Autor: Maria Afonso Peixoto

  • Referendo para adesão ao Tratado Pandémico nas mãos dos deputados

    Referendo para adesão ao Tratado Pandémico nas mãos dos deputados

    Anteontem, no parlamento, a audição na Comissão de Saúde relativa à petição para a realização de um referendo acerca da adesão de Portugal ao controverso Tratado Internacional sobre Prevenção e Preparação para Pandemias. A autora e principal peticionária foi ouvida pelos deputados. Marta Gameiro, médica dentista e defensora activa da medicina baseada na evidência científica, foi acompanhada pela antiga deputada e psicóloga Joana Amaral Dias. A sessão foi manchada com um momento insólito, em que a deputada social-democrata Fernanda Velez, num tom jocoso, tentou denegrir a petição. Os deputados vão ter audições sobre o tema do Tratado em sede da subcomissão de saúde global. O Tratado Internacional de Pandemias tem estado envolto em controvérsia por ser visto como “um instrumento antidemocrático” que ameaça retirar aos países a soberania e poder de decisão na gestão de crises de saúde pública, como pandemias. O forte risco de interferência de interesses comerciais e políticos junto da Organização Mundial de Saúde é outro dos motivos apontados pelos críticos do Tratado. A petição vai ser votada no parlamento assim que for concluída a sua apreciação pela comissão de saúde.


    Devem os portugueses decidir se Portugal adere ao controverso Tratado Internacional sobre Prevenção e Preparação para Pandemias da Organização Mundial de Saúde (OMS)? A decisão vai caber aos deputados, que irão votar o pedido de referendo lançado por uma petição assinada por 7.660 peticionários, quando a apreciação da iniciativa for concluída pela comissão de saúde no parlamento.

    Na quinta-feira, foi ouvida em audição na comissão de saúde a autora da petição, a médica dentista e defensora da medicina baseada na evidência científica, Marta Gameiro, e ainda Joana Amaral Dias, antiga deputada, psicóloga, autora e activista, que também falou em nome dos peticionários.

    O proposto Tratado Pandémico tem gerado uma forte polémica devido a alguns dos seus artigos. O Tratado será juridicamente vinculativo e visa, alegadamente, potencializar a capacidade de prevenção e resposta dos 194 países membros da OMS face a eventuais pandemias. Mas críticos da proposta alertam para os riscos de o acordo vir a constituir uma ameaça à democracia, pondo em causa a soberania de países em matéria de decisões na gestão de crises de saúde pública.

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    Na pandemia de covid-19, Portugal seguiu a maioria dos restantes países e impôs confinamentos e fecho de negócios, bem como o uso de máscaras, contrariando a evidência científica e a opinião de alguns dos maiores especialistas mundiais. Hoje, Portugal é um dos países europeus com mais excesso de mortalidade no triénio 2020-2022, enquanto a Suécia, que recusou confinamentos e o uso de máscaras em geral, regista mortes em excesso com pouco significado.

    Por detrás de alguns receios, está o argumento de que a OMS está vulnerável a interferências por parte de grandes grupos e interesses privados e políticos, que poderia querer obter lucros ou reforços de poder através de decisões sobre saúde pública.

    Os signatários da petição que está em apreciação na comissão de saúde temem que o acordo – que só será oficialmente conhecido em 2024 –, seja uma ameaça à soberania de Portugal para decidir autonomamente como reagir perante a eclosão de doenças contagiosas.

    Os peticionários questionam a “legitimidade da OMS para interferir na gestão que os países fazem em matérias de saúde e levantam dúvidas quanto à organização, referindo que está dependente de doações privadas e corporações”, indicou Guilherme Almeida, deputado do PSD que é o relator da apreciação da petição e que presidiu à audição. Os peticionários contestam, sobretudo, as propostas daquela entidade para “alterar o regulamento sanitário internacional”.

    Marta Gameiro, médica dentista, defensora da medicina baseada na evidência científica e autora da petição. A médica organizou o Congresso Internacional sobre Gestão da Pandemia, que decorreu em Fátima, em Outubro de 2022.

    Marta Gameiro, autora da petição, começou por esclarecer que “apoia fortemente” a OMS como “instituição necessária ao mundo”, mas considera que hoje são os interesses privados, por meio de burocratas não eleitos, que “ditam o rumo dos acontecimentos” dentro da organização.

    A médica dentista exemplificou, referindo-se às organizações Welcome Trust e Bill & Melinda Gates Foundation, duas instituições que investem milhões de dólares em tratamentos para a covid-19. A médica afirmou ainda que a petição pretende ser um alerta sobre a forma como a saúde pública está a ser conduzida, através de “parcerias público-privadas, envolvendo empresas farmacêuticas e fundações privadas”.

    Marta Gameiro salientou que o Tratado tornará obrigatórias as recomendações da OMS, permitindo-lhe “tomar decisões sem escrutínio público ou transparência”, e forçando todos os países-membro a alterarem as suas leis e perdendo soberania.

    Joana Amaral Dias, psicóloga, antiga deputada, autora e activista foi ouvida na comissão de saúde em nome dos peticionários.

    Joana Amaral Dias considerou alarmante as “portas giratórias imediatas de interesses privados de altas corporações monopolistas para altos cargos dirigentes da OMS” e rejeitou a “transposição de estados de emergência” que o Tratado possibilitaria, de forma “unilateral, arbitrária, e subordinada a interesses financeiros e não apenas à saúde pública”.

    Para a activista e comentadora política, esta actuação é contrária aos interesses dos cidadãos e lesa os seus direitos, liberdades e garantias, frisando que o Tratado é um “instrumento antidemocrático”.

    Na audição estavam presentes, além do relator, o deputado socialista Paulo Marques, a deputada Fernanda Velez, do PSD, e a deputada Rita Matias, do Chega.

    Paulo Marques assumiu uma “divergência profunda” com as preocupações manifestadas na petição. defendeu que a pandemia de covid-19 “veio retratar a necessidade de haver este tipo de cooperação internacional, absolutamente necessária”, mostrando plena confiança na eficácia das medidas recomendadas pela OMS no combate à covid – como os confinamentos e a vacinação.

    Paulo Marques, deputado do PS, anunciou que ainda vão ser agendadas audições sobre a adesão de Portugal ao Tratado da OMS em sede da subcomissão de saúde global.

    Mas o deputado socialista anunciou a intenção da comissão de ter no Parlamento “outros protagonistas para nos dar outro ponto de vista” sobre as mudanças que a OMS pretende fazer, e sobre a “necessidade de sujeitar a um referendo este tipo de matérias”. Assim, irão existir audições sobre o Tratado em sede da subcomissão de saúde global.

    Na audição, o caricato surgiu com a intervenção da deputada social-democrata Fernanda Velez, que não escondeu o seu desprezo pela petição. A deputada afirmou que considera ser “demasiado pretensioso” pedir um referendo sobre a adesão de Portugal. Considerou o texto da petição “não muito claro” e “um pouco mal redigido”, com falhas gramaticais. E, num tom de escárnio, a deputada questionou se as signatárias tinham ouvidos “peritos na matéria” ou se se basearam em “pesquisas no Dr. Google”.

    Fernanda Velez, deputada do PSD, causou um momento insólito, ao recorrer a um tom de escárnio no seu discurso na audição.

    Joana Amaral Dias respondeu à letra à deputada social-democrata. “Não devia ter cabimento numa audiência deste tipo adjectivar as pessoas de pretensiosas, ou desqualificá-las dizendo que fazem pesquisas no Dr. Google”, criticou.

    Lembrando que as medidas de saúde pública que a OMS quer impor aos países-membro, incluindo Portugal, “afectarão profundamente e estruturalmente” a vida dos portugueses, a activista defendeu a necessidade do referendo, já que a gestão da covid se fez com recurso a decisões declaradas inúmeras vezes como ilegais pelo Tribunal Constitucional.

    Já perto do final da sessão, Joana Amaral Dias chegou a protagonizar um breve confronto com Fernanda Velez, devolvendo-lhe a acusação de pretensiosismo.

    A psicóloga aproveitou para lembrar os deputados do caso suspeito da negociação da compra das vacinas contra a covid-19, feita por mensagens de telemóvel, pela presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e o CEO da Pfizer, Albert Bourla. Joana Amaral Dias recordou que o New York Times processou recentemente a União Europeia para a obrigar a dar acesso às mensagens de texto secretas.

    Rita Matias, deputada do Chega, subscreveu argumentos da petição.

    No grupo de deputados, a última a ter a palavra foi Rita Matias, do Chega, que validou as objecções das peticionárias ao Tratado, contrastando com o que foi dito pelos restantes deputados. Defendeu que “é preciso distinguir: uma coisa é cooperação internacional, outra coisa é unidade e internacionalismo”.

