Etiqueta: Correio Trivial

  • Us discurços dus noços pulíticos

    Us discurços dus noços pulíticos


    A carreira política, em Portugal, deveria ser caso de estudo.

    Quem são os nossos políticos? Como são escolhidos? Que características devem possuir? Quais os seus currículos?

    Os portugueses, tão exigentes no que respeita à escolha nalgumas profissões, pouco ou nada se preocupam na altura de eleger aqueles que nos governam.

    Os deputados, é sabido, são eleitos sem que os eleitores consigam identificar a maioria deles porque votam em listas com dezenas de nomes, mas onde só os dois ou três primeiros lhes são familiares.

    Os Governos saem dessas eleições, já que o Primeiro-Ministro será, em princípio, o líder do Partido Político que as ganhar, o que deveria aumentar a responsabilidade dos cidadãos eleitores.

    Já ficaria contente se houvesse o mesmo cuidado que têm, por exemplo, na escolha das direcções dos clubes de futebol de que são adeptos.

    E, principalmente, se estivessem dispostos a pagar salários equivalentes à excelência de cada candidato.

    Custa-me compreender que aceitem que os clubes paguem ordenados mensais de dezenas de milhares de euros e considerem que Ministros, que vão decidir tudo sobre a nossa vida, ganham demasiado ao auferir, num ano, menos do que miúdos de vinte anos, futebolistas, numa semana.

    Os ordenados pagos aos nossos governantes levam a que os melhores de nós procurem outros empregos, muitas vezes no estrangeiro, deixando que os lugares passem a ser ocupados por pessoas que não conseguiriam qualquer lugar na direcção de uma empresa privada de média dimensão.

    Percebemos isso ao ver o país na cauda da Europa e com tendência a ser cada vez mais pobre.

    Os deprimentes discursos dos nossos governantes são a prova da sua incapacidade e ignorância.

    É gente que governa um País e nem sequer consegue falar, ou escrever, correctamente, a sua língua.

    Os exemplos são inúmeros.

    Recentemente a Ministra da Administração Interna, Margarida Blasco, explicava que uma das causas dos incêndios florestais tinha a ver com a “urologia” dos terrenos.

    Não faço ideia do que irá naquela cabeça, mas talvez ela quisesse dizer “orografia”, ou “orologia” [a ciência que estuda os fenómenos orográficos], e não chegasse lá o seu conhecimento de português. 

    Prefiro isso à hipótese de a senhora pensar que as árvores ali plantadas, por qualquer problema de rins, não conseguiam apagar o fogo por dificuldade em urinar.

    Já o Primeiro-Ministro, Luís Montenegro, garantiu com toda a pompa e circunstância que aos beneficiários de pensões “será-lhes paga” uma verba extraordinária.

    Se for tão extraordinária como a sua aversão à língua portuguesa em breve os reformados estarão a receber um ordenado equiparado ao dos futebolistas!

    Continuando a subir na hierarquia, passemos aos Presidentes da República.

    Cavaco Silva, Primeiro-Ministro em dois mandatos e Presidente da República noutros tantos, o homem que “nunca se enganava e raramente tinha dúvidas” achou por bem, num momento raro de humildade, agradecer aos “cidadões” que nele tinham votado.

    Razão tinha um meu Amigo, Carlos Esperança, ele sim um brilhante Cronista, com textos magníficos escritos num português exemplar, ao dizer que “Cavaco já escreveu mais livros do que os que leu”…

    O actual Presidente, Marcelo Rebelo de Sousa, ao comentar o recente tremor de terra, do alto da sua sapiência, afirmou à plebe:

    “O sismo revelou que, felizmente, o sistema de segurança e protecção civil português é robusto e eficaz no caso de não ser preciso fazer nada.”

    Fantástica notícia.

    O alívio que todos os portugueses tiveram ao ouvi-lo!

    “Se não for preciso fazer nada o sistema de segurança e protecção civil é robusto e eficaz”. Já se for necessário agir, cada um que se desenrasque!

    Podem ser incompetentes, mas são cómicos e baratos.

    Tudo porque consideramos que não vale a pena investir em governantes capazes, ainda que mais caros.

    Deixo uma história que mostra como é errada esta opção:

    Consta que Deus, depois de criar o Homem, viu que Adão não estava muito feliz e perguntou-lhe a razão.

    – “Sinto-me muito só” – disse este – “gostava de ter uma companhia!”

    – “Que tipo de companhia?” – questionou o Criador.

    – “Outra pessoa, mas que fosse bonita, inteligente, compreensiva, amiga.”

    – “Tudo bem. Vai custar-te um olho!”

    – “Um olho??? Caríssimo!!! O que é que consegues arranjar por uma costela?”

    E, pronto.

    Os problemas causados pelo regatear já vêm de longe.

    Vítor Ilharco é assessor


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  • Os Jogos do nosso desencanto

    Os Jogos do nosso desencanto


    Se há alguma evidência a retirar da prestação dos portugueses nos Jogos Olímpicos de Paris é a confirmação do total desprezo dos nossos governantes, desde sempre, para com o desporto.

    A frase “mente sã em corpo são” nunca foi tida em conta pelos nossos políticos.

    O desporto escolar é uma mentira e o apoio aos jovens é inexistente.

    Claro que não será a única causa, mas com toda a certeza que essa falha indesculpável é uma das razões que leva a que haja cada vez mais jovens obesos, mal preparados fisicamente, mais sujeitos a doenças.

    A outro nível impede o aproveitamento de talentos para algumas modalidades pela falta de apoio, de estruturas, de equipamento e de técnicos.

    O resultado vê-se quando no confronto com outros países.

    E não se diga que a diferença nos triunfos alcançados, que nos Jogos Olímpicos são provados pelo número de medalhas conquistadas, tem a ver, unicamente, com a dimensão e riqueza dos países.

    Obviamente que poder seleccionar atletas entre milhões de praticantes permite vantagens diferentes em relação a quem os escolhe entre centenas.

    De igual modo os países ricos têm outras possibilidades de investimento também nesta área.

    Mas nada pode justificar os resultados sempre inglórios de Portugal, em relação a países de dimensão e riqueza semelhante.  

    Um exemplo:

    A Hungria obteve, nos Jogos de 2020 (que tiveram lugar em 2021 por causa da Covid), 19 medalhas: 6 de ouro, 7 de prata e 6 de bronze.

