Etiqueta: Destaque Notícias

  • CEO da Global Media deixou Tal&Qual em falência técnica e com processo de 250 mil euros às costas

    CEO da Global Media deixou Tal&Qual em falência técnica e com processo de 250 mil euros às costas


    José Paulo Fafe ‘refundou’ o semanário Tal & Qual em 2021, mas bastaram-lhe dois anos para deixar a empresa gestora em falência técnica e um passivo de 334 mil euros. Mas também não quis mostrar à Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) as contas da empresa Parem as Máquinas, que criou para gerir o semanário, nem elaborou o obrigatório relatório do governo societário. O regulador ainda andou meses a tentar ‘ajudar’ a Parem as Máquinas, mas perante o “manifesto desinteresse no cumprimento das obrigações legais”, a paciência esgotou-se. A ERC deliberou assim abrir um processo de contra-ordenação que, pela elevada gravidade, pode atingir um máximo de 250 mil euros. A comunicação da ERC para a Parem as Máquinas seguiu para o mesmo endereço da Páginas Civilizadas, o accionista maioritário da Global Media, liderada por José Paulo Fafe. Fica tudo em casa.


    O actual CEO da Global Media, José Paulo Fafe, não foi homem para deixar apenas a empresa Parem as Máquinas, detentora do semanário Tal & Qual – das quais foi gerente até Maio passado e director, respectivamente –, com dívidas de mais de 334 mil euros e em falência técnica ao fim de dois anos de existência. Deixou-lhe também um ‘legado’: um processo de contra-ordenação por violação reiterada das regras da Lei da Transparência dos Media. A coima a aplicar pela Entidade Reguladora para a Comunicação Social pode chegar aos 250 mil euros, sendo que a sanção mínima é de 50 mil.

    A deliberação do regulador foi hoje divulgada, tendo sido aprovada no passado dia 6, e relata as pacientes diligências na tentativa de levar José Paulo Fafe, então gerente, a enviar os elementos financeiros da empresa do Tal & Qual, ‘refundado’ em 2021, bem como os relatórios do governo societário.

    José Paulo Fafe, ex-jornalista, ex-gerente da Parem as Máquinas e actual CEO da Global Media, que anunciou rescisões de até 200 colaboradores.

    De acordo com a deliberação, a Unidade de Transparência dos Media (UTM) da ERC começou por contactar a Parem as Máquinas no início de Abril deste ano quando foi detectada ausência completa de informação financeira relevante e o relatório do governo societário desde a sua inscrição. E adianta-se, em seguida, que após uma troca de mensagens electrónicas, “a Regulada [ou seja, José Paulo Fafe, que era então o seu representante legal] entrou em contacto com a ERC, por via telefónica”, acrescentando-se que “demonstrou falta de conhecimento e manifesto desinteresse no cumprimento das obrigações legais da transparência dos media”.

    Mesmo assim a UTM da ERC prestou-se a colaborar com José Paulo Fafe, enviando-lhe em 23 de Maio “uma minuta de Relatório de Governo Societário para auxílio da entidade [Parem as Máquinas] na respetiva elaboração”. Mas os meses foram passando, e nada.

    “À presente data, os serviços da UTM verificaram que a Regulada não tomou qualquer ação para sanar as faltas, de forma completa, nem apresentou qualquer fundamento para essas faltas, mantendo-se em incumprimento relativamente ao reporte dos elementos obrigatórios”, salienta-se na deliberação da ERC, concretizando que se verifica “a falta do reporte legalmente obrigatório dos indicadores financeiros de 2021 e de 2022, nos termos do artigo 5º da Lei da Transparência e do artigo 3º do Regulamento, e encontram-se em falta os elementos indicados no quadro 6 dos Relatórios de Governo Societário relativos aos anos de 2021 e 2022, nos termos do artigo 16º da Lei da Transparência, e, por remissão do nº 2, do artigo 5º, nº 1 a 7, do Regulamento.” E diz ainda que “falta igualmente identificar o Responsável pela Orientação Editorial da Publicação Periódica Tal&Qual e atualizar a estrutura do capital social em conformidade com o Registo Comercial”.

    Tal & Qual, ‘refundado’ em 2021 quis mostrar irreverência, enquanto, em simultâneo, nunca quis mostrar as contas exigidas pela Lei da Transparência dos Media.

    De facto, grande parte da parca informação que actualmente consta no Portal da Transparência dos Media encontra-se errada ou desactualizada, constando no registo sócios que já saíram da empresa há meses, e mesmo José Paulo Fafe surge ainda como gerente da Parem as Máquinas, apesar de já ter renunciado e deixado mesmo de ser sócio desde Outubro. Aliás, neste momento, nos registos da ERC nem sequer aparece qualquer responsável editorial do Tal & Qual, apesar de na ficha técnica deste semanário surgir o nome de Jorge Lemos Peixoto.  

    Nessa medida, não restou outra alternativa à ERC, agora liderada por Helena Sousa, do que instaurar um processo de contra-ordenação, que será agora conduzido pela Unidade de Contraordenações para a fixação da coima por uma mais que evidente violação da Lei da Transparência dos Media. Como a falta, ainda mais reiterada, e nem sequer por negligência, é considerada “muito grave”, a coima mínima prevista é de 50 mil euros, podem ir até aos 250 mil euros. A fixação da sanção dependerá também do preenchimento ou não dos elementos em falta, que são de preenchimento fácil se a Parem as Máquinas estiver para aí virada.

    Saliente-se que, apesar da formalização da sua saída da empresa Parem as Máquinas (e do Tal&Qual) em finais de Maio, e a sua subsequente entrada em Junho na gerência da Páginas Civilizadas (dominada pelo fundo das Bahamas), José Paulo Fafe nunca se desligou da realidade do Tal & Qual. Na verdade, apesar de ser gerida pela Parem as Máquinas, o título deste semanário está registado no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) como pertencente à Global Media. E além disso, actualmente a Páginas Civilizadas compartilha a mesma sede, no Tagus Park, da Parem as Máquinas e do semanário Tal&Qual. Ou seja, ‘tudo em casa’.

    O francês Clement Ducasse é o beneficiário efectivo do World Opportunity Fund que controla agora a Global Media. A ERC quer que o grupo de media identifique os investidores ‘dentro’ do fundo, mas José Paulo Fafe já veio dizer que é “uma coisa de doidos”.

    Recorde-se que José Paulo Fafe deixou o semanário Tal & Qual e a Parem as Máquinas para assumir recentemente o cargo de presidente executivo da Global Media por indicação de um fundo sedeado nas Bahamas (World Opportunity Fund), que possui indirectamente a maioria do capital social do grupo que detém, entre outros, o Diário do Notícias, o Jornal de Notícias, O Jogo, o Dinheiro Vivo e a TSF, além de uma participação relevante na Lusa.

    Embora se conheça já o beneficiário efectivo do fundo bahamiano – o especulador financeiro globetrotter francês Clement Ducasse –, revelado em primeira mão pelo PÁGINA UM, a ERC tem estado a exigir à Global Media a identificação de pessoas ou entidades que tenham suficientes participações no World Opportunity Fund que impliquem direitos superiores a 5% naquele grupo de media. Na semana passada, José Paulo Fafe considerou, em entrevista ao Eco, ser “uma coisa de doidos”, a ERC exigir à Global Media “a identificação dos detentores de unidades de participação” do World Opportunity Fund, admitindo que nem ele sabe quantos depositantes tem. O azar de Fafe é que, apreciando ou não a transparência nos investimentos nos media, a lei lhe exige saber e indicar quem tem mais de 5% dos direitos de voto.

  • Abram alas para o PNS: o político favorito da Imprensa!

    Abram alas para o PNS: o político favorito da Imprensa!


    Neste sexto episódio da segunda temporada do podcast Caramba, ó Galamba, a jornalista Elisabete Tavares comenta a cobertura vergonhosa e descarada que a Imprensa faz em torno do novo líder do PS. Pedro Nuno Santos nem precisa fazer campanha eleitoral ou investir em ‘tempos de antena’. A Imprensa trata de lhe fazer a ‘papinha’ toda e não esconde o deslumbramento e posição de servitude.

    Acesso: LIVRE

    Subscreva o P1 PODCAST para garantir a ampliação do trabalho do PÁGINA UM.

  • Ordem dos Médicos de Carlos Cortes vai a tribunal por não mostrar pareceres comprometedores escondidos por Miguel Guimarães

    Ordem dos Médicos de Carlos Cortes vai a tribunal por não mostrar pareceres comprometedores escondidos por Miguel Guimarães


    Afinal, mudam os tempos, mas mantêm-se as más vontades. O actual bastonário da Ordem dos Médicos, Carlos Cortes, decidiu divulgar em Setembro passado um parecer do Colégio de Pediatria, onde se desaconselhava a vacinação de jovens contra a covid-19 e criticava mesmo as pressões da indústria farmacêutica, mas continua a recusar mostrar dois pareceres de 2021 que foram ‘engavetados’ por ordem de Miguel Guimarães. Este anterior bastonário liderou uma campanha de ‘perseguição’ sobre os médicos que questionaram critérios de segurança e chegou mesmo a abrir um processo disciplinar contra o presidente do Colégio de Pediatria, Jorge Amil Dias. Em resultado desta recusa, o PÁGINA UM apresentou agora uma intimação no Tribunal Administrativo de Lisboa, através do seu FUNDO JURÍDICO.


