Categoria: Entrevistas

  • Quarto processo judicial: o perseguido vai passar a ‘perseguidor’

    Quarto processo judicial: o perseguido vai passar a ‘perseguidor’


    Não sei se cometo algum crime de violação de segredo de justiça, mas, se assim for, que estas palavras sejam enquadradas no artigo 32º do Código Penal, que estatui que “constitui legítima defesa o facto praticado como meio necessário para repelir a agressão actual e ilícita de interesses juridicamente protegidos do agente ou de terceiro”.

    Esta quinta-feira, dia 26 de Setembro, vou mais uma vez prestar depoimento (ou manter-me em silêncio nesta fase) por uma queixa judicial. Se a memória não me falha, esta será a sexta vez em menos de três anos. Em dois dos processos, houve desistência, três vão avançar para julgamento até porque eu não quis abertura de instrução, que poderia levar ao arquivamento. Estou tão convicto do rigor e justeza do meu trabalho que quero provar esse rigor num tribunal através de uma absolvição.

    Mas há limites para a paciência – e para dar a face. O processo agora em causa resulta, pelo que apurei, de uma queixa da Apifarma (Associação Portuguesa da Indústria Farmacêutica), da Ordem dos Médicos e da Ordem dos Farmacêuticos, e deverá estar relacionada com artigos que fui escrevendo desde Dezembro de 2022 sobre uma famigerada campanha de solidariedade denominada ‘Todos por quem cuida’.

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    A dita campanha teve como principais mentores três pessoas em concreto: Ana Paula Martins – então bastonária da Ordem dos Farmacêuticos e actual ministra da Saúde –, Miguel Guimarães – então bastonário da Ordem dos Médicos e actual deputado e vice-presidente da bancada parlamentar do PSD – e ainda Eurico Castro Alves – actual presidente da secção do Norte da Ordem dos Médicos e, entre outras funções, ‘anfitrião’ nas recentes férias brasileiras do primeiro-ministro Luís Montenegro.

    As notícias originaram-se de uma investigação jornalística do PÁGINA UM que inclui a necessidade de uma intimação no Tribunal Administrativo de Lisboa, uma vez que as entidades envolvidas quiseram esconder os documentos operacionais e contabilísticos. Na análise dessa documentação, acedida por ordem de um tribunal, foi possível apurar que os três envolvidos abriram uma conta pessoal (e não institucional) para gerir os dinheiros da campanha (cerca de 1,3 milhões de euros provenientes de sócios da Apifarma), enganaram o Ministério da Administração Interna sobre a titularidade dessa conta, não pagaram imposto de selo (10% dos montantes acima dos 500 euros), houve facturas falsas em nome da Ordem dos Médicos (a facturação foi feita em nome da Ordem dos Médicos, mas os pagamentos não saíram de lá, mas sim da conta particular, havendo assim condições para a criação de um ‘sazo azul’) e houve ainda declarações falsas para obtenção indevida de benefícios fiscais.

    Uma vez que os três envolvidos (Ana Paula Martins, Miguel Guimarães e Eurico Castro Alves) são profissionais de saúde, deveria ter havido declarações dos montantes recebidos das farmacêuticas no Portal da Transparência e Publicidade, gerido pelo Infarmed; mas tal nunca sucedeu nem o presidente do regulador se mostrou interessado em abrir um processo. A verba amealhada também serviu para um pagamento de serviços do Hospital das Forças Armadas como retribuição da administração de doses de vacinas contra a covid-19 a médicos não-prioritários, contra a norma em vigor da DGS e com o beneplácito activo de Gouveia e Melo.

    Uma súmula deste caso escansaloso pode ser lido nesta notícia recente, embora as primeiras tenham sido publicadas em Dezembro de 2022.

    Durante meses, procurei saber se o Ministério Público abrira qualquer processo. No ano passado, enviei quatro e-mails; este ano foram mais dois. Fiz entretanto, uma denúncia informal. Nada. Silêncio absoluto. O Ministério Público nada fez, pelo menos que seja do meu conhecimento.

    Ana Paula Martins e Miguel Guimarães.

    Mas vai fazer agora, mas ao contrário, tal como já fez com as acusações de Gouveia e Melo, e de mais outra da Ordem dos Médicos (em ‘parceria’ com Miguel Guimarães, Filipe Froes e Luís Varanda) e ainda outra do médico e ‘humanitarian doctor’ Gustavo Carona. Porque, nesses casos, achou por bem acompanhar as acusações, porque é muito mais fácil: basta em meia-dúzia de linha seguir o que dizem os queixosos. Aliás, num dos processos, a magistrada até escreve que o PÁGINA UM é um jornal de se vende em banca, o que exemplifica o grau e qualidade da investigação do Ministério Público…

    Tendo em conta a dimensão do PÁGINA UM, e o facto de eu ser um ‘outsider’ – e não visto com particular simpatia pelos colegas de profissão, até pela minha postura crítica sobre as promiscuidades e erros dos media –, sou um alvo apetecível para aquilo que se denomina  SLAPP – acrónimo, que faz lembrar estalo (slap), para Strategic Lawsuit Against Public Participation. Consiste isto em processos de intimidação, perseguição e silenciamento, quase sempre recorrendo a processos judiciais ou similares, não apenas para desacreditar vozes independentes como para lhes causar danos patrimoniais.