    Portugal conseguiu 4: 1 de ouro, 1 de prata e 2 de bronze.

    Ficámos em 56º lugar atrás de países como o Uganda e ao lado da Etiópia.

    Este ano vamos pelo mesmo caminho tendo, até ao momento em que escrevo a Crónica, 1 medalha de bronze contra as 4 da Hungria, sendo 1 de ouro, 2 de prata e 1 de bronze.

    Os Governantes que se apresentam nesses palcos, com o objectivo de retirarem alguns dividendos de eventuais medalhas, deveriam ter vergonha já que nenhuma, repito nenhuma, se deve ao Poder político.

    Se analisarmos os percursos dos nossos campeões (que os temos) concluiremos que nada, mas nada, devem àqueles.

    As nossas primeiras medalhas foram atribuídas a praticantes de vela e de tiro que treinavam, a expensas suas, desportos só praticados por meia dúzia de atletas com poder económico que lhes permitia esse “passatempo”.

    Mais tarde surgiram os atletas que levaram longe o nome de Portugal unicamente porque não precisavam de grandes estruturas e equipamentos para as modalidades escolhidas.

    Refiro-me, por exemplo, aos praticantes de corta-mato e corridas de estrada como as maratonas.

    Nada de original porque o mesmo sucedia, por esse mundo fora, nos países de terceiro mundo como era o caso dos nossos grandes adversários de então, o Quénia e a Etiópia.

    Felizmente, alguns Clubes Desportivos de maior dimensão substituíram o Estado no apoio a alguns atletas e permitiram que no remo, no atletismo, na natação, no judo, houvesse medalhados.

    Carlos Lopes nunca conseguiria os seus sucessos sem o apoio do Sporting e do seu treinador, o grande Moniz Pereira.

    Clube a quem também se deve, em muito, o sucesso de Nelson Évora e Patrícia Mamona, no atletismo, e Jorge Fonseca no judo,

    O mesmo com Fernando Pimenta, no remo, Telma Monteiro, no judo, Pedro Pichardo, no atletismo e Vanessa Fernandes, no triatlo, que beneficiaram do apoio do Benfica.   

    As grandes atletas Rosa Mota e Fernanda Ribeiro, atingiram o estatuto de campeãs graças ao Futebol Clube do Porto.

    O caso mais flagrante será o do ciclista Joaquim Agostinho que se tornou conhecido por, saído da sua aldeia, montado numa “pasteleira” (bicicleta normal), ter participado numa prova, que venceu, contra os melhores portugueses de então, todos apetrechados com bicicletas de competição.

    Mais tarde fez furor nas Voltas a França unicamente pela sua força e determinação já que, por falta de treinadores, tinha um modo “original” de pedalar, desengonçado e perigoso, o que levou a que tivesse várias quedas, uma delas fatal, ao ponto de lhe chamarem “Quim Cambalhota”.

    O grande Eddie Merckx, que o admirava e de quem foi amigo, confessava:
    “Se Joaquim Agostinho soubesse andar de bicicleta seria imbatível”.

    E os exemplos podiam multiplicar-se com Campeões noutras competições importantes, como Campeonatos do Mundo, com vários outros atletas que fizeram içar a bandeira portuguesa e ouvir o Hino Nacional sem que a Pátria os tivesse apoiado por desleixo dos seus governantes.

    Para estes, o desporto serve para se autopromoverem nos momentos das vitórias, onde estão sempre presentes em grande plano, e na cobrança de impostos aos clubes que fazem muito do trabalho que competiria ao Estado.

    man in blue jacket and gray pants running on track field during daytime

    Os atletas portugueses, presentes nestas competições, merecerão sempre a minha admiração e o meu agradecimento.

    Porque todos competem, pelas razões que mencionei, com enorme desvantagem em relação aos adversários.

    O que não invalida que, no fim da Festa, fique uma enorme tristeza e um doloroso desapontamento.

    A verdade é que não merecemos o esforço dos que vestem, orgulhosamente, a camisola de Portugal.

    Entre muitas outras razões por que somos péssimos nos momentos de votar para eleger quem nos governa.

    Vítor Ilharco é assessor


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  • Justiça ou vingança

    Justiça ou vingança


    Segui a cerimónia de Benjamin Netanyahu no Congresso dos Estados Unidos e não me surpreendi com o resultado: Congressistas aplaudindo, euforicamente, em pé, Congressistas pateando e garantindo, posteriormente, que tinha sido “o pior discurso de sempre de um líder estrangeiro no Congresso”, Famílias das vítimas do Hamas agradecendo a sua acção, Famílias dos ainda reféns criticando as suas palavras.

    Netanyahu sabia que este seria o resultado.

    Tentou justificar toda a contestação dizendo que esta tinha como base o ódio.

    Afirmou, taxativamente, que “o antissemitismo é o ódio mais antigo do mundo”.

    Talvez tenha exagerado, mas não deixa de ter alguma razão.

    Para um cidadão normal, ou que se pretende assim qualificar, como é o meu caso, a questão resume-se a tentar saber qual o caminho que deveria ser seguido pelo responsável de um País vítima de mais um ataque ignóbil dos seus ancestrais inimigos.

    Recordemos o acto que levou Israel a uma guerra sem tréguas contra o Hamas.

    Todos vimos, todos nos arrepiámos, todos nos revoltámos com as imagens de um grupo de bárbaros assassinos a disparar, indiscriminadamente, contra um grupo de homens, mulheres, jovens, crianças, todos desarmados porque se divertiam num Festival de Música.

    Para os assassinos eles cometiam o terrível crime de não seguirem as suas práticas religiosas, ou políticas, ou por serem oriundas de países que consideram inimigos.

    Deixaram, para trás, 260 mortos, mas não contentes com isso arrastaram centenas de sobreviventes que fizeram reféns em masmorras, onde muitos ainda se encontram desde Outubro de 2023.

    A questão que se punha aos políticos de Israel passou a ser a seguinte: Como responder a mais este crime?

    A pergunta não tem resposta fácil para ninguém. Muito menos para uma pessoa com as minhas capacidades.

    blue and white flag on pole

    Sei que os familiares das vítimas exigem, no mínimo, que os agressores tenham um fim pelo menos tão violento como o que deram os seus entes queridos.

    Em suma, exigem vingança. No meu conceito, legitimamente.

