Categoria: Exame

  • Espanha já ‘fechou a torneira’ no Tejo, e Guadiana está à míngua

    Espanha já ‘fechou a torneira’ no Tejo, e Guadiana está à míngua

    Este ano, a seca na Península Ibérica anuncia-se ainda no Inverno. E Espanha já está a segurar toda a água que pode. Esta semana, o Tejo português esteve já sem caudal, e o Guadiana com quase nenhuma vinda do outro. O acordo ibérico em vigor só vai piorar a situação, porque tem um peculiar regime: Espanha só está obrigada a mandar água para Portugal quando não há seca.


    A Espanha está a fechar o acesso de água a Portugal através dos rios internacionais. E, paradoxalmente, se a situação de seca piorar, mais poderá estancar o fluxo de água ao nosso país, porque deixa de estar em vigor o convénio ibérico dos rios internacionais, assinado em 1998 em Albufeira, e revisto uma década depois.

    Com a perspectiva de um Inverno pouco chuvoso – Janeiro de 2022 foi o segundo mais seco do século –, e num clima mediterrânico que concentra menos de um terço da precipitação entre Março e Setembro –, os rios espanhóis, incluindo os internacionais (Minho, Lima, Douro, Tejo e Guadiana), estão já à míngua.

    As perspectivas para o futuro não são, para já, nada animadoras, sabendo-se que, por regra, nos meses entre Março e Setembro chove relativamente pouco: menos de um terço do total anual, o que significa que mesmo que a precipitação da Primavera e Verão deste ano esteja dentro dos valores médios, a seca será um cenário incontornável.

    A situação actual já é francamente má, e nem sequer tem a ver com a estratégia portuguesa de abandonar a produção de carvão e turbinar mais água. Está sim relacionada com a escassez de água vinda de Espanha.

    white sail boat on sea during foggy weather

    O último boletim hidrológico espanhol, realizado na passada terça-feira pelo Ministério para a Transição Ecológica e Recuperação Demográfica, revela que a estação hidrológica do rio Tejo, na barragem de Cedillo, à entrada de Portugal, estava a zeros, ou seja, 0,00 metros cúbicos por segundo (m3/s). No ano passado, no mesmo dia, o caudal situava-se em 374,70 m3/s.

    Para norte, na bacia do Douro, a situação também era dramática, mas ainda não de seca absoluta. Por exemplo, na barragem espanhola de Saucelle – em pleno troço transfronteiriço, perto de Freixo-de-Espada à Cinta –, os caudais no dia 15 de Fevereiro situaram-se nos 87,85 m3/s, apenas cerca de 9% dos valores registados em 2021.

    No Guadiana, apesar de Espanha ter inactiva a sua estação de Badajoz, já dentro de Portugal, em Monte da Vinha, a estação gerida pela Agência Portuguesa do Ambiente (APA) registava ontem um caudal médio de apenas 2,12 metros cúbicos por segundo, quando no início do ano era cerca de sete vezes superior (15,57 m3/s). No ano passado estava, nesta altura, com um caudal próximo dos 100 m3/s.

    Segundo os termos da denominada Convenção de Albufeira – assim conhecida por ter sido assinada a primeira versão naquela cidade algarvia em 1998 por António Guterres, ladeada pela então ministra do Ambiente, Elisa Ferreira, e José Maria Aznar –, as situações de seca, que remetem para a suspensão dos termos acordados, são determinadas em função das precipitações anuais ou trimestrais para as diferentes bacias hidrográficas.

    Nestas circunstâncias, se Espanha assim desejar, não tem sequer de enviar um pingo de água, porque não está obrigada a cumprir quaisquer caudais mínimos nem volumes. No caso do rio Guadiana, o regime é algo diferente, a excepção ocorre sempre que a precipitação esteja abaixo de um determinado nível e/ou o volume total armazenado em determinadas albufeiras seja inferior a um determinado volume.

    Basicamente a Convenção de Albufeira tem uma regra: quando Portugal está mesmo necessitado de água, Espanha não está obrigado a conceder-lhe. Ou, noutra perspectiva, só quando Espanha tem muita água é que tem o compromisso de enviar alguma para Portugal.

    O Ministério do Ambiente reconhece ao PÁGINA UM que “os regimes de caudais estabelecidos na Convenção não são, nos termos da própria Convenção, exigidos nos períodos de excepção, correspondentes a situações de escassez de água em que a precipitação de referência acumulada na bacia seja inferior à precipitação média acumulada no mesmo período.” E adianta que, mesmo assim, Espanha “tem demonstrado empenho em manter os regimes de caudais das situações da normalidade”, mesmo nas “nas situações em que se verifica o estado de excepção”.

    people walking on brown field near sea during daytime

    Nem sempre tem sido assim, em abono da verdade muito recentemente, no ano hidrológico de 2018-2019, um Inverno também muito seco deixou o país em seca logo em Março, com 40% do território em seca severa ou extrema. E a estação de Monte da Vinha esteve então com caudal nulo, graças aos “represamentos” em Espanha, durante 118 longos dias, entre 14 de Março e 9 de Julho de 2019. E também não incumpriu o convénio, porque estava suspenso por causa da seca.

    Em todo o caso, o Ministério do Ambiente afiança que “os caudais do primeiro trimestre do ano hidrológico em curso [Outubro a Dezembro de 2021], tanto diários, semanais e trimestral foram cumpridos”, acrescentando que “nos meses do segundo trimestre os volumes diários (só definidos para o Guadiana) e semanais (só definidos para o Douro e Tejo) estão a ser cumpridos”. No entanto, quanto ao valor trimestral, “só pode ser apurado no final de Março”, adianta fonte do gabinete de Matos Fernandes.

    O Ministério do Ambiente reitera ainda que a situação é agora “incomparavelmente mais favorável”, porque antes de 1998 “nenhuma obrigação de caudais existia”, o que é efectivamente verdade. Antes da assinatura da Convenção de Albufeira, sobretudo o Guadiana estava sujeito a frequentes cortes de caudal. Em 1995 esteve 212 dias sem caudal vindo de Espanha, e no seguinte mais 122 dias.

    Recorde-se que, na segunda metade dos anos 90 do século passado, Espanha tentou desenvolver um plano hidrológico que previa transvases de água das bacias do Norte para o Sul, através de canais, causando grande polémica tanto naquele país como em Portugal.

  • Um congresso à pala: saiba quais os pneumologistas que receberam das farmacêuticas, e quanto receberam

    Um congresso à pala: saiba quais os pneumologistas que receberam das farmacêuticas, e quanto receberam

    Nos congressos médicos não se discute apenas Ciência. Talvez se deva dizer que também se debate Ciência, porque, na verdade, esses eventos são sobretudo encontros de médicos onde se confirma a influência das farmacêuticas. O PÁGINA UM revela os números conhecidos do último Congresso Português de Pneumologia, e revela quem pagou e quem recebeu. E quanto. Basta conferir a lista no final. Por ordem alfabética. Não vai de A a Z, porque acaba em V, mas são quase quatro centenas de nomes. Há 677 pneumologistas em Portugal.


    562.381,60 euros. Este foi o pecúlio que a Sociedade Portuguesa de Pneumologia (SPP) arrecadou da indústria farmacêutica apenas para a organização do seu recente congresso nacional, que se realizou entre 11 e 13 de Novembro do ano passado, num luxuoso hotel de cinco estrelas em Vilamoura.

    Cerca de dois terços (65,6%) deste pecúlio foi financiamento directo das farmacêuticas que desejaram expor o seu nome em uma das muitas iniciativas, cursos e outros eventos, onde a covid-19 foi “estrela”, embora não o tema único.

    Quase todos os eventos contaram com um patrocínio de uma farmacêutica, com excepção da esmagadora maioria dos debates sobre a pandemia, onde, talvez por pudor da organização, nenhuma das principais farmacêuticas com fármacos contra a covid-19 quis estar com o nome associado. Ficava mal para a imagem de independência, claro.

    Mas, contas feitas, houve farmacêuticas interessadas em apoiar a SPP: 13, apenas para o congresso, destacando-se a Boehringer Ingelheim (113.400 euros), seguindo-se a Pfizer (70.000 euros) e a BIAL (54.733 euros).

    A parte restante – num total de 193.413,20 euros –, gasta pelas farmacêuticas, e que acabou por entrar também nos cofres da SPP, foi para custear inscrições e a moderação de cerca de 400 participantes, quase todos pneumologistas.

    Como, segundo o Instituto Nacional de Estatística, estavam inscritos 677 pneumologistas em Portugal no ano de 2020, significa então, seguramente, que mais de metade dos médicos desta especialidade têm, em maior ou menor grau, ligações financeiras com farmacêuticas.

    E isto apenas analisando inscrições de um simples congresso, onde a “independência” se mede em querer ou não gastar umas dezenas ou centenas de euros das finanças pessoais.

    Com efeito, os pagamentos das inscrições neste congresso, em função dos eventos, situaram-se entre os 71 euros pagos pela Novartis para uma inscrição da pneumologista Andreza Lopes Machado e os 1.230 euros pagos pela BIAL à pneumologista Ana Sofia Oliveira, neste caso para lhe custear os incómodos de uma moderação.

    Aliás, no âmbito deste congresso, a BIAL também pagou 1.230 euros a Carlos Robalo Cordeiro, e a Sanofi pagou 1.159,89 euros a Filipe Froes. Estes dois pneumologistas, com históricas ligações à indústria farmacêutica, foram signatários da denúncia à Ordem dos Médicos do médico Jorge Amil Dias, presidente do Colégio de Pediatria daquela associação profissional, por delito de opinião.

    Só a Novartis – que não financiou directamente a SPP – gastou 48.294 euros no pagamento de 78 inscrições. A Boehringer Ingelheim gastou um pouco mais (49.678 euros) para desafogar as finanças de 104 profissionais da saúde, pagando-lhes as inscrições no congresso. Como também deu à SPP, de uma só assentada, 113.400 euros em patrocínios, os três “dias de festa” deste congresso resultou numa factura de 163.078 euros.

    A BIAL desembolsou também valores consideráveis, superiores a 20 mil euros, para pagar inscrições de 38 participantes, enquanto a Mylan teve de gastar pouco mais de 16 mil para deixar 50 pneumologistas satisfeitos. Note-se que houve casos de profissionais de saúde que, por se terem inscrito em mais do que um evento ou curso, recorreram a mais do que uma farmacêutica.

    Outras duas empresas deste sector – a Nippon Gases e a Gasoxmed – também pagaram inscrições acima dos 10 mil euros. A Pfizer ficou um pouco aquém: aos 70.000 euros entregues directamente à SPP, também descartou encargos a 27 pneumologistas e/ou outros profissionais de saúde, pagando-lhes inscrições.

    O PÁGINA UM não questionou especificamente a SPP para saber se houve algum participante que, enfim, tenha pago a inscrição do seu próprio bolso, mas questionou esta sociedade médica no âmbito desta investigação jornalística, pedindo-lhe igualmente informação financeira, e não obteve qualquer reacção.


    Lista completa de profissionais de saúde que receberam verbas de farmacêuticas para inscrição no XXXVII Congresso Português de Pneumologia (incluindo também apoios directos à SPP) – Fonte: Infarmed.