    A deputada considerou que é possível “questionar se ainda há isenção nas deliberações tomadas” pela OMS, devido ao financiamento de corporações privadas que investem na indústria farmacêutica e à “falta de transparência” sobre os contratos entre a Pfizer e a União Europeia, cujos únicos documentos disponíveis para consulta são de “páginas rasuradas”.

    Rita Matias criticou também o governo e o ministro da Saúde, Manuel Pizarro, por terem retirado do Portal Base informações relativas aos contratos de compras de vacinas contra a covid-19, aos quais, prosseguiu, “nunca conseguimos aceder plenamente” – algo que foi, aliás denunciado, em exclusivo, pelo PÁGINA UM.

    Guilherme Almeida, deputado do PSD e relator da apreciação da petição na comissão de saúde.

    A exposição na audição de Marta Gameiro – que em Outubro passado organizou em Fátima o Congresso Internacional sobre Gestão de Pandemias/Saúde, com a presença de vários peritos internacionais na área da saúde, – foi rematada defendendo que a crença na cooperação global “não significa que não possa questionar a conduta das organizações quando vê que se estão a desviar do seu objectivo original”.

    A médica dentista destacou que as suas posições são consubstanciadas por diversos especialistas, que incluem antigos membros da OMS, como David Bell e Christian Perronne, a reputada geneticista Alexandra Henrion-Caude, e até mesmo ex-funcionários da Bill & Melinda Gates Foundation, como o virologista Geert Vanden Bossche.

    A petição, que deu entrada na Assembleia da República no dia 2 de Novembro, será submetida a plenário e a votação.

    Recentemente, os deputados votaram uma outra petição que apelava à vacinação em massa de crianças com as polémicas vacinas contra a covid-19, tendo Marta Gameiro também estado também no parlamento.

  • Negócio: Administrador da Pfizer conseguiu que Twitter classificasse ser ‘enganoso’ que infecção prévia concede imunidade natural

    Negócio: Administrador da Pfizer conseguiu que Twitter classificasse ser ‘enganoso’ que infecção prévia concede imunidade natural

    Novas revelações dos ‘Twitter Files’ mostram como um administrador da Pfizer pressionou o Twitter para censurar informação científica verdadeira divulgada por um dos principais rostos da gestão inicial da pandemia de covid-19 nos Estados Unidos, com uma notável carreira na área da saúde e antigo almirante de quatro estrelas. As novas informações, reveladas pelo jornalista e autor Alex Berenson, revelam como o Twitter acabou por proteger a farmacêutica, cujas vendas das vacinas mRNA contra a covid-19 representaram quase metade dos seus lucros em 2021.


    No dia 27 de Agosto de 2021, um administrador da Pfizer, Scott Gottlieb, pressionou o Twitter no sentido de agir perante um tweet de Brett Giroir, um dos principais rostos da gestão inicial da pandemia nos Estados Unidos, que referia correctamente que a imunidade natural conferida pela infecção por covid-19 é superior à obtida pela vacina contra a doença.

    Esta ação de pressão de Gottlieb – um antigo responsável da Food and Drug Administration (FDA) – foi revelada ontem pelo jornalista e autor Alex Berenson no âmbito dos chamados “Twitter Files”. O Twitter acabou por censurar a publicação que desagradou ao administrador da Pfizer, colocando um aviso de que o tweet era “enganador” e impedindo que o mesmo fosse partilhado, comentado ou recebesse ‘likes‘.

    Scott Gottlieb

    Este caso de censura vem juntar-se a outros que têm sido revelados pelos “Twitter Files”. Só que o autor do tweet alvo de censura, Brett Giroir, não é um especialista qualquer. Antigo responsável da Food and Drug Administration (FDA), Giroir foi um dos principais rostos e membro-chave da task force da Casa Branca de resposta inicial à pandemia de covid-19, sob a administração de Trump.

    Além de ser um reputado pediatra, Giroir tem uma vasta e notável carreira, tendo sido secretário assistente para a Saúde do Governo norte-americano, representante dos Estados Unidos na administração executiva da Organização Mundial da Saúde. Foi ainda conselheiro científico e de saúde pública, incluindo do Disease Control and Prevention (CDC). É ainda um antigo almirante com quatro estrelas – o posto mais elevado da Marinha norte-americana. Actualmente, Giroir é presidente-executivo da farmacêutica Altesa BioSciences – especializada no desenvolvimento de tratamentos para vírus respiratórios.

    O seu tweet, que desagradou ao administrador da Pfizer, foi visto por Gottlieb como uma ameaça para as receitas da farmacêutica provenientes da venda de vacinas contra a covid-19.

    No tweet, Giroir afirmava ser “claro” que a imunidade natural é muito superior à imunidade vacinal contra a covid-19, e que não existe nenhuma justificação científica para que tenha de haver “provas de vacinação” [aludindo aos certificados digitais] em casos de infeção prévia pelo vírus, apelando, contudo, à vacinação nos restantes casos. Nesse sentido, Giroir instava ainda o governo norte-americano a “seguir a ciência”.

    Segundo Alex Berenson, ao ver o tweet de Giroir, Gottlieb contactou Todd O’Boyle, um lobista de topo e intermediário entre a Casa Branca e o Twitter.

    Scott Gottlieb afirmou que temia que a publicação se tornasse “viral” e objecto de cobertura mediática, tendo Todd O’Boyle reencaminhado o e-mail do executivo da Pfizer para a equipa de Resposta Estratégica do Twitter, responsável por processar os pedidos dos “mais importantes funcionários e utilizadores” da rede social.

    Na comunicação, O’Boyle referiu-se ao empresário apenas como “antigo comissário da FDA”, omitindo o cargo de Gottlieb como executivo da Pfizer e ocultando, assim, um manifesto conflito de interesses. Como salientou Alex Berenson, a venda das vacinas de mRNA contra a covid-19 representou quase metade do lucro de 81 mil milhões de dólares (mais de 75 mil milhões de euros) que aquela companhia farmacêutica obteve em 2021. Por seu turno, nesse ano, Gottlieb arrecadou 365 mil dólares como administrador da Pfizer.

    Embora a equipa que analisou o tweet em causa – que tinha, inclusivamente, respaldo em vários estudos científicos significativos – tenha concluído que o mesmo não violava as políticas de desinformação da empresa, o Twitter acabou por ‘sinalizar’ a publicação colocando uma etiqueta que a qualificava como “enganadora” e reduzindo massivamente a sua visibilidade.

    Num tweet publicado esta terça-feira, Brett Giroir reafirmou o que escreveu na publicação que foi censurada pelo Twitter. O antigo almirante escreveu: “o meu tweet estava correto na altura, e continua a ser assim agora”. “Eu não sou ‘anti-vax’ e até recomendei a vacinação no tweet censurado”, adiantou. E sublinhou: “mas não havia base científica para discriminar/ atormentar/ arruinar aqueles que tinham sido naturalmente infetados, mas não foram vacinados”. Giroir escreveu ainda que o Twitter nunca lhe respondeu.

    Apenas uma semana depois da pressão sobre o Twitter sobre a publicação de Giroir, Todd O’Boyle recebia uma nova queixa de Scott Gottlieb. Desta vez, visando uma publicação de Justin Hart, um consultor e autor especializado em análise de dados, que criticava o facto de, apesar de o vírus ter um impacto quase nulo na mortalidade infantil, ter custado “cerca de três anos de escolaridade” às crianças.

    Brett Giroir

    Berenson recordou que este e-mail de Gottlieb antecedeu a aprovação das vacinas contra a covid para a faixa etária dos cinco aos 11 anos. Porém, sobre este tweet, que poderia, eventualmente, ameaçar as receitas da Pfizer no que toca à vacinação infantil contra a covid-19, a rede social optou por não agir.

    Note-se que Berenson – jornalista de investigação e escritor com ampla experiência na cobertura de assuntos relacionados com a indústria farmacêutica, tendo chegado a colaborar com o reputado New York Times durante mais de uma década –, teve, ele próprio, a sua conta de Twitter permanentemente suspensa a 28 de Agosto de 2021, por alegada violação dos termos de utilização da rede social no que concerne à “desinformação” sobre a covid-19. No entanto, o jornalista conseguiu que a suspensão fosse levantada em Junho do ano passado, depois de ter processado a plataforma tecnológica.

    Um crítico da gestão da pandemia desde o início, Alex Berenson defendeu que a perigosidade do SARS-CoV-2 foi exagerada com o intuito de expandir o poder governamental, e alertou, em 2021, para os efeitos adversos das vacinas de mRNA contra a covid-19, que considerou “perigosas e ineficazes”.

