Autor: Pedro Almeida Vieira

  • Absurdo: ERC “corrige” registo da IURD a um sábado, colocando afinal todos os indicadores financeiros

    Absurdo: ERC “corrige” registo da IURD a um sábado, colocando afinal todos os indicadores financeiros


    O PÁGINA UM revelou, na sexta-feira, que a Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) concedera à Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) a confidencialidade a indicadores financeiros através de uma deliberação de 30 de Agosto. Ontem de manhã, esses indicadores continuavam sem números. Entretanto, a ERC veio dizer, em esclarecimentos ao PÁGINA UM, que a confidencialidade se aplicava a outra informação, que recusou especificar, e que os dados financeiros seriam revelados após uma “sincronização regular”. Mas pela noite deste sábado, a ERC acabou por introduzir os dados financeiros da IURD, não comunicando publicamente os contornos da sua acção, numa clara tentativa de retirar veracidade à notícia do PÁGINA UM. Porém, existem registos inequívocos.


    A Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) colocou ontem à noite no Portal da Transparência dos Media todos os indicadores financeiros de 2022 relativos à Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), no seguimento de uma notícia do PÁGINA UM de sexta-feira passada. Nessa notícia destacava-se uma deliberação daquele regulador dos media, aprovada no passado dia 30 de Agosto, que isentava aquela entidade religiosa de disponibilizar “dados de reporte obrigatório”, entre os quais elementos constantes do seu relatório e contas.

    Conforme constatado nesta sexta-feira (às 17:18 horas) e ainda ontem à tarde (às 13:28 horas) pelo PÁGINA UM, em consulta ao Portal da Transparência – mais de duas semanas depois da aprovação da deliberação – verificava-se que para os diversos indicadores financeiros relativos à IURD para o ano de 2022 se mantinha a referência “pedido de confidencialidade em apreciação”, ou seja, os dados continuavam sob segredo.

    Sede da IURD, em Lisboa. A igreja evangélica quis esconder dados financeiros.

    Saliente-se que a Lei da Transparência dos Media impõe, desde 2017, o reporte obrigatório da titularidade, do relatório do governo societário e dos diversos fluxos financeiros, entre os quais o activo, o capital próprio, o passivo, os rendimentos, os resultados operacionais, os resultados líquidos e ainda a referência aos clientes e aos detentores do passivo mais relevantes (acima dos 10%).

    Na deliberação da ERC, aprovada em 30 de Agosto, não se faz qualquer referência aos elementos sobre os quais a IURD pediu escusa, mas esta entidade cristã evangélica e neopentecostal garantidamente terá solicitado a não divulgação dos indicadores financeiros, até porque o PÁGINA UM tem conhecimento do funcionamento do backoffice para submissão dos registos no Portal da Transparência e de como o regulador trata dos assuntos.

    [N.D. A empresa gestora, Página Um, Lda., por motivos de cumprimento das obrigações legais, tem acesso ao backoffice de submissão dos registos no Portal da Transparência, onde há a possibilidade endereçar um documento para fundamentar o pedido de confidencialidade. Aliás, em Novembro do ano passado, o PÁGINA UM obteve uma sentença favorável do Tribunal Administrativo de Lisboa para aceder aos pedidos de confidencialidade à ERC, mas o regulador não se conformou à ideia de transparência e recorreu para o Tribunal Central Administrativo Sul, aguardando-se ainda o acórdão.]

    Membros do Conselho Regulador determinaram que os seus funcionários não trabalhassem às sextas-feiras à tarde, mas ontem à tarde, num sábado, alguém fez horas extraordinárias para tentar “desacreditar” uma notícia do PÁGINA UM.

    No texto daquela deliberação sobre o pedido de confidencialidade da IURD, a ERC decidiu – e sem base legal para esse comportamento – ser obscurantista. O regulador apenas escreveu que, “estando em causa um pedido de confidencialidade, a fundamentação oferecida pela Requerente, e a respetiva análise e fundamentação da ERC, são consideradas de acesso reservado, atendendo a que é suscitado um interesse fundamental [não identificado] do Requerente, que, sendo por natureza sensível e sigiloso, diz respeito especificamente à sua condição e circunstância”, concluindo que “nestes termos, considera-se que essa fundamentação, bem como a correspondente análise da ERC, devem apenas ser do conhecimento dos interessados, sendo circunscrita aos documentos de análise constantes do processo, para os quais se remete”.

    Ontem à tarde, pelas 13:17 horas, fonte oficial da ERC enviou, voluntariamente, um esclarecimento ao PÁGINA UM referindo que “os dados financeiros da IURD não são confidenciais”, aditando que “estes dados só não estão ainda públicos, por se estar a aguardar a sincronização regular do Portal”, não tendo explicado que processo de sincronização se tratava.

    A mesma fonte prometia ainda que “logo que ocorra essa sincronização ficarão consultáveis”, acrescentando por fim que “o que é confidencial é outro tipo de informação”, não adiantando qual.

    PÁGINA UM arquivou, em versão inalterável no archive.today, os registos dos indicadores financeiros da IURD no Portal da Transparência dos Media nos últimos dias, fazendo um shot poucas horas antes de uma furtiva alteração da ERC.

    Tendo o PÁGINA UM pedido à ERC, pelas 15:14 horas de ontem, que identificasse então quais os elementos que seriam considerados confidenciais e quais aqueles que não seriam, a mesma fonte do regulador informou, pelas 21:10 horas de ontem, que “os dados financeiros da IURD estão todos públicos neste momento, após já se ter verificado a sincronização do Portal da Transparência”.

    Após a leitura da mensagem da ERC, o PÁGINA UM consultou de novo, pelas 23:19 horas de ontem, o registo da IURD no Portal da Transparência, tendo então confirmado que já aí constavam os indicadores financeiros de 2022. Ou seja, durante a tarde de ontem – portanto, num fim-de-semana, algo ainda mais extraordinário por essa entidade estar encerrada às sextas-feiras à tarde –, os serviços da ERC fizeram horas extraordinárias de “sincronização”. Coloca-se a palavra sincronização entre aspas porque simplesmente apenas foram introduzidos dados no portal.

    [N.D. A alteração executada pelos serviços da ERC no registo da IURD no Portal da Transparência dos Media pode ser confirmada AQUI, ou seja, pela observação dos três registos do archive.today accionados pelo PÁGINA UM na sexta-feira (uma vez] e sábado (duas vezes), sendo que o terceiro shot, em comparação com os dois anteriores, prova a modificação feita este sábado]

    Nos dados agora consultáveis pelo público, constata-se que a IURD registou no ano passado rendimentos no valor de 35,6 milhões de euros, um crescimento de quase 12% face a 2021, tendo os lucros superado os 7,7 milhões de euros, um acréscimo de 25% em comparação com o exercício anterior.

    Indicadores financeiros (em euros) da Igreja Universal do Reino de Deus desde 2017 e agora até 2022. Fonte: Portal da Transparência dos Media / ERC

    As maiores novidades destes registos acabam por ser a identificação do Millennium como detentor de 15% do passivo da IURD – o que significa a existência de uma dívida a este banco no valor de quase 2,3 milhões de euros – e sobretudo de dois clientes relevantes: a Gamobar (com 36% do total dos rendimentos) e a Soauto VGRP (com 16% do total dos rendimentos).

    A inclusão destes dois clientes (ou eventuais doadores) relevantes em 2022 – no caso da Gamobar já surgia em anos anteriores – é um mistério, porque ambas são concessionárias automóveis. A Gamobar foi adquirida em 2021 pelo Grupo Salvador Caetano, enquanto a Soauto VRGP pertence à Porsche Holding Salzurg desde 2019.

    Tendo em conta que os montantes registados no Portal da Transparência dos Media dos rendimentos do ano passado da IURD são, em termos absolutos, muitos elevados (35,6 milhões de euros), o peso da Gamobar e da Soauto seria, a confirmar-se, extraordinariamente significativos: 12,8 milhões e 6,4 milhões de euros, respectivamente.

    Registo dos indicadores (ausentes) financeiros da IURD no início da tarde de sábado no Portal da Transparência dos Media [à esquerda] e registo alterado pela ERC na noite de sábado [à direita]

    O PÁGINA UM pediu, por isso, esclarecimentos adicionais às duas empresas e à IURD para conhecer melhor as relações comerciais que justificam estes montantes, aguardando respostas.

    Saliente-se, por fim, que a ERC enviou os esclarecimentos ao PÁGINA UM e procedeu, furtivamente, à alteração do registo da IURD, num sábado, sem fazer qualquer nota pública explicativa do seu procedimento, nomeadamente no seu site. Caso o PÁGINA UM não tivesse, por prudência, arquivado os registos no Archive.info, poder-se-ia julgar, com este procedimento do regulador dos media, que a notícia da sexta-feira passada era falsa, uma invenção.

    [N.D. Leia AQUI o editorial do PÁGINA UM sobre o(s) comportamento(s) da ERC em relação ao PÁGINA UM]

  • ERC dá confidencialidade financeira à Igreja Universal do Reino de Deus. E esconde justificação

    ERC dá confidencialidade financeira à Igreja Universal do Reino de Deus. E esconde justificação


    Faz lembrar o Evangelho segundo São Mateus: “Pedi, e ser-vos-á dado; procurai, e encontrareis; batei, e hão-de abrir-vos. Pois, quem pede, recebe; e quem procura, encontra; e ao que bate, hão-de abrir”. A Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) – que em Portugal detém directamente uma revista, um jornal e um canal televisivo – pediu e a Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) logo lhe abriu a porta, ou melhor, permitiu que aquela igreja evangélica fechasse, a partir de agora, as suas contas a olhos indiscretos no Portal da Transparência dos Media. Antes desta decisão, sabia-se que a IURD registara um lucro acumulado de quase 43 milhões de euros entre 2017 e 2021. Na sua deliberação, o regulador não revela os motivos do pedido nem justifica a razão do deferimento, considerando essa informação secreta. O PÁGINA UM não tem tido acesso a esses documentos porque a ERC recorreu de uma sentença que lhe foi desfavorável, alimentando assim o obscurantismo neste sector. 


    A Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) permitiu, em deliberação tomada a 30 de Agosto, que a Igreja Universal do Reino de Deus passasse a esconder informação financeira no Portal da Transparência dos Media.

    Tal como a generalidade das entidades que detêm órgãos de comunicação social – independentemente de serem informativos ou doutrinários –, a IURD divulgou diversos indicadores financeiros entre 2017 e 2021, entre os quais o activo, o capital próprio, o passivo, o rendimento e o resultado líquido (lucro ou prejuízo). Com a autorização da ERC, a IURD deixou assim de o fazer assim relativamente ao relatório e contas de 2022.

    IURD detém directamente três órgãos de comunicação social de Portugal e é dona de outra que integra mais seis. Está associada à Rede Record, um conglomerado de media brasileiro detido por Edir Macedo.

    De acordo com os registo de 2021, consultados pelo PÁGINA UM, a IURD detinha então activos de quase 170 milhões de euros – a título de exemplo, a Cofina, o maior grupo com actividade exclusiva na imprensa tem activos de 105 milhões de euros – e obteve um lucro de 6,2 milhões de euros. Entre os anos de 2017 e 2021, a IURD apresentou lucros acumulados de 42.986.198 euros.

    Além da sua actividade religiosa, a IURD detém directamente três órgãos de comunicação social registados na ERC: uma revista e um jornal, ambos de periodicidade mensal, e ainda um canal de televisão a Unifé TV.

    A revista (Eu era assim, com o registo nº 127685) é gratuita, tendo no mês passado sido lançada a sua 19ª edição. Por sua vez, o jornal Folha de Portugal, com o registo nº 127340, também de distribuição gratuita, conta 56 números. De acordo com o estatuto editorial disponível no site da IURD, este jornal “é um periódico de 12 páginas e com uma tiragem de 30.000 exemplares, apresenta uma área de distribuição muito abrangente, que compreende não só Portugal Continental e as Ilhas, como, pontualmente, alguns países da Europa, como o Luxemburgo, a França e a Suíça”.

    Entidade Reguladora para a Comunicação Social gere a transparência escondendo justificação para conceder regimes de excepção.

    Por fim, o canal de televisão Unifé, com o registo nº 523418, foi lançado em 30 de Agosto do ano passado, e visa a “divulgação de conteúdos religiosos enquadrados nas crenças e nos cultos da IURD”, bem como “da obra social da IURD e das entidades religiosas” Segundo a autorização da ERC para o funcionamento deste canal, a IURD previa um prejuízo anual de 500 mil euros por ano ao longo da primeira década de funcionamento.

