Autor: Pedro Almeida Vieira

  • O (bom) regresso do escriba-mor

    O (bom) regresso do escriba-mor

    Título

    À descoberta das Ilhas Selvagens

    Autor

    JOSÉ PEDRO CASTANHEIRA

    Editora

    Tinta da China (Junho de 2024)

    Cotação

    17/20

    Recensão

    A crónica (e a literatura) de viagem constitui um género literário que explora a narrativa de experiências reais, frequentemente sob uma perspectiva pessoal e intimista, em diálogo permanente com o (futuro) leitor. Entre as diversas formas de literatura de viagem, o diário de bordo, ou ‘logbook’, destaca-se por ser um registo minucioso de uma lenta jornada marítima, mas onde se tenta sobretudo captar, na aparente monotonia da viagem, os detalhes mais ‘épicos’.

    Daí que, excepto se envolver uma pescaria (onde a ficção sobre o número e o tamanho dos peixes capturados é permitida), quem se abalança para a escrita de um diário de bordo tem de ser um observador minucioso, atento às nuances do mar, do céu, dos sons e das emoções, o que desafia o autor a buscar detalhes estimulantes tanto na oceanografia física como na meteorologia, nas variações acidentais dos humores e amores da tripulação, e tudo isto temperado, com bastante sal, em reflexões interiores, criando-se assim uma narrativa que quebre uma aparente inacção, sobretudo se em causa não estiver uma guerra, claro.

    Não sendo já possível, em pleno século XXI, ‘desbravar’ agora os mistérios dos mares – como fizeram Cristóvão Colombo, James Cook ou mesmo Richard Henry Dana –, não deixa, contudo, de haver espaço para os ‘logbooks’ mais descontraídos, que já não relatam o desconhecido e o perigoso, mas sim as peripécias divertidas de quem olha para uma viagem marítima com deleite. E é também por deleite, mais que por conhecimento, os leitores devem saber ao que vão…

    Sendo, assim, um relato (também) documental em ‘conversa’ com o leitor, o diário de bordo, pela sua estrutura, permite que se acompanhe, ‘em tempo real’, as sensações e as reflexões do viajante, daí que convenha muito que o cronista seja ‘dextro’ para que o relato não seja um ‘sinistro’.

    Ora, um diário de bordo escrito por José Pedro Castanheira, um dos mais cotados jornalistas da sua geração, agora já ‘reform(ul)ado – mas ainda com carteira profissional devidamente actualizada (CP 204) –, será, desde logo, uma garantia de qualidade literária, tanto mais que não estamos perante um ‘novato’ neste registo: em Agosto de 2022 já ele publicara ‘Volta aos Açores em quinze dias’, sobre o qual se escreveu aqui, com os mesmo companheiros de (der)rota. Este livro recebeu, aliás, o Grande Prémio de Literatura de Viagens Maria Ondina Braga, atribuído pela Associação Portuguesa de Escritores no ano passado.

    Recebeu-o, é certo, e atrevo-me a dizer que imerecidamente, por uma simples razão: este ‘À descoberta das Ilhas Selvagens’ é francamente superior – e, assim sendo, ficará prejudicada a probabilidade de concederem a José Pedro Castanheira um novo prémio quase em ano consecutivo.

    Seja como for, deve dizer-se que neste seu segundo diário de bordo, o escriba-mor (como é apresentado) José Pedro Castanheiro está muito melhor, mais solto, mais irónico, mais contemplativo e reflexivo, mais informativo, mais compreensivo com os azares e sortes nos fluídos terrenos dos mares, que descreve com minúcia e perícia.

    Melhor, muito melhor do que o ‘Volta aos Açores em quinze dias’, onde as maravilhas da travessia pelo arquipélago perdido no meio do Atlântico acabaram substituídas pelo omnipresente temor à pandemia, de sorte que se tornou mais um ‘diário de bordo covídico’, passado, acho, mais em terra do que no mar, porquanto uma parte subastancial desse desse livro acabou escrito em confinamento no quarto de um hotel.

    Passada essa tormenta e alcançada Trapobana, temos, portanto, um excelente regresso de José Pedro Castanheiro ao seu melhor, ao melhor do jornalismo ao serviço da arte da literatura de viagem. 

  • Maniqueísmos, ou o Médio Oriente sob viés

    Maniqueísmos, ou o Médio Oriente sob viés

    Título

    O dia que mudou Israel

    Autora

    HELENA FERRO DE GOUVEIA

    Editora

    Oficina do Livro (Setembro de 2024)

    Cotação

    6/20

    Recensão

    Este livro deve começar a ser lido a partir das duas últimas páginas de texto, excluindo as derradeiras, onde consta uma bibliografia de ‘trazer por casa’, sob a forma de fontes (listagem de órgãos de comunicação social) e de ‘Estudos’, com uma dezena de referências bibliográficas de obras, todas, sem excepção, publicadas entre 2020 e 2023.

    Bom, em abono da verdade, perante essa imagem de pedantismo – elencar fontes que, pela exiguidade, mostram afinal uma parca investigação por parte do(a) autor(a) –, talvez bastassem essas duas páginas de bibliografia para nos decidirmos a ler (ou não) este ‘O dia que mudou Israel’, de Helena Ferro de Gouveia.

    Mas peguemos no texto das tais últimas duas páginas desta obra, que tem a grande vantagem de ser curta. Helena Ferro de Gouveia termina escrevendo: “Israel não é culpado de tentar obstinadamente sobreviver”. E isto depois de, em parágrafos anteriores, já ter manifestado que “a indignidade humana alcançou os israelitas ali, na sua fronteira, sem fuga possível” e que o conflito do Médio Oriente “também é a dor dos palestinianos”, mas para logo a seguir, de uma forma simplista, e ao melhor estilo do ‘Omo lava mais branco’, acrescentar, em português algo macarrónico: “As crianças inocentes de Gaza, também elas vítimas do Hamas.”

    Livros como este, o de Helena Ferro de Gouveia, ‘nascem’ não para informar ou esclarecer, ou ainda para reflectir, mas sim para emocionar, expondo o sofrimento de uma das partes no conflito do Médio Oriente, e assim justificar acções ou reacções. É a tradicional obra de propaganda de um dos lados com uma visão maniqueísta, algo problemático para quem se orgulha dos anos de jornalista e de uma suposta mundividência por já se ter trabalhado “em mais de cinquenta países em quatro continentes”. Esta visão, em que se retrata um lado como vítima absoluta e o outro como opressor incontornável, é pouco compatível com a complexidade histórica e política do conflito israelita-palestiniano, um dos mais longos e intrincados do Mundo contemporâneo, mas sobre o qual a autora passa intencionalmente ao lado.

    Mostra-se inegável que o ataque do Hamas em 7 de Outubro do ano passado foi de uma brutalidade atroz, e os relatos de Helena Ferro de Gouveia captam essa crueldade através de uma linguagem carregada de adjetivos fortes, descrevendo a dor dos sobreviventes e a desolação dos familiares das vítimas. Esses detalhes crus e directos até poderiam ser relevantes como testemunho, mas não aparenta ser essa a intenção. Helena Ferro de Gouveia usa as páginas do livro para, expondo a dor, justificar uma retaliação insana. O princípio judaico de “olho por olho”, que muitos já consideram desumano, tem estado rapidamente a ser ultrapassado por uma espiral de vingança, onde a resposta israelita se traduziu numa carnificina contínua, atingindo alvos civis, e ampliando ainda mais o ciclo de violência.

    Não se pode ignorar o sofrimento do povo israelita, especialmente daqueles que foram alvo de ataques terroristas, assim como é impossível olhar para a realidade dos palestinianos sem reconhecer as suas décadas de marginalização, perda de território e direitos básicos. Quando se descreve apenas uma parte da equação, seja ela qual for, perde-se a capacidade de promover uma verdadeira reflexão sobre a coabitação desejável entre povos, culturas e religiões em tempos que não se querem obscuros. E é exactamente aqui que o discurso de Helena Ferro de Gouveia se torna limitado. A sua liberdade para expor a dor israelita, com uma clareza indiscutível, mostra-se necessária, mas, sem a contrapartida de uma análise profunda das razões que alimentam o ódio do outro lado, o resultado acaba por ser um texto enviesado.

    No seu prisma sectário, ‘O dia que mudou Israle’ apenas cumpre, lamentavelmente, uma única função: alimenta as narrativas de uma das facções, ‘massajando’ os seus argumentos e fornecendo combustível para se ver como vítima absoluta ou herói inquestionável. E isso nunca foi bom para a paz. Nem este livro é bom sequer para ser lido, excepto para quem apreciar a visão de Helena Ferro de Gouveia. Para esses sim, recomenda-se a leitura, assumindo-se que, para esses, à classificação atribuída nesta recensão até se deverá acrescentar um 1 na posição das dezenas.  

