” de um canal de TV, ou se assobiam nomes como o de Medina em editoriais e artigos de opinião).
Adoram palavras como “crescimento” e “liderança”, e sentem-se como gestores. Pelo meio, mencionam “liberdade” e “democracia”, como quem canta a tabuada no antigo liceu. São, assim os directores de órgãos de comunicação social dos nossos dias.
São jornalistas, com carteira profissional passada, mas queriam era mesmo ser administradores ou ir para o Governo. Mas não. Estão (ainda) a trabalhar em grupos de media, com olhos num futuro mais risonho e bem-sucedido.
Demonstram militância em relação aos poderosos, o que impede que haja nas suas redacções qualquer semelhança com o jornalismo.
(Nunca se viu tal comunhão entre Governo e autarcas e directores de jornais como nos últimos anos. Era só ler as manchetes. Ver os telejornais. Não se distinguiam os soundbites de governantes das linhas lidas por pivôs ou nas palavras gordas das manchetes.)
Até lá, até serem administradores, empresários, consultores, estes directores somam “sucessos”, “vitórias”. Saltitam alegremente de conferência em conferência. De talk em talk. De cimeira em cimeira. Sempre sorridentes ao lado de governantes, autarcas e empresários e banqueiros de renome. Sentem-se um deles. Sentem que têm poder, assim, ao lado de gente “de topo”.
Imitam. Podem ter carros de gama alta, cartões de crédito e outros benefícios à disposição. Podem ter prémios, seja por conseguir reduzir custos (despedir mais jornalistas) ou pelo desempenho… comercial.
No reinado de Costa, raramente questionaram as políticas do Governo. Era tudo magnífico. Maravilhoso. Quase não se distinguiam as notícias dos anúncios do Governo. As mesmas palavras, os mesmos slogans, as mesmas palavras-chave.
A política na Saúde? Uma maravilha! Melhor do que antes! A política na Educação? Espectacular, e a melhorar! A política fiscal? Impecável (sobretudo por Medina fechar os olhos às dívidas de grandes grupos de media)! A política externa? Nada a apontar.
Até a desastrosa gestão da pandemia foi, segundo se lê nos media, “um sucesso”. Excesso de mortalidade assustador desde 2021? E a continuar depois do programa de vacinação contra a covid-19? Isso não interessa nada. Se Costa não fala no excesso de mortalidade e diz que foi um sucesso a gestão da pandemia, e se a Direcção-Geral da Saúde não dá os números diários de portugueses que morrem sem explicação, incluindo jovens, então para quê noticiar?
Para estes directores de jornais, António Costa e a maioria dos seus ministros eram anjos na Terra. Uns santos. Uns líderes inquestionáveis (e insubstituíveis).
O mesmo se aplica a Marcelo. Num só jornal diário consegue-se identificar dezenas de chamadas de capa maravilhosas sobre o Presidente, apenas no espaço de um ano. E também quase uma dezena de chamadas de primeira página a promover o novo favorito dos media para a Presidência, um novo anjo na Terra: o “futuro incontestado líder” Gouveia e Melo.
(Já diz o ditado: quem mais cedo promover, mais benesses poderá ter… sobretudo se fizer ouvidos moucos às críticas e aos factos.)
Estes directores traem o jornalismo, traem os órgãos de comunicação social que dirigem e traem as suas equipas de jornalistas e profissionais de media, traem as suas redacções. Traem toda a classe e todos os que vieram antes deles. Traem os leitores, os ouvintes, os telespectadores. E traem o país e a democracia. Alguns nem percebem que estão a usurpar funções, porque nunca foram nem nunca serão jornalistas, porque não sabem o que isso é. Outros sabem, mas têm hoje um estilo de vida que não permite voltar atrás.
(Quem lhes pagaria as elevadas contas e despesas dos filhos ou as obras na casa de campo?)
Confundem mais e mais parcerias comerciais com sucesso. Confundem mais conferências com sucesso. Confundem mais edições patrocinadas com sucesso. Confundem mais entrevistas e notícias pagas com sucesso.
(Sim, as parcerias comerciais incluem, por vezes, entrevistas e notícias, que nem sempre são publicadas com a indicação de serem conteúdos pagos).
Confundem sucesso com a publicação de uma entrevista boazinha a um ministro. Com a publicação de um artigo de opinião de um banqueiro.
Confundem sucesso com redacções vazias de jornalistas seniores e cheias de estagiários a escreverem notícias abençoadas ou patrocinadas.