    Afirmando que Scott Gottlieb também pressionou o Twitter para “agir contra” si, o jornalista que agora divulga estes novos documentos internos da empresa com a autorização de Elon Musk, indicou ainda que terá “mais a dizer” sobre o seu caso e que irá processar Gottlieb, a Pfizer e a Casa Branca “em breve”.

    [Pode ler aqui toda a cobertura dos “Twitter Files” feita pelo PÁGINA UM.]

  • #TwitterFiles: Ameaças do Partido Democrata levaram Twitter a aceitar trabalhar com serviços de informação (e vêm aí os #FauciFiles)

    #TwitterFiles: Ameaças do Partido Democrata levaram Twitter a aceitar trabalhar com serviços de informação (e vêm aí os #FauciFiles)

    Perante ameaças de membros do Partido Democrata norte-americano, o Twitter acabou por ser levado a aceitar trabalhar com agências de informação e segurança, como o FBI e a CIA, para censurar conteúdos na rede social. Democratas exigiram ao Twitter que encontrasse “provas” de que havia uma alegada tentativa de interferência russa no processo eleitoral nos Estados Unidos. Quando o Twitter apenas detectou algumas contas suspeitas, surgiram ameaças por parte dos Democratas. Com a ajuda de notícias colocadas em alguns media mainstream, o Partido Democrata levou o Twitter a ter de aceitar o envolvimento de serviços de informação norte-americanos na moderação de conteúdos na rede social. Como se sabe hoje, o Twitter acabou por interferir nas eleições presidenciais nos Estados Unidos de 2020, censurando o então presidente norte-americano, Donald Trump, e outros conservadores, e protegendo Joe Biden e o Partido Democrata. Entretanto, ainda esta semana deverão ser revelados os muito aguardados “Fauci Files”, sobre a censura de informação verdadeira relacionada com a pandemia de covid-19.


    As últimas revelações dos chamados “Twitter Files”, divulgadas ontem à noite pelo jornalista independente Matt Taibbi, mostram como a plataforma tecnológica foi levada a ter de permitir que serviços de informação e segurança participassem na moderação de conteúdos na rede social, sob um manto de ameaças e pressão por parte do Partido Democrata, com a ajuda de alguns media mainstream.

    Tudo começou com o facto de Democratas exigirem, a todo o custo, que o Twitter apresentasse “provas” de haver uma alegada tentativa de influência russa no processo eleitoral nos Estados Unidos.

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    Em 2017, quando o Congresso investigava o Facebook, os funcionários do Twitter estavam seguros de que a actividade russa potencialmente ‘maligna’ na plataforma era negligenciável, já que, após as suas pesquisas, apenas cerca de 25 contas tinham merecido suspensão. 

    “O Twitter não é o foco do inquérito sobre a interferência russa nas eleições, neste momento – o foco está no Facebook”, escreveu Colin Crowell, vice-presidente do departamento de Políticas Públicas do Twitter, em Setembro de 2017.

    Na altura, o Facebook, a rede social liderada por Mark Zuckerberg, estava na ‘berlinda’ por se acreditar ter sido alegadamente utilizada para disseminar eventual propaganda russa, tendo em Agosto desse ano suspendido 300 contas por suspeitas de “origem russa”.

    Naquele mês, o Twitter viria a informar o senado norte-americano que suspendera 22 “possíveis contas russas” e 179 outras potencialmente conectadas, num segmento de cerca de 2700 contas suspeitas que foram “manualmente examinadas”.

    Mas um senador do Partido Democrata e membro do Comité de Inteligência do Senado, Mark Warner, não ficou satisfeito com o que a gigante tecnológica relatara e qualificou, numa conferência de imprensa, as informações como “francamente inadequadas a todos os níveis”.

    Após ter reunido com líderes do Congresso, Crowell declarou, em comunicações internas, que Mark Warner tinha “incentivo político para manter este assunto no topo das notícias, continuar a pressionar-nos e à indústria para produzirmos material para eles, e gerar interesse para a audiência planeada para dia 1 de Novembro”.

    Hillary Clinton foi derrotada nas eleições presidenciais que deram a vitória ao Republicano Donald Trump, em 2016.

    Taibbi salientou ainda que os Democratas estavam a “receber ordens” de Hillary Clinton, que tinha alegado que a rede social estava a ser usada como “ferramenta para uma ciber-guerra”.

    Para atender às exigências governamentais por provas da alegada interferência russa, explicou Taibbi, o Twitter criou uma “Russia Task Force”, que inicialmente servia-se de “dados partilhados pelos colegas do Facebook, centrados em contas supostamente ligadas à Internet Research Agency (IRA) da Rússia”.

    Mas as evidências de interferência russa continuavam a ser poucas. Numa mensagem que data de 23 de Outubro, um funcionário escrevia que, em 2500 contas “analisadas manualmente”, apenas 32 pareciam suspeitas e só 17 tinham conexões com a Rússia. No entanto, apenas duas tinham tido “gastos significativos” [com conteúdos pagos], e uma delas era o canal de televisão estatal Russia Today (RT).

    Como consequência, seguiram-se, nos meios de comunicação norte-americanos, artigos em que se insinuava uma conivência do Twitter com a alegada campanha de desinformação russa. No conhecido jornal Politico, por exemplo, um título afirmava que o “Twitter apagou dados potencialmente cruciais para a investigação à Rússia”.

    Paralelamente, o Congresso preparava-se para criar uma nova lei que ‘apertasse o cerco’ às redes sociais no que respeitava a anúncios publicitários de cariz político, exigindo às plataformas tecnológicas uma “maior divulgação” sobre estas matérias.

    Mark Taibbi apontou que o Twitter se mostrou disposto a colaborar com o Senado e “comprometeu-se a trabalhar com eles (membros do Senado) no seu desejo de legislar”. A legislação, intitulada Honest Ads Act, que teria como objectivo “proteger a integridade” das eleições norte-americanas, seria apresentada pelos senadores Democratas Amy Klobuchar, Mark Warner e John McCain.

    Membros do Partido Democrata, com a ajuda de alguns media mainstream, pressionaram o Twitter para “encontrar” contas “ligadas” à Rússia, no âmbito da sua estratégia política de alegar que russos estavam a querer interferir no processo eleitoral.

    Ainda assim, a pressão sobre a plataforma tecnológica então liderada por Jack Dorsey não abrandou. Mesmo quando a rede social se preparava para alterar as suas regras relativas a publicidade, e depois de ter, inclusivamente, concordado em remover as contas da RT e da agência de notícias russa Sputnik, o Congresso divulgou a lista de 2700 contas que o Twitter tinha inicialmente identificado e reportado como sendo “suspeitas” – causando um frenesim mediático e colocando, novamente, o Twitter “debaixo de fogo”.

    O Twitter acabou por permitir que agências de informação e segurança norte-americanas viessem a interferir na moderação de conteúdos na rede social, incluindo bloqueando contas e disseminando informação falsa, tendo mesmo contratado para os seus quadros antigos funcionários daquelas agências.

    Em consequência, o Twitter começou a censurar contas e conteúdos mais conservadores e a proteger o Partido Democrata, tendo ficado provado que interferiu nas eleições presidenciais que deram a vitória a Joe Biden, ao impedir a divulgação do caso do escândalo envolvendo o portátil de Hunter Biden, filho do actual presidente dos Estados Unidos.

    Desde 2020, o Twitter também perseguiu cientistas, peritos e médicos que criticaram a gestão da pandemia de covid-19 e avançaram com soluções baseadas na evidência.

    Anthony Fauci, conselheiro-chefe de Joe Biden para a saúde. Elon Musk anunciou que esta semana deverão ser divulgados os “Fauci Files” sobre a censura de informação verdadeira relativa à pandemia de covid-19.

    Estas revelações sobre as antigas práticas de censura do Twitter começaram a surgir por iniciativa de Elon Musk, que concluiu a compra da rede social em Outubro de 2022. Musk anunciou que, no final desta semana, deverão ser divulgados documentos internos envolvendo o principal rosto da gestão da pandemia nos Estados Unidos, Anthony Fauci, que copiou medidas sem precedentes implementadas pela China, como confinamentos e uso de máscara facial, sem qualquer base científica.

    Fauci também defendeu a censura de informação sobre a covid-19 e a imposição da vacinação geral contra a covid-19, incluindo em crianças e jovens, mesmo perante os alertas sobre os riscos das vacinas serem maiores do que os benefícios nos grupos etários com menos risco de enfrentarem doença grave ou morte devido à covid-19.

    [Pode ler aqui toda a cobertura dos “Twitter Files” feita pelo PÁGINA UM.]