    A Ordem dos Médicos, agora liderada por Carlos Cortes, recusa divulgar dois pareceres emitidos pelo seu Colégio de Pediatria em Julho e Outubro de 2021, no auge do polémico programa de vacinação de crianças e adolescentes contra a covid-19, que foram ‘engavetados’ pelo então bastonário Miguel Guimarães.

    Em resultado dessa recusa, o PÁGINA UM fez entrar ontem um processo de intimação no Tribunal Administrativo de Lisboa, que também requer a consulta de uma auditoria prometida no ano passado à campanha Todos por Quem Cuida.

    white and black labeled bottle

    A existência dos dois pareceres do Colégio de Pediatria, presidido pelo médico Jorge Amil Dias, escondidos em 2021, foi apenas conhecida através do texto do terceiro parecer sobre esta matéria, que o agora bastonário Carlos Cortes permitiu divulgar.

    Nesse terceiro parecer, com data de 13 de Setembro de 2023, além de se criticar as “manifestações públicas sobre o assunto, geralmente veiculadas ou patrocinadas pela indústria com directo interesse financeiro”, fazia-se desde logo referências aos outros dois pareceres, que aquele Colégio, “oportunamente submeteu” a Miguel Guimarães, que nunca se mostrou interessado em os divulgar, pelo contrário.

    Na verdade, embora o teor desses dois pareceres, relacionados com as vacinação de adolescentes e de crianças, não seja conhecido, Miguel Guimarães e o então Gabinete de Crise da Ordem dos Médicos, presidido pelo pneumologista Filipe Froes, trataram de criar uma campanha pública de perseguição e ostracismo aos profissionais de saúde que colocavam dúvidas sobre a necessidade e a segurança da vacinação de menores.

    Filipe Froes (ao centro), com fortes ligações à indústria farmacêutica, foi mandatário da candidatura de Carlos Cortes (quarto à esquerda), actual bastonário da Ordem dos Médicos.

    O próprio presidente do Colégio de Pediatria, Amil Dias, seria mesmo alvo de um processo disciplinar por via de uma queixa assinada por, entre outros, Filipe Froes, Luís Varandas e Carlos Robalo Cordeiro, todos médicos com fortíssimas relações comerciais com a indústria farmacêutica, incluindo a Pfizer, que vendeu as vacinas para os menores. O processo seria arquivado apenas em Novembro do ano passado, mas durante meses conseguiu-se criar uma aura de censura contra os médicos que desaconselhavam a vacinação generalizada para jovens.

    O acesso aos dois pareceres escondidos, que agora o PÁGINA UM requereu que o Tribunal Administrativo de Lisboa obrigue a Ordem dos Médicos a mostrar, fará luz a um dos episódios mais amorais da Medicina moderna, em que autoridades de Saúde, médicos e a generalidade da imprensa criaram na segunda metade de 2021 um ambiente de pressão psicológica para pais levarem os filhos menores a vacinarem-se para supostamente se protegerem contra uma doença que se mostrava inofensiva para jovens saudáveis, e sobre a qual não existiam estudos aprofundados sobre os efeitos adversos.

    Em Portugal, entre Setembro e Novembro de 2021 foram vacinadas com pelo menos uma dose, mais de 560 mil jovens entre os 12 e os 17 anos. No caso das crianças entre os 5 e os 11 anos, cuja campanha de vacinação decorreu a partir do final de 2021 acabaram por ser inoculadas mais de 335 mil. Saliente-se que, antes da vacinação, não se registou qualquer vítima mortal causada pelo SARS-CoV-2 nestas faixas etárias.

    Miguel Guimarães e Ana Paula Martins foram, respectivamente, bastonários das Ordens dos Médicos e dos Farmacêuticos durante grande parte da pandemia.

    Recorde-se ainda que a mais recente norma da Direcção-Geral da Saúde, de Setembro passado, apenas passou a eleger para vacinação sazonal os profissionais e residentes em lares, os prestadores de serviços e cuidadores de saúde, os maiores de 60 anos e as pessoas com graves comorbilidades.

    O PÁGINA UM também requereu ao Tribunal Administrativo de Lisboa que obrigue a Ordem dos Médicos a mostrar uma suposta auditoria à campanha Todos por Quem Cuida, que durante a pandemia arrecadou mais 1,4 milhões de euros, sobretudo proveniente de farmacêuticas, e que permitiu condições para criar um “saco azul” de mais de 968 mil euros na Ordem dos Médicos, uma vez que foram usadas facturas falsas e outros esquemas de muito duvidosa legalidade. Esta campanha foi dirigida pelas Ordens dos Médicos e dos Farmacêuticos, e aquando de uma outra intimação (ganha pelo PÁGINA UM em 2022) aquelas entidades declararam ao Tribunal Administrativo de Lisboa que estavam a realizar uma auditoria à campanha, mas nunca a divulgaram.


    N.D. Os processos de intimação do PÁGINA UM só são possíveis com o apoio dos leitores. Todos os encargos do PÁGINA UM nos processos administrativos, incluindo taxas de justiça e honorários de advogado, têm sido suportados através do FUNDO JURÍDICO. Cada processo de intimação tem um custo mínimo inicial de 500 euros, que pode ser menor ou (muito) maior em função dos eventuais recursos ou do seu desfecho (favorável ou desfavorável). Neste momento, por força de duas dezenas de processos que intentámos nos últimos 20 meses, o PÁGINA UM faz um apelo para um reforço destes apoios fundamentais para a defesa da democracia e de um jornalismo independente. Recorde-se que o PÁGINA UM não tem publicidade nem parcerias comerciais, garantindo assim a máxima independência, mas colocando também restrições financeiras. Apoie esta iniciativa de um jornal independente que não teme lutar pelo acesso à informação.

  • Lusa usa e abusa de ajustes directos com a Altice

    Lusa usa e abusa de ajustes directos com a Altice


    A administração da Lusa – Agência de Notícias de Portugal é adepta dos contratos por ajuste directo. Só na passada sexta-feira, dia 15 de Dezembro, publicou na plataforma de registo das compras públicas (Portal Base) um total de cinco contratos adjudicados sem concurso. Um deles, foi efectuado com a Meo, da Altice, no valor de 259.797,72 euros e assinado a 6 de Abril deste ano, mas só agora divulgado.

    Mas esta não foi a única vez que a Lusa contratou serviços à Altice sem concurso. Desde 2015, altura em que a Altice passou a deter a Meo, a Lusa pagou, no total, mais de 4,6 milhões de euros na contratação de serviços à empresa. Dos 15 contratos efectuados entre a Lusa e a Meo, que constam do Portal Base, nove foram feitos por ajuste directo.

    A maior parte dos contratos, num total de 10, foram efectuados nos últimos cinco anos, envolvendo uma verba superior a 3,4 milhões de euros. Destes, seis foram realizados sem concurso.

    Para justificar a realização dos diversos contratos por ajuste directo, a agência noticiosa, que é detida maioritariamente pelo Estado, tem invocado diferentes artigos do Código dos Contratos Públicos. No caso do mais recente ajuste directo feito com o Meo, a Lusa invoca o artigo que refere que o ajuste directo pode ser feito quando “se trate de novos serviços que consistam na repetição de serviços similares que tenham sido objeto de contrato anteriormente celebrado pela mesma entidade adjudicante com o mesmo adjudicatário”.

    O anterior contrato da Lusa feito com a Meo no dia 29 de Abril de 2022, mas só publicado a 6 de Fevereiro deste ano, no valor de 112.977,51 euros, foi efectuado por concurso público. Nos contratos anteriores, observam-se vários que foram realizados sucessivamente por ajuste directo, nomeadamente em 2022 e 2018.

    Além dos contratos feitos com a Meo, a Lusa ainda pagou à Altice mais de 16 mil euros em três ajustes directos efectuados com o data center que o grupo detém na Covilhã.

    (Foto: D.R.)

    Não é só com a Meo que a Lusa dá primazia aos ajustes directos. Dos cinco contratos que a agência noticiosa fez sem concurso, publicados no dia 15 de Dezembro, três dizem respeito a serviços de aluguer de viaturas. Foram adjudicados a três entidades diferentes e somam a verba de quase 40 mil euros. Nestes casos, por exemplo, a justificação invocada pela Lusa, citando a lei, para o ajuste directo com a Leaseplan, no valor de 20.519,64 euros, para o “aluguer operacional de 6 viaturas” é de que é “necessário proteger direitos exclusivos, incluindo direitos de propriedade intelectual”. Também este contrato foi agora publicado com atraso, já que a data de assinatura é de 3 de Julho.

    Além de ser adepta da contratação sem concurso, a Lusa também demora meses a divulgar no Portal Base os contratos que faz.

    Questionada, ao início da tarde de hoje, sobre o número de ajustes directos que tem realizado, em particular com a Meo, a Lusa não respondeu às perguntas do PÁGINA UM, até à hora de publicação desta notícia.

