Autor: Vítor Ilharco

  • Uma crónica ao alcance de todos

    Uma crónica ao alcance de todos


    Sobre este artigo de opinião, o PÁGINA UM apenas tem a dizer que não existe qualquer erro de paginação, correspondendo integralmente ao que foi enviado pelo seu autor.


    António Costa, que se viu forçado a pedir a demissão do cargo de Primeiro-Ministro, fazendo cair um Governo eleito com maioria absoluta, devido a uma suspeição do Ministério Público sobre a sua honestidade, viu agora o mesmíssimo Ministério Público reconhecer que não há qualquer razão para o constituir arguido.

    Não há notícia de qualquer demissão no Ministério Público!

    António Costa, que se viu forçado a pedir a demissão do cargo de Primeiro-Ministro, fazendo cair um Governo eleito com maioria absoluta, devido a uma suspeição do Ministério Público sobre a sua honestidade, viu agora o mesmíssimo Ministério Público reconhecer que não há qualquer razão para o constituir arguido.

    Não há notícia de qualquer demissão no Ministério Público!

    António Costa, que se viu forçado a pedir a demissão do cargo de Primeiro-Ministro, fazendo cair um Governo eleito com maioria absoluta, devido a uma suspeição do Ministério Público sobre a sua honestidade, viu agora o mesmíssimo Ministério Público reconhecer que não há qualquer razão para o constituir arguido.

    Não há notícia de qualquer demissão no Ministério Público!

    António Costa, que se viu forçado a pedir a demissão do cargo de Primeiro-Ministro, fazendo cair um Governo eleito com maioria absoluta, devido a uma suspeição do Ministério Público sobre a sua honestidade, viu agora o mesmíssimo Ministério Público reconhecer que não há qualquer razão para o constituir arguido.

    Não há notícia de qualquer demissão no Ministério Público!

    António Costa, que se viu forçado a pedir a demissão do cargo de Primeiro-Ministro, fazendo cair um Governo eleito com maioria absoluta, devido a uma suspeição do Ministério Público sobre a sua honestidade, viu agora o mesmíssimo Ministério Público reconhecer que não há qualquer razão para o constituir arguido.

    Não há notícia de qualquer demissão no Ministério Público!

    António Costa, que se viu forçado a pedir a demissão do cargo de Primeiro-Ministro, fazendo cair um Governo eleito com maioria absoluta, devido a uma suspeição do Ministério Público sobre a sua honestidade, viu agora o mesmíssimo Ministério Público reconhecer que não há qualquer razão para o constituir arguido.

    Não há notícia de qualquer demissão no Ministério Público!

    António Costa, que se viu forçado a pedir a demissão do cargo de Primeiro-Ministro, fazendo cair um Governo eleito com maioria absoluta, devido a uma suspeição do Ministério Público sobre a sua honestidade, viu agora o mesmíssimo Ministério Público reconhecer que não há qualquer razão para o constituir arguido.

    Não há notícia de qualquer demissão no Ministério Público!

    António Costa, que se viu forçado a pedir a demissão do cargo de Primeiro-Ministro, fazendo cair um Governo eleito com maioria absoluta, devido a uma suspeição do Ministério Público sobre a sua honestidade, viu agora o mesmíssimo Ministério Público reconhecer que não há qualquer razão para o constituir arguido.

    Não há notícia de qualquer demissão no Ministério Público!

    António Costa, que se viu forçado a pedir a demissão do cargo de Primeiro-Ministro, fazendo cair um Governo eleito com maioria absoluta, devido a uma suspeição do Ministério Público sobre a sua honestidade, viu agora o mesmíssimo Ministério Público reconhecer que não há qualquer razão para o constituir arguido.

    Não há notícia de qualquer demissão no Ministério Público!

    António Costa, que se viu forçado a pedir a demissão do cargo de Primeiro-Ministro, fazendo cair um Governo eleito com maioria absoluta, devido a uma suspeição do Ministério Público sobre a sua honestidade, viu agora o mesmíssimo Ministério Público reconhecer que não há qualquer razão para o constituir arguido.

    Não há notícia de qualquer demissão no Ministério Público!

    Espero ter sido claro.

    Vítor Ilharco é assessor


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.


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    Nascemos em Dezembro de 2021. Acreditamos que a qualidade e independência são valores reconhecidos pelos leitores. Fazemos jornalismo sem medos nem concessões. Não dependemos de grupos económicos nem do Estado. Não temos publicidade. Não temos dívidas. Não fazemos fretes. Fazemos jornalismo para os leitores, mas só sobreviveremos com o seu apoio financeiro. Apoie AQUI, de forma regular ou pontual.

  • Joana, uma mulher de armas

    Joana, uma mulher de armas


    Joana Amaral Dias, que se apresenta como psicóloga e comentadora televisiva, decidiu, aos 51 anos, regressar à política depois de, garante, ter “recebido vários convites de partidos para concorrer às eleições europeias”.

    Uma verdade um tanto exagerada, mas… verdade.

    Na realidade, tinha sido convidada pelo ex-Partido dos Reformados, que acabou por mudar de nome, por “exigência” dela, sendo que depois optou por se candidatar pelo ADN.

    Desde logo anunciou, numa entrevista ao Sapo, uma série de explicações para a sua decisão. Disse que por não poder ir a solo escolheu o partido com cujas ideias mais se identifica, para concorrer às eleições mais importantes, não apenas porque é em Bruxelas que se tomam as decisões, mas porque serão estes os anos que vão definir a Agenda 2030, que tem sido imposta aos cidadãos.

    (Fotografia: Júlia Oliveira)

    E apontou medidas originais para a campanha:

    Eu sempre fui pela acção direta, por mostrar como as coisas se passam – e vou continuar esta campanha com momentos muito surpreendentes para os portugueses, nesta linha de estar na rua a mostrar como é que, de facto, as coisas se passam. Vamos fazer a campanha mais criativa alguma vez vista. Temos acções preparadas espectaculares, mas todas elas respeitando totalmente aquilo que são os bens materiais e a integridade física de toda a gente“.

