Autor: Tiago Franco

  • Benfica 1.2

    Benfica 1.2


    Por esta altura do campeonato, fazemos todos contas para que o derby chegue. Até lá — pelo menos na parte que me toca — desejo apenas jornadas calmas e com um onze que não trema das pernas.

    O mistério de Prestianni e Schjelderup continua, sem que se perceba, a olho nu, como é que, na ausência de Di María, Amdouni é a opção mais natural.

    A primeira parte não teve grande história, com o Benfica a dominar em ritmo de treino. O primeiro golo é de manual, com metade da equipa a jogar ao primeiro toque. O segundo começa a tornar-se um clássico no aproveitamento das bolas paradas. É particularmente estimulante perceber isso quando, ainda há poucos meses, a maior parte destes jogadores, com Roger Schmidt, não sabia que um canto ou um livre podiam ser ocasiões de golo.

    Na segunda parte, o Estoril — uma das boas equipas do campeonato — veio com outra vontade e subiu as linhas. O penálti apareceu com alguma naturalidade, dada a pressão dos canarinhos. Pensei, ingenuamente, que depois da defesa de Trubin, Bruno Lage trataria de acordar as tropas, mas não: foi exactamente o contrário que aconteceu. O Estoril motivou-se e o Benfica deixou de ter a bola. Aliás, durante dez ou quinze minutos, os encarnados nem sequer passaram do meio-campo, e foi com alguma naturalidade que o golo do Estoril surgiu.

    A luta no meio-campo intensificou-se, com muitos lances divididos e Florentino, sozinho, entregue a essa batalha. Samuel Dahl é um corpo estranho na lateral esquerda e lembro-me, na semana passada, de ter escrito que “descansar” Carreras contra o Estoril era um risco. Estes são os jogos que valem campeonato.

    Schjelderup não entrou particularmente bem e os últimos vinte minutos foram de sufoco total por parte do Estoril. Lage tem as substituições escritas num papel que todos já conhecemos. Imagino que os treinadores adversários também as antecipem.

    O Benfica meteu-se a jeito para ter um daqueles desgostos aos 98 minutos. Sim, porque, num jogo sem grandes paragens, tivemos todos direito a quase uma primeira parte de prolongamento.

    Sobraram casos que serão discutidos durante a semana, mas o que se confirma é que, para a semana, o fraquíssimo campeonato português será decidido num jogo que se prevê de faca nos dentes.

    Falamos para a semana, se a azia deixar.

    Fotos de Pedro Almeida Vieira (no estádio)

  • AVS 6.0

    AVS 6.0


    Quando a equipa subiu ao relvado, lembrei-me do João Mário na era de Roger Schmidt. Por mais passes para o lado que fizesse, jogava sempre. Em tom de brincadeira, dizia-se, no terceiro anel, que o bom do João deveria ter “nudes” do treinador para o chantagear.

    Vou por aqui, mas ao contrário, para tentar compreender a relação entre Schjelderup e o banco. Que mais terá o rapaz de fazer para entrar no onze de forma regular? Terá ele dito que choco frito não presta e ofendido o treinador?

    Aos 10 segundos apareceu o primeiro e último susto na baliza de Trubin. António Silva perdeu-se na marcação e Trubin foi abalroado. Decididamente, não consigo compreender como é que António Silva, que tão novo se afirmou, treme constantemente perante qualquer adversário e parece estar sempre a sofrer de um défice de confiança. Terminou aos 2 minutos a entrada forte do AVS e começou um jogo de sentido único.

    Numa liga tão desequilibrada como a portuguesa, e com um plantel com tantas opções, custa-me um pouco a perceber como é que o Benfica corre o risco de perder o campeonato até, por curiosidade, com dois pontos perdidos contra este fraquíssimo AVS.

    Ochoa passou a primeira parte a fazer o que podia para evitar um descalabro maior, e a linha defensiva dos visitantes, com mérito, ainda conseguiu anular um par de ataques, colocando os avançados benfiquistas repetidamente em posição de fora-de-jogo. Ochoa é um daqueles jogadores conhecidos mundialmente sem que alguma vez, em 20 anos de carreira, tivesse jogado num clube de primeira linha. Mas participou em cinco mundiais, normalmente com algum destaque, na boa selecção do México. Um caso único na liga portuguesa.

    Com Pavlidis e Akturkoglu em excelente plano – o turco parece estar de volta à boa forma dos seus primeiros jogos de águia ao peito –, os ataques foram-se sucedendo sem que o AVS conseguisse oferecer qualquer réplica. E deu para tudo. Jogadas de laboratório ao primeiro toque, bolas paradas, dribles, golos anulados. Ao intervalo, a diferença de golos marcados para o Sporting estava reposta.

    Belotti entrou para marcar, Otamendi apareceu no poste que mais gosta para cilindrar Ochoa. Num jogo sem grande história, o Benfica não repetiu o erro de esperar pelo resultado como tinha feito contra o Arouca, e tratou de resolver a vida bem cedo.

    Neste que será um dos campeonatos com um dos piores campeões de sempre (em termos pontuais), a emoção parece estar garantida até ao fim e, tudo indica, o canto da sereia acontecerá no derby da Luz. Tem a palavra o Sporting, daqui a pouco no Bessa.

    Fotos de Pedro Almeida Vieira (no estádio)

  • Arouca 2.2

    Arouca 2.2


    Perguntou-me o director do PÁGINA UM se eu estaria interessado em começar a escrever crónicas a cada jogo do Benfica. Depois de chatear activamente os leitores da Extrema-direita, Pedro Almeida Vieira escolhe agora aborrecer os adeptos dos outros clubes.

    Vamos partir deste princípio basilar nesta que será a minha primeira crónica. Eu não sou jornalista, sou adepto benfiquista, gosto de futebol e, portanto, tudo o que podem esperar ler aqui é a minha opinião. Com alguma sorte teremos momentos de triângulos invertidos e basculação no meio-campo.

    Ainda a bola não tinha começado a rolar e já os adeptos da minha cor me envergonhavam. Sim, eu sou benfiquista, mas não sou cego. Durante o minuto de homenagem a Aurélio Pereira, uma figura ímpar do desporto português, um conjunto de acéfalos resolveu imitar o fatídico som do very light que matou um adepto sportinguista na final do Jamor. Um dia alguém me explicará como é que há um benfiquista — seja ele quem for — orgulhoso com um dos momentos mais negros da nossa centenária história.

    Quando entramos na recta final do campeonato, tudo o que não nos interessa é ver um Benfica-Arouca. São jogos que me fazem lembrar as derrocadas finais nos tempos de Jorge Jesus. A vitória é certa no papel, a equipa acredita que a bola, cedo ou tarde, entrará, e o pouco espectáculo arrasta-se penosamente por longos noventa minutos. O Arouca é uma equipa cuja classificação não reflecte o futebol jogado. Não se limitam ao clássico bloco baixo esperando um contra-ataque milagroso, sabem ter a bola no pé e apresentam um plantel com jogadores interessantes.

