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  • Filipe Froes: um charlatão vendilhão a tocar rabecão

    Filipe Froes: um charlatão vendilhão a tocar rabecão


    Apresentemos, brevemente, o Doutor Filipe Froes como cientista: no Scopus – uma base de dados que avalia o impacte científico – tem um h-index de 17, fruto de 62 artigos e 899 citações. É, temos de admitir, um desempenho bastante aceitável, embora a pandemia o tenha ajudado bastante: 31 artigos e 707 citações são posteriores a 2019.

    Apresentemos, brevemente, o Doutor Filipe Froes como marketeer: desde 2013 prestou-se, mesmo com exclusividade no SNS – e aproveitando-se de um regime especial dos médicos sindicalizados –, a fazer 342 serviços a farmacêuticas para lhes “vender o peixe” ou fazer lobby ou participar em brainstormings com o intuito de obter autorizações e negócios com o Estado. Ganhou, oficialmente, pelo menos, 475.519 euros [valores actualizados, a partir daqui, e tendo como fonte a pouco escrutinada plataforma do Infarmed). As suas relações com as farmacêuticas, depois de um inquérito a brincar da IGAS, estão agora a ser investigadas pelo Infarmed, conforme confirmação do respectivo Conselho Directivo ao PÁGINA UM em Novembro do ano passado, embora, enfim, a probabilidade de se querer apurar responsabilidades deverá ser inversamente proporcional ao aumento dos seus rendimentos provenientes das farmacêuticas.

    a pile of money with a stethoscope on top of it

    Posto isto, o Dr. Filipe Froes veio ‘denunciar’, por estes dias – e curiosamente depois de o PÁGINA UM ter revelado que um “artigo científico com ‘peer review’ concluía que as vacinas contra a covid-19 matam 14 vezes mais do que salvam” –, e do alto da sua habitual petulância e prosápia, em tom gozão, de que “anda[va] a circular nas redes sociais um texto recentemente publicado na ‘famosíssima’ [escrito entre aspas para ironizar] revista Cureus (“COVID-19 mRNA Vaccines: Lessons Learned from the Registrational Trials and Global Vaccination Campaign” […] sobre o suposto excesso de mortalidade associado à vacina RNA mensageiro contra a COVID-19”. Titulou o seu post com o sugestivo título: “Quem te manda a ti, sapateiro, tocar rabecão?

    E vai daí, para contrariar um artigo científico – tratando-o por “texto” – lança-se logo aos autores, ao velho estilo do ataque ao mensageiro face à incapacidade de atacar a mensagem, reputando-os de “um dos grupos habituais de negacionistas”. Esta estratégia do Dr. Filipe Froes pode ter dado frutos nos idos de 2020, 2021 e até 2022, mas já não colhe em 2024. Não pode colher. Não pode ele dizer barbaridades e sair airoso, como naquela ocasião em que ‘explicou’ à Júlia Pinheiro que a fase endémica assim se chamava porque era o fim (END, em inglês) da pandemia. O seu tempo de vendilhão tem de terminar. A sua ‘Ciência’ tem os dias contados, mas exige-se, se não decência (que nunca a teve), pelo menos humildade.

    Por isso, aqui vamos tratar do Doutor Filipe Froes.

    Texto do Doutor Filipe Froes na rede social Facebook.

    O Doutor Filipe Froes lança-se particularmente a Peter A. McCullough, dizendo ser “sobejamente conhecido por ter vários artigos despublicados por erros metodológicos e conclusões não fundamentados”. Pesquisa-se e somente se encontra um seu artigo retirado (Withdrawn), sem ser apresentada a justificação, na revista na Current in Cardiology em Outubro de 2021, quando falar de efeitos adversos (neste caso, miocardites) era um ‘crime de lesa majestade’.

    No mês passado, Janeiro de 2024, sendo outros os tempos, um artigo de Peter A. McCullough (com Jessica Rose e  Nicolas Hulscher), intitulado “Determinants of COVID-19 vaccine-induced myocarditis“, sensivelmente similar ao outro, foi publicado na revista científica Therapeutic Advances in Drug Safety. E aí concluiu que o número de notificações de miocardite após a vacinação contra a covid-19 em 2021 foi 223 vezes superior à média de todas as vacinas combinadas nos últimos 30 anos. Isto representou um aumento de 2500% no número absoluto de notificações no primeiro ano da campanha quando se comparam os valores históricos anteriores a 2021.

    Enfim, mas vejamos: que tipo de “negacionista anti-ciência” será então este Peter A. McCullough, tão ostracizado, desprezado e espezinhado pelo Doutor Filipe Froes? Pois bem, é um médico cardiologista bastante conceituado antes da pandemia, com um h-index de 107, fruto de 750 artigos científicos e 48.756 citações.

    Recordemos o status do Dr. Filipe Froes: um h-index de 17, fruto de 62 artigos e 899 citações.

    Estamos conversados.

    Registo actual do Scopus de Peter A. McCullough, um dos co-autores do artigo da Cureus.

    Ou não.

    Porque o Doutor Filipe Froes não fica só atrás de Peter A. McCullough no que concerne à credibilidade e desempenho científico. Dois outros dos co-autores do artigo científico, que ele quis menosprezar, têm valores bem mais elevados no Scopus: Stephanie Seneff, uma investigadora do MIT (Cambridge), contabiliza um h-index de 36, fruto de 191 artigos e 4.837 citações, enquanto Kris Denhaerynck, um investigador da Universidade de Basel apresenta um h-index de 35, fruto de 127 artigos e 4.229 citações.

    Vamos lá recordar a performance do Dr. Flipe Froes: h-index de 17, fruto de 62 artigos e 899 citações.

    Portanto, estamos triplamente conversados.

    Mas há mais.

    O Doutor Filipe Froes usa o triste ‘argumento da maioria’ para concluir a ‘narrativa imposta’ de que as vacinas contra a covid-19 são seguras e eficazes, enquanto, por um lado, o Infarmed continua a esconder os dados do Portal RAM com os registos dos efeitos adversos (questão que se encontra em recurso no Tribunal), e quer ignorar diversos outros estudos que colocam em causa a estratégia de vacinação. Veja-se, aliás, o recente estudo científico desenvolvido na Áustria e com participação do norte-americano John Ioannidis, o mais prestigiado e citado epidemiologista mundial, que questiona a estratégia de se vacinar sucessivamente a população, em geral, com novos reforços.

    Registo actual do Scopus do Doutor Filipe Froes.

    Como co-autor, Ioannidis publicou no European Journal of Clinical Investigation, esse estudo que analisou epidemiologicamente a população daquele país europeu em função do estatuto vacinal e da ocorrência de infecção prévia por SARS-CoV-2, tendo concluído que a eficácia de uma quarta dose para prevenir a morte por covid-19 era fraca. E também já escrevera em finais de 2022 sobre a necessidade de rever a estratégia de vacinação.

    Convém dizer que John Ionnidis tem um h-index de 188, completamente estratosférico face ao h-index de 17 do Doutor Filipe Froes.

    Aliás, e ainda convém dizer também que o Doutor Filipe Froes foi um dos ‘peritos’ que andou a endeusar o molnupiravir, da sua ‘querida’ MSD, em Novembro de 2021, que veio a ser retirado do mercado nacional em Julho de 2023, sabendo-se pouco depois,  em dois artigos da Nature, em Setembro e ainda em Outubro, que causava e acelerava mutações no SARS-CoV-2. Pior a emenda do que o soneto.