    Este canal não tem ligação directa à Rede Record, que é um colosso comunicacional no Brasil, também presente em Portugal, embora seja detido por Edir Macedo, o fundador da IURD. No caso da empresa estabelecida em Portugal – a Rede Record de Televisão Europa –, o accionista principal é a holding Aion Future, que tem como principal sócio Marcelo Cardoso (69%), um bispo da IURD muito próximo de Edir Macedo.  

    De forma indirecta, a IURD também controla completamente, como dona da Global Difusion, mais seis empresas registadas na ERC: Horizontes Plano, R.T.A., Record FM, Rádio Clube de Gaia, Rádio Pernes e Rádio Sem Fronteiras a Rádio Positiva. Apesar de ter um capital social de 500 mil euros, nos registos da ERC não constam quaisquer dados financeiros para qualquer ano.

    Indicadores financeiros (em euros) conhecidos da Igreja Universal do Reino de Deus entre 2017 e 2021. Fonte: Portal da Transparência dos Media / ERC

    Na deliberação que agora isenta a IURD de apresentar as suas contas no Portal da Transparência, a ERC – que, neste momento, tem um conselho em gestão, apenas com três dos cinco membros em função, após o falecimento de Mário Mesquita e a demissão de Sebastião Póvoas – não apresenta os motivos do pedido nem tão-pouco justifica a concessão dessa excepção, que na prática cria um regime de excepção sem justificação para se esconder dados financeiros de uma entidade gestora de órgãos de comunicação social. Algo que contraria o espírito de uma lei da Assembleia da República de 2015.

    O regulador apenas diz que “estando em causa um pedido de confidencialidade, a fundamentação oferecida pela Requerente, e a respetiva análise e fundamentação da ERC, são consideradas de acesso reservado, atendendo a que é suscitado um interesse fundamental [não identificado] do Requerente, que, sendo por natureza sensível e sigiloso, diz respeito especificamente à sua condição e circunstância”, concluindo que “nestes termos, considera-se que essa fundamentação, bem como a correspondente análise da ERC, devem apenas ser do conhecimento dos interessados, sendo circunscrita aos documentos de análise constantes do processo, para os quais se remete”.

    Recorde-se que por causa desta postura obscurantista do regulador dos media – que lhe permite tomar decisões arbitrárias para benefícios de terceiros em matérias paradoxalmente de transparência –, o PÁGINA UM intentou no ano passado uma intimação no Tribunal Administrativo de Lisboa para aceder aos processos de pedido de confidencialidade.

    Em 8 de Novembro do ano passado, uma sentença favorável ao PÁGINA UM determinou que, no caso dos processos concluídos, a ERC deveria entregar os documentos apenas expurgados de dados pessoais ou que revelassem segredos comerciais, industriais ou sobre a vida interna das empresas. A juíza do caso ameaçou mesmo o presidente da ERC de uma sanção pecuniária compulsória se não disponibilizasse os documentos ao PÁGINA UM no prazo de 10 dias, mas o regulador decidiu recorrer, com carácter suspensivo, para o Tribunal Central Administrativo Sul, estando ainda a aguardar-se o acórdão.

    Em todo o caso, desde final do ano passado, o regulador passou a tomar as decisões através de deliberações, sendo esta da IURD a primeira que foi concedido o benefício de esconder dados económicos. Por exemplo, em 2022 a empresa gestora da TVI e da CNN Portugal – a TVI – Televisão Independente – tentou obter junto da ERC o mesmo que agora a IURD conseguiu. Levou com um indeferimento. Talvez por “falta de fé”…

  • Hospital de Loures regressa à esfera pública na companhia do obscurantismo: contratos públicos escritos estão escondidos

    Hospital de Loures regressa à esfera pública na companhia do obscurantismo: contratos públicos escritos estão escondidos


    Por via de uma suposta (e muito estranha) interpretação da lei de protecção de dados, o Hospital de Loures – também conhecido por Hospital Beatriz Ângelo – não divulgou no Portal Base ainda nenhum dos poucos contratos escritos que assinou desde a passagem daquela unidade de saúde para a esfera pública. Se se juntar isto às centenas de contratos em que se recorreu a regimes de excepção para que nem fossem sequer reduzidos a escrito, fica-se com uma ideia da opacidade nos gastos públicos. Segundo o levantamento do PÁGINA UM, desde Janeiro de 2022, este hospital contabiliza 1.262 contratos, envolvendo quase 76,5 milhões de euros. Um caso paradigmático de opacidade na gestão hospitalar. Ou um caso de polícia.


    Em duas dezenas de meses na esfera pública, após o fim da parceria público-privada no início de 2022, o Hospital de Loures não colocou nenhum dos 1.262 contratos celebrados até hoje no Portal Base respeitantes à aquisição de bens e serviços. O montante envolvido atinge já quase 76,5 milhões de euros, desconhecendo-se assim detalhes fundamentais sobre os compromissos assumidos entre a administração hospitalar e centenas de fornecedores.

    Esta situação insólita – pelo menos, até agora o PÁGINA UM nunca detectou similar situação em outras entidades públicas – deve-se em parte à sistemática opção do Conselho de Administração do (também conhecido por) Hospital Beatriz Ângelo em celebrar contratos recorrendo a regimes de excepção no Código dos Contratos Públicos que não exigem a redução dos contratos a escritos quer por serem montantes inferiores a 20 mil euros quer por estarem previstos em contrato público de aprovisionamento – também denominados acordos-quadros –, quer por alegada “urgência imperiosa”.

    No entanto, mesmo em contratos de montantes elevados – e o Hospital de Loures celebrou já 13 contratos entre um milhão de euros e 3,2 milhões de euros –, grande parte dos quais por concurso público, a administração do Hospital de Loures decidiu unilateralmente, e sem base em qualquer parecer conhecido, invocar o Regulamento Geral da Protecção de Dados (RGPD) para não disponibilizar o teor dos contratos.

    Assim, apesar da lei exigir expressamente que os contratos públicos que tenham sido escritos e assinados pelas partes, incluindo assim a identificação dos gestores públicos, sejam divulgados na íntegra no Portal Base a digitalização do texto assinado entre as partes –, o Hospital de Loures decidiu, de forma invariável, colocar uma “declaração” do vogal do Conselho de Administração, Rui Moreira.

    Nessa curta declaração, o administrador justifica que não se submete “o respetivo Contrato escrito, para efeitos de proteção de pessoas singulares no que diz respeito ao tratamento de dados pessoais, nos termos constantes do RGPD e na Lei nº 58/2019, de 8 de agosto”.

    Porém, o RGPD apenas protege dados pessoais que, além do endereço, revelem a origem racial ou étnica, opiniões políticas e convicções religiosas ou filosóficas, a filiação sindical, dados genéticos, dados biométricos e de saúde, e ainda dados relativos à vida sexual ou orientação sexual da pessoa – que não são, de todo, dados inseridos num contrato público, onde por norma, quem assina é identificado pelo nome, pela função e pelo número de identificação civil e/ ou fiscal.

    Mas mesmo que existisse algum elemento sensível, o contrato deveria sempre ser publicado, expurgando somente algum dados específico, até em cumprimento da lei invocada pelo Hospital de Loures.

    Com efeito, a Lei nº 58/2019 – também conhecida por Lei da Protecção de Dados Pessoais – refere explicitamente que, “no âmbito da contratação pública, e caso seja necessária a publicação de dados pessoais, não devem ser publicados outros dados pessoais para além do nome, sempre que este seja suficiente para garantir a identificação do contraente público e do cocontratante.” Ou seja, em nenhuma parte deste diploma surge a possibilidade de não se publicar um contrato por via de uma suposta protecção dos participantes do contrato. Aliás, se assim fosse, a opacidade na contratação pública passaria a ser total.

    Contactado pelo PÁGINA UM, o Conselho de Administração do Hospital Beatriz Ângelo diz, contudo, que está a ser dado “cumprimento integral, pelos serviços competentes deste Hospital, do dever de publicitar todos os procedimentos aquisitivos previstos na Lei”, e que as sucessivas declarações de Rui Moreira “resulta da existência de dúvidas sobre a forma de conciliar esse mesmo dever de publicitação com o cumprimento das regras do RGPD aplicáveis aos signatários não públicos, que apenas recentemente foram dissipadas junto das entidades competentes, possibilitando retomar a prática subjacente à sua publicitação.”

    Perante esta resposta, o PÁGINA UM pediu novos esclarecimentos para saber “quem, no seio da Administração do HL [Hospital de Loures] teve essa dúvida” sobre a divulgação dos contratos até agora escondidos, e “como foram elas dissipadas”. Também se questionou se essa decisão foi tomada em reunião do Conselho de Administração, e se existe acta. E, de igual modo, solicitou-se cópia de um eventual parecer jurídico que comprovasse que, efectivamente, houve dúvidas – e não uma tentativa de esconder contratos públicos.

    Em resposta, o secretariado da Administração do Hospital de Loures – que também foi questionado sobre um contrato específico que será abordado em breve pelo PÁGINA UM – diz que “consideramos suficientes ao correto enquadramento das questões previamente suscitadas e à comprovação de que o Hospital de Loures, E.P.E. – Hospital Beatriz Ângelo (HBA), adota procedimentos adequados para aquisição dos fornecimentos de que depende o seu funcionamento e o cumprimento da Missão assistencial com que se encontra superiormente comprometido (…), procedendo igualmente e em todos os casos à sua publicitação em termos que garantem o respeito pelo princípio da transparência, sem deixar de acautelar a necessária compatibilização com outros preceitos legais, neste caso os decorrentes do RGPD, e a forma correta da sua interpretação e harmonização efetivas, caso a caso.”

     E acrescenta ainda que, “à luz da mais recente interpretação dos diferentes princípios e preceitos legais supra referidos, encontram-se os serviços competentes deste Hospital a operacionalizar a publicitação também dos Contratos resultantes desses mesmos procedimentos, quando reduzidos a escrito.”

    De acordo com uma análise do PÁGINA UM, o Hospital de Loures já estabeleceu 705 contratos por ajuste directo, 533 ao abrigo de acordos-quadro e apenas cinco após consulta prévia e 19 por concurso público. Nos ajustes directos, a Administração deste hospital já gastou mais de 27,1 milhões de euros, destacando-se cerca de 10,1 milhões de euros em produtos farmacêuticos, quase 10 milhões em material médico de consumo, perto de 1,5 milhões de euros em serviços de informática e um pouco mais de 750 mil euros em equipamentos médicos.

    No caso dos 533 contratos ao abrigo de acordos-quadro, o montante despendido ultrapassa os 35,3 milhões de euros, sendo na esmagadora maioria relativos a compra de medicamentos. Já quanto aos contratos por concurso público, embora sejam apenas 19 resultam num valor total significativo: 13,9 milhões de euros, estando aqui sobretudo a aquisição de serviços de limpeza, lavagem de roupa, segurança e alimentação. Mas destes pouco sabe, porque não há contratos divulgados.

  • Casos de emergência e muita urgência hospitalar “dispararam” 29% em Agosto

    Casos de emergência e muita urgência hospitalar “dispararam” 29% em Agosto

    Não há muitos motivos para sorrir. O fluxo para todo o tipo de urgências hospitalares no Serviço Nacional de Saúde registou no mês de Agosto um crescimento de quase 20% face ao triénio anterior, que resultaram em mais quatro mil internamentos. Mas os casos mais graves, com pulseiras vermelha e laranja, contabilizaram valores ainda superiores (29%), que demonstram que os portugueses não andam bem de saúde. E alguns não recuperarão jamais. O último mês foi o segundo mais letal desde os anos 50, ultrapassado apenas por 2003. Mas agora não houve ondas de calor. Ministério da Saúde não comenta.


    De forma inexplicável, o passado mês de Agosto foi o segundo mais mortífero desde 1951, de acordo com uma análise do PÁGINA UM aos dados do Instituto Nacional de Estatística, enquanto as urgências hospitalares contabilizaram crescimentos inesperados em comparação com os períodos homólogos anteriores. O Ministério da Saúde não comenta estes dados.

    Apesar de ausência de ondas de calor em Portugal durante o mês passado – o fenómeno que ocorreu em vários países europeus neste Verão não atingiu território nacional –, os números de óbitos estiveram sempre acima do que seria expectável, tendo-se contabilizado, no total dos 31 dias de Agosto, 9.574 mortes. Para este mês, o valor mais elevado apenas se encontra em 2003 que, no decurso de uma onda de calor de mais de duas semanas, deixou um saldo total de 10.111 óbitos.

    Ministro da Saúde, Manuel Pizarro, foi dar sangue no dia 1 de Agosto, mas não explica motivos de acréscimo de mortes e do fluxo de urgência hospitalar durante esse mês.