    Adriana Sofia Correia Dias (Boehringer Ingelheim) – 595 euros
    Alcina Maria Vicente Tavares Barroso Vicente (Nippon Gases) – 415 euros
    Alessandra Alencastro Pinheiro (Mylan) – 250 euros
    Alexandra Margarida Félix Carvalho (Boehringer Ingelheim) – 645 euros
    Alexandra Maria Almeida Carreiro (Boehringer Ingelheim) – 220 euros
    Amélia Simas Ribeiro (Pfizer) – 431 euros
    Ana Alves Dias da Silva (Novartis) – 939,03 euros
    Ana Catarina Costa Custodio (Boehringer Ingelheim) – 765 euros
    Ana Catarina Rodrigues da Costa (Gasoxmed) – 580 euros
    Ana Cristina Azenha da Silva Lucas (Mylan) – 250 euros
    Ana Cristina de Mendonça Galveia (Nippon Gases) – 375 euros
    Ana Cunha Fonseca (Boehringer Ingelheim) – 435 euros
    Ana Daniela Silva Ferreira (Nippon Gases) – 665 euros
    Ana Filipa Ascensão Alves Santos (Novartis) – 426 euros
    Ana Filipa Caldeira Damásio (Pfizer) – 403 euros
    Ana Filipa Torres Silva (Mylan) – 475 euros
    Ana Filipa Torres Silva (Mylan) – 480 euros
    Ana Inês Ferrão (Gasoxmed) – 580 euros
    Ana Isabel Batista Correia (Boehringer Ingelheim) – 467,5 euros
    Ana Isabel Carvalhal Roque Loureiro (BIAL) – 831,43 euros
    Ana Isabel Carvalho Coutinho Alves Silva (Boehringer Ingelheim) – 220 euros
    Ana Isabel Correia Viseu (Pfizer) – 275 euros
    Ana Isabel Reis Santos (Boehringer Ingelheim) – 595 euros
    Ana Josefina Alves Gomes (Boehringer Ingelheim) – 495 euros
    Ana Luísa Ramos Costa e Silva (Novartis) – 426 euros
    Ana Luísa Santos Fonseca (Tecnifar) – 275 euros
    Ana Mafalda Van Zeller M Basto Goncalves (Novartis) – 526 euros
    Ana Margarida Antunes Cruz (BIAL) – 521,43 euros
    Ana Margarida Correia Valente A. Matias (Boehringer Ingelheim) – 150 euros
    Ana Margarida Correia Valente Agostinho Matias (Novartis) – 426 euros
    Ana Margarida Da Silva Gomes de Sousa Pires (Pfizer) – 389 euros
    Ana Margarida Ferreira Campos (Boehringer Ingelheim) – 595 euros
    Ana Margarida Mendes Carvalho (Boehringer Ingelheim) – 745 euros
    Ana Margarida Mestre (Mylan) – 475 euros
    Ana Patrícia Almeida Serra Fernandes (Boehringer Ingelheim) – 250 euros
    Ana Paula Capitão Costa Silva (Pfizer) – 220 euros
    Ana Pedro Cunha Craveiro (Boehringer Ingelheim) – 595 euros
    Ana Raquel Afonso Magalhaes Lopes (Boehringer Ingelheim) – 765 euros
    Ana Raquel Caldas Marcoa (Laboratório Medinfar) – 470 euros
    Ana Raquel Viana Silva (Novartis) – 275 euros
    Ana Rita Catarino Ferro (Gasoxmed ) – 765 euros
    Ana Rita Diegues Linhas (Laboratório Medinfar) – 200 euros
    Ana Rita Queiroz Rodrigues (Boehringer Ingelheim) – 585 euros
    Ana Rita Santos Fernandes (Boehringer Ingelheim) – 275 euros
    Ana Rita Sousa Osório (Gasoxmed ) – 865 euros
    Ana Sofia Alexandre Oliveira (BIAL) – 1230 euros
    Ana Sofia Maciel Campos Silva (Boehringer Ingelheim) – 765 euros
    Ana Sofia Martins Granadeiro (Novartis) – 326 euros
    Ana Sofia Moreira Pinto (Nippon Gases) – 535 euros
    Ana Sofia Silva Barroso (BIAL) – 596,43 euros
    Ana Teresa Silva Pereira Costa (Boehringer Ingelheim) – 220 euros
    Ana Veronica Santos Cardoso (Laboratório Medinfar) – 200 euros
    Anatilde Pagaimo Trindade (Boehringer Ingelheim) – 765 euros
    André Filipe Morgadinho Fabiano (Boehringer Ingelheim) – 615 euros
    André Gouveia Santos (Mylan) – 375 euros
    Andrea Suzana Teixeira Lopes Machado (Novartis) – 71 euros
    Ângela Mafalda Mouco Martins (Nippon Gases) – 250 euros
    Ângela Maria Dias Cunha (Sanofi) – 740 euros
    Ângelo Costa Andrade (Boehringer Ingelheim) – 220 euros
    António Fernando Oliveira Meleiro (Novartis) – 520 euros
    António Filipe Tavares Junqueira M Serrano (Mylan) – 250 euros
    António Jaime Botelho Correia Sousa (BIAL) – 641,43 euros
    António José Santos Pinto Saraiva (Tecnifar) – 525 euros
    António José Simões Reis Martins Correia (Tecnifar) – 300 euros
    António Josué Martins Pinto (Novartis) – 700 euros
    António Manuel Fernandes Santos Costa (BIAL) – 220 euros
    António Manuel Gomes Miguel (Tecnifar) – 525 euros
    António Manuel Silva Duarte Araujo (BIAL) – 556,43 euros
    António Pedro Oliveira Ferreira Leite (Boehringer Ingelheim) – 467,5 euros
    António Pedro Sousa Fernandes (BIAL) – 629,7 euros
    Aurora Maria Caetano Lopes Bragança (Pfizer) – 481 euros
    Barbara Goncalves Rodrigues (Boehringer Ingelheim) – 515 euros
    Beatriz Martins (Novartis) – 150 euros
    Beatriz Santos Pacheco (Gasoxmed) – 495 euros
    Bebiana Conceição Fernandes Palheiros Conde (Novartis) – 800 euros
    Benedita Maria Amado Costa Neves Laranjeira (Mylan) – 325 euros
    Bernardo João Sousa Pinto (BIAL) – 391,43 euros
    Bruno Aguiar Mendes (Novartis) – 700 euros
    Bruno Gil Neto Gonçalves (Boehringer Ingelheim) – 220 euros
    Carina Maria Rolo Silvestre (Pfizer) – 633 euros
    Carla Alves Costa Cardoso (Novartis) – 675 euros
    Carla Augusta Goncalves Rodrigues Damas (Boehringer Ingelheim) – 220 euros
    Carla Cristina Sousa Nogueira (Laboratório Medinfar) – 750 euros
    Carla Marisa Fernandes Gomes (Boehringer Ingelheim) – 410 euros
    Carla Susana Maia Farinha Ribeiro (Novartis) – 700 euros
    Carlos Lopes Figueiredo (Novartis) – 700 euros
    Carlos Manuel Azevedo Alves (Nippon Gases) – 415 euros
    Carlos Miguel Gonçalves Fernandes (Mylan) – 250 euros
    Carlota José Freitas Olim (Mylan) – 250 euros
    Carolina Mariana da Silva Alves (Nippon Gases) – 555 euros
    Catarina Alexandra Bebiano Possacos (Nippon Gases) – 325 euros
    Catarina Alexandra Noga Salgueiro (Gasoxmed ) – 580 euros
    Catarina Carvalho Cordes Amaral Barata (Boehringer Ingelheim) – 220 euros
    Catarina Costa Dias Sousa (Boehringer Ingelheim) – 515 euros
    Catarina Lacerda Couto Oliveira (Novartis) – 800 euros
    Catarina Maria Cruz Ferreira (Boehringer Ingelheim) – 220 euros
    Catarina Santos Marques (Novartis) – 325 euros
    Cátia Abreu Gonçalves (Mylan) – 250 euros
    Cátia Isabel da Silva Vieira (Grifols) – 375 euros
    Cátia Sofia Alves Pimentel (Novartis) – 500 euros
    Cecília Rodrigues Pardal (Boehringer Ingelheim) – 220 euros
    Chantal Rodrigues Cortesao (Boehringer Ingelheim) – 745 euros
    Christine Silva Costa (Boehringer Ingelheim) – 150 euros
    Cláudia Catarina Ferreira Chaves Loureiro (Novartis) – 300 euros
    Cláudia Sabina Figueira Sousa (Boehringer Ingelheim) – 853,28 euros
    Cláudia Sofia Almeida Vicente (BIAL) – 341,43 euros
    Cláudia Sofia Raimundo Santos (Novartis) – 275 euros
    Cláudia Sófia Silva Martins (Pfizer) – 250 euros
    Cláudia Sófia Silva Martins (Pfizer) – 250 euros
    Cláudia Sofia Vaz Guerreiro (Novartis) – 645 euros
    Cláudia Vanessa Abreu Rocha (Mylan) – 250 euros
    Cláudia Vanessa Abreu Rocha (Mylan) – 250 euros
    Cristina Maria Sardinha Canhão Martinho (Nippon Gases) – 275 euros
    Cristina Maria Veiga Coxo (Mylan) – 375 euros
    Dália Nadina Cora (Mylan) – 475 euros
    Daniel Gonçalo Pereira Duarte (Pfizer) – 220 euros
    Daniel José Pires Coutinho (Mylan) – 220 euros
    Daniel Oliveira Reis (Nippon Gases) – 220 euros
    Daniel Pimenta Rocha (Boehringer Ingelheim) – 180 euros
    Daniel Pimenta Rocha (Nippon Gases) – 220 euros
    Daniela Costa Cardoso (Novartis) – 700 euros
    Daniela Costa Cardoso (Novartis) – 700 euros
    Daniela Maria Marques Costa Silva Alves (Janssen Cilag) – 325 euros
    Daniela Maria Sá Ferreira (Janssen Cilag) – 325 euros
    Daniela Sofia Madama Santos Silva (Merck Sharp & Dohme) – 481 euros
    David Noivo Gomes (Nippon Gases) – 635 euros
    David Tavares Teixeira Silva (Boehringer Ingelheim) – 615 euros
    Diana Alexandra Goncalves Pimenta (Pfizer) – 581 euros
    Diana Organista Machado (Novartis) – 850 euros
    Diana Sofia Costa Moreira Amorim (Novartis) – 600 euros
    Diana Sofia Moreira Sousa (Boehringer Ingelheim) – 320 euros
    Dina Maria Nunes Matias (Novartis) – 675 euros
    Diogo Emanuel Silva Ferreira Madureira Baptista (Novartis) – 600 euros
    Diogo Lopes Alves (Boehringer Ingelheim) – 580 euros
    Diva Fátima Goncalves Ferreira (Boehringer Ingelheim) – 220 euros
    Djaline Santiago Cardoso Silva (Mylan) – 325 euros
    Duarte Ari Diogo Rocha (Gasoxmed ) – 630 euros
    Dyna Torrado Martinez (BIAL) – 596,43 euros
    Edgar Luís Frutuoso Vaz (BIAL) – 646,43 euros
    Eduarda Filipa Fernandes Martins (Mylan) – 250 euros
    Eduarda Salomé Soares Seixas (Novartis) – 775 euros
    Elin Marina Pinheiro Almeida (Pfizer) – 379 euros
    Elisabete Maria Brás Patrício (Grifols) – 375 euros
    Elsa Guerreiro Cunha Fragoso (Novartis) – 800 euros
    Esmeraldo Correia Silva Alfarroba (Boehringer Ingelheim) – 530 euros
    Eurico Alves Rodrigues Silva (BIAL) – 731,43 euros
    Fábio Nascimento Pereira (Nippon Gases) – 465 euros
    Fernanda Isabel Macedo Gamboa (Boehringer Ingelheim) – 220 euros
    Fernanda Margarida Afonso De Sousa (Grifols) – 375 euros
    Fernanda Maria Pereira Nascimento (BIAL) – 681,43 euros
    Fernanda Paula Carvalho Santos (Janssen Cilag) – 220 euros
    Fernando Gregório Barbosa Calvário (Tecnifar) – 180 euros
    Fernando Luciano Prazeres Meneses (Boehringer Ingelheim) – 275 euros
    Fernando Pedro Ribeiro Pereira Da Silva (Nippon Gases) – 210 euros
    Filipa Lemos Aguiar (Mylan) – 325 euros
    Filipa Lemos Aguiar (Mylan) – 360 euros
    Filipa Ribeiro (Gasoxmed) – 530 euros
    Francisca Godinho de Oliveira (Novartis) – 775 euros
    Francisca Trigueiros Pincão N. Guimaraes (Boehringer Ingelheim) – 530 euros
    Francisco Cadarso Vazquez (Mylan) – 220 euros
    Francisco Manuel Gamito Ferreira Q. Guerreiro (Boehringer Ingelheim) – 530 euros
    Francisco Neri Gomes (Laboratório Medinfar) – 750 euros
    Francisco Ribeiro Viana Machado (Boehringer Ingelheim) – 595 euros
    Gabriel Humberto Pulido Rueda (Mylan) – 325 euros
    Gabriela Sofia Cancela Fonseca F Santos (Boehringer Ingelheim) – 615 euros
    Gisela Adriana Pereira Fontes (Gasoxmed ) – 580 euros
    Gloria Maria Costa Mendes Moura (Mylan) – 325 euros
    Gonçalo Carvalho Moura Portugal (BIAL) – 596,43 euros
    Guilherme Amaral Mendes (BIAL) – 646,43 euros
    Hedi Esteves Sequeira Liberato (Mylan) – 220 euros
    Helena Margarida Costa Guedes (Merck Sharp & Dohme) – 481 euros
    Helena Vasconcelos S. C. Ramos Guedes (Novartis) – 720 euros
    Henrique Cabrita Rodrigues (Novartis) – 700 euros
    Inês Antunes Cruz Goncalves Marcos (Tecnifar) – 325 euros
    Inês Da Silva Alves (Nippon Gases) – 525 euros
    Inês Domingos Neto (Pfizer) – 481 euros
    Inês Ferreira Duarte (Tecnifar) – 675 euros
    Inês Gomes Galiza (Mylan) – 325 euros
    Inês Maria Neves Soares Silva (Mylan) – 220 euros
    Inês Ribeiro (Gasoxmed ) – 495 euros
    Inês Silva Costa Castro Barreto (BIAL) – 596,43 euros
    Inês Silva Furtado (Boehringer Ingelheim) – 220 euros
    Inês Teixeira Farinha (BIAL) – 681,43 euros
    Isabel Maria Costa Monteiro (BIAL) – 250 euros
    Isabel Ruivo Santos (BIAL) – 341,43 euros
    Ivone Jose Jardim Fernandes (BIAL) – 681,43 euros
    Ivone Maria Pascoal Pinheiro Silva (Novartis) – 275 euros
    Joana Carvalho (Pfizer) – 483 euros
    Joana Catarina Batista Canadas (Boehringer Ingelheim) – 515 euros
    Joana Catarina Fonseca Cirne (Boehringer Ingelheim) – 250 euros
    Joana Catarina Neto Lourenço (Mylan) – 480 euros
    Joana Catarina Vale Lages (Tecnifar) – 575 euros
    Joana Correia (Novartis) – 800 euros
    Joana Filipa Reis Aguiar (Boehringer Ingelheim) – 505 euros
    Joana Isabel Grãos Lobo Pimentel (Nippon Gases) – 220 euros
    Joana Isabel Teixeira Sousa Leite (Mylan) – 325 euros
    Joana Raquel Macedo Pacheco (Boehringer Ingelheim) – 150 euros
    Joana Raquel Macedo Pacheco (Novartis) – 700 euros
    Joana Raquel Monteiro Ferra (Boehringer Ingelheim) – 615 euros
    Joana Rita Seabra Patrício (Nippon Gases) – 555 euros
    Joana Rodrigues Barbosa (Novartis) – 700 euros
    Joana Rodrigues Ferreira De Melo (Nippon Gases) – 465 euros
    Joana Silva Arana Fonseca Ribeiro (Laboratório Medinfar) – 750 euros
    Joana Vieira Martins (Novartis) – 800 euros
    Joana Vieira Naia Silva (Boehringer Ingelheim) – 745 euros
    João António dos Santos Fernandes da Costa (Nippon Gases) – 415 euros
    João António Pires Bento (Boehringer Ingelheim) – 250 euros
    João Fernando Gomes Costa Cunha (BIAL) – 681,43 euros
    João Filipe Dias Cardoso (Novartis) – 800 euros
    João Galaz Tavares (Novartis) – 475 euros
    João Pedro Fernandes C. Oliveira Pereira (Boehringer Ingelheim) – 595 euros
    João Pedro Garcia Yglesias Oliveira (BIAL) – 596,43 euros
