Autor: Maria Afonso Peixoto e Elisabete Tavares

  • André Sardet ganha ‘a sorte grande’ com espectáculo de fim de ano no Terreiro do Paço

    André Sardet ganha ‘a sorte grande’ com espectáculo de fim de ano no Terreiro do Paço


    ‘Ano Novo, Vida Velha’ para a empresa do cantor André Sardet, Domingo no Mundo, que começa 2024 com mais um espectáculo pago por entidades públicas através de ajuste directo. Desta vez, a produtora de espectáculos e organizadora de eventos do conhecido cantor encaixou 247,9 mil euros para organizar o concerto de passagem de ano no Terreiro do Paço, em Lisboa.

    O contrato foi feito sem concurso pela EGEAC-Empresa de Gestão de Equipamentos e Animação Cultural, que é a entidade responsável pela gestão dos espaços culturais da capital.

    O palco para o espectáculo de passagem de ano já estava montado, esta tarde, do Terreiro do Paço, em Lisboa. (Foto: Maria Afonso Peixoto)

    Segundo o contrato assinado no dia 27 de Dezembro e publicado ontem no Portal Base, a plataforma das compras públicas, o negócio foi efectuado por ajuste directo e envolve a montagem e produção do espectáculo anual para celebrar a passagem de ano na célebre praça lisboeta, junto ao Tejo.

    O espectáculo consiste num evento a ter lugar entre as 21H30 do dia 31 de Dezembro e as 01H00 de 1 de Janeiro de 2024 que inclui um concerto de ‘Os Quatro e Meia’ e a actuação do DJ Nuno Luz, antes e após a entrada em palco da banda de Coimbra.

    O contrato prevê que entre os dias 26 e 29 de Dezembro tenha lugar “a montagem de estruturas e equipamento de som, imagem e iluminação”, incluindo ecrãs. O dia 30 fica reservado para ensaios de som e luz.

    O cantor André Sardet detém quase todo o capital da empresa de entretenimento Domingo no Mundo que já ganhou 11,5 milhões de euros em contratos com entidades públicas nos últimos 14 anos.

    Já em Junho deste ano, a mesma empresa encaixou 110,5 mil euros da EGEAC num ajuste directo para a “a contratação da aquisição de serviços de conceção, coprodução e apresentação ao público do programa de Encerramento das Festas de Lisboa 2023”.

    A Domingo no Mundo, com um capital social de 5.000 euros, é detida maioritariamente pelo conhecido cantor, cujo nome completo é André Miraldo Sardé Pires, que tem uma participação de 4.900 euros no capital.

    Esta é, de resto, a quarta vez que a empresa de André Sardet é contratada pela EGEAC para organizar a festa de passagem de ano em Lisboa, sempre através de ajuste directo. Antes, a Domingo no Mundo já tinha sido a responsável pela principal festa de passagem de ano da autarquia lisboeta em 2009, 2016 e 2018.

    Num primeiro contrato, a empresa recebeu 100 mil euros num ajuste directo pela prestação de “serviços de produção referentes à passagem de Ano 2009 na Torre de Belém”. A EGEAC não indicou no Portal Base qualquer justificação para o ajuste directo, referindo apenas “não aplicável” no campo relativo à fundamentação.

    (Foto: Maria Afonso Peixoto)

    Em 2016, ganhou da EGEAC, também sem concurso, a verba de 164.172 euros para a “prestação de serviços com vista a assegurar a contratação dos artistas para o evento “Fim de Ano – Lisboa”, a realizar de 30 de dezembro de 2016 a 1 de janeiro de 2017″. Também neste caso indicou “não aplicável” na alínea relativa à fundamentação para o recurso à forma do ajuste directo.