    Consultando os dados do INE desde 1951, e compilando os últimos registos diários do Sistema de Informação dos Certificados de Óbito (SICO), o Agosto de 2023 é o segundo pior, embora o terceiro consecutivo acima dos 9.000 óbitos: em 2021 contabilizaram-se 9.227 mortes e no ano passado 9.309 mortes. Saliente-se que antes de 1951 registaram-se alguns meses de Agosto mais mortíferos, mas nessa época a mortalidade no Verão estava sobretudo associado a doenças associadas à falta de higiene e problemas de saneamento que proliferavam com o aumento da temperatura na época de estio.

    A evolução da mortalidade diária neste último Agosto confirma também que não foram as temperaturas elevadas a causa da mortalidade elevada, até porque, em abono da verdade, o Verão é a época do ano menos letal em Portugal.

    Consultando os registos diários do Índice Icaro apenas se registaram, ao longo do último mês de Agosto, seis dias com valores acima de 0,2 e nenhum superior a 1, o que contrasta, por exemplo, com os nove dias acima de 0,2 que se contabilizaram no ano passado. Além disso, no mês passado houve dias com mortalidade superior a 300 óbitos mesmo quando o Índice Icaro estava a zero, o que é uma situação anómala.

    Evolução da mortalidade total em Portugal no mês de Agosto desde 1951. Fonte: INE e SICO.

    Aliás, a persistência de dias com óbitos acima de 300 foi a marca de Agosto passado, com 21 dias. No ano passado houve 15, em 2021 contabilizaram-se 14 e em 2020 contaram-se 11. Nos anos anteriores à pandemia, os registos do SICO mostram que eram bastante raros os dias que ultrapassavam os 300 óbitos: entre 2014 e 2019, o máximo foi de seis dias, e 2014 e 2015 nem sequer tiveram um.

    O PÁGINA UM tentou saber, junto do Ministério da Saúde, se existe já alguma explicação para esta situação perfeitamente anómala, sendo certo que não existem evidências de estar a ocorrer um aumento da letalidade causada pelas novas variantes da covid-19. O site do OurWorldinData aponta para um registo de 44 óbitos para Portugal no mês de Agosto até ao dia 30.

    Em todo o caso, apesar da habitual ausência de respostas do Ministério de Manuel Pizarro às perguntas do PÁGINA UM – que inclui nada dizer sobre o alegado estudo sobre o excesso de mortalidade nos anos da pandemia –, observou-se um significativo aumento da actividade hospitalar ao longo do mais recente mês.

    De acordo com os registos da Monitorização Diária dos Serviços de Urgência, em Agosto de 2023 os hospitais do Serviço Nacional de Saúde tiveram 561.189 episódios de urgência, dos quais resultaram 40.498 internamentos. Este fluxo representa um aumento de 19% no número de atendimentos de urgência e uma subida de 12% nos internamentos.

    Evolução do fluxo de episódios nas urgências hospitalares em Agosto no período entre 2020 e 2023. Fonte: ACSS. Análise: PÁGINA UM.

    Mas a evolução ainda se mostra mais gravosa analisando a tipologia dos episódios através da triagem de Manchester. No recente mês de Agosto, registaram-se 1.717 episódios de pulseira vermelha (emergência) e 51.141 de pulseira laranja (muito urgente), um crescimento de 14% e 12%, respectivamente, face ao ano passado.

    Se se comparar com o triénio 2020-2022, o crescimento de casos de emergência cresceu 27% e os de muita urgência quase 29%.

    Saliente-se que, de acordo com o protocolo da triagem de Manchester, os casos emergentes (pulseira vermelha), com perigo de vida imediato, requerem uma intervenção imediata, estando associado, em grande parte dos casos, a acidentes ou situações agudas, como ataques cardíacos ou acidentes vasculares cerebrais. Os casos de muita urgência (pulseira laranja) – cuja evolução já constitui um indicador do estado de saúde de uma comunidade, até pelo número mais elevado face aos casos emergentes – requerem um tempo de atendimento nas urgências hospitalares preferencialmente inferior a 10 minutos.

    Evolução do número de internamentos após atendimento nas urgências e número agregado de casos emergentes e muito urgentes em Agosto no período entre 2020 e 2023. Fonte: ACSS. Análise: PÁGINA UM.

    Não se mostra agora possível comparar o fluxo das urgências hospitalares com o período anterior à pandemia, por uma razão simples, mas reveladora da cultura de obscurantismo do Ministério da Saúde: os dados anteriores a 2020 foram simplesmente retirados do sistema de monitorização.

    O PÁGINA UM vai solicitar à Administração Central do Sistema de Saúde a reposição da informação anterior à pandemia, que continha dados desde Novembro de 2017, e se tal não for satisfeito recorrerá ao Tribunal Administrativo para a obtenção dos dados entretanto “apagados de consulta pública.

  • O activista ambiental e a falta de neurónios

    O activista ambiental e a falta de neurónios


    Independentemente da bondade dos objectivos, a opção por acções menos convencionais tem, na generalidade dos casos, um grande inimigo: o próprio activista que, imbuído de um espírito de missão e alcandorado pelo estímulo do seu grupo, nem sempre se apercebe que pode até estar a agir bem, mas no lugar errado e no momento errado. E isso bota ao fracasso a sua acção, lança a opinião pública contra si e, pior ainda, o alvo da sua “fúria” transforma-se primeiro numa vítima e depois num herói.

    Se observarmos a História dos movimentos contestatários em questões ambientais nos países democráticos – nos outros a “coisa” é bem diferente, e geralmente corre mal em perspectivas mais dramáticas –, as acções mais eficazes são sempre envolvidas em muito mediatismo, mas sem afectar o quotidiano da comunidade, antes sim das empresas ou governantes que contribuem para o mal que se ataca.

    O Mundo perfeito imaginado pelo Midjourney.

    Por exemplo, não se critica a opção pelo uso de SUV furando pneus, como recentemente aconteceu em Lisboa. Talvez seja mais sensato aumentar as pressões políticas para se criarem normas que condicionem esta opção de compra por muitas pessoas, privilegiando os princípios do utilizador-pagador e do poluidor-pagador.

    E quando falo em pressão política é mesmo falar em pressão política, mas sobretudo continuada. Não largando o osso, sendo chato e persistente. Demora tempo e paciência. Não é, por certo, furando pneus, atirando sopa em quadros de museus, lançando tinta a um ministro, e outras coisas similares. Tudo isso é não só ridículo como sobretudo contraproducente. Os visados, no caso os políticos ou os empresários, até agradecem.

    Ainda há dias, no rescaldo do episódio da tinta na camisa do ministro do Ambiente – em que ele saiu airoso numa conferência de verdadeiro greenwashing mediado pela imprensa mainstream –, pensei no desastre mediático do radicalismo durante a pandemia, sobretudo aquando do processo de vacinação dos menores.

    Um ministro do Ambiente imaginado pelo Midjourney.

    Hoje, não existem dúvidas sobre a insensatez – ou até crime – da intolerável pressão sustentada pelos media, pela DGS, por políticos, por influencers sanitários para pressionar pais e jovens para a administração de uma vacina (sobre a qual não sabemos tudo) para proteger contra uma doença que, naqueles grupos etários em condições saudáveis, é de risco praticamente nulo.

    No entanto, bastou uma acção radical de manifestantes num centro de vacinação em Odivelas em Agosto de 2021, envolvendo o então responsável da task force, para deitar por terra qualquer debate. Gouveia e Melo chamou um figo aos insultos, tornou-se um herói depois daquela noite – e até um putativo candidato a Presidente da República – e os manifestantes nada mais conseguiram, dali em diante, do que o rótulo de negacionistas para si e para aqueles que desejavam debate e maior transparência. Ainda hoje, se sente esse impacte negativo.

    Por esse motivo, quer seja na pressão para mais medidas para o combate às alterações climáticas – e, independentemente das origens, elas estão presentes – quer seja para mais acções políticas e empresariais em prol de uma verdadeira mudança de paradigma energético (e não de uma mudança de player no negócio da energia), uma das coisas que os jovens activistas ambientais devem ter consciência é de que precisarão sempre, mais tarde ou mais cedo, da sociedade, das pessoas, para que se aumente a pressão sobre os governos.

    Um cenário apocalíptico imaginado pelo Midjourney.

    Não se consegue que, por exemplo, haja uma maior aposta no metropolitano ou no caminho de ferro fechando a Segunda Circular através de um espontâneo e pouco resistente cordão humano que tem apenas o condão de irritar condutores, a tal ponto de ser confrangedoramente terminado por um arrasto em maus modos por condutores apressados.

    Talvez se conseguisse mais, e melhor – se é que apreciam mesmo fazer cordões humanos –, obstaculizar então a saída dos automóveis dos governantes das respectivas garagens dos ministérios. Para que pensem mais em soluções, e na verdadeira poluição atmosférica, em vez de se pavonearem em inócuas promessas e em vãs declarações de intenções, enquanto ilibam empresas amigas e culpabilizam as pessoas em geral. Nas primeiras vezes, para que pudessem ir para casa, os activistas poderiam até fazer uma vaquinha para lhes oferecer bilhetes para os transportes públicos. Para esse peditório, eu dou…

  • PÁGINA UM destaca quem mais contratos (chorudos) por ajuste directo faz em Portugal… e quem mais recebe

    PÁGINA UM destaca quem mais contratos (chorudos) por ajuste directo faz em Portugal… e quem mais recebe


    Numa sociedade transparente e num sistema económico de livre concorrência, os ajustes directos deveriam ser raros. Em Portugal, não. Desde Janeiro foram publicados 2.574 contratos por ajuste directo acima de 100 mil euros, envolvendo um montante global de 1.008.847.121,05 euros.

    O PÁGINA UM começa a partir deste mês, e com dados do Portal Base, a compilar um conjunto de rankings, renovável, em que “destacaremos” quem mais usa o expediente do ajuste directo. Antecipamos, para hoje, quatro rankings com as 20 entidades públicas adjudicantes e as 20 empresas privadas adjudicatárias em função do número de contratos (acima de 100 mil euros), distinguindo o sector da saúde dos outros sectores.

    Amanhã apresentamos muito mais novidades sobre esta que será, cada vez mais, uma das bandeiras editoriais do PÁGINA UM.


    TOP 20 DOS CONTRATOS POR AJUSTE DIRECTO – 2023

    Janeiro-Agosto de 2023 – número de contratos públicos acima dos 100.000 euros

    ADJUDICANTES (entidades públicas) – GERAL (excluindo unidade de saúde)

    1 – Infraestruturas de Portugal – 65

    2 – Município de Lisboa – 41

    3 – Estado-Maior da Armada – 24

    4 – Serviços Partilhados do Ministério da Saúde (SPMS) – 18

    5 – Estado-Maior-General das Forças Armadas – 17

    6 – Estado-Maior da Força Aérea – 16

    7 – Administração Regional de Saúde do Norte – 14

    7 – Instituto da Segurança Social – 14

    9 – Lisboa Ocidental – Sociedade de Reabilitação Urbana (SRU) – 13

    9 – Santa Casa da Misericórdia de Lisboa – 13

    11 – Administração Regional de Saúde do Centro – 12

    11 – Instituto do Emprego e da Formação Profissional – 12

    11 – Instituto Nacional de Emergência Médica – 12

    11 – Município de Loures – 12

    15 – Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo – 11

    15 – Banco de Portugal – 11

    15 – CP – Comboios de Portugal – 11

    15 – Metropolitano de Lisboa – 11

    15 – Polícia de Segurança Pública – 11

    20 – Direção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais – 10

    20 – Empresa de Gestão de Equipamentos e Animação Cultural (EGEAC) – 10

    20 – Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge – 10

    20 – Serviço de Utilização Comum dos Hospitais (SUCH) – 10


    TOP 20 DOS CONTRATOS POR AJUSTE DIRECTO – 2023

    Janeiro-Agosto de 2023 – número de contratos públicos acima dos 100.000 euros

    ADJUDICANTES (entidades públicas) – UNIDADES DE SAÚDE

    1 – Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra – 195

    2 – Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Norte – 165

    3 – Hospital de Braga – 146

    4 – Instituto Português de Oncologia do Porto – 79

    5 – Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro – 70

    6 – Centro Hospitalar Universitário do Algarve – 64

    7 – Centro Hospitalar Universitário de São João – 62

    8 – Hospital Professor Doutor Fernando Fonseca – 61

    9 – Hospital de Loures – 56

    10 – Centro Hospitalar Vila Nova de Gaia – Espinho – 53

    11 – Instituto Português de Oncologia de Lisboa – 48

    12 – Hospital Garcia de Orta – 43

    13 – Centro Hospitalar Universitário de Santo António – 37

    14 – Centro Hospitalar de Entre o Douro e Vouga – 28

    15 – Hospital de Santo Espírito da Ilha Terceira – 26

    16 – Unidade Local de Saúde do Norte Alentejano – 26

    17 – Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental – 24

    18 – Centro Hospitalar do Médio Tejo – 23

    18 – Centro Hospitalar Tondela-Viseu – 23

    20 – Centro Hospitalar Barreiro Montijo – 22

    20 – Serviço de Saúde da Região Autónoma da Madeira – 22


    TOP 20 DOS CONTRATOS POR AJUSTE DIRECTO – 2023

    Janeiro-Agosto de 2023 – número de contratos públicos acima dos 100.000 euros

    ADJUDICATÁRIOS (empresas privadas) – GERAL (excluindo bens e serviços de saúde)