    A primeira parte teve quase sentido único, com o Benfica, no seu onze habitual, a dominar o meio-campo e a controlar as operações. Ainda assim, essa posse de bola não se reflectiu em oportunidades de golo. As poucas que aconteceram foram quase sempre cortadas por defesas em lugar do guarda-redes. O Estádio da Luz, cheio como é habitual, demonstrava algum nervosismo com a ineficácia e o ritmo baixo.

    A asa esquerda do Benfica foi, como de costume, o abono de família do ataque, com Carreras, especialmente, em bom plano. Do outro lado, Tomás Araújo continuou preso por arames, a fazer o que pode. Di María, ou GOAT, como é conhecido cá em casa, insistiu nos lances individuais que já não consegue fazer, deixando as recuperações para o norueguês amigo. Ainda assim, há sempre aquele momento em que descobre uma linha de passe que mais ninguém vê e obriga qualquer comentador de sofá, como eu, a meter a viola no saco.

    É estranho pensar na profundidade do plantel do Benfica para disputar um jogo com o Arouca. Mas foi exactamente isso que fiz ao intervalo.

    Rezei para que Bruno Lage pedisse autorização ao Di María para o deixar no balneário, na companhia de Tomás Araújo. A minha expectativa era que a ala direita carregasse jogo com mais eficácia na segunda parte. Opções no banco parecem não faltar.
    A segunda parte começou com um três para três na área do Benfica, sacudido por Trubin, seguido de mais um ataque desperdiçado por Di María. Bruno Lage não viu nada de errado na primeira parte e apostou, tal Marcello Caetano, na transição da continuidade. Aos cinquenta minutos de jogo, já eu fazia contas à vida depois do Arouca ter chegado com perigo à baliza do Benfica.

    Passava a hora de jogo quando comecei a ver nuvens negras e a lembrar-me de um campeonato perdido contra o Estoril. Por esta altura, até um penálti à Diomandé se aceitava. Carreras percebeu o sofrimento da classe operária, que precisa de motivação para trabalhar amanhã, e desatou a ultrapassar gente pelo lado esquerdo. A bola desaguou no pé direito de Kokçu e o turco fez arte, colocando a dita onde a coruja faz o ninho.

    Di María, logo de seguida, falhou um golo cantado e Jason, o melhor jogador do Arouca, tentou trazer um Geny para o Estádio da Luz. O mergulho foi bom, a entrada na água fez pouco espalhafato e o VAR fez o que se espera dele em Portugal: marcou.

    Há uma tendência neste final de época para se ver a mais nalgumas latitudes e fechar os olhos noutras. Dizem-me que é azar. Do Benfica, obviamente. Azar esse que se prolongou do VAR para a inoperância de Bruno Lage que, aos 75 minutos, ainda não tinha visto necessidade de mudar fosse o que fosse.

    Quando Belotti e Schjelderup entraram, já o Arouca estava na opção do bloco baixo e o espaço para jogar se reduzira a um T1 de meio milhão em Arroios. Esperava-se que o norueguês ganhasse os duelos que Di María não conseguiu.

    As substituições, tardias, tiveram efeito quase imediato. Kokçu, o tal rapaz com um pé direito que daria jeito ao Florentino, descobriu Pavlidis sozinho, enquanto Belotti arrastava os centrais. São aquelas dinâmicas, como lhes chamam os entendidos da bola, que acontecem quando dois rapazes, com a mesma camisola, estacionam permanentemente na área alheia.

    O Arouca não reagiu ao segundo golo porque o Benfica não tirou o pé do acelerador. Seguiram-se algumas hipóteses de golo desperdiçadas, um golo anulado e mais uma dose de nervos até ao fim.

    O prolongamento chegou com 7 minutos que ninguém percebeu e o Arouca, vendo que o jogo não era sentenciado, apostou tudo nos instantes finais, conseguindo marcar já depois dos 95 minutos.

    O campeonato volta a dar mais uma volta e, pela segunda vez, o Benfica não aguenta a liderança mais do que uma semana.
    Tal como disse no início desta crónica, gosto pouco destes jogos em que pouco se ganha e tudo, ou quase, se perde.

    Fotos de Pedro Almeida Vieira (no estádio)

  • Benfica 1.4

    Benfica 1.4


    O Pedro Almeida Vieira foi operado aos olhos e não consegue ver ao perto. Inicialmente, pensei que me estava a dizer que tinha entrado no curso de iniciação a VAR, onde, como se sabe, é requisito essencial ver mal. Mas enganei-me… era uma forma de me cravar para escrever a crónica do jogo. Logo a mim, um rapaz tão isento em matéria futebolística.

    Ainda não tinha decidido se ia buscar uma cerveja ou começava a preparar o corpo para o Verão quando, poucos segundos depois do apito inicial, já Pavlidis tinha deixado Diogo Costa a pensar na transferência de Verão.

    Foto: PÁGINA UM

    Os primeiros 20 minutos de jogo foram de sentido único, com o Benfica a controlar o meio-campo e a criar várias oportunidades. O Porto acordou a partir do minuto 25 e o Benfica baixou o bloco, apostando nas recuperações de Aursnes para lançar o contra-ataque.

    Nesta fase, as oportunidades do Porto eram criadas essencialmente por quatro jogadores: Rodrigo Mora, de longe o mais inconformado e talentoso portista; António Silva, um rapaz que se tenta descobrir desde aquele fatídico Portugal-Geórgia; Florentino, com o habitual brinde de jogo grande; e, claro, Di María, o meu favorito do plantel, que resolveu perder quase todas as bolas em que tocou.

    Depois de algumas bolas ao poste por parte dos jogadores do Benfica, Florentino ensaiou algo que não é a sua praia — o remate — e fez uma assistência primorosa. Pavlidis agradeceu, sentou um defesa e voltou a dar pensamentos futuros a Diogo Costa.

    Ao intervalo, pensei que Bruno Lage deixaria Di María no balneário, por estar a ser a maior fragilidade, mas enganei-me. Deve ser por isso que o treinador é ele e não eu. O Porto também não mexeu, mas no caso de Anselmi nem é bem pela falta de vontade — é mesmo falta de matéria-prima.

    O início da segunda parte foi uma repetição da primeira. O Benfica jogou e o Porto assistiu. Di María faz-me lembrar o meu avô: falava pouco, mas falava bem. Apareceu uma única vez, antes de ser substituído, para fazer uma assistência boa — mas tão boa — que até o Samu marcaria. E marcou mesmo.

    António Silva, que insiste em adormecer nestes jogos, ficou a observar o movimento técnico de Samu na recarga a um remate de um colega. Deu-lhe nota 10 pela execução e depois abriu os braços, como que a perguntar aos colegas: sabem quem é que deu outra casa?