  • Gouveia e Melo, um almirante das casernas com um pensamento das cavernas

    Gouveia e Melo, um almirante das casernas com um pensamento das cavernas


    Cerca de três anos após sair da coordenação da task force do processo de vacinação contra a covid-19, depois de integrar, durante alguns meses, uma equipa chefiada por um político pouco talhado para a função e uma escassez inicial de doses, Gouveia e Melo continua a ser um putativo candidato a Belém, transportado num andor sobretudo pela imprensa.

    Ajudou, claro, a sua nomeação para o cargo de Chefe do Estado-Maior da Armada, e também muito uma espécie de salvo-conduto que lhe permite não sair beliscado em contratações públicas esquisitas – sendo mesmo ‘abençoado pelo Tribunal de Contas – ou em poder botar faladura até em assuntos políticos, violando leis e decência, como se verificou na recente entrevista à RTP, onde surgiu fardado a preceito. Aliás, e não por acaso, com a imaculada brancura da farda da Marinha, e não com o ‘braçal’ camuflado dos tempos da task force.

    Para quem conhece o funcionamento da comunicação social – recordemos as palavras de Emídio Rangel, em 1997, que defendia a capacidade da SIC em vender tanto sabonetes como presidentes da República -, talvez não seja surpreendente que Gouveia e Melo se mantenha em boa posição para ocupar a cadeira de Belém, porque se continua numa lengalenga de endeusamento da sua persona.

    Em abono da verdade, Gouveia e Melo destacou-se com um bom operacional de logística, mas de menor valia do que um director dos frescos da cadeia do Pingo (porque ele tinha um só produto a escoar, já “vendido”, enquanto o homem da Jerónimo Martins tem muitos fornecedores, muitos produtos perecíveis a distribuir por muitas lojas, e sem garantias de vendas). Mas o mérito de Gouveia e Melo foi saber surfar logo a onda do populismo, quando, por exemplo, desbloqueou, sem ter competências para tal, e contra uma norma da DGS, a vacinação dos médicos não-prioritários, e nada fez quando o então bastonário da Ordem dos Médicos, o actual deputado social-democrata Miguel Guimarães, lhe comunicou que um político tinha sido vacinado sem estar na lista por “necessidade e oportunidade“. Uma imoralidade e sobretudo uma ilegalidade a que Gouveia e Melo jamais poderia fechar os olhos. Mas fechou por lhe ter sido conveniente: foi recebendo elogios e ‘prebendas’ públicas.

    O PÁGINA UM revelou muitas destas situações, depois de uma luta que envolveu o Tribunal Administrativo de Lisboa, mas o mais que se conseguiu foi o silêncio de uma imprensa cúmplice (e criadora de um herói) e um processo judicial do agora almirante por difamação.

    Gouveia e Melo, um militar submarinista de quem jamais se saberia da sua existência física por nada se conhecer de relevante e edificante em termos da sua existência mental, teve, em todo o caso, o mérito de ser, além de bom operador de logística de um só produto, um especialista em marketing – ou, pelo menos, com bons ‘assessores’, alguns dos quais se encontram na imprensa, no activo, e/ ou em agências de comunicação.

    Num país decente, com democracia amadurecida, um militar com funções civis jamais se deveria apresentar como um militar nem sequer ambicionar cargos políticos. Não por uma questão de legalidade, mas de decência. É de um servilismo ofensivo achar-se, como Gouveia e Melo acha, que um país só se endireita perante uma farda – é exactamente o contrário: a ‘desmilitarização’ das sociedades constitui um sinal de evolução civilizacional, de elevada democraticidade e de estabilidade social. Um militar decente deve perceber isso quando entra na carreira militar e, sobretudo, quando vai subindo até chegar à reforma em lugares de topo da hierarquia.

    Mas Gouveia e Melo não mostra decência porque até usou intencionalmente uma farda militar para se aformar numa tarefa civil, mas não uma farda qualquer. Quando esteve na task force, usou um camuflado, que nem é propriamente a indumentária que se associa à Marinha. Quando esteve na televisão, na entrevista à RTP, usou indumentária branca com todas as insígnias e mais algumas.

    A postura messiânica de Gouveia e Melo, auto-alimentada – e que teve o seu ‘momento Mário Soares‘ em Odivelas, numa versão soft, no decurso de uma estúpida e contraproducente manifestação contra a vacinação das crianças (não pelo sentido, mas porque assim o transformaram num mártir) – mostra-se bem patente numa entrevista em Junho de 2021 ao jornal Sol. É aqui que o agora putativo candidato a Belém melhor se dá a conhecer, e também onde consegue revelar o pior que tem, que é muito para o pouco que dá.

    Disse ele que aceitou as funções de coordenador “porque o país precisava e eu tenho ‘skills’ que podiam ser úteis”, relembrando que considerava ser “serôdio” o letreiro nos submarinos que dizia: “A Pátria honrai que a Pátria vos contempla”. E é mais do que serôdio nos tempos que correm, é patético; mas Gouveia e Melo dizia na entrevista que evoluíra, e que como era militar, se fosse “necessário defender o meu país, não posso falhar”. Os ‘civis’ devem pensar o contrário, quando têm defronte de si tarefas civis, certo?

    Aliás, no que toca à pandemia, somente um país obtuso poderia achar que questões de Epidemiologia e gestão de uma crise sanitária estava ao nível de uma guerra. Numa época em que se exigia racionalidade e Ciência sem peritos comprometidos, tivemos um vice-almirante a ditar bitates.

    Veja-se este trecho sempre na primeira pessoa, como se fosse um John Ioannidis saído de um submarino: “Estou a fazer gráficos em que vejo a taxa de vacinação por concelho e a incidência por concelho. E olhando para os dados das últimas três semanas, a média acumulada em 14 dias por cem mil habitantes e a média acumulada da semana passada estão exatamente com o mesmo comportamento relativamente à percentagem de vacinação. Ou seja, a variante propaga-se mais mas é igualmente contida pela vacinação. Pelo menos, por enquanto não estou a notar isso. O que noto, à data de hoje e com os dados que tenho, é que em termos de mortalidade as vacinas continuam a proteger a população. O que acontece é que há pessoas que estão a apanhar porque só têm uma dose e uma dose protege pouco, sobretudo com a dose da AstraZeneca, e é isso que eu estou a acelerar agora a processo. E quando digo que protege pouco, é relativo. Protege muito, deixa é escapar alguns. Se tiverem as duas doses não deixa escapar nenhum.”

    Ou este trecho, ainda: “Tenho concelhos com 70 por cento de vacinação já feita, concelhos muito pequeninos, e olhando para eles a incidência está a baixar imenso, está abaixo de 60. Quando olho para os 308 concelhos e vejo uns com maior incidência, vou  ver os dados e têm pouca vacinação. A maior incidência é nos concelhos mais populosos porque não há vacinas para avançar com o ritmo como desejávamos. De qualquer forma, estamos a 50 por cento de segundas doses. Metade da população portuguesa já recebeu uma dose. E 30 por cento, duas doses. Agora eu gostaria de poder acelerar mais. Aliás eu gostaria de ter podido acelerar mais atrás. Porque como foram adiando a entrega das vacinas, e isto foi constante, fez-me perder tempo para trás. Se me tivessem dado aquelas vacinas na altura que me estavam prometidas eu já estaria em 60 ou 65 por cento de vacinação”.

    Visto à distância, um militar submarinista sem formação neste sector falar desta forma mostra-se tristemente anedótico; e somente comparável à patetice de termos tido uma directora-geral da Saúde, Graça Freitas, que parvamente se orgulhava de não saber trabalhar com computadores, e daí com conhecimentos zero em Epidemiologia e sem arcaboiço sequer para se assumir como Autoridade Nacional de Saúde durante uma crise sanitária de três anos.

    Mas nessa entrevista, Gouveia e Melo lança mais pérolas sobre o seu pensamento, assumindo que olhava para a tarefa como se fosse “um submarino”, o que não deixa de ser uma excelente mas triste imagem da realidade, porquanto, de facto, ficámos reféns daquilo que foi dissertando, imiscuindo-se em temas que não controlava nem deveria controlar, promovendo a perseguição de quem optava por não se vacinar, não cuidando da prudência quando a AstraZeneca começou a dar problemas e até incentivando pais a vacinar filhos e a Direcção-Geral da Saúde a dar autorizações, pois o que ele queria era vacinar, vacinar, vacinar. O seu objectivo eram números.