    1 – Petrogal (Energia) – 30

    2 – Uniself (Restauração) – 25

    3 – ITAU (Restauração) – 20

    4 – Endesa (Energia) – 19

    5 – Sá Limpa (Limpezas) – 17

    5 – COPS (Vigilância) – 17

    7 – Interlimpe – Facility Services (Limpezas) – 15

    8 – Porto Editora (Editora) – 12

    8 – Prestibel (Vigilância) – 12

    10 – Eurest Portugal (Restauração) – 11

    10 – Fine Facility Services (Limpezas) – 11

    10 – EDP Comercial (Energia) – 11

    13 – CTT – Correios de Portugal (Mercadorias) – 10

    14 – Gertal (Restauração) – 9

    14 – Ronsegur (Vigilância) – 9

    16 – Fidelidade (Seguros) – 8

    16 – Generali (Seguros) – 8

    16 – Iberlim (Limpezas) – 8

    16 – Iberdrola (Energia) – 8

    16 – Euromex (Limpezas) – 8


    TOP 20 DOS CONTRATOS POR AJUSTE DIRECTO – 2023

    Janeiro-Agosto de 2023 – número de contratos públicos acima dos 100.000 euros

    ADJUDICATÁRIOS (empresas privadas) – BENS E SERVIÇOS DE SAÚDE

    1 – Medtronic Portugal – 61

    2 – Laboratório Pfizer – 45

    2 – Sanofi – 45

    4 – Johnson & Johnson – 39

    5 – Novartis Farma – 36

    6 – Roche – 35

    7 – Gilead Sciences – 34

    8 – Roche Sistemas de Diagnósticos – 28

    9 – Abbott Laboratórios – 27

    10 – Takeda – 25

    11 – Werfen Portugal – 24

    12 – Abbott Medical – 23

    12 – Biogen Portugal – 23

    12 – Siemens Healthcare – 23

    15 – Janssen-Cilag – 21

    16 – Cepheid Iberia – 20

    17 – Abbvie – 19

    18 – Octapharma – 18

    18 – Alexion Pharma – 18

    20 – Vertex Pharmaceuticals – 17

  • Aquecimento global?! E que tal olhar para o Inverno em vez de temer o Verão?

    Aquecimento global?! E que tal olhar para o Inverno em vez de temer o Verão?


    A primeira pergunta deve ser vista em tom provocatório, porque feita por alguém que assume, desde os idos anos 90, antes do wokismo climático, a existência de alterações climáticas (que não se mede numa perspectiva meteorológica) decorrentes do aquecimento global, mas que rejeita histerismo (colectivos e individuais), hipocrisias (sobretudo políticas) e sensacionalismos (sobretudo de jornalistas) e renega, crítica e abomina toda uma corja de oportunismos ao melhor estilo do greenwashing (sobretudo de certas empresas, mas também de políticos como António Guterres), enquanto se continuam os negócios e as negociatas, e o povo, às tantas, acaba apontado como o culpado a merecer justa punição. E acredita; e cala; até concorda com a perda de direitos; e, às tantas, de liberdades – enquanto os supostos “salvadores do Planeta” viajam, comem e divertem-se para “salvar o Planeta” para aqueles que, acusados, estão “presos” para não “destruírem mais o Planeta”.

    Em abono da verdade, independentemente das alterações climáticas decorrerem dos gases com efeito de estufa, o Mundo tem um paradigma energético para resolver, e que passa também por resolver problemas de poluição, de uso ineficiente de recursos. Mas a solução para tudo isto tem de vir de políticos e de diplomatas, porquanto está nas mãos da China, dos Estados Unidos e da Índia (a União Europeia não conta, pelo peso residual). E tem de ser feito sobretudo sem radicalismos e sem tentativas de ressuscitar a energia nuclear. E também passa por assumir que, provavelmente, em muitos casos a solução será a possível: a adaptação, embora com evidentes perdas e com embates geopolíticos e sociais.

    Orange Safety Ring on Man Shoulder Near Body of Water

    Quanto à segunda pergunta, esta faz cada vez mais sentido, sobretudo no mundo ocidental onde o discurso político e mediático em redor do aquecimento global se estafa nas alegadas ondas de calor (por vezes inexistentes) supostamente terríficas e letais, e não em outros problemas decorrentes das alterações climáticas muito mais graves, como seja a redução dos recursos hídricos, o aumento do risco de incêndios (que não significa que haja incêndios e que não se possa fazer nada para evitar que o risco se transforme em dano) e as alterações profundas de habitats.  

    Mas esta pergunta também faz todo o sentido porque me parece essencial saber se, de facto, se notam efeitos das alterações climáticas – e do aquecimento global, portanto – na mortalidade em Portugal durante o Verão, a grande preocupação política e dos media nacionais.

    Ou seja, devemos estar mesmo preocupados com as ondas de calor no Verão do ponto de vista de Saúde Pública? Ou devemos considerar esse um problema mais secundário se comparado com as outras épocas do ano, em especial com o Inverno? Ou seja, devemos repetir o que se fez entre 2020 e 2022: olhar para a covid-19 sem cuidar do resto?

    Verão em Portugal em 2023, imaginado pelo Midjourney.

    Vamos então por partes. A resposta sobre se o aquecimento global está a causar em Portugal mais mortes, a resposta não pode ser dada com um simples sim, ou um simples não.

    Primeiro, porque, na verdade, o matar mais ou menos, quando falamos em efeitos de alterações climáticas, requer um período relativamente longo para análise, de várias décadas. E, nessa linha, entram factores que interferem com análises simples, porque se mostra muito difícil isolar o fenómeno climático dos demais, que numa primeira análise são muito mais relevantes.

    Vejamos: em Portugal, a população vulnerável – susceptível de ser afectada mortalmente por eventos associados às variações da temperatura e outras variáveis meteorológicas (chuva, humidade, vento, etc.) – foi modificando-se ao longo dos tempos quer por factores demográficos quer por factores associados à Saúde Pública e às condições sanitárias e médicas.

    Apenas a título de exemplo – e é algo que escapa à maioria das análises –, saliente-se que a mortalidade infantil ainda era elevadíssima há algumas décadas, e os óbitos de recém-nascidos tinham um peso imenso. Por exemplo, em 1970, morreram ainda 10.027 bebés com menos de um ano de idade, o que representou 10,8% do total dos óbitos desse ano. Se recuarmos para os anos 50 ou ainda antes, os números são ainda mais pavorosos. No ano de 2022, o número de mortes nesse mesmo grupo etário foi de 233, representando somente 0,02% do total.

    Verão em Portugal em 1951, imaginado pelo Midjourney.

    Assim, quando observamos, por exemplo, a mortalidade em meses de Verão nas primeiras décadas do século XX, salientam-se alguns picos significativos, mas não se devem a óbitos necessariamente relacionados com temperaturas extremas (letais agora para os idosos), mas mais à proliferação de doenças transmissíveis por água inquinada ou alimentos contaminados, e que causavam elevada mortalidade em bebés e crianças.

    Por outro lado, o grupo de idosos foi-se alterando de forma significativa, com todas as vulnerabilidades que tal implica. Além disso, por exemplo, alguém com 65 anos em 1970 já estaria a atingir a sua esperança de vida à nascença, quando agora uma criança que nasce pode ambicionar ultrapassar os 80 anos. Uma pessoa de 65 anos de há 50 anos não apresentava as mesmas condições físicas de uma que agora tenha essa mesma idade. E a ciência médica consegue mantê-la em boas condições por mais tempo.

    Acresce ainda que as condições de vida foram registando evoluções muito favoráveis, pelo que muitas doenças crónicas e agudas, antes bastante letais, são hoje raras e perfeitamente controladas.

    Inverno em Portugal em 2023, imaginado pelo Midjourney.

    Significa isto, de uma forma muito sintética, que a vulnerabilidade é um conceito muito fluído e dinâmico, e por isso devemos ter alguma prudência quando fazemos comparações ao longo do tempo em populações que, embora do mesmo país, não têm uma estrutura demográfica similar e muito menos um “quadro clínico” comparável. A população de Portugal de 2023 não é estruturalmente semelhante à do ano 2000 e muito menos à de 1975 ou de 1950…

    Em todo o caso, uma análise para apurar se há mais ou menos mortalidade numa determinada época do ano carece sempre de se saber qual o “comportamento” das outras épocas do ano. No caso concreto de Portugal, desde sempre – e pegando, por agora, nos valores mensais desde 1951 –, o Inverno (considerando os meses de Dezembro, Janeiro e Fevereiro) sempre foi, e continua a ser, muito mais mortífero do que o Verão (considerando os meses de Junho, Julho e Agosto), que, apesar de toda a histeria mediática em redor do aquecimento global, se mantém como a época do ano menos mortífera.

    Desde 1951, muito raramente o mês de Janeiro não é o mês mais letal – e se tal sucede, então é “substituído” por Dezembro, seguindo-se, normalmente, Fevereiro como o terceiro pior mês. Em média, o Inverno abrange 29,8% das mortes entre 1951 e 2022, variando dos 28,6% na década de 1950 até aos 30,7% da década de 1970. Na década mais recente (década de 2010), o Inverno englobou 29,6% das mortes.

    Inverno em Portugal em 1951, imaginado pelo Midjourney.

    Em 2021, por via da pandemia da covid-19 e de outros factores que causaram a ruptura do Sistema Nacional de Saúde, os meses de Inverno representaram 35,1% do total das mortes, sendo que 15,7% foi apenas em Janeiro (o valor mais elevado num mês desde 1951).

    No oposto, o Verão sempre tem sido historicamente a época do ano menos mortal, agregando 22,0% do total dos óbitos registados entre 1951 e 2022 – uma diferença, para menos, de 7,8 pontos percentuais, o que é muito significativo. As variações por decénio não são muito relevantes: 21,5% na década de 1950; 21,1% na década de 1960; 21,4% na década de 1970; 22,5% na década de 1980; 22,3% na década de 1990; 22,6% na década de 2000; e 22,3% na década de 2010. Mesmo estando a falar de grupos populacionais distintos entre 1951 e 2020, não se observa qualquer agravamento em termos médios.

    Na verdade, o Verão é a época do ano com menor taxa de mortalidade, independentemente de se considerar o período entre o solstício de Junho e o equinócio de Setembro, ou os meses de Julho a Setembro ou os meses de Junho a Agosto. Tem uma mortalidade inferior também significativamente à Primavera e ao Outono.

    Peso relativo (% em relação ao total do ano) dos meses de Inverno (Janeiro, Fevereiro e Dezembro) na mortalidade desde 1951 até 2022. Linha branca mostra tendência. Fonte: INE. Análise: PAV.

    Numa análise mais fina, pode-se tentar identificar eventuais acréscimos de mortalidade no período do Verão ao longo das últimas décadas, mas aí deparamo-nos com a tal situação de se comparar alhos com bugalhos. Por exemplo, se definirmos que entre Junho e Agosto (que nesta análise se considera a época de Verão) a ocorrência de um mês com mais de 8% das mortes no ano relevante, então contabilizam-se seis casos na década de 1950 (dos quais cinco em Agosto e um em Julho), apenas dois na década de 1960 (ambos em Agosto), nenhum caso na década de 1970, quatro na década de 1980 (um em Junho, dois em Julho e um em Agosto), dois na década de 1990 (um em Julho e outro em Agosto), três na década de 2000 (dois em Julho e um em Agosto), e três na década de 2010 (dois em Julho e um em Agosto).

    Na verdade, a maior prevalência de meses de Verão particularmente mortíferos na década de 50 não parece dever-se simplesmente a ondas de calor, mas sim a doenças potenciadas por problemas sanitários associados a temperaturas mais quentes.