  • #TwitterFiles: Como a CIA influenciou a censura de conteúdos no Twitter durante anos

    #TwitterFiles: Como a CIA influenciou a censura de conteúdos no Twitter durante anos

    Depois de se saber que o Twitter serviu durante anos como uma espécie de subsidiária do FBI, colaborou com o Departamento de Defesa dos Estados Unidos e que foi uma “arma” usada pelo Pentágono, foi agora revelado que também a norte-americana CIA reunia regularmente com antigos executivos daquela rede social. Está agora comprovado que os serviços de informação e segurança dos Estados Unidos indicavam ao Twitter o que censurar e quem perseguir na rede social. E que o Twitter foi usado, ao longo de anos, pelos serviços de informação e de defesa para fazer política, propaganda e como arma contra “adversários” e vozes incómodas. Em vários documentos internos do Twitter que têm estado a ser divulgados por iniciativa do novo dono da rede social, Elon Musk, ficou claro que os serviços de informação e segurança norte-americanos não “trabalhavam” apenas com o Twitter mas também com outras grandes tecnológicas e redes sociais.


    Nas últimas séries dos chamados “Twitter Files”, já tinha sido revelado o “compadrio” que, ao longo de anos, existiu entre a plataforma tecnológica, agências de inteligência norte-americanas como o FBI, e o Departamento de Defesa, para a implementação de práticas de censura e amplas campanhas de desinformação no Twitter.

    Agora, com a divulgação de novos documentos internos da empresa, no passado sábado, o jornalista independente Matt Taibbi assegurou que a CIA [Central Intelligence Agency] também fazia parte da ‘equação’.  

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    Além de revelar que um antigo executivo do Twitter já havia trabalhado para a CIA, Taibbi divulgou comunicações internas que remontam a Julho de 2020 e que mostram Stacia Cardille, uma funcionária da rede social, a informar Jim Baker, antigo advogado do FBI e, na altura, recém-contratado pelo Twitter, de que a CIA também deveria “juntar-se virtualmente” a uma conferência onde participariam os quadros da gigante tecnológica e o FBI.  

    Noutra mensagem, um agente do FBI, Elvis Chan, pergunta a dois executivos do Twitter se pode reencaminhar um “convite” a outra “OGA” (Other Government Organization), [em português, “Outra Organização Governamental”].

    Matt Taibbi explicou que, de acordo com vários ex-agentes de serviços de informação norte-americanos, “OGA” é um “eufemismo” utilizado para designar a CIA. O jornalista referiu que um denunciante e antigo agente da CIA, John Kiriakou, “reconhece o formato” das comunicações que agora vieram a público, e que acredita que vêm mesmo daquela entidade governamental. 

    Facto é que as reuniões entre executivos do Twitter, a Foreign Influence Task Force [FITF], membros do FBI e “um ou dois” participantes da dita “OGA” eram frequentes. Na “ordem de trabalhos” anexada nas convocatórias para as reuniões, um dos pontos a abordar era quase sempre um briefing da OGA”, que normalmente versava sobre assuntos estrangeiros.

    Mas não eram apenas matérias ‘supranacionais’ que preocupavam e ocupavam as agências governamentais e a famosa rede social. A FITF e o departamento do FBI de São Francisco transmitiam também ao Twitter pedidos de “moderação” de outras entidades, nomeadamente de polícias locais, sobre assuntos “domésticos”. Ou seja, nacionais. Estas solicitações eram, com frequência, enviadas através do canal unidirecional Teleporter, e com um ‘temporizador’ para a sua autodestruição.

    Saliente-se ainda que, segundo Taibbi, a “OGA” partilhava informações com plataformas com várias plataformas, incluindo o Yahoo!, a Twitch e o LinkedIn.

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    Matt Taibbi afirmou que, sobretudo na véspera das eleições presidenciais de Novembro de 2020, as agências ‘inundaram’ o Twitter com pedidos respeitantes a centenas de “contas problemáticas”. Na verdade, pouco tempo antes das eleições, o abundante influxo de solicitações por parte do governo ‘obrigou’ mesmo a rede social a ter de criar um sistema de triagem de modo a ‘priorizar’ as mais urgentes.

    A diligente monitorização de violações aos termos de uso do Twitter por parte das agências governamentais chegou a causar alguma perplexidade entre os executivos da rede social. Numa troca de mensagens, Jim Baker comentou com Stacia Cardille: “estranho que eles estejam à procura de violações das nossas políticas”.

    Como já tinha vindo à luz noutras séries de “Twitter Files”, a insistente procura de provas de interferência estrangeira pelas agências de inteligência norte-americana – que pareciam sempre escassas – levava os funcionários da rede social a ser “criativos” nas suas respostas, no sentido de ir ao encontro dos pedidos dos agentes governamentais.

    Em Agosto passado, após ter ‘passado a pente fino’ uma série de contas, um analista chegou a responder que não encontrara “ligações à Rússia” mas podia “tentar encontrar uma conexão mais forte [à Rússia]” fazendo “brainstorm”.

    Aos relatórios que os serviços de informação enviavam ao Twitter, que eram geralmente curtos, seguiam-se longas listas de contas ‘rotuladas’, por exemplo, como “pró-Maduro”, “pró-Cuba”, “pró-Rússia”.  Por vezes, eram mais de mil as contas a ser “digitalmente executadas”.

    Os conteúdos dos relatórios iam desde a sinalização de contas com suposta “propaganda ucraniana neo-nazi” a alegações de que “as contas que acusam a administração de Joe Biden de corrupção na distribuição de vacinas fazem parte de uma campanha de influência russa” ou, ainda, de que um site que relatava violações de direitos humanos cometidas por ucranianos desde 2014 era “dirigido por agentes russos”.

    De facto, as narrativas “anti-Ucrânia” estavam entre as mais perseguidas: em vários relatórios das agências governamentais, constavam precisamente as publicações em jornais, no Twitter ou no Youtube que disseminavam esse tipo de discurso.

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    A divulgação de documentos internos do Twitter, sobre as antigas práticas de censura praticadas naquela rede social, partiu de uma iniciativa de Elon Musk, novo dono do Twitter. Musk tem estado a entregar documentação interna a jornalistas independentes e autores que fazem investigação, os quais têm estado a analisar e a publicar as suas descobertas.

    Ontem, foram feitas novas revelações, as quais vieram comprovar que o Twitter censurou informação verdadeira sobre a pandemia de covid-19.

    Antigos funcionários e executivos do Twitter também censuraram contas de médicos e especialistas com visões e soluções diferentes das adoptadas pelo governo norte-americano na gestão da pandemia. Segundo as novas revelações, até contas de utilizadores comuns foram alvo de censura, sendo suprimida informação com dados oficiais verdadeiros da CDC (Centers for Disease Control and Prevention).

    [Pode ler aqui toda a cobertura dos “Twitter Files” feita pelo PÁGINA UM.]

  • #TwitterFiles: Rede social ajudou o Pentágono a espalhar desinformação e propaganda

    #TwitterFiles: Rede social ajudou o Pentágono a espalhar desinformação e propaganda

    Depois de ser revelado pelos “Twitter Files” que o FBI punha e dispunha da rede social como se fosse uma sua “subsidiária”, ficou agora a saber-se que a rede social também ajudou o Pentágono a influenciar operações militares. Segundo a oitava parte dos “Twitter Files”, divulgada pelo jornalista de investigação Lee Fang, os anteriores executivos e funcionários do Twitter ajudaram o Pentágono a espalhar propaganda e informação falsa durante, pelo menos, cinco anos. A campanha de desinformação que o Twitter ajudou a espalhar incluiu a criação de perfis falsos e vídeos manipulados.


    O escândalo de dimensões gigantescas que está a ser exposto pela divulgação de documentos e mensagens internos do Twitter não pára de aumentar. Na oitava parte dos chamados “Twitter Files”, o jornalista de investigação Lee Fang revelou como os anteriores executivos e funcionários do Twitter ajudaram o Pentágono numa campanha de propaganda e desinformação.

    A ajuda do Twitter ao Pentágono, que durou cerca de cinco anos, permitiu que uma rede de contas falsas criadas pelo Pentágono manipulasse a opinião pública sobre os conflitos envolvendo o Iémen, o Iraque, o Estado Islâmico, a Síria e o Kuwait.

    As contas em causa publicavam frequentemente sobre as políticas das Forças Armadas norte-americanas no Médio Oriente, e mensagens desfavoráveis ao Irão. Para além da região árabe, algumas visavam profusamente a Rússia e a China.

    Estas informações, que vieram a público na noite de terça-feira, contrariam as afirmações que a gigante tecnológica fez no passado, quando anunciou estar a “investir fortemente” na transparência relativamente a “operações de informação” apoiadas pelo governo que constituíssem “comportamento coordenado de manipulação”.