    Na verdade, arrisco-me a que, dentro de pouco tempo, a minha vida seja andar de tribunal em tribunal, de julgamento em julgamento, ainda por cima porque, em abono da verdade, como o Ministério Público não investiga sobre muitos dos ‘casos de política’ que o PÁGINA UM revela (e a outra imprensa intencionalmente não os expande), dá sinais aos infractores para me tentarem silenciar.

    Pois bem, a minha estratégia vai mudar, e existem condições para o anunciar. Embora o papel do jornalismo (e do jornalista) não seja o de ter uma intervenção directa sobre os casos que denuncia – significando assim que, por princípio, um jornalista não deve ser o ‘denunciante’ junto do Ministério Público –, a partir de agora vou começar a apresentar, em casos concretos, denúncias formais junto da Procuradoria-Geral da República. Há, na forja, uma dezena de casos concretos, que serão, em breves anunciados, até porque revelaremos as queixas formais na Procuradoria-Geral da República.

    Deste modo, casos como os da campanha ‘Todos por quem cuida’, envolvendo figuras gradas, podem sempre resultar em investigações contra mim por alegada difamação, mas terão também de resultar em investigações formais do Ministério Público contra os visados.

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    Um jornalista deve ser um simples ‘watchdog’, mas quando o Ministério Público não age, tem de se mudar a estratégia.

    Mostra-se intolerável que, de entre as largas dezenas de ‘casos de polícia’ que o PÁGINA UM tem noticiado em quase três anos, não haja nenhum (com o meu conhecimento) que tenha levado a uma investigação séria da polícia criminal (e do Ministério Público), enquanto eu, à conta disto, tenha já quatro (ou mais) processos judiciais à perna. E tenho a consciência de ter cumprido todos os preceitos de rigor e isenção como jornalista.

    Em suma, a partir de agora, estou pronto para muitas e mais mordidelas nas canelas; mas não posso é aceitar que o Ministério Público cruze os braços quando o PÁGINA UM escreve. Vai ter de descruzar.

    Se os leitores do PÁGINA UM continuarem a manter a confiança e a alargar a base de apoio financeiro, este será um compromisso pessoal, que faremos auxiliados por uma equipa de advogados, porque a democracia defende-se não com cravos na lapela um dia por ano, mas por acções concreta em defesa de direitos, incluindo a liberdade de imprensa.


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  • ‘As autarquias podem ser o motor para acelerar a mudança na sustentabilidade’

    ‘As autarquias podem ser o motor para acelerar a mudança na sustentabilidade’

    Pedro Norton de Matos é um dos principais rostos da sustentabilidade em Portugal e um gestor à frente do seu tempo. Há 17 anos, fundou o Greenfest, o maior evento de sustentabilidade do país. Nesta entrevista ao PÁGINA UM, Norton de Matos defende que, mais do que governos ou do que Bruxelas, as autarquias podem ter um papel crucial para acelerar a mudança em termos de uma sociedade mais sustentável. Também falou sobre a crise nos media e sobre a tendência de polarização e divisão da opinião pública, que tem o efeito perverso de criar cidadãos apáticos e passivos. O gestor deixou ainda críticas às três grandes indústrias: a da guerra; a farmacêutica; e a petrolífera. Numa era em que se instalam no Ocidente ideais autocráticos que visam, nomeadamente, condicionar ou eliminar a liberdade de expressão, Norton de Matos defende que democracia e sustentabilidade são compatíveis. Para o gestor e consultor, mudar comportamentos na área ambiental passar por se premiar as boas práticas, acreditando que são as novas gerações que vão fazer a diferença, mas apelando a um compromisso intergeracional.



    Pedro Norton de Matos criou o Greenfest, o maior evento de sustentabilidade em Portugal, há 17 anos. Na altura, o conceito ESG (siga de ‘Environmental, Social and Governance’) ainda não era um fenómeno no mundo empresarial, nem uma prioridade para muitas empresas. Hoje, sustentabilidade é um critério em muitos negócios e está reflectido em políticas e em práticas.

    Mas ainda há um longo caminho a percorrer em matéria de defesa do ambiente e na criação de uma sociedade sustentável. Pedro Norton de Matos não tem dúvidas de que as novas gerações são determinantes para a mudança mas, no imediato, em Portugal, é o poder local que pode trazer uma maior transformação para um país mais ‘amigo’ do ambiente. “As autarquias são e poderão vir a ser cada vez mais os grandes motores de acelerar a mudança”, disse o mentor do Greenfest numa entrevista ao PÁGINA UM.

    Norton de Matos defendeu que, não só os autarcas estão, muitas vezes, mais tempo no poder do que um primeiro-ministro, como as autarquias têm uma visão mais holística na gestão dos recursos e na resolução de problemas. “Mais do que as coisas acontecerem em Bruxelas ou no Terreiro do Paço, acho que é claramente nas comunidades onde a mudança pode acontecer de uma forma mais eficaz, mais consistente e mais rápida”, frisou.