    João Pedro Neiva Machado (Novartis) – 600 euros
    João Ricardo Nunes Pires (Boehringer Ingelheim) – 580 euros
    Joaquim António Magalhães Castanheira Abreu (Novartis) – 325 euros
    Jorge Miguel Pires Gomes da Rosa (Gasoxmed ) – 865 euros
    José António Caiado Soares (BIAL) – 250 euros
    José António Romero Contreras (Nippon Gases) – 210 euros
    José Fernando Correia Cunha (Mylan) – 375 euros
    José Manuel Dias Pereira (Novartis) – 905,27 euros
    José Manuel Paulo da Silva (Sanofi) – 594 euros
    José Manuel Ramos Goncalves (BIAL) – 681,43 euros
    José Manuel Rodrigues Coelho (Mylan) – 325 euros
    José Manuel Rodrigues Coelho (Mylan) – 360 euros
    José Mota André (Tecnifar) – 475 euros
    José Pedro Felgar Pinto (Mylan) – 325 euros
    José Pedro Felgar Pinto (Mylan) – 180 euros
    Júlia Filipa Cunha Silva Gouveia (BIAL) – 831,43 euros
    Juliana Sofia Jesus Barata (Pfizer) – 379 euros
    Karl Jonathan Silva Cunha Granatin (Novartis) – 720 euros
    Kelly Goncalves Lopes (Boehringer Ingelheim) – 615 euros
    Leila Amaro Cardoso (BIAL) – 250 euros
    Leonor Hora Lopes Meira (Novartis) – 275 euros
    Leonor Rocha Pinto Norton (Mylan) – 375 euros
    Letícia Pavão Balanco (Boehringer Ingelheim) – 595 euros
    Lídia Sousa Gomes (Novartis) – 800 euros
    Lígia Fernandes (Novartis) – 950 euros
    Lilia Vanessa Maia Santos (Boehringer Ingelheim) – 220 euros
    Liliana da Silva Gomes (Gasoxmed ) – 695 euros
    Lúcia Méndez Gonzalez (Nippon Gases) – 555 euros
    Luciana Pimenta Bento (Gasoxmed ) – 530 euros
    Luís Diogo Lazaro Ferreira (Boehringer Ingelheim) – 745 euros
    Luís Diogo Lázaro Ferreira (Nippon Gases) – 220 euros
    Luís Filipe Crespo Goes Pinheiro (BIAL) – 646,43 euros
    Luís Filipe Oliveira Rodrigues (Pfizer) – 403 euros
    Luís Miguel Matos Carreto (Boehringer Ingelheim) – 615 euros
    Manuel Filipe Sousa Fernandes (BIAL) – 596,43 euros
    Manuel Jorge Guerra Seada (Boehringer Ingelheim) – 220 euros
    Manuel Luís Vasconcelos e Sousa Vasques Osório (Nippon Gases) – 755 euros
    Manuel Tiago Moreira Martins (Laboratório Medinfar) – 800 euros
    Marcia Rita Ferreira Araújo (Novartis) – 850 euros
    Margarida Inês Delgado Melo Cruz (Mylan) – 475 euros
    Margarida Inês Delgado Melo Cruz (Mylan) – 480 euros
    Margarida Isabel Geraldes Barreiros Costa Pereira (Nippon Gases) – 430 euros
    Margarida Isabel Marques Afonso (Novartis) – 590 euros
    Maria Adelina Azevedo Amorim Cordeiro (Boehringer Ingelheim) – 220 euros
    Maria Antónia Glória Galego (Nippon Gases) – 210 euros
    Maria Aurora Lino Silva Neves (Novartis) – 1018,33 euros
    Maria Aurora Pinto Mendes (Nippon Gases) – 705 euros
    Maria Beatriz Dias Ferraz (Boehringer Ingelheim) – 595 euros
    Maria Carmo Oliveira Cordeiro (Boehringer Ingelheim) – 595 euros
    Maria Celeste Silva Alcobia (Mylan) – 250 euros
    Maria do Céu Vinha (Gasoxmed ) – 580 euros
    Maria Eduarda F. Vasconcelos Sequeira Pestana (BIAL) – 596,43 euros
    Maria Eduarda Milheiro Lacerda Tinoco (BIAL) – 511,43 euros
    Maria Emília Marques Alvares (Boehringer Ingelheim) – 580 euros
    Maria Fátima Lopes Teixeira (Boehringer Ingelheim) – 220 euros
    Maria Fernanda Rocha Rodrigues (Boehringer Ingelheim) – 250 euros
    Maria Ferreira Esteves Simoes Brandao (Novartis) – 800 euros
    Maria Gabriel Silva Goncalves Jacob (Boehringer Ingelheim) – 595 euros
    Maria Graça Carmo Freitas Nunes Ferreira (Laboratório Medinfar) – 200 euros
    Maria Inês Luz Ferreira (Boehringer Ingelheim) – 445 euros
    Maria Inês Oliveira Gomes Costa (Boehringer Ingelheim) – 595 euros
    Maria Inês Sousa Moreira (Boehringer Ingelheim) – 765 euros
    Maria João Costeira (Novartis) – 600 euros
    Maria João Freitas Ferreira Araujo (Novartis) – 750 euros
    Maria João Mar Pereira Cunha (Boehringer Ingelheim) – 250 euros
    Maria João Quitério Vieira Silva (Laboratório Medinfar) – 750 euros
    Maria Leopoldina Garez Gomes Turpin (Boehringer Ingelheim) – 665 euros
    Maria Lurdes Silva Ferreira (Pfizer) – 379 euros
    Maria Madalena Fernandes Emiliano (Novartis) – 700 euros
    Maria Marta Sampaio Nunes Duarte Silva (Boehringer Ingelheim) – 615 euros
    Maria Victoria Blanco Gonzalez (Mylan) – 360 euros
    Maria Victoria Blanco Gonzalez (Mylan) – 325 euros
    Mariana Barreira Calheiros B. Cabral (Boehringer Ingelheim) – 595 euros
    Mariana Cunha Macedo Conde (Boehringer Ingelheim) – 745 euros
    Mariana Lima e Castro Guimarães (Mylan) – 325 euros
    Mariana Maia e Silva (Grifols) – 325 euros
    Mariana Maia e Silvia (Nippon Gases) – 150 euros
    Mariana Monte Rocha Baltazar Coelho (Mylan) – 325 euros
    Mariana Ribeiro Marçal (BIAL) – 661,43 euros
    Mariana Santos Conceição (Pfizer) – 379 euros
    Mariana Serino Barbosa (Boehringer Ingelheim) – 515 euros
    Mariana Simões Saldanha Mendes (Nippon Gases) – 220 euros
    Marina Alexandra Pereira Bonnet (Novartis) – 720 euros
    Marina Gabriela Moreira Alves (Boehringer Ingelheim) – 150 euros
    Marina Gabriela Moreira Alves (Novartis) – 700 euros
    Mário Alexandre Oliveira Pinto (Boehringer Ingelheim) – 615 euros
    Marisa Antunes Marques (Nippon Gases) – 535 euros
    Marisa Isabel Augusto Anciaes (Boehringer Ingelheim) – 445 euros
    Marta Sofia Nobre Pereira (Novartis) – 745 euros
    Marta Sousa Sá Marques (Boehringer Ingelheim) – 595 euros
    Marta Susana Monteiro Drumond Freitas (Novartis) – 275 euros
    Miguel Filipe Guia (Novartis) – 575 euros
    Miguel Silveira (Novartis) – 325 euros
    Miguel Trigueiro Rocha Barbosa (Boehringer Ingelheim) – 765 euros
    Mónica Helena Correia Pereira (Nippon Gases) – 325 euros
    Nelson David Lameirão Serrano Marçal (Novartis) – 325 euros
    Nuno Filipe Machado Faria (Boehringer Ingelheim) – 745 euros
    Nuno Filipe Xavier Santos Pires (Novartis) – 675 euros
    Nuno Miguel Silva Fernandes (Boehringer Ingelheim) – 645 euros
    Nuno Miguel Sousa Macedo (Boehringer Ingelheim) – 250 euros
    Patrícia Alexandra Alves Jesus (Nippon Gases) – 605 euros
    Patrícia Alexandra Vieira Dionisio (Novartis) – 565 euros
    Paula Celestina Reis Pinto (Gasoxmed) – 580 euros
    Paula Maria Lima Cunha Vasconcelos Marques (Boehringer Ingelheim) – 645 euros
    Paula Maria Silva Freilão Ramos Cravo (Novartis) – 520 euros
    Pedro Duarte Silva Fernandes (Pfizer) – 379 euros
    Pedro Filipe Andrade Gomes Silva (Nippon Gases) – 465 euros
    Pedro Filipe Ferreira Americano (Nippon Gases) – 220 euros
    Pedro Jorge Pereira Magalhães Ferreira (Boehringer Ingelheim) – 595 euros
    Pedro José Ramalho Rodrigues (Novartis) – 800 euros
    Pedro Miguel Cruz Mendes (Laboratório Medinfar) – 750 euros
    Pedro Miguel Nogueira Costa (Novartis) – 850 euros
    Pedro Ricardo Pereira Barros (Boehringer Ingelheim) – 150 euros
    Pedro Ricardo Pereira Barros (Grifols) – 325 euros
    Pedro Samuel Martinho Pereira (Boehringer Ingelheim) – 595 euros
    Pedro Soares Branco Tavares Costa (Laboratório Medinfar) – 750 euros
    Rafael Noya Martinez (Mylan) – 325 euros
    Rafaela Sofia Biga Campanha (Novartis) – 550 euros
    Raquel Borrego (Gasoxmed ) – 815 euros
    Raquel Maria Reis Marques (Boehringer Ingelheim) – 250 euros
    Raquel Matos Jesus Rosa (Boehringer Ingelheim) – 445 euros
    Ricardo Almeida Dias Mimoso Coelho (Novartis) – 500 euros
    Ricardo Belo Pereira Baguinho Quita (Boehringer Ingelheim) – 595 euros
    Ricardo Bruno Santos Silva (Boehringer Ingelheim) – 745 euros
    Ricardo Filipe Ramos Sousa (Boehringer Ingelheim) – 250 euros
    Ricardo Jorge Camara Crawford Nascimento (Laboratório Medinfar) – 750 euros
    Rita Agostinho Rodrigues N Carvalho (Mylan) – 325 euros
    Rita Luísa Santos Gerardo (Sanofi) – 735 euros
    Rita Susana Ferreira Lopes (Fresenius Kabi Pharma ) – 325 euros
    Robalo Cordeiro Lda. – Carlos Robalo Cordeiro (BIAL) – 1230 euros
    Rogério Paulo Pedreira Valente Matos (Pfizer) – 431 euros
    Rudi Mauro Pereira Fernandes (Boehringer Ingelheim) – 530 euros
    Rui Antonio Narciso Ribeiro Costa (Novartis) – 820 euros
    Rui Manuel Peixoto Costa (Merck Sharp & Dohme) – 187,98 euros
    Rui Miguel Mouro Santos Rolo (Tecnifar) – 275 euros
    Rute Alexandra Simões da Silva (Gasoxmed ) – 580 euros
    Samuel Tiago Fraga Salvador (Mylan) – 375 euros
    Sandra Afonso André (Tecnifar) – 475 euros
    Sandra Cristina Costa Figueiredo (Boehringer Ingelheim) – 220 euros
    Sandra Maria Oliveira Saleiro Ferreira (BIAL) – 220 euros
    Sara Andreia Gois Morgado (Boehringer Ingelheim) – 765 euros
    Sara Catarina Pimenta Dias (Novartis) – 850 euros
    Sara Filipa Ramos Correia Alfarroba (BIAL) – 220 euros
    Sara Isabel Braga Machado (Novartis) – 950 euros
    Sara Maria Costa Martins (Pfizer) – 379 euros
    Sara Moreira Silva Trindade Salgado (Mylan) – 220 euros
    Sergey Mikhailovich Borisushkin (Mylan) – 325 euros
    Shanshan Zhang (Gasoxmed) – 495 euros
    Sílvia Rosário Piteira Natário Lorenço (Mylan) – 250 euros
    Sociedade Portuguesa de Pneumologia (BIAL) – 150 euros
    Sociedade Portuguesa de Pneumologia (BIAL) – 200 euros
    Sociedade Portuguesa de Pneumologia (BIAL) – 300 euros
    Sociedade Portuguesa de Pneumologia (BIAL) – 6000 euros
    Sociedade Portuguesa de Pneumologia (BIAL) – 3575 euros
    Sociedade Portuguesa de Pneumologia (BIAL) – 975 euros
    Sociedade Portuguesa de Pneumologia (BIAL) – 7975 euros
    Sociedade Portuguesa de Pneumologia (BIAL) – 750 euros
    Sociedade Portuguesa de Pneumologia (BIAL) – 1100 euros
    Sociedade Portuguesa de Pneumologia (BIAL) – 5500 euros
    Sociedade Portuguesa de Pneumologia (BIAL) – 7500 euros
    Sociedade Portuguesa de Pneumologia (BIAL) – 20708 euros
    Sociedade Portuguesa de Pneumologia (Gilead) – 10000 euros
    Sociedade Portuguesa de Pneumologia (Bristol-Myers Squibb) – 15000 euros
    Sociedade Portuguesa de Pneumologia (Gasoxmed ) – 7500 euros
    Sociedade Portuguesa de Pneumologia (Laboratório Medinfar) – 6000 euros
    Sociedade Portuguesa de Pneumologia (Laboratório Medinfar) – 6000 euros
    Sociedade Portuguesa de Pneumologia (Pfizer) – 35000 euros
    Sociedade Portuguesa de Pneumologia (Pfizer) – 35000 euros
    Sociedade Portuguesa de Pneumologia (Teva Pharma) – 12000 euros
    Sociedade Portuguesa de Pneumologia (GlaxoSmithKline) – 25335,4 euros
    Sociedade Portuguesa de Pneumologia (Grifols) – 15000 euros
    Sociedade Portuguesa de Pneumologia (Tecnifar) – 6000 euros
    Sociedade Portuguesa de Pneumologia (Tecnimede) – 6000 euros
    Sociedade Portuguesa de Pneumologia (VitalAire) – 22000 euros
    Sociedade Portuguesa de Pneumologia (Boehringer Ingelheim) – 113400 euros
    Sofia Pina Borges (Mylan) – 325 euros
    Sónia Isabel Silva Guerra (Pfizer) – 379 euros
    Soraia Alexandra Reis Santos (Boehringer Ingelheim) – 645 euros
    Susana Alves Ferreira (Nippon Gases) – 325 euros
    Susana Castro Luís Lopes Moreira (BIAL) – 511,43 euros
    Susete Marli Fonseca da Cruz (Novartis) – 325 euros
    Tânia Isabel Soares Duarte (Gasoxmed ) – 665 euros
    Tânia Sofia Morgado Fatal (Nippon Gases) – 525 euros
    Telma Chantal Almeida Sequeira (Boehringer Ingelheim) – 445 euros
    Telma Silva Lopes (Boehringer Ingelheim) – 360 euros
    Teresa Mafalda Ameixial Pequito (Nippon Gases) – 250 euros
    Teresa Maria Ferreira Almeida (Novartis) – 800 euros
    Teresa Martin Rioja (Novartis) – 575 euros
    Terras e Froes Lda. – Filipe Froes (Sanofi) – 1159,89 euros
    Tiago André Silva Santos (Boehringer Ingelheim) – 645 euros
    Tiago João Pais Maricoto (BIAL) – 596,43 euros
    Tiago Manuel Pombo Alfaro (Novartis) – 315 euros
    Tiago Matos Almeida Santos Gaspar (Mylan) – 325 euros
    Tiago Sá (Novartis) – 500 euros
    Vanda Sofia Barros Areias (Nippon Gases) – 485 euros
    Vanessa Maria Ferreira Santos (Boehringer Ingelheim) – 515 euros
    Vanessa Maria Ferreira Santos (Pfizer) – 220 euros
    Vanessa Maria Ferreira Santos (Pfizer) – 220 euros
    Vânia Caldeira (Novartis) – 800 euros
    Vânia Isabel Louro Fernandes (Novartis) – 700 euros
    Vânia Patrícia Martins Rocha (Pfizer) – 250 euros
    Vânia Patrícia Martins Rocha (Pfizer) – 250 euros
    Vânia Sofia De Jesus Almeida (Gasoxmed) – 580 euros
    Vera Cláudia Oliveira Clérigo (Boehringer Ingelheim) – 445 euros
    Vera Maria Santos Baptista Martins (BIAL) – 511,43 euros
    Viktoriia Vinagre (Mylan) – 250 euros
    Vítor Fonseca (Pfizer) – 379 euros
    Vítor Miguel Nóbrega Teixeira De Jesus (Laboratório Medinfar) – 318,25 euros
    Vitória Joana Sousa Silva (Gasoxmed) – 630 euros