    E o Doutor Filipe Froes, consultor e marketeer da MSD (e da Pfizer e da AstraZeneca e de mais duas dezenas de farmacêuticas) caladinho que nem um fuso.

    Aliás, além de promotor de vacinas contra a covid-19 para todas as idades (e quantas mais melhor, ignorando até a eficaz imunidade natural), o Doutor Filipe Froes fartou-se também de ser o marketeer de anticorpos monoclonais e antivirais (Evusheld, Paxlovid, etc.) que, ou foram sendo abandonados por ineficazes, ou passaram a ser um mero negócio mesmo perante a evidência dos seus fraquíssimos resultados a partir da Omicron.

    E o Doutor Filipe Froes caladinho que nem um fuso.

    O antiviral elogiado pelo Doutor Filipe Froes acabou por ser retirado do mercado, e mais tarde concluiu-se que criava e acelerava mutações no SARS-CoV-2.

    Mas o Doutor Filipe Froes, julgando-se ainda um ‘protegido’ da imprensa mainstream – que saudades terá ele desses nefastos tempos de inquisição –, acha que pode dizer todas as alarvidades em modo impune.

    Diz ele, para desancar, que a Cureus “divulga no seu site que demora em média 1,5 dias para a primeira decisão e 33 dias para publicar um artigo”, e que isso são “prazos irreais no mundo das verdadeiras publicações científicas”.

    Então, se assim é, que tal incluir nesse lote o famoso protocolo Corman-Drosten que validou a metodologia dos polémicos testes de detecção do SARS-CoV-2? O artigo que o consagrou foi submetido à revista Eurosurveillance em 21 de Janeiro de 2020, foi aceite em 22 de Janeiro de 2020 e publicado no dia 23 de Janeiro de 2020. Entre a submissão e a publicação passaram três dias. Portanto, isto já não são “prazos irreais no mundo das verdadeiras publicações científicas”, pois não, Doutor Filipe Froes?

    Fanfarronices à Froes para papalvos.

    Mas vamos lá ver o que é, efectivamente, a revista Cureus, tão desprezada pelo Doutor Filipe Froes.

    A Cureus foi fundada em 2009 em Silicon Valley como uma plataforma líder no movimento editorial de Acesso Aberto (Open Acess) com uma filosofia que enfatizava a credibilidade científica em detrimento do impacto percebido. Com uma gestão de peer review expedito publicou cerca de 32 mil artigos até ser adquirida pela Springer Nature, o grupo editorial responsável por dezenas de revistas científicas, entre as quais a Nature. E manteve a filosofia.

    Em Novembro de 2022, a ‘ciência’ de Filipe Froes garantiu uma “pandemia tripla”, um mix de covid-19, gripe e VSR. Nada sucedeu de anormal.

    Sobre a credibilidade da Cureus – que o Doutor Filipe Froes cataloga como uma das “revistas de ‘vão de escada’ que vivem destes expedientes para ter visibilidade” –, citemos as palavras de Joachim Krieger, director administrativo da Springer Nature Health quando a adquiriu em Dezembro de 2022:

    Estamos muito satisfeitos em receber Cureus na família Springer Nature. Com a sua abordagem à publicação centrada na comunidade e o novo pensamento e cultura inovadores que trarão, estou ansioso por trabalhar em conjunto para criar um repositório dinâmico e aberto de conhecimento médico acessível a todo o Mundo”.

    O ‘caixote de lixo’ no “vão de escada” do Doutor Filipe Froes não parece afinal cheirar assim tão mal ao executivo da Springer Nature. Pelo contrário.

    Mas, já agora, convém acrescentar que o fundador da Cureus, e ainda seu co-editor-chefe, de seu nome John R. Adler, é, enfim, um catedrático emérito da, enfim, Universidade de Stanford. No Scopus tem ele um h-index de 64. Que tal?

    Lembram-se do h-index do Doutor Filipe Froes? Exacto: apenas 17 (e nem é mau de todo). Falta-lhe é humildade. Pelo menos…

    Já agora, só para chatear mais: o outro co-editor-chefe da Cureus, o alemão Alexander Muacevic, tem um h-index de 37.

    Página de John R. Adler, professor da Universidade de Stanford, fundador da Cureus e actual co-editor-chefe, mesmo depois da sua aquisição pela Springer Nature.

    Portanto, vejam a bazófia do Doutor Filipe Froes no ataque a um artigo científico que não lhe dá jeito. Lança lama a quem muitíssimos melhores atributos detém.

    Mas voltemos ao artigo da Cureus sobre os efeitos adversos das vacinas contra a covid-19, que terão causado 14 vezes mais mortes do que as vidas por si salvas. Será que teve uma revisão assim tão apressada?

    Vejamos: a revisão começou em 11 de Agosto de 2023 e terminou em 23 de Janeiro de 2024, e o artigo foi publicado no dia seguinte. Portanto, o peer review demorou afinal 173 dias, ou seja, mais de cinco vezes o tempo médio criticado pelo Doutor Filipe Froes (e que ele quis fazer crer que fora o tempo da revisão do artigo sobre os efeitos adversos das vacinas).

    Mas mesmo assim: 173 dias, será pouco ou muito tempo?

    O tempo é uma medida sempre relativa (e até subjectiva), por isso nada melhor do que ver na perspectiva dos tempos de revisão dos próprios artigos científicos do Doutor Filipe Froes…

    Vamos a isso.

    O seu mais recente artigo, como nono co-autor, publicado na BMC Infectious Diseases, teve um tempo de revisão de… 173 dias. Acreditem, igualzinho: foi recebido pela revista em 19 de Abril do ano passado e acabou aceite em 9 de Outubro.

    Caramba: terá sido bem revisto pelos pares? Será a BMC Infectious Diseases também uma revista de ‘vão de escadas’? Claro que não! A BMC Infectious Diseases é uma revista da Springer Nature… tal como a Cureus.

    Primeira página do artigo da Cureus, onde surge a data do início da revisão (11 de Agosto de 2023) e do fim da revisão (23 de Janeiro de 2024).

    Vamos então ao segundo mais recente artigo científico do Doutor Filipe Froes – onde ele surge como 33º de entre 37 autores (estas ‘molhadas’ em Ciência são muitos normais para melhorar o CV) – publicado na Intensive Care Medicine. Oh, diabo! Também é do grupo Springer Nature, a mesma da Cureus. Vamos a contas: foi recebido em 21 de Abril de 2023 e, depois de revista pelos pares, acabou aceite em 22 de Agosto do mesmo ano. Isto dá 123 dias. Ora bolas! Menos tempo do que o tal artigo da ‘péssima’ Cureus.

    Mas vamos agora escrutinar onde também o Doutor Filipe Froes, avesso a revistas de “vão de escada”, aprecia publicar. Um dos seus últimos artigos científicos saiu ainda no ano passado sob o título “COVID-19 Vaccination in the Portuguese Medical Community: An Unprecedented Campaign Coordinated by the Portuguese Medical Association”. Na verdade, é uma pura descrição da polémica campanha de vacinação de médicos não-prioritários contra a norma da DGS. Trata-se de um artigo de grande simplicidade, nas suas cinco páginas, mas o elemento mais interessante é publicação: Acta Médica Portuguesa, que, para quem não sabe, é a revista científica da Ordem dos Médicos.

    Ora, nem por acaso, o primeiro autor deste artigo (supostamente) científico é o Doutor Miguel Guimarães, então ainda bastonário da Ordem dos Médicos. Estava tudo em casa, portanto.

