Etiqueta: Coisas & Causas

  • A solidão

    A solidão


    Continuamos sem saber porque morrem, porque razão estão a morrer tantos portugueses nos últimos meses. Mas há uma certeza: muitos lisboetas morrem sozinhos.

    Há anos, Santana Lopes era provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa e disse-me numa entrevista: “em Lisboa, vive-se e morre-se sozinho”. Em casa ou no lar, acrescentamos.

    Quem passa pelas ruas de Lisboa, ao anoitecer, não vê luzes acesas. E só vê gente idosa à janela… gente sozinha.

    Da sociedade inebriada com o 25 de Abril de 1974, chegámos aqui: temos uma das maiores taxas de divórcio da Europa – a razão divórcios/casamentos não para de crescer – e habitamos em casas de cidades semeadas ao vento.

    Na Grande Lisboa, temos uma mancha urbana que vai de Cascais a Vila Franca, de Bucelas a Palmela, mas apenas com 2,8 milhões de habitantes. Muitos sozinhos. Incomparavelmente maior que a mancha urbana de Barcelona com 3,3 milhões de habitantes. Basta ir ao Google Earth e ver o céu à noite na Península Ibérica.

    Não aproveitámos os Descobrimentos, desbaratámos o ouro do Brasil, queimámos as notas do volfrâmio, espatifámos os fundos sociais europeus e iremos estourar a bazuca dos 15 mil milhões de euros.

    As nossas casas não deviam ter sofás, só cadeiras. Para não ficarmos colados. Para sairmos à rua e falarmos, como os povos da Espanha… porque é a falar que nos entendemos. E podemos ser felizes.

    José Ramos e Ramos é jornalista (CP 214)


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.

  • Um ‘requiem’ pelo jornalismo de investigação?

    Um ‘requiem’ pelo jornalismo de investigação?


    As caras da grande investigação jornalística estão a desaparecer dos grandes ecrãs. A última foi Sandra Felgueiras, que esta semana assina uma muito ilustrativa capa da revista Sábado.

    Em boa verdade, a grande investigação passou agora para os on-line, de que é exemplo o PÁGINA UM. Aderi há pouco, e orgulho-me de ver tamanha resiliência.

    A jornalista Sandra Felgueiras era o rosto televisivo de um último programa de grande impacto, o Sexta às 9. Emigrou descontente da grande terra da liberdade (que ainda é a RTP) para o grupo Cofina – que tem hoje o Correio da Manhã, fundado a 19 março de 1979 por um grupo de 15 jornalistas de que fiz parte.

    Sandra Felgueiras

    Vínhamos de A Luta comandada por Raul Rego e Vítor Direito, contra a asfixia da Imprensa imposta pelo PREC – Processo Revolucionário em Curso. Vítor Direito estivera no Diário de Lisboa (DL) e depois na República e de seguida em A Luta. Era um mago do jornalismo.

    Um dia surpreendeu-me, tristemente, quando não quis reeditar o suplemento literário “A Mosca” do DL, porque era “dar pérolas a porcos” (sic). Ou quando, em Dezembro de 1980, não quis publicar a minha longa entrevista ao dissidente Altino Dias de Oliveira, onde ele denunciava o grupo terrorista PRP-BR de Carlos Antunes e Isabel do Carmo a roubar bancos, sem saber onde ia parar o dinheiro, e a planear o 25 de novembro. O Expresso agarrou e encheu a sua Revista.

    Outros tempos.

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    Agora, já desapareceu Felícia Cabrita, Ana Leal e aconteceu parcialmente com Alexandre Borges. Para citar três casos de jornalistas recentes e mediáticos. Mas não esqueçamos José Barata-Feyo [actual provedor do leitor do Público] ou a já falecida Margarida Marante, entre muitos.

    O jornalismo de investigação necessita de leitores e espectadores interessados. Infelizmente, lê-se pouco, jantamos a olhar para as TV’s. E por isso a Imprensa perde financiamento independente.

    Um dia destes ficamos a falar com a parede… do muro que está a cercar a nossa Democracia.