    O Porto aproveitou o embalo e criou nova oportunidade, aproveitando a péssima adaptação de Dahl à lateral direita. Foram minutos de excepção à tendência do jogo.

    O Benfica mostrou superioridade do início ao fim e teve a vitória mais tranquila que alguma vez me lembro de ver no estádio do Dragão. A imprensa dirá que Pavlidis foi o homem do jogo. Eu acho que a perfeição, esta noite, teve outro nome: Aursnes. O norueguês que não treme nem complica. Defende, ataca, cobre o lado de Di María, compensa as falhas de Florentino, faz a dobra ao António Silva. É um daqueles jogadores que, discretamente e sem controvérsias, conquista a plateia.

    O Pedro disse-me, antes do jogo, que isto ia acabar 1-4. Nada mau, para um homem que vê tudo desfocado.

    Foto: PÁGINA UM
  • Os dilemas do André

    Os dilemas do André


    Não raras vezes, o Chega tem sido acusado de ser um partido de um homem só. É uma teoria com a qual concordo, e sobre ela já me debrucei algumas vezes. A azáfama do André para concorrer a tudo, desde Presidente da República a Primeiro-Ministro, passando por vogal do condomínio e secretário na junta de freguesia, é meritória, mas deixa a descoberto a dificuldade de arranjar quadros para o partido.

    Não é um problema exclusivo do Chega, entenda-se. É pouquíssimo apelativo enveredar pela carreira política em Portugal neste momento. Os salários são baixos, a exposição à comunicação social é enorme, o risco de devassa na vida privada é uma constante.

    (Foto: D.R./Chega)

    Quem é que, no seu perfeito juízo, quer sair do sector privado, de carreiras bem remuneradas, para entrar no circo em que se tornou o trabalho parlamentar? Dois tipos de pessoas: aqueles a quem seduz a projecção mediática ou, pior, os que não encontram melhor alternativa de trabalho. O salário de deputado pode não ser muito alto, mas, convenhamos, para um incompetente é uma fortuna.

    Quase todos os partidos passam por estas dificuldades. No caso do Chega, um partido que gira em torno de uma pessoa e sem grandes teorias ou ideologias, a busca por quadros minimamente apresentáveis é ainda mais difícil. Não é qualquer pessoa que se sujeita aos gritos racistas e xenófobos a troco de um salário.

    Não é, por isso, de estranhar que André Ventura ande sempre aos caixotes entre os desiludidos dos outros partidos. Imagino que o Sérgio Sousa Pinto seja o próximo convidado para jantar.

    Rita Matias, deputada do Chega.

    Quando o grupo parlamentar aumentou para os actuais cinquenta membros, foi preciso abrir a porta sem grande controlo e rezar pelo silêncio dos novos recrutas. Os meses passaram, e os escândalos foram-se sucedendo. Casos e mais casos com os deputados, crimes menores e maiores, 20% da bancada debaixo de investigação.

    André tentou conter os primeiros casos e, sempre que possível, apontar aos alegados crimes do PS e do PSD. Mas chegou a um ponto em que as notícias eram tão catastróficas, com escândalos semanais, que o líder do Chega mudou de estratégia. Era altura de começar a atirar gente para debaixo do comboio.

    Entre pedófilos, agressores, corruptos e ladrões de malas, Ventura optou por se antecipar à crítica e tratou de afirmar que o Chega era um partido diferente. Não daria cobertura aos crimes dos seus, embora, recentemente, Ventura se tenha referido a “crimes menores” para marcar as diferenças face ao PS e ao PSD. O que diria o André de 2023, que gritava por castração química para pedófilos, deste de 2025, que vê a coisa de uma forma mais leve?

    (Foto: D.R./Chega)

    O Chega escolheu duas linhas perfeitamente definidas: a imigração e a corrupção. Se, no primeiro tema, o trabalho de populismo está a ser feito com algum sucesso, já no tema da corrupção os quadros do partido não estão a ajudar. Ana Caldeira, a mais recente descoberta nas virtuosidades da extrema-direita, está acusada de burla qualificada e, de imediato, posta a andar por Ventura. Nem Marine Le Pen, condenada por roubar fundos europeus, foi poupada por Ventura, nestes dias difíceis para a extrema-direita europeia.

    Chegámos a um ponto de habituação tal que, a verdadeira notícia, é termos uma semana sem mais um membro do Chega ser apanhado com a boca na botija. De tantas cabeças a cortar, o pobre André está rapidamente a tornar o partido de um homem só, algo mais literal.
    Aguardo, com alguma ansiedade, por conhecer as listas do Chega para as próximas legislativas. Devem estar recheadas de futuros criminosos de baixo quilate.

    Esta também é uma parte importante. O Chega trouxe para a política o incompetente desqualificado que, até a roubar, é razoavelmente burro. Miguel Arruda, à falta de melhor, é um bom exemplo do que é o Chega para lá de Ventura. Um incapaz que não consegue articular duas ideias. Um racista primário que apoia movimentos de nazis. Um idiota encartado que rouba na sala do país com mais câmaras por metro quadrado e que, para complemento, ainda envia o produto do saque pela agência dos correios do Parlamento, para poupar uns cobres em selos. Agora imaginem um intelecto destes a votar em leis.

    (Foto: D.R./Chega)

    O que estes sucessivos casos do Chega nos dizem é, no fundo, aquilo que já todos sabíamos. O Chega não é anti-sistema, não é anti-corrupção e, muito menos, tem uma ideia para o país. Limita-se a cavalgar os temas que dividem e que, mais depressa, os poderão levar a cargos de poder. E, se há coisa que o crescimento da extrema-direita na Europa nos ensinou, é que o ódio a emigrantes e o populismo moralista são as formas mais rápidas de converter frustração popular em votos.

    O projecto de poder pessoal de André Ventura não é gritar porque outros, em lugares de decisão, roubam. O que o incomoda verdadeiramente, desde o dia em que saiu do PSD, é não lhe darem um lugar onde ele, e alguns dos seus fiéis, possam também meter a mão na coisa pública.

    Parece que ainda não será desta. O Rocha foi mais esperto.

    Tiago Franco é engenheiro de desenvolvimento na EcarX (Suécia)

  • Trump M&M: mentiras e megalomania

    Trump M&M: mentiras e megalomania


    Este texto deveria ter sido publicado no ‘day after‘ à eleição de Donald Trump. Felizmente, o ‘Windows‘ rebentou (ou não fosse o ‘Windows‘) e o texto desapareceu, sendo substituído por uma neura que me fez desligar o computador e ir ver o Bayern – ‘Arouca’, para a Liga dos Campeões.

    E digo felizmente porque aquilo que lá estava já não aparece aqui hoje. Nesse dia estava chateado, a pensar como é que tantos milhões podem votar num criminoso condenado (é facto, já não é domínio da opinião) e, principalmente, num homem que faz do racismo, do ódio e da divisão, os seus principais argumentos. Hoje, vejo a coisa de forma ligeiramente diferente e numa perspectiva menos emocional.