    A última vez que tinha organizado o espectáculo de passagem de ano da autarquia lisboeta foi em 2018, num ajuste directo que lhe valeu uma receita de 193.200 euros relativa a “Passagem de Ano 2018-2019- Contratação da Prestação de Serviços de Coprodução e apresentação ao público dos espetáculos de Daniel Pereira Cristo, Richie Campbell e de Fogo-de-artifício, no âmbito do programa de Celebração da Passagem de Ano 2018-2019”. Neste caso, a justificação dada pela EGEAC para o ajuste directo foi “por motivos artísticos e de proteção de direitos exclusivos de representação dos artistas e criadores envolvidos nos espetáculos”

    No total, a EGEAC já rendeu à Domingo no Mundo mais de 815 mil euros em ajustes directos adjudicados desde 2009, dos quais 715 mil euros foram contratados nos últimos oito anos.

    O portfólio da Domingo no Mundo, na sua página na Internet, inclui o espectáculo de passagem de fim de ano no Terreiro do Paço, em 2018. A empresa já tinha organizado a festa de passagem de ano da autarquia lisboeta de 2016 e 2009. (Foto: captura de ecrã)

    O PÁGINA UM questionou, por e-mail, o presidente da EGEAC, Pedro Moreira, sobre o porquê da escolha da empresa Domingo no Mundo para a realização do espectáculo em causa e também sobre como foi definido o preço a pagar e se foram contactadas outras organizadoras de eventos/produtoras.

    Em resposta por e-mail às perguntas do PÁGINA UM, a assessora de imprensa da EGEAC, Susana Branco, afirmou que “todos os anos a EGEAC recebe propostas de vários promotores culturais para o espetáculo de Passagem de Ano, selecionando a que melhor se enquadre no perfil definido para o ano em questão e que assegure a representatividade dos artistas pretendidos, bem como apresente algumas componentes de inovação”.

    Escreveu ainda que “selecionada a proposta, desenvolve-se o processo que permite assegurar todas as condições do espetáculo, concretizando-se, assim, o contrato”. Quanto ao preço pago pelo espectáculo, apenas indicou que “a EGEAC dispõe de um orçamento para a Passagem de Ano pelo que a proposta selecionada terá de se enquadrar nessa vertente orçamental”.

    O Terreiro do Paço, em Lisboa, tem sido o local predilecto para a organização de um espectáculo de passagem de ano pelo município da capital. (Foto: Maria Afonso Peixoto)

    Ou seja, ao invés de a EGEAC lançar um concurso, com um caderno de encargos, em que várias empresas apresentam as respectivas propostas, aquela entidade municipal opta pela opacidade de anunciar meramente um contrato com uma empresa que selecciona num processo nada transparente.

    Isto porque se desconhecem as restantes “propostas” de outras empresas que chegaram à EGEAC com vista à montagem e produção do espectáculo de passagem de ano.

    De resto, este é apenas mais um contrato por ajuste directo ganho pela empresa de André Sardet que, desde 2009, já encaixou receitas de perto de 11,5 milhões de euros em 176 contratos com entidades públicas, de acordo com dados do Portal Base.

    Vista das estruturas do palco montado para o concerto de passagem de ano estão já montados no Terreiro do Paço, em Lisboa. (foto: Maria Afonso Peixoto)

    Só em 2023, a Domingo no Mundo assinou 22 contratos com entidades públicas, dos quais 14 foram por ganhos por ajuste directo, enquanto os oito contratos restantes foram conseguidos após um procedimento de ‘consulta prévia’ ou ‘concurso público’.

    Dos contratos assinados pela Domingo no Mundo com entidades públicas em 2023, o de maior valor, no montante de quase 402 mil euros, foi feito em Agosto, por ajuste directo, com a autarquia de Lagoa.

    Em Julho, num outro ajuste directo, ganhou 149 mil euros do município de Portimão por “prestação de serviços para a realização do Festival Mar-Me-Quer 2023”.

    No mesmo mês, a empresa de André Sardet fechou um contrato por ajuste directo, no valor de 129.560 euros, com a autarquia de Condeixa-a-Nova, pela “aquisição de serviços de produção artística e logística para a realização das Festas de Santa Cristina 2023”.