    E prometeu ainda, se as televisões não voltarem atrás, como não voltaram, na decisão de a chamarem para debates, que então será ela a comvidar os adversários. “E só não virão os medricas”, garantiu já.

    Quanto à primeira dessas medidas começou a surpreender logo na primeira frase da sua apresentação ao negar que o ADN fosse “um partido de extrema-direita” e salientando que “eu sou exactamente a mesma, não houve nenhuma mudança brutal no meu caminho. Há quem diga que eu quero um tacho, mas eu estou é a arriscar muito“.

    Fui ouvir, de novo, algumas declarações de Bruno Fialho, o presidente deste partido, para perceber porque estava eu convencido do contrário e se deveria corrigir a minha opinião.

    Revi uma entrevista televisiva onde o líder mostrava o seu próprio ADN em relação à imigração.

    Explicava ele:

    “Só deviam deixar entrar em Portugal imigrantes que:

    1º – Tivessem um seguro de saúde, porque não poderiam utilizar, nos primeiros seis meses, o SNS.”

    2º – Tivessem capacidade financeira para estarem cá.

    3º – Fossem portadores de contratos de trabalho.”

    Tudo medidas que ele considera que qualquer imigrante só não consegue por má vontade e gente complicada, pensa(?), deve ser proibida de entrar neste País de gente simples.

    Depois apresentava uma única solução para acabar com o que considera serem os principais problemas do País:

    “Os imigrantes, os deputados que escrevem leis a apoiá-los, os militantes da extrema-esquerda, os amigos do Lula em Portugal, deveriam ser, todos, enviados para o Tarrafal.”

    Nem o facto de Tarrafal ficar num outro País, soberano e amigo, onde provavelmente não o deixariam entrar a ele, por medidas de higiene, o impediu de considerar esta sua “ideia” como excelente e democrática.

    Acabou mesmo por esclarecer que as suas palavras não correspondem a “xenofobia, nem discriminação”, mas bem pelo contrário, eram sinais de “bom senso”.

    Fiquei esclarecido e passei à fase dos debates.

    Tal como Joana Amaral Dias, eu e dez milhões de portugueses pensavam, as televisões só a convidaram para os debates com os pequenos partidos.

    Só que a Candidata é uma mulher de armas e uma “desfeita” nunca ficará sem resposta.

    blue and white flags on pole

    Daí que tenha decidido, levando Bruno a tiracolo, invadir a RTP para se dirigir ao estúdio onde estavam os representantes dos quatro maiores partidos, para falar em nome do seu.

    É esta a diferença entre as mulheres portuguesas: Joana Amaral Dias a forçar a entrada numa sala de onde Marta Themido queria fugir a sete pés, atendendo a que teria de debater com Sebastião Bugalho (PSD), António Tânger Corrêa (Chega) e João Oliveira (CDU).

    O debate, apesar de tudo, segundo me disseram, correu com a habitual normalidade.

    A verdade é que estou de acordo com Joana Amal Dias quando esta diz que a RTP deveria ser punida.

    Ter transmitido, em directo, um debate que fez os portugueses, que não adormeceram frente ao écran, mudar de canal, em vez de optar pelas imagens da peixeirada entre a Candidata invasora e os funcionários da casa, é imperdoável.

    Joana Amaral Dias lamentou a quem a quis ouvir: “Até pus um bocadinho de batom e tudo”.

    Se a candidata prometesse que, durante todo o período do mandato, ficaria por Bruxelas, era menino para votar nela.

    Vítor Ilharco é assessor


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  • De regresso ao manicómio

    De regresso ao manicómio


    Duas semanas em África, num país amigo, afastaram-me dos noticiários diários.

    Ali, é fraca a internet, os jornais chegam atrasados e não há o hábito de ouvir as estações de rádio.

    Conclusão, quinze dias retemperadores.

    “Não há mal que sempre dure, nem bem que não acabe”, ensinavam os nossos mais velhos, e tive de regressar ao meu querido país.

    Fui tentar actualizar-me.

    Correu mal.

    Disseram-me que o PSD tinha escolhido o seu cabeça de lista às Eleições Europeias e fui ouvir as suas intervenções.

    Comecei por criticar a decisão de terem escolhido um velho para os representar.

    Sou a favor de se dar lugar aos jovens e sinto-me mal quando vejo idosos a impedir o aparecimento de gente nova, com valor, unicamente para garantirem a manutenção dos seus lugarzinhos principescamente remunerados.

    Quando fiz este comentário mostraram-me a fotografia do político em questão e eu perguntei se não tinham uma actual.

    Depois, ouvi mais uma gravação onde ele elogiava a “bandeira das sete quinas” e percebi que o “velho” era, tão só, um ignorante.

    Novo de idade, ao ponto de nem conhecer a Bandeira Nacional, mas caquético nos ideais.

    Tentei recompor-me, ouvindo intervenções de políticos considerados respeitados e com provas dadas.

    O novo Ministro da Defesa, e líder do CDS/PP, parecia-me ser uma razoável escolha num momento em que tanto se fala de problemas na Europa.

    Como se está a preparar Portugal para estas lutas que podem mudar o mundo?

    O rapaz tentou explicar que o nosso País estava alinhado com a estratégia da Organização do “Atlético” Norte.

    Engoli em seco.

    Tentei pensar noutras coisas mas a televisão não me dava descanso.

    Ouvi o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa quando este veio, publicamente, dizer que tinha cortado as relações com o seu filho por causa de uma “cunha” em prol de duas gémeas brasileiras que precisavam de um medicamento caríssimo.

    Criado numa casa onde “Deus, Pátria e Família” era o lema principal, a decisão foi incompreensível para muitos e chocou-me.

    Tornar público um corte radical com um filho não é comum no nosso País, é raríssimo entre católicos e impensável num político, para mais a ocupar o mais alto cargo da Nação.