    Pedro Norton de Matos. (Foto: D.R.)

    Um gestor reputado de topo, (foi presidente-executivo da Unisys Portugal, Espanha e Itália e da operadora ONI), Norton de Matos, decidiu mudar as suas prioridades quando sofreu um enfarte aos 50 anos. Hoje, aos 69 anos, reside em Ponte de Lima e, ao longo dos anos, não só criou o Greenfest como promoveu outros projectos a pensar na sustentabilidade, nomeadamente o Bluefest Portugal, mas também na consultoria e formação, através da Academia G.

    Mas é o Greenfest o ‘empreendimento’ mais conhecido, contando já com 24 edições realizadas em diversos municípios. O evento nasceu em parceria com a Câmara Municipal de Cascais, mas acabou por se alargar a outras partes do país e a outras autarquias, nomeadamente aos municípios de Braga, Porto, Torres Vedras e Valongo. A próximo edição do Greenfest está agendada para os dias 27, 28 e 29 de Setembro, em Braga.

    Nesta entrevista realizada na plataforma Zoom, o gestor e consultor falou sobre como ” as três maiores indústrias do mundo” − a da guerra, a petrolífera, a farmacêutica − moldam e influenciam as políticas e as tendências. “Todos os países europeus vendem armas e, sem hipocrisias de reconhecer isso, há negócio para vender armas”, disse, frisando que “não é difícil instigar [o aparecimento de conflitos armados], seja com ódios religiosos, étnicos ou históricos”, e que “o mais fácil é criar uma guerra”.

    (Foto: D.R.)

    No caso da indústria farmacêutica, salientou que ” temos de estar agradecidos à Ciência, à tecnologia, por grandes evoluções das décadas, mas vemos também a perversidade de negócios, em que as fronteiras levantam dúvidas”, estranhando “ver tantos especialistas com tantas certezas, a defender posições, quando seria mais honesto, até intelectualmente, mostrar algumas dúvidas, e não certezas cegas”.

    Também comentou a crise na comunicação social em Portugal, destacando a importância de se “valorizar muito e elogiar projetos independentes, que lutam quase contra tudo e todos, quando estão a fazer um serviço público de primaríssima utilidade”. Para Norton de Matos, “há uma perversa dependência [de grupos de media] e que leva, portanto, a adulterar completamente” a informação. “Os médicos fugiram do ideal do Hipócrates; os Jogos Olímpicos fugiram do ideal de Pierre Coubertain; e os jornalistas têm fugido (…) do jornalismo rigoroso”, lamentou.

    Também criticou o facto de no espaço mediático e público, das redes sociais, haver polarização de temas e observou que “a maioria que não está polarizada, é uma maioria que, em muitos casos, quase que é convidada à inação, porque fica tão dividida”.

    Num mundo cada vez mais polarizado e em que temas de relevo como o da defesa do ambiente são politizados, assiste-se ao regresso de políticas e ideologias em prol da censura e da eliminação da liberdade de expressão. Mas, para Norton de Matos, a democracia “é claramente compatível [com a defesa do ambiente] e é o único modelo” em que se revê, afastando a implementação de ideais autocráticos, os quais estão em ascensão no Ocidente.


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  • Mendo Castro Henriques

    Mendo Castro Henriques

    Na nona sessão de BIBLIOTECA DO PÁGINA UM, Pedro Almeida Vieira conversa com o filósofo e escritor Mendo Castro Henriques



    Nascido em Lisboa em 1953, Mendo Castro Henriques teve uma longa carreira de professor na Universidade Católica Portuguesa, mantendo-se ainda bastante ativo na área da filosofia e da defesa. Além do seu trabalho acadêmico, manteve uma intensa actividade cívica, incluindo a fundação e presidência do partido centrista e social-democrata Nós, Cidadãos!, entre 2015 e 2020, tendo também sido secretário da Comissão das Comunidades Lusófonas e vice-presidente da Associação Portuguesa Ética e Transparência.

    Mendo Castro Henriques fotografado na Biblioteca do PÁGINA UM.

    Embora se destaque sobretudo pela produção ensaísta, em 2010 publicou o romance do gênero histórico ‘Vencer ou morrer’, publicado em 2010, com cenário nas invasões napoleónicas.

    Numa conversa com Pedro Almeida Vieira, Mendo Castro Henriques fala do seu trabalho como filósofo e investigador na área da defesa, perspectivando a sua experiência no atual mundo em convulsão. Mas há também tempo para abordar a sua experiência como romancista e, em especial, sobre o desafio que agora inicia no PÁGINA UM, com a publicação do folhetim ‘O improvável tio Fred’, baseado na vida de Frédéric Kohn-Abrest (1850-1893).