Na realidade, a verdade é que acumulam uma sucessão de insucessos. De falhanços. De derrotas.
Porque é um falhanço redondo o emagrecimento contínuo das redacções ao longo dos anos. O empobrecimento das redacções a todos os níveis. O apagar de gerações das redações. O apagar de sabedoria e conhecimento. Muito conveniente, de resto.
Porque é uma enorme derrota o nível recorde de promoção de anúncios de governantes e autarcas e a publicidade a comunicados de empresas e bancos como nunca se viu. Escrutínio? Investigação? Questionar? Ouvir o contraditório? Quase zero.
Os directores editoriais confundem-se hoje com gerentes de supermercados: “lideram” equipas de trabalhadores obedientes (muitos com salários baixos, outros nem tanto), dependentes, que desembalam, expõem nas prateleiras e arrumam, sem pestanejar. Sem perder tempo. Não há tempo porque há artigos a vender e as marcas já pagaram as campanhas a destacar na entrada na loja… na primeira página do jornal. No telejornal.
São directores de jornais, de TVs, de rádios? São. São jornalistas? Não, não são. São líderes? Também não. Não, pelo menos, de meios de comunicação social.
Quando confrontados com esta verdade, respondem que estão a “salvar” o jornalismo e a Imprensa. Que é o dinheiro dos bancos, dos Ministérios, das direcções-gerais, das autarquias e das empresas que paga os salários dos jornalistas (ou quererão dizer os seus salários e prémios?). Que sem parcerias comerciais os jornais, as TVs, as rádios faliam.
Não compreendem. Não percebem que vendem nessas parcerias comerciais o corpo e a alma dos meios de comunicação social, e que não sobra nada similar a jornalismo. Graças a eles, hoje, banqueiros, governantes e empresários perderam o respeito pelos jornalistas e o jornalismo. Fazem troça. Afinal, são eles quem “financiam” os jornais.
E enquanto directores aparecerem sorridentes ao lado de governantes, banqueiros, empresários, a fazer vénias e a vergarem-se perante as chorudas parcerias comerciais, também não são competentes.
Serão competentes quando as redacções regressarem com jornalistas que questionam e têm tempo e capacidade para investigar, com salários dignos. Serão competentes quando escrutinarem governantes e as suas políticas. Quando escrutinarem banqueiros e os empresários e os seus negócios.
Serão competentes e independentes quando recusarem aparecer em conferências e talks em que se promovem marcas, políticos (e as suas políticas), banqueiros e empresários.
Até lá, não passam de servos dos departamentos comerciais. Dos banqueiros, dos governantes, das empresas patrocinadoras. Não são directores nem são administradores. São servos.
E são também cangalheiros a enterrar o Jornalismo. Todos juntos, os muitos directores de jornais, de revistas, de TVs, de rádios. Juntos a levar em ombros o caixão onde jaz morto o Jornalismo. Nisso sim, estão a ser muito competentes, sendo ajudados pela Comissão da Carteira Profissional de Jornalista, que, fechando os olhos às infracções cometidas nas parcerias comerciais, até leva flores para o funeral.
Enquanto ajudam a promover, a criar novos primeiros-ministros, novos presidentes, dão mais um passo no cortejo fúnebre do Jornalismo. De forma muito competente.
Elisabete Tavares é jornalista
N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.
Olhei-a com estranheza, enquanto os cabelos negros lhe invadiam a boca e com trejeitos sorridentes de criança balouçava o corpo, com um joelho apenas apoiado na cadeira, brincadeiras inventadas sem fim.
“Posso pêra?”, repeti eu de olhos arregalados num inevitável zangar despótico, pela aparente insolência de ela combater o uso de verbos ou artigos e desprestigiar assim o bordado da língua materna.
Hesitamos as duas. Ela a avaliar se tinha pisado uma risca comigo, ou se eu ia ceder. Eu a avaliar o quão ridícula me sentia por fincar pé, em coisas. Meras coisas, tantas coisas que, na verdade, poderia ceder, poderia deixar ao critério dela seguir ou não, mas avós agarrados aos meus ossos sussurram-me que endireite as costas e vinque a coisa, qualquer coisa, pelo menos uma coisa que a segure à terra quando as ventanias começarem a redemoinhar os cabelos negros e seja obrigada a franzir os olhos para conseguir ver melhor.
(É para te ver melhor.)
– Posso comer uma pêra?