    Daí que não tenha estranhado os ataques imediatos ao Presidente da República.

    Enviaram-me uma gravação com um humorista a imitar Marcelo Rebelo de Sousa.

    A voz era “tal e qual”.

    Imitação brilhante.

    A peça pecava pelo discurso.

    Com a intenção de exagerar na caricatura o imitador não teve qualquer pejo em proferir afirmações, como se fossem da autoria da sua vítima, do mais ridículo que imaginar se possa.

    Dizia ele, com a voz de Marcelo depois de um “Fortimel” acompanhado de moscatel quente, que considerava “lentos” tanto António Costa como Montenegro.

    Aquele por ser “oriental” e este por ser “rural”.

    Não contente, o artista pisou o risco quando prosseguiu a imitação garantindo que considerava “maquiavélica” a Procuradora-Geral da República!

    Para meu espanto houve dezenas de amigos, e alguns que eu considero inteligentes e cultos, a garantir que não havia imitação nenhuma e que aquele “arrazoado” tinha sido, mesmo, dito por Marcelo.

    brown and white temple under full moon

    Não sei o que se passa no meu País.

    Isto está de loucos.

    Dizem-me que Pinto da Costa perdeu as eleições conseguindo só 20% dos votos contra 80% do seu adversário.

    Que o chefe da sua Guarda Pretoriana está na cadeia juntamente com mais meia dúzia de apaniguados.

    Será que Portugal passou a manicómio em auto-gestão?

    Da maneira que isto está ainda me vão dizer que o Sporting é campeão de futebol a três jornadas do fim!…

    Vítor Ilharco é assessor


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  • Já chega de lhes dar importância!

    Já chega de lhes dar importância!


    Para quem segue, com algum cuidado, a política internacional e as redes sociais, para quem passa alguns minutos nos cafés e supermercados e presta alguma atenção às conversas dos seus concidadãos, o aumento de votação no partido Chega só pode espantar por não ter atingido números mais elevados.

    Aos votos de protesto, de quem se sentia defraudado com os últimos Executivos, o que poderia fazer com que este partido chegasse aos dois dígitos, juntaram-se os de uma população que tem como única fonte de informação os canais de televisão com programas de terceiro mundo, os discursos populistas de quem tudo promete e as palavras de ódio contra os governantes que, no dizer daqueles, se servem do Poder para todo o tipo de ilegalidades.

    André Ventura, presidente do Chega. (Foto: D.R./Chega)

    Centenas de milhares de portugueses acreditaram que os autores destas promessas tinham capacidade, e interesse, em mudar.

    Melhor dizendo, quiserem acreditar.

    Quiserem acreditar com tanta vontade que deram de barato as constantes contradições nos discursos.

    A criação de milhares de avatares nas redes sociais, ajudou.

    Notícias falsas, acusações sem fundamento, elogios aos demagogos, tudo feito, na maior parte da vezes, por figuras fictícias, inundaram todas as redes sociais.

    A exemplo do que já acontecera com, por exemplo, Trump, nos Estados Unidos, Bolsonaro, no Brasil, Andrzej Duda, na Polónia e Tamás Sulyok, na Hungria.

    Todo este processo está estudado e foi excepcionalmente descrito no livro, de Giuliano da Empoli, “Os Engenheiros do Caos”.

    Um cartaz do Chega foi vandalizado, em Lisboa, durante a campanha para as eleições legislativas.
    (Foto: PÁGINA UM)

    Há que reconhecer mérito à máquina do Chega e lamentar a ingenuidade de grande parte dos nossos conterrâneos.

    Como aceitar, por exemplo, que conhecido o discurso de ódio contra os imigrantes os nossos emigrantes, tenham votado maciçamente neste partido, ao ponto de lhe dar a vitória nesses círculos?

    Gente que sofreu na pele a separação da família, o abandono da sua terra, a saudade dos seus costumes, da sua gastronomia, do cheiro do seu lar, unicamente para procurar uma vida melhor que garantisse o futuro dos seus filhos, consegue anos depois, mostrar-se contra os cidadãos de outros países que tentam seguir-lhes o exemplo trabalhando em Portugal.

    Como aceitar que gente que se diz defensora dos Direitos Humanos, gente que frequenta igrejas, e reza, aceite votar num partido que defende a pena de morte, a prisão perpétua e a castração química?

    Gente que consegue aceitar os discursos de um charlatão que vai contra as palavras do Papa e dos líderes das outras religiões.

    (Foto: D.R.)

    Como aceitar que portugueses votem em indivíduos que, em Plenário na Casa da Democracia, ofendem o Presidente da República de um País amigo, como o Brasil?

    Se pensavam que tudo mudaria se o partido crescesse, ao ponto de poder integrar o Governo de Portugal, devem ter ficado esclarecidos quando viram a reacção do líder à decisão do Partido vencedor quando este não aceitou, e bem, sequer ouvir as suas ideias e propostas.

    A explicação é simples:

    O PSD e o PS pertencem, desde a sua fundação, à mesma “família política”: a social-democracia.

    Têm, ambos, 77 deputados eleitos e mais de 1.800.000 votos, cada um.

    O Chega pertence à extrema-direita, nada tem a ver com a ideologia do partido vencedor, e conseguiu 50 deputados e 1.100.000 votos.

    O PSD quer, e bem, tentar governar sozinho.

    O PSD quis, e bem, ter a possibilidade de eleger, de entre os seus, o Presidente da Assembleia da República.

    Luís Montenegro, líder do PSD, sucede ao socialista António Costa no cargo de primeiro-ministro. (Foto: D.R./Foto oficial divulgada por António Costa)

    O Chega, desde que os resultados foram conhecidos, esqueceu as vaidades, a soberba, os discursos de vitória e passou a mendigar lugares e atenção.

    Ao não conseguir esses intentos, boicotou a eleição e prometia prosseguir nessa via por tempo indeterminado.