    Com efeito, não só o Twitter permitiu actividade de propaganda militar pela Defesa norte-americana, como o fez durante anos. Em Julho de 2017, uma funcionária do Comando Central norte-americano (CENTCOM) – uma divisão do Departamento da Defesa – enviou à rede social uma lista de 52 contas em língua árabe para serem “whitelisted”, ou seja, terem o seu estatuto de verificação aprovado.

    Nesse mesmo dia, a empresa atribuiu-lhes ainda o “privilégio” de ficarem isentas da sinalização por spam ou “abuso”, e uma maior visibilidade e probabilidade de se tornarem “tendência”. Num dos e-mails, a CENTCOM disse que usavam as contas para “amplificar certas mensagens”.

    Embora inicialmente os perfis não escondessem ligações à Defesa norte-americana, mais tarde acabaram por se tornar totalmente ‘camufladas’ para se fazerem passar por pessoas reais. Várias das contas em questão acusavam o Irão de “ameaçar a segurança da água do Iraque” e de ficar com os “órgãos de refugiados afegãos”. Para simular a sua autenticidade, algumas tinham imagens de perfil criadas por Inteligência Artificial (denominadas deepfake). Uma delas alegava ser uma fonte de “opinião iraquiana”.

    As comunicações internas agora reveladas mostram que a rede social tinha conhecimento da operação de propaganda encetada pelas Forças Armadas norte-americanas, mas permitiu a manutenção das contas, mesmo estando em violação dos seus termos de utilização.

    De facto, muitas foram identificadas ainda em 2020, mas permaneceram activas ainda durante esse ano. Algumas só foram suspensas este ano, e outras não chegaram a ser eliminadas até hoje.

    Em Agosto passado, um relatório da Universidade de Stanford intitulado “Stanford Internet Observatory” ‘desmascarou’ a rede de propaganda que a Defesa norte-americana mantinha contra os seus “adversários” internacionais. A ‘operação’ utilizava várias redes sociais: para além do Twitter, também o Facebook e o Telegram.

    [Pode ler aqui toda a cobertura dos “Twitter Files” feita pelo PÁGINA UM]

  • #TwitterFiles: FBI cria “manto de desinformação” para apagar factos verídicos sobre filho de Joe Biden

    #TwitterFiles: FBI cria “manto de desinformação” para apagar factos verídicos sobre filho de Joe Biden

    Na sétima parte dos “Twitter Files, o escritor Michael Shellenberger revelou a campanha de desinformação levada a cabo pelo FBI e serviços de informação norte-americanos junto das redes sociais, e especialmente do Twitter, e de órgãos de comunicação social para desacreditarem informação verídica sobre o caso do portátil do filho de Joe Biden, actual presidente dos Estados Unidos, que mostrava relações promíscuas com empresas ucranianas. Ficou também a saber-se que os contribuintes norte-americanos pagaram, através do FBI, mais de 3,4 milhões de dólares ao Twitter, em pouco mais de um ano, para alegadamente compensar o tempo gasto por funcionários daquela rede social a responder às suas solicitações.


    O Federal Bureau of Investigation (FBI) e serviços de informação norte-americanos actuaram junto do Twitter e outras redes sociais e a imprensa para desacreditarem informação verídica sobre o caso do portátil de Hunter Biden, filho do actual presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e então candidato presidencial.

    O escritor Michael Shellenberger divulgou ontem os “Twitter Files – Parte 7” onde demonstra como factos verdadeiros sobre os negócios de Hunter Biden na Ucrânia foram intencionalmente desacreditados para proteger a campanha de Biden para as eleições norte-americanas de Novembro de 2020.

    Segundo Shellenberger, o FBI pressionou o Twitter para que suprimisse a polémica história sobre o portátil de Hunter Biden, publicada pelo jornal New York Post em Outubro de 2020, que dava conta de negócios suspeitos entre o filho do actual presidente norte-americano e empresários ucranianos.

    A agência governamental disse mesmo a executivos da rede social que a descoberta dos conteúdos incriminatórios só poderiam constituir uma operação russa de “hack and leak” [pirataria informática e manipulação dos media]. Repetindo a narrativa da “desinformação russa”, o FBI tentou, e conseguiu, descredibilizar o caso como sendo uma “tentativa de interferência estrangeira” nas eleições presidenciais norte-americanas.

    Embora verdadeira, a notícia acabaria por ser censurada por diversas plataformas tecnológicas, incluindo o Twitter, que impediram a sua disseminação.

    A campanha de desinformação junto das plataformas de redes sociais e imprensa ocorreu antes e depois da notícia publicada no New York Post.

    Recorde-se que, no seguimento de uma intimação, o FBI se encontrava na posse do portátil de Hunter Biden desde Dezembro de 2019, após John Paul Mac Isaac, o dono de uma loja de computadores em Delaware, ter contactado a agência governamental. Sem ter obtido resposta do FBI durante meses, Mac Isaac decidiu, em Agosto de 2020, “dar” a história a Rudy Giuliani, ex-prefeito de Nova Iorque e antigo advogado de Trump, que posteriormente a transmitiu ao New York Post.

    Como salienta Shellenberger, muitos dos altos quadros do FBI tinham transitado em 2020 para o Twitter, com destaque para Jim Baker e Dawn Burton – que estiveram envolvidos numa investigação a Trump.

    Após o “furo” do New York Post, um dos executivos de topo do Twitter, Yoel Roth, admitiu internamente que a história “não viola claramente a nossa Hacked Materials Policy, nem está em clara violação de nenhum outro [termo]”, mas ressalvou, contudo, que “se parece bastante com uma subtil operação de fuga [de informação]”.

    Os documentos agora revelados mostram que Jim Baker respondeu questionando a autenticidade dos materiais encontrados sobre Hunter Biden, insistindo que teriam sido “hackeados” ou “fabricados”. Shellenberger considera, no entanto, “inverosímil” que Baker acreditasse realmente que os conteúdos fossem “falsos”, já que o FBI detinha o polémico portátil e um recibo assinado por Hunter Biden a comprovar que o aparelho era, de facto, seu.

    A procura por provas de uma eventual “interferência estrangeira” era então persistente: o FBI chegou a solicitar que o Twitter providenciasse informações que nem estava legalmente possibilitado de facultar, obrigando os executivos da rede social a colocar um “travão” aos pedidos da agência governamental. Na verdade, as agências de inteligência norte-americanas queriam mesmo que a rede social alterasse as suas políticas de forma a permitir a pretendida partilha de dados.

    Curiosamente, as preocupações do FBI sobre novas tentativas de “interferência estrangeira” pareciam infundadas. De facto, quando questionados pela agência – algo que aconteceu com frequência –, sobre a existência de actividade russa suspeita na rede social, os executivos do Twitter disseram ter identificado “muito pouca”.

    Este “processamento de solicitações do FBI” compensou financeiramente o Twitter, que conseguiu arrecadar mais de 3,4 milhões dólares em cerca de um ano. Num e-mail endereçado a Jim Baker em Fevereiro de 2021, um funcionário da rede social congratulou-se pelo montante auferido desde Outubro de 2019, acrescentando que seria canalizado para diversos projectos, alguns de carácter legal.

    A rede social agora liderada por Elon Musk não foi, porém, a única a enfrentar as tentativas de intromissão do FBI. O presidente-executivo do Facebook, Mark Zuckerberg, também chegou a admitir que a agência alertou a sua equipa, argumentando que tinha havido “muita propaganda russa nas eleições de 2016” e que uma revelação similar estaria prestes a suceder.

    Estas revelações, feitas ontem à noite, surgiram horas depois de Elon Musk, novo dono do Twitter, ter lançado uma sondagem questionando se deveria deixar a liderança da empresa. Cerca de 57,5% dos internautas, responderam que sim, sendo certo que Musk já anunciara em Novembro passado, pouco tempo após a aquisição do Twitter por 44,4 mil milhões de dólares, que não queria ser CEO (presidente executivo) de nenhuma das suas empresas, o que incluirá a Tesla e a Space X.

  • #TwitterFiles: FBI tinha na rede social uma “subsidiária” para censurar contas

    #TwitterFiles: FBI tinha na rede social uma “subsidiária” para censurar contas

    São cada vez mais preocupantes, num mundo que se quer democrático, e com liberdade de expressão, as revelações de mais um episódio dos #TwitterFiles, que mostram, em concreto, as interferências de organismos governamentais norte-americanos com política própria de censura. Na sexta série de documentos sobre as práticas da anterior administração desta rede social, ficou-se a saber que o FBI punha e dispunha do Twitter, como se fosse uma sua “subsidiária” para suspender contas por delitos de opinião, mesmo se fossem sátiras. Paradoxalmente, enquanto a imprensa mainstream quase ignora esta revelações, Elon Musk está a enfrentar um coro de críticas por suspender contas de jornalistas que insistiram em fazer doxxing, ou seja, revelar a localização exacta do avião do novo dono do Twitter.