    Já tinha escrito anteriormente que a escolha entre Kamala Harris e Donald Trump se resumia ao clássico ‘mal menor’, de que esta tão propalada democracia bipartidária é pródiga. De quando em vez, lembro-me que a diferença entre uma ditadura e a democracia americana está reduzida à unidade. Um partido separa-os.

    Nesta escolha do ‘mal menor’, para mim, não existiam dúvidas. Kamala, com todos os defeitos, é um ser pensante, com alguma decência e dentro do perfil de bom senso que, pelo menos eu, imagino necessário a qualquer líder. Trump é um ser abjecto, sem o mínimo de cultura ou bom senso para administrar o condomínio do prédio, quanto mais os Estados Unidos.

    Esta seria a análise fácil e aquela que escrevi antes do ‘Windows’ ter ‘eliminado’ o meu texto original. Hoje, tento colocar-me nos sapatos dos americanos que votaram, sem o habitual preconceito de serem todos ignorantes como pneus.

    De um lado, tinham Kamala Harris, simpática, bem humorada, a prometer seguir a linha de Joe Biden, sem nunca conseguir explicar algo que se parecesse a um programa. A aposta total dos democratas, depois de conseguirem correr com um desgastado Biden, foi apenas a de mostrar bondade e amor, contra o ódio irradiado por Trump. É pouco. Foi pouco.

    Trump, por seu lado, explicou exactamente ao que vinha. Inventou, mentiu, exagerou, mas disparou ideias: deportar imigrantes, acabar com as guerras que o Biden financiou, bloquear as entradas de produtos da China, descer os impostos.

    O discurso de ódio contra os imigrantes foi abraçado, de imediato… por outros imigrantes. Num país onde todos são imigrantes, nada mais popular do que dizer que é altura de mandar alguém fora, porque, se pensarmos bem, há sempre alguém descontente com o vizinho.

    Acabar com a guerra da Ucrânia com um telefonema, e antes de tomar posse, foi outra das promessas. Tendo em conta que a guerra gera emprego interno nos Estados Unidos, não sei bem se as pessoas queriam sequer esta medida ou se perceberam o seu impacto. Mas, se cumprir a promessa, já estará a dar uma ajuda aos europeus que pagam, com juros, a ‘conquista’ do Donbass e, de caminho, ainda têm de comprar energia mais cara aos Estado Unidos. Mas duvido que um norte-americano de classe média se deite a fazer estas contas ou discuta seja lá o que for que aconteça do Maine para o lado do Atlântico.

    Já a promessa de bloquear os produtos chineses pareceu-me um tiro em cheio. Enquanto chamava marxista a Kamala Harris, Trump fazia promessas socialistas, daquelas que se fossem feitas na Venezuela dariam origem a sanções. Mas, melhor do que isso, foi ver norte-americanos na rua a pedirem o fim da entrada dos produtos ‘made in China’, quando os gigantes americanos já fazem as suas produções por lá. Apple, Boeing, Ford, GM, entre tantos outros, já produzem e optimizam os seus lucros graças à China. Ao impor um bloqueio, Trump está, na prática, não só a prejudicar o investimento norte-americano como a aumentar o custo dos produtos ao consumidor final. Ou seja, diz que lhes baixa os impostos e, em simultâneo, aumenta o custo de vida.

    E as pessoas deliram, aplaudem, acreditam e… votam.

    Foi esta a grande diferença. Trump mentiu, prometeu coisas que não sabe se pode cumprir e inventou, muito. Mas disse qualquer coisa. Mostrou uma espécie de plano. Kamala andou a fazer discursos de ‘Miss Mundo‘ e, depois de quatro anos da Administração Biden, enlameada directa ou indirectamente pela guerra da Ucrânia, o genocídio em Gaza e vários problemas internos (com a Economia e a imigração à cabeça), a saturação do eleitorado atingiu o pico.

    Entre quem não diz nada, e promete a continuidade dos problemas, ou um lunático que dispara para todo o lado, as pessoas arriscam pensando: “o que há para perder?”

    Se Trump se virar para dentro e tentar isolar um pouco mais os Estados Unidos, seja no comércio, na defesa, na Economia, nos muros da imigração ou nos bloqueios imaginários a produtos americanos vindos da China, por mim tudo bem. Aliás, quanto mais problemas internos ele arranjar e menos chatear no resto do Mundo, tanto melhor. Como isso não acontecerá, e os norte-americanos continuarão a meter a colher em todas as panelas, pode ser que a Europa aproveite esta oportunidade única para voltar a ter um lugar à mesa e deixe de ser um fantoche dos Estados Unidos. Que trate da sua defesa sem depender da NATO, que faça as suas relações comerciais com quem seja mais vantajoso, que tome posição nas decisões e nos conflitos, em vez de andar a distribuir lamentos e repúdios.

    É tempo de a Europa assumir, novamente, o seu potencial. É certo que a tarefa se complica com gente como Macron, Meloni, Von Der Leyen, Orban, Scholz ou Borrell à frente dos destino europeus mas, enfim, é o que se arranja por agora.

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    Uma última nota para a hecatombe das previsões que, uma vez mais, se verificou na comunicação social portuguesa. A ‘coisa’ começa a criar alguma tradição. Andei semanas a ouvir que Kamala Harris tinha uma ligeira vantagem e, mesmo na noite eleitoral, ainda ouvi falar em empate técnico durante umas horas. Acabou numa ‘tareia republicana’ em todas as disciplinas de voto.

    Como podem esperar manter a credibilidade, a seriedade e até a atenção dos espectadores quando falhas épicas começam a ser o prato do dia? A última vez que ouvi falar em empates técnicos, durante semanas, o acto eleitoral acabou numa maioria absoluta do Partido Socialista. Pensei se, desta vez, o Sebastião Bugalho voltou a fazer análises ou se lançaram apenas os búzios aí nas redacções.

    Para a próxima é que é…

    Tiago Franco é engenheiro de desenvolvimento na EcarX (Suécia)


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  • Odair: onde tropeçam as revoluções

    Odair: onde tropeçam as revoluções


    Miguel Sousa Tavares meteu em palavras simples aquilo que todos pensamos, mesmo que não o digamos em voz alta.  Não foi por conduzir embriagado, fugir à polícia, abalroar outros carros depois de se despistar e muito menos por, alegadamente, ter tentado agredir um polícia, que Odair Moniz foi morto, baleado por um agente da PSP. Era preto e vivia num bairro social – e foi isso que facilitou o puxar do gatilho.

    Não precisamos sequer de ir ‘por opiniões’; basta olharmos para os números. Em Março de 2024, um estudo apresentado pela antropóloga Ana Rita Alves dava conta que ciganos e negros tinham uma maior probabilidade de serem mortos pela polícia: 43 e 21 vezes mais, respectivamente, para ser mais preciso.