    José Ramos e Ramos é jornalista (CP 214)


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.

  • PSP: ordem pública ou “esquadrão da porrada”?

    PSP: ordem pública ou “esquadrão da porrada”?


    Volta que não volta, zás! Lá temos um vídeo da Polícia de Segurança Pública (PSP) a “malhar à farta” em alguém, e desta vez é um homem negro, imobilizado à bastonada e a pontapé, e com um joelho em cima do pescoço.

    O vídeo circula na internet e o comando da PSP publicou já um blá blá para enrolar as imagens brutais. Parece estarmos de volta aos execráveis “quadrilheiros” de D. Fernando I. Pouco mais de 20 criminosos arregimentados no fatídico ano de 1383, para “assegurar a ordem”.

    Muitos dos elementos da PSP não perceberam que são funcionários de um departamento do Ministério da Administração Interna (MAI)… do Governo eleito por portugueses de todas as cores.

    Ainda estão frescas as imagens da PSP a “malhar” num homem que não queria sair do comboio.

    Ou de uma jovem com a cara rebentada num autocarro à frente da filha por três polícias em Janeiro de 2020 na Amadora por causa de um mero título de transporte.

    Também não esquecemos o rol de polícias que foram a tribunal por causa da “malhação” no bairro da Cova da Moura.

    Ou a carga policial Rua Garret acima em 2012.

    Ou do pai espancado à frente ao filho menor, perto de um campo de futebol.

    Ou a sexagenária puxada do meio da manifestação pacífica de apoio ao juiz anti-vacinas para levar uns valentes tabefes de exemplo!

    Fiquemos por aqui. Temos visto isto tudo graças às TVs e aos telemovéis.

    Há uns anos fiz “Casos de Polícia”, na RTP. Vi a forma agressiva como cidadãos menos favorecidos eram tratados por alguns polícias. E deixei o programa.

    Esta gente mancha a honra de milhares de elementos da PSP, que é um dos garantes da segurança e respeito dos cidadãos.

    A PSP é uma direção do MAI, é bom sublinhar. E foi criada para manter a ordem pública e executar ordens de tribunal. Não é um “esquadrão da porrada”. Ponto final.

    José Ramos e Ramos é jornalista (CP 214)


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  • A água de Almaraz

    A água de Almaraz


    Uma parte da água que Lisboa bebe todos os dias também serviu para arrefecer os reactores da central nuclear espanhola de Almaraz. Há mais de 40 anos.

    Pior, os reactores dessa central já deviam estar desligados porque ultrapassaram o prazo de vida segura.

    As gigantescas turbinas de Almaraz fornecem 10% da electricidade de Espanha. E pertencem agora a um consórcio de três empresas: Iberdrola, Endesa e Naturgy.

    Os políticos ignoram Almaraz. E os jornalistas também não pegam no assunto, porque a central fica em Cáceres, longe das portas das redacções e os orçamentos são muito curtos.

    Em rigor, 75 % da água que Lisboa bebe vem da barragem de Castelo do Bode, onde se anda de barco e se toma banho. Os restantes 25% vêm da captação em pleno rio Tejo, em Valada. Está tudo explicado no site da EPAL.

    A água que chega a Valada, veio de Almaraz, e passou também pelas fábricas de celulose e pelos vinhedos e lagares de azeite da Beira Baixa e Ribatejo.

    A EPAL garante que é boa água depois de tratada, mas não se sabe se tem teste de radioactividade.

    Em Almaraz tem havido pequenos acidentes e avarias.

    Não parece prudente arrefecer centrais nucleares com água que depois se vai beber.

    Um dia, a meio da noite, acordamos com a cabeça transformada numa lâmpada de 25 watts.

    Ou nem acordamos…

    José Ramos e Ramos é jornalista (CP 214)


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  • O porteiro da Secreta dorme em serviço

    O porteiro da Secreta dorme em serviço


    A recente venda de milhares de imóveis do Novo Banco ao desbarato continua a deixar uma interrogação sobre a utilidade dos serviços secretos portugueses.