Ah! Podes. Assim está melhor!
Mas que sei eu, na verdade? Se falantes de outra era, de roupas mais guarnecidas, nos ouvissem hoje a algaraviar, perguntar-se-iam como que raio havia degenerado a tal ponto a língua que, abdicando de rendilhados e vocábulos, se tinha convertido nesta coisa (qualquer coisa, pelo menos uma coisa) e talvez seja orgânico, talvez seja depurar de forma natural, pôr na borda do prato meias luas de cebola que serviram de tempero. Pode ser comido, mas pode ser recusado, porque há pressa, não há tempo, não importa.
Se tens dois verbos, usa um. Se tens artigos (pronomes) cospe-os entre os dentes, como pevides, estão a mais, cospe! Já agora, aponta apenas. Faz ugh e aguarda a interpretação. Ou que te atirem a pêra à testa a ver se acertam.
Mas que sei eu na verdade? Só o que vi que ela não viu. Não saberei o que ela verá depois de eu me finar, mas ela poderá sempre reler o passado, reler-me aqui a mim até depois de eu ser apenas um eco. E poderá até contemplar novas reflexões e interpretações deste meu rastro. Não sei. Não sei se é o culto da moda dedicado à adolescência. Dedicado aos meninos que não querem ser adultos
(e não são)
e dedicado ao abandono dos velhos, a era dos prazos de validade carimbados em Ver fundo da embalagem (o tempo perguntou ao tempo).
Que verá ela um dia, ao reler este mundo que viveu, mas não sofreu? Verá que vivíamos a era da feminilidade tóxica? A era onde homens se atreviam a fingir-se mulheres e a cobiçarem-nos o que é só nosso? A era onde os homens se baralhavam se tivessem a voz mais grave, o corpo mais maciço, a barba mais rija, a força mais bruta?
Não recordo nem suspiro por uma era em que os homens dominavam. Em que os Kilonewtons associados à força e velocidade do punho anunciavam a sua passagem num troar seco de tenor, em que o mero olhar carregado de testosterona tentava vergar a nossa mais pequenina (insolência) forma de desafiar, de dizer que estamos aqui, somos metade, somos a metade multifunções, somos a metade portal, a metade guardiã, a metade que circunda o fogo em segurança. Não somos só uma coisa, eu, ela, nós todas, meninas e mulheres.
Como se atrevem a achar que sabem o que somos? Como se atrevem a dizer que a vossa imaginação é superior a nós próprias, inteiras, ao nosso corpo, a como o nosso corpo informa a nossa alma, a como se o sangue que nos corre e alumia fosse igual a qualquer ciência do Dr. Frankenstein.
E vocês… Meninas “aliadas”, criadas de servir… Feminilidade tóxica que vos emprenha a secura (da alma), estridentes capachos de homens que invadem o nosso sexo em enorme despudor, em enorme desrespeito, a acusar outros de masculinidade tóxica. A ironia. A ironia.
– Posso pêra?
Comam, comam. Comam os verbos. Comam as essências. Cuspam as pevides.
Que sei eu? Não estarei cá para ver o destino, só estou cá para segurar a ponte neste momento. Foi o sussurro que os avós me deram, enquanto se penduraram nas minhas costelas, com peso, um por um, com ternura firme e costas direitas.
A chuva continuará a cair. Miudinha talvez. Ventanias vão e vêm, só temos de segurar a ponte.
Mariana Santos Martins é arquitecta
N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.
A batalha da “Ponte de Stirling”, ocorrida a 12 de Setembro de 1297 na Escócia e que colocou em confronto as forças escocesas, lideradas por William Wallace, e as forças inglesas, lideradas por John de Warrenne, teve como desfecho a vitória escocesa. Segundo a crónica de Lanercost, no final da batalha, William Wallace mandou retirar uma tira larga da pele de um inglês chamado Cressingham, da sua cabeça ao calcanhar, para fazer dela um báculo para a sua espada.
Esta extrema violência não tinha surgido do vácuo!, mas era o resultado da invasão da Escócia pela Inglaterra em 1296, em que o rei inglês Eduardo I forçou o rei escocês John de Balliol a abdicar. Foi seguramente o resultado do tratamento dado pelos ingleses aos escoceses durante esse período.
Assim, não pode constituir surpresa o ataque bárbaro e infame perpetrado pela organização terrorista Hamas no último dia 7 de Outubro, em que foram assassinados mais de mil israelitas e feitas reféns várias pessoas. Olho por olho, dente por dente.