    O contrato entre a Lusa e a Meo, da Altice, integra o Boletim P1 da Contratação Pública e Ajustes Directos que agrega os contratos divulgados no dia 15 de Dezembro. Desde Setembro, o PÁGINA UM apresenta uma análise diária aos contratos publicados no dia anterior (independentemente da data da assinatura) no Portal Base. De segunda a sexta-feira, o PÁGINA UM faz uma leitura do Portal Base para revelar os principais contratos públicos, destacando sobretudo aqueles que foram assumidos por ajuste directo.

    ET/MAP


    Nos últimos três dias, de sexta-feira passada até ontem, no Portal Base foram divulgados 1082 contratos públicos, com preços entre os 12,05 euros – para aquisição de medicamentos, pela Administração Regional de Saúde do Algarve, ao abrigo de acordo-quadro – e os 7.674.279,89 euros – para empreitada de beneficiação, requalificação e ampliação do Hospital da Horta, pela Direcção Regional das Obras Públicas e Transportes Terrestres, através de concurso público.

    Com preço contratual acima de 500.000 euros, foram publicados 13 contratos, dos quais 12 por concurso público e um por consulta prévia.

    Por ajuste directo, com preço contratual superior a 100.000 euros, foram publicados 14 contratos, pelas seguintes entidades adjudicantes: Associação de Solidariedade Social Recreio do Caramulo (com a Viseton – Engenharia e Construção, no valor de 274.544,90 euros); Lusa – Agência de Notícias de Portugal (com a MEO, no valor de 259.797,72 euros); Município de Vidigueira (com a António Saraiva & Filhos, Lda., no valor de 225.771,13 euros); Câmara Municipal de Mafra (com a Leaseplan Portugal, no valor de 177.417,68 euros); Município do Seixal (com a Bewg (Pt), no valor de 167.990,00 euros); dois do Serviço de Saúde da Região Autónoma da Madeira (um com a Amgen – Biofarmacêutica, no valor de 154.728,00 euros, e outro com a Vertex Pharmaceuticals, no valor de 117.830,16 euros); Município de Espinho (com a IPAV – Instituto Padre António Vieira, no valor de 151.725,00 euros); Escola Básica e Secundária Professor Doutor Francisco de Freitas Branco (com a Porto Editora, no valor de 124.152,05 euros); Ministério da Defesa Nacional – Marinha (com a Thales Edisoft Portugal, no valor de 123.626,30 euros); Secretaria-Geral do Ministério dos Negócios Estrangeiros (com a Fujitsu Technology Solutions, no valor de 121.367,60 euros); Município de Peniche (com a Medidata.Net – Sistemas de Informação para Autarquias, no valor de 115.859,16 euros); e o Município de Sintra  (com a Mind – Software Multimédia e Industrial, no valor de  102.464,00 euros).


    TOP 5 dos contratos públicos divulgados no período de 15 a 17 de Dezembro

    1 Empreitada de beneficiação, requalificação e ampliação do Hospital da Horta

    Adjudicante: Direção Regional das Obras Públicas e Transportes Terrestres

    Adjudicatário: AFAVIAS – Engenharia e Construções; AFAVIAS – Engenharia e Construções Açores    

    Preço contratual: 7.674.279,89 euros

    Tipo de procedimento: Concurso público


    2Requalificação de Escola Básica de 2º e 3º Ciclos

    Adjudicante: Município de Leiria

    Adjudicatário: Nova Gente – Empreitadas

    Preço contratual: 7.137.008,48 euros

    Tipo de procedimento: Concurso público    


    3Aquisição de serviços de viagens, transportes aéreos e alojamento para 2023-2026

    Adjudicante: Secretaria-Geral do Ministério dos Negócios Estrangeiros

    Adjudicatário: Escalatur – Viagens e Turismo

    Preço contratual: 5.573.170,73 euros

    Tipo de procedimento: Concurso limitado por prévia qualificação


    4Construção de Estrutura Residencial para Pessoas Idosas em Lousada

    Adjudicante: Ave – Cooperativa de Intervenção Psico-Social

    Adjudicatário: NVE Engenharias

    Preço contratual: 4.788.634,18 euros

    Tipo de procedimento: Concurso público


    5Construção de Estrutura Residencial para Pessoas Idosas

    Adjudicante: Centro Social da Paróquia de Curvos

    Adjudicatário: Monte & Monte S.A.  

    Preço contratual: 3.094.185,63 euros

    Tipo de procedimento: Concurso público


    TOP 5 dos contratos públicos por ajuste directo divulgados no período de 15 a 17 de Dezembro

    1 Empreitada de alteração e ampliação de edifício destinado a creche

    Adjudicante: Associação de Solidariedade Social Recreio do Caramulo

    Adjudicatário: Viseton – Engenharia e Construção

    Preço contratual: 274.544,90 euros


    2Aquisição de serviços de comunicações electrónicas e outsourcing de infraestruturas de tecnologias de informação

    Adjudicante: Lusa – Agência de Notícias de Portugal

    Adjudicatário: MEO   

    Preço contratual: 259.797,72 euros


    3Reabilitação do Parque Urbano Verde de Vidigueira – Trabalhos complementares

    Adjudicante: Município de Vidigueira

    Adjudicatário: António Saraiva & Filhos, Lda.         

    Preço contratual: 225.771,13 euros 


    4Fornecimento de 15 viaturas usadas, dos tipos ligeiro de mercadorias e ligeiro de passageiros

    Adjudicante: Câmara Municipal de Mafra

    Adjudicatário: Leaseplan Portugal

    Preço contratual: 177.417,68 euros


    5Aquisição de serviços de recolha de resíduos sólidos urbanos pelo período de 204 dias

    Adjudicante: Município do Seixal

    Adjudicatário: Bewg (Pt)

    Preço contratual: 167.990,00 euros


    MAP

  • Universidade Nova de Lisboa anula concurso público para entregar obra a empresa com capital social de 5.000 euros

    Universidade Nova de Lisboa anula concurso público para entregar obra a empresa com capital social de 5.000 euros


    Para restaurar as fachadas e cobertura do edifício VIII do seu Campus, a Faculdade de Ciências e Tecnologia (FCT) da Universidade Nova de Lisboa, no Monte da Caparica, entregou a responsabilidade, a troco de 784.400 euros (IVA incluído) a uma pequena empresa de construção local, com sede em Almada, desconhecida do sector público, e que se dedica também ao arrendamento de imóveis e ao alojamento local. O contrato foi assinado ontem, e também ontem publicado no Portal Base, onde surge também a informação do prazo de execução.

    Até aqui tudo estaria bem, poque quem reabilita obras não está impedida do negócio do alojamento local, mas há aspectos que suscitam estranheza, que não foi esclarecida pela Universidade Nova de Lisboa. Por um lado, a obra foi adjudicada por ajuste directo a esta pequena empresa, com um capital social de apenas 5.000 euros,depois de um concurso público de que pouco se sabe.

    Consultando os documentos disponíveis no Portal Base, nada se sabe da causa principal para a empreitada ter ido parar de mão-beijada à Metrical – Engenharia, uma pequena empresa cuja dimensão poderia colocar a dúvida sobre a sua capacidade para dar garantias de execução da obra. Sabe-se apenas que em Agosto passado, a Universidade Nova de Lisboa lançou um concurso público, cujas candidaturas terminaram no início de Setembro. Mas em Outubro decidiu excluir todas as candidaturas, não havendo informação no Portal Base sobre quais as empresas que concorreram nem os motivos para a exclusão de todas. O silêncio da Universidade Nova de Lisboa perante os pedidos de esclarecimento do PÁGINA UM não ajudam a saber mais nada.

    Segundo o contrato firmado com a Metrical – Engenharia, a Universidade Nova de Lisboa invoca para o negócio ser feito por ajuste directo a alínea b) do n.º 1 do artigo 24º do Código dos Contratos Públicos, que refere a possibilidade de adjudicação directa quando “em anterior concurso público ou concurso limitado por prévia qualificação para a formação de contratos de valor inferior aos limiares referidos nos n.os 2, 3 ou 4 do artigo 474.º, consoante o caso, todas as propostas ou todas as candidaturas tenham sido excluídas”.

    Person Using Dewalt Cordless Impact Driver on Brown Board

    Contudo, na ‘ficha’ com o resumo deste ajuste directo, disponível no Portal Base, o motivo invocado pela FCT – Nova para a entrega deste negócio directamente à Metrical, sem concurso, é “ausência de recursos próprios”. Como o PÁGINA UM não recebeu quaisquer informações ignora-se, por agora, se, por exemplo, a Metrical – Engenharia, foi uma das empresas que concorreram e foram excluídas.

    Por esclarecer, fica também o porquê de a escolha da FCT – Nova para o ajuste directo ter recaído sobre uma empresa sem qualquer anterior obra feita com entidades públicas. Ou seja, ignora-se quem foi o responsável que se lembrou de convidar a Metrical.