    E assim, por artes mágicas, este fabuloso artigo científico do Doutor Filipe Froes – o mesmo homem que chamou revista de ‘vão de escadas’ a uma revista da Springer Nature por se gastar ‘apenas’ 173 dias a aceitar um artigo – demorou cinco dias apenas a ser aceite na extraordinária Acta Médica Portuguesa. Cinco dias, atenção, que incluíram um fim-de-semana: o dia 4 de Fevereiro de 2023 foi sábado e 5 foi domingo. Portanto , uma ‘revisão’ em três dias úteis.

    Isto já é Ciência para o Doutor Filipe Froes.

    Referências aos prazos de recepção de um artigo que tem Filipe Froes e o ex-bastonário Miguel Guimarães que saiu publicado na própria revista científica da Ordem dos Médicos. A revisão demorou cinco dias.

    E se formos para os artigos da Pulmonology, a revista da Sociedade Portuguesa de Pneumologia, onde o Doutor Filipe Froes também publica muito, a coisa não é muito melhor. Por exemplo, um recente artigo dele – que tem como co-autor o próprio presidente da Sociedade Portuguesa de Pneumologia, António Morais (os currículos científicos também se fazem assim, sem grandes preocupações de conflito de interesse) – foi recebido a 10 de Outubro do ano passado e aceite logo a 14 de Novembro, ou seja, 35 dias.

    Isto já é Ciência para o Doutor Filipe Froes.

    Mas vamos ser claros. Os tempos de ‘revisão’ são um falacioso indicador de qualidade [veja-se esta resposta de John Adler]. Em todo o caso, se algo de mal traz então abrangeu sobretudo a profusa publicação de artigos científicos em redor do uso de certos medicamentos contra a covid-19 com Ciência de duvidosa qualidade, e que muitas vezes contribuíram para calar vozes dissonantes. A eficácia dos lockdowns e das restrições, a implementação dos passaportes sanitários, a administração da vacinação em crianças e jovens, bem como a decisão de gastar milhões e milhões de euros em medicamentos patenteados, vieram de muitos artigos científicos ‘turbinados’ com ‘peer reviews’ à la carte.

    Uma interessante análise comparativa sobre a duração do processo de aceitação de artigos científicos durante a pandemia – e há muitas mais sobre o mesmo tema – comprova que diversas conceituadas revistas reduziram consideravelmente os prazos do processo de publicação. Por exemplo, a Eurosurveillance – onde foi publicado o polémico famoso protocolo Corman-Drosten – demorava cerca de 168 dias no processo de publicação e 106 dias na fase de revisão no período anterior à pandemia, mas durante a pandemia os prazos foram encurtados para 10 e 8 dias, respectivamente.

    woman in black tank top covering her face with her hands

    Das 14 conceituadas revistas científicas alvo dessa análise, fica-se a saber que, antes da pandemia, o tempo médio para todo o processo de publicação era de 117,4 dias e o de revisão de 95,9 dias, mas passou, durante a pandemia, para 60,3 e 51 dias, respectivamente. Além da Eurosurveillance, o Journal of Hospital Infection (10 dias), o Journal of Medical Virology (10,3 dias), o Travel Medicine and Infection Disease (12,6 dias) passaram a demorar menos de 20 dias no processo de revisão.

    E depois a Cureus é que é uma revista de ‘vão de escada’, Doutor Filipe Froes?

    Atine, homem!


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  • ‘As nossas eleições’: Hoje começa a ‘Hora Política’ no PÁGINA UM

    ‘As nossas eleições’: Hoje começa a ‘Hora Política’ no PÁGINA UM


    A actual legislação sobre a cobertura jornalística das campanhas eleitorais, criada em 2015, estipula que “os órgãos de comunicação social devem observar equilíbrio, representatividade e equidade no tratamento das notícias, reportagens de factos ou acontecimentos de valor informativo relativos às diversas candidaturas, tendo em conta a sua relevância editorial e de acordo com as possibilidades efetivas de cobertura de cada órgão”.

    Em princípio, esta formulação, numa primeira análise, demonstra um conceito de liberdade editorial e de informação – que é um dos apanágios das democracias –, porque, em abono da verdade, permite a mais completa liberdade à comunicação social. Mas a liberdade de imprensa não constitui apenas um direito; é uma responsabilidade. E essa responsabilidade cumpre-se em não deixar definhar a democracia.

    Mal estariam as democracias se significassem apenas ‘uma pessoa, um voto’; na verdade, a grande vantagem da democracia é conceder o direito de expressar os nossos pensamentos por actos e palavras, e no limite deter um papel para exercer funções na res publica.

    Porém, o princípio de ‘uma pessoa, um potencial governante’ somente se aplicará se a comunicação social – como pilar de um sistema democrático – não fizer um tratamento jornalístico discriminatório às diversas candidaturas e candidatos. Bem sei ser um objectivo quimérico equilibrar as coberturas das campanhas eleitorais – até por os eventos e os dinamismos serem muitos distintos, quando temos os partidos (do poder) com orçamentos acima de dois milhões, enquanto outros contam os euros. Por isso, do ponto de vista editorial, as iniciativas de campanha de um partido como o PS e o PSD serão, por agora, em maior número e de superior interesse público (mesmo que possam não ser interessantes) em comparação com as de um pequeno partido sem assento parlamentar. Isso é aceitável, sobretudo dentro do espírito da liberdade editorial.

    Contudo, a liberdade editorial de um órgão de comunicação social não pode esquecer uma contínua ‘dívida de gratidão’ à democracia como sistema (não tanto aos políticos), e que pode ser ‘paga’ em duas ou três semanas de campanha eleitoral concedendo o direito de se conhecer as ideias e propostas de todos.

    Por isso, mostra-se intolerável que a comunicação social generalista, em época de eleições, coloque determinados partidos numa primeira divisão (com cobertura exaustiva), outros numa segunda divisão (com cobertura mediana e direito a ‘jogos de taça’ com os ‘grandes’, leia-se debates televisivos e radiofónicos), e outros ainda (os pequenos partidos) nem do ‘banco’ saem, ignorados que ficam durante semanas, para depois serem ‘enviados’ a uma espécie de ‘arena’ televisiva, à molhada, para que debitem nuns poucos minutos alguns ‘soundbites’ e umas quantas larachas mais ou menos tontas.

    Este espectáculo pouco dignificante numa democracia – e lesivo, porque nem ‘areja’ os partidos de maior dimensão – sempre me chocou, mesmo se, caso a memória não me esteja a falhar, na generalidade das eleições votei em partidos com representação parlamentar. Tenho a convicção que uma democracia (bem) amadurecida é aquela que dá voz a todas as propostas, mesmo, ou sobretudo, àquelas que nada nos dizem ou sobre as quais discordamos frontalmente. As nossas convicções e as nossas opiniões reforçam-se mais quando ouvimos as partes contrárias.

    Foi imbuído desta filosofia democrática – uma pessoa, um voto; e igualdade de oportunidades para todos – que o PÁGINA UM decidiu criar a HORA POLÍTICA, uma nova secção deste jornal independente, que lançou o desafio aos líderes partidários, à totalidade dos 24 partidos inscritos no Tribunal Constitucional para uma entrevista de (até) uma hora, realizada pela jornalista Elisabete Tavares.

    Como já anunciado (vd., lista em baixo), a sua divulgação será feita a partir da próxima segunda-feira, dia 12, e prolongar-se-á até 6 de Março. Neste momento, já foram realizadas 15 entrevistas, estando já garantido a sequência dos 10 primeiros partidos (até ao dia 21), aguardando-se ainda a marcação das restantes durante as duas próximas semanas.