    Seguiu-se o normal: um entendimento entre adversários, civilizados, que optaram por, com custos para ambos, ultrapassar o problema.

    “Vale mais um mau acordo que uma boa demanda”, é um provérbio antigo.

    Seguiu-se, de novo, a soberba e a vaidade:

    “Vamos liderar a Oposição!”, garantiu o líder de um partido com 50 deputados acreditando que o que dispõe de 77 lhe dará essa hipótese.

    Após o que voltou aos discursos populistas e raivosos.

    André Ventura criticou o acordo entre PSD e PS para a escolha do presidente da Assembleia da República. Ventura acusou o PSD de colocar o interesse partidário e a pressão da extrema-esquerda acima de Portugal e da estabilidade. (Foto: Captura a partir de imagem da AR-TV)

    No primeiro discurso da nova Legislatura, começou com as ameaças de represálias tratando por tu, em Plenário na Casa da Democracia, o primeiro-ministro eleito, e ofendendo, com linguagem de taberna, o presidente cessante da Assembleia da República.

    Ao líder do CDS garantiu que este só estava no Parlamento graças ao PSD, que o aceitara numa coligação, esquecendo que, desde que se conheceram os resultados, pedira insistentemente uma reunião, “onde o líder do PSD quiser, à hora que quiser”, para ver se este aceitava coligar-se com ele no Governo.

    Ficou a falar sozinho.

    Pode ser que todos os que nele votaram, por se sentirem zangados, desprezados, humilhados, até, compreendam que essa não é a escolha certa.

    Quem dera que este episódio tenha sido mais um aviso de que chega de lhes dar uma importância maior do que aquela que merecem.

    Vítor Ilharco é assessor


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  • Não, é não! Ou talvez! Ou sim!

    Não, é não! Ou talvez! Ou sim!


    Todos lembramos o tom firme com que Luís Montenegro se dirigiu a André Ventura logo na primeira intervenção do seu debate na televisão:

    “Coligação com o Chega? Já disse e repito: Não, é não!”

    Talvez não tenha sido a primeira, mas foi, sem dúvida, a mais marcante promessa da sua Campanha.

    Com esta frase Luís Montenegro quis mostrar a firmeza exigida a um líder.

    Para mais sabendo que esta decisão estava longe de ser consensual entre alguns dos seus apoiantes.

    O que está em causa é que, mantendo esta posição, cria o risco da Aliança Democrática não conseguir os seus objectivos de constituir Governo, ainda que ganhando as eleições, por lhe ser impossível aprovar um Programa na Assembleia da República.

    Compreendo, e respeito, a posição de Luís Montenegro, mas também sei “a sede e a vontade de ir ao pote” de muitas dezenas de companheiros seus nos Partidos da Coligação.

    Oito anos fora do Governo, com dezenas de interessados em lugares de Ministros e Secretários de Estado, Directores-Gerais, etc., etc., etc., faz com que estes estejam nas tintas para os ideais que dizem defender.

    E nem sequer escondem isso.

    Antes mesmo das eleições e, logo, de saberem o resultado, são muitos os que, publicamente, entram em confronto com o líder.

    “Nunca digas nunca” é a palavra de ordem de quem quer tudo a qualquer custo.

    Também há quem diga que é falta de coluna vertebral, mas com Poder esse mal é secundário.

    Depois há as “figuras de referência”.

    Gente que, por ter sido derrotada em eleições, não esconde a revolta e quer que o seu Partido regresse ao Governo nem que tenham que se associar ao Diabo que eles próprios diziam ser aliado do Partido do outro lado da barricada.

    Vão ser imensas as pressões sobre Luís Montenegro para que altere a sua decisão, mesmo depois de ter prometido, com o ênfase conhecido, que jamais o faria.

    E estes seus conselheiros até podem dar inúmeros exemplos em que, eles próprios, prometeram e mudaram de opinião.

    black metal frame glass window

    Tentarão explicar, com argumentos diversos, que por vezes “Não, é… talvez”!

    Como bom correligionário, e amigo, é quase certo que Luís Montenegro comece a ponderar se faltar à palavra será assim tão mau.

    Principalmente se comparar com o que pode deixar de ganhar e fazer com que os seus ganhem.

    Acresce que, verdade seja dita, os seus adversários políticos também não se podem dar ao luxo de pegar em pedras para atirar na direcção de um qualquer mentiroso.

    É gente que mora em casas luxuosas, mas com telhados de vidro.

    Vidro muito, muito, muito frágil.

    As promessas dos políticos são, de um modo geral, de curta duração e quem nelas acredita é, no mínimo, tolo.

    É sabido que, quanto mais firmeza houver no momento em que tenham sido proferidas, mais depressa são quebradas.

    Apontem-me um político, ao acaso, e lembrarei promessas feitas e não cumpridas.

    As intenções, no momento em que são proferidas, até podem ser, serão muitas vezes, sentidas.

    Acredito que, por vezes, quem as faz até tenha a firme intenção de as cumprir.

    Só que, em política, a realidade muda rapidamente e a conquista de votos sobrepõe-se a tudo.

    São os votos que levam ao Poder.

    shallow focus photography of padlocks in steel cable

    E é este que traz dinheiro.

    O dinheiro que João de Deus definia tão bem:

    “O dinheiro é tão bonito,

    Tão bonito, o maganão!

    Tem tanta graça, o maldito,

    Tem tanto chiste, o ladrão!

    O falar, fala de um modo…

    Todo ele, aquele todo…

    E elas acham-no tão guapo!

    Velhinha ou moça que veja,

    Por mais esquiva que seja,

                                Tlim!

                                Papo.”  

    Luís Montenegro não é excepção nenhuma. Vai mostrar, em breve, que, por vezes, “Não, é não”, muitas vezes “Não, é talvez”, na política, quase sempre, “Não, é sim”!

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  • Imbecis pelo clima

    Imbecis pelo clima


    Pensei preparar uma crónica sobre o modo de combater a mudança climática depois de ler um estudo sobre a utilização da Inteligência Artificial.