Como fundamentei em artigo anterior, o Estado foi a instituição mais perversa criada pelo homem: tem o monopólio da violência e de administrar a justiça sobre um dado território, bem como o monopólio de assaltar a população desse território, mais conhecido por tributação. Trata-se de uma organização que necessita de um número crescente de hospedeiros – a razão das guerras – com o propósito de os extorquir, humilhar e roubar em favor de uma minoria privilegiada de parasitas que a controla.
No final da Primeira Guerra Mundial, com o fim do império Otomano, a Liga das Nações concedeu ao Reino Unido um mandato para o estabelecimento de condições políticas, administrativas e económicas para garantir o estabelecimento do lar nacional judaico e a salvaguarda dos direitos civis e religiosos de todos os habitantes da Palestina, sem distinção de raça e de religião.
Apenas em 1947, após o término da Segunda Guerra Mundial, a substituta da Liga das Nações, as Nações Unidas, propôs a partição da Palestina em dois Estados: um judeu e um árabe – não um, mas dois! –, sem ninguém ter questionado a aquiescência da população a esse respeito.
Como era natural, o mundo árabe nunca aceitou a presença de tal Estado nem tão pouco do Estado árabe, sucedendo-se os inevitáveis conflitos militares em que o Estado de Israel saiu quase sempre vencedor, permitindo-lhe hoje controlar um território muito superior ao plano inicial das Nações Unidas. Devido a estes conflitos, cerca de 700 mil palestinos foram expulsos ou forçados a fugir das suas terras para o Líbano e Jordânia.
E quem é que o Estado de Israel efectivamente governa, que território controla? Apesar de toda a propaganda sobre uma solução de dois Estados e dos mapas que mostram a Cisjordânia e a Faixa de Gaza separadas, o facto é que o Estado de Israel governa tudo entre o rio Jordão e o mar, dado que controla a entrada e a saída de pessoas e bens, supervisiona a segurança e tem a capacidade de impor as suas decisões, leis e políticas a milhões de pessoas sem o seu consentimento.
Em bairros de Jerusalém Oriental, os palestinos são frequentemente despejados das suas casas ao abrigo de uma lei que os declara “ausentes”, mesmo que vivam na sua casa há décadas. Num vídeo de um despejo deste tipo, um colono judeu, de forma infame, diz a um proprietário palestino o seguinte: “Se eu não a roubar, alguém a vai roubar”.
A Faixa de Gaza, conhecida por ser “a maior prisão a céu aberto do mundo” e sem a presença israelita desde 2005, continua na verdade a ser controlada por Israel a partir do exterior, atirando a sua população de dois milhões de pessoas para uma existência miserável.
Às fronteiras aéreas, marítimas e terrestres de Gaza, o Estado de Israel impõe um bloqueio económico permanente: só são concedidas autorizações de viagem a indivíduos em circunstâncias especiais, nenhum aeroporto ou porto marítimo é permitida a sua construção e as importações e exportações por via rodoviária são fortemente restringidas.
O Estado do Egipto tem agravado esta situação com as suas próprias restrições e encerramentos periódicos das fronteiras – a parte sul da Faixa de Gaza faz fronteira com o Egipto. É precisamente neste ponto que agora surgem os argumentos mais mirabolantes para justificar esta tragédia: ninguém os quer; até o Estado árabe do Egipto não lhes abre as portas; nenhuma nação árabe os aceita como refugiados.
Isto faz lembrar os argumentos dos Nacionais Socialistas dos anos 30 do século transacto: ninguém os quer, nenhum estado europeu aceita de bom grado comunidades de judeus. As semelhanças dos argumentos são notáveis!
Para piorar a situação, em 2006, os palestinos elegeram uma associação criminosa para os governar: o Hamas. Temos então um Estado terrorista, armado até aos dentes e equipado com a melhor tecnologia militar do mundo, em luta com uma organização criminosa, que vive do terror e da violência sobre a população, usando-a muitas vezes como escudos humanos.
O ataque de 7 de Outubro foi apenas mais um episódio desta guerra entre bandidos, assassinos e psicopatas, em que cada um tenta superar em violência e brutalidade o oponente. Recorda-nos a violência entre escoceses e ingleses nos tempos do “lendário” William Wallace.