    Mas há afirmações e ‘teses’ ainda mais graves na entrevista ao Sol, e que revelam a sua faceta verdadeira, incompatível com um Chefe de Estado, mesmo se as funções presidenciais são já quase simbólicas. Com efeito, Gouveia e Melo chega a dar uma explicação verdadeiramente marialva e até misógina sobre o seu alegado sucesso na task force: “Por exemplo: eu sou alto, visto uniforme, tenho voz de comando e sou assertivo. Só essas quatro coisas ajudam logo o processo. Depois, tenho ideias, desenvolvo-as e sou obsessivo. Faço o que tiver de fazer e sou impiedoso com os malandros. Sou super piedoso para as pessoas que fazem bem, erram, mas deram tudo.” Presume-se assim que um homem baixo e sem uniforme, não terá hipóteses de ser líder, mesmo que tenha voz de trovão e discurso assertórico. Quanto às mulheres, enfim, presume-se que não entrem no ‘clube’ de Gouveia e Melo, homem cheio de “ideias”, mesmo que não saibamos quais são, excepto quanto à peregrina ideia de reinstalar o Serviço Militar Obrigatório para enfrentar a ameaça russa e o desemprego.

    A entrevista de Gouveia e Melo ao jornal Sol em Junho de 2021 é antológica sobre quem é e o que pensa o putativo candidato a Belém.

    Porém, a ‘melhor’ parte da entrevista ao Sol para percebermos a sua mentalidade é quando Gouveia e Melo fala no “snobismo” dos ingleses, nos franceses “chauvinistas” e mostra a pouca simpatia que nutre aos alemães porque tem “família judaica”. Pergunto ao ChatGPT como classifica alguém com este discurso. Respondeu-me prontamente a ‘inteligência artificial’:

    A pessoa que fez essa declaração pode ser classificada como alguém com uma visão estereotipada e preconceituosa em relação a diferentes nacionalidades. A fala demonstra generalizações negativas e julgamentos sobre grupos inteiros com base em nacionalidade, associando características como ‘snobismo’, ‘chauvinismo’ e uma atitude punitiva contra alemães por causa de uma conexão pessoal com o passado histórico do povo judeu.

    Esse tipo de discurso reflete xenofobia, que é a aversão ou preconceito contra pessoas de outras nacionalidades, e pode também revelar traços de etnocentrismo, que é a tendência de julgar outras culturas ou nações com base em padrões e valores próprios, colocando-os como inferiores. Além disso, a menção de vingança contra alemães pela história familiar judaica pode estar relacionada ao trauma histórico, mas o uso dessa justifica[ção] para generalizar uma atitude hostil a um povo também perpetua ciclos de ódio.

    Em resumo, a fala revela um preconceito nacionalista e uma dificuldade de ver as pessoas como indivíduos, em vez de como representantes de estereótipos nacionais”.

    Não querendo dizer mais, concluo que se o putativo candidato Gouveia e Melo, metido na liderança das sondagens (que sabe Deus como são feitas), surfando o populismo montado numa ‘imprensa favorável’, vier a suceder a Marcelo Rebelo de Sousa, garantido está que teremos um ‘presidente das casernas’ com um pensamento das cavernas.


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  • Em 17 municípios mais de um em cada 10 residentes veio do estrangeiro nos últimos seis anos

    Em 17 municípios mais de um em cada 10 residentes veio do estrangeiro nos últimos seis anos

    O fluxo migratório recente em Portugal tem sido quase generalizado, com apenas 11 concelhos com mais emigração do que imigração entre 2018 e 2023, de acordo com uma análise detalhada do PÁGINA UM aos dados oficiais do Instituto Nacional de Estatística (INE). E há outros aspectos sociológicos bastante relevantes: apesar de as grandes cidades receberam mais imigrantes, a dinâmica migratória é muitíssimo mais intensa em determinados concelhos rurais, particularmente nas áreas agrícolas dos distritos de Lisboa, Santarém e Leiria, para além do muito ‘badalado’ município de Odemira. Num contexto em que a imigração passou a ser uma ‘luta ideológica’ sobre segurança, na verdade há um debate que continua adiado: como integrar imigrantes em áreas rurais com evidente escassez de serviços públicos e de habitação devido aos desinvestimentos nas últimas décadas?


    O forte fluxo migratório dos últimos anos, proveniente sobretudo da imigração, está a causar uma mudança sociocultural muito mais profunda nos concelhos rurais do que nos municípios urbanos, mesmo os das áreas metropolitanas. Esse fenómeno está sobretudo concentrado em determinadas zonas associadas à agricultura dos distritos de Lisboa, Santarém e Leiria, embora, fora destas regiões, Odemira e Vila Velha do Ródão se destaquem.

    Embora os dados absolutos do Instituto Nacional de Estatística (INE) sobre saldo migratório entre 2018 e 2023, analisados pelo PÁGINA UM, indiquem que, grosso modo, os imigrantes se estejam a concentrar, em termos absolutos, nas principais cidades portuguesas, certo é que a sua distribuição tem sido generalizada a todo o país. E daí, em muitos municípios rurais, com a agricultura ainda com peso significativo, a presença de imigrantes acaba por se mostrar bastante mais relevante.

    Apesar de os dados anuais disponibilizados pelo INE não indicarem o número de imigrantes que entram por ano em cada concelho nem o número daqueles que saem (emigração) – mas apenas o saldo migratório, ou seja, a diferença entre imigração e emigração –, o somatório desses saldos num determinado período temporal em função da população constitui um indicador bastante razoável (embora até por defeito) sobre como a dinâmica migratória afecta a evolução demográfica e social local. Convém referir que este saldo migratório do INE não reflecte as migrações internas, isto é, as mudanças interanuais entre concelhos. Em todo o caso, este somatório do saldo migratório representa um indicador expedito da atractividade das diversas regiões.

    Farm Workers Setting up a Tunnel at a Farm

    E, de facto, se é certo que, desde 2018, foram os municípios urbanos que contabilizaram números mais elevados de dinâmica migratória (favorável às entradas), mostra-se surpreendente que haja municípios rurais onde os fluxos relativos são bastante superiores. Aliás, um aspecto ainda mais surpreendente se salienta na análise aos dados do INE: mesmo com o saldo natural bastante negativo em grande parte do país, o saldo migratório é positivo na generalidade do território nacional, com poucas excepções. Com efeito, no somatório dos fluxos migratórios entre 2018 e 2023, apenas 11 concelhos, entre 308, apresentaram mais saída do que entradas, a saber: Castelo de Paiva (-2 pessoas), Vila Franca do Campo (-24), Arouca (-52), Barrancos (-53), Portalegre (-76), Cinfães (-91), Resende (-101), Peso da Régua (-118), Baião (-216) e Felgueiras (-770).

    Estes casos isolados revelam, assim, uma nova faceta demográfica de Portugal, com um país a crescer em número de pessoas, mas com saldos naturais negativos. Exemplo disso sucede em Lisboa, que apesar de ter mais mortes do que nascimentos, registou um saldo migratório acumulado, entre 2018 e 2023, de 15.606 pessoas, sendo apenas ultrapassado pelo Porto, que teve um aumento de 18.398 indivíduos neste período. Os restantes oito concelhos do top 10 dos saldos migratórios acumulados são todos urbanos, do eixo Porto-Braga e da Área Metropolitana de Lisboa, a saber: Vila Nova de Gaia (+10.386 indivíduos), Braga (+10.011), Seixal (+9.450), Sintra (+8.404), Maia (+8.106), Cascais (+7.979), Torres Vedras (+7.894) e Matosinhos (+7.589). Esta dezena de municípios representa quase um quarto (23,3%) do total do fluxo migratório em todo o país entre 2018 e 2023, que totalizou pouco mais de 445 mil pessoas.

    Mas se os municípios das grandes cidades aparentam mostrar um maior grau de atracção, por apresentarem maiores saldos absolutos, o impacte sociodemográfico destas dinâmicas migratórias depende muito da dimensão dos concelhos e da sua atractividade em termos de emprego. Assim, se se considerar a população estimada para o ano de 2023 pelo INE – 10.639.726 habitantes – e um fluxo migratório acumulado (2018-2023) positivo de 445.449 pessoas, pode considerar-se que aproximadamente 4,2% da actual população m Portugal vivia no estrangeiro nos últimos seis anos.

    Municípios com maior saldo migratório acumulado absoluto entre 2018 e 2023. Fonte: INE. Análise: PÁGINA UM.