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    Entre 2002 e 2013, mais de uma dezena de jovens negros (médias de idades a rondar os 19 anos) foram mortos pela polícia. A lista de agressões é muitíssimo mais extensa e não caberia aqui. Também não é preciso explicar que estas mortes, agressões e tratamento diferenciado por parte das autoridades não acontecem na Lapa, nas Avenidas Novas ou no Chiado. Ocorrem na Cova da Mora, na Quinta do Mocho, Bela Vista, Quinta da Princesa, entre outras zonas das quais nada sabemos até a polícia lá entrar.

    O racismo estrutural de uma sociedade vê-se, em parte, pelas reações a crimes deste tipo. Antes sequer de sabermos o que aconteceu, já chovem críticas assumindo que o, neste caso, morto,  fez por merecer o destino. É preto, vive na Cova da Moura e tem cadastro. Um tiro da polícia será, para muitos dos que me estão a ler neste momento,  a coisa mais natural e expectável.

    Reparem que em momento algum desta tragédia ouvimos falar em investigações para se tentar perceber, com algum bom senso, o que falhou. A polícia apressou-se a inventar desculpas para escudar a corporação e transferir responsabilidades para um morto. Primeiro era um carro roubado, depois uma faca. Nada que fosse verdade e, muito menos, que justificasse uma morte.

    Até poderíamos cair no erro humano: um polícia inexperiente, uma reacção precipitada, um tiro falhado. Mas é difícil, cada vez mais difícil, acreditar nas autoridades quando estas mostram uma necessidade constante de fugir às próprias responsabilidades.

    A revolução partiu dos bairros, pela morte de Odair,  e tomou as ruas. A partir daí formaram-se as barricadas. Ouvi falar mais no custo de um autocarro do que nos familiares que Odair tinha deixado para trás. Tal como em Gaza e Beirute em contraponto com Telavive e Kiev, também em Portugal as vidas não têm o mesmo valor. A morte de um preto está em saldo, não dá sequer para os pneus de um autocarro da Carris.

    E foi quando essa revolução partiu para se fazer notada que, definitivamente, os extremismos políticos tiveram a prancha que faltava para surfar a onda. André Ventura, antes sequer de saber o que tinha acontecido, já pedia medalhas e condecorações para o polícia que tinha morto Odair. Nas suas palavras, o polícia tinha “dado o corpo às balas”. Quais balas, André? Se ele tivesse, de facto, dado o corpo às balas, o morto não tinha sido o homem que estava desarmado. Já Pedro Pinto, o líder parlamentar sem autorização para falar pela bancada, tal o limite intelectual apresentado, disse que, “se a polícia atirasse mais a matar, talvez o país estivesse mais na ordem”. 

    (Foto: D.R./Chega)

    Foi a este tipo de gente que os habitantes dos bairros sociais foi dar alimento quando, sem qualquer propósito, desataram a partir propriedade alheia. A sociedade que os coloca de lado em cada momento do dia e que não sabe sequer da sua existência, dificilmente apoia uma luta de carros destruídos e trabalhadores queimados.

    O caso do Tiago, condutor da Carris, queimado e a lutar pela vida numa cama de hospital, é exactamente o contrário do que uma luta contra o racismo e repressão policial deve ser. É colocar trabalhadores contra trabalhadores, pobres contra pobres. E foi nesse momento que a revolução falhou e fracassou, permitindo que a extrema-direita tivesse o que precisa: ódio.

    A forma certa de chamar a atenção para os problemas que afectam os mais desfavorecidos e marginalizados é aquela que aconteceu, há uns dias, com a descida da Avenida da Liberdade por milhares de pessoas, pacificamente a gritarem palavras de ordem, enquanto, na rua ao lado, André Ventura e umas dezenas de rapazes se humilhavam desfilando com mostras de racismo e xenofobia.

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    Associações, sindicatos, anónimos, partidos. Todos juntos mostrando que a sociedade se consegue mexer e unir para defender as causas justas. A morte de Odair é inaceitável e, por não ser a primeira vez que tal acontece, as forças de segurança têm que responder por isso. Já são vezes a mais em que as condições que levam a estas mortes são, no essencial, as mesmas. Se queremos que Portugal não seja, de facto, considerado um país racista, estruturalmente, então a culpa não pode continuar a morrer solteira.

    A violência a que foi sujeito o Tiago, um trabalhador da Carris, são igualmente inaceitáveis e mancham, por um bando de marginais, a luta justa pela visibilidade e melhoria de vida nos bairros problemáticos do país. Espero que melhore rapidamente e possa seguir a sua vida, de alguma maneira.

    Portugal continua a ser um país seguro com óbvios problemas de inserção social e demasiados bairros problemáticos. Os números existem e, por mais que a extrema-direita berre, eles não mudam. 

    Somos um país de diversidade étnica e de imigração. A tendência é para aumentar e, portanto, é bom que nos habituemos a isso e compreendamos que, até do ponto de vista económico, Portugal beneficia com esse fluxo de pessoas. Em vez de andarmos a discutir como fechar a porta, matar mais gente ou mandar para outro lado qualquer, devemos é perceber a razão da revolta e do esquecimento dos bairros sociais onde, já agora convém dizer, maior parte das pessoas que por lá vivem, trabalham e pagam impostos.

    selective focus of man smiling near building

    Não se vive num subúrbio, num bairro social ou num gueto, por opção. Vive-se porque a vida nunca mostrou outra possibilidade.

    Os partidos políticos devem fazer o esforço para contribuir para a integração destas pessoas como parte do seu trabalho permanente. Por exemplo, nas políticas de trabalho. É esse o primeiro passo para que alguém pertença a uma sociedade: trabalho. A dignidade humana começa também aí. 

    Deixar estas pessoas por sua conta e esperar pelas desgraças para aparecer serve, essencialmente, para que o fogo que a extrema-direita precisa para existir aumente exponencialmente.

    A morte do Odair poderia ter sido evitada. E o ataque ao Tiago também. O polícia que foi incompetente (estou a dar o benefício da dúvida) não voltar tão cedo às ruas será, na minha opinião, o primeiro passo para demonstrar que se percebeu alguma coisa.

    Uma última nota, num texto que já vai longo, deixo um abraço ao nosso leitor Carlos Maia, um dos primeiros a seguir o PÁGINA UM, que me fez pensar um pouco na relação com quem está desse lado. Conhecemo-nos virtualmente num encontro promovido entre o jornal e os seus leitores onde, educadamente, me explicou como discordava de muito do que eu aqui escrevia. Não há nada melhor do que discordarmos uns dos outros. Sem debate não há ideias novas, progresso e evolução. Sem educação é que não há sequer hipótese de chegarmos a esse ponto. Percebi, ao ver um leitor real, que é para pessoas como o Carlos que opto por escrever. Um abraço para ele e, já agora, felicidades para o seu (nosso) Benfica que, finalmente, se livrou daquele emplastro alemão.