    Entre as obras patentes na BIBLIOTECA DO PÁGINA UM, Mendo Castro Henriques escolheu os folhetins de Rocha Martins, publicados sob o título ‘Heróis, Santos e Mártires da Pátria’, o romance de cavalaria ‘Artur, rei da Bretanha e os cavaleiros da Távola Redonda’, de Arthur Lambert da Fonseca, publicado em 1960, e ainda ‘O prisioneiro da Torre Velha’, de Fernando Campos, originalmente editado em 2003.

    Pormenor da biblioteca ‘caseira’ de Mendo Castro Henriques.

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  • ‘A Cultura cria valor, cria um impacto, não é só animação’

    ‘A Cultura cria valor, cria um impacto, não é só animação’

    Marta Silva preside à cooperativa cultural Largo Residências, cuja actividade tem sido marcada pela crise no acesso a habitação na capital, o processo de gentrificação da cidade e a explosão do turismo. Depois de ter tido a sua ‘casa’ no Largo do Intendente durante 11 anos, a cooperativa foi promotora, durante um ano, de um pólo cultural ‘pop up’ no quartel da GNR do Largo do Cabeço de Bola, também na freguesia de Arroios. Recentemente, passou a ocupar parte das instalações do antigo hospital psiquiátrico Miguel Bombarda, onde criou o centro cultural e comunitário Jardins do Bombarda. Distinguida como uma das cinco maiores cooperativas do género do país, em 2019, a Largo Residências também se tem destacado em projectos de inclusão social e desenvolvimento local, com programas voltados para a comunidade, mas também para o apoio a artistas, nomeadamente refugiados. Nesta entrevista ao PÁGINA UM, Marta Silva destaca o papel da cultura, enquanto “cola” e função “estruturante de relações, de criação de sentimentos de pertença”, e frisa que é crucial que os decisores políticos percebam que esta actividade não é só animação. A presidente da cooperativa também elabora sobre o programa de actividades nos Jardins do Bombarda, nomeadamente a primeira conferência internacional sobre ‘Terceiros Lugares’, um tipo de espaços colaborativos, que se realiza em Outubro.



    Foi considerada, em 2019, uma das cinco maiores cooperativas culturais do país. Mas essa distinção, entre outras, e o seu papel na área de inclusão social e desenvolvimento local não foram suficientes para tornar a cooperativa Largo Residências imune à forte crise no acesso a habitação que tem assolado o país, nomeadamente na capital, e que afectou as suas actividades nos últimos anos.

    A gentrificação da cidade, a par da explosão do valor dos imóveis e do negócio do alojamento local, deixou a Largo sem casa. Depois de 11 anos a desenvolver a sua actividade no Largo do Intendente, a cooperativa presidida por Marta Silva teve de procurar ‘casa’ nova. Durante um ano, promoveu um pólo cultural ‘pop up‘, temporário portanto, no quartel da GNR no Largo do Cabeço de Bola, também na freguesia de Arroios. Recentemente, passou a ocupar parte das instalações do antigo hospital psiquiátrico Miguel Bombarda, onde criou o centro Jardins do Bombarda.

    Marta Silva, presidente da cooperativa Largo Residências, na redacção do PÁGINA UM. (Foto: D.R.)

    Marta Silva, 45 anos, foi co-fundadora da Associação SOU, criada em 2007, com sede em Arroios, um projecto de formação e programação em artes performativas, que deu origem à criação, em 2012, da cooperativa Largo Residências. Para a gestora cultural, “as cidades, para serem sustentáveis, precisam de projectos sem fins lucrativos e que reconhecem o cidadão e o desenvolvimento local como prioritário”.

    Nesta entrevista ao PÁGINA UM, destaca que “a Cultura cria valor, cria um impacto, que não é só activação, não é só animação. Ela é estruturante de relações, de criação de sentimentos de pertença e é uma cola sem a qual a cidade vai desmoronar”. E diz os agentes têm de ser vistos como interventores territoriais estruturantes e “de criação de cidade”.

    Marta Silva também salientou o papel fundamental da participação cívica. “Não podemos encarar o acto de participação com ouvir opiniões”, disse. Para Marta Silva, “infelizmente, ainda estamos todos longe de perceber o que é realmente participar. Hoje em dia, há uma tendência em falar de um processo participativo, quando estamos simplesmente a informar ou a recolher opiniões, e isso não é um processo participativo”.

    A presidente da Largo, além de ser gestora, desenvolveu a sua actividade em torno da dança e do ensino. Este ano recebeu o prémio ‘Melhores Produtores Culturais 2023’ da sexta edição do Prémio Natércia Campos, atribuído pela Academia de Produtores Culturais.

    No leme da Largo Residências, Marta Silva acompanhou, de igual modo,todo o processo de transformação do Intendente e zonas adjacentes causada pelos movimentos de imigração, turismo e valorização imobiliária.

    Agora, nos Jardins do Bombarda, a cooperativa continua com o seu programa de residências de artistas, que tem o apoio da Câmara Municipal de Lisboa. Tem também o programa residências-refúgio, que é apoiado pela Fundação Calouste Gulbenkian, o qual acolhe, actualmente, cinco artistas em situação de refúgio.

    (Foto: D.R.)