    Mas o PÁGINA UM não fica por aqui, mesmo se a nossa redacção é diminuta. Hoje mesmo começamos a divulgar o podcast ‘As nossas eleições’, onde eu e o também jornalista Frederico Duarte Carvalho passaremos ‘revista’ aos anos de sufrágio e aos Governos que foram passando pela democracia, embora o episódio de hoje tenha o foco numas ‘eleições’ muito peculiares do ano de 1969.

    ‘As nossas eleições’, o podcast de Frederico Duarte Carvalho e Pedro Almeida Vieira, integrado no ‘Hora Política’.

    Não perca, por isso, dia sim, dia não, este conjunto de 12 episódios, que terão ainda um extra mais próximo de 10 de Março.

    Fazemos tudo isto para os nossos leitores, mas também pela democracia, a única forma que temos de fazer (ainda) o jornalismo que fazemos: sem publicidade, sem parcerias comerciais e apenas com donativos independente como nós.


    DATAS DE DIVULGAÇÃO DAS ENTREVISTAS

    Nova Direita (2024) – 12 de Fevereiro

    Volt Portugal (2020) – 13 de Fevereiro

    Reagir Incluir Reciclar (2019) – 14 de Fevereiro

    Chega (2019) – 15 de Fevereiro

    Aliança (2018) – 16 de Fevereiro

    Iniciativa Liberal (2017) – 17 de Fevereiro

    Partido Unido dos Reformados e Pensionistas (2015) – 18 de Fevereiro

    Nós, Cidadãos (2015) – 19 de Fevereiro

    Alternativa Democrática Nacional (2015) – 20 de Fevereiro

    Juntos pelo Povo (2015) – 21 de Fevereiro

    Livre (2014) – 22 de Fevereiro

    Movimento Alternativa Socialista (2013) – 23 de Fevereiro

    Pessoas-Animais-Natureza (2011) – 24 de Fevereiro

    Partido Trabalhista Português (2009) – 25 de Fevereiro

    Bloco de Esquerda (1999) – 26 de Fevereiro

    Partido da Terra (1993) – 27 de Fevereiro

    Ergue-te (1985) – 28 de Fevereiro

    Partido Ecologista Os Verdes (1982) – 29 de Fevereiro

    Partido Popular Monárquico (1975) – 1 de Março

    Partido Comunista dos Trabalhadores Portugueses (1975) – 2 de Março

    Partido Socialista (1975) – 3 de Março

    Partido Social Democrata (1975) – 4 de Março

    CDS – Partido Popular (1975) – 5 de Março

    Partido Comunista Português (1974) – 6 de Março


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  • OBRIGADO aos nossos leitores. MUITO OBRIGADO aos 541 leitores que nos financiam

    OBRIGADO aos nossos leitores. MUITO OBRIGADO aos 541 leitores que nos financiam


    Para o PÁGINA UM todos os meses são cruciais. Ainda há dias fizemos 25 meses de existência, e sentimos que temos uma obrigação moral de dizer OBRIGADO aos nossos leitores que nos acompanham e estimulam a fazer um jornal de acesso livre. E também um MUITO OBRIGADO aquele grupo (crescente) dos leitores que, contrariando a falaciosa ideia de o trabalho jornalístico necessitar de promíscuas parcerias comerciais para sobreviver, nos têm apoiado financeiramente.

    Em Dezembro do ano passado, o PÁGINA UM foi ‘escrito’ (leia-se, apoiado) por 478 leitores. No mês passado, em Janeiro, com novo apelo, chegámos aos 541 leitores a conceder-nos apoio financeiro.

    black video camera

    O crescimento do PÁGINA UM faz-se através dos leitores, mas também sabemos que o ‘incentivo’ tem de partir de nós, que necessitamos de ‘provar’ que fazemos um jornalismo independente, e que merecemos a confiança dos leitores. Queremos, em cada dia, que nos vejam como uma suficientemente credível para nos concederem recursos para fazer mais.

    E se no mês passado já fizemos mais, este mês faremos ainda mais.

    Em Janeiro, passámos a contar com mais colunistas, que se juntaram aos que já tínhamos. Destaco aqui o Manuel Matos Monteiro, a Sara Battesti (com as suas análises semanais aos cartazes políticos), o Ruy Otero e o Bruno Cecílio. Daqui também sairá em breve mais novidades com ‘movimento’ e muita crítica.

    Mas este mês vamos dedicar uma especial atenção às eleições e à actividade política. Como anunciámos no passado dia 22, estamos a preparar a Hora Política. Pela primeira vez, pelo menos nos últimos 30 anos, o PÁGINA UM será o primeiro órgão de comunicação social português a querer ouvir, em é de igualdade, os líderes dos 24 partidos inscritos no Tribunal Constitucional. As entrevistas – daqueles que aceitarem (sendo que este será também um teste ao nível de ‘democraticidade’ dos partidos) –, conduzidas sempre pela jornalista Elisabete Tavares, começarão a ser divulgadas, por ordem crescente de antiguidade, a partir do dia 12 de Fevereiro, com a Nova Direita, e estender-se-ão até 6 de Março, com o Partido Comunista Português.

    Silver and Black Dynamic Metal Microphone

    Neste momento, já foram gravadas sete entrevistas, duas das quais com partidos com actual assento parlamentar, estando já agendadas outras para as próximas semanas.

    Em paralelo, a Hora Política terá ainda uma rubrica em podcast com a participação do jornalista Frederico Duarte Carvalho, onde se conversará sobre as eleições passadas em regime democrático, desde a primeira em 25 de Abril de 1975, para formar a Assembleia Constituinte. Ainda estamos em fase de gravação, mas contem com pelo menos uma dezena e meia de boas conversas que vamos colocando ao longo deste mês.

    E de resto, continuaremos a ser o mesmo jornal que temos habituado os nossos leitores, fazendo investigações incómodas e abordando temas que os outros se esquecessem ou se fazem esquecidos.

    Uma coisa posso garantir aos nossos leitores: gostávamos de fazer ainda muito mais. Mesmo muito mais. Mas para isso precisamos de dar mais passos, com os nossos leitores, garantindo a nossa sustentabilidade financeira. Para formar uma equipa com mais jornalistas independentes em condições salariais adequadas. Desejamos chegar, ainda este ano, aos 1.000 leitores apoiantes, e seguir em frente. No mês passado tivemos um crescimento de 63 apoiantes, embora estejamos ainda a pouco mais de meio caminho. E, por isso, o mês de Fevereiro, como todos, será para o PÁGINA UM o continuar de uma viagem desafiante.


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  • A ‘Censura do Bem’ é a pior das censuras

    A ‘Censura do Bem’ é a pior das censuras


    O Público – e falo do Público, porque fez ontem um trabalho sobre esta matéria – e outros órgãos de comunicação social ‘mainstream’ andam muito entusiasmados com a possibilidade de os ‘gigantes digitais’ combaterem a denominada ‘desinformação’ durante os actos eleitorais deste ano.

    Contas feitas, ao longo de 2024 haverá mais de 80 países a irem às urnas, incluindo os Estados Unidos, o Reino Unido, a Rússia, a Ucrânia, a Índia e, claro, Portugal. Estão ‘todos’ – não sei bem quem são os ‘todos’, mas encabeçados pelos directores dos media ‘mainstream’ – preocupados com os malefícios da ‘desinformação’ nas campanhas políticas, como se o Mundo só agora tivesse descoberto a existência de mentiras, de manipulações, de promessas faraónicas feitas por certos políticos. Eu, sinceramente, pensava que sempre foi assim e por todos quadrantes. Neste frenesi, Otto von Bismarck deve estar a rir-se na sua sepultura em Friedrichsruh – isto se não for, hélas, uma mentira a frase que lhe atribuem: “nunca se mente tanto como antes de umas eleições, durante as guerras e depois das caçadas”.