    Outros querem, dos responsáveis de um País que se quer democrático e respeitador dos Direitos Humanos, que tentem castigar os agressores, mas sem descer ao nível destes.

    Em suma, pedem Justiça. No meu conceito, com razão.

    Perante isto o que poderia Benjamin Netanyahu fazer?

    Como prender os assassinos que invadiram o seu país, massacraram quase três centenas de pessoas inocentes e raptaram outras centenas, se aqueles regressaram para as suas terras onde têm o apoio de milhares de habitantes dispostos, muitos deles, a defendê-los com armas na mão?

    Os familiares das vítimas exigiam que houvesse uma retaliação sem paralelo, não só contra os que tinham cometido “este” crime mas contra todos os que seguem, há anos, a mesma linha, não só porque ou já tinham cometido outros idênticos ou estavam a ser treinados para cometer novos atentados.

    A justificação que usam, é simples: se não querem seguir as regras internacionais, não ligando à Justiça, então só restará a Vingança.

    Alguns, mais comedidos, chamavam a atenção para o facto destes terroristas (porque é esse o nome que lhes corresponde) não respeitarem, sequer, o seu Povo e o usarem como escudo.

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    O que levaria a que as forças de Israel acabassem por matar, nos seus ataques, muitos inocentes.

    Ou seja, a cometer os mesmos crimes pelos quais pretendiam castigar os seus adversários e, por consequência, poderem passar a ser rotulados, também eles, de terroristas.

    Não havia uma terceira hipótese.

    A Justiça, como a conhecemos, dificilmente seria conseguida neste caso. Até porque, ainda que se prendessem todos os que entraram em Israel naquele dia fatídico, os grandes responsáveis ficariam livres e a treinar novos atacantes.

    Por sua vez, a Vingança criaria, como acabou por criar, novos adversários, novos inimigos, perante a imagem de ataques indiscriminados com milhares de civis de todas as idades, assassinados pelas forças de Israel que vão deixando, atrás de si, cidades arrasadas e criando um caos absoluto.

    Sabemos de alguns heróis (Gandhi, Mandela, etc.) que souberam responder a todas as violências com atitudes que ficaram como marcas na História Mundial.

    Netanyahu optou por outra via.

    Deixo-lhe as sábias palavras do nosso grande Mestre Agostinho da Silva:

    Não te poderás considerar um verdadeiro intelectual se não puseres a tua vida ao serviço da justiça; e sobretudo se te não guardares cuidadosamente do erro em que se cai no vulgo: o de a confundir com vingança.

    A justiça há-de ser, para nós, amparo criador, consolação e aproveitamento de forças que andam transviadas; há-de ter por princípio e por fim o desejo de uma Humanidade melhor; há-de ser forte e criadora; no seu grau mais alto não a distinguiremos do Amor.”

    Não queria estar no lugar do líder de Israel.

    Custa-me que ele mantenha a intenção de prosseguir nesta linha de vingança.

    Com alguma dificuldade entendo que ele considere a vingança como única alternativa, principalmente enquanto recordar as imagens de Outubro de 2023.

    Todavia, e sabendo que tal não teria, para ele, a mais pequena importância, nunca lhe apertaria a mão.

    Vítor Ilharco é assessor


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  • Garcia Pereira: Mandela ficaria feliz

    Garcia Pereira: Mandela ficaria feliz


    Não sou pessoa de ter ídolos, mas se me pedissem para indicar as três pessoas que mais respeitei, ao longo da minha vida, em todo o mundo, não hesitaria em indicar, de imediato, duas: o Papa Francisco e Nelson Mandela.

    Não sendo católico praticante não me custa dizer do meu respeito pelo actual Papa.

    Idoso, mas tentando acompanhar os tempos, modernizando uma Igreja que estava, há muito, parada no tempo e dando exemplos, por vezes com atitudes polémicas como a “Cerimónia de Lavar os Pés”, nas Quintas Feiras Santas, que era habitualmente feita pelos Papas “aos discípulos”, sendo que Francisco substituiu estes por reclusos e reclusas, de diversas idades, de diversas cores, de diversas religiões.

    Melhor exemplo de humildade e de crença na reabilitação não conheço.

    Por sua vez, Nelson Mandela é o Homem que todos os democratas têm como referência.

    Metal Sculpture at the Nelson Mandela Capture Site in Howick, Kwazulu Natal, South Africa

    Jovem advogado em Joanesburgo foi, como todos os seus, vítima do mais hediondo dos crimes, o “apartheid”, o racismo no seu expoente máximo, passando 27 anos na prisão, condenado num julgamento ignóbil, por “traição”, por não aceitar trair os seus valores.

    Libertado, numa altura de pré-guerra civil, saiu da cadeia com o estatuto, pela sua luta conquistado, de político com mais influência na África do Sul.

    Quando se pensava que chegara a hora da “vingança”, Mandela assumiu o poder, num país completamente dividido, e conseguiu a unificação, em que poucos acreditavam, graças ao seu humanismo, à capacidade de perdoar em nome de bens maiores, desde logo a Paz e a Democracia, sem aceitar que houvesse qualquer discriminação entre os seus conterrâneos.   

    Ficou justamente reconhecido, universalmente, como a grande Figura do Século XX.

    Mais tarde, explicou como o conseguiu:

    “Quando eu saí em direção ao portão que me levaria à liberdade, eu sabia que, se eu não deixasse minha amargura e meu ódio para trás, eu ainda estaria na prisão”.

    Mandela é uma inspiração.

    Pelas razões acima, o nome escolhido pela ParPública para um Prémio “a atribuir anualmente a um advogado ou jurista, nacional ou internacional, que se tenha destacado na promoção ou representação do bem comum e da cidadania” não podia ser melhor que “Prémio Mandela”.

    Restava saber o nome da personalidade que o iria receber.

    Em 2024 a escolha não podia ser melhor: António Garcia Pereira.

    Voltando ao início desta crónica, não sou pessoa de ter ídolos, mas se me pedissem para indicar as três pessoas que mais respeitei, ao longo da minha vida, em Portugal, não hesitaria em indicar, de imediato, duas: António Ramalho Eanes e António Garcia Pereira.

    O primeiro pelo papel importante no glorioso 25 de Abril de 1974 e, mais tarde, como o Presidente da República que, até hoje, a imensa maioria dos portugueses, onde obviamente me incluo, considera como aquele que mais dignificou o cargo.