    Na verdade, fazendo análises estatísticas um pouco mais complexas, até se poderia concluir que existe verdadeiramente um fenómeno de crescimento da mortalidade por causa das alterações climáticas, embora depois, provavelmente, constatar-se-ia que por “troca” de um Outono mais ameno. Aliás, esse fenómeno aparenta ser evidente numa análise estatística simples desde a década de 50: a mortalidade relativa dos meses de Outono (Setembro a Novembro) tem-se tendencialmente aproximado da dos meses de Verão (Junho a Agosto).

    Peso relativo (% em relação ao total do ano) dos meses de Primavera (Março, Abril e Maio) na mortalidade desde 1951 até 2022. Linha branca mostra tendência. Fonte: INE. Análise: PAV.

    Com efeito, na década de 50, os meses de Outono, com 26,2% do total das mortes, até eram mais mortíferos do que os meses de Primavera (algo que deixou de suceder logo na década seguinte), valor que contrastava com os 21,5% do total associados aos meses de Verão. Essa diferença – então de 4,7 pontos percentuais – foi-se atenuando até à década de 2010, não tanto por um crescimento do peso relativo da mortalidade no Verão (aumento de 0,8 pontos percentuais face à década de 1950), mas sobretudo pela diminuição da letalidade relativa do Outono (descida de 3,2 pontos percentuais face à década de 1950).

    É certo que se nota uma tendência de crescimento do peso relativo da mortalidade nos meses de Verão, e com alguns picos, mas não é assim tão relevante que salte à vista – e mereça parangonas constantes –, antes sim exigem medidas preventivas adequadas e oportunas para se reduzir o impacte potencialmente letal dessas ondas de calor.

    Aliás, para reforçar a necessidade de intervenção preventiva ou profiláctica – e deixar de considerar que nada se pode fazer –, exemplifiquemos com o relatado sobre os picos de mortalidade em alguns Verões da década de 1950: por certo que, com a situação sanitária e médica do século XXI, aquela mortalidade não teria sido tão elevada com as temperaturas então registadas. Portanto, criem-se condições “sanitárias” para que, independentemente das causas do aquecimento global ou dos seus efeitos, a letalidade não seja elevada quando chegarem ondas de calor.

    Peso relativo (% em relação ao total do ano) dos meses de Verão (Junho, Julho e Agosto) na mortalidade desde 1951 até 2022. Linha branca mostra tendência. Fonte: INE. Análise: PAV.

    Aliás, é olhando para o perfil da mortalidade interanual (ao longo dos anos) e intranual (ao longo dos meses) que melhor conseguimos apurar o grau de controlo que temos sobre o ambiente que nos rodeia, porque é isso que, ao fim e ao cabo, interessa saber.

    E é aqui que quero levar a água ao moinho: é, na verdade, no Inverno, e não propriamente no Verão, que reside o nosso maior problema “sanitário” – e, ironicamente, um aquecimento global pode ajudar-nos indirectamente, por os meses de Dezembro a Fevereiro passarem a ser menos agrestes.

    De facto, esperando que a todos seja já evidente – até pelo que acima se referiu – que os meses de Inverno são mais letais do que os de Verão, porque o ambiente nesses meses em Portugal, que aqui deve incluir Setembro (o mês menos mortífero), é mais propício para não se ser afectado por doenças e afecções.

    Ora, um objectivo fundamental da Saúde Pública será sobretudo o de evitar que o ambiente externo – que inclui agentes biológicos, químicos e físicos – não constitua um factor agravante da condição e natureza humana, e de cada indivíduo (e das suas opções de vida). Daí que conseguiremos uma vitória absoluta sobre os elementos quando a distribuição do peso da mortalidade padronizada (em função da idade) nos diferentes meses e ao longo dos anos for cada vez mais homogénea. Isso ainda está longe de suceder, mas não é por “culpa do Verão”, mas sobretudo por “culpa” da nossa incapacidade (não apenas portuguesa, mas muito portuguesa) em controlar o que sucede nos Invernos.

    Senão vejamos.

    Peso relativo (% em relação ao total do ano) dos meses de Outono (Setembro, Outubro e Novembro) na mortalidade desde 1951 até 2022. Linha branca mostra tendência. Fonte: INE. Análise: PAV.

    O Inverno não é apenas a época do ano onde mais se morre – é aquela que regista uma maior variabilidade interanual, porque, de quando em vez, os agentes meteorológicos associados aos agentes biológicos e virais se mancomunam ainda mais para causarem maiores mortandades. E isso sucede não apenas pela maior capacidade de destruição dos “inimigos”, do seu “armamento”, ou da “ferocidade” maior ou menor em cada investida, mas sobretudo pela maior ou menor capacidade de defesa do ponto de vista individual e de Saúde Pública. Dir-se-ia que há similitudes com a área militar.

    Podendo-se fazer essa análise simples também para Dezembro e Fevereiro, exemplifique-se, por economia de tempo, com a situação do mês de Janeiro, como já dito o mais mortífero do ano. Em termos médios, entre 1951 e 2022, constata-se que 10,8% do total das mortes concentraram-se neste mês (Janeiro tem 8,5% dos dias de um ano). Vistas década a década, as médias não são muito diferentes, variando entre 10,3% na década de 2000 e o0s 11,2% da década de 1970.

    Contudo, analisando ano a ano observam-se porém grandes variações, com picos associados sobretudo a período de gripe associados a condições meteorológicas mais agrestes, às quais os mais vulneráveis não ficaram protegidos. E quanto mais idosa se tem tornado a população mais estragos “causam” os Janeiros mais inclementes.

    Earth with clouds above the African continent

    Assim, para Portugal, se consideramos como fasquia definidora de um Janeiro particularmente letal um peso relativo superior a 12%, detecta-se um ligeiro agravamento da mortalidade ao longo das últimas décadas, o que sendo expectável, não é o desejável. Assim, com mais de 12% do total das mortes não encontramos nenhum Janeiro na década de 1950, temos dois na década de 1960 (1965 e 1970), mais três na década de 1970 (1973, 1976 e 1978), mais um na década de 1980 (o Janeiro de 1990), mais dois na década de 1990 (1997 e 1999), nenhum na década de 2000, e dois na década de 2010 (2015 e 2017).

    Se acrescentarmos o Janeiro de 2021 (15,7% das mortes, por via da pandemia e ruptura do Serviço Nacional de Saúde, até porque a mortalidade não-covid foi também elevada), verificamos que nos últimos 25 anos contabilizam-se cinco Janeiros registando uma mortalidade com peso superior a 12% do total anual. No período de 1951 a 1975 (também 25 anos), contam-se três Janeiros nestas condições.

    É certo que a estrutura etária é bastante distinta, mas aquilo que se pretende mostrar é que os Invernos são tão ou mais agrestes no presente do que no passado, mesmo se temos melhor tecnologia e melhores cuidados médicos e sanitários.

    windmill on grass field during golden hour

    Obviamente, a manutenção da maior vulnerabilidade aos Invernos deve-se, em grande parte, à crescente prevalência de idosos, mas, se assim é, então não se compreende que seja dado um enfoque exclusivo à protecção dos idosos contra as potenciais ondas de calor no Verão. Qual é, afinal, o motivo para se dar tão pouca importância à desprotecção deste grupo etário nos meses de Inverno?

    Por isso, esta análise ao aquecimento global, tem como objectivo principal um alerta: para que se cuide melhor da saúde dos vulneráveis no Inverno – é nessa época do ano que há ainda muito a ser feito. Muito mais. E não se tem feito, do ponto de vista político, quase nada.

  • Cúpula das Forças Armadas gasta 90 mil euros por mês em segurança e vigilância privada

    Cúpula das Forças Armadas gasta 90 mil euros por mês em segurança e vigilância privada

    Em casa de ferreiro e de cozinheira, afinal o espeto é de pau e até se contrata empresa externa para meter a carne no assador. No Estado-Maior-General das Forças Armadas (EMGFA), que serve para proteger a soberania dos portugueses, há instalações sensíveis para a segurança interna a serem vigiadas por empresas privadas, como sucede com o Reduto Gomes Freire, em Oeiras, a sede do Comando Conjunto para as Operações Militares. Também o Hospital das Forças Armadas tem contado com vigilância privada. Esta opção de “caçar com gato” é bastante recente, tendo sido alimentada sobretudo pelo almirante Silva Ribeiro, que deixou o EMGFA em Fevereiro deste ano. Desde 2021, à conta desta opção gastou-se quase 3 milhões de euros.


    O Estado-Maior-General das Forças Armadas (EMGFA) gastou, desde 2021, quase 2,9 milhões de euros em 43 contratos de vigilância privadas das suas instalações, incluindo as do seu Instituto de Apoio Social (IASFA). O montante em causa contrasta com apenas 23 contratos nos 10 anos anteriores (2011-2020) que totalizaram apenas 1,4 milhões de euros. Ou seja, em termos médios, o EMGFA passou de um gasto médio mensal de cerca de 12 mil euros no período de 2011-2020 para um gasto médio mensal quase oito vezes superior. Em média, nos 32 meses que passaram desde Janeiro de 2021, os gastos em segurança privada ultrapassam os 90 mil euros por mês.

    De acordo com o levantamento do PÁGINA UM aos contratos assinados pelo EMGFA e pelo IASFA desde 2011, verifica-se que foi sobretudo com a entrada em funções do almirante Silva Ribeiro como chefe de estado-maior general das Forças Armadas que os contratos de vigilância e segurança privada floresceram num sector onde, para além de questões de segurança nacional e até pelo simbolismo, não seria suposto existirem.

    Uma casa de militares afinal vigiada por uma empresa privada. EMGFA não explica se há critérios para assegurar protecção de matéria sensível.

    E foi logo desde o início. No próprio dia da tomada de posse de Silva Ribeiro – que antes estivera na cúpula da Armada, agora ocupada por Gouveia e Melo –, em 1 de Março de 2018, foi logo assinado um contrato, ao abrigo de um acordo-quadro, com a empresa Ronseguir no valor de 372.043 euros, para a vigilância e segurança das unidades de apoio do Reduto Gomes Freire, do Instituto Universitário Militar e do Campus de Saúde Militar.

    Convém, no entanto, referir que a vigilância privada a estas instalações militares, de grande sensibilidade, começara em 2016, com a contratação da Securitas para o Reduto Gomes Freire, através de um contrato de 50.368 euros, que obteve outro ainda em 2017, no valor de 49.565 euros.

    Ainda em 2017, durante o mandato do general António Pina Monteiro – que ocupou as funções entre 2014 e o início de 2018 – já fora determinado contratar por cerca de 213 mil euros a empresa Ronsegur para, por nove meses, prestar serviços de segurança e vigilância para o Reduto Gomes Freire.

    Saliente-se que estas instalações militares, localizadas em Oeiras, funcionaram até finais de Dezembro de 2012 como Comando de Forças da NATO, sendo actualmente a sede do Comando Conjunto para as Operações Militares do EMGFA, o centro nevrálgico de coordenação das intervenções dos três ramos das Forças Armadas. E têm estado sistematicamente a ser vigiadas, as entradas e saídas, por esta empresa privada sedeada em Santa Maria da Feira.

    Pólos de Lisboa e do Porto do Hospital das Forças Armadas começou a ter vigilância privada desde 2021.

    O contrato mais recente, explicitamente destinado apenas ao Reduto Gomes Freire, no valor de quase 333 mil euros, foi assinado em Julho do ano passado, com duração de 12 meses, prevendo um pagamento horário por serviços de vigilância e segurança para a Unidade de Apoio entre 8,28 euros e 16,73 euros, em função do dia de semana e do horário. Ainda não foi publicado o contrato que terá sido assinado já este ano.

    Contudo, foi sem dúvida durante o mandato do almirante Silva Ribeiro que se “institucionalizou” a contratação de serviços privados de vigilância e segurança privada para instalações do EGMFA e do IASFA. De entre os 66 contratos de segurança privada destas duas entidades publicadas no Portal Base, contabilizam-se 47 durante o seu mandato. E se no seu primeiro dia de mandato (1 de Março de 2018) se assinou um contrato com a Ronsegur, também no último (28 de Fevereiro de 2023) se assinou outro com a Ronsegur, no valor de 60.985 euros, mas neste caso para a vigilância de instalações do IASFA durante dois meses. No total, nos cinco anos do seu mandato, foram assinados contratos de segurança privada no valor de 2.089.692 euros.

    Em todo o caso, foi nos anos de 2021 e 2022 – já que em 2020, primeiro ano da pandemia apenas se assinaram quatro contratos no valor total de 121 mil euros – que o EMGFA e o seu instituto de acção social deram gás à contratação de empresas privadas para vigiar as suas instalações. Em 2021 foram assinados 21 contratos no valor de 1,3 milhões de euros e no ano seguinte mais 15 contratos envolvendo um pouco mais de 1,2 milhões de euros. Ao longo de 2023 estão apenas assumidos publicamente sete contratos desta natureza, dos quais ainda quatro do mandato de Silva Ribeiro, com um montante de quase 167 mil euros, e os restantes três do actual Chefe de Estado Maior General, Nunes da Fonseca, num total de quase 167 mil euros.