  • Ao vigésimo dia, lei de emergência não verga protestos

    Ao vigésimo dia, lei de emergência não verga protestos

    Com avanços e recuos, os apoiantes da Caravana da Liberdade precisam de ter cada vez mais jogo de cintura. Depois do primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, ter assumido poderes de emergência, aproxima-se mais um fim-de-semana de protestos aumentados.


    Ao vigésimo dia de protesto, os manifestantes do Freedom Convoy continuam empenhados em não dar tréguas, apesar de alguns bloqueios na fronteira do Canadá estarem a dissipar-se, após a ponte Ambassador – que liga Windsor, na província canadiana de Ontario, a Detroit, nos Estados Unidos – ter sido reaberta no passado domingo. A Polícia Montada Real do Canadá – mobilizada ao abrigo da Lei de Emergências decretada por Justin Trudeau – prevê também que o porto de entrada de Emerson seja evacuado ainda hoje.

    O primeiro-ministro canadiano decidiu entretanto utilizar a Lei de Emergência de Ordem Pública pela primeira vez desde a sua aprovação em 1988, dando-lhe poderes especiais durante 30 dias. No entanto, esta decisão mostra-se controversa.

    Os cenários previstos na Lei de Emergência de Ordem Pública englobam problemas de segurança associados a actos de espionagem ou sabotagem, actividades com ligações ao estrangeiro, ameaças ou instrumentalização de actos de violência com fins políticos, religiosos ou ideológicos, e acções ilegais com vista a enfraquecer ou derrubar o Governo.

    Nenhuma destas condições aparentemente se aplica a estas manifestações impulsionadas por camionistas, que têm sido sempre pacíficas.

    Embora Trudeau tenha o apoio do primeiro-ministro de Ontário, Doug Ford, outras vozes têm-se manifestado contra. Por exemplo, o homólogo do Quebec, François Legault, já disse não querer esta lei aplicada à sua província. Legault – que anunciou há cerca de uma semana o alívio de várias restrições anti-covid na sua província – acredita que esta medida é “deitar achas para a fogueira”.

    A Associação Canadiana para as Liberdades Civis, uma organização sem fins lucrativos fundada em 1984, também já expressou preocupação em se ver “deteriorar a democracia e os direitos civis” com a aplicação desta legislação especial.

    Em todo o caso, o Governo de Trudeau poderá agora ordenar o reboque de camiões que estejam a incorrer em bloqueios. Por sua vez, os bancos poderão ser obrigados a congelar temporariamente contas de pessoas singulares ou colectivas sem necessidade de autorização do Tribunal, bastando que haja suspeita de serem utilizadas para financiar os protestos. Aliás, a angariação de fundos na plataforma GiveSendGo esteve suspensa durante alguns dias, mas foi novamente reactivada, com apoios a totalizarem já valores próximos de 9,5 milhões de dólares americanos.

    Recorde-se que, há cerca de duas semanas, a maior plataforma mundial de crowdfunding, a GoFundMe, suspendeu a campanha e angariação de fundos do Freedom Convoy, por pressões do Governo canadiano, quando já estavam recolhidos 10 milhões de dólares canadianos, mas apenas libertado um milhão para os organizadores.

    Entretanto, começaram a surgir “baixas” entre as autoridades. Após ter sido alvo de críticas pela forma como lidou com os protestos, o chefe da polícia de Ottawa, Peter Sloly, apresentou ontem à noite a sua demissão. Através de uma publicação no Twitter, disse que o fazia “com um coração pesado”.

    Segundo a BBC, os residentes da capital preferiam que Sloly tivesse tido “mão pesada” contra os manifestantes, e consideraram a sua actuação demasiado branda.

    Alguns habitantes insatisfeitos de Ottawa relataram mesmo um clima de proximidade entre as autoridades e os participantes do Freedom Convoy, acusando que chegaram a ocorrer jogos amigáveis de fist-bumps entre membros da polícia e os manifestantes. Essas acusações acabam, contudo, por ser uma “arma” dos manifestantes, que têm defendido sempre e reivindincado uma contestação pacífica, apesar das tentativas do Governo e de alguma imprensa em os colar a linhas ideológicas de extrema-direita e de grupos de teorias da conspiração.

    Porém, as autoridades canadianas garantem que já efectuaram dezenas de detenções e emitiram milhares de coimas desde o início dos protestos. Ontem, a polícia canadiana revelou que quatro pessoas foram detidas e acusadas de planear o assassinato de oficiais. No entanto, continuam sem ser emitidas quaisquer imagens de desacatos ou movimentos considerados hostis por parte dos participantes.

    Também hoje, um juiz do Tribunal Superior de Ontario decidiu prolongar por mais 60 dias a ordem que impedia os camionistas de buzinar, emitida na semana passada.