    O mais recente contrato entre a Domingo no Mundo e a EGEAC integra o Boletim P1 da Contratação Pública e Ajustes Directos que agrega os contratos divulgados entre os dias 22 e 28 de Dezembro. Desde Setembro, o PÁGINA UM apresenta uma análise diária aos contratos publicados no dia anterior (independentemente da data da assinatura) no Portal Base. De segunda a sexta-feira, o PÁGINA UM faz uma leitura do Portal Base para revelar os principais contratos públicos, destacando sobretudo aqueles que foram assumidos por ajuste directo.

    ET / MAF


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    Ontem, dia 28 de Dezembro, no Portal Base foram divulgados 1373 contratos públicos, com preços entre os 22,10 euros – para reparação de bomba infusora, pelo Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia – Espinho, através de ajuste directo – e os 12.318.415,85 euros – para prestação de serviços de fiscalização, acompanhamento e coordenação de segurança e saúde da empreitada Linha Rubi, pelo Metro do Porto, através de concurso público.

    Com preço contratual acima de 500.000 euros, foram publicados 21 contratos, dos quais 11 por concurso público, sete ao abrigo de acordo-quadro e três por ajuste directo.

    Por ajuste directo, com preço contratual superior a 100.000 euros, foram publicados 28 contratos, pelas seguintes entidades adjudicantes: Navegação Aérea de Portugal – NAV Portugal (com a ADB Safegate Austria GMBH, no valor de 1.579.148,00 euros); Banco de Portugal (com a OutSystems – Software em Rede, no valor de 1.350.000,00 euros); Santa Casa da Misericórdia de Serpa (com a Bramédica Fisio – Produtos de Saúde, no valor de 503.624,80 euros); dois do Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central (um com a Sanofi, no valor de 425.394,80 euros, e outro com a Octapharma, no valor de 352.000,00 euros); dois do Instituto Português do Sangue e da Transplantação (um com a Fresenius Kabi Pharma, no valor de 352.512,00 euros, e outro com a Terumo Bct, no valor de 230.318,00 euros); EGEAC – Empresa de Gestão de Equipamentos e Animação Cultural (com a Domingo no Mundo, Lda., no valor de 247.899,56 euros); dois do Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Norte (um com a Sanofi, no valor de 225.760,83 euros, e outro com a Alexion Pharma Spain, no valor de 180.978,04 euros); quatro da Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões (um com a Ramos, Galhofa, Lourenço & Associados, outro com a João Carlos Silva & Associados, outro com a José Macieirinha, Pedro Macieirinha & Associados, e outro com a Urbano & Associados, todos no valor de 214.999,99 euros); dois do Município de Castelo Branco (um com a Calceteiros Martins & Gaspar, no valor de 195.479,77 euros, e outro com a Un Party, Unipessoal, no valor de 139.900,00 euros); Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa (com a Johnson & Johnson, no valor de 193.599,00 euros); dois da Museus e Monumentos de Portugal (um com a Primavera Business Software Solutions, no valor de 189.061,54 euros, e outro com a Epimetheus – Serviços de Gestão, no valor de 165.825,00 euros); Município de Óbidos (com a Guarda Ribeiro & Associados, no valor de 149.900,00 euros); dois do Instituto Português de Oncologia de Lisboa Francisco Gentil (ambos com a Werfen Portugal, um no valor de 142.274,93 euros, e outro no valor de 128.683,31 euros); Hospital Professor Doutor Fernando Fonseca (com a  Speculum – Artigos Médicos, no valor de 125.300,00 euros); EMAC – Empresa Municipal de Ambiente de Cascais (com a Global Enabling Sustainability Initiative, no valor de 120.000,00 euros); Hospital da Horta (com a Olympus Iberia, no valor de 120.000,00 euros); Hospital Garcia de Orta (com a Efago – Manutenção Hospitalar, no valor de 116.218,23 euros); Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro (com Artur Salgado, no valor de 104.761,00 euros); e a Associação Turismo do Algarve – ATA (com a Multilem – Design e Construção de Espaços, no valor de 103.080,75 euros).