    Enquanto a imprensa mainstream vocifera contra Elon Musk por ter suspendido temporariamente contas de jornalistas norte-americanos que revelaram a localização online do seu avião, continuam as revelações bombásticas sobre os procedimentos da anterior administração do Twitter. Ontem mesmo o novo dono da rede social já tinha feito um tweet comentando a divulgação da sexta série dos #Twitter Files, novamente a cargo do jornalista independente Matt Taibbi, com um “KABOOM”, seguido de ícones de cinco explosões.

    E, de facto, não é caso para menos. As revelações são mesmo bombásticas – ou seria, num período normal de imprensa livre e comprometida apenas com a verdade: segundo os documentos agora revelados, após as eleições presidenciais norte-americanas de 2016, o FBI e o Twitter desenvolveram uma estreita “parceria”, que aparentava mais do que uma colaboração, abarcando frequentes pedidos daquela agência governamental para que a gigante tecnológica tomasse providências em relação a contas que alegadamente partilhavam “desinformação” em períodos eleitorais. Porém, mais na linha dos democratas do que na dos republicanos.

    Elon Musk, novo dono do Twitter, tem estado a divulgar documentos internos da rede social que provam as antigas práticas de censura da empresa. Vozes do lado político mais conservador eram visadas pela censura, tal como cientistas de topo que se mostraram contra as medidas de alegado combate à covid-19.

    E nem mesmo os posts e contas de sátira e humor, independentemente de terem muitos ou poucos seguidores escapavam à censura na rede social para satisfação do FBI.

    Matt Taibbi afirma, nos tweets que começou a revelar ontem à noite, que estes contactos eram feitos de um modo tão “constante e generalizado” que o Twitter se comportava como uma “subsidiária” do FBI.

    Exemplifica: “Entre Janeiro de 2020 e Novembro de 2022, houve mais de 150 e-mails entre o FBI e o ex-chefe de Confiança e Segurança do Twitter, Yoel Roth”, acrescentando que uma grande parte destas comunicações eram advertências sobre alegadas violações das regras da rede social por parte dos utilizadores devido à difusão de desinformação eleitoral.

    Para além do FBI, a antiga administração do Twitter recebia ainda relatórios de outras agências governamentais que alertavam para conteúdos que constituíam alegada “desinformação”, incluindo uma chancela criada pelo denominado Centro para a Segurança na Internet, uma organização que actuava em parceria com o Departamento de Segurança Interna (DHS, na sigla em inglês).

    No caso do FBI, Matt Taibbi explicou que a agência governamental começara por criar uma pequena task-force direcionada para as redes sociais – designada por FTIF – após as eleições presidenciais de 2016, quando Donald Trump derrotou a democrata Hillary Clinton. Essa “equipa”, porém, evoluiu para 80 agentes, que passaram a manter contacto com o Twitter, de modo a “identificar alegadas influências externas e quaisquer formas de interferência nas eleições”. E a actuar, claro.

    Logo em 5 de Novembro daquele ano, através de um e-mail, o Departamento de Comando de Eleições Nacionais (NECP na sigla em inglês) do FBI enviou ao Twitter uma longa lista de contas que, supostamente espalhavam desinformação sobre as eleições intercalares, e que, segundo sugeria, poderiam justificar “acções adicionais” por parte da rede social. Desta lista constava, por exemplo, a conta do actor Billy Baldwin, irmão de Alec Baldwin. A rede social respondeu prontamente, informando o FBI das providências tomadas. Hoje mesmo este actor norte-americano veio ironizar sobre a acção do FBI em silenciar a sua liberdade de expressão. “Isso é o trabalho de Elon Musk”, atirou.

    Matt Taibbi também diz não ter dúvidas, com base nos documentos disponibilizados por Elon Musk – que tem optado por ostracizar e mesmo criticar a imprensa mainstream –, de que a alegada interferência russa nas eleições presidenciais de 2016 – e que teria contribuído para a vitória de Trump, suspeita que se revelaria falsa – serviu de pretexto para a criação de uma “máquina de censura” nas redes sociais. Um processo que este jornalista independente considera “análogo” ao incremento do “estado securitário” após o ataque do 11 de Setembro.

    assorted-color security cameras

    Em resposta a esta sexta parte dos “Arquivos do Twitter”, o FBI emitiu ontem um comunicado, salientando que “contacta regularmente com entidades do sector privado para fornecer informações específicas para as actividades subversivas, não declaradas, encobertas ou criminosas de actores malignos estrangeiros identificados”, adiantando que essas entidades é que “decidem de forma independente sobre qual a acção, se alguma, tomam nas suas plataformas e para com os seus clientes. Estas declarações do FBI foram classificadas por Matt Taibbi, na sua página de Twitter, como “desonestas em múltiplas frentes”, acusando a agência governamental de estar a fazer “controlo de opinião”, mesmo em utilizadores de redes sociais com poucos seguidores.

    O jornalista diz mesmo que aquilo que muitos começam a ver, nestas revelações, é como a existência de um “deep state” [“Estado paralelo”] é na verdade uma colaboração entre agências governamentais, empresas privadas e organizações não-governamentais (por vezes financiadas pelo Estado)”.

    Elon Musk tem ironizado com a polémica levantada pela imprensa mainstream sobre a suspensão de contas de jornalistas que fizeram doxxing.

    Desde que permitiu a divulgação de documento internos da anterior administração, nos já denominados “Twitter Files”, Elon Musk tem sido alvo de muitas críticas e de doxxing, uma forma de assédio em que é revelada na Internet a localização, em tempo real, da pessoa visada. Foi, aliás, invocando sérios riscos para a sua segurança e da sua família, que Musk alertou, no início da semana passada, que as contas que incorressem nessa prática seriam suspensas.

    No entanto, o multimilionário acabou por optar, após uma chuva de críticas das mais altas instâncias – incluindo Nações Unidas e Comissão Europeia –  pela realização de uma sondagem online, no Twitter para os seus seguidores – que já são mais de 120 milhões –, pelo que levantou a suspensão das contas. Mas não deixou de ironizar num tweet a postura da comunicação social mainstream: “Tão inspirador ver o recém-descoberto amor da imprensa pela liberdade de expressão”, escreveu Musk ontem à noite.

  • Antigo presidente-executivo do Twitter admite culpa em práticas de censura

    Antigo presidente-executivo do Twitter admite culpa em práticas de censura

    Perante a gravidade das revelações que têm sido feitas pelo caso “Twitter Files”, sobre as antigas práticas de censura da rede social, o ex-CEO da tecnológica, Jack Dorsey, veio assumir a culpa e dar algumas explicações. Dorsey defendeu que uma empresa como o Twitter deve ser resiliente contra a tentativa de controlo por parte de governos ou de empresas. Mas revelou que desistiu de tentar impor essa regra depois da entrada de um investidor activista no Twitter, no início de 2020, que pretendia afastá-lo do cargo. E alertou: “as empresas tornaram-se demasiado poderosas, e isso tornou-se completamente claro para mim com a nossa suspensão da conta de Trump”. E assume que o Twitter fez “a coisa errada para a Internet e para a sociedade”. Contudo, afastou que houvesse alguma agenda escondida ou planos ocultos por detrás das vastas práticas de censura, apesar de, na suspensão de Trump, a decisão ter sido claramente do foro ideológico e as mensagens internas apontarem para uma concertação entre executivos da rede social. Entretanto, o novo dono do Twitter, Elon Musk, sinalizou que poderão estar a caminho revelações sobre a censura que a rede social fez em torno do tema da pandemia de covid-19, com eventual envolvimento do governo norte-americano.


    Jack Dorsey, o antigo presidente-executivo do Twitter, assumiu a responsabilidade pelas práticas de censura praticadas pela rede social sob a sua liderança, que incluíram a suspensão permanente da conta do então presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sem que tivesse havido violação de regras da empresa.

    A reação de Dorsey foi feita no Twitter, onde remeteu para um texto publicado num blog. Esta resposta de Dorsey surge na sequência do caso “Twitter Files”, que trouxe à luz do dia documentos internos do Twitter que revelam a forma como antigos executivos da rede social censuraram contas de vozes conservadoras por motivos ideológicos, protegeram o então candidato presidencial democrata Joe Biden, e silenciaram cientistas de topo que se mostraram contra as medidas de combate à covid-19.