    A Polícia de Ottawa lançou também, na manhã de hoje, um aviso a exigir que os manifestantes abandonem o centro da capital imediatamente, advertindo ainda que quem participar ou ajudar os bloqueios estará a cometer um crime. E nota-se agora uma presença mais musculada de polícias nas ruas, mas, por agora, sem quaisquer sinais de animosidade de ambos os lados.

    As reacções a esta ameaça têm sido feitas com bonomia e mesmo humor: muitas pessoas fizeram uma espécie de procissão munidas de jerry cans vazios, incluindo crianças e adolescentes.

    Texto editado por Pedro Almeida Vieira

    N.D. – O PÁGINA UM, conforme defendeu em editorial, decidiu suspender a sua angariação pontual de fundos através do GoFundMe, onde tinha angariado 13.884 euros (valor bruto, sem deduções de cerca de 10% em comissões), passando a optar pela plataforma MIGHTYCAUSE.

  • Farmacêuticas da covid-19 e gripe enchem cofres da Sociedade Portuguesa de Pneumologia

    Farmacêuticas da covid-19 e gripe enchem cofres da Sociedade Portuguesa de Pneumologia

    Desde o início da pandemia, e especialmente no ano passado, a Sociedade Portuguesa de Pneumologia não teve mãos a medir para receber dinheiro das farmacêuticas. Em 2021, ganhou, de forma directa, tanto como era normal em dois anos. E, no último biénio, os apoios da Pfizer cresceram 3.016% em comparação com o período homólogo anterior.


    Em tempos de pandemia, desde o ano de 2020, a indústria farmacêutica reforçou os apoios financeiros à Sociedade Portuguesa de Pneumologia (SPP), sendo perfeitamente identificáveis as empresas com interesses directos em fármacos associados à covid-19 ou à gripe.

    De acordo com a análise do PÁGINA UM aos financiamentos da indústria farmacêutica no último quinquénio, através do Portal da Transparência e Publicidade do Infarmed, os apoios da Pfizer – fabricante de vacinas contra a covid-19 e do antiviral Paxlovid – cresceram 3.106% nos dois últimos anos (2020-2021) face ao período 2018-2019.

    Antes da pandemia, a farmacêutica norte-americana até tinha interesses na área da pneumologia – vendendo, por exemplo, a vacina pneumocócica – e apoiava as actividades da SPP, mas com verbas pequenas. Em 2017 concedeu 18.300 euros, no ano seguinte 6.000 euros, e em 2019 apenas 6.250 euros. Em 2020 ainda não se vislumbrou apoios de relevo, com o apoio a situar-se nos 12.000 euros.

    Porém, no ano passado, a Pfizer fez um “esforço” nunca visto: 369.650 euros, sobretudo para pagar uma inédita campanha de sensibilização para a vacinação, mas não da covid-19; foi para a vacina pneumocócica, o que não deixa de ser estranho porque essa vacina em concreto é apenas recomendada para idosos e grupos de risco.

    No entanto, também para o Congresso Nacional de Pneumologia, a Pfizer abriu os cordões à bolsa, dando um inédito apoio de 35.000 euros. Acresce a este montante, o pagamento de inscrições de 38 profissionais de saúde para este congresso que se realizou em Novembro passado, no valor de 14.820 euros, que acabaram nos cofres da SPP.

    A portuguesa BIAL também reforçou bastante os apoios no último biénio à SPP. Embora não tenha qualquer fármaco associado directamente à covid-19, esta farmacêutica possui diversos medicamentos para doenças respiratórias, entre os quais o Clavamox, um antibiótico com aplicação para as bronquites e pneumonias, muito frequentes em estados subsequentes à infecção viral pelo SARS-CoV-2.

    Se no triénio 2017-2019 os valores anuais da BIAL entregues à SPP se situaram entre os 13.530 e os 84.300 euros, nos últimos dois anos chegaram aos seis dígitos: 119.160 euros em 2020, e 166.751 euros, no ano passado. Além de apoios financeiros em congressos e outros eventos, a BIAL financiou webinares, tendo mesmo prometido em Março de 2020 criar “um fundo, com uma dotação de meio milhão de euros para as apoiar as diversas iniciativas da comunidade no âmbito do combate à pandemia covid-19”. A empresa portuguesa é agora a terceira mais generosa para a SPP no último quinquénio.

    Quem também foi bastante generosa com a SPP foi a Sanofi. Apesar do “desaparecimento” da gripe, a Sanofi viu subir o seu negócio de venda das vacinas anti-gripais em Portugal, beneficiando de recomendações, por exemplo, do presidente da SPP, António Morais, e do pneumologista Filipe Froes.

    Apoios do sector farmacêutico (em euros) à Sociedade Portuguesa de Pneumologia entre 2017 e 2021. Fonte: Infarmed.

    António Morais chegou mesmo a dizer ao Observador que a vacina da gripe “estimulava a resposta imunitária geral”, sugerindo que até poderia trazer benefícios em caso de infecção pelo SARS-CoV-2. Froes ainda foi mais taxativo: por exemplo, em Junho do ano passado, este conhecido pneumologista com ligações fortes às farmacêuticas, defendia que “a reserva das vacinas da gripe tem que ser feita [em Portugal] com a máxima antecedência de maneira a garantir um número de vacinas que, cada vez mais, é escasso perante as solicitações dos outros países”: Resultado: a DGS comprou mais vacinas contra a gripe.

    A Sanofi, que já aumentara substancialmente os apoios à SPP em 2020 (com um total de 58.889 euros) face aos anos anteriores à pandemia, ainda abriu mais a carteira no ano passado: 153.585 euros.

    A AstraZeneca também mostrou maior interesse em apoiar ainda mais a SPP, sobretudo durante o ano de 2020, quando então estava tão bem colocada como a Pfizer para a venda de vacinas contra a covid-19. No primeiro ano da pandemia concedeu apoios na ordem dos 108.900 euros, valor que desceu para os 50.750 euros em 2021.

    girl swims on swimming pool

    Note-se, contudo, que alguns importantes eventos da SPP financiados pelas farmacêuticas acabam remetidos para o ano seguinte nos registos da Plataforma da Transparência e Publicidade do Infarmed, como sucede com grande parte dos apoios dos congressos de pneumologia que, por regra, se realizam em meados de Novembro.

    Curiosamente, a Gilead – que beneficiou de um contrato de 20 milhões de euros para a venda do antiviral remdesivir, e que teve Filipe Froes como consultor – não despendeu muito dinheiro com a SPP: apenas 17.500 euros nos últimos dois anos. Contudo, antes dessa data não lhe tinha concedido qualquer verba.

    Outras empresas não directamente relacionadas com a covid-19 acabaram também por fazer fluir mais dinheiro do que o habitual para a SPP, entre as quais a Boehringer Ingelheim.

    Com fortes interesses na venda de fármacos para tratamento de fibrose pulmonar e doença pulmonar obstrutiva crónica, esta farmacêutica alemã ainda é aquela que concedeu maiores apoios à SPP no último quinquénio (524.668 euros), mas ficou apenas em terceiro lugar no último biénio (269.600 euros), atrás da Pfizer e BIAL.

    A Novartis – que foi a segunda farmacêutica com mais dinheiro entregue à SPP durante o último quinquénio – “desinvestiu”, tendo reduzido os apoios na ordem dos 25% no último biénio em comparação com o anterior. O mesmo sucedeu com a GlaxoSmithKline, a A. Menarini e a Roche, que também diminuíram os seus apoios, em alguns casos de forma significativa, o que também é demonstrativo do mecanismo de financiamento das sociedades médicas. Ou seja, o sector farmacêutico dá agora mais ou menos em função das suas receitas e/ou dos benefícios potenciais no presente e no futuro.

    Refira-se que o PÁGINA UM contactou todas estas farmacêuticas e a SPP durante a preparação desta investigação jornalística, mas nenhuma concedeu informações nem respondeu às questões colocadas.

  • Comissão Europeia quer prolongar certificado que obriga à toma de até cinco doses da vacina contra a covid-19

    Comissão Europeia quer prolongar certificado que obriga à toma de até cinco doses da vacina contra a covid-19

    A Comissão Europeia quer manter a discriminação entre vacinados e não-vacinados, propondo o prolongamento do uso dos certificados digitais por mais um ano, até finais de Junho de 2023. E cita estudos que comprovam a “utilidade” das proibições de acesso como incentivo para a toma de mais doses da vacina. Caso seja aprovado o novo regulamento, além da manutenção de uma política segregacionista, com uma quarta dose serão vendidas pelo menos mais de 300 milhões de vacinas na União Europeia, um negócio superior a 6 mil milhões de euros para as farmacêuticas. E acrescem também custos operacionais de gestão dos certificados na ordem dos 10 mil milhões de euros.


    Em contraciclo com as decisões de alguns países europeus – como a Dinamarca, Finlândia, Noruega e Reino Unido – em cessar já a discriminação dos cidadãos em função do seu estado vacinal contra a covid-19, a Comissão Europeia quer estender por mais um ano a aplicação dos certificados digitais para condicionar ou proibir a circulação aérea e o acesso a certos lugares públicos por não-vacinados.

    Numa altura em que a pandemia se encontra já numa fase claramente endémica, a Comissão von der Leyen – adepta da imposição da vacinação obrigatória universal, incluindo a jovens e crianças – tem já pronta uma proposta de regulamento para prolongar até 30 Junho de 2023 o controlo de entradas através deste certificado, que apenas atesta a toma de vacinas ou a ocorrência de uma infecção recente.

    Como os certificados têm agora uma validade de nove meses, a implementação desta medida garante às farmacêuticas pelo menos mais um reforço vacinal. No limite, quem tomou a chamada “dose de reforço” até finais de Novembro do ano passado terá de receber uma quinta dose para não sofrer restrições de circulação até ao meio do próximo ano.

    waving flag

    No texto que acompanha a sua proposta de regulamento, a Comissão Europeia mostra ser uma fervorosa adepta do uso do certificado digital para o condicionamento de acesso em espaços públicos no interior de cada país (por exemplo, em restaurantes, ginásios ou eventos culturais e desportivos) como instrumento de “incentivo” para a vacinação. E menciona expressamente dois estudos que provam que a implementação do certificado digital convenceu muitos a vacinarem-se.

    Num desses estudos, ainda em fase de working paper, investigadores belgas e franceses defendem que durante o Verão do ano passado os “certificados covid” contribuíram para um aumento substancial na aceitação de vacinas: mais 13,0 pontos percentuais (pp) na França, mais 6,2 na Alemanha e mais 9,7 na Itália. Ou seja, na verdade, assumem que as pessoas não se vacinaram por acreditar no poder de protecção da vacina; quiseram, sim, apenas continuar a movimentar-se livremente.

    Mas os investigadores também garantem que o certificado salvou vidas, embora através de uma mera análise contrafactual – ou seja, fazendo estimativas sobre eventuais mortes que teriam ocorrido se não houvesse aquele aumento de vacinação. Na sua opinião, sem esse reforço de vacinação teriam morrido mais 3.979 pessoas por covid-19 na França, 1.133 na Alemanha e 1.331 na Itália, além de avultadas perdas económicas.

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    Saliente-se, contudo, que nestes três países – tal como, aliás, em Portugal – morreram mais pessoas por covid-19 no Verão de 2021 (com vacina) do que no Verão de 2020 (ainda sem vacina).

    Noutro estudo (sem peer review), também mencionado pela Comissão Europeia, e que aborda igualmente a realidade do Canadá, aponta-se para uma subida semanal superior a 60% na primeira toma da vacina após a decisão das autoridades em impor o uso de certificado digital como forma de discriminação dos cidadãos não-vacinados.

    Recorde-se que, na União Europeia, onde já se emitiram mais de mil milhões de certificados, a vacina contra os efeitos do SARS-CoV-2 só passou a ser obrigatória na Áustria, e para certas profissões em outros Estados-membros, como a Grécia e Hungria (para profissionais de saúde), na França (profissionais de saúde e forças de segurança) e na Itália (para as duas anteriores classes, e também para professores e trabalhadores de lares).

    Estas decisões são polémicas, tanto mais que, por norma, nem os Estados nem as farmacêuticas assumem responsabilidades em caso de efeitos adversos. Em todo o caso, o Governo italiano já reservou 150 milhões de euros com vista a compensar eventuais reacções adversas da vacinação.

    Face à relutância de uma franja importante da população em tomar a dose de reforço, a manutenção do certificado digital constitui assim uma forma de coerção e incentivo. Caso 80% da população europeia “vacinável” adira a um reforço, serão vendidas mais de 300 milhões de doses, o que representará um negócio de 6 mil milhões de euros para as farmacêuticas. Além disto, os custos operacionais previstos pela própria Comissão Europeia para o prolongamento do certificado digital podem ascender aos 10 mil milhões de euros.