    No espaço encontram-se ainda um restaurante, uma loja, um jardim onde se pode organizar eventos, e diversas zonas para actividades e programas diversos. O espaço é aberto ao público e também acolhe actividades originadas na comunidade.

    Em preparação, está a sala-estúdio Valentim de Barros para acolher espectáculos e que homenageia um dos primeiros bailarinos portugueses com carreira internacional, o qual, sendo homossexual, foi institucionalizado no Miguel Bombarda, tendo lá vivido mais de quatro décadas.

    Também em preparação, está a I Conferência Internacional ‘Terceiros Lugares’ em Portugal, dedicada a esta tipologia de espaços colaborativos. Trata-se de entidades do terceiro sector, ou seja, que não estão ligadas nem ao sector público nem ao privado, que ocupam temporariamente antigos espaços com outros usos, como antigas fábricas ou hospitais, com o objectivo final de ter um impacto mais territorial, de inclusão, desenvolvimento local, social e económico, a dimensão da comunidade e do cidadão. O evento vai decorrer nos dias 11 e 12 de Outubro, sendo que nos dois últimos dias haverá workshops nos Jardins do Bombarda.


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  • Filipa Fonseca Silva

    Filipa Fonseca Silva

    Na décima sessão de BIBLIOTECA DO PÁGINA UM, Pedro Almeida Vieira conversa com a escritora Filipa Fonseca Silva



    A licenciatura em Comunicação Social e Cultural na Universidade Católica quase a ‘chamou’ para o jornalismo, mas Filipa Fonseca Silva, nascida no Barreiro em 1979, acabou ‘puxada’ pela publicidade, onde desenvolveu intensa actividade profissional até 2017.

    Entretanto, em 2011 estreou-se no mundo literário com o romance ‘Os 30 – nada é como sonhámos’, cuja versão inglesa a levou ao Top 100 da Amazon, sendo a única autora portuguesa a alcançar essa posição.

    Depois, não parou: publicou mais seis obras de ficção e dois livros de humor, além de crónicas, contos e ensaios, tendo publicado recentemente o romance distópico ‘Admirável mundo verde’.

    Filipa Fonseca Silva fotografada na Biblioteca do PÁGINA UM.

    Numa conversa descontraída com Pedro Almeida Vieira, Filipa Fonseca Silva debruça-se sobre o seu percurso profissional, pessoal e literário, mas também sobre um dos seus maiores ‘desafios’: o Clube das Mulheres Escritoras, que congrega já cerca de duas dezenas de autoras (com obra feita), com o qual pretende dinamizar mais a promoção da escrita no feminino.

    Entre as obras patentes na BIBLIOTECA DO PÁGINA UM, Filipa Fonseca Silva escolheu um romance (não histórico) de Miguel Real, ‘O último minuto da vida de Saramago’, e também o romance ‘Os olhos de Tirésias’, de Cristina Drios, publicado em 2013, e a tetralogia ‘Uma História Privada’, de Luísa Beltrão, constituída pelos romances ‘Os pioneiros’, ‘Os impetuosos’, ‘Os bem-aventurados’ e ‘Os mal-amados’, publicados entre 1994 e 1999.

    Pormenor da biblioteca ‘caseira’ de Filipa Fonseca Silva.

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  • ‘Os últimos oito anos foram desastrosos para o mercado de arrendamento’

    ‘Os últimos oito anos foram desastrosos para o mercado de arrendamento’

    Luís Menezes Leitão, 60 anos, presidente da Associação Lisbonense de Proprietários, não tem dúvidas de que o que mais contribuiu para a actual crise no acesso a habitação em Portugal foram as medidas “hostis” impostas pelos governos socialistas de António Costa, que lesaram proprietários e inquilinos. Frisou que muitos proprietários desistiram de arrendar e desmente informações divulgadas nos media de que existe uma grande fatia de arrendamentos sem contrato e não declarados ao Fisco. Militante do PSD, o advogado também se mostrou muito desiludido com a forte viragem à esquerda do partido e pela ausência de políticas diferentes das dos socialistas. Nesta entrevista ao PÁGINA UM, o ex-bastonário da Ordem dos Advogados também alertou que está a haver uma tentativa de interferência do poder político no poder judicial, o que considera preocupante. Também receia que, no futuro, se possa repetir a violação dos direitos fundamentais dos portugueses e o desrespeito pela Constituição que se observou durante a pandemia de covid-19. Sobre o sector da Justiça, apontou que a situação calamitosa em que se encontram os tribunais administrativos e fiscais favorece a impunidade de políticos e constitui uma ameaça à democracia.



    Luís Menezes Leitão não tem dúvidas: o principal responsável pela crise no sector da habitação, nomeadamente do mercado de arrendamento, é António Costa. O presidente da Associação Lisbonense de Proprietários (ALP) reconhece que a tendência internacional de crescimento do alojamento local ajudou à crise, mas culpa os dois últimos governos socialistas pelo que considera ser um retrocesso das políticas relativas ao sector, com medidas que lesaram tanto proprietários, como inquilinos.