    Saliente-se, porém, que este valor será uma aproximação à realidade, uma vez que se um imigrante, que se instalou inicialmente num determinado concelho, se deslocar para outro concelho português em ano posterior, não será novamente detectado nesta ‘contabilidade’ do INE, uma vez que passa a ser um mero ‘migrante interno’ como pode suceder a qualquer cidadão nado e sempre criado em Portugal. Se morrer, o efeito demográfico, porque ‘contribui’ para a redução populacional, mantendo-se a ‘contribuir’ para o fluxo migratório do período em análise.

    Por outro lado, tem de se considerar que o saldo migratório em cada município é o valor líquido da imigração deduzida a emigração (saída para o estrangeiro), pelo que o número de imigrantes (e concomitantemente da percentagem na população total) pode até pecar por defeito. Em todo o caso, o peso do fluxo migratório em função da população residente no ano mais recente constituirá um bom indicador das transformações demográficas e sociais em curso nas diferentes regiões do país.

    Considerando isto, os concelhos de maior dimensão – e com maior fluxo migratório absoluto – estão longe, ao contrário da percepção mediática, de ser aqueles com maior introdução relativa de imigrantes na população local. Com efeito, do top 10 em termos dos municípios com maior fluxo migratório absoluto no último sexénio, Torres Vedras – que tem ainda fortes características rurais e uma actividade agrícola relevante (uma das principais fontes de emprego dos imigrantes) – ocupa apenas a 28ª posição na lista global em termos de percentagem do fluxo migratório em função da população. Com uma população residente de cerca de 88 mil habitantes, o saldo migratório entre 2018 e 2023 foi de 7.894 pessoas, resultando assim em 9% do total.

    O segundo concelho deste leque com maior percentagem é o Porto: 7,4%, colocando-se na 60ª posição a nível nacional. Dos restantes concelhos do topo 10 em termos de saldo migratório, a ‘diluição’ da imigração é ainda maior, ou seja, o seu peso demográfico sente-se menos. Acima da média nacional (4,2%) estão Maia (5,7%), Seixal (5,5%), Braga (5,0%). Matosinhos, por sua vez, coincide com a média, enquanto abaixo encontram-se Vila Nova de Gaia (3,3%), Lisboa (2,8%) e Sintra (2.1%). Ou seja, os dois maiores concelhos de país (Lisboa e Sintra) não evidenciam uma grande alteração sociodemográfica proveniente da imigração dos últimos seis anos.

    De facto, com algumas excepções, têm sido as regiões mais rurais a assistir a uma maior chegada relativa de imigrantes, causando uma inversão nos fluxos demográficos. Durante largas décadas, os municípios e regiões tradicionalmente mais ligados ao sector primário foram registando perdas populacionais tanto por vida do saldo migratório como do saldo natural. Mas tal inverteu-se. A região com maior dinâmica migratória no período 20178-2023 foi o Oeste: teve um saldo migratório positivo de 37.041 pessoas numa população estimada no ano passado de 399.396 habitantes, o que representa 9,5% do total, ou seja, mais do dobro do valor registado a nível nacional. O Alentejo Litoral também contabilizou um fortíssimo dinamismo para tão curto período: saldo migratório positivo de 8.428 pessoas numa população em 2023 da ordem dos 101 mil habitantes, ou seja, 8,3% do total. Um pouco mais atrás surge a região da Lezíria do Tejo com 7,8%.

    As regiões mais urbanas, onde se inserem Lisboa e Porto, apresentam valores substancialmente mais baixos. A Área Metropolitana de Lisboa, apesar de ter registado um saldo migratório acumulado no período 2018-2023 de quase 99 mil pessoas, esse número pesa apenas 3,3% no total da sua população no ano passado (cerca de 2,96 milhões de habitantes). No caso da Área Metropolitana do Porto, esse peso é um pouco maior (4,5%), resultante de um saldo migratório acumulado de 80.858 pessoas numa comunidade de cerca de 1,8 milhões de pessoas.

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    No extremo oposto, as duas regiões no Continente com menor fluxo de imigrantes são ambas do Norte: Tâmega e Sousa e ainda Ave, cujo peso do saldo migratório acumulado na população estimada em 2023 foi de apenas de 0,6% e 1,8%. Os Açores também se mostram ainda pouco atractivos: no conjunto, o arquipélago registou um saldo migratório acumulado de 4.448 pessoas numa população de pouco mais de 241 mil habitantes.

    Porém, é numa análise municipal que se revelam as diferentes dinâmicas, muito dependentes dos distintos factores de atractividade ligadas, obviamente, ao emprego mais associado à população imigrante. Assim, até por ser uma das zonas mais ‘badaladas’, o concelho com maior fluxo migratório relativo no último sexénio (2018-2023) é Odemira. Para uma população de 33.124, estimada para o ano passado neste concelho alentejano, houve um saldo migratório positivo de 5.487 indivíduos. O cruzamento destes dois indicadores demográficos aponta assim para que 16,6% da população agora residente em Odemira terá chegado a partir do estrangeiro nos últimos seis anos.

    O segundo concelho com maior percentagem no fluxo migratório em função da população é outro concelho rural: Vila Velha de Ródão. Apesar do fluxo ser da ordem do meio milhar de pessoas em seis anos (556 indivíduos), a sua população cifrou-se apenas em 3.515 habitantes, pelo que o peso do indicador do saldo migratório na população é de 15,8%. Se se descontar o Corvo (a pequena ilha açoriana teve um saldo migratório positivo de 64 pessoas numa população de 435 habitantes), praticamente todos os municípios que registam um fluxo migratório acumulado com um peso superior a 10% da população são da região mais agrícola dos distritos de Lisboa, Leiria e Santarém, a saber: Óbidos (14,6%), Sobral de Monte Agraço (14,4%), Bombarral (13,7%), Vila de Rei (13,3%), Vila Nova da Barquinha (13,1%), Cadaval (12,8%), Salvaterra de Magos (11,8%), Pedrógão Grande (11,7%), Arruda dos Vinhos (11,6%), Lourinhã (11,3%), Alenquer (10,8%), Benavente (10,7%) e Entroncamento (10,1%). A única excepção neste lote é o município algarvio de Aljezur (10,7%), na ‘área de influência’ das explorações agrícolas da região de Odemira.

    Municípios com maior peso do saldo migratório acumulado entre 2018 e 2023 em função da população residente em 2023. Fonte: INE. Análise: PÁGINA UM.

    Nos concelhos com maior população, e mais urbana, esta dinâmica não se faz sentir tanto; muito pelo contrário. O primeiro município com mais de 100 mil habitantes – num total de 25 – que apresenta um maior peso do saldo migratório acumulado nos últimos seis anos face à sua população é o Porto, com 7,4%. E apenas mais cinco municípios desta dimensão apresentam valores acima da média nacional: Valongo (6,3%), Maia (5,7%), Seixal (5,5%), Leiria (5,1%) e Braga (5,0%).

    Este é, aliás, um sinal evidente de um fenómeno social inédito em Portugal: uma forte imigração nos anos mais recentes está a compensar o êxodo rural que marcou as últimas décadas, estando as regiões menos urbanizadas com maior poder relativo de atracção. Mas, do outro lado da moeda, estão os desafios de integração dos imigrantes em comunidades mais conservadoras e em regiões que, nas últimas décadas, foram sendo afectadas por desinvestimentos (e abandonos) no sector dos serviços públicos e mesmo na habitação.


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  • Nova SBE: Fundação Alfredo de Sousa ‘falsifica’ data de aprovação de relatório para não perder estatuto de utilidade pública

    Nova SBE: Fundação Alfredo de Sousa ‘falsifica’ data de aprovação de relatório para não perder estatuto de utilidade pública

    A lei determina que perdem o estatuto de utilidade pública as entidades beneficiárias que incumpram os prazos de envio dos relatórios e contas para a Presidência do Conselho de Ministros em dois anos consecutivos. Seria o caso da Fundação Alfredo de Sousa, dona dos edifícios do campus de Carcavelos da Nova SBE, que foi presidida por Miguel Pinto Luz até Março passado. Numa tentativa de ‘iludir’, a fundação fez aprovar os dois relatórios e contas no último mês, depois das revelações do PÁGINA UM, fazendo crer que os documentos foram aprovados em Abril. Só que o ‘gato’ ficou com o ‘rabo de fora’: a certificação legal das contas e o parecer do fiscal único, da responsabilidade de uma sociedade de revisores, é de 6 de Setembro, confirmando assim uma “violação reiterada”da Lei-Quadro do Estatuto de Utilidade Pública. Apesar da evidente ilegalidade, o secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros, Paulo Lopes Marcelo, continua sem dizer se vai revogar o estatuto de utilidade pública de uma entidade que foi presidida até Março pelo actual ministro das Infra-estruturas.