    Também se ficou a saber que o Twitter reunia com o FBI e outras agências de informação norte-americanas na tomada de decisões. [Pode ler aqui a cobertura do PÁGINA UM aos “Twitter Files”.]

    “Se quiserem culpar [alguém], culpem-me a mim e às minhas decisões ou falta delas”, asseverou Dorsey no seu texto. Explicando quais os princípios em que passou a acreditar, em relação ao funcionamento de redes sociais, após a sua experiência como co-fundador e líder do Twitter, Dorsey confessou que a rede social que dirigia “não atendia a nenhum” deles.

    O empresário assumiu ainda ter desistido da sua visão para a plataforma após a entrada de um accionista activista nas acções da empresa em 2020, momento a partir do qual diz ter começado a planear a sua saída.

    Dorsey não mencionou o nome do investidor mas tratar-se-á do fundo de investimento Elliot Management, de Paul Singer – um conhecido apoiante do Partido Republicano – que comprou, em Fevereiro de 2020, uma fatia de 4% do Twitter e movimentou-se para afastar o então CEO. Um acordo anunciado pelo Twitter, no início de Março, veio acentuar a perspectiva de saída de Dorsey e o reforço do poder do fundo na companhia.

    No seu texto, Dorsey começou por dizer que as redes sociais não se devem vergar ao “controlo corporativo e governamental”; a remoção de conteúdos deve ser reservada ao seu autor original, e a “moderação” deve ficar a cargo dos algoritmos.

    O empresário disse ser evidente que “os governos querem moldar e controlar o debate público” e que “usarão todos os métodos à sua disposição para o fazer, incluindo os media“. Para resistir a esse controlo, defende ser fundamental que as pessoas disponham de meios, e que esses meios sejam, em última análise, “detidos pelas pessoas”.

    Jack Dorsey

    Para Dorsey, no entanto, a suspensão da conta de Trump, tornou “completamente claro que as empresas tornaram-se poderosas demais”. O co-fundador do Twitter vê como uma ameaça que governos ou corporações possam dominar o debate público, uma vez que abre portas a um “controlo centralizado”.

    As informações expostas pelos “Twitter Files” evidenciaram um plano concertado pelos altos executivos da empresa para banir Donald Trump. Contudo, o antigo CEO da rede social disse continuar a acreditar que não existiram “más intenções ou planos ocultos”, e afirmou que a equipa agiu em concordância com “as melhores informações” que tinham na altura.

    Dorsey admitiu ainda que um dos seus maiores erros foi ter criado ferramentas para que fosse o Twitter a moderar o discurso, ao invés de ferramentas para que os próprios utilizadores o fizessem. “Acredito fortemente que qualquer conteúdo produzido por alguém para a internet deve ser permanente até que o autor original decida excluí-lo”, afirmou, acrescentando que “remoções e suspensões de conteúdo não deviam ser possíveis”.

    Elon Musk, novo dono do Twitter, tem estado a divulgar documentos internos da rede social que provam as antigas práticas de censura da empresa. Vozes do lado político mais conservador eram visadas pela censura, tal como cientistas de topo que se mostraram contra as medidas de alegado combate à covid-19.

    O empresário, que abandonou o cargo de presidente-executivo da gigante tecnológica em Novembro do ano passado, disse ser ainda seu desejo que “o Twitter e todas as empresas se tornem desconfortavelmente transparentes em todas as suas ações”. E confessou: “gostava de ter forçado mais [isso]”.

    Segundo Dorsey, a solução para um excessivo controlo corporativo e governamental do debate público passa obrigatoriamente por um “protocolo livre e aberto para as redes sociais”, que não esteja sob a alçada de uma única empresa ou grupo empresarial. E fornece alguns exemplos de projectos que, na sua opinião, estão a fazê-lo, como a Bluesky – que Dorsey fundou – e a Mastodon. O antigo CEO do Twitter comparou o seu modelo ideal a aplicar às redes sociais com a bitcoin e as redes descentralizadas, sendo que Dorsey é um adepto da criptomoeda mais valiosa do mundo.

    Um assumido defensor da libertação de Julian Assange, Jack Dorsey revelou, por outro lado, que gostava que os polémicos “Twitter Files” tivessem sido divulgados ao “estilo Wikileaks”, com “muito mais olhos e interpretações a serem considerados”.

    Elon Musk preferiu dar os documentos internos a jornalistas independentes, que os estão a analisar e a fazer as revelações, após ouvir também testemunhos de funcionários da rede social. Musk deixou completamente de lado os media mainstream, os quais critica frequentemente, acusando-os de parcialidade e falta de isenção. Aliás, poucos têm sido os grandes grupos de media a noticiar os “Twitter Files”, apesar da gravidade das revelações que têm emergido, e os que noticiam fazem-no sem dar destaque.

    person holding blue and white box

    Dorsey deixou também uma palavra relativamente aos antigos executivos do Twitter que, com as suas conversas privadas reveladas, estão entre os principais visados com a divulgação dos documentos internos da empresa. “Os ataques actuais aos meus ex-colegas podem ser perigosos e não resolvem nada”, argumentou.

    Saliente-se que Yoel Roth, o antigo chefe do departamento de Confiança e Segurança da rede social, tem sido alvo de ameaças, que se intensificaram durante o fim-de-semana, após rumores de que apoiava a pedofilia terem emergido. Na passada segunda-feira, a CNN noticiou, aliás, que o ex-funcionário do Twitter se viu mesmo obrigado a fugir de casa face a uma “tempestade de ataques”.

    Quanto ao futuro, Jack Dorsey mostrou-se otimista e confiante de que a rede social que liderou está a caminhar em direcção a compromissos de “transparência”. “Não há nada a esconder… apenas muito a aprender”, reiterou.

    Entretanto, aguardam-se novas revelações dos “Twitter Files”, antecipando-se que também surjam informações e documentos internos do Twitter sobre a censura que a rede social praticou em torno do tema da pandemia de covid-19.

    Depois de ter publicado, recentemente, um conjunto de tweets em que atacou ferozmente Anthony Fauci, conselheiro para a saúde do presidente dos Estados Unidos, Musk respondeu hoje a uma questão sobre a censura que o Twitter aplicou em torno do tema da covid-19.

    “Deixe-me adivinhar, descobriu mensagens entre executivos do Twitter e o nosso govt. [governo] (Fauci e equipa) a pressionar para a censura de alguém que não acompanhou a sua narrativa na covid?” questionou um utilizador no Twitter. Musk respondeu simplesmente com a imagem de um troféu.

    Antes, já tinha sido revelado que um dos criadores da Declaração de Great Brarrington, que defende uma gestão da pandemia concentrada na “protecção focada”, Jay Bhattacharaya, foi alvo de diversas ferramentas de censura pelos antigos executivos do Twitters. Outros cientistas de topo foram mesmo suspensos, como foi o caso do inventor da tecnologia de mRNA, Robert Malone, tendo agora Elon Musk levantado essa suspensão.

    Não foi só o Twitter que censurou cientistas e médicos durante a pandemia, tendo outras redes sociais executado acções similares, tal como grande parte dos maiores grupos de media, tendo chegado mesmo a permitir a divulgação de desinformação e artigos difamatórios sobre os “dissidentes”.

  • #TwitterFiles: Trump foi banido pela administração anterior do Twitter apenas por razões ideológicas

    #TwitterFiles: Trump foi banido pela administração anterior do Twitter apenas por razões ideológicas

    Sem motivos válidos para silenciar Donald Trump, no início de 2021 os executivos do Twitter definiram uma estratégia para suspenderem a conta do então ainda presidente dos Estados Unidos. A pressão de funcionários da rede social venceu e a conta de Trump foi suspensa a 8 de Janeiro do ano passado, dois dias após a invasão do Capitólio. Enquanto isso, as contas de outros líderes políticos mundiais não foram suspensas, apesar dos conteúdos gravíssimos de alguns dos seus tweets. Esta é a mais recente revelação dos chamados “Twitter Files”, que têm demonstrado ainda como a rede social censurou vozes conservadoras, protegeu o então candidato presidencial democrata Joe Biden, e silenciou cientistas de topo que se mostraram contra as medidas de combate à covid-19.


    O Twitter decidiu banir Donald Trump a 8 de Janeiro de 2021, dois dias após a invasão ao Capitólio, apesar de os funcionários terem reconhecido explicitamente, em mensagens internas, que o antigo presidente norte-americano não tinha violado nenhuma das regras da rede social com os seus dois últimos tweets.