    De uma verticalidade, honestidade e coragem sem paralelo, deixou saudades e, ainda hoje, é lembrado com saudade , principalmente quando se chega ao momento das comparações.

    Quanto a António Garcia Pereira, são tantas as razões que tornam justíssima a distinção que só se pode pecar por defeito por muitos qualificativos elogiosos que utilizemos.

    Lutador incansável pelos principais objectivos exigidos a uma pessoa de bem: pela democracia, pela igualdade, pela fraternidade, pela Lei igual para todos.

    Homem de Bem, sempre ao lado dos desprotegidos, dos que não têm voz, dos injustamente perseguidos.

    Advogado de Causas que dá a cara e enfrenta quem quer que seja que não siga os valores que devem reger um País livre e democrático.

    Também partilha outra das convicções de Mandela: “Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem, ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se podem aprender a odiar, podem ser ensinadas a amar” e, por isso, luta diariamente contra o racismo e a xenofobia.

    Luta, há décadas, contra os malefícios de um Sistema Prisional que se limita a punir, e da maneira mais abjecta (com os reclusos a passar fome, sem cuidados médicos, sem a possibilidade de estudar ou trabalhar, muitas vezes vítimas de agressões, constantemente alvos de todo o tipo de abusos) e não de reabilitar, como a nossa Lei obriga.

    Daí que seja um dos fundadores da APAR – Associação Portuguesa de Apoio ao Recluso e seu Presidente Honorário.

    No dia de aniversário de Nelson Mandela, António Garcia Pereira recebeu o Prémio com o seu nome numa Cerimónia memorável que contou com a participação de outro dos meus “heróis”, António Ramalho Eanes que fez questão de afirmar (com a sua coragem e verticalidade habituais) que considerava uma Honra estar naquela cerimónia apesar das diferenças “filosóficas” com o premiado.

    Dois Homens superiores.

    De uma coisa estou certo: Nelson Mandela ficaria muito feliz com a escolha do premiado.

    Vítor Ilharco é assessor


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  • A política e a velhice

    A política e a velhice


    Seria curioso um trabalho sobre o modo como a velhice é encarada, pelos políticos, nos diversos cantos do mundo.

    São diferentes, mesmo antagónicas, as condutas nos diversos Países muito dependendo das ideologias de quem governa, em primeiro lugar, mas também da riqueza material de cada Estado.

    Curiosamente, nem sempre os Estados mais ricos são, simultaneamente, as Nações mais evoluídas no que concerne à atenção, e respeito, para com a velhice.

    Na maioria dos países africanos, por exemplo, a velhice é credora de toda a reverência, quase veneração.

    a man with a beard

    Uma das maiores homenagens que se pode fazer a alguém é tratá-lo por “mais velho”.

    Em muitos locais, o chefe, o encarregado, o director, é assim denominado ainda que a sua idade cronológica seja, muitas das vezes, inferior à daqueles que assim o apelidam.

    Nos países onde a pirâmide social tem no seu vértice a riqueza, é óbvio que a velhice é encarada por outro prisma.

    Os velhos, diz-se, não rendem e há que os colocar no seu lugar.

    No caso da pirâmide social, na base.

    Para alguns, “a peste grisalha” deveria desaparecer enterrando-a, presume-se, sob aquele sólido geométrico.

    Os velhos são, para muitos, empecilhos desnecessários e dispendiosos.

    Para mais, a velhice pode ter início em etapas diferentes da vida dependendo, unicamente, do resultado que cada ser humano pode conseguir, na sua profissão.

    Um escritor pode estar no auge das suas capacidades aos sessenta anos e tornar-se velho aos setenta.

    Um atleta, por mais respeitado que seja, por mais êxitos que consiga ao longo da sua juventude, será velho aos quarenta.

    E, como velho, alvo de todas as críticas mesmo vindas de quem, ao longo de toda a sua vida, não tenha conseguido, na sua profissão ou na sua vida, nada, mas rigorosamente nada, digno de realce.

    Os políticos, muitos dos quais são os grandes críticos em relação às verbas gastas com a terceira idade, consideram-se intemporais e, por isso, acima de qualquer avaliação ao seu desempenho.

    woman in blue jacket and blue denim jeans standing on gray concrete floor during daytime

    Os exemplos de Biden, nos Estado Unidos, ou das Múmias no nosso País, são exemplos já que, apesar de se perceber que estão na altura de uma reforma digna, por vezes merecida, continuam a receber, de muitos dos seus seguidores, palavras de incentivo à sua continuação ou no cargo de “pessoa mais poderosa do mundo” ou a escrever disparates em jornais.

    O meu país, porque é uma manta feita de imensos retalhos, analisa a velhice de formas muito díspares.

    Portugal, tenho repetido, é o único país africano ao norte do Mediterrâneo.

    Somos iguais na inveja, na preguiça, no maldizer, mas também na solidariedade e no sentido de entreajuda.

    Pode haver um ou outro imbecil, ainda que político, que ponha em causa o direito a uma vida digna dos mais idosos.

    Da “peste grisalha” como muitos idiotas os classificam.

    Apesar de tudo, temos de reconhecer, os diversos Governos, nomeadamente os últimos, têm melhorado grandemente, a vida dos mais velhos.

    Aumento nas reformas, nos subsídios complementares, na oferta de medicamentos, etc..

    Há, todavia, muito a fazer até que se consiga um verdadeiro reconhecimento pelo trabalho desenvolvido, por estes, ao longo de toda uma vida de trabalho.

    man sitting on armchair beside photo frame

    Os velhos, reconhecendo embora que praticamente todas as profissões do nosso país são mal remuneradas, dificilmente compreenderão que haja uma polícia cujos inspectores recebem um aumento mensal de valor correspondente a dois ou três meses da sua reforma.   

    Um aumento superior ao ordenado mínimo nacional.

    Os políticos, que costumam estar atentos a estes pormenores (com excepção de alguns crápulas que deixam os avós viver no meio de lixo), sabiam que esta medida levaria às reivindicações de outras classes que teriam de ser contempladas.

    Estão a esquecer o número de velhos que votam.

    Talvez lhes saia caro!

    Vítor Ilharco é assessor


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  • Comissão de inquérito ou interrogatório policial?

    Comissão de inquérito ou interrogatório policial?


    Assistir às sessões das Comissões de Inquérito da Assembleia da República faz perder a paciência ao mais sossegado dos Santos.

    O comportamento da maioria dos deputados é desastroso, confrangedor e abusivo.