    A proposta da Comissão von der Leyen, apresentada no seu site em 23 línguas, está agora em consulta pública até ao próximo dia 8 de Abril, e a merecer já forte contestação, com uma elevada participação. Ontem, pelas 19 horas, o PÁGINA UM contabilizou 24.182 comentários, quase todos criticando o carácter desumano e discriminatório do certificado, até porque, como instrumento de controlo da doença, este papel não constitui nem garantia de não-infecção nem de não-transmissão da covid-19.

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    Hoje, pelas 16 horas, o número de comentários já ultrapassava os 28.000, sendo que 53% provinham da Itália, 9% da Alemanha e 8% da França e também da Holanda. Com 451 comentários, Portugal encontrava-se na nona posição (2% do total). Além das opiniões de cidadãos, a proposta de regulamento incluía já comentários de 106 empresas ou associações empresariais, 23 universidades, 18 entidades públicas, 22 organizações de consumidores ou não-governamentais, cinco sindicatos e outras tantas associações de defesa do ambiente.

    A Comissão Europeia promete que “todos os comentários recebidos serão resumidos e apresentados ao Parlamento Europeu e ao Conselho a fim de contribuir para o debate legislativo”.

    Nota: Para leitura integral da proposta da Comissão Europeia, e para elaborar comentários, pode aceder AQUI.

  • Sociedades médicas: as máquinas ligadas às farmacêuticas

    Sociedades médicas: as máquinas ligadas às farmacêuticas

    O PÁGINA UM vai fazer um diagnóstico completo aos financiamentos declarados entre farmacêuticas e sociedades médicas, vasculhando na base de dados da Transparência e da Publicidade do Infarmed, uma plataforma que deveria ser de fácil leitura e consulta, mas que tem as suas nuances. Este é o primeiro de um conjunto de artigos que mergulhará a fundo nas promíscuas relações entre médicos e farmacêuticas. Para já, fique a saber de quanto se está a falar quando se fala de dinheiro envolvido.


    São 49 milhões euros nos últimos cinco anos. Foram quase 12 milhões de euros no ano passado. Não há nem nunca houve crise para as principais agremiações de médicos e de outros profissionais de saúde, que dão pelo título de “sociedade portuguesa” de uma qualquer especialidade.

    Embora publicamente as suas opiniões, particularmente dos seus dirigentes sejam sempre vistas como independentes, na verdade as sociedades científicas de médicos e outros profissionais de saúde têm um cordão umbilical que se encontra bem preso, e que as alimenta, e que se chama indústria farmacêutica. E que tem depois retorno. Ninguém está interessado em o cortar. Até porque não há almoços de borla neste apetecível negócio. E há muitos que gostam. Menos a independência. E a deontologia.

    Um levantamento exaustivo do PÁGINA UM à Plataforma da Transparência e Publicidade do Infarmed – uma “operação” mais complexa do que seria admissível (ver texto em baixo) – identificou 94 sociedades científicas (e um pequeno montante não identificado) – congregando quase todas as especialidades médicas e de outras áreas da saúde – que receberam montantes de 135 empresas do sector farmacêutico.

    Para os últimos cinco anos, o PÁGINA UM identificou 5.745 eventos patrocinados pela indústria farmacêutica às sociedades identificadas, sobretudo para a realização de congressos, pagamento de quotas e despesas de funcionamento ou realização de campanhas de sensibilização e estudos.

    Há de tudo um pouco, embora este levantamento até exclua, porque será abordado em artigo independente, os pagamentos individuais das farmacêuticas a milhares e milhares de médicos para inscrições em congressos e conferências organizados pelas sociedades. Esse dinheiro acaba, obviamente, nos cofres das sociedades.

    Se o número de eventos impressiona pela quantidade – por exemplo, só no ano passado, o PÁGINA UM identificou 1.345 registos na base de dados do Infarmed envolvendo pagamentos de farmacêuticas às sociedades, o que representa mais de cinco por dia útil –, quando então se olha para os cifrões não restam dúvidas sobre a discreta, mas tenaz influência das farmacêuticas junto da classe médica e de outros profissionais de saúde.

    E também não ficam dúvidas sobre o carácter pouco filantropo deste sector: as farmacêuticas são pragmáticas e apostam apenas nas sociedades que as podem depois beneficiar. O jogo é simples e transparente, diga-se.

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    Com efeito, analisando com detalhe a contabilidade anual das diversas sociedades – que excluem, assim, algumas poderosas agremiações, como a Associação Portuguesa de Urologia, a especialidade do actual bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães – verifica-se que as farmacêuticas olham para uns como filhos, e para outros como mendigos.

    Comecemos pelos mendigos.

    São 45 as sociedades que, no total do último quinquénio, receberam menos de 10 mil euros por ano. Seis nem sequer aos mil euros anuais chegaram. E não é por não precisarem.

    Ninguém jamais duvidará da importância do objecto social da Sociedade Portuguesa de Enfermagem de Saúde Familiar, ou da Sociedade Portuguesa de Neurociências, ou da Sociedade Portuguesa de Alcoologia ou até da Sociedade Portuguesa de Virologia, ademais vendo os tempos que correm.

    Só que, para a indústria farmacêutica, estas e outras sociedades têm um problema: as respectivas especialidades receitam pouco, ou em pequena quantidade. Não dão retorno. Por isso, uma empresa como a Pfizer faz um acto de “caridade” à Sociedade Portuguesa de Enfermagem de Saúde Familiar quando lhe concede 450 euros para um congresso, mas já estará a tratar de negócios quando entrega quase 370 mil euros num ano destinada a uma campanha de sensibilização da vacinação pneumocócica à Sociedade Portuguesa de Pneumologia, como fez no ano passado.

    Na verdade, algumas sociedades médicas têm tanta capacidade para atrair farmacêuticas como a luz as melgas. Muitas sociedades sabem tão bem isto que colocam previamente tabelas de preços para patrocínio de congressos, para todos os gostos e bolsos. O modus operandi mais corriqueiro passa por “oferecer” aos interessados um de três tipos de patrocínios: Platina (só há, por regra lugar para um, mas paga-se bem), Ouro (geralmente mais do que um, mas menos de cinco), e por fim Prata. Escolhendo pelo menu, as farmacêuticas sabem logo o que têm, em termos de espaço de exposição e atenção, mas também quanto lhes custa esta bondade.

    Em sociedades importantes, como por exemplo a de Cardiologia, um destes patrocínios não é coisa barata: no ano passado, a Novartis teve de pagar patrocínios deste género no valor de quase 310 mil euros. Em 2020, a AstraZeneca deu 80 mil; em 2021 ficou-se pelos 58 mil. Nenhuma das grandes farmacêuticas quer ficar para trás nas simpatias dos cardiologistas na hora dos congressos. Na lista de patrocinadores da Sociedade Portuguesa de Cardiologia contam-se 13 farmacêuticas que concederam mais de 50 mil euros apenas no ano passado.

    Financiamento das 20 principais sociedades em função dos montantes atribuídos pelas farmacêuticas entre 2017 e 2021. Fonte: Infarmed.

    Esta sociedade não surge aqui apenas como exemplo: é aquela que mais amealhou no último quinquénio: 6.817.254 euros. No ano passado atingiu o valor máximo dos últimos cinco anos (quase 1,93 milhões de euros), que deu para recuperar uma perda significativa de receitas no primeiro ano de pandemia: em 2020 “apenas” recebera 670.184 euros. Portanto, por exemplo, na hora de se falar em miocardites, convém sempre atender-se tanto às questões científicas como às de outra natureza.

    Não surpreende também que as Sociedades de Medicina Interna e de Pneumologia surjam em lugar de destaque na atracção das liberalidades das sociedades farmacêuticas. A primeira não foi muito afectada pela pandemia – mesmo assim “perdeu” no ano de 2020 entre 100 mil e 200 mil euros face ao que recebia antes da pandemia. No último quinquénio garantiu “bondades” das farmacêuticas no valor de 5,86 milhões de euros.

    Quanto à Sociedade Portuguesa de Pneumologia, o primeiro ano da pandemia não correu particularmente mal – recebeu um pouco mais de 786 mil euros –, mas 2021 superou as expectactivas, muito graças à Pfizer.

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    O ano passado acabou com os cofres desta sociedade médica a encaixar 1.301.972 euros de 25 farmacêuticas – e quase todas nunca falham apoio em qualquer ano, ou seja, são habitués. O quinquénio 2017-2021 concluiu-se com um pecúlio de 4,35 milhões de euros das farmacêuticas.

    Também especialidades muito apetecíveis para as farmacêuticas são as de Reumatologia, de Oncologia, de Pediatria e de Gastrenterologia, cujas sociedades médicas não atingem os montantes das três que ocupam o pódio, mas não se podem queixar.

    Todas receberam, nos últimos cinco anos, apoios das farmacêuticas entre os dois e os três milhões de euros. Todas também viram o ano de 2021 terminar com mais dinheiro nos cofres, um alívio particularmente para as Sociedades Portuguesas de Reumatologia e de Gastrenterologia que tiveram um impacte negativo com a pandemia. Como em 2020 o Governo decidiu suspender muitos actos médicos, menos diagnósticos resultaram em menos receitas e em menos fármacos vendidos (ou a vender), e portanto as farmacêuticas cortaram-se na hora de entregar o cheque a estas sociedades.

    Um caso exemplar sobre os mecanismos de financiamento observa-se com a recém-criada Sociedade Portuguesa de Farmacêuticos dos Cuidados de Saúde, que ainda se encontra em comissão instaladora desde 2019. Integrando profissionais com uma enorme influência na escolha dos fármacos a prescrever ou encomendar, sobretudo ao nível do Serviço Nacional de Saúde, rapidamente esta sociedade atraiu financiadores. Em 2019, por ser nova, apenas recebeu cerca de 85 mil euros, mas subiu logo para os 320 mil no primeiro ano da pandemia. Terminou o ano de 2021 com um pecúlio de um pouco superior 617 mil euros das farmacêuticas, ocupando já a sexta posição das sociedades com maior poder de atracção.

    Amanhã, o PÁGINA UM revelará, com maior detalhe, quais as farmacêuticas que financiam cada uma das sociedades, e com que valores. Este artigo constitui apenas uma mera introdução.

    NOTA: Pode aceder à síntese dos montantes arrecadados por cada uma das sociedades no quinquénio 2017-2021, provenientes das farmacêuticas, AQUI.


    Uma agulha num pardieiro


    O portal da Transparência e Publicidade do Infarmed só tem transparência no nome. E publicidade no objectivo, não alcançado. Obter a informação que o PÁGINA UM começa hoje a divulgar aparenta ser fácil, porque a base de dados é pública, mas quem não entender as nuances desta plataforma deixa escapar muita informação, ou nem sequer consegue obter uma imagem correcta da realidade.

    O problema começa logo no facto de a plataforma não ser “amigável”: não há a possibilidade de a descarregar para um Excel, por exemplo. Nem permite consulta por filtro; apenas por palavras-chave.
    Além disso, como tanto as entidades ou pessoas que recebem verbas como as entidades que concedem apoios devem fazer uma declaração nesta plataforma do Infarmed, abre-se a porta a todas as confusões.

    Seria expectável que a base de dados do Infarmed exigisse que o registo inicial da pessoa ou entidade beneficiada incluísse, por exemplo, o número de identificação fiscal, e que não permitisse outras denominações além da oficial. Como tal não sucede, multiplicam-se os registos distintos – alguns até por força de “gralhas” –, impedindo ou dificultando assim uma aferição rápida dos montantes e da quantidade de eventos com patrocínio que uma determinada sociedade obteve.

    Por exemplo, se se digitasse em Novembro do ano passado, “Sociedade Portuguesa de Cardiologia” – a sua denominação oficial – naquela base de dados surgiam 88 eventos patrocinados num total de 1.026.419 euros. Na verdade, esta Sociedade recebeu muito mais: o PÁGINA UM identificara até então, apenas para este período, 147 eventos num montante global de 1.802.377 euros. A razão era simples: existem variadas denominações distintas – e logo diversas entidades a registarem –, por vezes usando abreviaturas, exclusão de preposições ou com erros (gralhas ortográficas).