    Tiago Franco é engenheiro de desenvolvimento na EcarX (Suécia)


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  • Aprende Zelensky, que o Ricardo Salgado não está para durar

    Aprende Zelensky, que o Ricardo Salgado não está para durar


    Volodymyr Zelensky apresentou esta semana o seu ‘Plano de Paz’, também conhecido como ‘Plano de Vitória’. Vemo-lo, de papel na mão, a visitar as cidades dos principais aliados para discutir os detalhes, deixando a generalidade dos comuns, com alguma curiosidade.

    Quando digo curiosidade é, convenhamos, algo mais do que isso. Não se trata da curiosidade face a um acidente na faixa do lado ou a um arrufo no apartamento de cima. A invasão da Ucrânia tem sido pau para toda a obra nas justificações que vão servindo à classe média europeia, enquanto nos vão extorquindo cada euro.

    Se aumenta o combustível que nos chega da Nigéria, a culpa é do que sucede na Ucrânia. Se o leite que vem dos Açores dispara, pois bem, foi da Ucrânia. Se a prestação da casa subiu, a Lagarde avisa que se deve à Ucrânia. Se a EDP aumenta a tarifa – adivinharam! –, é porque o gerador está em Kiev. Até aquela camisolinha da Zara, feita com trabalho infantil no Bangladesh, já sofre com a ‘taxa Donbass’. Antes da guerra, a Ucrânia era o “celeiro da Europa”, depois da invasão passou a ser a loja do chinês de Bruxelas. Aparentemente tudo nos chegava daqueles lados.

    Dizem-me, economistas encartados, que o mercado se aproveitou na crise, em um ou dois sectores, e cavalgou a onda, subindo tudo o que mexia. Adoro mercados. E até economistas – tenho amigos que são, e tudo o mais.

    Isto tudo para dizer que este ‘Plano de Paz-Vitória’ era algo que eu esperava com alguma ansiedade. Depois de o ler, enfim, fiquei com aquela sensação que qualquer benfiquista tinha em todos os Agostos entre 1995 e 2003: a expectativa inicial era grande, na pré-época, mas depois tínhamos de ir para a luta com Marcelos, Nelos, Thomas e Bossios. Ora, este plano do camarada Zelensky foi um pouco esse balão, que rapidamente perdeu o ar.

    Se bem percebi, Zelensky quer convencer a Rússia, e os aliados, a rejeitar qualquer cedência de território e, portanto, nada de ‘congelar’ a linha da frente.

    Do ponto de vista ucraniano, faz algum sentido: Zelensky não quer perder um palmo de terra, e é exactamente isso que deve dizer ao seu povo.

    Neste plano há também uma linha dedicada a forçar a Rússia a ir para a mesa das negociações, depois de a Ucrânia fazer mais avanços no terreno. Como? Muito simples: Zelensky pede à União Europeia e aos Estados Unidos que levantem todas as restrições ao uso de armas de longo alcance.

    Numa parte secreta deste caderno aparece outra linha para introduzir um novo e mais original pedido aos aliados: instalação de medidas estratégicas não-nucleares, em solo ucraniano, para dissuadir os russos. Ao jeito daquele porta-aviões que os americanos deixaram “acampado” no Mar Vermelho para os israelitas poderem arrasar Gaza.

    Aqui também vejo alguma coerência na estratégia ucraniana. Se ao Netanyahu dão tudo, o que é que custa tentar? Até vejo alguma benevolência na adenda. Por mim tirava o “não” em “não-nuclear”. Se é para pedir, que se avance sem medo!

    Ainda assim, parece-me, é nesta parte do plano que deixamos cair definitivamente a parte a ‘paz’ e nos focamos na ‘vitória’. Tudo bem espremido, aquilo que temos neste plano de vitória, que em momento algum é de paz, é uma revisão da matéria dada. É Zelensky a resumir num caderninho aquilo que anda a dizer há dois anos e meio, a saber:

    1 – Mais armas;

    2 – Nem um centímetro cedido à Rússia;

    3 – A Ucrânia vai vencer a guerra;

    4 – Continuem a mandar dinheiro.

    Qual é então o problema nesta história?

    A realidade. Essencialmente isso.

    Há, em regra, duas saídas clássicas para uma guerra: um dos lados perde e aceita aquilo que o vencedor ditar (os alemães tiveram duas experiências mais ou menos recentes e estão bem documentadas); ou, em alternativa, cansam-se os beligerantes de morrer e declaram um empate mediado por alguém que finge ser neutro, e discutem-se as condições.

    A Ucrânia não está em nenhuma dessas situações, mas quer ditar as condições. É uma originalidade, mas enfim, aprecio a criatividade. A Rússia está com o mesmo território ocupado, mais aldeia menos aldeia, desde Maio de 2022. Portanto, gritar que não se cede um palmo de terreno, como condição para o fim da guerra, é de facto meritório para o lado ucraniano. E só falta convencer os russos disso.

    E quem diz os russos pode acrescentar os americanos, os ingleses e os amigões da NATO, que foram tão peremptórios em Fevereiro de 2022, mas que hoje já vão dizendo a Zelensky que é preciso jogar ao monopólio no Donbass.

    Zelensky também sugeriu, neste ‘Plano de Vitória’, que entrar para a NATO era uma boa ideia. Como não? Era o mínimo que podia fazer…

    Tenho uma teoria para esta alucinação que Zelensky andou a passear por Washington e pelas principais capitais europeias. Elevar a fasquia para negociar em alta e ir baixando sem parecer que está em perda. Partindo do princípio de que nenhum aliado se vai enterrar mais neste conflito, muito menos com tropas no terreno, e que a Ucrânia já serviu o seu propósito aos interesses ocidentais, restará a Zelensky trocar umas aldeias russas por qualquer coisa na Ucrânia, receber uns milhões para a reconstrução e aceitar uma zona-tampão no Donbass, que ficará com a Rússia e os Capacetes Azuis nos próximos 20 anos. Depois, quem vier a seguir que feche a porta.

    Infelizmente para a Ucrânia, e para as famílias dos soldados que morreram, o plano de Zelensky não é de paz e muito menos de vitória. É um grito desesperado de um morto, um bluff sem cartas na mão. O Ocidente está, de momento, mais preocupado em defender outro invasor ali para os lados do Médio Oriente. Por outro lado, o alinhamento geoestratégico dos países está a tomar forma enquanto se morre em Gaza, Beirute e Donetsk. A Turquia, a China, o Irão, a Índia e os países da Ásia Central e da África estão do lado russo. Lembram-se de se insistir nos “isolados russos” de 2022?

