Etiqueta: A Deriva dos Continentes

  • Ó kota, tu bates bem?

    Ó kota, tu bates bem?

    Para concluir dignamente a triste história do grande romance que eu passei 23 anos a incubar e mais quatro anos a escrever, e da sua morte às mãos daqueles que fazem a opinião dos portugueses, resta-me revelar porque é que foi que nunca houve uma boa estratégia de divulgação e promoção por parte da editora, capaz de romper um mínimo da muralha de aço erguida em torno de tudo o que me dizia respeito. O resto seria um castelo de cartas. Todas as pessoas da minha geração se lembram da comoção com que assistimos, dia após dia, à destruição do Muro de Berlim, que acabou por ficar de rastos como um verdadeiro tigre de papel, incapaz de conter mais boicote algum. Depois do livro americano, este romance, que ainda por cima logo a seguir até ganhou um legítimo prémio literário, podia ter o mesmo efeito. Mas, para isso, era preciso que o editor se esforçasse…


    … O problema foi que o editor estava furioso comigo.

    Porque eu, pérfida, em vez de um best-seller tinha-lhe impinjido um mono que ninguém comprava.

    Inicialmente, quando recebeu e leu o manuscrito, disse à minha frente, em altas vozes, e a quem o queria ouvir, que ninguém escrevia com aquela pujança desde a morte do Zé Cardoso Pires. Eu quase que morri, porque não é possível comparar ninguém com o Zé Cardoso Pires. Mas ele estava entusiasmadíssimo, e absolutamente convencido de ter nas mãos uma daquelas obras-primas que enchem as editoras de dinheiro. Eu fartei-me de o alertar para a existência da muralha de aço, mas ele só dizia que, com um romance daqueles, isso ia desvanecer-se em névoas cada vez mais ténues. Durante todo esse tempo, sempre que eu tinha que ir à editora, que ficava algures nos arredores da Parede, pagava-me gentilmente o táxi que me levava lá a partir da estação (eu não tinha um tuste, mas tinha o passe), e pagava-me o táxi de volta.

    Eu bem tentei explicar que era impossível que as pessoas se interessassem pelo livro se não sabiam que ele existia.

    Como não sabem!,” gritou-me logo a esposa e secretária do editor, uma brasileira gorda de metade da idade dele e com ar de tanque Panzer. “O seu romance está em todas as montras!

    Não basta um livro estar nas montras para se reparar nele,” respondi eu docemente. “Estive com o Tolentino Mendonça. Ele sabia, desde antes de eu ir para a América, tanto do projecto do livro científico como do projecto do romance. Quando eu lhe disse que já tinham saído os dois, ficou a olhar para mim com um ar aterrorizado, e só conseguia repetir Ó Clara… Ó Clara…

    Olha que esse Tolentino Mendonça tem que ser um grande imbecil!,” gritou outra vez o Panzer. “ Pois se o livro está em todas as montras…

    Claro que a reunião ficou por aqui.

    Quem é que mandou andar a brincar com estas coisas…

    O problema é que o editor não me reembolsou pelo táxi da estação à editora, embora eu lhe tivesse dado a factura logo à chegada; e também não deu quaisquer sinais de estar em vias de puxar de uma notinha de cinco euros para o regresso. Telefonaram a chamar-me um táxi e já gozas. Os bons tempos tinham declaradamente chegado ao fim.

    Entrei no táxi sem aflições, porque aquelas corridas costumavam ser quatro euros e meio, e isso eu ainda tinha na carteira. Ia ficar sem cigarros, mas ao menos regressava de cabeça erguida.

    Só que, na estação, o taxímetro marcava cinco euros e meio.

    Paga-se um euro a mais pela chamada telefónica.

    Oiça,” disse eu ao taxista, um jovem todo bonito e bronzeado, com umas belíssimas tatuagens nos braços musculados. “Eu não vinha preparada para ser eu a pagar. Tenho quatro euros e meio, mas não tenho mais. Se quiser, podemos ir à polícia. Ou podemos voltar à editora. Veja lá…

    Só tem quatro euros e meio?,” rosnou o miúdo.