O mais ridículo deste trágico conflito são os argumentos daqueles que há uns meses aplaudiam os actos de terrorismo perpetrados pelos “Estados Livres do Ocidente” durante a putativa pandemia: prisões domiciliárias, inoculações forçadas de substâncias experimentais e restrições à liberdade de circulação eram os únicos métodos válidos para “cercar o vírus”. E quem não se recorda dos inaceitáveis mísseis russos sobre as cidades ucranianas? Agora podem voar livremente nos céus de Gaza.
Dizem-nos mais: que Israel tem o direito a “defender-se”, dando-nos a entender que é legítimo terraplanar edifícios com mísseis e bombas, assassinando de forma indiscriminada. Aqui, os meios já justificam os fins. Até aprovam a desumanização dos palestinos, nomeadamente as palavras do ministro da defesa do Estado terrorista de Israel: “estamos a combater animais, não pessoas”. Ou que até mesmo a opção nuclear poderá servir para eliminar da face da Terra aquele “curral”.
Outros chegam a justificar a sua desgraça em resultado da “inferioridade” da sua civilização: o trato miserável dado às mulheres ou a discriminação dos homossexuais; esquecem-se, no entanto, de que a sua “superior civilização”, em nome de um “vírus”, discriminou a população que se recusou a ser inoculada com substâncias experimentais ou impôs um véu em forma de fralda facial.
Em nenhum momento se lhes ocorreu que toda esta violência resulta da existência de Estados e de bandidos psicopatas que aspiram a sê-lo. Não se trata da velha fórmula maniqueísta: os bons vs. os maus, mas sim de uma violência programada para dividir-nos e manipular-nos, para que nos ataquemos uns aos outros, enquanto a sua agenda progride de forma inexorável.
E que agenda é essa? Continuarem a fomentar conflitos armados que custam milhares de milhões de dólares norte-americanos, pagos com a impressora de notas de monopólio que vão parar aos bolsos de uma minoria de privilegiados, roubando-nos sem piedade, através da perda de valor do dinheiro que levamos no bolso.
Gerando-se o ódio entre nós, distraímo-nos do verdadeiro inimigo: o Estado, a entidade parasitária que necessita do nosso consentimento para sobreviver. Manter-nos cheios de medo, distraídos e resignados é a sua fórmula! Este conflito entre bandidos e psicopatas foi o cenário perfeito que se seguiu à farsa pandémica e à guerra na Ucrânia, bastava atiçar aquele vespeiro, onde as únicas vítimas são as populações israelitas e palestinas.
Luís Gomes é gestor (Faculdade de Economia de Coimbra) e empresário
N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.
Em Dezembro do ano passado, após ver-me obrigado a recorrer ao Tribunal Administrativo de Lisboa para aceder a documentos em posse da Ordem dos Médicos, publiquei um artigo de investigação que revelava as negociações, à margem das normas da DGS, entre a Ordem dos Médicos e o almirante Gouveia e Melo para a vacinação de médicos não-prioritários em Fevereiro de 2021. Além de ser ilegal, estávamos perante uma grave falha de ética, até porque, semanas antes, Gouveia e Melo substituíra Francisco Ramos por irregularidades similares no programa de vacinação contra a covid-19, que então se iniciara num (então) cenário de escassez de doses.
Mas como estamos num país indecente, o almirante Gouveia e Melo viu na Comissão da Carteira Profissional de Jornalista (CCPJ) uma excelente guarita para descredibilizar, não apenas o meu trabalho, como também para me punir.
E assim, munindo-se de recursos humanos da Armada – o Almirante Gouveia e Melo mandatou o seu próprio porta-voz para apresentar uma queixa contra um jornalista sobre um assunto que nada tinha a ver com as suas funções militares –, a sua queixa foi recebida de braços abertos por dois dos membros do Secretariado da CCPJ, que lestos concluíram que eu fizera “acusações sem provas”.
Artigo de investigação do PÁGINA UM baseou-se em documentos obtidos após uma intimação no Tribunal Administrativo de Lisboa.
Andava eu, curioso, em saber que sairia da instrução do meu processo disciplinar, e eis que recebo hoje o seguinte e-mail da CCPJ, que transcrevo na íntegra (com negritos da minha responsabilidade):
“Incumbe-me a Secção Disciplinar desta CCPJ de informar V. Exas. do despacho emitido por essa Secção e que a seguir se transcreve:
‘Encontra-se a decorrer a instrução do processo disciplinar nº 1/2023, sobre possível infração do dever previsto na alínea c) do nº 2 do artigo 14º do Estatuto do Jornalista, punível com uma das sanções disciplinares previstas no artigo 8º do Estatuto Disciplinar dos Jornalistas, contudo, como:
Os factos foram praticados em data anterior a 19 de junho de 2023;
Os factos imputados não integram a prática de qualquer ilícito penal;
As sanções aplicáveis não são superiores a suspensão ou prisão disciplinar.