    Para o advogado, “grande parte do que se está a passar na elevação dos valores das rendas resultou de o governo anterior ter adoptado uma política de tal forma hostil aos proprietários que levou que grande parte deles desistissem de se manter no mercado de arrendamento”. Apontou que “a cereja no topo do bolo foi quando se decidiu o travão à subida das rendas”.

    Segundo Luís Menezes Leitão, “estes últimos 8 anos foram desastrosos”, o anterior primeiro-ministro, António Costa, a conseguir destruir em semanas o que tinha levado décadas a conseguir.

    Luís Menezes Leitão. (Foto: D.R./Ordem dos Advogados)

    Com cerca de 10.000 associados, a ALP é a mais antiga estrutura representativa de proprietários urbanos a nível nacional. Fundada em Fevereiro de 1888, preside à Confederação Portuguesa de Proprietários e ocupa actualmente a vice-presidência da União Internacional da Propriedade Imobiliária (UIPI). Apesar de centenária, a associação ainda luta, no século XXI, por eliminar medidas já muito antigas, como o congelamento de rendas que, segundo o presidente da ALP, provoca uma distorção no mercado, obrigando proprietários a ter rendas mais elevadas para compensar rendas congeladas. Aliás, a ALP tem promovido uma petição pública Pelo Fim Imediato do Congelamento de Rendas em Portugal, que conta com mais de 2.500 assinaturas.

    Apesar de esperar que o actual governo suportado pela AD (PSD/CDS-PP) possa avançar com soluções para os problemas do sector, tem pouco esperança. Um militante do PSD, o advogado lamenta que, “nos últimos anos, o partido tenha virado muito à esquerda”. Afirmou que se nota, “infelizmente, uma política muito próxima do que defende o PS”. E defendeu que “essa viragem do partido à esquerda e tem contribuído para terem surgido outros partidos à direita”, como o Chega.

    Para o presidente da ALP, não “parece que seja muito correcto um partido do governo que aspira ser alternativa e que defende exactamente as mesmas políticas que o partido do anterior governo, apenas com algumas nuances”. Frisou que “era esperado que houvesse uma postura mais reformista e uma viragem no que se tinha passado”, mas “o que se tem visto é praticamente uma evolução na continuidade” porque “não vimos nenhuma reforma e nenhuma viragem digna desse nome como muitos esperavam” e ele próprio esperava.

    Comentando a actual situação da Justiça, o ex-bastonário da Ordem dos Advogados considera que podemos estar “perante um ataque concertado ao Ministério Público”, já que existem inúmeros comentários e movimentos de políticos com vista a que haja uma interferência do poder político no poder judicial.

    (Foto: D.R./ALP)

    “Não podemos cair na questão de tentar um controlo do Ministério Público por parte do poder político. É isso que está em curso. Está em curso com o Manifesto dos 50, que é um manifesto de políticos para defender que os políticos controlem o Ministério Público”, afirmou.

    Reconheceu que “é preciso voltar a credibilizar a nossa justiça”. “Mas também estamos a ter simultaneamente uma tentativa de intervenção do poder político na Justiça que me parece bastante preocupante”, avisou.

    O ex-bastonário também alertou para a situação calamitosa em que se encontra a Justiça administrativa e fiscal. Mas apontou que os políticos beneficiam com a situação, pois se houver cidadãos que os queiram responsabilizar, só haverá decisões em 10 anos, quando já ninguém se interessar pelo tema. Para o advogado, esta situação põe em causa a responsabilização efectiva do poder político e constitui um problema para a nossa democracia.

    Luís Menezes Leitão, que foi um dos críticos das medidas inconstitucionais impostas em Portugal durante a pandemia de covid-19, teme que os direitos fundamentais dos portugueses voltem a ser violados no futuro.  “Fiquei bastante chocado com o que se passou, na altura. Surgiram uma série de medidas inconstitucionais que o Parlamento, praticamente, aprovava ‘de cruz’”, disse. Por outro lado, defendeu que “devia ter havido imensas entidades que tinham competência para fazer a fiscalização da constitucionalidade, mas nada fizeram”, nomeadamente a Procuradoria-Geral da República e a Provedora de Justiça. Acresce que “não se viu uma oposição eficaz dos partidos da oposição”. Ou seja, “o nosso sistema constitucional foi colocado à prova” e mostrou ser “frágil”, o que “é preocupante”.

    “Tenho algum receio que a situação se volte a repetir. Infelizmente, nós não temos visto, quer da parte de alguma opinião pública, quer especialmente por parte do poder político, o facto de se tomar consciência do que se podia ter feito e o que se devia fazer”, lamentou. E concluiu: “só num país como Portugal, se pode ouvir um primeiro-ministro dizer que um confinamento é para manter, diga o que disser a Constituição”.


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  • José Riço Direitinho

    José Riço Direitinho

    Na oitava sessão de BIBLIOTECA DO PÁGINA UM, Pedro Almeida Vieira conversa com o escritor e crítico literário José Riço Direitinho.