    Sustentados num Poder que lhe foi entregue pelo Povo Português, no sentido de o representarem nas suas ambições, nas suas queixas, nas suas propostas, usam aquele para auto-promoção transformando a Casa da Democracia numa Feira de Vaidades.

    É sabido que não há nada pior do que dar algum Poder a quem nunca teve responsabilidades profissionais.

    A tendência é mostrar que o têm, mesmo que acabem por o usar da pior forma, num misto de sobranceria e exibicionismo.

    Depois, porque na política há diversas ideologias (demasiadas, diria mesmo) sentem-se no direito de dizerem o que querem, e da maneira que entendem, sem correrem o risco de ser criticados.

    Para se distinguirem uns dos outros, de maneira que os seus nomes passem a ser conhecidos, carregam nos adjectivos e, por vezes, no intuito de serem irreverentes, acabam por roçar a boçalidade.

    Acreditam que há que ser, sempre, mais ríspido, mais agressivo, mais violento que o orador anterior de modo que não fiquem dúvidas sobre o poder que julgam ter em relação aqueles que estão a inquirir.

    A esta falta de educação e respeito, mais habitual nos militantes de partidos extremistas, eles costumam chamar uma “tentativa de chegar à verdade”.

    Na realidade não passa de uma perda de tempo e, pior, de uma falácia, já que todos sabem que os resultados destas Comissões de Inquérito são absolutamente inúteis, para além da publicidade que alguns conseguem.

    Acredito que, para parte da população, o seu desempenho mostre empenho e coragem.

    A maioria, todavia, encara aqueles interrogatórios como uma triste evidência de abuso de poder.

    O interrogatório ao Dr. Nuno Rebelo de Sousa foi mais uma demonstração de arrogância, petulância, desplante e prepotência.

    Quero deixar claro que não concordo com a actuação que este teve até ao momento.

    A ser verdade que tentou uma “cunha”, para ajudar uma mãe cujas filhas estavam em risco de vida, e se esse gesto não lhe trouxe qualquer dividendo, deveria, desde logo, assumir isso.

    Poucos portugueses não ficariam do seu lado.

    Caso ele tenha usado os seus conhecimentos recebendo algo em troca, e atendendo aos valores de que se fala, então deverá ser levado à Justiça e esperar que esta faça o seu trabalho.

    Os deputados sabem que é assim e devem respeitar a Justiça cumprindo as leis, incluindo no que concerne aos direitos dos arguidos.

    Tentarem agir como polícias de investigação, acusadores e, mesmo, juízes é inconcebível.

    Todas as pessoas que são chamadas a depor nestas Comissões de Inquérito, desde que tenham sido constituídas arguidas, têm a prerrogativa de não responderem às questões dos deputados.

    E eles sabem (ou deviam saber) disso.

    O problema é que tal os impediria de, perante o país, exibir o que pensam ser a sua superioridade em termos éticos, de integridade e de inteligência.

    Daí que, por vezes, e apesar dos avisos prévios de que os inquiridos não responderiam a qualquer pergunta, estes são metralhados com imensas questões e sempre num tom inquisitório que chega a roçar o insulto.

    Frases como “não responde por cobardia” ou “não responde porque é cúmplice”, para além de indiciarem uma inadmissível má-educação, são uma inexplicável prova de ignorância.

    Não respondem porque têm esse Direito, por vezes estão mesmo proibidos de o fazer pelos Tribunais, e optam por essa via.

    Qualquer miúdo da terceira classe compreenderá isso.

    A real importância de um deputado pode ter o tamanho que cada cabeça entender, mas como os seus poderes estão escritos, porque todos eles sabem ler e, acredito, a maioria conseguirá perceber os textos, não consigo compreender o tom ameaçador utilizado nas perguntas, menos ainda alguns dos seus gestos e expressões faciais.

    Pergunto a mim mesmo se alguns destes (e destas) inquiridores tivessem seguido a carreira policial, não iriam integrar o grupo daqueles que conseguem as confissões à força de pancada.

    Cada vez mais questiono a frase de António Costa quando confessou, numa fase de revolta contra aquele que considerava o seu maior amigo, que “o Primeiro-Ministro não pode ter amigos”

    Acredito que ele queria generalizar e dizer “os políticos não podem ter amigos”.

    Na verdade, eu penso que o contrário não é menos verdadeiro.

    Ou seja, “um cidadão normal não deve ter amigos políticos”.

    Por vezes, nem Pai que seja político.

    Mas isso já seria outra crónica e escrita com uma revolta bem maior!

    Vítor Ilharco é assessor


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  • O incompetente António e o extraordinário Costa

    O incompetente António e o extraordinário Costa


    Como em todos os países há, em Portugal, políticos admirados, outros que passam despercebidos e uma imensidão de detestados pelos seus conterrâneos.

    Claro que a ideologia conta e, por vezes, bastará pertencerem a uma família política diferente da de quem os julga para passarem a ser alvo de todos os qualificativos negativos.

    Situação conhecida e não exclusiva para políticos.

    Os desportistas, de um modo geral, são cilindrados pelos inúmeros treinadores de bancada, unicamente pelo facto de ousarem vestir uma camisola de um clube rival.

    A inveja, grande característica dos portugueses, faz o resto.

    Bastará um português começar a distinguir-se dos seus vizinhos, colegas, mesmo familiares, para passar a ser, de imediato, denegrido.

    Não foi só por dinheiro que Saramago se refugiou nas Ilhas Canárias, Vieira da Silva foi pintar para Paris, Maria João Pires tocar no Brasil, António Damásio ensinar nos Estados Unidos e Eduardo Lourenço em França.

    E podia acrescentar largas dezenas de nomes de ilustres portugueses espalhados pelo mundo onde são, ou foram, admirados e acarinhados.

    A explicação é simples: o objectivo da maioria dos portugueses baseia-se na recusa de aceitarem que há quem os suplante, mesmo que isso seja óbvio, e por isso, conscientes de que não conseguirão chegar ao nível destes, tudo farão para os fazer baixar ao seu.

    Sempre ouvi dizer, e tenho constatado, que os críticos de teatro são, de um modo geral, actores falhados, os críticos literários escritores sem talento, os analistas políticos gente sem lugar nas escolhas para os cargos governativos.

    Daí que muitas das suas análises tenham como base não o estudo isento, mas a vontade de se vingarem de quem conseguiu os objectivos que eles procuravam sem os conseguirem alcançar.