    Ricardo Salgado, ex-CEO do Banco Espírito Santo, esta semana no início do julgamento no Campus de Justiça, em Lisboa. Foto: captura de imagem a partir de vídeo da SIC Notícias

    Não há saída para o caderno de intenções de Zelensky. Ninguém se vai atravessar, para lá de dinheiro e algumas armas, pelas vidas ucranianas contra o bloco que se formou do lado de lá. Os equilíbrios estão perfeitamente definidos e os ucranianos andam a morrer, tal como os russos, há dois anos, para nada.

    Na verdade, um ‘Plano de Vitória a sério foi aquele feito em Lisboa por Ricardo Salgado. Várias décadas a controlar e delapidar o Estado Português na bela soma de 12 mil milhões de euros. Depois de ser apanhado, enrola o processo com todos os truques permitidos no Código de Processo Penal enquanto vive dos lucros. Dez anos depois, chega finalmente ao tribunal, mas já em estado de saúde debilitado. O antigo banqueiro que tinha ministros no bolso, e a quem toda a elite dizia que sim, aparece sem memória, com uma camisola discreta de velhinho, a dar passos de 10 centímetros, seguro pela mão de uma cuidadora, para não cair. Não se lembra de nada, não sabe de nada, não se consegue defender. Isto, 10 anos depois de ser apanhado e um ano depois de escrever um livro de memórias.

    Isto é que é um ‘Plano de Vitória’, Volodymyr. Aprende, que o Ricardo não parece estar para durar.

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  • O labirinto do Chega

    O labirinto do Chega


    Que as guerras no Leste da Europa e no Médio Oriente fazem vítimas inocentes, já ninguém duvida. A novidade, aqui, nesta minha crónica julgo, é André Ventura ser, na minha opinião, uma dessas vítimas.

    Calma jovem fã dos tik-toks da Rita Matias; calma ancião que vês no Ventura o Moisés que abrirá os mares da expulsão de nepaleses. Calma. Não fiquem por aqui e leiam até ao fim.

    André Ventura é dos políticos com mais tempo de antena na comunicação social portuguesa. Já o era antes de o Chega ter eleito cinquenta deputados e, também por essa ordem de razão, continua a ser daqueles que mais vemos no pequeno ecrã.

    Não é que ele tenha muito para dizer; de facto, não tem, mas a vida de um partido sem ideologia, como o Chega, que vive do protesto do momento, depende da sua exposição mediática e, de alguma forma, da sua capacidade em conseguir marcar a agenda.

    Líderes com ideias e ideais vivem do seu pensamento. Sem qualquer uma delas, sobra apenas o barulho como acto contínuo de sobrevivência -é esse exactamente o caso de André Ventura e do Chega, um partido de um homem só, apesar das tentativas de espalhar alguns deputados, os menos grunhos, nos painéis de debate dos diferentes canais de informação.

    Com o tempo de antena dispensado pelas televisões às guerras na Ucrânia, Gaza e agora Líbano, sobra menos do que o habitual para os disparates do Ventura. Mas ninguém o pode condenar por falta de activismo na busca de um holofote, de um microfone ou de um conflito.

    Se o país arde, o bombeiro André convoca conferências de imprensa para exigir penas maiores para os pirómanos. Não vai pegar num balde para ajudar, falar de eucaliptos ou da limpeza das matas. Nada de coisas que possam dar trabalho. Vai apenas criar mais um alvo para o ódio; neste caso, quatro ou cinco malucos que puxam fogo à mata. Sobre o negócio que, posteriormente, se faz na zona ardida… fica para outra altura.

    Mas, enfim, o drama real é mesmo ver as casas em chamas, mortes de bombeiros e aldeias arrasadas. Os holofotes não se fixam no Ventura, e isso é uma chatice.

    Surge então o Orçamento de Estado (OE) e uma nova oportunidade de brilhar. Desde as eleições que o Chega se queixa do ‘cordão sanitário’ imposto pela AD e, em cada oportunidade, faz o possível para que o PSD se arrependa dessa decisão. Por exemplo, na aprovação de medidas impostas pelo PS no Parlamento contra o Governo.

    Também nas discussões do OE, o nosso André não conseguiu estar no centro da decisão. O PSD andou a namorar toda a gente, desde logo o PS e até a IL. E, no fim, deu algum tempo de antena ao Chega, para ver se o PS mordia o isco. Percebeu-se agora que o PS não estava disponível para aceitar o IRS Jovem e, mesmo assim, o Governo parece ter pouca vontade de falar com o Chega, preferindo ir novamente para eleições. O ‘pastor’ André e os seus 49 discípulos ficam naquela situação caricata de serem a terceira força no Parlamento, mas continuarem sem contar para o Totobola. Não há quem veja nessa gente um parceiro fiável. Porque será?

    O Presidente da República veio dar uma mãozinha à decência e meteu-se na discussão, avisando que o impasse nas negociações poderia deixar o Governo nas mãos do Chega. O André ficou possesso e toca de convocar nova conferência de imprensa para cascar no Marcelo. “Até parece que ficar nas mãos do Chega é algo negativo”, disse ele com ar ternurento aos jornalistas. Então não é, rapaz? Não achas que Portugal tem já problemas com fartura?

    Falando em problemas, e com os israelitas a continuarem a ocupar espaço de antena com as preparações para a invasão do Líbano, eis que o bom do André se lembrou de criar problemas onde não existem. Tudo em nome da agenda mediática onde o Chega está com dificuldades em pontuar.

    A Economia portuguesa depende, neste momento, fortemente da mão-de-obra imigrante. A Segurança Social engordou com as contribuições dos estrangeiros; a hotelaria, a restauração, a construção e a agricultura dependem muitíssimo dos que escolhem Portugal para trabalhar. E essa fatia da população ronda os 10% daqueles que habitam o nosso país. Até o Governo, mesmo infiltrado com conservadores do calibre de Nuno Melo, já assumiu que a imigração é fundamental para manter o país a funcionar.

    Aliás, convenhamos, não é preciso ser um Einstein para entender a problemática. Num país envelhecido, com baixa natalidade, baixos salários e que exporta boa parte das pessoas com maior formação, quem esperam que trabalhe por 800 euros? Noruegueses, alemães e belgas? Ou nepaleses, paquistaneses e brasileiros?

    Meus amigos, à partida, o fluxo migratório dá-se na direcção de países mais ricos. Encontrar alguém mais pobre do que Portugal, entre louros e arianos que agradem ao Chega, não parece ser tarefa fácil.

    Portanto, sendo a imigração algo positivo para Portugal, o que decide André Ventura? Agendar uma manifestação para os mandar embora e “devolver Portugal aos portugueses”. Com isso conseguiu criar um momento político, mais umas horas de emissão e inventar uma agenda que não existia. E, claro, conseguiu agradar aos seus eleitores com um discurso de ódio e racismo primário.

    Curiosamente, o Chega convocou esta manifestação para o dia seguinte outra manifestação nacional, esta a propósito de um problema real: o acesso à habitação. Outro tema sobre o qual o Chega não tem nada para dizer porque o ódio, como perceberão, serve para ser direccionado somente para pobres e estrangeiros. Não é para afrontar os poderes instalados e, muito menos, os mais ricos.