    TOP 5 dos contratos públicos divulgados no dia 28 de Dezembro

    1Prestação de serviços de fiscalização, acompanhamento e coordenação de segurança e saúde da Empreitada Linha Rubi (Casa da Música – Santo Ovídio)

    Adjudicante: Metro do Porto, S. A.

    Adjudicatário: Afaplan – Planeamento e Gestão de Projectos        

    Preço contratual: 12.318.415,85 euros

    Tipo de procedimento: Concurso público


    2Fornecimento de combustíveis rodoviários em Portugal Continental

    Adjudicante: Estado-Maior do Exército

    Adjudicatário: Repsol

    Preço contratual: 3.081.750,99 euros

    Tipo de procedimento: Ao abrigo de acordo-quadro (artº 259º)


    3Construção de edifício destinado a Estrutura Residencial para Idosos, Centro de Dia e Serviço de Apoio Domiciliário

    Adjudicante: Associação para o Desenvolvimento Social e Cultural do Vale do Cobral

    Adjudicatário: Fonseca & Fonseca, Lda.

    Preço contratual: 2.723.600,61 euros

    Tipo de procedimento: Concurso público


    4Realização de “Empreitada complementar de construção do Parque de Material e Oficinas do Sistema de Mobilidade do Mondego”

    Adjudicante: Metro Mondego, S. A.

    Adjudicatário: Embeiral – Engenharia e Construção

    Preço contratual: 2.198.697,79 euros

    Tipo de procedimento: Concurso público


    5Concepção-construção da residência académica de Valença

    Adjudicante: Município de Valença

    Adjudicatário: Casais – Engenharia e Construção  

    Preço contratual: 2.121.693,48 euros

    Tipo de procedimento: Concurso público


    TOP 5 dos contratos públicos por ajuste directo divulgados no dia 28 de Dezembro

    1Actualização do Sistema Data Fusion nas Torres de Lisboa e do Porto e aquisição de serviços de suporte e manutenção

    Adjudicante: Navegação Aérea de Portugal – NAV Portugal

    Adjudicatário: ADB Safegate Austria GMBH

    Preço contratual: 1.579.148,00 euros


    2Renovação da subscrição de produtos e sistemas Outsystems

    Adjudicante: Banco de Portugal

    Adjudicatário: OutSystems – Software em Rede

    Preço contratual: 1.350.000,00 euros


    3Aquisição de material médico para Bloco Operatório

    Adjudicante: Santa Casa da Misericórdia de Serpa

    Adjudicatário: Bramédica Fisio – Produtos de Saúde

    Preço contratual: 503.624,80 euros


    4Aquisição de medicamentos e outros produtos farmacêuticos

    Adjudicante: Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central

    Adjudicatário: Sanofi – Produtos Farmacêuticos

    Preço contratual: 425.394,80 euros


    5Aquisição de sacos para colheita de sangue

    Adjudicante: Instituto Português do Sangue e da Transplantação

    Adjudicatário: Fresenius Kabi Pharma

    Preço contratual: 352.512,00 euros


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  • Zé Pedro: Junta de Freguesia dos Olivais está a montar local de ‘culto’ aos Xutos & Pontapés

    Zé Pedro: Junta de Freguesia dos Olivais está a montar local de ‘culto’ aos Xutos & Pontapés


    O guitarrista e fundador dos Xutos & Pontapés, falecido em 2017, vai ter um lugar de ‘culto’ na freguesia onde cresceu, em Lisboa. A Junta de Freguesia dos Olivais já encomendou a escultura a ser instalada no jardim que em Novembro do ano passado recebeu o nome de Zé Pedro. O espaço ainda beneficiará de mais melhoramentos e o objectivo da autarquia é transformar aquela zona verde num local de visita e peregrinação de fãs do músico e da banda que foi fundada há 45 anos nesta freguesia lisboeta. Pedro Barbosa foi o artista escolhido para criar a escultura em homenagem a Zé Pedro. A cerimónia de homenagem à ‘estrela de rock’ está agendada para o próximo dia 6 de Maio, coincidindo com o 627º aniversário daquela freguesia.