    A Fundação Alfredo de Sousa – uma entidade com fundos públicos e privados, que gere o campus de Carcavelos da Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa (Nova SBE) – terá artificiosamente antecipado a data formal de aprovação dos relatórios e contas de 2022 e de 2023 numa vã tentativa de manter o estatuto de utilidade pública. Esta entidade – que foi presidida até Março de 2024 pelo actual ministro da Infraestruturas, Miguel Pinto Luz – está em forte risco, se o Governo aplicar os normativos legais, de perder o estatuto de utilidade pública por “violação reiterada” da Lei-Quadro, uma vez que não enviou atempadamente, em dois anos consecutivos, informação relevantes sobre a sua gestão financeira.

    Recorde-se que, conforme revelou o PÁGINA UM em Agosto passado, a fundação baptizada em homenagem ao primeiro reitor da UNL tem acumulado prejuízos crónicos, que, na hora da sua entrada no Governo de Pinto Luz, se aproximavam já dos 9 milhões de euros. Acrescia a isso o atraso na aprovação das contas de 2022, que nunca ocorreu em 2023, ainda com Pinto Luz como presidente, algo que se veio a repetir com as contas do exercício do ano seguinte, que somente no passado mês terão visto a ‘luz do dia’, já depois das primeiras notícias do PÁGINA UM sobre a Fundação Alfredo de Sousa.

    Nos documentos recentemente colocados no site desta entidade, constam agora, como data da assinatura dos dois relatórios e contas – atestados com a assinatura de todos os administradores – os dias 22 e 29 de Abril deste ano, mas essas não podem ter sido, legalmente, as datas da aprovação. Por duas razões. Por um lado, há cerca de dois meses, os serviços da Nova SBE tinham enviado ao PÁGINA UM os relatórios e contas provisórios de 2022 e de 2023, uma vez que continham apenas cinco das oito assinaturas dos administradores e não integravam ainda qualquer a certificação legal de contas (CLC), também exigida às fundações de maior dimensão.

    Por outro, a CLC às demonstrações financeiras de 2022 e de 2023, bem como os dois pareceres do fiscal único, que agora já surgem no site (e que podem ser consultados aqui e aqui), têm a data de 6 de Setembro de 2024, sendo da responsabilidade da sociedade de revisores Macedo, Caldas & Bento.

    Ou seja, a Fundação Alfredo de Sousa só teve assim condições para considerar as contas aprovadas a partir dessa data. E também só depois dessa data poderia enviar os relatórios e contas para a Secretaria-Geral da Presidência do Conselho de Ministros (SGPCM), mas já em clara violação dos prazos legais, suceptível de lhe ser revogado o estatuto de utilidade pública..

    Miguel Pinto Luz foi administrador da Fundação Alfredo de Sousa entre 2017 e início deste ano, tendo ocupado a presidência desde 2021.

    Com efeito, de acordo com a Lei-Quadro, para ser mantido o estatuto de utilidade pública – que, além de constituir um factor de marketing relevante, concede diversos benefícios fiscais e tarifários, bem como um regime especial ao abrigo do Código das Expropriações –, as entidades que o recebem têm de comunicar à SGPCM o relatório e contas anual e o relatório de actividades, bem como publicitar a lista dos titulares dos órgãos sociais em funções, com indicação do início e do termo dos respectivos mandatos. O prazo para comunicação obrigatória dos relatórios é de “seis meses a contar da data do encerramento desse exercício”, devendo estes também estar disponíveis ao público em geral.

    Ora, como a administração desta fundação só teve contas de 2022 e de 2023 formalmente aprovadas agora em Setembro de 2024, a aplicação da lei determina, sem apelo nem agravo, a perda do estatuto de utilidade pública. A Lei-Quadro é taxativa ao considerar que constitui fundamento susceptível de determinar a revogação “o incumprimento, em dois anos seguidos ou três interpolados, dentro do período total de validade do estatuto de utilidade pública” dos deveres, entre outros, da comunicação dos relatórios com as demonstrações financeiras e de actividades. Após a aplicação deste ‘castigo’, que teria de ser sancionado pela Secretaria de Estado da Presidência do Conselho de Ministros, a Fundação Alfredo de Sousa apenas poderia requerer novamente a atribuição do estatuto de utilidade pública “passados cinco anos da decisão de revogação”.

    Perante a evidente violação da Lei-Quadro, o PÁGINA UM questionou em 14 de Agosto passado o secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros, Paulo Lopes Marcelo, sobre se iria diligenciar no sentido da revogação da utilidade pública da Fundação Alfredo de Sousa, apesar de esta contar como fundadores uma universidade pública (Universidade Nova de Lisboa), a autarquia de Cascais, o Banco Santander, a Jerónimo Martins e a Arica. Não se obteve qualquer reacção.

    Paulo Lopes Marcelo a cumprimentar o Presidente da República na tomada de posse: o silêncio do secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros é revelador sobre o incómodo em se aplicar uma lei que castigaria o desleixo da gestão de uma fundação presidida por Miguel Pinti Luz.

    Apesar de tudo isto, fonte oficial da Nova SBE garantiu ao PÁGINA UM que as contas foram aprovadas em Abril, e apenas houve atraso na recolha das assinaturas de alguns administradores, acrescentando que houve um parecer prévio, em Abril, do Conselho de Curadores, cujo presidente, o actual reitor da Universidade Nova de Lisboa, João Sáàgua, se demitiu em Janeiro.  

    Aliás, embora sem qualquer referência no seu site, e contrariando também a Lei-Quadro das Fundações, a cadeira da presidência da instituição que gere o campus de Carcavelos terá sido entretanto ocupada, segundo fonte oficial da Nova SBE, por Rui Diniz, um anterior vogal. Contudo, a nomeação deste economista, que é o CEO da CUF – Hospitais e Clínicas, terá sido feita de forma tão discreta que nem sequer se encontra qualquer referência na imprensa nem qualquer comunicado oficial tanto da Nova SBE como da própria fundação. O PÁGINA UM vai solicitar as actas das diversas reuniões da Fundação Alfredo de Sousa.


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  • Nada se vê da piscina de São João da Madeira, mas Souto Moura já ‘nada’ em 400 mil euros

    Nada se vê da piscina de São João da Madeira, mas Souto Moura já ‘nada’ em 400 mil euros

    Nem sequer são obras de Santa Engrácia, porque ainda nem saíram do papel, mas certo é que a nova piscina municipal de São João da Madeira arrisca ser um ‘sumidouro’ de dinheiros públicos antes de sequer ser lançada a primeira pedra. Em 2011, era então presidente da edilidade o actual ministro da Coesão Territorial, Castro de Almeida, um concurso de ideias ganho por Souto de Moura resultou num contrato de 250 mil euros para o projecto de arquitectura e de especialidade. Porém, a falta de consenso político ‘abortou’ a obra, orçada inicialmente em 4,5 milhões de euros, mas que antes de qualquer pedra lançada, em 2016, já subirá para os 5,7 milhões. Agora, liderada pelo Partido Socialista, a autarquia do distrito de Aveiro ‘ressuscitou o sonho’ e, mesmo sem garantias de financiamento nem prazo de execução, deu um novo passo: pediu alterações ao projecto a Souto Moura. São mais 150 mil euros.


    Corria ainda o ano de 2011, e Eduardo Souto Moura, que acabara de ser então galardoado com o prestigiado Prémio Pritzker de Arquitetura, tinha razões para festejar: vencera um concurso público para a concepção do projecto de arquitectura das piscinas municipais de São João da Madeira. A selecção fora feita a partir de 46 candidaturas, e o ‘prémio’ consistia num contrato de praticamente 250 mil euros, que incluía o projecto de arquitectura propriamente dito e os projectos de estabilidade e de especialidade, incluindo das componentes de segurança e energia.

    Implicando uma empreitada estimada inicialmente em 4,5 milhões de euros, a nova piscina coberta de São João da Madeira seria o quarto projecto que Eduardo Souto Moura desenvolvia para este município do distrito de Aveiro, e estava prevista a sua construção no Complexo Desportivo Paulo Pinto, substituindo o antigo equipamento em funcionamento desde os anos 80 do século passado.

    woman leaning on white concrete surface beside swimming pool during daytime

    O contrato para a execução do projecto foi assinado em Maio de 2012 por Souto de Moura e Castro Almeida, o actual ministro da Coesão Territorial, que então presidia à edilidade de São João da Madeira. No momento da apresentação do projecto, em Setembro de 2014, o custo previsto já saltara para os 5,3 milhões de euros, mas apontava-se como justificação os investimentos para poupança energética, sendo que esta seria a primeira piscina coberta da Europa com certificação internacional LEED (Leadership in Energy and Environmental Design).