    Enquanto estudava Agronomia, José Riço Direitinho ‘nasceu’ para a arte da escrita na ‘escola’ do suplemento DN Jovem, que lhe abriu portas para uma auspiciosa estreia com o livro de contos ‘A casa do fim’, em 1992, a que se seguiram os muito aclamados ‘Breviário das más inclinações’ (1994) e ‘Relógio do cárcere’ (1997).

    Embora a sua produção literária tenha ‘acalmado’ durante alguns anos, passou nesse interregno a olhar mais para os livros dos outros, tornando-se um prestigiado crítico literário, acabando mesmo por ser uma espécie de ‘embaixador’ da literatura nórdica em Portugal, sobretudo de romances noruegueses.

    Em 2018 surpreendeu com um regresso numa temática ousada – o erotismo – com ‘O escuro que te ilumina’.

    José Riço Direitinho fotografado na Biblioteca do PÁGINA UM.

    Numa conversa descontraída com Pedro Almeida Vieira, José Riço Direitinho fala do seu percurso como engenheiro, como escritor e como crítico literário, e sobre como tudo isto se ligou (ou não), bem como sobre os novos autores portugueses e a sua paixão pela literatura nórdica, e como a Noruega aposta na promoção da sua Literatura.  

    De entre as obras patentes na BIBLIOTECA DO PÁGINA UM, José Riço Direitinho escolheu ‘A voz dos deuses, de João Aguiar, publicado em 1984, e ‘Um deus passeando pela brisa da tarde’, com primeira edição em 1994.

    Pormenor da biblioteca ‘caseira’ de José Riço Direitinho.

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  • Causas do incêndio da Madeira: ‘Na cabeça dos políticos menos ilustrados, o algoritmo é a precedência da vontade popular’

    Causas do incêndio da Madeira: ‘Na cabeça dos políticos menos ilustrados, o algoritmo é a precedência da vontade popular’

    Licenciado e doutorado em Engenharia Florestal pelo Instituto Superior de Agronomia, Jorge Capelo é um dos mais conceituados investigadores de ciências vegetais de comunidades mediterrânicas e macaronésias, que abrangem a floresta laurissilva, na ilha da Madeira.

    Numa conversa descontraída com Pedro Almeida Vieira, o responsável pelo herbário do Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária (INAV), e também professor convidado da Universidade da Madeira, fala, a título pessoal, das riquezas da floresta madeirense e de tudo aquilo que se perdeu no recente incêndio, que destruiu mais de 5.000 hectares.

    Mas houve também oportunidade para uma abordagem mais didáctica sobre a Botânica e as suas estórias, o seu estudo e sobretudo as valias das plantas.


    Jorge Capelo fotografado no PÁGINA UM.

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  • Sérgio Luís de Carvalho

    Sérgio Luís de Carvalho

    Na sétima sessão de BIBLIOTECA DO PÁGINA UM, Pedro Almeida Vieira conversa com o escritor, historiador e professor Sérgio Luís de Carvalho.



    Um dos mais profícuos escritores do género histórico, Sérgio Luís de Carvalho atravessa, com a sua escrita, quase todos os tempos, debruçando-se sobre os variados temas como se os tivesse conhecido in loco e in illo tempore. Desde 1989, com o seu romance de estreia, Anno Domini 1348, que aborda os tenebrosos tempos da peste negra, contabiliza 14 romances, que transcorrem em quase todos os séculos desde a Idade Média – que foi, aliás, o seu foco de interesse quando decidiu fazer o mestrado – até ao século XX.

    Além da ficção, tem sido um dedicado divulgador de História, com vários livros publicados, e de particularidades da língua portuguesa, estando agora a desenvolver um conjunto de obras em torno da influência de povos, culturas e ideologias em Lisboa, de que são exemplo ‘Lisboa Árabe’, ‘Lisboa Judaica’, ‘Lisboa Nazi’ e ‘Lisboa Maldita’.

    Numa conversa descontraída (e de amigos) com Pedro Almeida Vieira, Sérgio Luís de Carvalho fala sobre a sua produção literária – ‘viajando’ por todos os seus romances que estão na Biblioteca do PÁGINA UM –, sobre como concilia com as aulas numa escola secundária de Mem Martins, sobre os seus conhecimentos históricos e como podem perspectivar aquilo que ocorre nos nossos dias. E debate-se ainda criticamente a forma como se estão a perder os direitos de expressão e de lutas sociais por força da ‘ideologia do cancelamento’ e da manipulação.

    Sérgio Luís de Carvalho fotografado na Biblioteca do PÁGINA UM.

    De entre as obras patentes na BIBLIOTECA DO PÁGINA UM, Sérgio Luís de Carvalho sugeriu os contos compilados em ‘Lendas e Narrativas’, de Alexandre Herculano, em dois volumes publicados em 1851; ‘A ilustres Casa de Ramires’, de Eça de Queirós, publicado em 1900, no ano da morte do escritor; e ainda o conto ‘Última corrida de touros em Salvaterra’, de Rebelo da Silva, integrado no livro ‘Contos e lendas’, originalmente publicado em 1873.

    Pormenor da biblioteca ‘caseira’ de Sérgio Luís de Carvalho.