    Na freguesia dos Olivais, na zona oriental de Lisboa, vai nascer um local de ‘culto’ aos Xutos & Pontapés e sobretudo de homenagem a Zé Pedro, seu guitarrista e fundador, falecido em 30 de Novembro de 2017, aos 61 anos. Depois da autarquia de Lisboa ter decidido baptizar com o nome do músico o jardim na envolvente da Rua General Silva Freire, estão previstos melhoramentos paisagísticos e ainda uma escultura de Zé Pedro, baptizado José Pedro Amaro dos Santos Reis.

    A Junta de Freguesia dos Olivais já encomendou a obra ao escultor Pedro Barbosa, que reside no Porto, através de um contrato por ajuste directo no valor de 45.000 euros, celebrado no dia 15 de Dezembro, e divulgado no Portal Base de sexta-feira passada. A escolha deste procedimento, previsto do Código dos Contratos Públicos, foi no sentido de obter a colaboração e aprovação da família de Zé Pedro, nascido no Hospital Militar da Estrela, tendo depois vivido em Timor, até regressar à capital aos seis anos, para os Olivais, onde fundaria a icónica banda de rock portuguesa.

    Zé Pedro, fundador e guitarrista da banda Xutos & Pontapés

    A actriz e cantora Wanda Stuart – que é membro do executivo da Junta dos Olivais, com o pelouro das políticas culturais –, disse ao PÁGINA UM que o objectivo é tornar “aquele jardim um local de ‘culto’ para que os fãs prestem homenagem ao Zé Pedro”. O jardim está, na verdade, bem localizado, por ficar nas imediações da estação de metropolitano da Encarnação. O actual jardim, aliás, passará a ocupar uma área maior “abrangendo todo o quarteirão, e vai ter alguns elementos”, incluindo a estátua a homenagear o músico, salientou Wanda Stuart.

    O descerrar da placa toponímica e inauguração do jardim, incluindo a apresentação da escultura, ocorrerá em 6 de Maio, data em que a freguesia celebra o seu 627º aniversário. O evento deverá contar com a presença dos elementos da banda Xutos & Pontapés, e incluirá um concerto por artista a anunciar.

    Wanda Stuart, que diz ter crescido “no prédio em frente ao do Zé Pedro”, acompanhou o crescimento do músico e a fundação dos Xutos & Pontapés. A meio do seu mandato naquela Junta de Freguesia, expressou que a vontade de homenagear o músico já existia quando surgiu a petição em 2018 para dar o seu nome ao jardim, que contou com um pouco menos de 1.800 assinaturas, mas ganhou força no último ano. A Câmara Municipal de Lisboa acabaria por aprovar a atribuição do nome de Zé Pedro, após a ‘luz verde’ da Assembleia Municipal de Lisboa em Maio do ano passado.

    “Quando soubemos da petição, pensámos em juntarmo-nos à homenagem”, recorda Wanda Stuart, manifestando o desejo de o jardim, que se localiza nas imediações da própria sede da Junta de Freguesia dos Olivais, “se torne num local de culto”. O previsto arranjo do jardim, constituída por uma ‘mancha verde’ que rodeia alguns prédios, abrangerá o quarteirão, permitindo “embelezar aquela área”.

    Wanda Stuart está confiante de esta homenagem ser bem-recebida: “O Zé Pedro é uma pessoa unânime. Toda a gente lhe tem carinho”. A escolha do escultor, feita com a família do músico, teve em conta a “linguagem” artística expressada por Pedro Barbosa nas suas obras, tendo estado na mesa outros artistas.

    Não se conhece, contudo, se a escultura representará Zé Pedro em corpo inteiro e se incluirá a sua omnipresente guitarra, embora as esculturas deste artista sejam, geralmente, realistas. “É um escultor muito talentoso, e tenho a certeza vai também fazer justiça ao talento e carisma do Zé Pedro”, acrescenta Wanda Stuart. O escultor Pedro Barbosa nasceu em 1978 em Tomar, sendo licenciado em Artes Plásticas pela Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto.