    Montantes dos contratos, por empresa e ano, de vigilância e segurança privadas estabelecidos pelo Estado-Maior-General das Forças Armadas e pelo Instituto de Acção Social das Forças Armadas desde 2010. Fonte: Portal Base. [ver em maior dimensão]

    A Ronsegur tem sido, especialmente a partir de 2021 a empresa mais beneficiada, totalizando 23 contratos nos últimos 32 meses, com uma facturação de quase 2,1 milhões de euros. Antes do mandato de Silva Ribeiro, a Ronsegur já fizera nove contratos com as Forças Armadas (EMGFA e IASFA), mas envolvendo pouco mais de 330 mil euros.

    Esta empresa de Santa Maria da Feira, criada em 2004, está envolvida num processo em que o Ministério Público acusa três autarcas de Mogadouro de prevaricação por via de contratos de vigilância e segurança privada do Parque de Campismo da Quinta da Aguieira, do Complexo Desportivo local e do Parque Juncal. De acordo com o Ministério Público, “em conjugação de esforços e em concretização de plano previamente delineado” os três autarcas e os sócios de três empresas “lograram simular a aparência de um procedimento de contratação pública por intermédio de consulta prévia de modo a lograr atribuir, novamente, à Rosengur, a execução de serviços de vigilância e segurança privada” no município de Mogadouro, “contornando, flagrantemente, as regras legais da contratação pública e da concorrência”.

    A empresa tem estado também no centro de vários casos de alegados abusos laborais, embora no seu site ostente vários documentos sobre sua política, designadamente de responsabilidade social e um plano de gestão de riscos de corrupção e infracções conexas.

    Empresas privadas controlam quem entra ou sai de instalações militares. Em casa de ferreiro, espeto de pau.

    Muito mais atrás da Ronsegur no que diz respeito a relações comerciais com o EMGFA no âmbito da vigilância, surge a Ovisegur, que apenas começou trabalhar para a cúpula das Forças Armadas a partir de 2021, mas com grande sucesso: tem sacado contratos atrás de contratos para a vigilância e segurança do Hospital das Forças Armadas, tanto no pólo de Lisboa como no do Porto.

    No total, a Ovisegur conta já 13 contratos desta natureza – uma parte por concurso público, outra por ajustes directos, por vezes sem redução a escrito –, que já totalizam 489.587 euros. Nos últimos dois anos, uma outra empresa, a COPS, tem coleccionado no seu portfólio contratos para vigilância do Hospital das Forças Armadas: dois em 2022 e mais três este ano, envolvendo 227.686 euros.

    Aliás, somando todos os contratos de segurança privada do Hospital das Forças Armadas – 20 no total desde 2021, não se tendo detectado qualquer outro antes dessa data –, o EMGFA gastou já 789.204 euros.

    Além das três empresas privadas já referidas – Ronseguir, Ovisegur e COPS –, existem mais quatro empresas com contratos de vigilância privada com o EMGFA: a Securitas, a Noite e Dia, a 2045 e ainda a Strong. No caso da Securitas, o último contrato é, porém, de 2020 – para instalações do IASFA – e antes dessa data constam apenas quatro contratos em 2013 e dois em 2016.

    Almirante Silva Ribeiro, no dia em que deixou o EMGFA e foi condecorado com a Grã-Cruz da Ordem Militar de Cristo por Marcelo Rebelo de Sousa. Durante o seu mandato foram assinados 47 contratos de vigilância privada, tanto para instalações do EMGFA como para o seu instituto de acção social. Antes de si, o uso de empresas privadas era raro.

    Ainda mais fortuitas são as relações comerciais com a 2045 (um contrato em 2012 no valor de 53 mil euros), a Noite e Dia (dois contratos, em 2021 e 2022, num montante total de cerca de 72 mil euros) e a Strong (um contrato em 2013 de pouco mais de 11 mil euros).

    O PÁGINA UM pediu, no dia 22 deste mês, comentários ao EMGFA sobre estas matérias, pedindo que fossem dados esclarecimentos sobre os motivos de não ser a função de vigilância feita por recursos próprios, ou seja, por militares. De igual modo, perguntou-se se existiam critérios de reforço de segurança relativamente aos funcionários das empresas contratadas, de modo a assegurar a inviolabilidade de espaços e informação sensíveis.  

    No dia seguinte, as relações públicas das Forças Armadas acusou a mensagem, informando que “o assunto foi encaminhado para os órgãos competentes a fim de ser analisado”. Passou uma semana e a análise ainda não chegou.

  • TOP 30 dos contratos mais caros por ajuste directo: geral (excluindo medicamentos)

    TOP 30 dos contratos mais caros por ajuste directo: geral (excluindo medicamentos)


    JANEIRO-SETEMBRO (2023)

    AJUSTES DIRECTOS


    1Concepção-construção da empreitada “Alteração sinalização – Linha de Sines (Ermidas / Raquete) e na Linha do Sul – Canal Caveira e Ermidas

    Tipo: Empreitadas de obras públicas

    Designação: Obras de sinalização ferroviária

    Adjudicante: Infraestruturas de Portugal

    Adjudicatário: Siemens Mobility Unipessoal

    Preço contratual: 14.498.030,70 euros

    Mês da celebração do contrato: Novembro de 2022

    Mês de publicação do contrato: Janeiro de 2023            

    Prazo de execução: 455 dias

    Justificação para o ajuste directo: Artigo 24º, nº 1, alínea e), subalínea ii) do Código dos Contratos Públicos

    Notas: com contrato escrito e peças de procedimento no Portal Base.


    2Aquisição de serviços de aluguer de autocarros com condutor

    Tipo: Aquisição de serviços

    Designação: Aluguer de autocarros e autocarros de turismo com condutor

    Adjudicante: Município de Cascais

    Adjudicatário: Empresa Martin

    Preço contratual: 9.740.147,51 euros

    Mês da celebração do contrato: Março de 2023

    Mês de publicação do contrato: Março de 2023

    Prazo de execução: 366 dias

    Justificação para o ajuste directo: Artigo 24º, nº 1, alínea c) do Código dos Contratos Públicos

    Notas: com contrato e peças de procedimento no Portal Base.


    3Aquisição de serviços de alterações no terminal e sistema IPS do Departamento de Jogos

    Tipo: Aquisição de serviços

    Designação: Desenvolvimento de software de processamento de transacções e de software à medida

    Adjudicante: Santa Casa da Misericórdia de Lisboa

    Adjudicatário: IGT Foreign Holding Corporation – Sucursal em Portugal

    Preço contratual: 8.624.000,00 euros

    Mês da celebração do contrato: Março de 2023

    Mês de publicação do contrato: Maio de 2023

    Prazo de execução: 731 dias

    Justificação para o ajuste directo: Artigo 24º, nº 1, alínea e) do Código dos Contratos Públicos

    Notas: com contrato escrito e peças de procedimento no Portal Base.


    4Aquisição de equipamentos rádio TETRA Dimetra

    Tipo:

    Designação:

    Adjudicante: Secretaria-Geral do Ministério da Administração Interna

    Adjudicatário: Motorola Solutions Portugal

    Preço contratual: 6.829.999,90 euros

    Mês da celebração do contrato: Setembro de 2023

    Mês de publicação do contrato: Setembro de 2023

    Prazo de execução: 274 dias

    Justificação para o ajuste directo: Artigo 24º, nº 1, alínea e) do Código dos Contratos Públicos

    Notas: com contrato escrito e peças de procedimento no Portal Base.


    5Empreitada de reforço do Porto das Lajes das Flores

    Tipo: Empreitadas de obras públicas

    Designação: Construção

    Adjudicante: Portos dos Açores

    Adjudicatário: Sacyr Somague, Tecmovia Açores e ETERMAR – Engenharia e Construção

    Preço contratual: 6.138.500,00 euros

    Mês da celebração do contrato: Abril de 2023

    Mês de publicação do contrato: Abril de 2023

    Prazo de execução: 135 dias

    Justificação para o ajuste directo: Artigo 24º, nº 1, alínea c) do Código dos Contratos Públicos

    Notas: com contrato escrito e peças de procedimento no Portal Base.


    6Aquisição de serviços de vigilância humana e eletrónica 

    Tipo: Aquisição de serviços

    Designação: Serviços de segurança

    Adjudicante: Município de Lisboa

    Adjudicatário: Ronsegur

    Preço contratual: 5.433.279,96 euros

    Mês de celebração do contrato: Julho de 2023

    Mês de publicação do contrato: Julho de 2023

    Prazo de execução: 184 dias

    Justificação para o ajuste directo: Artigo 24º, nº 1, alínea c) do Código dos Contratos Públicos

    Notas: com contrato escrito e peças de procedimento no Portal Base.


    7Execução da empreitada da Linha da Beira Alta – Estação da Pampilhosa (1ª fase)

    Tipo: Empreitadas de obras públicas

    Designação: Construção de vias férreas

    Adjudicante: Infraestruturas de Portugal

    Adjudicatária: Steconfer – Sociedade Técnica de Construções Férreas

    Preço contratual: 5.095.000 euros

    Mês da celebração do contrato: Fevereiro de 2023

    Mês de publicação do contrato: Fevereiro de 2023

    Prazo de execução: 150 dias

    Justificação para o ajuste directo: Artigo 19º, alínea d) do Código dos Contratos Públicos

    Notas: com contrato escrito e peças de procedimento no Portal Base.


    8Empreitada para a nova Unidade de Cuidados Intensivos 

    Tipo: Empreitadas de obras públicas

    Designação: Construção

    Adjudicante: Unidade Local de Saúde do Norte Alentejano

    Adjudicatária: Edibeiras – Edifícios e Obras Publicas das Beiras

    Preço contratual: 5.072.498,18 euros

    Mês da celebração do contrato: Dezembro de 2022

    Mês de publicação do contrato: Fevereiro de 2023

    Prazo de execução: 488 dias

    Justificação para o ajuste directo: Artigo 24º, nº 1, alínea a) do Código dos Contratos Públicos

    Notas: com contrato escrito e sem peças de procedimento no Portal Base.


    9Aquisição de serviços de tratamento e destino final de resíduos hospitalares

    Tipo: Aquisição de serviços

    Designação: Serviços de saneamento e limpeza em áreas urbanas ou rurais, e serviços conexos

    Adjudicante: Serviço de Utilização Comum dos Hospitais (SUCH)

    Adjudicatária: Somos Ambiente, A.C.E.

    Preço contratual: 4.957.321,26 euros

    Mês da celebração do contrato: Fevereiro de 2023

    Mês de publicação do contrato: Março de 2023

    Prazo de execução: 365 dias

    Justificação para o ajuste directo: Artigo 24º, nº 1, alínea c) do Código dos Contratos Públicos

    Notas: com contrato escrito e peças de procedimento no Portal Base.


    10Trabalhos de preparação dos terrenos na zona ribeirinha da Bobadela (Jornada Mundial da Juventude 2023)

    Tipo: Empreitadas de obras públicas

    Designação: Trabalhos de paisagismo

    Adjudicante: Município de Loures

    Adjudicatário: Alves Ribeiro, S.A.

    Preço contratual: 4.712.368,85 euros

    Mês da celebração do contrato:

    Mês de publicação do contrato: Abril de 2023

    Prazo de execução: 90 dias

    Justificação para o ajuste directo: Artigo 118.º, n.º 1, da Lei n.º 24-D/2022, de 30.12 (Lei do Orçamento do Estado para 2023)

    Notas: com contrato escrito e sem peças de procedimento no Portal Base. O contrato inicial foi estabelecido por um valor de 4.285.094,23 euros, havendo duas alterações contratuais, em Julho e em Agosto de 2023.


    11Prestação de serviços de higiene e limpeza das instalações 

    Tipo: Aquisição de serviços

    Designação: Serviços de limpeza

    Adjudicante: Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Norte

    Adjudicatário: Derichebourg Facility Services

    Preço contratual: 4.583.245,12 euros

    Mês da celebração do contrato: Março de 2023

    Mês de publicação do contrato: Março de 2023

    Prazo de execução: 306 dias

    Justificação para o ajuste directo: Artigo 24º, nº 1, alínea e), subalínea ii) do Código dos Contratos Públicos

    Notas: com contrato escrito e peças de procedimento no Portal Base.