    Nas publicações em causa, feitas durante a manhã do dia da sua suspensão, Trump informava que não estaria presente na cerimónia de inauguração de Joe Biden. Escreveu ainda: “Os 75.000.000 grandes Patriotas Americanos que votaram em mim, AMERICA FIRST [América em primeiro], e MAKE AMARICA GREAT AGAIN [fazer a América grande outra vez], terão uma VOZ GIGANTE no futuro. Não serão desrespeitados nem tratados injustamente de forma nenhuma!!!”.

    Divulgadas durante a tarde de ontem pela jornalista Bari Weiss, as novas informações da quinta parte de “Twitter Files”, revelam as conversas entre os executivos da empresa que resultariam na eliminação da conta de Trump. [Pode ler aqui a cobertura que o PÁGINA UM tem estado a fazer deste caso.]

    Donald Trump

    Entre exclamações e congratulações, a suspensão de Trump foi efusivamente celebrada pelos funcionários da rede social. “Well this feels like a piece of history” [“bem, isto parece histórico”, comentou um deles]. Com efeito, como adianta Bari Weiss, vários membros do staff consideravam mesmo que a decisão só pecou por tardia.

    Houve, no entanto, alguns funcionários que não aprovavam a decisão. Um deles explicou: “talvez porque venho da China, percebo muito bem como a censura pode destruir o debate público”. Ao que obteve como resposta de um colega: “eu compreendo esse receio (…), mas a censura pelo Governo é muito diferente de censura ao Governo”.

    Os funcionários do Twitter não escondiam a vontade de banir Trump da rede social, e mais de 300 chegaram a redigir uma carta aberta, publicada pelo Washington Post, que instava o então presidente-executivo da empresa, Jack Dorsey, a tomar essa decisão.

    Mas havia um problema. A deliberação da equipa do Twitter responsável por ‘avaliar’ os tweets era clara: Trump não tinha violado nenhuma regra. Anika Navaroli, uma executiva da rede social, informou o staff: “[o departamento de] Segurança analisou o tweet de DJT [Donald John Trump] e determinou que não houve, desta vez, nenhuma violação das nossas regras”. 

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    Não satisfeitos com o comunicado, menos de duas horas depois, alguns funcionários argumentaram que Trump incitou à violência de forma “codificada”. Vijaya Gadde, chefe do departamento de “Leis, Políticas e Confiança”, lançou dúvidas sobre se, os “patriotas americanos”, que Trump disse que “não iriam ser desrespeitados nem tratados injustamente de forma nenhuma” seriam os “invasores” do Capitólio. Estava assim dado o mote. Algumas horas depois, o Twitter anunciaria a suspensão por tempo indeterminado de Trump devido a “risco de incitamento acrescido à violência”.

    Depois de finalmente atingirem o seu objectivo, os funcionários do Twitter já engendravam novos actos de censura. Um membro da equipa disse que a conta de Donald Trump Jr [filho de Trump] “tinha também de ser fechada”. Outros, por seu turno, congeminaram então um combate à alegada “desinformação médica”. 

    Como destaca a jornalista Bari Weiss, a decisão de banir o antigo presidente norte-americano por “incitamento à violência” acaba por ser caricato face à ausência de reacção de tweets de outros líderes políticos com apelos directos e explícitos à violência e à discriminação.

    selective focus photography of stop road sign

    Foi o caso de um tweet do antigo primeiro-ministro da Malásia, Mahathir Mohamad, que afirmou em Outubro de 2020 que “os muçulmanos têm o direito de estar zangados e a querer matar milhões de franceses”. O Twitter apenas removeu a publicação por “glorificar a violência”, mas Mohamad não foi expulso da rede social.

    E há mais. Em Fevereiro de 2021, o governo do primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, ameaçou deter funcionários do Twitter na Índia por terem readmitido centenas de contas que o criticavam. Também esta situação não mereceu a suspensão da conta de Modi.

    Para além destes, Weiss refere ainda casos de dualidade de critérios do Twitter, que envolvem, por exemplo, o líder supremo iraniano, Ayatollah Khamenei, o actual presidente da Nigéria, Muhammadu Buhari, e o primeiro-ministro da Etiópia, Abiy Ahmed.

    Os antigos executivos do Twitter nunca suspenderam a conta do líder supremo do Irão, Ayatollah Khamenei,
    apesar do conteúdo de alguns dos seus tweets.

    Após a suspensão da conta de Donald Trump, algumas figuras políticas internacionais – incluindo o presidente francês Emmanuel Macron e a antiga chanceler alemã Angela Merkel – ainda chegaram a condenar a decisão. E Alexei Navalny, líder da oposição russa, qualificou, na altura, a conduta do Twitter como “um acto inaceitável de censura”. Mas a antiga administração da rede social manteve o banimento.

    Bari Weiss concluiu a quinta parte de “Twitter Files” explicando que não são as “decisões executivas” de uma rede social que estão em causa nesta investigação, mas o “poder de uma mão cheia de pessoas de uma empresa privada para influenciar o debate público e a democracia”.

  • Em terra de cegos, quem tem um olho é príncipe

    Em terra de cegos, quem tem um olho é príncipe

    Título

    O príncipe

    Autor

    NICOLAU MAQUIAVEL

    Editora (Edição)

    Ideias de Ler (Outubro de 2022)

    Cotação

    16/20

    Recensão

    Será mau o lobo, e bom o cordeiro? A moral judaico-cristã dir-nos-ia que sim, mas Nicolau Maquiavel certamente discordaria. Há mais de cinco séculos, o filósofo, diplomata e político nascido em Florença escreveu O príncipe, agora um clássico que dispensa apresentações, agora reeditado pela Ideias de Ler. Considerada uma das mais importantes e pioneiras obras da filosofia moderna e da ciência política, O príncipe é, em suma, um manual de instruções para líderes políticos sobre como atingir e manter o poder.

    Sendo largamente inspirado no implacável duque César Bórgia, filho ilegítimo do Papa Alexandre VI, este tratado político proscreveu todas as normas morais vigentes na época, o que originou o sobejamente conhecido, e pejorativo, termo “maquiavélico” – que se tornou um sinónimo de matreiro, diabólico, velhaco.

    No entanto, citando um provérbio português, quem diz a verdade não merece castigo; e há uma certa injustiça em acusar Maquiavel de “maquiavelismo”. Aquilo que o filósofo italiano fez não foi mais do que uma descrição nua e crua das dinâmicas de poder que a sua posição lhe permitiu observar de perto. Assim, a moral só ficou de fora de O príncipe, porque também fica, amiúde, nas relações humanas e sobretudo naquelas que envolvem poder e domínio. Além disso, convenhamos, a obra não pretende ser romântica, mas realista. Por isso, é uma análise despudorada da condição humana que choca as mentes puritanas, por desafiar a moral católica como pretenso barómetro dos hábitos e bons costumes.

    Também é importante entender-se o contexto histórico da época em que Maquiavel escreveu a obra, designadamente a instabilidade e a fragmentação política e governativa que assolava a península italiana renascentista, e que a tornava palco de constantes e disruptivas lutas pelo poder.

    Um estratega perspicaz, Maquiavel explica como deve o príncipe incumbente administrar os vários tipos de principados. Argumenta que o reinante deve fugir tanto do desprezo como do ódio, bem como dos bajuladores. Explica ainda como deve o líder tratar os seus aliados e súbditos, e preconiza que mais vale ser temido do que amado – mas nunca odiado. Defende que deve estar-se sempre preparado para usar a força e para fazer a guerra, aproveitando os tempos de paz, não para baixar a guarda, mas para exercitar-se ainda mais.

    A obra terá sido uma referência para vários líderes e governantes nestes últimos séculos, incluindo Napoleão Bonaparte, Henrique VIII, Luís XIV, Estaline e Hitler – o que abona a favor da eficiência dos pressupostos defendidos. Hoje, também continua a constar da bibliografia de políticos e dos seus conselheiros.

    De facto, mesmo após mais de cinco séculos da sua publicação, O príncipe continua relevante e os seus argumentos actuais, o que mostra que a natureza do Homem e do poder tem um carácter fortemente imutável; mesmo que as técnicas utilizadas se sofistiquem. Afinal, quem não identifica, por exemplo, esta exortação no cenário político contemporâneo?:

    “Deve, além disso, nas convenientes alturas do ano, ter os povos ocupados com festas e espetáculos; e, porque toda a cidade está dividida em corporações ou em classes, deve ter em conta estes coletivos, reunir-se com eles algumas vezes, dar de si exemplos de humanidade e munificência, detendo, no entanto, sempre firme a majestade da sua dignidade, pois isso jamais deve faltar em alguma coisa.”

    Moralmente reprovável ou não, a leitura deste clássico é imprescindível para todos. Quem quer aprender a ser maquiavélico, deve ler O príncipe. Quem não se quer deixar levar por um, também.