(Artigo 6º – amnistia de infrações disciplinares e infrações disciplinares militares)
Entende-se estarem reunidos todos os requisitos para que o presente processo disciplinar seja abrangido pela amnistia concedida pela Lei n.º 38-A/2023, de 2 de agosto, publicada no D.R. n.º 149/2023, 1.º suplemento, série I, de 2/8/2023, págs. 2 a 7 (por ocasião da realização em Portugal da Jornada Mundial da Juventude).
Face ao exposto, e para que o procedimento disciplinar possa ser considerado extinto, vem a Secção Disciplinar perguntar a V. Exa. se não se opõe ao encerramento do processo por aplicação da referida Lei.“
A minha resposta só poderia ser a seguinte:
“Tendo sido informado de que, estando a decorrer a instrução do processo disciplinar nº 1/2023, no decurso de uma queixa do Chefe de Estado-Maior da Armada, Almirante Gouveia e Melo (que os membros do Secretariado da CCPJ, lestos, consideraram ser merecedor de infracção disciplinar, mesmo estando os factos por mim relatados a serem alvo de uma inspecção da Inspecção-Geral das Actividades em Saúde), sou agora informado de um despacho emitido pela Secção Disciplinar propondo a extinção do processo ao abrigo da amnistia concedida pela Lei nº 38-A/2023.
Como não necessito de amnistias para defender, como jornalista, o meu trabalho que, ainda mais neste caso em concreto, reputo de rigoroso e pertinente, não poderia jamais aceitar que a CCPJ pudesse deixar no ar qualquer dúvida sobre essa matéria, pelo que aguardava com interesse a finalização da instrução do processo disciplinar.
Donde, nem sequer agradecendo a V. “oferta”, como presente envenenado, serve a presente missiva para esclarecer que, OBVIAMENTE, oponho-me à extinção do processo disciplinar, reiterando, contudo, que a instrução não se prolongue ad aeternum. A única decisão que me satisfará é o arquivamento por ausência de quaisquer indícios de violação das normas previstas no Regulamento Disciplinar. Não preciso de outros ‘empenhos’.”
Na verdade, poderia ter sido mais sintético, e respondido com o título deste editorial: “Metam a amnistia onde o sol não brilha”.
Marcelo Rebelo de Sousa, o nosso Marcelo, Presidente dos Afectos e das Selfies, disse a um representante palestiniano, no Bazar Diplomático, que, “desta vez, foram vocês que começaram” e “têm que ser mais moderados”. Há muito que deixei de prestar atenção a MRS, não só por ser um presidente no qual não me sinto representado mas, principalmente, pela vergonha alheia que me causa.
Sempre achei o Marcelo, suposto ‘afilhado’ do outro Marcelo, um excelente actor. Alguém que, lá no íntimo, bebeu os ensinamentos do Estado Novo, maturou aquele conservadorismo ao longo das décadas e deu-lhe uma nova roupagem de modernidade nos comentários da TVI, até se tornar um suportável moderado para ganhar eleições.
No fundo, no fundo, Marcelo é aquele velhinho hiperactivo que não distingue proximidade da população com demagogia barata. Aquele que não separa a pose de Estado da piada barata. Aquele que pensa que estar à vontade e à vontadinha são a mesma coisa.
Marcelo é o homem profundamente sensível e preocupado que aparece na capa das revistas agarrado a outro ancião que chora, desesperado, a perda da casa e pertences engolidos pelo fogo de Pedrógão, mas que, depois das luzes das televisões se desligarem, o viu morrer alguns anos depois, ainda sem ter uma casa para viver.
Marcelo é o presidente que visita a comunidade portuguesa no Canadá e comenta o tamanho dos decotes alheios, ou é aquele que passa pelo Alentejo e faz questão de realçar a obesidade de uma das pessoas com quem tira fotografias. Marcelo é um homem que me envergonha, por estes dias, enquanto primeira figura da Nação.
Se enquanto o tema são decotes, ainda se pode mudar de canal e procurar temas fracturantes. Mas quando a gaffe acontece dirigida a Gaza, já é mais difícil de tolerar. Essencialmente, por uma questão: não é uma gaffe.