    Um trabalho que analisava os desenvolvimentos relacionados com a IA e a robótica, que estão entre as ferramentas identificadas num projeto recente liderado pela Organização Meteorológica Mundial, pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, Pnuma, e pela União Internacional de Telecomunicações. 

    white robot action toy

    Sabendo que a evolução constante da tecnologia se deve, sobretudo, a jovens licenciados, a maior parte deles com preocupações ambientais, analisei com interesse os textos compilados pela “ONU News” sobre o modo “como a IA ajuda o mundo, desde as comunidades às empresas e aos legisladores, a enfrentar as alterações climáticas”.

    Os autores do estudo, depois de constatarem que, “ao redor do mundo, a Inteligência Artificial já está presente na saúde, na educação e na indústria”, quiseram saber como esta tecnologia de ponta poderia “ajudar a combater e mitigar os efeitos das mudanças climáticas”.

    Rapidamente concluíram que se podia utilizar esta ferramenta em praticamente todas as áreas com extraordinários benefícios para todo o mundo.

    A ONU lançou,  recentemente, o “Órgão Consultivo de IA” que impulsionou “a tendência global de aproveitar a aprendizagem por máquinas para encontrar soluções para desafios comuns, desde logo começando por melhorar o processamento de dados em conjunto com um número crescente de governos, empresas e parceiros da sociedade civil que trabalham em conjunto para colher os seus muitos benefícios”.

    Centenas de jovens espalhados pelo mundo, desenvolvem tarefas de extraordinária importância para o nosso planeta.

    Os exemplos apontados neste trabalho são inúmeros e variados:

    a computer chip with the letter a on top of it

    “Várias agências da ONU apoiam comunidades vulneráveis ​​no Burundi, no Chade e no Sudão através de um projeto orientado pela IA para investigar alterações ambientais passadas em torno de pontos críticos de deslocamento.

    Em campo, os dados aperfeiçoados podem ser a solução para problemas até agora incontornáveis. Por exemplo, a aplicação MyAnga ajuda os pastores quenianos a prepararem-se para a seca. Com dados de estações meteorológicas globais e satélites enviados para os seus telefones, os pastores podem planear com antecedência, gerir melhor o seu gado e poupar horas de busca por pastagens verdes.”

    O estudo abrange áreas que muitos consideram não serem problemáticas no que respeita às mudanças climáticas.

    Desde logo, por exemplo, a “moda”.

    Na realidade trata-se de uma “indústria com um histórico de emissões elevadas” mas que pode vir a “beneficiar de pesquisa e desenvolvimento orientados pela IA para acelerar a inovação”, otimizando economias e melhorando a eficiência nas etapas com utilização intensiva de energia. 

    Outra área fundamental é a agricultura, responsável por 22% dos gases de efeito de estufa lançados na atmosfera, de acordo com um relatório de avaliação climática da ONU.

    photo of Gardens by the Bay, Singapore

    As acções planeadas pela IA podem mudar esse quadro.

    A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura, FAO, apresentou exemplos de tecnologias que visam transformar práticas tradicionais em sistemas baseados em dados que protegem as pessoas e o planeta. Entre elas, “a IA e as ferramentas digitais consideradas fundamentais na construção de sistemas agroalimentares resilientes ao clima que sejam mais eficientes, sustentáveis ​​e adaptáveis ​​aos desafios das alterações climáticas”. 

    Este magnífico trabalho despertou-me o interesse, repito, e fez com que a minha, já enorme, admiração pela juventude atual aumentasse.

    São inúmeros os exemplos, no nosso país, de empreses de sucesso na área tecnológica e os nossos engenheiros informáticos são competentíssimos e uma referência mundial.

    Quando juntam a essa capacidade técnica o interesse pela melhoria do nosso mundo tornam-se merecedores de todos os encómios.

    É deles que me lembro, de imediato, quando alguns alarves resolvem “lutar em defesa do clima” com “acções” que buscam somente os seus cinco minutinhos de fama nem que seja com atitudes a roçar a total imbecilidade.

    green plant on brown soil

    Desde atirarem com produtos de todo o género a obras de arte, património mundial, cortarem estradas, desfilarem mais ou menos despido(a)s pelas ruas e, agora, com a nova moda de atirarem com tinta a políticos.

    Tudo gentinha com um número reduzido de neurónios, que nunca leram um livro, que nada sabem dos estudos que acima falo, que nunca deixariam a comodidade das suas casas (quase sempre as casas dos pais) onde vegetam, usando todo o tipo de roupa e usando todos os aparelhos e veículos que prejudicam o clima que dizem defender, mas que querem aparecer como paladinos de uma luta de que ouviram falar na televisão.

    Uns imbecis que deviam usar a tinta que atiram aos outros para pintar a própria cara.

    Vítor Ilharco é assessor


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  • Portugal: um país corrupto?

    Portugal: um país corrupto?


    Portugal é um país de corruptos?

    A maioria dos portugueses dirá que sim.

    Segundo o Índice de Percepção de Corrupção, elaborado pela Transparência Internacional, Portugal ocupava, no ano de 2018, a 33.ª posição na lista dos países menos corruptos em escala mundial, num conjunto de 176 países e obteve 61 (sessenta e um) pontos (0-100).

    Sabermos que só há, no mundo inteiro, 32 países menos corruptos que o nosso pode ser uma boa notícia se tivermos em conta que 143 conseguem ser piores.

    a person holding a stack of cash

    O problema, se tivermos atenção às últimas notícias, é que os números podem ser hoje, seis anos passados desde este último estudo, muito diferentes.

    Todos os dias os jornais, rádios e televisões relatam buscas, apreensões, detenções mais ou menos prolongadas, embora muitas vezes com libertações de putativos corruptos e corruptores.

    Se o caso já era grave em 2018, quando o custo estimado para a corrupção atingia, anualmente, cerca de 18,2 mil milhões de euros, como será hoje?