    Só. Mas, se quiser…

    Passe-me mas é todo o dinheiro que tem aí.

    Passei-lhe a minha bolsa, de onde ainda saíram mais umas moedinhas pretas para ajudar à festa.

    Se quiser…

    Não quero nada. Vá lá à sua vida e não me chateie mais.

    Sabe, eu tinha…

    Ele virou-se para trás, olhou-me de frente nos olhos, e encerrou assim o assunto, de uma vez por todas:

    A senhora já tinha era idade para ter juízo!

    Clara Pinto Correia é bióloga, professora universitária e escritora

  • Para que é que foste acreditar em Deus?

    Para que é que foste acreditar em Deus?

    Falei-vos da importância que tiveram para mim os três últimos anos que passei nos Estados Unidos, mergulhada na emoção da voltar a escrever livros científicos e na alegria de voltar a dar aulas, ainda por cima a alunos selecionados para estarem ali por terem sido identificados como sobredotados. Comecei a sentir-me tão feliz e tão útil, tão leve, tão cheia de Força, que, logo na véspera de Natal de 2014, acordei às seis da manhã com o dia a romper, a neve a cair suavemente lá fora, e o primeiro parágrafo do meu novo romance a escrever-se sozinho na minha cabeça. Ainda lutei contra a investida daquelas frases todas, mas já não havia retrocesso possível. Levantei-me, fiz café, encharquei a cara em água fria, e comecei a escrever…


    Há que ver que eu tinha acordado a pensar naquele mesmo romance algures durante o Inverno de 1991. A mesma primeira frase do livro, a mesma última frase do primeiro capítulo. Sentei-me na cama entusiasmadíssima, com muito cuidado porque ainda era cedíssimo e o Dick continuava a dormir ao meu lado. Tenho sempre um bloco de apontamentos e uma caneta na cabeceira, para escrever tudo o que me vem à cabeça durante a noite, ou enquanto estou a ler. Já ia agarrar neles e desatar a escrevinhar furiosamente quando de repente me vieram as lágrimas aos olhos, deixei cair os braços, me encostei nas almofadas e acendi um cigarro para sofrer melhor[1].

    É que, em 1991, eu ia nos meus 31 anos. Era uma miúda. Não tinha, de maneira nenhuma, a maturidade, a capacidade de ver através das coisas e das pessoas, a sabedoria para ler sinais, que escrever um romance daqueles ia exigir de mim. Passei-o todo a pente fino na cabeça, ainda verti uma lagriminha, e deixei-o guardado para mais tarde.

    Para quando fosse capaz.

    E era agora, malta.

    Agora, 23 anos mais tarde, eu já ia nos 54. Já tinha comido o pão que o diabo amassou umas dez ou vinte vezes. Este diferencial tão acentuado era porque não sabia se deveria incluir as cirurgias ou não; e, se incluísse, se seriam mesmo todas, ou só as de anestesia geral[2].

    “Clarinha tenta ajudar um desgraçadinho fingindo que tem um orgasmo da treta, e nesse momento nem lhe passa pela cabeça que o grande malvado vai espetar com aquela porcaria toda na internet, declarando, assim, a sua crucificação definitiva.”

     Aos 54 anos, eu já tinha corrido o mundo inteiro. Já tinha sido incrivelmente feliz, e também já tinha sofrido de forma assaz indescritível. Já me tinha portado muito mal, mas também já tinha feito os impossíveis para trazer a felicidade aos outros. Mentira, e tinham-me mentido. Tinham-me insultado uma vez, duas vezes, três vezes – e depois tinham-me assassinado.

    Vivera rodeada de amigos, e depois ficara completamente sozinha. Agora estava insolvente, a sobreviver sabe Deus como com uma pequena bolsa da Fulbright numa das regiões mais caras dos EUA. Agora, agora sim.

    Agora eu estava mais do que pronta para escrever o meu romance.