    Porém, apesar de ser ter cogitado um pedido de empréstimo de cerca de dois milhões de euros ao Banco Europeu de Investimento, “não foi alcançado o consenso político necessário na Câmara Municipal, entre as diferentes forças políticas, e a realização da obra não foi aprovada”, salienta fonte da autarquia agora liderada pelo socialista Jorge Vultos Sequeira, que assumiu funções em 2017.

    E o projecto ‘ressuscitou’. Ou melhor dizendo, teve de ‘renascer das cinzas’ com uma injecção de mais 155 mil euros para Souto Moura alegadamente ‘renovar’ um projecto de arquitectura das novas piscinas que, a surgirem, ainda não têm um custo previsto de empreitada. A autarquia socialista diz ser necessário ainda, para agora avançar com a construção de piscinas que já tinham projecto definido por Souto Moura, “adequar este projeto, com data de 2012, a normas e regulamentos actualmente em vigor implementados por via de atualizações verificadas durante os últimos 12 anos, isto é, aprovadas em momento posterior à elaboração do projeto inicial”, designadamente de ordem técnica e organização funcional.

    Pormenor do plano da piscina ‘gizado’ por Souto Moura em 2012.

    No sentido de justificar a nova ‘chamada’ de Souto Moura, a autarquia aponta, aliás, para uma portaria de Dezembro do ano passado sobre requisitos técnicos e de funcionamento gerais das instalações desportivas de uso público e também de nova normas de poupança energética. E destaca mesmo, em concreto, as actualizações necessárias ao nível tanto das estruturas como das instalações hidráulicas como de sistemas de energia e de segurança.

    Contas feitas, aparentemente, nada será aproveitado do projecto de arquitectura anterior, embora no contrato de 2014 tivessem sido discriminados os custos de cada projecto de especialidade. Por exemplo, o estudo do comportamento térmico, incluindo declaração de conformidade regulamentar, ficou orçado em 5.338 euros, e a certificação LEED custou, no ‘bolo’ dos 250 mil euros recebido por Souto Moura, valeu 23.375 euros.

    Na verdade, de acordo com o contrato de 2014, as obrigações de Souto Moura já tinham ‘prescrito’ há muito. Nesse contrato, o arquitecto comprometia-se a conceder assistência técnica durante a execução da empreitada, mas ficava desobrigado dessa tarefa caso essa fase não fosse iniciada nos três anos seguintes à aprovação do projecto de execução. A opção passaria assim por um novo concurso de ideias ou por uma adjudicação por ajuste directo a Souto de Moura. A opção da autarquia socialista foi a segunda, entregando ao Prémio Pritzker mais um cheque de 155 mil euros.

    Apesar de evidenciar a existência de condições políticas para avançar com as novas piscinas – o Partido Socialista tem maioria na autarquia –, não se sabe ainda quanto custará a execução do projecto. Fonte oficial da autarquia admitiu ao PÁGINA UM que, apesar de não haver comparticipação europeia nos investimentos em infra-estruturas desportivas, o projecto é mesmo para avançar, mesmo não se sabendo o custo, que em 2016 se estimava já em 5,7 milhões de euros sem haver ainda uma pedra metida.

    Souto Moura, Prémio Pritzker de Arquitetura em 2011. Foi nesse ano que venceu o concurso de ideias para o projecto da nova piscina municipal em São João da Madeira. Treze anos depois, piscina nem vê-la, mas o arquitecto já ‘viu’ 400 mil euros pelo projecto e agora pela alteração do projecto.

    “Naturalmente, o valor da concretização de um projeto que tem cerca de 12 anos, aos preços de hoje, ser[á} mais elevado”, admite a autarquia de São João da Madeira, acrescentando que “a estimativa do novo valor será conhecida após a actualização do projeto”. Quanto à previsão para o início da empreitada”, a mesma fonte diz ser “prematuro” indicar uma data, “atendendo a todo o processo que se seguirá”, incluindo o prazo de 120 dias para Souto Moura alterar o projecto, a aprovação pelos diferentes órgãos autárquicos, a operação de financiamento, o lançamento de concurso da empreitada e o visto do Tribunal de Contas.

    Em suma, por agora, o único a ganhar com a ‘mítica’ piscina de São João da Madeira é Souto Moura, uma individualidade particularmente crítica do poder local, que soma agora 400 mil euros em dois projectos de Arquitectura. E o adágio popular diz que ‘não há duas sem três’.


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  • Atlético de Madrid 4.0

    Atlético de Madrid 4.0


    Há sempre uma primeira vez. Hoje, por exemplo, foi a primeira vez que vi uma pomba no metro, neste caso no átrio da estação do Marquês, cheio de ‘águias’. As verdadeiras águias, a Vitória e a Gloriosa, chamar-lhe-iam um figo, o que talvez não seja uma metáfora feliz, porquanto não consta que os indivíduos da espécie Haliaeetus leucocephalus sejam frugívoros. Em todo o caso, mesmo carnívoros, duvido que a Vitória ou a Gloriosa [por acaso, não sei se são machos ou fêmeas) metessem o dente – força de expressão – à sande de panado que tenho defronte de mim, a primeira que integra o mais famigerado farnel do futebol (FFF), que não sendo de deitar fora, ainda fica aquém daquela rechonchuda sandocha de leitão de Negrais que degluti, com bom proveito, no ‘estádio dos lagartos’.

    Por falar em primeira vez, também é a primeira vez, desde que nasceu este Da Varanda da Luz, que venho assistir a um jogo da Liga dos Campeões, que se deve, sobretudo, por ter faltado, hélas, pela primeira vez a um jogo da Liga Portuguesa, uma vez que estava em Roma no sábado passado, pelo que perdi uma vitória retumbante do Benfica, mesmo se com entrada em falso. Daí a razão para esta crónica não se chamar Gil Vicente 5.1, embora não desdenhe que se venha a titular Atético de Madrid 5.1. Veremos…

    (entretanto, deixei o jogo iniciar-se sem avisar, e o Oblak, meu grande traidor, salvou ao minuto 8 o Atlético de Madrid de sofrer o primeiro golo com uma defesa com a classe que se lhe reconhece desde que vestiu de vermelho; bom cabeceamento do meu ‘alter-grego’ PAVlidis)

    Estando na Cidade Eterna, como adiantei, ainda tentei substituir a crónica de sábado, não com uma visita ao Papa, mas com uma passagem no Estádio Olímpico, aproveitando o jogo entre o AS Roma e o Veneza para o Calcio. O Roma, que já foi de Mourinho e Rui Patrício – e agora é apenas de Svilar e de Cristante, que já foram ‘águias’ sem grandes voos – está como o Benfica esteve nos tempos daquele alemão de triste memória: a jogar mal. Não sei como jogou no sábado passado, porque me andaram a ‘emperrar’ a acreditação, até que não me deram, o que resultou na minha ‘represália’ sob a forma de bruxedo, que não foi assim tão forte, pois, apesar da AS Roma ter estado a perder, deu a volta ao resultado, terminando a ganhar à rasca por 2-1.

    (gooooooooolooooooooo!!!! Benfica!!! Com ascendente nos últimos minutos, marca o turco do duplo diacrítico, Aktürkoğlu, depois de uma excelente desmarcação, a passe do Aursnes)

    Enfim, e por falar mais uma vez na primeira vez: não foi a primeira vez que perdi um golo do Benfica enquanto estou na Varanda da Luz a tentar meter, por debaixo da mesa, a ficha no raio de tomadas muito mal colocadas. Ainda mais, fiz aqui uma distensão muscular na perna direito, porque por aqui está tudo cheio de jornalistas e tive de fazer alguma ginástica… e a idade já não perdoa a falta de alongamentos.  Vejamos se não fiz aqui uma daquelas microrroturas à futebolistas.

    (caraças!, bola na trave da baliza do Trubin; sem saber nem escrever, o Atlético de Madrid quase empatava)

    Também é a primeira vez que estou a assistir a um jogo ao lado da equipa de relatadores da TSF, que não conheço, mas que são tipos de boa visão e de boa técnica vocal. Enfim, só estreias e ineditismos…

    (e o Benfica quase marcava por PAVlidis, com a bola quase a roçar, do lado de fora, o poste esquerdo da baliza de Oblak, que espero vir a ter hoje uma noite infeliz)

    Entretanto chega o intervalo, e o Benfica fez, pela primeira vez desde há muito tempo [como se sabe uma primeira vez pode ser sempre um evento que se segue ao último, que assim deixa de ser o último], uma belíssima primeira parte.