    Em primeiro lugar, para se perceber a enormidade do número acima, bastará dizer que o dinheiro perdido para a corrupção permitiria que nenhum português tivesse de pagar IRS.

    Este valor é dez vezes superior ao orçamento para o apoio aos desempregados (cerca de 1,8 mil milhões de euros), é mais do que todo o orçamento anual da saúde do país (16.1 mil milhões de euros) e é 314 vezes superiores ao orçamento do Governo para a habitação (58 milhões de euros).

    Desde a data deste estudo até Maio de 2023 houve, segundo um texto da CNN, que recorreu “a fontes abertas, notícias publicadas e dados obtidos pela defesa de vários dos investigados” pelo menos 191 políticos acusados de corrupção:

    “A saber, um primeiro-ministro, 11 ministros, 13 secretário de Estado, 33 deputados e 133 autarcas.

    Foram todos constituídos arguidos nesses seis anos e a sua maioria por crimes de corrupção, peculato e recebimento indevido de vantagem.

    É entre o PS e PSD, partidos que têm alternado no poder nos últimos anos, que há mais casos. Especialistas garantem que na política há uma teia de relações e “uma cultura de favores ” que os afasta “da própria ideia de escrutínio e de serviço público”.

    a person holding a piece of money in their hand

    O outro grande problema é que, por absoluta incompetência na investigação e acusação, ou dos juízes que, em primeira Instância, analisam os factos apresentados, muitas desses processos terminam sem condenações.

    A absoluta descrença na Justiça, por parte dos portugueses, uns porque criticam a detenção de cidadãos, alguns com lugares importantes na sociedade, e até escolhidos pelos seus conterrâneos, em eleições livres, para os representarem, para depois serem libertados com a sua honestidade posta em causa, outros porque acreditam que houve corrupção, isso sim, da parte de quem os libertou.

    Quando casos da gravidade da prisão de um Primeiro-Ministro, que depois fica mais de dez anos a aguardar que o seu julgamento se inicie, ou de ministros acusados e absolvidos em tribunal depois de terem sido obrigados a deixarem o cargo, acontecem sem que se vislumbre um único investigador, ou magistrado, responsabilizado por esses erros gravíssimos, antes continuem calmamente a sua profissão com promoções na carreira, o que poderá pensar o Povo?

    Operações como a última na Madeira, com centena e meia de inspectores da Polícia Judiciária e uma dezena de magistrados, a voarem num avião da Força Aérea para o Funchal, para fazerem buscas e recolherem provas, acabando por deter o presidente da Câmara e os dois maiores empresários da região, que ficaram presos vinte e um dias para interrogatórios (a Lei fala num prazo, que seria justo, de 48 horas) e, no fim serem libertados pelo Juiz, que alegou não ver, na Acusação, “qualquer indício de crime, muito menos indícios fortes”, a verdade é que temos de pôr em causa a competência de Investigadores e Procuradores ou do Juiz.

    O resultado é ficarmos em pânico.

    white and blue boats on sea during daytime

    Falamos de gente que tem o poder de tirar, a qualquer um de nós, aquilo que há de mais sagrado: a Liberdade.

    A dúvida final é esta:

    Somos o 33º país menos corrupto porque os Juízes os libertam, o que permite não baixarmos na classificação, ou porque se condenam inocentes e podíamos estar melhor?

    De qualquer modo o número envergonha.

    Será que alguém pode pagar, por baixo da mesa, a quem faz estes estudos?

    Vítor Ilharco é assessor


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  • Comissão Nacional de Eleições: uns cómicos

    Comissão Nacional de Eleições: uns cómicos


    Um cidadão recluso é um cidadão privado (temporariamente) da liberdade, mas não é um “não cidadão”, ou seja, uma pessoa privada dos seus direitos civis e políticos.

    Nos termos do artº 48º, nº 1, da Constituição da República Portuguesa, todos os cidadãos têm o direito de tomar parte na vida política e na direcção dos assuntos políticos do país, sendo que essa participação, directa e activa na vida política, constitui condição e instrumento fundamental de consolidação do sistema democrático (artº 109 da CRP) e exerce-se, designadamente, através do direito de sufrágio, reconhecido no artº 49º, nº 1, da Constituição a todos os cidadãos maiores de 18 anos.

    book lot on black wooden shelf

    Por outro lado, se a lei pode fazer corresponder, a certos crimes, a proibição do exercício de determinados direitos ou profissões, nos termos do nº 2 do artº 65º do Código Penal, certo é que nenhuma pena envolve, como efeito necessário, a perda de direitos civis ou políticos, por força do nº 1 da mesma disposição legal.

    Significa tudo isto que os cidadãos reclusos têm, teoricamente, o direito de votar em todos os sufrágios para a eleição de titulares de órgãos do poder político, seja ele central, regional ou local.

    Porém, o certo é que, sendo a sua situação de recluso precisamente uma das que está legalmente prevista para o efeito de ser possível votar antecipadamente, por correspondência, como modo de garantir o exercício do direito de voto, na realidade são inúmeros os obstáculos levantados, na prática, o que leva a que, ilegitimamente, lhe seja vedado o exercício desse direito básico, cívico e político.

    E que não se pense que tal se deve aos responsáveis do Sistema Prisional.

    Os dois últimos Directores-Gerais têm feito um excelente trabalho na procura do aumento da percentagem de votos nas cadeias.

    O que têm conseguido, diga-se.

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    O problema, por incrível que pareça, está no total desleixo, na absoluta ignorância, no incrível desprezo da Comissão Nacional de Eleições para com os cidadãos em reclusão.

    É pouca, praticamente inexistente, a divulgação, entre os reclusos, de que estes dispõem do direito ao voto, e muito em particular o específico direito de exigirem, à Direcção da cadeia, a documentação necessária para poderem votar.

    A que há é de tal modo absurda que só pode ter sido redigida por dementes.