    António Costa com Ursula von der Leyen.

    Ninguém escapa às acusações dos ressentidos.

    Para mais, estes têm uma legião de seguidores porque esta é uma característica que faz parte do ADN do nosso Povo.

    Os portugueses, que consideram uma prova de fraqueza, uma “mariquice”, dizer “gosto de ti”, não têm qualquer problema em dizer, alto e bom som, “não conheço aquele tipo mas ele nunca me enganou”.

    Ou “bastou-me olhar para a cara dele para perceber que não era boa rês”.

    O português normal consegue resolver todos os problemas do mundo, da guerra entre a Rússia e a Ucrânia à cura de qualquer doença, da descoberta dos responsáveis por qualquer crime à solução dos problemas económicos do país.

    A única dificuldade da maioria é conseguir resolver os seus pequenos problemas do dia-a-dia.

    E não se pense que eu estou a falar, simplesmente, dos cidadãos anónimos com quem nos cruzamos diariamente, nas ruas, nos cafés ou na internet.

    Estou a referir-me, também e especialmente, aqueles que nos entram em casa, graças às televisões, figuras públicas, especialistas em várias áreas, professores, governantes.

    Uma vez mais me fixei nesta particularidade dos portugueses ao comparar o tratamento dado, pelos seus opositores políticos, ao incompetente ex-Primeiro-Ministro António, mesmo depois de ele iniciar um segundo mandato reforçado com uma maioria absoluta.

    Os seus opositores diziam dele o que Maomé nunca disse do toucinho.

    Era péssimo na escolha dos seus ministros, como se percebia pelas constantes demissões causadas pelos mais diversos motivos, catastrófico na direcção de um governo que tinha tudo para durar os anos do mandato, porque não tinha mão nos seus ministros que, não o respeitando, anunciavam medidas fundamentais sem o terem consultado, permissivo a comportamentos que roçavam a ilegalidade.

    Todos os dias surgiam acusações gravíssimas apontando falhas, salientando a inaptidão para o cargo, acentuando a incapacidade de gerar consensos com a oposição.

    Não recordo outro Primeiro-Ministro que tenha sido vítima de tantos ataques, provocações e injúrias de todos os políticos da oposição, da extrema-esquerda à extrema-direita.

    Acabou por ser praticamente exigida a sua demissão, depois que o seu nome surgiu ligado a uma operação do Ministério Público.

    Muitos diziam ser o fim do incompetente António.

    É sabido, todavia, que quando alguém cai outro surge para alegria do povo.

    Aqui não houve excepção.

    Era a altura de dar o lugar ao extraordinário Costa.  

    Segundo a mesmíssima oposição estávamos, finalmente, a falar de um homem de consensos, admirado em toda a Europa, capaz de criar uma equipa de sucesso no alto cargo de Presidente do Conselho Europeu.

    blue and yellow flag on pole

    Finalmente um português de que todos nos poderíamos orgulhar.

    O único senão era que o extraordinário Costa era, fisicamente, muito parecido com o incompetente António.

    Mas seria isso motivo para levar a oposição a vetar o seu nome?

    Pelo contrário, ter um português competentíssimo num cargo com esta importância, sendo a escolha mais acertada que a Europa podia fazer, era algo que não se podia perder por causa dessa parecença física.

    As forças políticas avançaram, pois, numa frente comandada pelo Presidente da República, que aceitara a demissão do incompetente António, coadjuvado pelo Primeiro-Ministro que o substituíra, num apoio total e dedicado ao extraordinário Costa, ídolo de toda a Nação portuguesa.

    Como só tomará posse em Dezembro vai ter meio ano de calma.

    Em Janeiro lá recomeçará a cavalgada dos populistas com gritos de que “chega de estado de graça”.

    Vai uma aposta?

    Vítor Ilharco é assessor


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  • Almoços sob investigação judicial

    Almoços sob investigação judicial


    Cumpridas todas as formalidades, incluindo o aviso à Comunicação Social, a Polícia Judiciária, a mando do Ministério Público, avançou com aparato para buscas na Câmara Municipal de Oeiras.

    As diligências estavam relacionadas com despesas feitas pelo município liderado por Isaltino Morais

    Segundo o jornal Público, “o caso dos “almoços de trabalho” nasceu de uma investigação da revista Sábado, que, em Agosto do ano passado, revelou que a Câmara de Oeiras teria gasto, desde 2017 e até aquela altura, 138.986 euros em refeições. Presunto pata negra, champanhes caros, lagosta e vários tipos de marisco, sushi, leitão, ostras ou até “saké afrodisíaco” estariam entre as escolhas no menu das mesmas, descritas em facturas pagas pela autarquia. Ao todo, terão sido realizadas 1441 destas refeições descritas como almoços de trabalho”.

    O artigo da revista teve, vai para um ano, as habituais reacções dos portugueses: comentários delirantes dos populistas, eternos derrotados em todo o tipo de eleições, e desprezo da imensa maioria dos munícipes.

    Em grandes parangonas a revista dava conta de que os autarcas de Oeiras tinham, em seis anos, beneficiado da inacreditável extravagância de seis refeições de arroz de lavagante.

    Tentaram, ainda, chamar a atenção dos leitores para o facto de que havia vereadores que experimentaram um “saké afrodisíaco”.

    Todavia, porque não os conseguiram seguir após essas refeições, esse dado perdeu um pouco de interesse já que não se se percebeu se o “saké” mereceria, ou não, o tentador qualificativo.

    O Ministério Público decidir agora, um ano depois da notícia, abrir um inquérito para analisar se há ilegalidades nestas refeições é que é (para ser suave) absurdo.

    Será que, a partir de agora, a Procuradoria-Geral da República vai enviar, para os Executivos Municipais, as ementas que os autarcas podem oferecer aos seus trabalhadores e convidados?

    A Câmara Municipal de Oeiras é, em Portugal e no estrangeiro, considerada um exemplo de gestão e sucesso.

    a sandy beach with a body of water in the background

    Recebe, constantemente, convidados ilustres pelos mais diversos motivos entre os quais o interesse em investir no concelho.

    Pensarão, os responsáveis do Ministério Público, que o Presidente da Câmara deve oferecer, a esses visitantes, uma pizza e vinho de pacote?