    O SIS nasceu com uma mãozinha do MI-5 inglês e da Mossad israelita, e é uma agência muito considerada internacionalmente. Não é um organismo policial. Assim como o “Caso BES” também não é um caso de polícia.

    Os negócios do Novo Banco têm deixado boquiabertos milhares de portugueses, que não conseguem pagar as rendas ou as prestações das suas casas.

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    Mas nada se sabe dos esforços das secretas, nada se sabe dos esforços para desvendar o rasto dos muitos mil milhões de euros desaparecidos.

    Dizia-me um juiz que é apenas uma questão de vontade política!

    O sector bancário tornou-se opaco. Tem custado rios de suor aos portugueses. Trabalha-se mais horas e paga-se mais impostos para assim tapar buracos financeiros.

    O património do Novo Banco foi vendido, segundo consta, a um accionista… do Novo Banco (um fundo de pensões americano), que pediu parte do crédito ao… Novo Banco. Bonito!

    Têm-se afirmado que não se sabe bem quem são os verdadeiros accionistas do tal fundo americano.

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    Em boa verdade, não há Governo que tome decisões difíceis sem ouvir os “zunzuns” do Conselho de Segurança. Em Portugal, nessa mesa, sentam-se a GNR, Polícia Judiciária, PSP, SEF e, obviamente, o SIEDM (Serviço de Informações Estratégicas e Defesa) e o SIS (Serviço de Informações e Segurança).

    Os serviços secretos podem não ter abordado o assunto com clareza na reunião, mas o director do SIS já terá esclarecido o primeiro-ministro.

    As relações económicas são, desde há muito, o verdadeiro objectivo das secretas em todo o Mundo. Paulo Portas foi até mais longe. Pediu aos diplomatas para serem “antenas” de Portugal em qualquer país onde metessem os pés.

    A Economia escapou ao controle político em todo o Mundo, mas não escapa ao controle da comunidade das secretas.

    O mundo inteiro está sobre escuta. Nos telefones, SMS e Internet.

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    O gigantesco big-wacth tem até um nome: Echelon. Uma rede de vigilância global operada pelos signatários do Tratado de Segurança UK-USA.

    Há mais de 10 anos, o antigo eurodeputado Carlos Pimenta fez perguntas sobre o Echelon. Sem se perceber porquê.

    Eles sabem tudo. Escutam todos.

    E se disserem que não, a culpa será do porteiro do SIS, apanhado a dormir em serviço.

    José Ramos e Ramos é jornalista (CP 214)


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.

  • Uma Lisboa dividida em duas

    Uma Lisboa dividida em duas


    O actual ministro das Finanças, Fernando Medina, deixou uma Lisboa dividida entre ricos e remediados. Não interessa se ele é socialista ou não. Carmona Rodrigues já tinha pré-anunciado o mesmo quando fez futurologia sobre as bicicletas em Lisboa.

    Carmona Rodrigues era então presidente da Câmara de Lisboa, e eu, repórter, perguntei: “E então o senhor passa a vir de bicicleta para o seu gabinete, aqui, na Praça do Município, a subir e a descer? “

    A resposta foi um “rtahtfdrts” – uma coisa incompreensível, como seria de esperar.

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    Há hoje duas Lisboas: as que têm estacionamento para residentes e as que não têm. O estacionamento reservado a residentes concentra-se nas zonas mais endinheiradas: nas Avenidas Novas ou no Bairro Azul, e parece feito para enxotar os remediados. Já no Bairro dos Olivais, o estacionamento é para quem o apanhar. E o local é igualmente concorrido, por exemplo, a volta do shopping Spacio.

    Foi por coisas destas – e pela Margarida da Abraço, que fazia compras de uma forma muito especial – que Fernando Medina perdeu as eleições em Lisboa… depois de andar a estreitar todas as ruas e a ajardinar quase apenas o eixo principal Restauradores-Entrecampos.

    Entretanto, na Avenida Defensores de Chaves duplicou a ciclovia que já existia, em paralelo, na Avenida da República. E não contente, espetou-se com um estacionamento para residentes numa artéria com prédios em ruínas e semi-habitada.