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    Sabemos bem, pela amostra dos últimos anos, como os ‘gigantes digitais’ actuam, e a forma tentacular com que seduzem e envolvem os media ‘mainstream’ (que aceitam a ‘linha’ directora adoçada com financiamentos para supostos ‘fact checkings’), catalogando e tratando a ‘desinformação’ com critérios do poder. A verdade, em tristes épocas, sempre se impôs pelo poder, em vencer em vez de convencer. Antes, e num sistema verdadeiramente democrático, quando a credibilidade da imprensa valia por si, a verdade sobrepunha-se à mentira através do debate e sobretudo do papel intermediador dos jornalistas. E da pluralidade de opinião. Acabava por ser premiada, pelos leitores, a imprensa que ‘dizia’ a verdade; e penalizada a que mentia.

    Agora, não! Tudo mudou. Agora, são os ‘gigantes tecnológicos’ que determinam a ‘verdade’, através de algoritmos comandados e manipulados à distância por ‘entes’ absolutamente nada democráticos (inalcançáveis e não-identificáveis), mas seguindo uma ‘narrativa’, determinando-se à priori se algo é verídico ou não, se algo é aceitável ou não, se algo é censurável ou não. Vimos isso na pandemia, onde, por exemplo, eu e muitos – e muitos com Ciência feita de décadas – fomos censurados por dá cá esta palha, sem apelo nem agravo.

    Tão fácil que foi então, e agora continua a ser, rotular, catalogar, censurar. Se o Facebook bloqueava, era porque se era negacionista, lunático, chalupa. Ainda hoje, por exemplo, a minha conta do Facebook está condicionada por ter divulgado notícias do PÁGINA UM baseadas em artigos científicos de revistas científicas com peer review. Julgo que o ‘castigo’ terminará em Março, pelo que talvez consiga, depois disto, ultrapassar as agora 20 ou 30 reacções por post. Nunca houve sequer oportunidade de apelação. Os ‘gigantes digitais’ são inalcançáveis.

    Man In Blue Denim Jacket Holding A Megaphone

    E vimos isso, depois da pandemia, na invasão da Rússia à Ucrânia, onde também se permitiu a imposição de uma absurda censura aos órgãos de comunicação social russos, como se a Comissão Europeia se achasse detentora de um mandato paternalista considerando-nos inaptos por ineptos em distinguir a verdade da mentira, os factos da ficção.

    E vimos isso agora nas represálias de Israel à Faixa de Gaza, onde se ‘declarou’ como dogma que qualquer crítica aos israelitas será um discurso anti-semita e qualquer atitude de compaixão sobre os palestinianos passaria a ser considerada uma apologia ao terrorismo.

    E vemos agora em todas as questões fracturantes (e.g., alterações climáticas, migrações, género, etc.), onde quem quer fracturar deseja partir literalmente os seus opositores, promovendo medidas de cancelamento, de ostracismo, de silenciamento, de perseguição – e isto enquanto batem no peito clamando as virtudes da democracia. Mesmo os artistas, agora já nem podem ser subversivos, provocadores, imperfeitos, de contrário perdem o sustento.

    Por isso, quando vejo o entusiasmo da imprensa ‘mainstream’, da qual o Publico é um flagrante expoente nacional, congratulando-se orgasticamente pela intervenção censória dos ‘gigantes digitais’, identificando, desde logo a ‘desinformação’ como sinónimo (ou somente proveniente) do Trump, da extrema-direita e da Rússia, assusto-me com o triste caminho que estamos a trilhar.

    Silver and Black Dynamic Metal Microphone

    A simplificação da origem da ‘desinformação’ tem um propósito: não é apenas calar (pela pior forma) opositores (mesmo que sejam pouco recomendáveis, como a extrema-direita ou regimes não-democráticos como a Rússia), mas validar como ‘verdades’ todas as mentiras, todas as manipulações, todas as promessas não cumpridas, todos os actos de corrupção moral e material dos políticos ‘mainstream’.

    Fazer esquecer, aliás, que foram eles, os políticos ‘mainstream’, com os seus actos e omissões. ‘benzidos’ por uma imprensa comprometida e vendida, que deixou de ser o ‘watchdog’ dos cidadãos, que ‘empurraram’ uma cada vez maior franja da população portuguesa (e ocidental) para os braços dos partidos populistas, antissistema e até de extrema-direita. Os europeus (e os portugueses incluídos) não se tornaram de repente fascistas: estão é fartos dos políticos que usurparam a expressão ‘partidos democráticos’. E começam também a estar fartos de uma imprensa que acha bem uma ‘Censura do Bem’.

    A ‘fúria’ em combater a ‘desinformação’ dos ‘outros’ com o borrão da censura, passando uma esponja pelas próprias mentiras, não é um acto democrático; é o acto próprio de uma ditadura. É um acto que deve ser denunciado pela Imprensa, nunca apoiado. É um ultraje aos princípios do Jornalismo achar que há ‘Censura do Bem’, ainda mais por ‘gigantes digitais’ que janelas opacas.

    Convençam-se: permitir ‘regulação’ através de ‘gigantes digitais’ não é regulação: é uma ditadura. Não se substitui o papel de uma Justiça lenta e coxa através de empresas que ‘silenciam’ carregando num botão. Isso é uma ditadura mesmo que supostamente esteja imbuída de santos princípios.

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    Convençam-se: não há ‘Censura do Bem’. Não há ‘Ditaduras do Bem’. Uma ditadura é uma ditadura – sempre será má. E sobretudo quando apadrinhada, como anda a suceder, pela própria imprensa ‘mainstream’.

    Convençam-se: a ‘desinformação’ combate-se sim com (boa) educação, (boa) formação e (boa) informação, para melhorarmos o entendimento das coisas por parte das pessoas, sem doutrinamentos nem dogmatismos; não se combate recorrendo à censura. E ver certa imprensa explicitamente a apoiar qualquer forma de censura faz-me dar voltas ao estômago. Por isso, camaradas jornalistas, preocupem-se, sim, em dar boa informação; apenas isso. E vigiem sim Governos e ‘gigantes digitais’. Já não será pouco. É muito – é, aliás, uma fundamental razão da existência do Jornalismo.


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  • Sondagens, ou como a imprensa procura não sei bem o quê: talvez o fim

    Sondagens, ou como a imprensa procura não sei bem o quê: talvez o fim


    Na semana passada, durante o Congresso dos Jornalistas, viram-se os ditos baterem muito no peito, e jurando que a Democracia ruiria sob os escombros do Jornalismo, se este, enfim, fosse deixado colapsar pelo Estado, já que os leitores, ouvintes e telespectadores parece não serem suficientes para lhes reconhecerem valor.

    E, de repente, olho hoje para (mais uma) daquelas ‘sondagens’ e ‘inquéritos’ que vai enxameando esta, repetindo outras, época pré-eleitoral. Neste caso, foi no Correio da Manhã, mas poderia ser noutros quaisquer, como no diário que anunciava que Medina sucedia em Medina, e em muitos outros que, depois de se envergonharem perante os leitores, e contribuírem para a manipulação dos incautos, ainda se questionam estupidamente.