    Em dia de trabalho intenso, se houver uma vintena de trabalhadores que terminam uma missão pelas 20 horas a Câmara deverá pagar-lhes um jantar?

    E, nesse caso, bastará ir a uma casa de comida rápida e comprar hambúrgueres e batatas fritas?

    Pensarão, porventura, que os munícipes aceitariam este comportamento aos seus representantes?

    O problema do nosso país é haver gente com mentalidade terceiro-mundista a quem o sucesso provoca urticária.

    Também são poucos os cidadãos dispostos a questionar a legitimidade do Ministério Público em se intrometer num caso de gestão que, salvo melhor opinião, só deverá ser julgado, politicamente, em eleições.

    E, aí, os autarcas de Oeiras têm provas mais que evidentes de que os seus méritos são reconhecidos.

    Deixo uma sugestão:

    Se os Procuradores querem analisar a qualidade e preços de refeições, podem, sem sequer saírem do concelho de Oeiras, visitar a prisão e o hospital prisional de Caxias.

    a group of chocolate desserts

    Perguntem como é possível os responsáveis gastarem 3,20 € pelas quatro refeições de cada recluso. Ou seja, 0,80 € por cada refeição e sabendo-se que as famílias não podem entregar mais do que um quilo de comida, por semana, para melhorar aquela miséria entregue a jovens, velhos e doentes.

    E depois, continuem as visitas por todas as outras prisões do país.

    É óbvio que este trabalho não teria o acompanhamento das televisões e seria feito em locais sujos e repletos de gente problemática.

    No fim, talvez se sentissem incomodados e envergonhados de serem portugueses.

    Porém, com toda a certeza, estariam a fazer um trabalho realmente importante, merecedor de elogios e dentro das suas obrigações.

    Vou esperar, sentado!

    Vítor Ilharco é secretário-geral da APAR – Associação Portuguesa de Apoio ao Recluso


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  • Agressões nas cadeias portuguesas

    Agressões nas cadeias portuguesas


    O jornal Diário de Notícias, de 13 de Junho de 2024, publicou um trabalho da jornalista Fernanda Câncio sobre um Relatório do “Mecanismo Nacional de Prevenção da Tortura”, da Provedoria de Justiça, que denunciava ter encontrado “evidências de agressões a reclusos”, por guardas prisionais, sendo que seis desses casos estavam “suportadas por imagens de videovigilância” das próprias prisões.

    Comecemos por duas notas de extrema importância para se analisar a situação:

    Primeiro: o número peca por escasso, por muito escasso, e não há nenhum recluso, guarda prisional ou funcionários que trabalhem dentro das nossas prisões que não saiba isso. As agressões são “o dia-a-dia das cadeias”.

    Segundo: ao falarmos de guardas prisionais agressores há que acentuar que sabemos serem uma minoria, ainda assim a poderem contar-se por dezenas, muitos deles perfeitamente identificados por serem “useiros e vezeiros” nesta prática, sendo que a imensa maioria da Corporação é constituída por profissionais empenhados, esforçados e dedicados. E que, muitos destes números, não se reveem nestas atitudes.

    a black and white photo of a barbed wire fence

    Também por isso, nos custa compreender a impunidade destes agressores, a cumplicidade (ainda que por inércia) de tantos desses profissionais que acabei de elogiar. Desde logo alguns dirigentes sindicais que optam por tentar negar uma evidência.

    Obviamente que me refiro àqueles que agridem para mostrar que têm o “poder” de fazer o que entendem sobre quem consideram inferior, por incompetência para se fazerem respeitar e optando pelo terror ou, simplesmente, pelo prazer de agredir.  

    Se um agente de autoridade qualquer se vê forçado a agredir em legítima defesa, com toda a certeza não poderá ser criticado.

    As agressões nas nossas prisões, na sua grande maioria, contudo, nada têm a ver com essa legítima defesa.

    São agressões cobardes de quem se sente com poder para usar a força sobre aqueles que, sabem, não se podem defender, feitas fora de situações de conflito, preparadas cuidadosamente, em zonas sem câmaras de vigilância nem testemunhas e muitas delas depois do encerramento dos presos com vários guardas a entrar em celas, com o rosto tapado e sem a placa de identificação na camisa.

    man holding chain-link fence

    Também há inúmeras queixas contra elementos do GISP (uma força da guarda prisional conhecida pela excessiva agressividade) quer no transporte de presos quer quando chamada para situações de distúrbio em cadeias. Alguns dos relatos dessas agressões deviam fazer corar de vergonha os responsáveis antes de os levarem a responder em tribunais.

    O que se segue às agressões é todo um processo de branqueamento de modo a evitar qualquer punição. É o corporativismo no seu apogeu.

    Não há um elemento da Corporação que queira testemunhar contra colegas e os reclusos que tenham assistido são chamados e “aconselhados” a não falar sob pena de terem indeferidas todas as saídas jurisdicionais ou liberdades condicionais.

    A maior parte deles cala-se de imediato. Os que teimam em depor são transferidos, prontamente, para cadeias a centenas de quilómetros da família o que, para além do castigo, dificulta as audições pelos inquiridores.

    Estes, por sua vez, pertencem a um organismo de nome SAI (Serviço de Auditoria e Inspecção) que é definido como “o serviço de inspeção, fiscalização e auditoria às unidades orgânicas desconcentradas e aos serviços centrais da DGRSP, cuja atividade constitui instrumento essencial à verificação da legalidade e à manutenção da ordem e disciplina no Sistema de Execução de Penas e Medidas e Tutelar Educativo”.

    A Person's Hands on the Table Wearing Handcuffs

    Podia (e devia) ser um organismo independente, mas ficando sob a tutela da Direcção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais, a sua total inércia, o seu desdém pelas queixas e os generalizados arquivamentos fizeram com que caísse num descrédito absoluto.

    Os reclusos e os seus familiares há muito que desistiram de se queixar, até por medo das represálias.

    As Associações vão fazendo o seu papel apresentando as queixas directamente na Procuradoria-Geral da República que, honra lhe seja feita, de imediato nomeia um Procurador para as confirmar, mas os obstáculos criados, com ameaças às testemunhas e falta de provas impede a punição dos agressores quer a nível criminal quer a nível disciplinar.

    Os médicos e enfermeiros dos Estabelecimentos Prisionais teriam um papel importante se fotografassem os reclusos com as marcas das agressões e denunciando-as ao Ministério Público.