    Também por explicar fica o facto de no ajuste directo, na 1ª cláusula, ser indicado que a Metrical – Engenharia deve possuir alvará, entre outros, na subcategoria 12ª da 4ª categoria. Não se sabe se será um lapso, mas o facto é que no IMPIC-Instituto dos Mercados Públicos do Imobiliário e Construção não consta que a empresa tenha esse alvará.

    group of person on stairs

    A Metrical – Engenharia tem como objecto da sociedade “projectos e construção de obras de construção civil públicas e privadas, compra e venda de bens móveis e bens imóveis, revenda dos adquiridos para esse fim, arrendamento, alojamento local, administração e gestão de patrimónios, elaboração de estudos e projectos”, além de “consultoria e actividades de engenharia e técnicas afins”.  

    Anteriormente, a empresa, criada em 2010 e com sede na freguesia de Laranjeiro e Feijó, em Almada, usava a denominação JG Rabaço, e dedicava-se a remodelações e limpezas, tendo adoptado a nova designação de Metrical – Engenharia em 2021.

    O contrato entre a FCT – Nova e a Metrical – Engenharia, Lda integra o Boletim P1 da Contratação Pública e Ajustes Directos que agrega os contratos divulgados no dia 14 de Dezembro. Desde Setembro, o PÁGINA UM apresenta uma análise diária aos contratos publicados no dia anterior (independentemente da data da assinatura) no Portal Base. De segunda a sexta-feira, o PÁGINA UM faz uma leitura do Portal Base para revelar os principais contratos públicos, destacando sobretudo aqueles que foram assumidos por ajuste directo.

    ET


    Ontem, dia 14 de Dezembro, no Portal Base foram divulgados 890 contratos públicos, com preços entre os 3,70 euros – para aquisição de lixa de madeira, pela Unidade Local de Saúde do Alto Minho, através de consulta prévia – e os 51.046.250,00 euros – para aquisição de serviços para a exploração do Centro de Contacto do SNS 24, pelos Serviços Partilhados do Ministério da Saúde, através de concurso público.

    Com preço contratual acima de 500.000 euros, foram publicados 14 contratos, dos quais nove por concurso público, dois ao abrigo de acordo-quadro e três por ajuste directo.

    Por ajuste directo, com preço contratual superior a 100.000 euros, foram publicados 17 contratos, pelas seguintes entidades adjudicantes: Universidade Nova de Lisboa (com a Metrical – Engenharia, no valor de 740.000,00 euros); Município de Santo Tirso (com a Rede Ambiente – Engenharia e Serviços, no valor de 677.806,43 euros); Gabinete Nacional de Segurança (com a Paradigma Resiliente, no valor de 610.388,00 euros); Eda Renováveis (com a Nalco Española, no valor de 388.901,85 euros); Empresa Intermunicipal de Ambiente do Pinhal Interior (com a CTT – Correios de Portugal, no valor de 380.000,00 euros); três do Centro Hospitalar Universitário Lisboa Central (dois com a General Electric Healthcare, um no valor de 350.911,84 euros e outro no valor de 323.918,63 euros, e outro com a Drager Portugal, no valor de 192.102,20 euros); Unidade Local de Saúde de Matosinhos (com a Servier Portugal, no valor de 296.010,00 euros); Guarda Nacional Republicana (com a Fine Facility Services, no valor de 267.233,33 euros); Infraestruturas de Portugal (com a Ground Transportation Systems Portugal, no valor de 198.900,00 euros); Centro Hospitalar do Médio Tejo (com a Ambulâncias de Stª. Maria de Alcobaça, no valor de 175.000,00 euros); Centro Hospitalar de Leiria (com a Beckman Coulter Portugal, no valor de 158.061,60 euros); Escola Secundária Ribeira Grande (com a Caetano, Raposo & Pereiras, Lda., no valor de 147.798,78 euros); Associação de Transferência de Tecnologia da Asprela (com a Grupo 8 – Vigilância e Prevenção Electrónica, no valor de 134.208,88 euros); Hospital de Braga (com a Albino Dias de Andrade, Lda., no valor de 124.037,20 euros); e o Município de Amarante (com a Rubis Energia Portugal, no valor de 104.554,40 euros).


    TOP 5 dos contratos públicos divulgados no dia 14 de Dezembro

    1 Serviços para a exploração do Centro de Contacto do SNS 24 – Lote 1

    Adjudicante: SPMS – Serviços Partilhados do Ministério da Saúde

    Adjudicatário: MEO – Serviços de Comunicações e Multimédia

    Preço contratual: 51.046.250,00 euros

    Tipo de procedimento: Concurso público


    2Serviços para a exploração do Centro de Contacto do SNS 24 – Lote 2

    Adjudicante: SPMS – Serviços Partilhados do Ministério da Saúde

    Adjudicatário: NTT Data Portugal

    Preço contratual: 2.500.000,00 euros

    Tipo de procedimento: Concurso publico


    3Empreitada para a instalação de sistema de Retorno de Corrente de Tracção e Terras de Protecção em várias estações

    Adjudicante: Infraestruturas de Portugal

    Adjudicatário: EIP – Serviços

    Preço contratual: 2.237.026,00 euros

    Tipo de procedimento: Concurso público


    4Prestação de serviços de fiscalização e vigilância em autocarros e carros elétricos

    Adjudicante: Sociedade de Transportes Colectivos do Porto

    Adjudicatário: Praxis – Segurança    

    Preço contratual: 1.864.730,64 euros

    Tipo de procedimento: Concurso público


    5Empreitada de manutenção de condutas prioritárias de abastecimento de água

    Adjudicante: CMPEAE – Empresa de Águas e Energia do Município do Porto

    Adjudicatário: Redegás – Projecto e Instalações de Gás

    Preço contratual: 1.170.450,00 euros

    Tipo de procedimento: Concurso público


    TOP 5 dos contratos públicos por ajuste directo divulgados no dia 14 de Dezembro

    1 Reabilitação das fachadas e cobertura do edifício VIII do Campus da FCT NOVA

    Adjudicante: Universidade Nova de Lisboa

    Adjudicatário: Metrical – Engenharia

    Preço contratual: 740.000,00 euros


    2Serviços de recolha de resíduos urbanos e de limpeza urbana

    Adjudicante: Município de Santo Tirso

    Adjudicatário: Rede Ambiente – Engenharia e Serviços

    Preço contratual: 677.806,43 euros


    3Desenvolvimento evolutivo de novos módulos para o PANORAMA (ano 2023 – 2024)

    Adjudicante: Gabinete Nacional de Segurança

    Adjudicatário: Paradigma Resiliente

    Preço contratual: 610.388,00 euros


    4Fornecimento de até 58.050 kg de inibidor Nalco pHREEdom 5200M

    Adjudicante: Eda Renováveis

    Adjudicatário: NALCO Española      

    Preço contratual: 388.901,85 euros 


    5Aquisição de serviços de distribuição postal por um período de 12 meses

    Adjudicante: APIN – Empresa Intermunicipal de Ambiente do Pinhal Interior

    Adjudicatário: CTT – Correios de Portugal   

    Preço contratual: 380.000,00 euros


    MAP

  • Universidade do Porto ‘presa’ a uma tenda de 4.000 euros por mês

    Universidade do Porto ‘presa’ a uma tenda de 4.000 euros por mês


    A Universidade do Porto está a pagar mais de 4.000 euros por mês pelo aluguer de uma tenda instalada nos jardins de um palacete de que é proprietária, a Casa do Primo Madeira, onde funciona o Círculo Universitário do Porto. O aluguer, iniciado no ano passado e que poderá durar pelo menos até 2025, vai orçar em cerca de 245 mil euros, mas a Reitoria achou por bem assumir esse encargo que beneficia uma empresa de dois netos do fundador da Mota-Engil, Manuel António da Mota. Para justificar os contratos por ajuste directo à Saiotes & Etc, a Reitoria alega nos dois últimos contratos, o mais recente assinado na segunda-feira passada, que não existe concorrência por “motivos técnicos”.


    Sem concurso, alegando inexistência de concorrência por “motivos técnicos”, a Universidade do Porto vai pagar uma pequena fortuna para alugar uma tenda montada nas suas próprias instalações, no jardim do Círculo Universitário do Porto. A Universidade diz que precisa do equipamento, nomeadamente para o subalugar para a realização de eventos, sobretudo casamentos, mas a forma como justifica um ajuste directo por suposta ausência de concorrência, mostra sobretudo uma estória com algumas pontas soltas.

    O contrato adjudicado por ajuste directo, assinado na passada segunda-feira, prevê que, até ao final de 2025, a Universidade pagará mais de 4.000 euros por mês à Saiotes e Etc – Festas Lda., proprietária do equipamento. No total, a Universidade poderá desembolsar 112.634,38 euros neste aluguer, se houver a prorrogação prevista para 2025, que também incluiu mais de 11 mil euros para manutenção preventiva e corretiva. Ou seja, estamos perante um aluguer de uma tenda nos terrenos que pertencem ao ‘inquilino’, sendo que o ‘inquilino’, além da renda, paga os arranjos da tenda.

    O pavilhão alugado pela Universidade do Porto é propriedade da Saiotes & Etc. – Festas e foi instalado no jardim do Círculo Universitário do Porto em 2016 pela antiga concessionária do Círculo, com autorização da Universidade.

    A justificação da Universidade para a atribuição deste negócio sem concurso é de que não existe uma alternativa, ou seja, uma outra empresa no mercado que instale e alugue um pavilhão-tenda equipado com as mesmas características, embora o mercado seja abundante neste tipo de estruturas.