    As memórias inventadas de uma gaja que nunca existiu, escritas à velocidade do seu pensamento.

    Escrevi com um prazer enorme, fiz milhares de revisões, de adições, de subtracções, de novas estruturas e outras tantas figuras – e, durante todo este tempo, acreditava sinceramente, nesta minha ingenuidade que não se resolve nem a estalo, que um romance daqueles, do alto do imenso poderio das suas oitocentas páginas, publicado logo a seguir à publicação de um livro científico feito em co-autoria com o Grande Papa[3] da Biologia do Desenvolvimento e dado à estampa por uma das melhores editoras académicas do mundo, ia de certeza reabilitar-me aos olhos dos portugueses e dar-me o direito a voltar a estar viva.

    Coitadinha da Clarinha, que até acredita em Deus.

    Cheguei à sessão de lançamento na FNAC/Chiado toda fresquinha, acabada de vir de fora, e a primeira coisa que notei foi que não estava lá um único membro da Comunicação Social.

    Céus,” pensei eu, “isto ainda vai ser mais duro do que aquilo que eu previa.” E, por acaso, foi pior ainda.

    Clara Pinto Correia é bióloga, professora universitária e escritora


    [1] É verdade, é. O que as coisas mudaram na América. Nos anos 90 ainda se fumava em casa, mesmo na cama, e os nossos companheiros nem se lembravam de nos xingar o juízo.

    [2] A pior coisa que um médico que eu não conheço pode perguntar-me, assim de chofre, é “quantas cirurgias fez?”. Tenho sempre que pedir-lhe que espere um bocadinho para contar pelos dedos. E, mesmo sabendo que o número bate algures nos vinte, também tenho que fazer a fatídica pergunta de contar só a anestesia geral, ou se também vale a anestesia local, que inflacciona logo os valores básicos. Sou uma doente profissional, o que é que querem? E, como é evidente, não fui eu quem escolheu nascer assim.

    [3] A expressão adequada talvez seja antes Grande Rabino, uma vez que o Scott é Judeu. Para as pessoas da nossa área de especialidade, este homem é, apenas, o Judeu que escreveu a Bíblia.

  • Vai-te embora ó melga!

    Vai-te embora ó melga!

    Já vos contei que, depois de descobrir que o meu País fazia questão de me dar por morta; e que, sendo assim, nunca mais me daria qualquer nova oportunidade, fiz a única coisa que me restava fazer, e voltei a emigrar para os Estados Unidos. Não era isso que eu queria, mas recusava-me a morrer, ponto final parágrafo.

    Durante os três anos desse período que acabou por ser extremamente emocionante, estive a estudar até mesmo ao fundo para o nosso livro[1] tudo o que acontecia às pessoas que se metiam nas rodas dentadas das mais de quarenta técnicas existentes à época de Reprodução Medicamente Assistida[2], e a dar aulas fantásticas a alunos sobredotados.

    E, ao mesmo tempo, voltei outra vez a guiar debaixo do grande silêncio da neve, e depois a curtir as noites mornas, encharcadas em pirilampos gigantescos, que assinalavam a passagem do Verão. A verdade é que, sozinha nesta grande aventura, subi de nível, me tornei completamente bilingue, deixei de precisar da ajuda fosse de quem fosse, e essa sensação de liberdade e qualidade tornou a minha pesquisa absolutamente maravilhosa…


    … A minha nova capacidade profissional começou a funcionar cada vez melhor. Os nossos avaliadores, que inicialmente me criticavam porque eu lhes parecia demasiado irónica, ficaram absolutamente boquiabertos quando eu integrei no texto um parágrafo simples e divertido, onde se explicava que também eu era estéril, também eu tinha feito quatro tentativas de fecundação in vitro (FIV) em quatro meses seguidos, também eu depois naufragara numa enorme depressão que incluiu duas tentativas de suicídio, portanto podia escrever com toda a segurança e todo o conhecimento de causa de quem conhece muito bem o terreno, e depois do que lhe aconteceu passou a vida a ajudar outras mulheres a recomporem-se através da terapia do riso[3].