  • Pandemia: Farmacêuticas pressionaram Twitter a calar vozes favoráveis às vacinas ‘low cost’

    Pandemia: Farmacêuticas pressionaram Twitter a calar vozes favoráveis às vacinas ‘low cost’

    As grandes farmacêuticas fizeram pressão junto do Twitter para censurar conteúdos sobre vacinas contra a covid-19 que podiam afectar os lucros recorde que obtiveram na pandemia. A alemã BioNtech, parceria da Pfizer na produção da sua vacina mRNA contra a covid-19, actuou junto do Twitter para censurar activistas e conteúdos que pediam que houvesse vacinas genéricas contra a covid-19 para os países mais pobres. Também o Governo alemão pressionou a rede social. Nas novas revelações dos chamados ‘Twitter Files’, conhecidas esta segunda-feira, também se ficou a saber que as farmacêuticas fizeram lobby para pressionar as redes sociais a censurar conteúdos sobre vacinas, incluindo publicações contra o ‘certificado digital’, ou ‘passe verde’, que vieram impulsionar – ou mesmo forçar – o consumo de vacinas contra a covid-19. Antes destas revelações, foram divulgados mais detalhes que deitaram por terra a tese do Partido Democrata, que foi amplificada pelos media mainstream, sobre a existência de uma alegada ingerência russa nas eleições presidenciais nos Estados Unidos.


    Para proteger o seu lucro, a alemã BioNtech – que produz com a norte-americana Pfizer a vacina mRNA contra a covid-19, uma das mais utilizadas no Mundo –, pressionou o Twitter para que a rede social censurasse conteúdos de activistas que pediam o lançamento de vacinas genéricas, mais baratas, para os países mais pobres. Também o Governo alemão se juntou à farmacêutica para levar a plataforma, antes da sua aquisição por Elon Musk, a censurar activistas que pediam o acesso global às vacinas.

    Esta é uma das novas revelações feitas esta segunda-feira pelo jornalista de investigação Lee Fang no Twitter, no âmbito dos chamados ‘Twitter Files’.

    Segundo as informações divulgadas a partir da própria rede social, o BIO – um lobby da indústria farmacêutica, incluindo da Pfizer e da Moderna – pagou quase 1,3 milhões de dólares por uma campanha para censurar conteúdos no Twitter.

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    As farmacêuticas fizeram também pressão e lobby junto das redes sociais no sentido de serem censurados publicações de activistas sobre as vacinas contra a covid-19, incluindo também aquelas que contestassem o polémico “certificado digital” ou green pass, que, em alguns casos, implicou a obrigatoriedade de se ter a vacina para aceder a serviços ou viajar. O certificado foi uma das medidas que impulsionou o consumo e a venda de vacinas contra a covid-19.

    De acordo com Fang, “a indústria farmacêutica pressionou as redes sociais para moldar conteúdos em torno da política da vacina”. Segundo o jornalista, o lobby das farmacêuticas “incluiu a pressão direta do parceiro da Pfizer, a BioNTech, para censurar ativistas que exigiam vacinas genéricas de baixo custo para países de baixo rendimento”.

    A existência de pressão de farmacêuticas no sentido de as redes sociais censurarem conteúdos já tinha surgido antes. Segundo anteriores revelações dos ‘Twitter Files’, um administrador da Pfizer Scott Gottlieb, pressionou o Twitter no sentido de agir perante um tweet de Brett Giroir, um dos principais rostos da gestão inicial da pandemia nos Estados Unidos, que referia correctamente que a imunidade natural conferida pela infecção por covid-19 é superior à obtida pela vacina contra a doença.

    O jornalista Lee Fang escreve agora que “em 2020, ficou claro que a pandemia exigiria uma inovação rápida” e que “desde cedo, houve um impulso para tornar a solução equitativa: uma parceria internacional para partilhar ideias, tecnologia, novas formas de medicina para resolver rapidamente esta crise”.