    Ao longo dos cinco anos analisados, a Sociedade Portuguesa de Cardiologia apresenta 24 distintos registos. A Sociedade Portuguesa de Medicina Interna não ganha à Cardiologia em apoios das farmacêuticas, mas vence folgadamente em número de registos distintos: 37. Seria fastidioso elencar todas as variações, mas pode dizer-se que vai desde a denominação correcta até “SPMI – Soc Port De Medina Interna”, passando por “SOC.PORT.MEDICINA INTERNA” e “SOCIEDADE PORTUGUESA MEDICINA” (sic).

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    Mais complexo ainda é o caso da Sociedade Portuguesa de Pediatria, porquanto, na verdade, funciona como uma espécie de confederação de distintas sociedades – 19 no total – com especialidades distintas, desde os Cuidados Intensivos Pediátricos até à Pediatria Social e a Medicina do Adolescente. Em Novembro do ano passado – quando o PÁGINA UM iniciou esta investigação – se se pesquisasse por “Sociedade Portuguesa de Pediatria”, apenas se apuraria um montante de 1.282.580 euros no último quinquénio, quando na verdade esse o montante atingira já os 2.123.852. Tal discrepância deve-se às 68 denominações distintas para registar patrocínios em eventos das SPP e/ou das suas sociedades “federadas”.

    Mesmo as pequenas sociedades estão “afectadas” por este problema. Por exemplo, quatro sociedades que, receberam desde 2017 montantes que rondam um milhão de euros surgem no portal do Infarmed com mais de duas dezenas de denominações distintas: Sociedade Portuguesa de Farmacêuticos dos Cuidados de Saúde conta 26, a Sociedade Portuguesa de Alergologia e Imunologia Clínica tem menos uma, e a Sociedade Portuguesa de Dermatologia e Venereologia 23, tantas como a Sociedade Portuguesa de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo.

    No caso dos médicos e outros profissionais, os problemas são de outra índole, e que obstaculizam também a desejada transparência. Com efeito, muitos médicos são detentores de empresas – e registam nelas as verbas recebidas das farmacêuticas –, ignorando-se assim, em muitos casos, o beneficiário final. Noutras situações, não se conhece qual o nome que um determinado médico usa: pode ser o nome completo, ou o nome que mais utiliza profissionalmente.

    Na verdade, consultar esta base de dados do Infarmed é quase como ir à pesca. Ora, a transparência não é isso, até porque não há ali nada de lúdico para observar.

  • Ontário anuncia fim do certificado de vacinação para desbloquear capital do Canadá

    Ontário anuncia fim do certificado de vacinação para desbloquear capital do Canadá


    O primeiro-ministro de Ontário, Doug Ford, acabou de anunciar o fim do certificado de vacinas naquela província canadiana a partir de 1 de Março, anunciou o National Post.

    A decisão surge após duas semanas de intensas manifestações pacíficas sobretudo na capital do Canadá e em outras cidades, apesar de todas as tentativas do primeiro-ministro Justin Trudeau em associar os protestos a movimentos violentos, de extrema-direita e com influências de ideólogos radicais. As autoridades judiciais tinham entretanto bloqueado neste fim-de-semana a angariação de fundos da segunda plataforma de angariação (a GiveSendGo), que já amealhara 9 milhões de dólares, situação que estava a criar ainda mais críticas à forma como os Governos democráticos estão a começar a lidar com os movimentos sociais espontâneos, como é o caso do Freedom Convoy.

    Ford disse aos jornalistas que “o anúncio de hoje não é por causa do que está acontecendo em Ottawa ou Windsor, mas apesar disso”, assumindo implicitamente que houve uma cedência para protestos que se estavam a tornar insustentáveis social e politicamente.

    Na próxima quinta-feira serão já alteradas algumas restrições, entre as quais os limites de reuniões sociais, que aumentarão para 50 pessoas em ambientes fechados e de 100 pessoas ao ar livre, enquanto outros limites de capacidade serão removidos em locais como restaurantes, bares, ginásios e cinemas. O limite de pessoas em mercearias, farmácias e estabelecimentos de comércio a retalho será entretanto definida.

  • DGS esconde números, mas óbitos por todas as causas aumentaram 30% durante a pandemia

    DGS esconde números, mas óbitos por todas as causas aumentaram 30% durante a pandemia

    Governo e Direcção-Geral da Saúde sempre esconderam o verdadeiro impacte da pandemia nos lares, e as consequências da suspensão da assistência médica aos idosos. Uma análise do PÁGINA UM revela que nesses locais, desde o início da pandemia, terão morrido quase nove mil pessoas a mais face ao período homólogo anterior. Um crescimento de quase 30% que contrasta com um aumento em todo o país que rondou os 12%. Muitas das mortes em lares levaram abusivamente com o selo “covid”, bastando os óbitos terem ocorrido durante surtos.


    A Direcção-Geral da Saúde (DGS) escondeu autênticos morticínios em lares durante a pandemia, e continua a manter silêncio sobre os óbitos registados nas denominadas Estruturas Residenciais para Pessoas Idosas (ERPI), apesar do pedido do PÁGINA UM ao abrigo da Lei do Acesso aos Documentos Administrativos (LADA).

    Uma nova queixa – a sétima, desde Novembro do ano passado – seguirá para a Comissão de Acesso aos Documentos Administrativos por incumprimento daquela lei da transparência e arquivo aberto da Administração Pública, que a DGS sistematicamente ignora. No entanto, de forma indirecta, o PÁGINA UM conseguiu apurar que os lares terão sido o epicentro de uma hecatombe sem precedentes, e não apenas da responsabilidade da covid-19, mas mais pela gestão destes equipamentos durante a pandemia.

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    Apesar da Orientação nº 009/2020 – assinada pela própria directora-geral da Saúde, Graça Freitas, logo no início da pandemia, em 11 de Março de 2020, e que foi actualizada em Janeiro passado – estipula procedimentos muito detalhados para a gestão da pandemia nas ERPI, que deveria incluir o registo dos surtos e óbitos; mas nunca foram divulgados quaisquer dados detalhados, nem sobre a covid-19 nem sobre mortes associadas a outras doenças.

    Aliás, Portugal sempre foi um dos poucos países europeus que nunca elaborou qualquer relatório circunstanciado sobre o impacte da pandemia nos lares.

    Pese embora essa ausência de informação promovida intencionalmente pela DGS – que sistematicamente recusa conceder acesso a qualquer documentação solicitada pelo PÁGINA UM –, o incremento da mortalidade durante a pandemia, desde 16 de Março de 2020 até 10 de Fevereiro deste ano, ficou 30% acima do período homólogo (16 de Março de 2018 até 10 de Fevereiro de 2020).

    Esta conclusão retira-se de uma análise comparativa dos dados disponíveis ao público do Sistema de Informação dos Certificados de Óbito (SICO), mais concretamente sobre o local da ocorrência da morte.

    Sendo certo que estes dados disponibilizados pelo SICO ao público não identifica de forma directa os óbitos que ocorreram em lares de idosos, estes podem ser intuídos pelo local de ocorrência do óbito. No caso em concreto, os óbitos em ERPI estarão incluídos em “Outro local”, sendo que outros campos existentes são “Instituição de Saúde”, “No domicílio” e “Desconhecido”. Neste último caso, os números são relativamente pequenos (poucas centenas durante um ano).

    De acordo com a análise do PÁGINA UM, desde 16 de Março de 2020 até 10 de Fevereiro de 2022, registaram-se 34.774 óbitos em “Outro local”, quando no período homólogo anterior se contabilizaram 26.864 óbitos, ou seja, um acréscimo absoluto de 7.910 mortes, que representam um crescimento de 29,4%. Para se ter uma ideia mais exacta da autêntica hecatombe que terá ocorrido nos lares, saliente-se que as ERPI legalizadas têm apenas uma ocupação de cerca de 100 mil pessoas.

    Óbitos diários (média móvel de 7 dias) registados em “Outros locais” durante e antes da pandemia. Fonte: SICO.

    Este aumento relativo foi 2,5 vezes superior ao que se registou em instituições de saúde (subida relativa de 11,9%) e nove vezes superior ao contabilizado no domicílio (mais 3,3%). Em termos globais, no período em análise, contabilizaram-se 238.152 mortes por todas as causas (8,6% atribuídas à covid-19), um aumento de 25.404 (ou mais 11,9%) face ao período homólogo imediatamente anterior à pandemia.

    Saliente-se que estes valores de óbitos intuídos para os lares podem pecar por defeito, porquanto um número considerável de óbitos de utentes de ERPI estará contabilizado nas unidades de saúde, bastando a morte ter sido declarada no hospital durante um internamento. No entanto, também deve ser destacado que, em virtude da avançada idade, os óbitos nesta faixa etária são mais prováveis: para os maiores de 85 anos, a taxa de mortalidade no prazo de um ano ronda os 15%. Em todo o caso, a dimensão do aumento é avassaladora.

    Com efeito, desde o início da pandemia, em todos os meses de 2020 e 2021, e também em Janeiro do presente ano, se observou um significativo excesso de óbitos certificados em “Outros locais”, ou seja, maioritariamente em lares. No entanto, durante o Inverno de 2020-2021, e sobretudo em Janeiro do ano passado, assumiu proporções nunca vistas, quando aos surtos de SARS-CoV-2 sobreveio uma vaga de frio e o colapso no atendimento hospitalar.

    Diferencial de óbitos diários (média móvel de 7 dias) registados em “Outros locais” no período pandémico face ao período homólogo (Março de 2018 a Fevereiro de 2020). Fonte: SICO.

    Nesse mês, no SICO, estão registados 2.674 óbitos em “Outros locais”, ou seja, mais 87% do que em Janeiro de 2020 (1.428 óbitos) e mais 75% do que em Janeiro de 2019 (1.529 óbitos).

    Contudo, tanto antes como depois daquele funesto mês, os óbitos em “Outros locais” – e, portanto, nos lares – sempre esteve acima do esperado. De acordo com a análise do PÁGINA UM, o diferencial de mortalidade face ao período homólogo do ano imediatamente anterior à pandemia – ou seja, 2020 compara com 2018; e 2021 compara com 2019; e Janeiro e Fevereiro de 2022 compara com esses meses de 2020) – foi sempre largamente positivo. Ainda em 2020, registou-se um pico de 635 óbitos a mais em Julho, que se deveu quase em exclusivo a uma onda de calor e a inúmeras mortes de idosos por desidratação, de que o caso do lar de Reguengos de Monsaraz terá sido somente uma ponta do icebergue conhecida.

    Diferencial de óbitos por mês em “Outros locais” entre o período pandémico e o período de Março de 2018 e Janeiro de 2020. Fonte: SICO.

    Porém, mesmo com o avanço do programa de vacinação contra a covid-19 ao longo de 2021, esta faixa etária continuou a registar um excesso de óbitos, que continua ainda em 2022.

    No mês passado, houve mais 248 óbitos certificados em “Outros locais” em comparação com Janeiro de 2020, ou seja, em vésperas do surgimento do SARS-CoV-2 em Portugal. Ou seja, nem sequer se observou um “benefício” da comunidade perante a elevada mortandade na população idosa no primeiro ano da pandemia, o que revela a significativa fragilidade que este grupo etário continua a ter.

    Note-se que, apesar da elevada letalidade da covid-19 em idades avançadas – ao contrário da benignidade desta doença em crianças, adolescentes e jovens adultos –, a covid-19 não terá sido a exclusiva causa desta “razia” em lares.

    Mesmo que a DGS venha agora a divulgar números concretos sobre os lares, os óbitos ali atribuídos ao SARS-CoV-2 estarão, certamente, empolados, uma vez que no ponto 69 da Orientação nº 9 assinada por Graça Freitas, determinou-se que “todo o óbito ocorrido, durante a Pandemia covid-19, numa instituição [ERPI] com casos confirmados de covid-19 ou em utente ou trabalhador que tenha apresentado sintomas compatíveis com a doença, (…) deve ser considerado um ‘caso suspeito’ de infeção por SARS-CoV-2, até prova em contrário, isto é, apresentar resultado negativo incluindo post mortem, se aplicável, no teste laboratorial para SARS-CoV-2.”

    Como quase nunca se fizeram autópsias nestas circunstâncias, todos os idosos que morreram no decurso de surtos em lares levaram com o selo “covid-19” como causa de morte, independentemente do verdadeiro motivo do falecimento ou da eventualidade de ocorrência de negligência ou falta de assistência médica adequada.