    Mas a Universidade do Porto garantiu ao PÁGINA UM que a única empresa a quem pode alugar um equipamento similar é mesmo só a Saiotes & Etc – Festas Lda., uma vez que esta empresa já seria a detentora de pavilhão-tenda entretanto montado naquele espaço universitário.

    A empresa em causa é uma sociedade por quotas, organizadora de eventos, que tem a particularidade de ter como sócios-gerentes os irmãos Maria Clara Mota de Meireles Mendes e António Mota de Meireles – netos do fundador da construtora Mota-Engil, Manuel António da Mota. Maria Clara Mendes é, aliás, uma das administradoras da Fundação Manuel António da Mota no mandato de 2022-2025, sendo também sócia-gerente, com o irmão, da Verotâmega, uma sociedade Imobiliária detida em parceria com a mãe e irmã.

    Fachada do palacete do Círculo Universitário do Porto. Nos jardins foi autorizada a instalação de uma tenda desde 2016. A Reitoria agora paga uma renda mensal de mais de 4.000 euros.

    Este aluguer não é o primeiro pela Universidade do Porto à empresa Saiotes & Etc, mas é aquele que consolida um ‘facto consumado’. Em Fevereiro do ano passado, as duas partes tinham celebrado um contrato de aluguer por três meses, no valor de 15.200 euros, mas aí a fundamentação para o ajuste directo foi por estar abaixo dos 20 mil euros. Em Junho seria celebrado outro contrato, com uma renda mensal de 3.750 euros acrescidas de despesas de manutenção, que se prolongou até finais de Outubro deste ano. Neste caso, o ajuste directo já passou a ser justificado por ausência de concorrência por “motivos técnicos”.

    Mas afinal quais são os “motivos técnicos” que impedem a realização de um concurso público pela Universidade do Porto, com a possibilidade de outras empresas fazerem propostas mais aliciantes? Ou qual o motivo para a Universidade do Porto não assumir os custos da instalação da tenda e depois a concessionar, em vez de optar por alugar um espaço nos seus próprios terrenos?

    Segundo o director de comunicação da Reitoria da Universidade do Porto, Raul Santos, “o aluguer ou a aquisição permanente de outra estrutura semelhante implicaria custos superiores a este contrato”. Aos olhos da Universidade do Porto, o aluguer da tenda é essencial se quiser obter receitas com o subaluguer do espaço para a realização de casamentos, festas e outros eventos, já que o pavilhão/tenda tem capacidade para 400 pessoas e está já equipado.

    Maria Clara Mota Mendes, sócia-gerente da Saiotes & Etc. – Festas e administradora
    da Fundação Manuel António da Mota.

    De acordo com a mesma fonte, a origem do pavilhão da Saiotes & Etc remonta a 2016, quando então existia uma concessão dos espaços do Círculo Universitário a um empresa privada, a Silva Carvalho. Na altura, a montagem da estrutura da tenda da Saiotes & Etc obteve “autorização da Universidade” e “tem licença de utilização”. Porém, não existe qualquer contrato para a instalação da tenda disponível no Portal Base, visto que o negócio acabou por ser realizado entre duas entidades privadas, não se sabendo, por isso, os moldes em que foi feito. Aparentemente, a Universidade do Porto não salvaguardou os interesses para a situação, que se veio a verificar, de assumir novamente a gestão do Círculo Universitário.

    Na altura da montagem da tenda em 2016, o objectivo da empresa concessionária (Silva Carvalho) foi substituir uma outra já existente mas em mau estado. O Círculo era então gerido pela Associação de Estudantes e que “estava em mau estado”. Mas durante a sua gestão pela Associação, o Círculo Universitário do Porto entrou em grave crise financeira com suspeitas de fraude, e a Universidade acabou por assumir a posse e as dívidas, tendo então decidido concessioná-lo até Novembro de 2021. Depois dessa data, a Reitoria assumiu a sua gestão.

    A opção pela compra de uma tenda colocou-se, mas de acordo com Raul Santos, “uma consulta ao mercado demonstrou que, atualmente, a aquisição de um pavilhão semelhante representaria um investimento superior a 280 mil euros, acrescido de IVA e do custo associado às respetivas infraestruturas necessárias para o funcionamento do espaço, nomeadamente: fundações, cozinha, instalações sanitárias, redes de saneamento, redes elétricas, entre outras”.

    Por outro lado, acrescenta a mesma fonte, “a desmontagem e a construção de um novo pavilhão, traduzir-se-ia em lucros cessantes para a Universidade, uma vez que obrigaria à paragem da atividade do Círculo Universitário [durante algum tempo], o que representaria um prejuízo de receita, na medida em que este espaço tem vindo a ser rentabilizado através do aluguer para eventos privados, existindo uma calendarização considerável de eventos já contratualizados”, justificou. Em todo o caso, saliente-se, com os três contratos por ajuste directo (alegando em dois dos casos uma norma de questionável aplicação (ausência de concorrência por “motivos técnicos”) já ascendem a quase 245 mil euros, IVA incluído, e quando chegar ao final de 2025. E novo aluguer terá de ser concretizado se a Reitoria quiser continuar a ter uma tenda no Círculo Universitário.

    Ricardo Magalhães, director-executivo da Saiotes & Etc disse ao PÁGINA UM que a compra do equipamento pela Universidade do Porto “já esteve em cima da mesa”, mas “o negócio não foi para a frente”. Até porque a compra da tenda equipada só faria sentido se a estratégia da Universidade passasse por manter o negócio de a alugar para a realização de eventos, o que não é certo. O responsável pela empresa garantiu ainda que se a Universidade optar por não usar a tenda a desmontagem será fácil, sendo necessário retirar apenas também os contentores que compõem a cozinha e WCs de apoio.

    Além dos três contratos já efectuados com a Universidade do Porto, a Saiotes & Etc tem apenas mais um contrato registado no Portal Base, com o Instituto de Emprego e Formação Profissional, no valor de 19.988 euros. Neste último caso, o contrato, também por ajuste directo, diz respeito a “aquisição de serviços de apoio, promoção e suporte técnico” do ‘Fórum Social do Porto’.

    O Círculo Universitário do Porto está instalado num palacete oitocentista, denominado Casa do Primo Madeira, localizado na Rua do Campo Alegre. Nos anos de 1980 foi sujeita a obras de reabilitação pelo arquitecto Fernando Távora, que lhe valeu o Prémio João de Almada, para recuperação do património arquitectónico da cidade do Porto, quando já estava então na posse da Universidade.

  • Ucrânia & Escola Pública & Argentina de Milei

    Ucrânia & Escola Pública & Argentina de Milei


    Com moderação de Pedro Almeida Vieira, o quinto episódio de O Estrago da Nação põe em confronto a visão de esquerda do Tiago Franco com a visão libertária do Luís Gomes. Hoje, analisa-se o imbróglio da guerra na Ucrânia (tema indicado pelo Tiago), a Escola Pública e o desempenho escolar dos jovens portugueses (tema indicado pelo Luís) e os primeiros passos de Javier Milei como empossado novo presidente da Argentina (tema-surpresa indicado pelo Pedro).

    Acesso: LIVRE, Acesso: LIVRE, mas subscreva o P1 PODCAST com um donativo mensal de 2,99 euros. Ajude o PÁGINA UM a amplificar o seu trabalho.

  • Rua da Prata: Tecnovia fez todas as obras sem contrato

    Rua da Prata: Tecnovia fez todas as obras sem contrato


    Corria o dia 16 de Dezembro, e passava poucos minutos do meio-dia, surgiu a indicação de um buraco junto a um passeio da Rua da Prata, na Baixa de Lisboa. Depois viu-se que afinal era mais grave; que o colector de águas pluviais, antigo desde a época do Marquês de Pombal, estava em colapso entre a Rua Vitória e a Rua de São Nicolau. Fechou-se a via e começaram as obras, que se ‘eternizaram’ por um ano, sem muito mais se saber do que um anúncio recente de restringir o tráfego rodoviário depois da reparação do colector.

    Porém, o mais surpreendente é que os dias foram passando, e somente no mês de Setembro a autarquia liderada por Carlos Moedas decidiu, quando as obras já iam avançadas, começar a pensar na elaboração do contrato com a Tecnovia, a empresa rapidamente escolhida para uma intervenção imediata, enviando-lhe então o convite para que se formalizasse a empreitada. Setembro passou. Outubro também. Novembro idem. E só já depois das obras concluídas, depois da reabertura da Rua da Prata concretizada, e anunciada em definitivo a ‘pedonalização’ das vias, a autarquia de Lisboa e a Tecnovia acharam por bem assinar o contratos da obra feita. E dando-lhe efeitos reatroactivos.

    16 de Dezembro de 2022, Rua da Prata: quem olhasse para o abatimento não imaginaria que 12 meses depois houvesse uma factura para pagar de 1,5 milhões de euros numa obra que decorreu sem contrato em vigor.