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    Em todo o caso, há muito que não assistia a uma tão pesarosa ‘sondagem’, que, além de enviesada nas questões (mas nisto cada um mete as perguntas que quer), retira as mais absurdas conclusões em parangonas. Neste caso, hoje, saiu um: “Portugueses voltam a preferir maioria socialista”.

    Ora, mas a partir da ficha técnica deste Barómetro Intercampus, em letras muito miudinhas, boas para míopes, mas péssimas para a credibilidade da notícia e do jornalismo, vemos que só 62 pessoas disseram que gostavam, face a outras alternativas, que houvesse uma maioria absoluta do PS. Repito: 62!

    Mas isto foi suficiente para hoje o Correio da Manhã titular: “Portugueses voltam a preferir maioria socialista”. E isto num inquérito que tinha 9 alternativas, com uma amostra de 637 entrevistas e uma taxa de resposta de 62,9%. E esta alternativa foi a mais votada teve 15,4% das respostas: as tais 62 pessoas, se considerarmos que o famoso “Ns/Nr” (Não sabe / Não respondeu) não saiu mesmo ‘vitorioso’, pois arrecadou 22,3% dos ‘votos’. E isto sabendo que a segunda alternativa mais votada foi a de “um Governo AD aliada ao Chega”, que registou 13,7% das preferências da tal amostra de 637 entrevistas das quais só 62,9% responderam e, destes, 22,3% nem quiseram ou souberam responder. Contas feitas, foram 55 pessoas.

    A terceira alternativa – “uma maioria relativa do PS, sem fazer alianças e governar com apoios pontuais” – teve, contas feitas pelo mesmo processo, as respostas concretas de 46 pessoas.

    Portanto, é com esta ‘ciência’ que andamos a brincar ao jornalismo.

    Isto, repito, foi no Correio da Manhã, mas podia pegar noutra qualquer sondagem ‘martelada’ para retirar conclusões absurdas.

    A imprensa continua, dia a dia, a enterrar a sua credibilidade, procurando não sei bem o quê: talvez o fim.


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  • Tivemos 478 leitores a fazer o PÁGINA UM em Dezembro. Quantos serão em 2024?

    Tivemos 478 leitores a fazer o PÁGINA UM em Dezembro. Quantos serão em 2024?


    Este mês, o PÁGINA UM fez o seu segundo aniversário, e registou o seu mais elevado número de visualizações de notícias. Este é um projecto inovador, porque, pela primeira vez, se aplica na imprensa portuguesa um modelo de ‘willingness to pay’ – ou seja, o leitor dispõe da liberdade de contribuir com o valor máximo que assim desejar (ou poder), sendo que, independentemente disso, acede às notícias e conteúdos.

    Essa modalidade tinha, tem e terá, do ponto de vista económico, todas as condições para fracassar, pois não há aqui qualquer rede: o PÁGINA UM assume que não tem (nem quer) publicidade, não realiza parcerias comerciais nem é suportado por misteriosos fundos das Bahamas ou de outras quaisquer paragens exóticas ou não. Vive – ou sobrevive – apenas com os donativos dos seus leitores – e cresce ou não em função desse fluxo, que constitui um barómetro da qualidade do nosso trabalho.

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    Nessa medida, o PÁGINA UM tem uma redacção ‘minúscula’ e grande parte dos colaboradores (não jornalistas) contribuem pro bono ou com muito simbólicas contrapartidas monetárias. Isso implica que tenhamos uma produção pequena, mesmo se com produtividade elevada, tendo em conta as abordagens que fazemos, sobretudo em áreas ou temas que órgãos de comunicação social não tocam ou temem tocar. Com este modelo, o PÁGINA UM jamais entrará em ‘aventuras’, e crescerá (ou não) sem dívidas, sem empréstimos e sem compromissos financeiros ou de outra natureza que possam colocar em causa a sua independência. Antes a morte deste projecto do que a sua sobrevivência comprometida.

    Todos os meses (ou dias) do PÁGINA UM – e falo como director do jornal mas também como gerente da empresa (que se criou por uma questão de transparência de contas) – são assim um desafio, porque em simultâneo com as investigações, as notícias, as opiniões, as entrevistas e outros tantos textos (e acreditem ou não, por um acaso, este será o texto 2.000 publicado neste nosso/vosso jornal digital), temos de apelar, de forma honesta, para que os primeiros leitores não se esqueçam da génese deste projecto e para que os novos leitores o compreendam.

    Viver supostamente de donativos – e ainda mais numa sociedade como a portuguesa e num mundo empresarial dos media assente na acumulação de prejuízos suportados pelos bancos, obrigacionistas, autarquias, empresas públicas e Governo – tem merecido, aqui e ali, um certo desdém e tentativas de menorização deste projecto.

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    Por exemplo, ainda este mês, em duas ocasiões, dois visados por notícias do PÁGINA UM tomaram a decisão de, em resposta a notícias a si desfavoráveis, darem uma ‘esmola’ via MBWAY. Um deles foi José Paulo Fafe, CEO da Global Media, após este meu texto; o outro foi o cantor e empresário André Sardet, depois desta notícia. A ambos devolvi o dinheiro, com acréscimo. Ao CEO da Global Media acrescentei 1,80 euros, o preço de uma edição em papel do Diário de Notícias; a Sardet (cujo apelido verdadeiro não tem o T) acrescentei 0,96 euros, o custo de uma embalagem de passas no Continente, indicando que serviam para que os seus lucros de 2023 não fossem afectados, até porque o mais recente ajuste directo que recebeu (de uma empresa municipal de Lisboa) foi ‘só’ de 248 mil euros.

    Além deste tipo de boutade demonstrar o quão necessário se mostra a existência de um jornal independente – a ‘esmola’ é fruto da surpresa porque pessoas como Fafe e Sardet se surpreendem por jornalistas não acharem ‘naturais’ as suas negociatas –, há nisto sobretudo uma ignorância sobre o passado do jornalismo e sobretudo sobre o papel da imprensa e da forma como deve ser valorizado e remunerado pelos seus leitores – que são, na essência, o destinatário e a causa.

    Tal como sucedia no passado, em que os editores e até administradores de jornais sabiam que a sua remuneração e a sua sobrevivência (e até aceitável lucro) advinham exclusivamente da valorização individual feita pelos leitores, que depositavam diariamente a moeda correspondente ao preço do matutino (ou vespertino), o PÁGINA UM também olha assim para os seus leitores. Com respeito individual.

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    Sabemos que o PÁGINA UM existe porque todos os meses há pessoas que compreendem que este projecto, de acesso livre, só é livre e aberto porque tem jornalistas profissionais independentes e sem agendas escondidas mas que precisam de ser valorizados e remunerados – para fazer mais. Aqui não há ‘esmolas’, porque prestamos um serviço, ainda mais nobre por sabermos que está disponível mesmo para quem não quer ou não pode contribuir.

    Mas também sabemos que somente poderemos informar mais, incomodar mais, tornar as nossas notícias mais impactantes, se tivermos cada vez mais força, mais receita, maior capacidade de crescimento com mais jornalistas. Nós representamos o modelo de um jornalismo que quer recuperar a credibilidade de outrora.

    Desde o início do PÁGINA UM são incontáveis as pessoas que apoiaram financeiramente este projecto jornalístico. Este mês, de forma individual, até ao dia de hoje, contamos 478 apoiantes, com montantes diversos e periodicidades distintas (pontuais ou regulares), atingindo uma média a rondar os 9 euros por pessoa. Aquilo que fazemos com esta (pequena) receita mensal (basta multiplicar 9 por cerca de 500), com oscilações ao longo destes dois anos, sem nos endividarmos, tem sido quase um milagre. E continuaremos a fazê-lo acontecer, enquanto tivermos capacidades.