  • Ordem judicial obriga desbloqueio de ponte mas manifestantes ganham alento com 9 milhões de dólares

    Ordem judicial obriga desbloqueio de ponte mas manifestantes ganham alento com 9 milhões de dólares

    O terceiro fim-de-semana do Comboio da Liberdade aproxima-se e as posições de ambos os lados continuam irredutíveis, mas civilizadas. Trudeau não aceita negociar; os manifestantes não arredam pé de Ottawa, apesar de se sucederem ordens judiciais. Entretanto, a GoFundMe já é passado; em uma semana, os organizadores conseguiram arrecadar mais do que aquilo que perderam com a decisão da semana passada daquela plataforma de crowdfunding.


    O Tribunal Superior de Justiça de Ontário ordenou o fim do bloqueio da Ambassador Bridge, que liga Windsor a Detroit, e que constitui uma das principais ligações comerciais entre o Canadá e os Estados Unidos.

    A ponte tem estado bloqueada há cinco dias por camionistas integrados no Freedom Convoy, e abre assim mais uma frente de conflito com a aproximação do terceiro fim-de-semana de protestos na capital Ottawa contra as restrições e mandatos impostos pelo Governo de Justin Trudeau.

    A decisão foi tomada em audiência nesta sexta-feira e as especificidades ainda estão a ser finalizadas, de acordo com a CBC News. Com esta medida, a polícia passa a ter uma base legal mais forte para uma intervenção mais musculada, uma vez que os incumprimentos passam a ser crime.

    Contudo, ao longo desta semana, apesar do “estado de emergência” decretado anteontem pelo mayor de Ottawa, Jim Wilson, e da decisão judicial de proibição de buzinadelas dos camionistas, o braço-de-ferro entre o Governo de Justin Trudeau e os manifestantes do Comboio da Liberdade (Freedom Convoy) mantém-se forte. E nenhuma das partes parece desejar ceder.

    Porém, nos últimos dias, outras províncias canadianas têm mostrado sinais de cedência. Na terça-feira passada, foram levantadas várias restrições na província de Saskatchewan, entre as quais o uso de máscara e a proibição de entrada em restaurantes dos não-vacinados. As províncias de Alberta e Quebec também estabeleceram um plano programado de levantamento das restrições até Março.

    Mas na capital as autoridades provinciais e federais têm tido uma postura diferente, tentando eliminar simplesmente os protestos. Na última semana têm procurado “sabotar” o fornecimento de bens aos manifestantes, e sobretudo o financiamento. Recorde-se que, há uma semana, a plataforma de crowdfunding GoFundMe cedeu às pressões do Governo de Justin Trudeau, e bloqueou nove dos 10 milhões de dólares canadianos (cerca de 6,3 milhões de euros), provocando uma fúria dos internautas que colocaram a credibilidade daquele empresa em nível muito baixo.

    Justin Trudeau, primeiro-ministro do Canadá.

    No entanto, para os manifestantes esse revés transformou-se num novo alento: através de uma plataforma similar, a GiveSendGo, foi atingida em apenas uma semana a fasquia dos 9 milhões de dólares americanos, equivalente a quase 8 milhões de euros.

    Esta verba é já superior ao montante “congelado” pelo GoFundMe, que entretanto foi pressionado a devolver integral e automaticamente todas as verbas doadas.

    Porém, as autoridades têm tentado a via judicial para que essas verbas não cheguem ao destino. Se essa é uma possibilidade, o mesmo não sucederá com as bitcoins arrecadadas numa outra campanha de apoio aos manifestantes.

    Na Tallycoin foram já angariadas criptomoedas no valor de mais de 800 mil euros. Por se basear num sistema monetário descentralizado e completamente anonimizado está imune a qualquer interferência judicial e política.

    N.D. – O PÁGINA UM, conforme defendeu em editorial, decidiu suspender a sua angariação pontual de fundos através do GoFundMe, onde tinha angariado 13.884 euros (valor bruto, sem deduções de cerca de 10% em comissões), passando a optar pela plataforma MIGHTYCAUSE.

  • Carta aberta de médicos acusa bastonário Miguel Guimarães de violação deontológica

    Carta aberta de médicos acusa bastonário Miguel Guimarães de violação deontológica

    Uma carta aberta de destacados médicos acusa Miguel Guimarães, bastonário da Ordem dos Médicos, de querer deter “poderes de autoridade científica suprema ou de verdade absoluta”. O PÁGINA UM revela em primeira-mão, em exclusivo, o teor integral de uma dura missiva enviada a todos os órgãos da Ordem dos Médicos, pedindo-lhes que “avaliem os factos recentes e incentivem a que todos os médicos sejam devidamente respeitados”.


    Um conjunto de 23 médicos – entre os quais o catedrático Jorge Torgal (antigo presidente do Infarmed) e o cardiologista Jacinto Gonçalves (vice-presidente da Fundação Portuguesa de Cardiologia) –, e mais dois médicos dentistas, escreveram esta tarde a todos os membros dos vários órgãos da Ordem dos Médicos (OM) acusando o bastonário Miguel Guimarães de “grave violação da dignidade que se espera” do máximo representante desta classe profissional.

    Os signatários da carta, a que o PÁGINA UM teve acesso em primeira-mão – que integram parte do grupo de 91 profissionais de saúde que apelaram ao Governo para suspender a vacinação universal de crianças saudáveis –, acusam Miguel Guimarães de desrespeito e mesmo de violação do Código Deontológico, e recordam ainda que o bastonário é apenas “o representante oficial da OM, mas isso não lhe confere poderes de autoridade científica suprema ou de verdade absoluta”.

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    Em causa está sobretudo a abertura de um processo disciplinar a Jorge Amil Dias, presidente do Colégio de Pediatria da OM, por declarações contra a vacinação contra a covid-19 de crianças saudáveis. Esta decisão da OM surge após uma queixa de 16 médicos, encabeçados por Filipe Froes – um pneumologista com ligações financeiras à Pfizer e outras farmacêuticas. Quase todos são muito próximos ou homens de confiança de Miguel Guimarães.

    Embora seja urologista, nem sequer da área da pediatria, o bastonário tem vindo a menorizar o papel do presidente do Colégio de Pediatria – que sempre falou sobre a vacinação de crianças a título pessoal – e depreciado os médicos signatários daquele abaixo-assinado. E tem argumentado ser apenas ele que deve falar “Não são duas vozes [que há na OM], é só uma, pois o doutor Jorge Amil não fala em nome da Ordem”, esclareceu já Miguel Guimarães em declarações à CNN Portugal.

    Jorge Amil foi alvo de queixa de médicos próximos do bastonário Miguel Guimarães.

    Considerando que esta situação “tem de acabar”, o bastonário anunciou já a convocação de um Conselho Nacional Executivo para discutir o assunto. Em cima da mesa, sabe o PÁGINA UM, está a destituição imediata de Jorge Amil Dias da presidência do Colégio de Pediatria, antes mesmo da conclusão do processo disciplinar, que demorará sempre meses.

    A postura de Miguel Guimarães é duramente criticada agora pelos 25 médicos que entendem que “o conhecimento científico é dinâmico”, tanto assim que, salientam, “alguns países europeus, nomeadamente os nórdicos (Suécia, Dinamarca, Noruega) e até o Reino Unido ou a Alemanha, decidiram reapreciar o benefício da vacinação contra a covid-19 em crianças, e não estão a recomendá-la de forma universal na população infantil.”

    E, lembrando ainda que as afirmações ou convicções científicas de Miguel Guimarães “não reflectem, nem vinculam, toda a população médica”, os subscritores desta carta aberta salientam que “são conhecidos contornos de documentos técnicos de grupos especializados e estatutariamente legitimados dentro da Ordem dos Médicos [como são os casos dos Colégios de Especialidade e de Competência], que devem ser devidamente ponderados nas decisões ou recomendações oficiais da Ordem, e tendo em exclusiva consideração a bondade das recomendações do ponto de vista do interesse dos doentes.”

    Saliente-se que o PÁGINA UM solicitou, no final do ano passado, o acesso a todos os pareceres dos Colégios da Especialidade da Ordem dos Médicos. No entanto, Miguel Guimarães não acedeu ao pedido, tendo a Comissão de Acesso ao Documentos Administrativos dado razão ao PÁGINA UM, mas em moldes dúbios, e para os quais foi pedido uma clarificação que ainda não foi concluída.


    CARTA INTEGRAL – Pode ser descarregada AQUI.

    Dig.mo Bastonário,
    Dig.mo Presidente da Assembleia de Representantes,
    Dig.mos Membros do Conselho Superior,
    Dig.mos Membros do Conselho Nacional,
    da Ordem dos Médicos

    Os signatários fazem parte dum grupo de 90 Médicos, que entenderam subscrever um apelo público para que o programa de vacinação infantil contra a Covid-19 fosse suspenso e reapreciado nas suas vantagens em comparação com os riscos incorridos.

    Esta preocupação decorre do conhecimento de potenciais riscos a curto, médio e longo prazo, da existência de efeitos adversos documentados em registos amplos de farmacovigilância como o VAERS americano, ou a EudraVigilance europeia, para além de centenas de publicações isoladas. Por outro lado, alguns países europeus, nomeadamente os nórdicos (Suécia, Dinamarca, Noruega) e até o Reino Unido ou a Alemanha, decidiram reapreciar o benefício da vacinação contra a Covid-19 em crianças, e não estão a recomendá-la de forma universal na população infantil.

    O apelo formulado pelos médicos subscritores desse documento tem, pois, fundamentação genérica, já que o conhecimento científico é dinâmico, particularmente neste domínio, e não ofendeu as recomendações da Autoridade de Saúde, nem convidou à desobediência civil.

    Os subscritores do apelo são médicos com competência e méritos demonstrados nos respectivos domínios de atividade.

    Todavia, a forma como o Dig.mo Bastonário a eles se referiu nas suas intervenções e comunicados públicos foi depreciativa e violou os deveres de representação profissional e de ética no relacionamento e referência pública.

    A Ordem dos Médicos estabelece princípios de deontologia entre Colegas no seu Art.º 128 do Código Deontológico, que não foram devidamente respeitados pelo Dig.mo Bastonário nas suas declarações públicas ao referir-se aos subscritores. O Dig.mo Bastonário é o representante oficial da Ordem dos Médicos, mas isso não lhe confere poderes de autoridade científica suprema ou de verdade absoluta.

    As suas afirmações ou convicções científicas não refletem, nem vinculam, toda a população médica. São conhecidos contornos de documentos técnicos de grupos especializados e estatutariamente legitimados dentro da Ordem dos Médicos, que devem ser devidamente ponderados nas decisões ou recomendações oficiais da Ordem, e tendo em exclusiva consideração a bondade das recomendações do ponto de vista do interesse dos doentes.

    Cabe a outras entidades tomar a responsabilidade de decisões políticas, pelos motivos que bem entendam considerar.

    Se um grupo de Médicos, neste caso perto de uma centena, faz um apelo público à reapreciação científica duma decisão, espera-se que o seu representante máximo aja com a devida compostura, dignidade e respeito, sugerindo que esse escrutínio seja feito.

    Tratar Colegas dignos e competentes com desprimor e acusá-los sumariamente de falta de rigor, é grave violação da dignidade que se espera do Bastonário da Ordem dos Médicos.

    Por todas estas razões, os signatários apelam a todos os órgãos nacionais da Ordem dos Médicos que avaliem os factos recentes e incentivem a que todos os médicos sejam devidamente respeitados em declarações públicas em nome da Ordem que a todos deve orgulhar.

    Jacinto Gonçalves (OM nº 9882), João Gorjão Clara (OM nº 12251), Ramiro Araújo (OM nº 12477), Jorge Torgal (OM nº 14433), Fernando Torrinha (OM nº 17492), Horácio Costa (OM nº 17788), António Neves Silva (OM nº 18873), Pedro Covas (OM nº 21555), Carlos Diogo de Matos (OM nº 24630), Teresa Gomes Mota (OM nº 27477), Cristina Nogueira (OM nº 30347), Pedro Girão (OM nº 31918), Óscar Prim da Costa (OM nº 35019), Marisa Vieira (OM nº 38193), António Caiado (OM nº 38427), Cristina Nunes (OM nº 40275), Carlos Mata (OM nº 41048), Leonor Boto (43033), Tiago Marques (OM nº 44104), Ana Rita Pereira (OM nº 46566), Sofia Almeida (OM nº 51699), Tiago Araújo dos Santos Silveira (OM nº 51992), Nuno Alfaro Simões (OM nº 55243), Eugénia Matos (OM nº 55288) e Pedro Rabaço (OMD 916).

    10 de fevereiro de 2022