Não foi um deslize. Não foi uma inconveniência. Foi sim a demonstração de uma ideologia e de um pensamento profundamente enviesado, onde Marcelo não está sozinho neste chamado “Mundo Ocidental”, note-se. Mesmo sabendo ser nula a importância de Portugal nas decisões que contam para a política externa da União Europeia, eu fico, ainda assim, incomodado por ver que um Presidente, o do país onde nasci, dizer a um diplomata palestiniano que, “desta vez, eles é que começaram”.
De forma educada, o representante da Palestina ainda respondeu: “Senhor. Presidente, nós estamos a ser ocupados há 56 anos… Como é que começámos algo?” E Marcelo, como não é rapaz de se calar perante as asneiras, ainda retorquiu que precisam de mais moderação.
Faz sentido. De facto, tudo aquilo que precisa um povo a viver há décadas numa prisão, e a ser chacinado perante a aprovação do Ocidente, com uma tenebrosa regularidade, é de mais calma e de mais moderação. Como não pedir a pessoas que andam há 50 anos a retirar os filhos de baixo dos escombros de edifícios, que tenham mais calma e moderação perante o invasor?
Há uma imagem deste fim-de-semana que me marcou. Um pai, relativamente novo, que gritava desesperado para encontrarem o filho no meio da destruição provocada pelo bombardeamento. Um entre milhares que ficam sem os filhos sem terem feito absolutamente nada que não seja aceitar nascer, viver e morrer numa terra cercada.
Enquanto vejo o desespero daquele homem, e de imediato penso na dor que deve ser perder um filho, imagino o novo militante do Hamas que ali se criou. Em que Mundo vivemos nós se imaginarmos que, para destruir o Hamas, se torna aceitável arrasar milhares de palestinianos inocentes? A única coisa que Israel conseguirá é, sem a mais pequena dúvida, engrossar as filas dos guerrilheiros que defendem o fim de Israel.
Entretanto, o ‘nosso’ general-NATO, Isidro Pereira, comentava um destes dias que a Resolução das Nações Unidas sobre alvos permitidos é muito clara. Se por lá anda o inimigo, deixa de ser zona civil e passa a militar. Ou seja, num espaço tão pequeno como Gaza, isto é uma espécie de bar aberto. Se entre túneis, um militante do Hamas passar numa qualquer rua de Gaza, aquela rua passa a ser um alvo possível. E é dessa forma que, ao fim de três semanas, os mortos palestinianos vão a caminho dos 11.000. Mais crianças e adultos civis do que em toda a guerra da Ucrânia.
Dizia outro diplomata palestiniano em Londres que, desta vez, os olhos do mundo se viraram para Gaza porque há mortos israelitas para lamentar. Esta parte é muito importante, pois também mostra o nosso racismo primário nas décadas deste conflito.
No dia 7 de Outubro, o Hamas fugiu ao controlo israelita, que por norma controla a prisão onde os palestinianos vivem, e num ataque sem precedentes, matou mais de mil israelitas entre soldados e civis. O mundo condenou (e bem) o Hamas, e o racismo presente em boa parte dos analistas, tratou de sincronizar o relógio do conflito israelo-árabe para a linha temporal definida por Marcelo Rebelo de Sousa.
Desta vez, “foram vocês que começaram”. Desta vez, foram vocês que não ficaram quietos e moderados, satisfeitos e pacientes, dentro do pátio da prisão. Desta vez, foram vocês que não se deixaram matar, tranquilamente e sem grande barulho do Ocidente, pelos bombardeamentos habituais e rotineiros.
Hoje, três semanas passadas, cada morto israelita foi honrado e vingado com 11 mortos palestinianos, quatro ou cinco dos quais crianças. Mais de um milhão de pessoas deslocadas. Um genocídio em curso perante a protecção norte-americana e, parcialmente, europeia.
Há 50 anos que estamos habituados aos rodapés de Gaza e da Cisjordânia. Mais uma bomba, mais 50 mortos; mais uma retaliação, mais 100 presos como resposta à morte de um rabino; mais quatro prédios no chão por causa do rocket que ficou no Iron Dome.
A moderação dos palestinianos levou-os a aguentar uma ocupação durante 75 anos, a ver mais de 30.000 pessoas morrerem em bombardeamentos indiscriminados de Israel e a ter um terço da população deslocada. Quase 1,5 milhões de palestinianos não sabem o que é viver fora de um campo de refugiados. Mas notem… Foram eles que começaram, desta vez.