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  • ‘Se forem embora os turistas, é o colapso da Economia portuguesa’

    ‘Se forem embora os turistas, é o colapso da Economia portuguesa’

    João Duque, presidente do ISEG-Instituto Superior de Economia e Gestão, fala com paixão da ‘sua’ escola, que tem raízes históricas, e do ensino. Nesta entrevista, que decorreu na sede do PÁGINA UM, o professor catedrático de Finanças, de 63 anos, falou sobre os projectos do ISEG e de como a escola é cada vez mais internacional, mas portuguesa, com uma cultura que promove a diversidade de ideias e o debate. Sobre a economia portuguesa, sublinhou os perigos de um modelo económico assente no turismo e no trabalho não qualificado e mal remunerado. Na política, deu um ‘Bom -‘ aos seis meses de governação de Luís Montenegro, até porque, com António Costa, sentia que o país “estava a morrer em lume brando”. João Duque alertou que a demografia é o maior risco e desafio que Portugal enfrenta e que o país deve criar incentivos para atrair imigrantes qualificados e também jovens. Um europeísta convicto, defendeu que, na União Europeia, Portugal deve ter uma voz activa e não ser subserviente e apontou que o perigo são os burocratas com poder, mas não eleitos.



    O turismo é como oxigénio para a Economia portuguesa, mas está a dar sinais de fadiga. Por isso, João Duque, presidente do Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG), recomenda que o Governo crie um novo modelo, com uma economia “assente no conhecimento e no investimento”.

    Nesta entrevista, que decorreu na sede do PÁGINA UM, em Lisboa, o professor catedrático de Finanças defendeu ainda a criação de incentivos para o país conseguir atrair imigrantes qualificados e também jovens, já que a demografia, com o progressivo envelhecimento da população, é o principal desafio que Portugal enfrenta. E aguarda para ver se o primeiro-ministro, Luís Montenegro, vai concretizar a ideia pré-eleitoral de o país vir a pagar a jovens para virem para Portugal estudar, o que poderia ter impacto no modelo de financiamento das universidades, fazendo uma “diferença colossal”, pela positiva.

    Na política, deu nota positiva aos seis meses de governação da AD, mas deixou avisos. “Temos crescido muito com o turismo e estamos a chegar àquele nível de mudar da simpatia para a antipatia e é perigoso. Se forem embora os turistas, é o colapso da Economia portuguesa”, disse João Duque. Defendeu que “o plano é manter o turismo e estimular e fazer crescer outros sectores” de valor acrescentado.

    João Duque, presidente do ISEG desde 2022. O professor catedrático de Finanças já tinha presidido ao ISEG entre 2009 e 2014. (Foto: D.R./ISEG)

    Crítico do Governo de António Costa, João Duque defendeu o diálogo entre o PS e a AD, como a melhor opção para o futuro do país. “Com António Costa, sentia-me como um caracol, a morrer em lume brando”, afirmou. Na actual conjuntura, considera que o Governo “ainda anda a aprender a dançar com o PS e Pedro Nuno Santos”. “Isto é um tango e ainda não se encontraram”, disse.

    Também lamentou que os políticos mudem assim que “chegam ao Terreiro do Paço” e que deviam ter como missão servir o país e não os partidos. “É a questão do poder”, afirmou.

    Como europeísta convicto, não deixa de apontar alguns perigos que existem na União Europeia, com destaque para os burocratas com poder e não eleitos, os quais precisam ser escrutinados e contrariados pelos políticos que receberam os votos dos europeus. Também avisou que pode haver, no futuro, uma ruptura cultural, se a entrada de imigrantes de culturas diversas se descontrolar.

    Mas os seus olhos brilham é quando fala da família e também do ‘seu’ ISEG, que classifica de escola internacional, mas portuguesa. “É preciso saber que, quando se entra no ISEG, há uma sardinha em cima de uma fatia de pão para comer; não são hambúrgueres”, afirmou. A escola tem, actualmente, cerca de 5400 alunos de 40 nacionalidades diferentes.

    João Duque, fotografado no PÁGINA UM.

    Lembrou que metade do financiamento do ISEG vem dos cofres públicos e que a escola vai continuar a ensinar em português. Fundado oficialmente em 1911, recordou que o ISEG tem raízes históricas, que remontam ao Instituto do Comércio criado por Marquês de Pombal, em meados do século XVIII.

    A escola, que já é reconhecida internacionalmente, acaba obter a acreditação das grandes associações de internacionalização, o chamado ‘triple crown‘, e também aderiu, recentemente, à rede internacional de ‘business schools’ Hermes.

    Nesta entrevista, João Duque fala de alguns dos projectos do ISEG, como o projecto de apoio, com bolsas, a novos alunos. Em 2023, foram 80 os alunos que beneficiaram desse apoio. E, numa época em que a ‘moda’ é a cultura de cancelamento e a defesa do ‘pensamento único’ em muitas áreas, João Duque salientou que no ISEG se promove a diversidade de pensamento e o debate de ideias, afastando dogmatismos.


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