    De maneira que, às tantas, o Scott já nem se preocupava com as críticas e os comentários deles, porque aquilo era quase tudo para mim; tal como não se preocupava em reler o que eu escrevia de volta. E eu sentia-me cada vez mais fluida, cada vez mais em uníssono com o que os nossos colegas que nos avaliavam nos pediam.

    Ganda ping-pong intelectual e eu no centro, topam?

    Caraças.

    Foi muito bom.

    Profª Drª Clara Pinto-Correia, em pose

    Finalmente, em 2018 o livro foi publicado pela Columbia University Press[4] com o título[5] FEAR, WONDER, AND SCIENCE in the new age of biotechnology. Recebeu logo várias críticas muito positivas, umas de colegas nossos e outras de espontâneos frequentadores da Amazon ou outros espaços desses[6].

    Os japoneses gostaram tanto dele que acto contínuo o compraram e o publicaram, sendo que, pelo meio, nos convidaram aos dois para uma semana de conferências em várias grandes universidades japonesas.

    Mas em Portugal não se ouviu nem um pio, e eu fiquei logo toda arrepiadinha.

    Em Portugal, onde seria tão importante um bom manual de informação séria mas legível, e até divertida, sobre todos estes temas.

    Em Portugal, onde as pessoas são de tal forma ignorantes que continuam a usar o arcaico e insultuoso “barriga de aluguer”, em vez do estipulado “mãe hospedeira[7]”.

    Quer dizer, era impossível ser eu que estava a inventar mais assassinatos.

    Ainda mandei dez dos vinte exemplares a que tive direito para algumas pessoas muito importantes que costumavam ter muita consideração por mim, com dedicatórias de página inteira, todas elas muito bonitas e terminalmente metafóricas; e essas pessoas não mandaram dizer nem obrigadinho ó peste negra.

    Que chata, esta gaja.

    Epá, ouça lá, de uma vez por todas…

    A senhora faça o favor de meter na cabeça que está morta, está morta, está morta.

    Clara Pinto Correia é bióloga, professora universitária e escritora


    [1] O meu parceiro era o Scott Gilbert, consensualmente considerado o Grande Papa da Biologia do Desenvolvimento, com um livro de texto universal que, à época, já ia na 11ª edição [N.R. A obra em causa, Develpment Biology em co-autoria com Michael Baresi, vai agora na 12ª edição]

    [2] A gente diz RMA, e a coisa parece logo mais fina.

    [3] Esta especialidade psicológica existe mesmo. Procurem Helena Águeda Marujo no browser.

    [4] Em termos académicos, e só para dar uma ideia, é consensualmente considerada uma das melhores editoras do mundo.

    [5] Da autoria do Scott, que é muito bom nestas coisas de títulos, subtítulos, capítulos, e até poemas inteiros sobre proteínas e genes.

    [6] Experimentem pôr o título no vosso motor de busca!

    [7] Esta mudança de terminologia foi universalmente adoptada nos anos 90 num grande congresso na África do Sul, precisamente por ser por demais insultuosa para as mulheres que asseguram a gestação de filhos de outros. Alguém chama às prostitutas “vaginas de aluguer”? E desde quando é que o útero da mulher pode ser separado do resto do seu corpo?

  • O dia da minha morte

    O dia da minha morte

    Só percebi que já tinha morrido há cerca de uns nove anos. Até aí, fui suficientemente ingénua para continuar a considerar-me deveras viva. Está bem que César foi apunhalado no Senado, mas eram meia dúzia de políticos todos eles invejosos e medíocres, exatamente como também nós acabamos por nos habituar a pensar nos políticos. No meu caso, eram dez milhões de portugueses. E ninguém me tinha apunhalado com punhais propriamente ditos. Não há nada mais estranho do que uma pessoa então de cinquenta e três anos, que se sente cheia de saúde e pronta a entrar em acção, ser obrigada a aceitar que já morreu. Mas não somos propriamente nós quem escolhe grande parte do que nos acontece. E quem sou eu para contrariar a vontade de todo o meu País, certo?…


    … Quando tudo isto aconteceu, eu tinha lançado o meu último romance, Não podemos ver o vento, dois anos antes. Tinha recebido boas críticas. Tinha dado várias entrevistas.