    De facto, e contrariando o espírito e mesmo a legalidade do Código dos Contratos Públicos, somente anteontem, dia 11, a autarquia de Lisboa e a Tecnovia assinaram o contrato de uma obra que já fora executada e que apenas agora se sabe o valor final: 1.502.126,11 euros. Ora, o contrato estipula que “o prazo de execução da presente empreitada é de 355 (trezentos e cinquenta e cinco) dias, contados à data da consignação da obra em 19 de Dezembro de 2022”, ou seja, a execução do contrato ocorreu no dia anterior à sua assinatura. E salienta também que um milhão de euros será pago ainda este ano e a parte remanescente, cerca de meio milhão de euros, ficará para o próximo ano.

    Para justificar a assinatura de um contrato depois das obras finalizadas, numa das cláusulas alegou-se a “eficácia retroativa” – ou seja, a aplicação de algo já executado antes – invocando uma norma de excepção do Código dos Contratos Públicos, que prevê que “as partes podem atribuir eficácia retroactiva ao contrato quando exigências imperiosas de direito público o justifiquem, desde que a produção antecipada de efeitos não seja proibida por lei, não lese direitos e interesses legalmente protegidos de terceiros e não impeça, restrinja ou falseie a concorrência garantida pelo disposto no presente Código relativamente à formação do contrato”.

    A forma irregular, e de legalidade muito duvidosa, em que decorreram as obras adjudicadas pela autarquia fica patente no facto de a própria placa com a identificação da empreitada nunca ter tido a identificação do prazo de execução nem do valor da empreitada. Ou seja, se as obras da Rua da Prata se tivessem transformado numas novas obras de Santa Engrácia, a Tecnovia poderia ‘sair de mansinho’ sem quaisquer responsabilidades legais.

    Ajuste directo sem contrato enquanto as obras decorrem, sem prazo de execução e sem preço definido: um paraíso para o empreiteiro; uma factura que poderá ser pesada para uma entidade pública.

    Ou seja, podendo ser invocada a urgência, a inexistência de contrato ao longo de toda a duração da obra – sem que estivessem sequer salvaguardadas eventuais indemnizações e responsabilidades entre as partes, até em relação a terceiros – mostra-se de legalidade muito duvidosa, que será agora dirimida pelo Tribunal de Contas que ainda vai ter de dar o visto.

    Mesmo não desejando abordar em concreto a empreitada da Rua da Prata, Paulo Morais, professor universitário e ex-vice-presidente da Câmara Municipal do Porto, salienta que, por regra, o ajuste directo para solucionar intervenções desta natureza são justificáveis, mas apenas para o início das obras, “para uma estabilização do problema”, não devendo resultar numa ‘luz verde’ para adjudicações de toda a obra, que deveria merecer um concurso público.

    “Não parece aceitável que um contrato seja assinado depois da obra concluída”, defende Paulo Morais, acrescentando ser “expectável que, perante uma obra urgente, o contrato possa demorar algumas semanas até ser assinado, até para salvaguarda das partes, mas já foge do espírito do Código se aparece depois das obras concluídas”.

    Uma outra questão relevante, com incidência legal, sobre este ajuste directo prende-se com a escolha da Tecnovia pela autarquia de Carlos Moedas, que terá sido escolhida antes mesmo de se ter uma ideia precisa sobre a dimensão da obra. De acordo com o Código dos Contratos Públicos “não podem ser convidadas a apresentar propostas, entidades às quais a entidade adjudicante [neste caso, o município de Lisboa] já tenha adjudicado, no ano económico em curso e nos dois anos económicos anteriores (…) propostas para a celebração de contratos cujo preço contratual acumulado seja igual ou superior” a 30.000 euros, no caso de empreitadas de obras públicas.

    Ora, ao longo deste ano, a Câmara Municipal de Lisboa fez mais oito ajustes directos com a Tecnovia para pequenas intervenções que totalizaram 88.559 euros (sem IVA), das quais se destaca a estabilização urgente de terrenos na Rua da Cruz a Alcântara, junto à Avenida de Ceuta, contratualizada em Setembro passado por 54.210 euros.

    Mas no final do ano passado, o município de Carlos Moedas já adjudicara por ajuste directo outro ajuste directo por alegada “urgência imperiosa” para a reabilitação do Viaduto da Avenida Mouzinho de Albuquerque sobre a linha do Norte por um preço de 232.257 euros.

    Além destes contratos de ‘mão-beijada’ – em que se mantém sempre o mistério sobre quem ‘pega no telefone’ para entregar empreitadas a determinada empresa a serem pagas pelo erário público – a Tecnovia também obteve mais dois contratos mas por concurso público: um em Agosto passado para a “execução de obras prioritárias e urgentes de conservação e manutenção de obras de arte, no valor de 650.000 euros, e outro em Fevereiro do ano passado para diversas obras, também prioritárias e urgentes”, de conservação e manutenção de muros e vedações. Mas aí a Tecnovia teve de ‘fazer pela vida’, candidatar-se contra a concorrência, e fazer por merecer a adjudicação e os dinheiros públicos por justa retribuição de serviços prestados.

    O contrato entre o município de Lisboa e a Tecnovia integra o Boletim P1 da Contratação Pública e Ajustes Directos que agrega os contratos divulgados no dia 6 de Dezembro. Desde Setembro, o PÁGINA UM apresenta uma análise diária aos contratos publicados no dia anterior (independentemente da data da assinatura) no Portal Base. De segunda a sexta-feira, o PÁGINA UM faz uma leitura do Portal Base para revelar os principais contratos públicos, destacando sobretudo aqueles que foram assumidos por ajuste directo.

    PAV

    Nota: Fotos das obras, da autoria de Frederico Duarte Carvalho.


    Ontem, dia 12 de Dezembro, no Portal Base foram divulgados 884 contratos públicos, com preços entre os 19,95 euros – para aquisição de medicamentos, pelo Centro Hospitalar Tondela-Viseu, ao abrigo de acordo-quadro – e os 34.128.000,00 euros – para fornecimento de energia eléctrica, pelo Município de Lisboa, também ao abrigo de acordo-quadro.

    Com preço contratual acima de 500.000 euros, foram publicados 12 contratos, dos quais oito por concurso público, três ao abrigo de acordo-quadro e um por ajuste directo.

    Por ajuste directo, com preço contratual superior a 100.000 euros, foram publicados 17 contratos, pelas seguintes entidades adjudicantes: Município de Lisboa (com a Tecnovia – Sociedade de Empreitadas, no valor de 1.417.100,11 euros); seis do Hospital de Braga (um com a Siemens Healthcare, no valor de 462.600,00 euros, dois com a Johnson & Johnson, um no valor de 462.563,53 euros e outro no valor de 271.073,62 euros, outro com a Smith & Nephew, no valor de 329.501,28 euros, outro com a Medicinália Cormedica, no valor de 247.376,00 euros, e outro com a Boston Scientific Portugal, no valor de 112.644,00 euros); Centro Hospitalar Tondela-Viseu (com a Takeda – Farmacêuticos Portugal, no valor de 309.031,20 euros); Ministério da Defesa Nacional – Marinha (com a Leonardo MW LTD, no valor de 217.232,97 euros); dois da Rádio e Televisão de Portugal (um com a Avantools, no valor de 182.669,00 euros, e outro com a Vantec, no valor de 143.923,00 euros); Centro Hospitalar Vila Nova de Gaia – Espinho (com a Luso Palex, no valor de 131.725,00 euros); Instituto de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública (com a Multicert – Serviços de Certificação Electrónica, no valor de 130.000,00 euros); Hospital Garcia de Orta (com a Pharmakern Portugal, no valor de 127.500,00 euros); Infraestruturas de Portugal (com a SMA und Partner AG, no valor de 125.000,00 euros); Estado-Maior-General das Forças Armadas (com a Alpha C2, no valor de 117.204,05 euros); e o Serviço de Saúde da Região Autónoma da Madeira (com a Sanofi, no valor de 103.998,48 euros).


    TOP 5 dos contratos públicos divulgados no dia 12 de Dezembro

    1 Fornecimento de energia eléctrica a instalações e escolas municipais

    Adjudicante: Município de Lisboa

    Adjudicatário: Iberdrola Clientes

    Preço contratual: 34.128.000,00 euros

    Tipo de procedimento: Ao abrigo de acordo-quadro (artº 259º)


    2Empreitada de beneficiação de troço em Castro Daire

    Adjudicante: Infraestruturas de Portugal

    Adjudicatário: Construções Carlos Pinho, Lda.       

    Preço contratual: 6.184.531,43 euros

    Tipo de procedimento: Concurso público


    3Empreitada designada “Unidade de Saúde Familiar do Parque das Nações”

    Adjudicante: Município de Lisboa

    Adjudicatário: Construções Corte Recto – Engenharia & Construção       

    Preço contratual: 5.983.365,97 euros

    Tipo de procedimento: Concurso público


    4Aquisição de serviços de viagens aéreas, alojamentos e serviços conexos, para um período de 36 meses

    Adjudicante: Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal

    Adjudicatário: Transalpino – Viagens e Turismo

    Preço contratual. 4.353.587,00 euros

    Tipo de procedimento: Concurso público


    5Reabilitação de bairro municipal em Sacavém – PRR

    Adjudicante: Município de Loures

    Adjudicatário: Wikibuild, S.A.