    O cartaz da Comissão Nacional de Eleições, que é afixado nas nossas cadeias, “explica” como é que os presos devem proceder para poderem votar.

    É, “ipsis verbi”, assim:

    Saiba o seu número de eleitor:

    – Na Junta de Freguesia do seu lugar de residência.

    – Através de SMS (gratuito) para 3838 com a mensagem

    RE (espaço) número de BI/CC (espaço) data de nascimento

     – Na internet www.recenseamento.mai.gov.pt

    O recluso poderia, portanto, na óptica destes génios, optar por uma de três soluções:

    1. – Dirigir-se à porta da cadeia e pedir ao Guarda Prisional que a abra para ir à Junta de Freguesia;
    2. – Mandar um SMS por telemóvel, aparelho proibido em todas as prisões;
    3. – Fazer uma busca na internet sem ter acesso a qualquer computador.

    A APAR – Associação Portuguesa de Apoio ao Recluso, há dez anos, enviou uma carta à Comissão Nacional de Eleições, apontando o ridículo do acima relatado.

    A 28 de Maio de 2014 recebeu a resposta.

    Uma carta amável, agradecendo “os contributos que possam ser remetidos a esta Comissão no sentido de gerar melhorias nas condições de exercício do direito de voto pelos cidadãos presos e não privados de direitos políticos” e garantindo que “terá presente o teor da exposição em apreço nos próximos actos eleitorais”.

    Desde então houve uma dezena de eleições sendo que os reclusos continuam a conhecer “os seus direitos” com as mesmas informações.

    Agora, até pelas Estações de Rádio, são informados que podem dirigir-se à CNE através da internet.

    a person is casting a vote into a box

    Temos assim que, num Estado que se diz de Direito, cidadãos formalmente não privados de direitos políticos, são-no afinal na prática por uma tão antiga quanto persistente ausência de percepção e de informação de que o recluso mantém o direito de voto e por uma cultura assente na lógica da denegação efectiva desses mesmos direitos políticos.

    A estupidez deste cartaz tem, como única vantagem, a possibilidade de os reclusos terem uns momentos divertidos e rirem, à gargalhada, dos senhores doutores da CNE.

    Valha-nos isso!

    Vítor Ilharco é assessor


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  • Planeamento à portuguesa

    Planeamento à portuguesa


    Prestes a comemorarmos os cinquenta anos do 25 de Abril, recordemos o Portugal de então.

    A extraordinária diferença no desenvolvimento do território nacional, com praticamente toda a riqueza no litoral e um esquecimento absoluto do interior, onde se sobrevivia com o recurso a uma agricultura antiquada, era do conhecimento geral.

    E assim se manteve nos primeiros anos após a “Revolução dos Cravos”.

    Um dia, porém, alguns políticos mais atentos, traçaram uma linha vertical sobre o mapa de Portugal, dividindo o país ao meio, e descobrindo, espantados, que a metade do interior era, então, quase um deserto.

    woman in black sunglasses and white shirt

    Sem indústria, com uma agricultura ainda mais pobre, porque tinham recebido para deixar de produzir, e sem turismo digno desse nome por não terem mar.

    Concluíram, os governantes de então, que a principal dificuldade em atrair interessados na criação de empresas naquelas zonas era a impossibilidade de se chegar rápida e comodamente aqueles destinos por falta de vias de comunicação em condições.

    A prioridade para combater este problema foi a utilização de milhões provenientes da Europa para construir estradas.

    Aliás, como quaisquer novos-ricos: auto-estradas.

    A ideia era criar paraísos para investidores, principalmente estrangeiros, e isso só seria possível se eles ficassem a saber que era fácil chegar a Bragança, à Guarda, a Castelo Branco, a Elvas.

    Os empresários teriam de ser atraídos para zonas com mão-de-obra disponível e mais barata.

    Além disso, o país ficaria a ganhar se conseguisse reter as populações no interior e diminuir, ou mesmo terminar, com o êxodo para o litoral.

    Durante anos fizeram-se quilómetros e quilómetros de auto-estradas.

    Podiam, agora, os senhores empresários chegar aos locais mais recônditos do nosso país em poucas horas e sem solavancos.

    a bridge over a body of water

    Em complemento, os autarcas decidiram mandar construir dezenas de “parques industriais” com a esperança de, assim, conseguirem mais interessados.

    A estratégia parecia resultar quando dezenas de empresas começaram a apresentar projectos atrás de projectos nas autarquias que geriam cidades em vias de extinção.

    Os autarcas vibravam de emoção.

    Havia que criar zonas industriais para albergar todas as fábricas previstas e que iam desde a confecção à aeronáutica.

    Enquanto os processos que se iam amontoando nas secretarias dos Municípios, aguardando pareceres técnicos, ambientais, económicos e o raio a sete, aos Ministérios chegavam as facturas das auto-estradas.

    E os governantes descobriram que não havia dinheiro para as pagar.

    Única solução encontrada: cortar nalgumas despesas consideradas menos importantes.

    Como habitualmente os primeiros sacrificados foram as cidades do interior.

    a white building with yellow shutters and windows

    Dado o volume das dívidas, todavia, os cortes foram radicais.

    Fecharam-se escolas, hospitais, maternidades, tribunais, juntas de freguesia, postos de correio e esquadras de polícias.

    Como é lógico, a maioria dos empresários retirou os projectos.

    Que investidor aceitaria abrir uma empresa numa cidade sem as mais elementares estruturas?

    Que funcionário aceitaria ficar numa zona onde os filhos não pudessem estudar, sem ter garantias de cuidados médicos numa emergência, sem segurança, sem as mais elementares comodidades?

    Logo, esses destinos foram postos de lado.

    E, logicamente, as auto-estradas começaram a ficar desertas fazendo baixar a facturação das portagens.

    Só os familiares dos poucos habitantes as utilizavam para visitas de fins-de-semana.

    As receitas recolhidas, segundo os concessionários, eram insuficientes para dar lucro.