    Mas, já nessa altura, é claro que nem tudo brilhava à maneira indicativa da Estrela Polar.

    Por exemplo, quando chegava às rádios, às televisões, ou aos sítios onde as revistas queriam fazer mais uma daquelas suas “produções” que a editora insistia serem uma óptima ideia, ouvia frequentemente comentários como,

    Ah! Mas afinal a Clara não está nada gorda!”;

    ou

    Oh! Está tão bonita! E dizem que anda para aí a meter para a veia e a cair da boca aos cães[1]

    ou

    Enfim… para quem não está bem da cabeça… o seu raciocínio é interessantíssimo.

    Tinha-me habituado facilmente a estas figuras de estilo e a várias outras, e portava-me sempre muito bem nas conversas, como se nada daquilo me doesse, tendo em conta o terrível maremoto de maledicência e a incrível destilaria de destruição que acompanharam “o escândalo das fotografias”; só que – enfim. Estava desempregada, estava silenciada, mas estava viva e a roda havia de voltar a subir.

    ”Pretinha’, com cinco anos, no papel de São José no Presépio Vivo de Luanda.,

    Tenho uma fé a bem dizer insuportável na gentileza das pessoas. Pior ainda, confio no sentido de solidariedade dos portugueses[2]. O que ganhava com isso era estar permanentemente a ser desiludida, mas ao menos saltava todos os dias da cama às sete da manhã cheia de confiança no destino. De cada vez que ia falar com alguém por motivos de trabalho, ia sinceramente convencida de que, dessa vez, o plano resultava e eu voltava, no mínimo, a ser útil.

    Como isso nunca aconteceu, acabei por voltar para os Estados Unidos a convite do grande Scott Gilbert, para escrevermos em co-autoria um projecto muito arrojado sobre os efeitos colaterais das técnicas de Reprodução Medicamente Assistida.

    É verdade que já lá iam três anos de desemprego, e eu bem tentava, bem tentava, bem tentava, e nunca ninguém me dava trabalho. Mas, sobretudo, aceitei o convite do Scott porque percebi que o meu próprio país me tinha dado por morta e não ia, de todo em todo, tolerar que eu continuasse viva.

    Foi no dia em que entrei numa farmácia ao pé de Santa Apolónia, e não estava lá mais ninguém a não ser a menina do balcão.

    Assim que me viu, a menina deu um gritinho.

    Eu fiquei a olhar para ela, à espera de melhor explicação.

    A menina deu uma série de outros gritinhos, de tal forma sentidos que eu acabei por perguntar,

    “Está tudo bem?”

    “É que a senhora… a senhora… a senhora era uma escritora!”

    Era???? Então a que vem esse era? Era e ainda sou! Quer dizer, tanto quanto sei, ainda não morri.”

    “Está bem, mas a senhora nunca mais voltou a aparecer… dantes a senhora aparecia sempre… a senhora era uma pessoa que aparecia muito… e… e… como nunca mais apareceu…”

    “Não me diga que acha que eu morri só porque não voltei a aparecer.”

    “Ah! E garanto-lhe que não sou só eu! Tem a certeza de que é mesmo a senhora que era aquela escritora?

    E eu respondi-lhe exatamente o que senti, pela primeira vez de muitas vezes que haviam de vir depois:

    Não, minha querida. Não tenho qualquer certeza de ser seja quem for. Agora, se faz favor, pode arranjar-me uma caixa de microlax?

    Clara Pinto Correia é bióloga, professora universitária e escritora.


    [1] Adoro esta expressão dos cães. Era só ouvi-la e ficava logo bem disposta.

    [2] Sou parva, e então? O que é que eu ganhava em ser raivosa?