    Estou esperançoso de uma segunda parte ao estilo do melhor Benfica. Sente-se nas bancadas uma euforia muito boa saudável boa onda, uma noite europeia e, se me permitem pela primeira vez não vou escrever mais nada nesta crónica especial Da Varanda da Luz, a não ser apontar os, espero, (muitos) mais golos do Benfica.

    (goloooooooo… minuto 52: 2-0, marca Di Maria de penalti, depois de o VAR ter alertado o árbitro para um pisão sobre PAVlidis)

    (goooolllooooo!!!! Mais um, ao minuto 75, marca Bah, de cabeça, ou coisa parecida, nio seguimento de um canto)

    Eu previa, pela primeira vez, que assistiria, como há muito não se via, pela primeira vez, talvez, na curta história deste Da Varanda da Luz, a uma daquelas épicas noites europeias. Pelo menos, não me recordo de um jogo em que todos os jogadores, sem excepção, tiveram prestações tão boas. Que grande Benfica se tem agora… sem o João Mário e o Roger Schmidt. E o Kökçü está um senhor jogador…

    Ao minuto 79, grita-se olé a cada passe dos jogadores do Benfica, depois de uma bela sequência de passes sem que os madrilenos tenham sequer o sonho de cheirar a chicha uma vez que seja… Respira-se uma gloriosa noite europeia e grita-se “só mais um!”

    (e… goloooooooooooo… de Kökçü, a concretizar a marcação de uma grande penalidade a punir falta sobre o suíço Amdouni. Minuto 84. ‘Granda’ cabazada!)

    Caramba, não cumpri o prometido: ainda pincelei a segunda parte com uns breves comentários, e saio daqui eufórico. Pela primeira vez, de facto, constato ser impossível escrever uma crónica isenta e independente sobre um clube do nosso coração quando este pratica bom futebol. Mas não regresses, Schmidt! Afinal, este Da Varanda da Luz nunca quis ser independente nem isento…

    Ah, e acho que a pomba do Marquês deu sorte!


    Comentário especial de Tiago Franco (a pedido expresso e escrito ‘a quente’)

    Praticamente com os mesmos jogadores que Robert Schmidt tinha à disposicão, Bruno Lage optou por aquilo que os brasileiros designam por “feijão com arroz”, ou seja, 11 jogadores nas suas posicões. Juntou-lhe uma pitada de motivação, substituições com sentido, leitura do jogo a partir do banco e, voilà, o básico para uma equipa profissional de futebol funcionar voltou a aparecer na Luz.

    A partir daí, foi deixar que os artistas fizessem o resto. Turcos, argentinos, ucranianos, espanhóis e nórdicos, numa mistura de talento imigrante que até o Ventura aprovaria, soltaram-se e voltaram a ter alegria de jogar. O Atlético de Madrid era, até agora, o desafio mais exigente da era Bruno Lage, e para quem, como eu, tinha algumas duvidas, ficaram dissipadas quando percebi como Carreras enchia o antigo corredor de Morato (lembram-se?) com a confianca de quem nunca ali tinha nascido.

    Num relvado com seis campeões do Mundo, foram os do Benfica que deram mais nas vistas. O Atlético ameaçou apenas no final da primeira parte, mas Simeone fez o favor de estragar tudo ao intervalo, tirando os melhores do meio-campo. A segunda parte foi de varridela total, acabando o jogo com 11 remates enquadrados contra ZERO dos espanhóis. Uma exibicão quase perfeita e que há dois meses seria absolutamente impensável. Que bom ver Kökçü no centro, Carreras na linha, um avançado (Pavlidis) em vez de um pino (Tengsted), um trinco (Florentino) com Aursnes ali por perto, e extremos que não passam apenas para trás. Em resumo, que bom ter a equipa de volta, um treinador no banco e 62 mil alegres almas na Catedral. Noite de Gala, finalmente.


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  • O (quase) holocausto de Isaac, ou Abraão a emprenhar pelos ouvidos

    O (quase) holocausto de Isaac, ou Abraão a emprenhar pelos ouvidos

    ― Meu Deus!, bem te dizia que esta família de badernas e turgimões não cessava os malfazeres… Deixa-me passar para avisar o Senhor! É urgente, uma calamidade está prestes a suceder…

    ― Continuas impertinente, como sempre. Já te avisei que não se invoca o Senhor em vão. E não o vais avocar agora. Hoje é sábado e Ele está a descansar… Que se passa?!

    ― Abraão, outra vez; mais as urdimaças dos seus patrícios… Vi-o agora a subir ao monte Moriá.

    ― E qual o problema? Vai adorar o Senhor…

    ― Vai, vai… Deixou o jumento e dois servos no sopé. Só o acompanha o seu filho Isaac. E não lhe vi nenhum cordeiro ou animália que se parecesse.

    ― Seguirá para simples adoração…

    ― Pois, pois… levando na mão utensílios de fogo e um cutelo, mais Isaac arcando com um carrego de lenha às costas.

    ― De facto, é estranho…

    scenery of white clouds

    ― Estranho e muito mais que isso. O pequeno também quis saber onde estava a vítima para o holocausto… Abraão respondeu-lhe que Deus o proviria no cimo do monte. E que eu saiba não fomos mandatados hoje para enviar um qualquer animal até Moriá.

    ―Deus conhecerá, por certo, aquilo que segue no interior do coração de Abraão… Descansa que amanhã o Senhor, na sua omnisciência e omnipotência, esclarecerá isto…

    ―Não há tempo. Temo uma tragédia… Lembras-te do caso do poço de Bercheba?

    ― Daquela querela entre Abraão e os servos de Abimélec, rei de Guerar?

    ― Sim…

    ― Ficou resolvido. O rei deu razão a Abraão e entregou-lhe o poço. E tanto ficou esse rei satisfeito que com ele estabeleceu uma aliança, depois de Abraão lhe ter oferecido sete cordeiros.

    ― Aquilo pareceu-me mais um suborno… Ou uma coacção. Abimeléc até disse que nunca soubera de poço algum escavado por Abraão… Desde o episódio com Sara que este rei lhe tem um temor de morte.

    ― O rapto da mulher de Abraão clamava castigo…

    ― Qual rapto?! Abimeléc apenas a recolheu no seu palácio. Abraão é que lhe mentiu, ao dizer que Sara era apenas sua irmã. O rei nem sequer a desonrou… Também, quem é que deseja uma mulher de cem anos?

    ― Abraão não mentiu: Sara também é sua meia-irmã.

    ― Eu já nem quero discutir essa nojosa questão da consanguinidade. Sei apenas que foi a segunda vez que Abraão usou esse expediente em seu proveito. E, tal como já sucedera no Egipto, Deus andou depois a mandar castigos, e Abraão a encher-se de prebendas à laia de indemnizações. Com Abimeléc recebeu ovelhas, bois, servos e servas, mais ainda mil moedas de prata. E do faraó também muito amealhou com essa trampolinice.

    mountain cliff photography

    ― Manténs a tua impertinência… Mas afinal que têm a ver esses casos com a subida de Abraão ao monte acompanhado do seu filho?

    ― Tem tudo. Lembras-te também de Ismael e de Agar?

    ― Tiras-me a paciência…

    ― Paciente sou eu… padecente diria mesmo, que nos últimos anos rodopio numa fona à conta desta disfuncional família que caiu no goto do Senhor… Quem é que andou à procura de Agar, por campos espinhosos e desertos rochosos, depois de ter sido humilhada por Sara? Quem teve de arrazoar para convencê-la a regressar? Tive de lhe jurar que o seu futuro rebento seria como um cavalo selvagem entre os homens, e que a sua mão erguer-se-ia contra todos, que a mão de todos erguer-se-ia contra ele, mas que ele colocaria a sua tenda em frente de todos os seus irmãos… Enfim…

    ― Essa escrava egípcia foi insolente com a sua senhora, olhando-a com desdém após engravidar de Abraão. Mereceu a reprimenda.

    ― Ainda hoje penso que razão teve Deus para não ter curado a esterilidade de Sara mais cedo… Tinha nascido apenas Isaac; e Ismael, não existindo, não era tratado como foi.