    Essa é uma das muitas ratoeiras que se espalhou pela cidade.

    Os automobilistas chegam, têm o imposto de circulação em dia, estacionam o veículo, pagam o talão de parqueamento e… zás!, não repararam que a placa central é para residentes… que escasseiam.

    São “paletes” de lisboetas a cair nestas ratoeiras.

    E mais. A muito odiada EMEL explica-me que os estacionamentos e a sua marcação são da inteira responsabilidade da Câmara de Lisboa.

    Bonito! Vamos ver, como tratará as mordomias de trânsito, Carlos Moedas, que já foi eleito há quase um ano.

    José Ramos e Ramos é jornalista (CP 214)


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  • A senhora Merkel e os consumidores de gás

    A senhora Merkel e os consumidores de gás


    Portugal faz parte de um labirinto europeu agora revelado pela invasão da Ucrânia pela Rússia: estamos na mão de Moscovo em matéria de gás e petróleo…

    Não sabíamos, e agora, inclusive, vamos acolher Angela Merkel, arquitecta do maquiavélico plano.

    Merkel fez até um gigantesco gasoduto submerso entre a Rússia e a Alemanha: o Nord Stream.

    Angela é um argumento digno do escritor John Le Carré, autor de O Espião que veio do frio. Fosse ele vivo…

    Os alemães já perceberam (tarde), mas nós, como somos parvos, premiámos a senhora com a presidência do júri do Prémio Gulbenkian para a Humanidade (que só serve para esbanjar dinheiro).

    Angela Merkel foi, durante os últimos 16 anos, a “primeira-ministra” da Alemanha, que agora vai cobrar aos consumidores uma taxa sobre o consumo de gás.

    Merkel meteu a União Europeia na boca energética directa da Rússia.

    Se ela fosse uma simples cidadã, seria apenas um disparate.

    Mas o currículo de Angela é extenso e determinado. Começa na Revolução de 1989, quando se tornou porta-voz do primeiro governo democraticamente eleito na Alemanha Oriental, liderado por Lothar de Maizière.

    O mais curioso, aconteceu logo em 1954, quando, com menos de um ano, foi com o pai pastor luterano da Alemanha Livre (Hamburgo) para a igreja de Quitzow, em Perleberg, na Alemanha comunista. E aprendeu a falar russo de forma fluente.

    Abreviemos: licenciou-se em física quântica e zás! Virou-se para a política.

    black and blue electric fireplace

    E agora? Depois de ter comprometido a coesão da União Europeia… de nos entalar a todos?

    Está no bem-bom da Fundação Calouste Gulbenkian com mais oito jurados do tal Prémio para a Humanidade.

    Senhores da Fundação, tenham mas é humanidade, e ajudem, com esse dinheiro, as vítimas da política desastrosa da senhora Merkel. E já agora peçam-lhe meças.

    José Ramos e Ramos é jornalista (CP 214)


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.

  • As sozinhas crianças do Mediterrâneo

    As sozinhas crianças do Mediterrâneo


    Fui às praias dos arredores de Marbella, mas não meti o pé na água. Porque são as mesmas, onde se afogam milhares de irmãos africanos que apenas querem uma refeição e uns chinelos… 

    Após atravessarem o nosso mar comum: o Mediterrâneo!

    Ouvi a notícia do resgate de 117 crianças desacompanhadas enviadas num barco tosco, onde estavam mais 203 africanos de olhos postos no paraíso europeu. Foram levados para o porto italiano de Taranto. Outras mil pessoas continuam em embarcações à deriva.

    bench and dining table near body of water under calm sky

    Houve tempos em que o Mediterrâneo era europeu. Roma de um lado, Cartago na Tunísia. Os próprios apóstolos de Cristo nunca escreveram epístolas aos berlinenses, londrinos ou mesmo lisboetas.  Mas aos Coríntios, Romanos ou Efésios. Foi Carlos Magno que mudou o sentido da Europa.