    Preço contratual: 3.498.659,56 euros

    Tipo de procedimento: Concurso público


    TOP 5 dos contratos públicos por ajuste directo divulgados no dia 12 de Dezembro

    1 Empreitada de execução de trabalhos urgentes no colector da Rua da Prata

    Adjudicante: Município de Lisboa

    Adjudicatário: Tecnovia – Sociedade de Empreitadas

    Preço contratual: 1.417.100,11 euros


    2Upgrade da Ressonância Magnética     

    Adjudicante: Hospital de Braga

    Adjudicatário: Siemens Healthcare

    Preço contratual: 462.600,00 euros


    3Aquisição de material de ortopedia

    Adjudicante: Hospital de Braga

    Adjudicatário: Johnson & Johnson   

    Preço contratual: 462.563,53 euros


    4Aquisição de material de consumo clínico diverso

    Adjudicante: Hospital de Braga

    Adjudicatário: Smith & Nephew

    Preço contratual: 329.501,28 euros


    5Aquisição de medicamentos

    Adjudicante: Centro Hospitalar Tondela-Viseu

    Adjudicatário: Takeda – Farmacêuticos Portugal     

    Preço contratual: 309.031,20 euros


    MAP

  • Transparência nos media: Polígrafo já mentiu à ERC duas vezes este ano… pelo menos

    Transparência nos media: Polígrafo já mentiu à ERC duas vezes este ano… pelo menos


    Em apenas um ano, a empresa Inevitável e Fundamental, proprietária do Polígrafo, teve de ir a correr alterar informação falsa no Portal da Transparência dos Media após o PÁGINA UM ter colocado dúvidas. No primeiro caso, o Polígrafo omitia que no ano passado o Facebook lhe entregara 96% das receitas; agora, o fundador deste ‘fact checker’, Fernando Esteves, teve de resolver se era o director apenas para a ERC e não para os leitores; ou se era director para todos ou se não era director de coisa nenhuma. De permeio ao acto de se reassumir como director, Fernando Esteves corrigiu também a sua biografia no site do Polígrafo: detinha informação desactualizada, logo falsa. E voltou, na quinta-feira passada, a fazer fact checking… 11 meses depois da última vez.


    Para se ser mesmo rigoroso – ainda mais por se tratar de um ‘verificador de factos’ –, tem mesmo de se dizer que este ano a empresa gestora do Polígrafo, o mais conhecido fact-checker de Portugal, já teve de corrigir pelo menos por duas vezes informação junto da Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) depois de ser apanhada a mentir pelo PÁGINA UM.

    No passado mês de Junho, o PÁGINA UM já detectara que a empresa Inevitável e Fundamental, proprietária do Polígrafo – e que tem como sócios Fernando Esteves (60%) e N’Gunu Tiny (40%) – omitia no Portal da Transparência dos Media a sua dependência financeira, quase em exclusivo, da rede social Facebook ao longo do ano de 2022.

    selective focus photography of Pinocchio puppet

    Apesar de advogar a máxima transparência nos seus financiamentos, o Polígrafo nem sequer respondeu aos três pedidos de esclarecimento do PÁGINA UM, feitos em 14 de Junho, em 16 de Junho e em 19 de Junho, mas passado algumas semanas, foi corrigir a informação na ERC, indicando que, afinal, a empresa fundada por Mark Zuckerberg tinha disponibilizado cerca de 456 mil euros, representando 96% das receitas da Inevitável e Fundamental. A elevadíssima dependência financeira do Polígrafo perante o Facebook – um autêntico sugar daddy financeiro – coloca objectivamente em causa a sua credibilidade como órgão de comunicação social com uma linha editorial sem interferências externas.

    Ou seja, antes da intervenção do PÁGINA UM – que chegou a questionar a ERC para a execução da sua notícia publicada em 5 de Julho –, o Polígrafo não declarara em 2022 a existência de quaisquer clientes relevantes no seu registo no Portal da Transparência, que exige que sejam identificados os clientes que tenham representado mais de 10% dos rendimentos anuais e as entidades com direitos superiores a 10% do valor do passivo.

    Depois desta situação, uma nova mentira apanhada pelo PÁGINA UM acabou recentemente corrigida. O fundador do Polígrafo, o jornalista Fernando Esteves – que, na verdade, até deveria usar obrigatoriamente o nome profissional de Fernando Macedo Esteves, por ser esse o registo que consta na CCPJ – tinha deixado de constar como director desta publicação nos registos da ERC. Na Plataforma de Transparência dos Media passara a constar o nome da jornalista Sara Beatriz Monteiro, embora na ficha técnica do site do Polígrafo o director fosse Fernandes Esteves. Uma desconformidade; na verdade, uma ilegalidade.

    No passado dia 25 de Novembro, para a ERC, o director do Polígrafo era Sara Beatriz Monteiro, mas que não era para os leitores. Mas hoje, o director para a ERC e para os leitores já é Fernando Esteves.

    A indicação do nome de Sara Beatriz Monteiro no registo da ERC já tinha sido detectada em Agosto passado pelo PÁGINA UM, e mantinha-se ainda em 25 de Novembro, quando se revelou mais esta inverdade neste ‘verificador de factos’. Na altura, o perfil de Fernando Esteves no site do Polígrafo continha outra falsidade, indicando-o ainda como “Publisher da Media9, a empresa que detém o ‘Jornal Económico’ e o ‘Novo’, bem como as licenças de publicação das revistas ‘Forbes Portugal’ e ‘Forbes África Lusófona’”, cargo que já não ocupava.

    Ora, depois da notícia do PÁGINA UM, a Inevitável e Fundamental – a empresa detentora do Polígrafo, e desse modo a única entidade que pode alterar os registos – foi a correr à plataforma da ERC para repor a legalidade, atribuindo de novo o cargo de director editorial a Fernando Esteves.

    A falsidade do nome do responsável editorial não é apenas uma formalidade nem um detalhe, mesmo se estamos perante um verificador de factos que assume a Verdade como parte da sua genética. É uma obrigatoriedade da Lei da Imprensa.

    Além do jornal digital, o Polígrafo tem uma parceria semanal com a SIC.

    Saliente-se que a Lei da Imprensa concede uma grande relevância ao director de um órgão de comunicação social, concedendo-lhe competências na orientação e determinação dos conteúdos, na designação dos jornalistas com funções de chefia e coordenação, na representação do período (mesmo junto da administração ou gerência) e na presidência do conselho de redacção.

    Além desta correcção para eliminar uma mentira, Fernando Esteves – que já não mostrava ‘prova de vida’ sob a forma de letras desde Janeiro, mas que na quinta-feira passada decidiu escrever sobre o neuropediatra António Levy Gomes – aproveitou para também corrigir outra inverdade na sua nota biográfica: agora diz que a sua ligação à Media9 é afinal “desde Outubro de 2023 [apenas] enquanto Conselheiro Editorial”.

  • Marinha garante ‘banhos de sol’ seguros com 64 mil euros de  protector solar

    Marinha garante ‘banhos de sol’ seguros com 64 mil euros de protector solar


    Quem vai ao mar avia-se em terra. E, nessa linha, ainda mais sentido faz se for a própria Marinha, liderada pelo almirante Gouveia e Melo, a aviar-se em terra de produtos essenciais para se ir para o mar: protectores solares.

    Já se sabe que o Portal Base é uma ‘caixinha de surpresas’, onde podem surgir as mais estranhas aquisições dos mais variados produtos e serviços. Os protectores solares são apenas mais um produto nessa lista de curiosidades, constando apenas 11 contratos explicitamente registados na última década na plataforma das compras públicas. Mais curioso ainda é que, até agora, só houve três compradores: o município de Oeiras (quatro compras), os Serviços Intermunicipalizados de Águas e Resíduos dos Municípios de Loures e Odivelas (quatro contratos), e por fim a Marinha (três contratos).

    Contudo, o ramo das Forças Armadas – liderado pelo homem que ficou conhecido como coordenador da task force da vacinação contra a covid-19 – destaca-se dos outros, não apenas pelos montantes mais elevados, mas sobretudo pelas idiossincrasias das compras que, recentemente, envolveram uma compra que estava para se fazer após consulta prévia, mas que acabou por ter um concurso público, entretanto rectificado, e que terminou com duas aquisições: uma de 5.640 euros, à empresa Madrigale, e outra de 64.158 euros à empresa Ribcab. Antes desta recente compra, a anterior ocorrera em meados de Dezembro de 2020, mas envolvendo pouco mais de 14 mil euros.

    O PÁGINA UM, através dos documentos constantes do Portal Base, não conseguiu perceber as quantidades de protector solar que efectivamente foram compradas pela Marinha, porque nenhum destes contratos foi reduzido a escrito. No caso do contrato com a Madrigale há uma justificação legal, por o contrato ser inferior a 10 mil euros, mas na compra maior (64.158 euros) estamos perante uma ilegalidade. A instituição militar também não se dispõe a responder aos pedidos de esclarecimentos do PÁGINA UM.