Marcelo, como diria um rei espanhol de má memória: ¿Por qué no te callas?
Tiago Franco é engenheiro de desenvolvimento na EcarX (Suécia)
N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.
As instituições públicas são hoje vítimas da cultura desresponsabilizada. O “quero lá saber”; o “não me importa”; o “isto é tudo nosso”, permitiu um regabofe que desautoriza as coordenações e a gestão.
Retomo a manhã num hospital onde passaram a noite dezenas de computadores ligados, onde os ares condicionados estiveram a bombar para salas desertas, onde o calor desmedido vai para a rua pelas janelas abertas, onde as luzes acesas não importam a ninguém.
De manhã, chegarão os cumpridores de protocolos, os carneiros e as ovelhas que fazem o que lhes dizem – cumprem, portanto!
São os mesmos que deixaram as luzes acesas, os computadores ligados, as torneiras a pingar, e não registam. São os mesmos que não levantam os pratos, não arrumam os tabuleiros e não se questionam. Porque coloco uma tolha de papel nos tabuleiros da cantina ou do restaurante? Porque preciso de telemóvel de manhã? Para que serve este ruído que coloco nos ouvidos ao despertar? Porque tomo banhos tão demorados? Porque deixo a torneira aberta enquanto esfrego os dentes? Porque?
São os mesmos do discurso sustentável e amigos dos animais.
Nunca se questionam do valor da pegada ecológica dos seus pets. Nunca se interrogam da enormidade de coisas desnecessárias que fazem. Antes de ver doentes, já pediram análises e exames complementares. Antes de palpar, auscultar, sentir, já têm opinião. Abrir coisas sem ter certeza de as utilizar. O desperdício e a cultura de não reutilizar instalaram-se como normas e protocolos indiscutíveis.
Não há perguntas, e quando se levantam, são como ofensas. Claro que os volumes de entradas e saídas levam a rotinas, e estas facilitam os gestos repetidos. O discurso da identidade, da individualidade, morre nesta prática repetitiva.
Há uma cultura defensiva que sobre passa a sustentabilidade. Melhor fazer tudo do que ser acusado de alguma coisa. Assim, desresponsabilizar é diluir decisões, é aumentar desperdício, é fazer exames de modo incontrolado. Hoje, a cidadania vive dos medos televisivos.
Os problemas hiperbolizados nas reportagens insanas, onde os miseráveis explanam suas dores, onde os protestos geram audiências que não cuidam de saber, não cuidam de perguntar, mas atiram ódios e likes para matar.
É o tempo das perguntas-aforismo: “Pode ser grave”; “pode haver alguma coisa”; “como pode garantir isso?” O pânico gera sempre processos irracionais e o medo pode ser construído, induzido, incutido. Afinal o medo é um negócio também. Temos de perceber e interiorizar que a vida é sem garantia. A vida decorre sem certezas.
Já os sinais existem para se lhes dar atenção. Se fizermos milhares de exames sem sinais de perigo, estamos a gerar desperdício. A cultura dos rastreios é cada vez mais discutível! Os rastreios geram muito poucos diagnósticos para o volume que se gasta. Há toda uma indústria do rastreio que gera negócios avultados. Uma observação cuidada das pessoas tem muito maior eficiência.
A realidade de hoje são milhões de toneladas de lixo e desperdício construídas para obrigação de normas e milhões de inutilidades para satisfazer a desresponsabilização. Os supermercados dão aulas de desperdício quando vendem maçãs embaladas duplamente. Mas eles cumprem normas europeias, desenhadas por meninos que legislam em diarreia sobre coisas de que não tiveram qualquer experiência. Os hospitais são supermercados com tripla embalagem para a maçã.
O desperdício e o exagero são pois a doença nova das sociedades que vivem sob o mando dos legisladores. A melhor regra que conheço é o Código de Estrada, mas a realidade das megacidades asiáticas e africanas comprova que no caos também se desenrascam. Prefiro viver com regras, prefiro uma sociedade com educação.
E o que é a educação? É a percepção da importância dos outros nas nossas vidas. Porque os outros existem, não devo ter o telefone aos gritos. Porque respeito os outros, devo deixar entrar na fila um a um. Porque somos pessoas, não devo pedir exames desnecessários. Porque somos gente, devemos falar mais que teclar nas redes.
Diogo Cabrita é médico
N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.