    Notem até que, apesar de andar sempre com a falácia dos subsídios para os imigrantes, apesar dos números nos dizerem que estes contribuem sete vezes mais do que recebem, André Ventura sugeriu, no passado dia 25 de Setembro, que o Estado deveria subsidiar as empresas para que pudessem aumentar o salário mínimo.

    Estão a ver a contradição? Um homem que dizia que era necessário cortar 50% do RSI no Acores – falamos de prestações de aproximadamente 100 euros –, afirma agora que o Governo deve subsidiar empresas para que paguem salários decentes.

    André Ventura, ou o Chega (já que são a mesma pessoa), não tem nada contra subsídios estatais; só não gosta é que sejam dirigidos aos mais desfavorecidos.

    Enfim, os anos passam, os votos aumentam, o grupo parlamentar cresce e tudo aquilo que o Chega continua a ter para oferecer é ódio, divisão e racismo, e ainda uma aterradora falta de princípios e de ideias.


    Tiago Franco é engenheiro de desenvolvimento na EcarX (Suécia)


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  • Blinken, o amigo do genocídio

    Blinken, o amigo do genocídio


    Quando ouvi Antony Blinken, secretário de Estado de Biden, afirmar que os Estados Unidos (EUA) tinham traçado um plano de paz com o qual Israel concordara e, que agora, esperavam o mesmo do Hamas, fiquei ligeiramente desconfiado. Só para não dizer que sorri.

    É, no mínimo, estranho que seja uma das partes do conflito a elaborar uma proposta para o fim desse mesmo conflito. E mais estranho seria se esse documento fosse sequer algo justo para ambos os lados.

    E antes que a discussão se alargue, digo sim: os EUA são uma das partes integrantes deste conflito no Médio Oriente. Aliás, de quase todos aqueles de que me lembro na região. Ou com as botas no terreno – como aconteceu no Kuwait, Síria e Iraque – ou, no caso israelita, patrocinando com armas, dinheiro, soldados e porta-aviões por perto, as chacinas feitas durante décadas ao povo da Palestina.

    Benjamin Netanyahu. Foto: DR

    Netanyahu discursa regularmente no Senado norte-americano, onde recebe palmas de conforto e donativos para derramar sangue palestiniano. Nesse sentido, é difícil ver os EUA noutro papel que não o de apoiante ao que se vai passando em Gaza.

    Anteontem, dia 20 de Agosto, julgo que no novo canal informativo NOW, passou uma reportagem sobre os seis corpos de reféns resgatados pelo exército israelita. Estavam mortos, entenda-se, e por isso tiveram direito a nome, idade, fotografia e entrevista com as famílias que falaram sobre eles e sobre o abandono a que foram votados pelo governo de Netanyahu – recordemo-nos que o governo israelita nunca quis qualquer acordo para a troca de reféns pelas centenas de palestinianos que vão apodrecendo nas suas prisões.

    Parece-me um óptimo princípio o de que a vida humana tenha relevo e importância, que seja respeitada tanto enquanto o coração bate como a partir do momento em que os olhos se fecham. Ao contrário da Helena Ferro Gouveia, que é uma das vozes mais activas em Portugal na defesa das forças ocupantes em Gaza, eu acho que o respeito pela vida é devido a um refém israelita, a um combatente do Hamas, a um soldado das Forças de Defesa de Israel (IDF), a um general russo ou a um ucraniano do batalhão Azov. Morrer em guerras que somente servem aos interesses de países imperialistas ou defendem a economia de alguns lobbys, é sempre um desperdício, venha de que lado vier.

    Finda a reportagem dos reféns, surgiu outra sobre os dois últimos bombardeamentos a escolas em Gaza. No primeiro, morreram 18 pessoas e, no segundo, mais 10. Há imagens de pedaços de carne sem qualquer identificação a serem arrastados dos escombros, e também de uma senhora, aos gritos e em pânico, dizendo que estavam ali quietos, julgando estarem seguros e, de repente, morreram todos. A mesmíssima reportagem que todos vemos em Gaza e na Cisjordânia desde o dia em que nascemos. Não há nomes, muito menos famílias ou histórias de vida. Há apenas mais 28 para somar aos outros 44 mil mortos, números assim redondos para parecerem mera e fria estatística. Crianças, mulheres, combatentes, homens que estavam por ali, civis que passavam, famílias que julgavam estar em zona segura. Não interessa, ninguém quer saber quem eles são. São 44 mil mortos em 319 dias, uma média de 138 por dia, dizimados por bombas.

    “Destruição metódica de um grupo étnico ou religioso pela exterminação dos seus indivíduos” é a forma como o dicionário descreve genocídio. Se alguém encontrar alguma diferença para o que está a acontecer em Gaza, pode fazer o favor de informar.

    Lembram-se quando o mundo parou, durante dois anos e meio, porque em cada país morriam 20 ou 30 pessoas, diariamente, com complicações respiratórias? Pois… em Gaza isso não acontece, respiram todos bem, pelo menos até lhes cair uma bomba no telhado.

    Aquilo que eu imagino quando ouço falar num plano de paz para a região é, obviamente, a criação de dois Estados e o fim do regime de prisões controladas por Israel, que consistem, essencialmente, nos actuais dois territórios da Palestina. Com lógico foco para Gaza, onde há 20 anos se assiste ao absoluto atropelo a qualquer coisa que se pareça com direitos humanos. Já disse e repito isto: Gaza é uma faixa de 60 quilómetros com dois milhões de pessoas que vivem entre muros, vigiados e proibidos de circular pela potência ocupante. A primeira exigência que qualquer plano de paz, digno desse nome, deve ter é a imediata destruição daqueles muros.

    Faixa de Gaza. Foto: D.R.

    Mas o que dizia afinal o plano de Blinken com o qual Netanyahu, afinal, até fez o favor de concordar? Entre outras coisas, que as IDF ficariam em Gaza depois do cessar-fogo, que o território seria dividido em Norte e Sul, com as IDF a controlar as passagens e que todo o corredor de passagem para o Egipto teria o controlo dos olhos e armas do exército israelita. Em resumo, o plano de paz sugerido pelos EUA e por Israel para Gaza não é derrubar muros ou pacificar a região: é apenas, e só, aumentar o nível de segurança na prisão onde os palestinianos estão encerrados há décadas.

    Agora, como perceberão, vão tentar vender-vos a ideia de que o Hamas, os ‘terroristas deste filme’, lembrem-se, não vai aceitar o plano, apenas porque a paz não lhe interessa. E no fim de tudo, quando as mortes ultrapassarem as 50 mil e os quadros do Hamas não pararem de crescer, é certo e sabido que a culpa será, hoje e sempre, de quem não quer passar a vida na prisão.

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