    A decisão foi aumentar as portagens.

    O resultado óbvio – menos para aqueles génios – foi que, até aqueles poucos utilizadores, passaram a servir-se de estradas secundárias por impossibilidade de pagarem os preços, mais que exorbitantes, criminosos.

    Sendo que a facturação continuou a descer.

    group of person on stairs

    Hoje temos essas cidades servidas por auto-estradas magníficas, mas sem trânsito, zonas industriais modernas, mas sem indústria, cidadãos com uma série de direitos consagrados na Constituição, como os da educação, saúde e habitação, mas sabendo que, para os conseguirem, terão de deixar as suas terras e partir para o litoral.

    A única vantagem é que agora, para fugirem do interior, em busca de uma vida melhor no litoral, têm estradas excelentes que permitem que aqui cheguem mais depressa. Nesse aspecto, o planeamento à portuguesa resultou plenamente.

    Vítor Ilharco é assessor


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.


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  • Justiça à portuguesa

    Justiça à portuguesa


    Marinho Pinto afirmava que alguns estudantes com vocação para o Direito se inscreviam, depois de licenciados, no CEJ – Centro de Estudos Judiciários, com a intenção de virem a ser Magistrados, mas saíam de lá “Majestades”.

    A frase foi criticada por muitos, outros censuravam-lhe a truculência, mas poucos eram os que não lhe davam alguma razão.

    Há que reconhecer que Procuradores e Juízes são detentores de um extraordinário Poder, que conseguem sem terem passado por qualquer tipo de eleição, e apenas julgados, em caso de qualquer erro, pelos seus pares.

    man in black shirt sitting beside woman in white shirt

    O resultado só podia ser mau e os números demonstram isso à saciedade.

    O jornalista J. Plácido Júnior publicou, há uns anos, na revista “Visão”, um artigo onde escrevia:

    “As percentagens de absolvição por ‘carência de prova’, em processos-crime findos em julgamento de 1ª instância, em Portugal, oscilam entre 40,4% e 48% do total de arguidos não condenados – estes, na sua maioria, por desistência de queixas em crime semipúblicos ou particulares, segundo os últimos números oficiais disponíveis. Um “desastre” que, em sete anos, atingiu 154.569 cidadãos, universo superior ao da terceira cidade mais populosa do País, Braga, com 138.000 habitantes.”

    Houve casos em que o arguido chegou ao Tribunal “depois de dez juízes diferentes terem validado a sua prisão preventiva, até a tese da acusação desmoronar em Julgamento, como um castelo de cartas.”

    Vendo por outro prisma:

    Em média, em todos os dias desses sete anos, incluindo sábados, domingos e feriados, houve 65 cidadãos que foram acusados, e muitos deles presos preventivamente, para serem, passados anos, absolvidos.

    man holding chain-link fence

    Estas absolvições chegam a representar 48% do total de arguidos (praticamente metade dos acusados) quando o máximo admitido por peritos europeus é de 12%.

    A parceria existente entre alguns elementos do Ministério Público e alguma Comunicação Social – que muitos entendem como uma troca de informações em primeira mão por promoção em jornais e televisões de alguns magistrados – é, também ela, um problema que devia exigir toda a atenção dos Órgãos Superiores da Magistratura.

    As fugas de informação são indesmentíveis.

    Há inúmeras provas: jornalistas que chegam aos locais das buscas judiciais ao mesmo tempo que os agentes policiais e os magistrados (já houve casos em que chegaram antes), conseguirem documentação, que deveria ser confidencial, antes dos advogados dos arguidos, e terem acesso às gravações, por vezes com imagem e som, dos interrogatórios destes, na fase de instrução, que divulgam nos seus canais.

    Depois há toda uma encenação que é preparada, ao pormenor, para tornar os casos mais apetecíveis para a imprensa:

    Buscas aparatosas com dezenas de operacionais equipados como se fossem para uma guerra, incluindo com o rosto tapado, detenção de arguidos – que todos sabem “não perigosos” nem interessados em fugir à Justiça – para primeiro interrogatório, mantendo-os presos muito para lá das 48 horas que a Lei indica como o correcto.

    O autêntico circo montado para as buscas no Funchal, com dois aviões militares a levarem centena e meia de inspectores da Polícia Judiciária, mais Magistrados, até ao Arquipélago, é só mais um exemplo.

    person showing handcuff

    O mais grave de tudo, contudo, é percebermos que todo este aparato, que dá uma primeira impressão de grande eficiência na investigação e, logo, na Justiça, acaba inúmeras vezes em absolvições, ou num arrastar dos processos durante anos, com enorme prejuízo para os acusados e total descrédito para quem acusa.

    Todos nos lembramos de Ministros que tiveram de deixar os seus cargos da pior maneira, com a suspeita de serem criminosos, viverem largos meses, por vezes anos, com os dedos apontados pelos seus vizinhos, para depois serem absolvidos.

    Mas com a vida destruída.

    E também conhecemos cidadãos constituídos arguidos, com a informação de terem cometido delitos gravíssimos, principalmente na área económica, mas que nunca, jamais, em tempo algum, passarão um dia dentro de uma cadeia.

    O que não impede que, anualmente, se multipliquem os discursos do “combate à corrupção”.

    Na última década as intervenções na Cerimónia da Abertura do Ano Judicial são repetidas “ipsis verbis”.

    woman in dress holding sword figurine

    Presidente da República, Presidente do Supremo Tribunal de Justiça, Ministro da Justiça, Procuradora-Geral da República leem, há anos, o mesmíssimo discurso onde prometem um combate feroz à corrupção.

    Já os sei de cor.

    O balanço é simples, dezenas e dezenas de cidadãos prejudicadíssimos por erros perfeitamente identificados, ou por atrasos inexplicáveis nos seus processos, sem haver um único Magistrado punido por tal.

    Pelo contrário, subindo calmamente nas carreiras.

    É a Justiça à portuguesa!

    Vítor Ilharco é assessor


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