    Ao optarem pelo cruzar de braços tornam-se, também eles, cúmplices das agressões.

    Estas continuam e não será uma intervenção, a cada dez anos, da Provedoria de Justiça que acabará com estas atitudes ignóbeis e ilegais.

    woman holding sword statue during daytime

    O recluso é um cidadão a cumprir uma pena ditada pelo Tribunal e ali não consta que deva ser sovado unicamente para gáudio de gentinha menor e doente.

    A única maneira de alterar esta situação é com a intervenção de entidades como a Comissão dos Direitos Humanos da Ordem dos Advogados ou a Subcomissão para a Reinserção Social e Serviços Prisionais.

    A ida às diversas cadeias, sem aviso prévio, chamando reclusos ao acaso, ouvindo-os sem vigilância e garantindo a confidencialidade, permitiria que percebessem a realidade das nossas prisões.

    Ficariam envergonhados de serem portugueses, estou seguro, mas poderiam lutar pela legalização daqueles espaços.

    Leon Tolstói garantia: “Quem nunca esteve na prisão não sabe o que é o Estado”.

    Os Deputados, os Juízes, os Advogados, os Jornalistas, deviam poder visitá-las, sem limitações para ficarem a saber como o nosso País é tão atrasado.

    Vítor Ilharco é secretário-geral da APAR-Associação Portuguesa de Apoio ao Recluso


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  • Os imigrantes e o discurso de ódio

    Os imigrantes e o discurso de ódio


    No fim da década de sessenta do século vinte iniciei a minha actividade profissional como jornalista do “Jornal do Fundão”.

    Um Jornal “de província” que era um marco no jornalismo nacional.

    Numa época de censura feroz era a voz dos resistentes enfrentando um Poder todo-poderoso e antidemocrático.

    Nomes como José Saramago, Alçada Batista, Artur Portela Filho, Carlos Porto, José Carlos Vasconcelos, José Rabaça, Fernando Luso Soares, Armindo Mendes de Carvalho, Alexandre Babo, Isabel da Nóbrega, Luís Sttau Monteiro e tantos outros, com as suas Crónicas, faziam tremer o Regime Fascista que nos governava.

    Acima de todos, António Paulouro como líder incontestado pela sua extraordinária coragem, verticalidade, cultura enciclopédica e respeito total pela democracia.

    Com Sede num concelho de casas vazias e aldeias desertas, pelo fenómeno da emigração, uma elevada percentagem da edição do “Jornal do Fundão” seguia para os milhares de assinantes, emigrantes espalhados por todo o mundo.

    O “Jornal do Fundão” dividia as suas páginas pela análise da política local, nacional e internacional com as informações da pequena notícia das pequenas aldeias do concelho.

    Era por ele que os emigrantes recebiam as notícias dos seus familiares e conterrâneos e todos os portugueses sabiam muitas das notícias que a imprensa nacional calava, fosse por conveniência, fosse por medo.

    Toda a Redacção tinha a missão de receber e rever as informações dos inúmeros “correspondentes” do Jornal que, a partir da sua terra, nos faziam chegar as notícias e, por vezes, dar-lhes um “cunho jornalístico”.

    Sabíamos que era um trabalho importante porque eram essas as páginas que os leitores, no estrangeiro, liam em primeiro lugar.

    As centenas de cartas que chegavam ao jornal, muitas publicadas na rubrica “Cartas ao Director”, eram a demonstração da sintonia entre a Redacção e estes leitores especiais.

    Daí que eu tenha um apreço único, de mais de cinquenta anos, por esses homens (e mulheres) que deixaram as suas terras para irem “a salto” (sem documentos e passando ilegalmente as fronteiras) para países longínquos, sem dinheiro no bolso, sem trabalho garantido, sem conhecerem a língua falada nesses locais.

    Maior prova de heroicidade (ou loucura) não conheço.

    A alternativa era a fome na sua terra ou a obrigação de irem lutar numa guerra com a qual não concordavam.

    Oriundo de família de “fracos rendimentos”, mas com refeições garantidas, e tendo optado por fazer a tropa, não emigrei, mas quando falo com um emigrante, e muitíssimos deles tornaram-se gente de sucesso, de muito sucesso, sinto sempre uma enorme admiração e respeito por eles.

    Daí que uma raiva me cresça no peito quando ouço compatriotas meus, alguns deles descendentes desses emigrantes de que venho falando, a manifestarem-se contra os imigrantes que, hoje, nos batem à porta.

    E a quererem pôr regras que, na prática, os impediriam de entrar no país.

    As mesmas regras que criticávamos a franceses, alemães e ingleses.

    green plants

    Exigem Contratos de Trabalho, sabendo que, nos países de onde são oriundos, os Consulados Portugueses nem visto lhes dão para poderem entrar no nosso.

    Querem saber se têm dinheiro para alguns meses de estadia em Portugal quando a realidade, de todos conhecida, é que a maioria não tem o suficiente para o dia-a-dia no seu país.

    Numa palavra, têm como objectivo impedir a entrada de gente a quem tanto devemos.

    Sentados nas cadeiras dos gabinetes de Lisboa não têm a possibilidade de visitar, por exemplo, a zona Oeste do nosso Portugal.

    Caso contrário abririam a boca de espanto com as muitas centenas de hectares de terrenos que, há meia dúzia de anos, eram terrenos incultos e cheios de silvas e que, hoje, produzem toneladas de morango, batata-doce, alface, etc. graças ao esforço de milhares de imigrantes.

    É passar por esses campos e ver centenas de homens (principalmente) num trabalho duro, a tornar rica uma terra improdutiva durante décadas.

    Sem haver, ali, um único português!

    À noite, estes trabalhadores ficam às dúzias em casas planeadas para quatro ou cinco pessoas.

    angry face illustration

    Não são os “bidonville” habitados pelos portugueses em meados do século passado, mas deveriam ser proibidos pelos mesmos políticos que condenam a sua entrada no nosso país.

    Esta gente, com os seus descontos para a Segurança Social, acaba, ainda, por ajudar na garantia da reforma dos nossos idosos nas próximas décadas.

    Tudo isso é sabido.

    Mas, todos os dias, ouvimos os mesmos discursos, os mesmos insultos, as mesmas ameaças por parte de alguns políticos que têm como única regra o incentivo ao ódio, o racismo e a xenofobia.

    Um nojo de gente!

    Vítor Ilharco é assessor


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