    12Trabalhos de sinalização em vários troços da Rede Ferroviária Nacional

    Tipo: Empreitadas de obras públicas

    Designação: Obras de sinalização ferroviária

    Adjudicante: Infraestruturas de Portugal

    Adjudicatário: Siemens Mobility Unipessoal

    Preço contratual: 4.386.302,28 euros

    Mês da celebração do contrato: Maio de 2023

    Mês de publicação do contrato: Junho de 2023

    Prazo de execução: 90 dias

    Justificação para o ajuste directo: Artigo 24º, nº 1, alínea e), subalínea ii) do Código dos Contratos Públicos

    Notas: com contrato escrito e peças de procedimento no Portal Base.


    13Empreitada de construção do Altar-Palco, no âmbito da Jornada Mundial da Juventude 2023

    Designação:

    Tipo: Empreitadas de obras públicas

    Adjudicante: Lisboa Ocidental, SRU – Sociedade de Reabilitação Urbana

    Adjudicatária: Mota Engil

    Preço contratual: 4.240.000,00 euros

    Mês da celebração do contrato: Janeiro de 2023

    Mês de publicação do contrato: Janeiro de 2023

    Prazo de execução: 150 dias

    Justificação para o ajuste directo: Artigo 149.º, n.º 1, da Lei 12/2022, de 27.06

    Notas: com contrato escrito sem peças de procedimento no Portal Base.


    14Aquisição de serviços de limpeza

    Designação: Aquisição de serviços

    Tipo: Serviços de limpeza

    Adjudicante: Infraestruturas de Portugal

    Adjudicatária: Iberlim – Higiene e Sustentabilidade Ambiental

    Preço contratual: 4.204.570,75 euros

    Mês da celebração do contrato:

    Mês de publicação do contrato: Março de 2023

    Prazo de execução: 334 dias

    Justificação para o ajuste directo: Artigo 24º, nº 1, alínea e), subalínea ii) do Código dos Contratos Públicos

    Notas: com contrato escrito e peças de procedimento no Portal Base. O contrato inicial foi estabelecido por um valor de 4.140.900,61 euros, havendo duas alterações contratuais, em 21 de Julho e em 31 de Julho de 2023.


    15Prestação de serviços de fornecimento de alimentação a doentes e colaboradores

    Tipo: Aquisição de serviços

    Designação: Serviços de confecção de refeições

    Adjudicante: Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Norte

    Adjudicatário: ITAU – Instituto Técnico de Alimentação Humana

    Preço contratual: 4.160.971,76 euros

    Mês da celebração do contrato: Março de 2023

    Mês de publicação do contrato: Março de 2023

    Prazo de execução: 245 dias

    Justificação para o ajuste directo: Artigo 24º, nº 1, alínea c) do Código dos Contratos Públicos

    Notas: com contrato escrito e peças de procedimento no Portal Base.


    16Aquisição de 14 autocarros minis elétricos e postos de carregamento

    Tipo: Aquisição de bens móveis

    Designação: Autocarros urbanos e de turismo

    Adjudicatário: Companhia Carris de Ferro de Lisboa

    Adjudicatário: UIC – Unidade de Indústria Auto Mecânica do Centro

    Preço contratual: 4.065.600 euros

    Mês da celebração do contrato: Julho de 2023

    Mês de publicação do contrato: Agosto de 2023

    Prazo de execução: 213 dias

    Justificação para o ajuste directo: Artigo 26º, nº 1, alínea e) do Código dos Contratos Públicos

    Notas: com contrato escrito e peças de procedimento no Portal Base.


    17Vigilância e segurança humana de instalações

    Tipo: Aquisição de serviços

    Designação: Serviços de vigilância

    Adjudicante: Infraestruturas de Portugal

    Adjudicatário: PSG – Segurança Privada

    Preço contratual: 4.042.618,46 euros

    Mês da celebração do contrato: Março de 2023

    Mês de publicação do contrato: Março de 2023

    Prazo de execução: 365 dias

    Justificação para o ajuste directo: Artigo 24º, nº 1, alínea c) do Código dos Contratos Públicos

    Notas: com contrato escrito e peças de procedimento no Portal Base.


    18Fornecimento de energia eléctrica

    Tipo: Aquisição de serviços

    Designação: Produtos petrolíferos, combustíveis, electricidade e outras fontes de energia

    Adjudicante: REN – Serviços

    Adjudicatário: Iberdrola Clientes Portugal

    Preço contratual: 4.040.401,22 euros

    Mês da celebração do contrato: Março de 2023

    Mês de publicação do contrato: Abril de 2023

    Prazo de execução: 183 dias

    Justificação para o ajuste directo: Artigo 26º, nº 1, alínea f) do Código dos Contratos Públicos

    Notas: com contrato escrito sem peças de procedimento no Portal Base.


    19Aquisição de serviços de refeições nos estabelecimentos de ensino e educação

    Tipo: Aquisição de serviços

    Designação: Serviços de fornecimento de refeições (catering)

    Adjudicante: Município de Gondomar

    Adjudicatário: Eurest Portugal

    Preço contratual: 3.995.334 euros

    Mês da celebração do contrato: Agosto de 2023

    Mês de publicação do contrato: Agosto de 2023

    Prazo de execução: 335 dias

    Justificação para o ajuste directo: Artigo 24º, nº 1, alínea c), subalínea ii) do Código dos Contratos Públicos

    Notas: com contrato escrito e sem peças de procedimento no Portal Base.


    20Vigilância e segurança humana de instalações

    Tipo: Aquisição de serviços

    Designação: Serviços de vigilância

    Adjudicatário: Infraestruturas de Portugal

    Adjudicante: COPS – Companhia Operacional da Segurança

    Preço contratual: 3.896.948,77 euros

    Mês da celebração do contrato: Março de 2023

    Mês de publicação do contrato: Março de 2023

    Prazo de execução: 337 dias

    Justificação para o ajuste directo: Artigo 24º, nº 1, alínea c) do Código dos Contratos Públicos

    Notas: com contrato escrito e peças de procedimento no Portal Base.


    21Aquisição de energia eléctrica

    Tipo: Aquisição de bens móveis

    Designação:

    Adjudicatário: Serviços Municipalizados de Água e Saneamento de Almada

    Adjudicante: Endesa Energia

    Preço contratual: 3.764.154,67 euros

    Mês da celebração do contrato: Setembro de 2023

    Mês de publicação do contrato: Setembro de 2023

    Prazo de execução: 366 dias

    Justificação para o ajuste directo: Artigo 24º, nº 1, alínea c) do Código dos Contratos Públicos

    Notas: com contrato escrito e peças de procedimento no Portal Base.


    22Aquisição de serviços de patologia clínica

    Tipo: Aquisição de serviços

    Designação:

    Adjudicatário: Hospital de Loures

    Adjudicante: SYNLAB Health

    Preço contratual: 3.431.838,30 euros

    Mês da celebração do contrato: Maio de 2023

    Mês de publicação do contrato: Setembro de 2023

    Prazo de execução: 243 dias

    Justificação para o ajuste directo: Artigo 24º, nº 1, alínea c) do Código dos Contratos Públicos

    Notas: com contrato escrito sem peças de procedimento no Portal Base.


    23Aquisição de serviços de higiene e limpeza

    Tipo: Aquisição de serviços

    Designação: Serviços de limpeza

    Adjudicante: Administração Regional de Saúde do Norte

    Adjudicatária: Interlimpe Facility Services

    Preço contratual: 3.238.315,80 euros

    Mês da celebração do contrato: Fevereiro de 2023

    Mês de publicação do contrato: Março de 2023

    Prazo de execução: 366 dias

    Justificação para o ajuste directo: Artigo 24º, nº 1, alínea c) do Código dos Contratos Públicos

    Notas: contrato sem redução a escrito, alegando artigo 95, nº 2, alínea c) do Código dos Contratos Públicos, ou seja, motivos de urgência imperiosa resultante de acontecimentos imprevisíveis pela entidade, sendo necessário dar imediata execução ao contrato.


    24Aquisição de equipamentos, empreitada e serviços, para realização de operações de transshipment

    Tipo: Aquisição de bens móveis

    Designação: Equipamento de elevação e de movimentação e suas partes

    Adjudicante: REN Atlântico – Terminal de GNL

    Adjudicatário: PRF – Gás, Tecnologia e Construção

    Preço contratual: 3.222.900,00 euros

    Mês da celebração do contrato: Dezembro de 2022

    Mês de publicação do contrato: Abril de 2023

    Prazo de execução: 214 dias

    Justificação para o ajuste directo: Artigo 24º, nº 1, alínea c) do Código dos Contratos Públicos

    Notas: com contrato escrito e sem peças de procedimento no Portal Base.


    25Aquisição de serviços de manutenção global para 10 navios

    Tipo: Aquisição de serviços

    Designação: Serviços de reparação e manutenção de navios

    Adjudicante: SOFLUSA – Sociedade Fluvial de Transportes

    Adjudicatário: S&C – Gestão de Navios e Tripulações, e Navaltagus – Reparação e Construção Naval

    Preço contratual: 3.155.000,00 euros

    Mês da celebração do contrato: Janeiro de 2023

    Mês de publicação do contrato: Janeiro de 2023

    Prazo de execução:181 dias

    Justificação para o ajuste directo: Artigo 24º, nº 1, alínea c) do Código dos Contratos Públicos

    Notas: com contrato escrito e sem peças de procedimento no Portal Base.


    26Instalação do Sistema de Informação ao Público visual e sonora nas Linha de Cascais e na estação de Santa Apolónia

    Tipo: Aquisição de bens móveis

    Designação: Quadros electrónicos

    Adjudicante: Infraestruturas de Portugal

    Adjudicatário: GTSPT – Ground Transportation Systems Portugal

    Preço contratual: 2.935.000 euros

    Mês da celebração do contrato: Agosto de 2023

    Mês de publicação do contrato: Agosto de 2023

    Prazo de execução: 540 dias

    Justificação para o ajuste directo: Artigo 24º, nº 1, alínea e), subalínea ii) do Código dos Contratos Públicos

    Notas: com contrato escrito e peças de procedimento no Portal Base.


    27Construção do Centro da Primeira Infância e Creche

    Tipo: Empreitadas de obras públicas

    Designação: Construção

    Adjudicante: Santa Casa da Misericórdia de Alenquer

    Adjudicante: Conway

    Preço contratual: 2.833.465,16 euros

    Mês da celebração do contrato: Julho de 2023

    Mês de publicação do contrato: Julho de 2023

    Prazo de execução: 366 dias

    Justificação para o ajuste directo: Artigo 24º, nº 1, alínea a) do Código dos Contratos Públicos

    Notas: com contrato escrito e sem peças de procedimento no Portal Base.


    28Prestação de serviços de limpeza em unidades de saúde

    Tipo: Aquisição de serviços

    Designação: Serviços de limpeza

    Adjudicante: Santa Casa da Misericórdia de Lisboa

    Adjudicatária: Clece Portugal

    Preço contratual: 2.759.951,70 euros

    Mês da celebração do contrato: Agosto de 2023

    Mês de publicação do contrato: Agosto de 2023

    Prazo de execução: 366 dias

    Justificação para o ajuste directo: Artigo 24º, nº 1, alínea c) do Código dos Contratos Públicos

    Notas: com contrato escrito e peças de procedimento no Portal Base.


    29Fornecimento de refeições confeccionadas para os estabelecimentos prisionais e centros educativos

    Tipo: Aquisição de serviços

    Designação: Serviços de confecção de refeições

    Adjudicante: Direcção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais

    Adjudicatária: Uniself – Sociedade de Restauração Públicos e Privados

    Preço contratual: 2.707.577,87 euros

    Mês da celebração do contrato: Março de 2023

    Mês de publicação do contrato: Março de 2023

    Prazo de execução: 31 dias

    Justificação para o ajuste directo: Artigo 24º, nº 1, alínea c) do Código dos Contratos Públicos

    Notas: com contrato escrito e peças de procedimento no Portal Base.


    30Fornecimento de refeições confeccionadas para os estabelecimentos prisionais e centros educativos

    Tipo: Aquisição de serviços

    Designação: Serviços de confecção de refeições

    Adjudicante: Direcção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais

    Adjudicatária: Uniself – Sociedade de Restauração Públicos e Privados

    Preço contratual: 2.691.780,89 euros

    Mês da celebração do contrato: Dezembro de 2022

    Mês de publicação do contrato: Janeiro de 2023

    Prazo de execução: 31 dias

    Justificação para o ajuste directo: Artigo 24º, nº 1, alínea c) do Código dos Contratos Públicos

    Notas: com contrato escrito e peças de procedimento no Portal Base.