    Mas agora a Europa precisa de voltar-se também para o seu berço. 

    A população europeia envelhece e os recursos estão no norte da África, zona rica em gás, petróleo e com uma  população ávida de consumir… uns pães, umas frutas, chocolates e de ter uma TV e um popó.

    Em Marrocos, Argélia, Tunísia, Líbia e Egipto 40% da população têm menos de 23 anos de idade.

    Para quem só vê dinheiro, é ” um mercado e pêras “. 

    E a abertura imediata ao desenvolvimento da margem sul do Mediterrâneo resolveria dois problemas: tornava as migrações desnecessárias e desenvolvia um sentido de coesão nos países magrebinos e mesmo no Próximo Oriente. 

    group of people standing on seashore

    Melhor ainda, daria aos europeus da margem norte do Mediterrâneo a possibilidade de continuarem a ser um bom motor económico e um somatório civilizacional.

    É muito triste ver pais a meter filhos em barcaças, pagando fortunas, para que eles possam ter “o pão nosso de cada dia”. 

    Nós europeus precisamos de uma ética séria.

    Amigos do norte da África: sejam bem vindos à CCE, a Casa Comum Europeia. 

    José Ramos e Ramos é jornalista (CP 214)


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.

  • Comboios chineses vão dar cabo da Europa

    Comboios chineses vão dar cabo da Europa


    A partida de um comboio da China directo para a Europa é uma má notícia, ao contrário do que se poderia imaginar. O comboio, com 100 contentores carregados de mercadorias Made in China, está avaliado em 10 milhões de euros. Serão menos 10 milhões de euros de produtos fabricados na Europa.

    A automatização e a deslocalização da produção matará em breve a matriz civilizacional europeia. Os europeus perderão ainda mais postos de trabalho e nem sequer terão dinheiro para pagar 1.5 euros por um jornal diário, como já acontece.

    man in black suit jacket

    A China enviará 500 destes comboios por ano para Europa. 

    O cidadão comum bate palmas por poder comprar “pechisbeques” e certas indústrias comilonas rejubilam por adquirirem peças ao preço da uva mijona.

    Europa tem de ser auto-sustentada.

    O trabalho não é um direito vago. É um factor social agregador. Um elemento essencial para a saúde mental e sobretudo para a continuação de uma civilização notável de cariz judaico-cristão, com pitada de islamismo.

    O comércio é necessário, claro! Os portugueses abriram até grandes rotas ao Mundo. Mas a Europa tem de procurar a sustentabilidade. 

    Caso contrário cairá no nosso fatídico buraco da crise de 1383-1385. Quando não tínhamos liderança, morríamos de peste, éramos invadidos de estranhos, definhávamos de fome e não sabíamos da esperança.

    Mandemos de volta os comboios chineses. Deixamos de ser preguiçosos e também de sustentar meia dúzia de comilões sem pátria, que querem morrer podres de rico.

    José Ramos e Ramos é jornalista (CP 214)


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.

  • Os senhores já não estão… foram-se

    Os senhores já não estão… foram-se


    Houve tempos em que os senhores metiam o seu automóvel numa garagem semelhante a um quarto, na Rua da Junqueira, em Lisboa, num palacete há anos em ruínas.

    Dançava-se então foxtrot e os miúdos dançariam depois yé-yé para mostrar o popó às amigas.

    O eléctrico passava à porta, mas era para o povo.

    O consumo e, mais tarde, a Liberdade, deram ao povo dinheiro e o povo também comprou popós.

    E os senhores? Abalaram nos seus popós para sítios cada vez mais longe do povo-com-popós.

    E povo? Foi morar para longe, porque assim podia ter casa e popó.

    E  agora? Agora há popós por todo o lado e muitas casas abandonadas em Lisboa.

    E o foxtrot? Tornou-se nome de bar, onde às vezes também se dança tango. Mas os senhores já não dançam.

    Já não estão… ficou a belíssima casa… em ruínas.

    José Ramos e Ramos é jornalista (CP 214)

    Mais fotos, AQUI e AQUI.


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