    ―São insondáveis os desígnios do Senhor…

    ―Tão insondáveis são que nem Ele os entende… Acho patética aquela nossa viagem, com Ele, até ao Carvalho de Mambré, para anunciar que Sara geraria um filho de Abraão… Salvaram-se os pães, a manteiga, o leite e o vitelo que nos ofertaram, que de facto estavam uma delícia…

    ― A nossa missão era outra, se bem sabes: descer até Sodoma e Gomorra para conhecer in loco se a conduta indecorosa daqueles povos correspondia ao brado que chegara aos ouvidos do Senhor. E para salvar Lot, o sobrinho de Abraão, e sua família…

    ― E que rica missão a nossa… Se Deus é omnisciente, bem saberia que era tudo verdade. Evitava-nos aqueles apertos. Não fossem as nossas artes para cegar aquela turbamulta que estava arrombando a porta da casa de Lot e andaríamos agora escarranchados…  E aquilo que Deus fez à mulher de Lot, nas portas do Sodoma, não se compreende…

    the sun is shining through the clouds in the sky

    ― Eu avisei todos para que não olhassem para trás quando começasse a cair a chuva de enxofre e fogo. Deus viu que ela não cumpriu e transformou-a em estátua de sal. A sua decisão é soberana e inapelável.

    ― Castigou severamente uma mera curiosidade, tão típica da mente feminina. E depois nada fez quando as duas filhas de Lot, vendo o pai viúvo, o embriagaram duas noites seguidas para, cada uma, engravidar dele. Isto não cabe na cabeça de ninguém… Coitados dos moabitas e dos amonitas que nasceram de tão maquiavélico incesto.

    ― Já te avisei para não usares expressões que só fazem sentido daqui a uns milhares de anos. Niccolo Machiavelli apenas nascerá ao décimo quinto século depois da ida do filho de Deus à Terra, e a sua obra «O Príncipe» somente verá a luz do dia no ano de 1532 dessa era… E continuas a tergiversar: afinal que ligação há entre os filisteus que perderam o poço, Agar e Ismael, e os teus receios sobre a ida de Abraão e Isaac ao monte Moriá?

    ― Tudo, como já te disse… As injustiças fermentaram uma união para a vingança. Depois de Deus ter autorizado a expulsão definitiva de Agar e do seu filho, por capricho de Sara durante aquele banquete em honra de Isaac, alguns filisteus têm visitado o jovem Ismael no deserto de Paran… Ficaram chocados por Abraão ter abandonado aquele filho à sua sorte, apenas com um pão e um odre de água.

    ― Deus foi compassivo com Agar e Ismael. Deu-lhes água uns dias depois… Protegeu o menino e prometeu fazer dele um grande povo.

    ―De promessas divinas já ando eu cheio. Quantas vezes já Ele prometeu a Abraão mundos e fundos? E, ao mesmo tempo, anuncia-lhe desgraças sem fim, castiga a torto e a direito, provoca infaustos sucessos, completamente evitáveis.

    ― Continuas assim e ainda vais fazer companhia a Lúcifer… A tua sorte é ser a tua queda a minha queda, porque por ti pus as minhas asas no fogo. E agora já receio vir a ser chamuscado… Ainda bem que Deus só perscruta as vozes e pensamentos humanos, se não estávamos feitos… Mas agora deixaste-me apreensivo: que andaram os filisteus a maquinar com Ismael?!

    ― Isso não sei, porque quando me abeirei deles por algumas vezes, cessaram sempre as conversações. Ignoro se Ismael estava disposto para uma qualquer conjura. Mas, já quanto aos filisteus, ontem à noite, ao passear pela brisa da noite, encontrei alguns à janela do quarto de Abraão…

    ‘O sacrifício de Isaac’, pintura de Caravaggio exposta na Galleria degli Uffizi, em Florença.

    ― E que faziam lá?! Diz-me!

    ―Ah! Finalmente ouves-me, não é?… Estavam malvestidos com uns trapos brancos e umas rudimentares álulas… Penso que se queriam parecer connosco… Ouvi-os sussurrar várias vezes para dentro: «Abraão, Abraão: pega no teu filho, no teu único filho, a quem tanto amas, Isaac, e vai à região de Moriá, onde o oferecerás em holocausto, num dos montes que Eu te indicar».

    ― O quê???!!! Estás a mofar…

    ― Antes fosse. Ontem não liguei àquela palhaçada… Nem pensei que Abraão os tivesse ouvido. Só agora, quando o vi a subir o Moriá com o filho, é que fiquei temeroso.

    ― Credo! Meu Deus, que fazemos agora?

    ― Pois, era mesmo para isso que eu vinha aqui. Para Lhe perguntar: «Meu Deus, que fazemos agora?»

    ―Não O vou incomodar. Ele tem mau acordar… Deixa-me ver uma coisa…

    ― Abrenúncio!!! O jovem Isaac está já preso sobre o altar, com lenha por debaixo… Benza-deus, Abraão brande um cutelo… Rápido, agarra naquele carneiro, voa até ali e prende-o pelos chifres ao silvado… Abraão! Abraão! Que fazes?!


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  • Pedro Almeida Vieira conversa com Ana Cristina Silva

    Pedro Almeida Vieira conversa com Ana Cristina Silva

    Na décima segunda sessão de BIBLIOTECA DO PÁGINA UM, Pedro Almeida Vieira conversa com a professora e escritora Ana Cristina Silva



    Professora universitária no ISPA – Instituto Universitário, Ana Cristina Silva é uma das mais talentosas escritoras de ficção do género histórico, onde alia a sua apetência por expor a visão psicológica dos personagens dentro de determinados contextos, tendo como principais linhas orientadoras a opressão e poder político, a identidade, o trauma e a condição feminina.

    Estreou-se em 2002, com o romance ‘Mariana, todas as cartas’ e, desde essa data já publicou cerca de uma dezena e meia de romances, dos quais se destacam o romance ‘Rei do Monte Brasil’, galardoado com o Prémio Urbano Tavares Rodrigues.

    O seu mais recente romance, ‘El-rei, Nosso Senhor, Sebastião José’, sobre a vida e acção do Marquês de Pombal, o todo-poderoso primeiro-ministro de D. José, é o ponto de partida de uma longa conversa com Pedro Almeida Vieira, onde se aborda a paixão pela História e pela ficção, os meandros da criação literária e a forma como os ‘temas’ ou personagens se ‘colam’ aos escritores.

    Entre as obras patentes na BIBLIOTECA DO PÁGINA UM, Ana Cristina Silva escolheu os romances ‘Memórias de Agripina’, de Seomara da Veiga Ferreira, publicado originalmente em 1993, e ‘A História do Cerco de Lisboa’, de José Saramago, publicado em 1989, e ainda dois romances de Mário Cláudio: ‘Camilo Broca’, de 2006, e ‘Retrato de rapaz’, de 2014, e o romance ‘Lilias Fraser’, de Hélia Correia, de 2001..

    Pormenor da biblioteca ‘caseira’ de Ana Cristina Silva.

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  • Manuel Monteiro

    Manuel Monteiro

    Na décima primeira sessão de BIBLIOTECA DO PÁGINA UM, Pedro Almeida Vieira conversa com o escritor e revisor Manuel Monteiro



    O curso de Economia, tirado no ISCTE, e visto à distância (do tempo), parece não se ‘casar’ bem com o perfil de Manuel Monteiro – ou talvez sim, porque, na verdade, tudo na vida se mostra importante, nem que seja para se saber o que não se quer fazer. E Manuel Monteiro tem feito muito, e até foi jornalista, sendo hoje sobretudo conhecido por ser um dos melhores (e maiores) defensores da Língua Portuguesa, pela sua actividade de revisor de obras literárias.

    Sobre essa tarefa, em que se assume como simultaneamente um ‘salvador’ e um ‘terror’ dos escritores (por corrigir gralhar e detectar vergonhosos erros), Manuel Monteiro conversa com Pedro Almeida Vieira sobre a ortografia e a gramática, e sobre as suas irritações e paixões, numa perspectiva didáctica mas também divertida.

    Mas Manuel Monteiro não é apenas conhecido como revisor, com várias obras publicadas e uma escola de formação na área: ao longo dos anos tem escrito também ficção, tendo-se estreado em 2011 com ‘O suave e o negro’. A sua mais recente obra neste género é o livro de contos ‘O funambulista, o ateu intolerante e outras histórias reais’, publicado em 2021.

    Manuel Monteiro fotografado na Biblioteca do PÁGINA UM.

    Entre as obras patentes na BIBLIOTECA DO PÁGINA UM, Manuel Monteiro escolheu romance ‘A Severa’, de Júlio Dantas, publicado em 1901, e ainda o romance ‘O criador de letras’, de Pedro Foyos, recentemente falecido, publicado originalmente em 2009.

    Pormenor da biblioteca ‘caseira’ de Manuel Monteiro.

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