    31Aquisição de serviços de higiene e limpeza

    Tipo: Aquisição de serviços

    Designação: Serviços de limpeza

    Adjudicante: Administração Regional de Saúde do Norte

    Adjudicatária: Fine Facility Services

    Preço contratual: 2.671.006,15 euros

    Mês da celebração do contrato: Fevereiro de 2023

    Mês de publicação do contrato: Março de 2023

    Prazo de execução: 365 dias

    Justificação para o ajuste directo: Artigo 24º, nº 1, alínea c) do Código dos Contratos Públicos

    Notas: contrato sem redução a escrito, alegando artigo 95, nº 2, alínea c) do Código dos Contratos Públicos, ou seja, motivos de urgência imperiosa resultante de acontecimentos imprevisíveis pela entidade, sendo necessário dar imediata execução ao contrato.


    32Aquisição de serviços de higiene e limpeza

    Tipo: Aquisição de serviços

    Designação: Serviços de limpeza

    Adjudicante: Polícia de Segurança Pública

    Adjudicatária: Fine Facility Services

    Preço contratual: 2.664.290,44 euros

    Mês da celebração do contrato: Julho de 2023

    Mês de publicação do contrato: Julho de 2023

    Prazo de execução: 210 dias

    Justificação para o ajuste directo: Artigo 27º, nº 1, alínea b) do Código dos Contratos Públicos

    Notas: com contrato escrito e sem peças de procedimento no Portal Base.


    33Aquisição de serviços de higiene e limpeza

    Tipo: Aquisição de serviços

    Designação: Serviços de limpeza

    Adjudicante: Guarda Nacional Republicana

    Adjudicatária: Fine Facility Services

    Preço contratual: 2.580.822,95 euros

    Mês da celebração do contrato: Maio de 2023

    Mês de publicação do contrato: Junho de 2023

    Prazo de execução: 153 dias

    Justificação para o ajuste directo: Artigo 24º, nº 1, alínea c) do Código dos Contratos Públicos

    Notas: com contrato escrito e sem peças de procedimento no Portal Base.


    N.D. Este ranking do PÁGINA UM é elaborado a partir dos dados do Portal Base, seleccionando-se exclusivamente os contratos públicos por ajuste directo (regime geral), tendo como referência a data de publicação (e não a data da celebração do contrato). O preço contratual refere-se ao valor final após eventuais alterações, que serão verificadas mês a mês. Saliente-se que a identificação das entidades é confirmada com o número de identificação de pessoa colectiva (NIPC), uma vez que as denominações das entidades públicas (adjudicantes) e das empresas privadas (adjudicatárias, que raramente são entidades públicas) usadas no Portal Base nem sempre são escritas da mesma forma, o que pode suscitar alguma confusão. Somente no ranking dos 25 maiores contratos se verificará se houve alteração no preço contratual.

  • Expresso organiza conferência sobre desinformação… e não informa que foi paga pelo INATEL

    Expresso organiza conferência sobre desinformação… e não informa que foi paga pelo INATEL

    É mais um caso de promiscuidade e sobretudo de falta de transparência. Mas desta vez com uma dose de ironia: em Julho, no âmbito das comemorações dos 50 anos, o jornal Expresso “esqueceu-se” de informar que um debate sobre desinformação foi pago pelo anfitrião, a Fundação Inatel, sob a forma de contrato de prestação de serviços, que surgiu na semana passada no Portal Base. O presidente do INATEL foi também um dos oradores. Mas este não foi o único caso de dinheiros públicos em eventos que o Expresso assumiu só ter patrocinadores privados. Saiba quem foram os autarcas que, a troco de dinheiro, tiveram a sua imagem promovida no Expresso, de mão dada (ou de tuk-tuk) com o seu director.


    Não se pode dizer que não houve oportunidade. No passado mês de Julho, por três vezes nas suas páginas virtuais e uma vez na edição em papel do dia 21, no seu caderno semanal de Economia, o Expresso destacou um debate em Évora assaz oportuno: “inteligência artificial e desinformação”. Mas em nenhuma dessas oportunidades de um debate sobre desinformação, o jornal do Grupo Impresa deu a informação aos seus leitores de que a Fundação INATEL – instituição tutelada pelo Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social – pagou 19.500 euros para a realização do evento.

    Apesar do INATEL ter a sua actividade focada em actividades de ocupação de tempos livres – gerindo também 17 unidades hoteleiras, um parque de jogos, vários pavilhões desportivos e o Teatro Trindade, em Lisboa –, o Expresso também incluiu na lista de participantes deste debate sobre desinformação o presidente daquela instituição, Francisco Madelino, que está longe de ser especialista em inteligência artificial ou desinformação. Presidente da Fundação INATEL desde Janeiro de 2016, Madelino é sim especialista em teoria económica e Economia portuguesa e europeia, tendo sido presidente do Instituto de Políticas Públicas e Sociais do ISCTE. A sua presença ter-se-á devido, assim, não apenas ao financiamento do evento como também à cedência do espaço, o Palácio do Barrocal, sede naquela cidade alentejana.

    Comemorações dos 50 anos do Expresso: o jornal “esqueceu-se” de informar os leitores que não havia só patrocinadores privados. Também houve dinheiros públicos.

    Não se pode, porém, provar documentalmente que a presença de Francisco Madelino tenha sido uma contrapartida do pagamento da verba, porque o contrato por ajuste directo foi feito sem qualquer papel.

    De acordo com o Portal Base, o contrato para “aquisição de serviços para organização da iniciativa da Conferência Inteligência Artificial e Desinformação: os novos desafios para a opinião Pública” (sic) – com data de 11 de Julho, dois dias antes do evento, mas apenas publicado há uma semana – não foi reduzido a escrito.

    As duas entidades recorreram, para tal, a um regime de excepção previsto no Código dos Contratos Públicos que possibilita que nada seja assumido por escrito se se considerar que “o fornecimento dos bens ou a prestação dos serviços (…) ocorrer integralmente no prazo máximo de 20 dias a contar da data em que o adjudicatário comprove a prestação da caução ou, se esta não for exigida, da data da notificação da adjudicação”, “a relação contratual se exting[ue] com o fornecimento dos bens ou com a prestação dos serviços” e “o contrato não esteja sujeito a fiscalização prévia do Tribunal de Contas”.

    Expresso fez extensa cobertura do evento pago pela Fundação INATEL, nunca referindo que o apoio foi financeiro, envolvendo também convite ao presidente desta instituição tutelada pelo Governo.

    Mas essa, saliente-se, é uma opção das partes envolvidas. As empresas de media – cujos jornalistas muitas vezes criticam a existência de contratos por ajuste directo por entidades públicas – têm, contudo, estabelecido nos últimos tempos diversos contratos desta natureza: ajustes directos e muitos até sem acordo escrito.

    Num artigo de antecipação ao debate – curiosamente com a data em que se estabeleceu o contrato, o que denota que já havia uma combinação prévia –, a jornalista do Expresso, Marina Almeida (CP 1753), nunca faz referência ao financiamento do INATEL, apenas revelando, além do tema e participantes, que a iniciativa é conjunta (Expresso e Fundação INATEL) e que “a abertura dos trabalhos estará a cargo de Francisco Madelino, Presidente do INATEL”.

    Um dia depois do debate, a mesma jornalista Marina Almeida publicou um texto no Expresso, de cobertura do evento, e faz três referências ao INATEL: duas destacando ter sido a entidade que “acolheu” o debate, e outra para citar um chavão do presidente Francisco Madelino: “sem informação livre não há democracia”.

    Evento foi divulgado pelo INATEL como sendo uma parceria, ou seja, sem referência a qualquer pagamento.

    O título do artigo assinado pela jornalista Marina Almeida – numa estranha secção denominada “Iniciativas e Produtos” – acaba por ser algo irónico neste contexto: “Nas notas de rodapé está uma das armas contra a desinformação”, porque nem em nota de rodapé surge a referência a um evento pago por um dos intervenientes, e ainda mais com o director do jornal que presta o serviço em pessoa.

    A jornalista do Expresso também cita o seu director, João Vieira Pereira, salientando que focou a sua intervenção nas práticas jornalísticas, salientando que o responsável editorial do jornal “disse que os jornalistas são especialistas em desinformação, e que lidam em permanência com fontes que têm agendas”.

    Mais adiante, acrescenta que “o diretor do Expresso referiu ainda que há vários órgãos de comunicação social em Portugal com uma situação frágil, e isso também coloca em risco a democracia”, e cita João Vieira Pereira: “tem de haver uma reflexão não política sobre como financiar os órgãos de comunicação social”. Não consta que tenha havido reflexão sobre questões éticas relativas a um evento sobre desinformação ser pago pelo anfitrião (INATEL) sem que nenhuma informação surja sobre esse pagamento.

    Quatro dias mais tarde, o Expresso destacou também declarações de todos os intervenientes no debate, com excepção de João Vieira Pereira: além de Francisco Madelino e do colunista Henrique Raposo, também foram gravados em vídeo os depoimentos de Manuel Carvalho da Silva, ex-homem forte da CGTP e investigador da Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, de um especialista em marketing (Gustavo Miller) e do director-geral da GFK Metris (António Gomes).

    E, por fim, a quarta referência ao evento pago pela Fundação INATEL sobre desinformação surgiu em papel, no dia 21 de Julho, no caderno de Economia, na ambígua secção de Projetos Expresso, já alvo de análise crítica da Entidade Reguladora para a Comunicação Social, que resultou no levantamento de um processo de contra-ordenação em curso. Neste texto, igualmente assinado pela jornalista Marina Almeida, a Fundação INATEL surge como entidade que concedeu “apoio” – sem referência a pagamento – de um roadshow de conferências e exposições associadas às comemorações dos 50 anos do Expresso. E com financiamento público.

    Com efeito, a exposição Expresso 50 anos, acompanhada também por debates, percorreu as capitais de distrito, naquilo que o jornal afirmava servir como “convite à leitura, à celebração do jornalismo, e à descoberta da história”, sendo então inicialmente apontadas como patrocinadores as empresas Altice, BPI, Hyundai, JC Decaux e Navigator, para além da Antarte, que produzia um banco de jardim para marcar o evento. Explicitamente, não surge na lista nenhuma entidade pública.

    João Vieira Pereira, director do Expresso desde 2019. Até de tuk-tuk andou com autarcas,

    Porém, também aqui o Expresso não informou os seus leitores com a verdade – ou seja, houve desinformação. De acordo com um levantamento do PÁGINA UM ao Portal Base, o Expresso fez pelo menos contratos com as autarquias da Guarda, Viana do Castelo e Leiria no âmbito das suas comemorações, tendo como contrapartida implícita e explícita a exposição mediática do presidente da câmara que concedeu apoio financeiro.

    No caso de Leiria, o contrato foi assinado em Fevereiro deste ano, no total de 14.950 euros, e refere-se a uma prestação de serviços com vista à publicação do município na edição dos 50 anos do Jornal Expresso”. O evento ocorreu porém apenas no passado dia 1 de Junho, sendo a jornalista Marina Almeida a “prestadora de serviços”, que cobriu a inauguração da exposição com direito a três fotografias do director do Expresso sempre ao lado do presidente da edilidade, o socialista Gonçalo Lopes.

    Em Março, para ter também a presença de Francisco Pinto Balsemão e João Vieira Pereira, o município da Guarda desembolsou 18.500 euros para que o seu presidente, Sérgio Costa (sem filiação partidária), tivesse uma conferência e uma notícia no Expresso sobre o evento com direito a foto ao lado do seu fundador. O contrato não foi redigido a escrito.

    Luís Nobre (à esquerda), presidente da autarquia de Viana do Castelo, pagou 19.800 euros por uma publirreportagem no Expresso, feita por uma jornalista, como contrapartida da exposição comemorativa dos 50 anos do jornal dirigido por João Vieira Pereira (à direita)

    Por fim, em Junho, também João Vieira Pereira esteve em Viana do Castelo a cortar fitas e a andar de tuk-tuk ao lado do presidente daquela edilidade nortenha, o socialista Luís Nobre, para inaugurar mais uma exposição sobre os 50 anos do Expresso. Houve direito a notícia no Expresso e ao correspondente “cheque” recebido da autarquia no valor de 19.800 euros.

    Neste caso não houve evento; apenas um contrato puro e duro de “prestação de serviços relativa à aquisição de um package promocional em Viana do Castelo”, cujo caderno de encargos estipulava que se deveria concretizar através de uma publirreportagem em página ímpar do caderno principal do Expresso e também no site. Quem fez a prestação de serviços sob a forma de publirreportagem foi a jornalista Marina Almeida, em claríssima e inequívoca violação do Estatuto do Jornalista.  

    Saliente-se que mais contratos podem ter sido assinados, uma vez que, por vezes, decorrem vários meses até as entidades públicas os divulgarem no Portal Base, apesar da lei determinar que, por norma, sejam publicitados no prazo de 20 dias.