    Editorial

    Mas também temos consciência das potencialidades deste projecto se o número de apoiantes crescesse, porque isso implicaria, de imediato, aumentarmos de forma proporcional o nosso trabalho. Muitos assuntos temos de ‘abandonar’ por manifesta incapacidade humana de os abordar, e isso custa-me pessoalmente.

    Por isso, o nosso objectivo (e desejo) para 2024: atingirmos, em média, pelo menos os 1.000 apoiantes mensais. Mostrámos já, nos últimos dois anos, não apenas pelo jornal mas também pelas iniciativas no Tribunal Administrativo de Lisboa em prol do acesso à informação, quais são os nossos objectivos, aquilo que valemos e aquilo que desejamos fazer como jornal independente. Mas sabemos que os leitores são soberanos – e é neles, sempre nos leitores (e não nas empresas ou nos Governos), que depende o PÁGINA UM.


    PÁGINA UM – O jornalismo independente (só) depende dos leitores.

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  • PÁGINA UM: dois anos de jornalismo independente

    PÁGINA UM: dois anos de jornalismo independente


    Sem publicidade, sem parcerias comerciais, de acesso livre, apenas com o apoio dos leitores e com um jornalismo incisivo, incómodo e independente, com rigor, sem mesuras e reverências. Esta tem sido a linha condutora do PÁGINA UM desde o seu nascimento em 21 de Dezembro de 2021.

    Quase duas mil notícias, artigos de opinião, entrevistas e outros textos em apenas dois anos com um pequeno mas bom punhado de jornalistas e outros colaboradores. É obra, mas é obra porque ainda não finalizada, e por isso é para continuar. E continuaremos. Para os leitores, e pelos leitores.

    Farei ao final da tarde uma melhor avaliação daquilo que foram estes dois anos de PÁGINA UM, e aquilo que se perspectiva para os seguintes. Isto porque, entretanto, tenho outros afazeres neste dia, ossos do ofício, como o de ir ao Forte do Alto do Duque, à PSP, pela tarde, prestar declarações (ou nada acrescentar) a pretexto de uma queixa de Sua Excelência o Chefe de Estado Maior da Armada Henrique Eduardo Passaláqua de Gouveia e Melo, que acha que o jornalismo, com base em documentos, não pode dizer que ‘mercadejou’ vacinas com a Ordem dos Médicos para se administrar em médicos não-prioritários, contra as normas em vigor e sem competências para tal, pouco depois de assumir o cargo de coordenador da task force, em Fevereiro de 2021.

    Mais do que parabéns ao PÁGINA UM, estão de parabéns os leitores que valorizam o jornalismo independente.

  • O que é reconhecido mérito? Em Espanha sabem; em Portugal perguntem à ‘polícia’ dos jornalistas

    O que é reconhecido mérito? Em Espanha sabem; em Portugal perguntem à ‘polícia’ dos jornalistas


    Ontem, o Supremo Tribunal de Espanha anulou a nomeação de Magdalena Valerio como presidente do Conselho de Estado daquele país, porque considerou válida uma acção da fundação Hay Derecho. Em causa estava a exigência legal de Magdalena Valério ter de cumprido dois requisitos: “prestigio jurídico y conocimiento experto de los asuntos de Estado”. E ela não cumpria um. A sentença é exemplar, e vale a pena ser lida na íntegra.

    Que Magdalena Valerio, nascida em 1959 e licenciada em Direito pela Universidade Complutense de Madrid, detinha um currículo invejável em conhecimentos do Estado, não suscitou dúvidas ao Tribunal espanhol. Depois de exercer como professora de Direito do Trabalho e Segurança Social, teve passagem por cargos de gestão pública nos anos 90, foi vereadora do município de Guadalajara em dois mandatos (1999-2005 e 2011-2015), foi presidente da Associação Águas del Sorbe, ocupou vários ministérios no Governo autonómico de Castela-La Mancha entre 2005 e 2019, foi ainda deputada no Congresso em três legislaturas, e entre 2018 e 2020 foi Ministra do Trabalho, Migração e Segurança Social do Governo de Pedro Sánchez. Sintetizei-lhe o currículo, saliente-se. Pode ser lido aqui na íntegra.

    Nomeada em Outubro para a presidência do Conselho de Estado de Espanha, Magdalena Valerio Cordero viu o Supremo Tribunal de Espanha retirar-lhe o cargo por considerar que não tinha “prestígio jurídico”.

    Porém, faltava a Magdalena Valerio cumprir o segundo requisito: “prestígio jurídico” – que, traduzindo para português, também significa “mérito”. Ora, aquilo que o Supremo Tribunal espanhol concluiu é que os dois requisitos “são duas as condições que quem assumir a presidência deste órgão deve cumprir. Não há exceção, nem matização, nem preferência de uma sobre a outra. E a razão de ser de ambas é diferente, mas concorrente: garantir que quem estiver à frente do Conselho de Estado reúna a dupla qualificação desejada pelo legislador. Ou seja, prestígio jurídico e conhecimento especializado em assuntos de Estado.”

    E nessa medida, o Supremo Tribunal de Espanha concluiu que “a notória e destacada trajetória de Magdalena Valerio Cordero – ministra, deputada, conselheira, vice-prefeita, vereadora, entre outras responsabilidades públicas – certamente atesta sua profunda experiência em assuntos de Estado, mas não serve para considerá-la uma jurista de reconhecido prestígio. O seu currículo mostra uma carreira meritória no serviço público, mas dela não se pode deduzir a estima pública na comunidade jurídica que implica o prestígio reconhecido. Certamente, nada consta no expediente nesse sentido, e também não há qualquer indicação no procedimento sobre o assunto.

    Li esta notícia com um sorriso. Mas um sorriso irónico, por via da perseguição, que tive e tenho, desde que no ano passado, escrevi que Licínia Girão, a actual presidente das Comissão da Carteira Profissional de Jornalista, não preenchia os critérios legais para aquele cargo, que por lei exige ser ocupado por “jurista de reconhecido mérito e experiência na área da comunicação social”.

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    Licínia era, à data da sua ‘entronização’ na CCPJ, em Maio de 2022, uma advogada-estagiária cinquentenária (eu também sou cinquentenário). Tinha tirado uma licenciatura recente em Direito (2015-2018) e dois turbo-mestrados – em Jornalismo (2019) e em Direito (2021), já na casa dos 50 anos. Seria um motivo de aplauso – eu próprio, embora com uma licenciatura finalizada em 1993, retomei estudos universitários a partir de 2015 e ‘coleccionei’ no currículo mais duas licenciaturas, um mestrado e uma pós-graduação –, mas isso não a fazia “jurista de reconhecido mérito e experiência na área da comunicação social”.

    Até porque, enfim, nem sequer conseguiu Licínia Girão ter artes para concluir o estágio de advogada e teve um ‘chumbo’ sonante numa candidatura ao curso de magistrados do Centro de Estudos Judiciários. Quanto a artigos jurídicos ou de outra natureza, Licínia Girão vale zero, porque zero são as suas obras na componente jurídica e até jornalística.