    Aliás, pela análise dos documentos dos diversos procedimentos, verifica-se que esta compra de protectores solares não foi tarefa fácil, porque em Maio deste ano houve uma recomendação da directora do Departamento de Logística Sanitária da Marinha, a capitão-de-fragata Helena Fernandes para se comprar esses produtos, onde se refere que “para efeitos da consulta prévia sugerem-se as seguintes empresas: Ribcab Unipessoal, Lda.; Perrigo Portugal, Lda.; Laboratórios Dermatológicos da Utiage; [e] Pierre Fabre”.

    Com ajuste directo de mais de 64 mil euros, almirante Gouveia e Melo garante protecção contra ‘escaldões’. Mas com ajuste directo sem contrato escrito invocando uma justificação sem evidente enquadramento legal.

    Porém, a decisão da cúpula da Marinha terá sido de incluir outros produtos e lançar um concurso público. Assim, no passado dia 26 de setembro anunciou-se a abertura de candidaturas para fornecimento de protectores solares, com um preço-base de 64.158 euros, de repelentes, com um preço-base de 13.250 euros, e de bolsas de primeiros socorros, com um preço-base de 6.850 euros.

    Esse anúncio seria rectificado no dia seguinte – ignorando-se que aspectos foram alterados –, surgindo no anexo ao caderno de encargos a listagem dos diversos lotes. No caso dos protectores solares, a Marinha queria adquirir 6.000 embalagens de 200 mililitros com factor (FPS) 50+, mais 1.000 embalagens de 50 mililitros e ainda 35 sticks labiais.

    Contudo, apesar de o concurso público ter sido concluído – com três candidatos: Epjmédica, Tecniquitek e Madrigale –, a Marinha decidiu apenas fazer um contrato de 5.640 euros, mas ignora-se a que lote (protectores solares, repelentes ou bolsas), porque a Marinha optou por invocar uma norma do Código dos Contratos Públicos para não reduzir o contrato a escrito. Este contrato foi assinado em 24 do mês passado.

    Certo é que, sem se conhecer detalhes do concurso, a Marinha acabou por assinar um ajuste directo com a Ribcab na terça-feira passada, no valor de 64.158 euros, e com um prazo de entrega dos protectores solares de apenas cinco dias. No registo do Portal Base justifica-se o ajuste directo com base numa norma do Código dos Contratos Públicos que o autoriza, se num anterior “concurso público todas as propostas ou todas as candidaturas tenham sido excluídas”. Resta saber quais os motivos para a exclusão das candidaturas e se a Ribcab também foi excluída ou se o concurso foi anulado porque não seria a Ribcab a vencedora. E sobretudo também seria necessário perceber a razão pela qual a Marinha justifica a não redução a escrito do contrato invocando a excepção para os casos de aquisições de valor inferior a 10 mil euros quando a compra de protectores solares foi de mais de 64 mil euros. Aliás, sem contrato nem sequer se sabe se as quantidades adquiridas são as mesmas que estavam previstas no caderno de encargos.

    Face ao silêncio da Marinha, pelo menos fica-se a saber que os marinheiros, mesmo talvez nos submarinos que o almirante Gouveia e Melo em tempos ‘capitaneou’, não haverá, previsivelmente, ‘escaldões’. Protector solar deverá haver para ‘dar e vender’ como nunca.

    O contrato entre a Marinha e Ribcab integra o Boletim P1 da Contratação Pública e Ajustes Directos que agrega os contratos divulgados entre os dias 7 e 10 de Dezembro. Desde Setembro, o PÁGINA UM apresenta uma análise diária aos contratos publicados no dia anterior (independentemente da data da assinatura) no Portal Base. De segunda a sexta-feira, o PÁGINA UM faz uma leitura do Portal Base para revelar os principais contratos públicos, destacando sobretudo aqueles que foram assumidos por ajuste directo.

    PAV


    Nos últimos quatro dias, de quinta-feira passada até ontem, no Portal Base foram divulgados 953 contratos públicos, com preços entre os 1,00 euros – para aquisição de medicamentos, pelo Hospital de Braga, através de ajuste directo – e os 6.487.190,94 euros – para aquisição de energia eléctrica, pelo Metropolitano de Lisboa, através de concurso público.

    Com preço contratual acima de 500.000 euros, foram publicados 16 contratos, dos quais 12 por concurso público, dois ao abrigo de acordo-quadro e dois por ajuste directo.

    Por ajuste directo, com preço contratual superior a 100.000 euros, foram publicados 24 contratos, pelas seguintes entidades adjudicantes: Instituto da Segurança Social (com a Powershield – Segurança Privada, no valor de 971.416,71 euros); oito do Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro (um com a Roche Farmacêutica, no valor de 650.117,10 euros, outro com a Bausch & Lomb, no valor de 276.992,38 euros, dois com a Sanofi, um no valor de 257.535,60 euros e outro no valor de 212.697,40 euros, outro com a Gilead, no valor de 161.250,00 euros, outro com a Alloga Logifarma, no valor de 129.116,70 euros, outro com a Daiichi Sankyo, no valor de 128.000,00 euros, e outro com a Astellas Farma, no valor de 108.000,00 euros); Unidade Local de Saúde de Matosinhos (com a Astellas Farma, no valor de 445.500,00 euros); Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões (com a Bloomberg, no valor de 300.000,00 euros); dois do do Hospital de Braga (um com a Alcon Portugal, no valor de 274.221,74 euros, e outro com a RB Pharma, no valor de 200.588,25 euros); Rádio e Televisão de Portugal (com a Avantools – Serviços e Equipamentos, no valor de 269.204,28 euros); Unidade Local de Saúde do Alto Minho (com a Pfizer, no valor de 261.037,40 euros); Infraestruturas de Portugal (com a Evolaje – Estruturas de Betão e Pré-Fabricados, no valor de 243.301,80 euros); Hospital Garcia de Orta (com a B. Braun Medical, no valor de 235.895,76 euros); Universidade de Coimbra (com a Icnas Pharma, no valor de 202.749,20 euros); Estado-Maior-General das Forças Armadas (com a ViiV HIV Healthcare, no valor de  171.600,00 euros); Hospital Distrital da Figueira da Foz (com a Sanofi, no valor de  156.724,40 euros); Município de Portimão (com a Carlos Manuel Pacheco, Lda., no valor de 110.000,00 euros); Serviços Intermunicipalizados de Águas e Resíduos dos Municípios de Loures e Odivelas (com a Algeco – Construções Pré-Fabricadas, no valor de 105.015,95 euros); Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (com a  Takeda – Farmacêuticos, no valor de 103.000,00 euros); e o Instituto do Emprego e da Formação Profissional (com a Soft2000 – Sociedade Portuguesa de Software, no valor de 100.116,00 euros).


    TOP 5 dos contratos públicos divulgados no período de 7 a 10 de Dezembro

    1 Aquisição de energia eléctrica

    Adjudicante: Metropolitano de Lisboa

    Adjudicatário: Acciona Green Energy Developments

    Preço contratual: 6.487.190,94 euros

    Tipo de procedimento: Concurso público


    2Empreitada de construção de Estrutura Residencial para Pessoas Idosas e Centro de Dia Serviço de Apoio Domiciliário

    Adjudicante: Associação Unitária de Reformados, Pensionistas e Idosos do Casal do Marco

    Adjudicatário: NOW XXI – Engenharia & Construções       

    Preço contratual: 3.695.089,24 euros

    Tipo de procedimento: Concurso público


    3Empreitada de reabilitação de infraestruturas da AdVT – Fase 5

    Adjudicante: Águas do Vale do Tejo

    Adjudicatário: Redecor – Revestimentos de Proteção e Decoração          

    Preço contratual: 2.497.069,99 euros

    Tipo de procedimento: Concurso público


    4Empreitada de melhoria das condições de segurança da Barragem do Maranhão – Fase 2

    Adjudicante:  Associação de Regantes e Beneficiários do Vale do Sorraia

    Adjudicatário: Extraco, Construccións e Proxectos, S.A.

    Preço contratual: 1.955.013,85 euros

    Tipo de procedimento: Concurso público


    5Aquisição de refeições destinadas a crianças e alunos das creches de educação pré-escolar e do 1º ciclo

    Adjudicante: Secretaria Regional de Educação, Ciência e Tecnologia

    Adjudicatário: Gertal – Companhia Geral de Restaurantes e Alimentação

    Preço contratual: 1.680.581,76 euros

    Tipo de procedimento: Concurso limitado por prévia qualificação


    TOP 5 dos contratos públicos por ajuste directo divulgados no período de 7 a 10 de Dezembro

    1 Aquisição de serviços de vigilância e segurança

    Adjudicante: Instituto da Segurança Social

    Adjudicatário: Powershield – Segurança Privada

    Preço contratual: 971.416,71 euros


    2Aquisição de medicamentos

    Adjudicante: Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro

    Adjudicatário: Roche Farmacêutica

    Preço contratual: 650.117,10 euros


    3Fornecimento de substância activa

    Adjudicante: Unidade Local de Saúde de Matosinhos

    Adjudicatário: Astellas Farma

    Preço contratual: 445.500,00 euros


    4Prestação de serviços de informação financeira

    Adjudicante: Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões

    Adjudicatário: Bloomberg      

    Preço contratual: 300.000,00 euros


    5Aquisição de lentes

    Adjudicante: Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro

    Adjudicatário: Bausch & Lomb

    Preço contratual: 276.992,38 euros


    MAP