    Mas sucedeu alguma coisa a Licínia Girão? Claro que não. A sua mediocridade – no sentido de mediania, de pouco mérito – contrastava de forma escandalosa com a exigência legal (de ter de ser “jurista de reconhecido mérito e experiência na área da comunicação social”), mas quem se ‘crucificou’ foi o mensageiro – ou seja, eu –, até porque Licínia Girão não se elegeu sozinha: foi cooptada por oito jornalistas (já membros da CCPJ) e teve os empenhos do próprio Sindicato dos Jornalistas, no qual integra (e continua a integrar) o Conselho Geral.

    Ao invés do mundo jurídico, Licínia Girão, a actual presidente da CCPJ, tem tido mais “reconhecimento” nas artes. Por exemplo, em Junho de 2021, obteve a Menção Honrosa na categoria Ensaio/ Prosa no âmbito dos 13º Jogos Florais da Junta de Freguesia de São Domingos de Rana.

    Na verdade, os problemas vieram na minha direcção, sujeito que tenho estado às ‘fúrias’ de hipócritas zelotas, como os que se encontram no Conselho Deontológico do Sindicato dos Jornalistas e na própria CCPJ. Fui até acusado de andar a perseguir maldosamente a senhora e a cometer as maiores vilanagens deontológicas, num ‘processo’ que fica para os anais da filhaputice da imprensa nacional.

    Assim anda o Mundo.

    Por um lado, temos ali, na nossa vizinha Espanha, o exemplar caso de Magdalena Valerio: apesar de um forte currículo público, não pode ocupar o cargo de presidente do Conselho de Estado, após anulação da sua nomeação pelo tribunal, por não preencher a parte do prestígio jurídico que é premissa da lei.

    E aqui em Portugal, no nosso cantinho, 383 anos após a defenestração de Miguel de Vasconcelos do Paço da Ribeira, temos uma Licínia Girão – de currículo jurídico menos que paupérrimo (porque vale zero) e sem que ninguém lhe reconheça prestígio jurídico – no cargo de ‘polícia’ do Jornalismo, assumindo aquilo que objectivamente não é: “jurista de reconhecido mérito e experiência na área da comunicação social”.

    E são os jornalistas portugueses os únicos com responsabilidade por esta vergonha, por alcandorarem a mediocridade como símbolo do descrédito da imprensa em Portugal. De facto, como pode o Jornalismo defender a meritocracia em cargos públicos, se entre portas tem uma Licínia Girão?

  • Tráfico de influências: a viçosa e perniciosa raiz da corrupção

    Tráfico de influências: a viçosa e perniciosa raiz da corrupção


    Muitos dizem já que a montanha pariu um rato – e que António Costa se precipitou na demissão. Como o Ministério Público não terá conseguido sustentar a tese da corrupção, e ‘apenas’ a do tráfico de influências, logo surge a ideia de um certo esvaziamento da gravidade, e o Partido Socialista, perante o ânimo e apreço da media mainstream, mostra uma pujança para uma recauchutagem rápida através de um ex-ministro que ainda há meses se demitiu por uma embrulhada com meio milhão de euros.

    Numa democracia não há pior erro do que minimizar o tráfico de influência – que é, na verdade, a génese da corrupção financeira, porque constitui, antes de tudo, uma corrupção moral. Ainda mais neste caso do data center de Sines, que me faz lembrar a implantação do Freeport de Alcochete há cerca de duas décadas, também numa zona de protecção ambiental, e que resultou numa estranha e polémica reviravolta na avaliação de impacte ambiental nos tempos de José Sócrates como ministro do Ambiente.

    Causou, aliás, um breve frisson em 2009, e não deixa de ser curioso que, daquela vez, não tivemos envolvidos um chefe de gabinete e um (ex-)amigo do primeiro-ministro, mas sim um tio e um primo do então primeiro-ministro. Sugiro a leitura de uma antiga edição do Público sobre esta matéria, de 2009, para descobrir as semelhanças – e já agora, também com um texto de opinião da minha autoria, na página 3.

    Na verdade, quando o Ministério Público apanha casos de tráfico de influências, devíamos ficar satisfeitos com a celeridade da sua acção e pela função preventiva e profilática. O tráfico de influência para um servidor do Estado corrupto é, na essência, a sua quota-parte do negócio, que o levará a receber, mais tarde, o suborno.

    Cortar esse mal logo à nascença, antes que o corrompido receba o suborno, parece-me de elementar necessidade. Quando a corrupção é apanhada, nos poucos casos, e porque a corrupção já anda numa fase endémica (sem ser necessário de ser antecedida por pandemia), por regra já o mal está feito: a decisão política tomada, a adjudicação consumada, a construção erguida.

    Mas, por outro lado, nos tempos modernos, em que se sabe de antemão haver um risco relevante de se ser apanhado pelas tecnologias, um potencial corrupto minimamente inteligente não se expõe, pelo menos de imediato; não recebe envelopes com dinheiro; não revela sinais exteriores de riqueza.

    Mostra-se paciente. Recebe mais tarde, sob a forma de remunerações ‘legais’, de sinecuras ou veniagas por parte do beneficiário da acção de corrupção Para passar desapercebido, o suborno pode ser recebido, assim, por consultorias futuras bem pagas.

    Cria-se então uma empresa, arranjam-se uns ‘estudos’, e já flui o dinheiro por ‘serviço’ de tráfico de influência cometidos meses ou anos antes.

    Por isso, devíamos festejar quando o Ministério Público apanha criminosos públicos, ainda com a boca na botija, por tráfico de influências, porque assim o corrupto sem sequer recebeu o ‘doce’ do corruptor.

    Além disso, o tráfico de influências é, muitas vezes, o máximo que se deve esperar conseguir apanhar num acto de corrupção – e há imensa corrupção, não tenho dúvidas, desde o pequeno benefício de um jantar até os muitos milhares em contratos chorudos na área da construção e, cheira-me cada vez mais, no sector da saúde.

    A não ser por estupidez do corruptor (activo) e/ ou do corrompido (passivo), a prova da corrupção é extremamente complicada de alcançar, e muitas vezes “travestida” de evasão fiscal. Além disso, como o enriquecimento ilícito – ou seja, um rápido acréscimo patrimonial não explicável – não é prova de existência de corrupção, estamos perante uma dificuldade acrescida para o Ministério Público.

    Por isso, o tráfico de influências por parte de um político ou de alguém na esfera governamental ou da Administração Pública deveria ser visto como um crime socialmente tão grave como a corrupção passiva e activa. É um vil e grave acto, ultrajante para uma democracia – e é sobretudo a viçosa raiz da corrupção, porque degrada moralmente toda a sociedade que passa a estar sedenta de pequenos e grandes favores e favorecimentos. Da pequena ‘cunha’ para desbloquear aquela ‘burocraciazita’ até à mega ‘cunhagem’ de um projecto em área interdita.

    Até porque o tráfico de influência se exerce muitas vezes sobre funcionários públicos, com contas para pagar e objectivos de vida por concretizar, e que seriam impolutos na defesa de legalidade se não houvesse um superior político a ‘ameaçá-lo’ implicitamente de consequências se não fizessem um ‘favorzinho’.

    O tráfico de influências deve ser combatido ferozmente como um cancro social, arrancado como escalracho e lançado ao fogo. E não pode ser menorizado como tem estado a ser feito por alguns opinion makers, para grande satisfação do Partido Socialista. Aliás, fazem-lhe um ‘favorzinho’ na esperança de, depois, ser-lhes retribuído, presume-se.

  • O PÁGINA UM: um ano e meio de vida em prol do verdadeiro jornalismo

    O PÁGINA UM: um ano e meio de vida em prol do verdadeiro jornalismo


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