    Mas “os gigantes globais dos medicamentos viam a crise como uma oportunidade para um lucro sem precedentes”. De acordo com o jornalista, “à porta fechada, as farmacêuticas lançaram um enorme blitz de lobbying [influência] para esmagar qualquer esforço para partilhar patentes/ IP para novos medicamentos relacionados com a covid-19, incluindo terapêuticas e vacinas”.

    Fang revelou hoje que o BIO escreveu ao então recém-eleito presidente Biden, exigindo que o Governo dos Estados Unidos sancionasse “qualquer país que tente violar os direitos de patente e que crie medicamentos ou vacinas genéricas de baixo custo”.

    Ora, segundo as novas revelações, “o blitz [bombardeamento] global de lobbying inclui pressão direta nas redes sociais”. A alemã “BioNTech, que desenvolveu a vacina da Pfizer, contactou o Twitter para lhe pedir que censurasse diretamente os utilizadores a pedirem vacinas genéricas de baixo custo” na rede social.

    Os “representantes do Twitter responderam rapidamente ao pedido da farmacêutica alemã, que também foi apoiado pelo Governo alemão”. Um lobista na Europa pediu à equipa de moderação de conteúdos do Twitter “para monitorizar as contas da Pfizer, AstraZeneca & hashtags ativistas como #peoplesvaccine [vacinas do povo]”.

    As supostas contas de “perfis falsos” que criticavam a Pfizer e que eram monitorizados pelo Twitter eram afinal de utilizadores verdadeiros, incluindo um reformado britânico que foi contactado telefonicamente por Fang. Estas contas eram sinalizadas pelo Twitter por alegados “potenciais termos de violações de uso”.

    Além disso, o grupo de lobby da Pfizer e da Moderna “financiou na totalidade uma campanha especial de moderação de conteúdos desenhada por um prestador de serviços chamado Public Good Projects, que trabalhou no Twitter para definir regras de moderação de conteúdos em torno da “desinformação” covid”.

    O BIO pagou um total de 1.275.000 dólares para a campanha, “parte da qual é revelada através de formulários fiscais”. A campanha, denominada “Stronger”, auxiliou o Twitter a criar bots de moderação de conteúdos, seleccionando quais as contas de saúde pública que podiam ser classificadas como “verificadas” pelo Twitter.

    A campanha paga pela BIO visou muitos tweets que constituíam verdadeira desinformação, como os que tinham alegações de que as vacinas incluem microchips, mas também pressionou o Twitter a censurar tweets relacionados com passaportes de vacinas e vacinação obrigatória, políticas que coagiram no sentido da vacinação.

    A campanha incluía e-mails regulares diretos com o Twitter, com listas de tweets para serem eliminados e outros para serem verificados. Fang mostrou um exemplo desses tipos de e-mails enviados directamente pelos lobistas das farmacêuticas.

    Fang descobriu ainda nesta sua investigação – que contou com a colaboração de David Zweig e Leighton Woodhouse – que “este enorme impulso para censurar e rotular conteúdos sobre covid como desinformação, nunca se aplicava às empresas farmacêuticas”. De acordo com o jornalista, “quando grandes farmacêuticas exageravam descontroladamente os riscos de criar vacinas genéricas de baixo custo”, nada foi feito. Ou seja, “as regras aplicavam-se apenas aos críticos da indústria” farmacêutica.

    Este conjunto de revelações surge no âmbito da decisão de Elon Musk, novo dono do Twitter, de tornar públicos documentos e mensagens internas que mostram as práticas de censura que a rede social levou a cabo até à compra da empresa por Musk, em Outubro de 2022. Do que foi revelado desde 2 de Dezembro do ano passado, até hoje, a censura foi aplicada sobretudo a críticos da gestão da pandemia, incluindo a supressão de informação verdadeira, e a vozes politicamente conservadoras, nomeadamente do Partido Republicano norte-americano.

    Antes destas informações hoje tornadas públicas por Fang, o jornalista independente Matt Taibbi também revelou recentemente documentos e dados que comprovam a pressão feita pelo Partido Democrata sobre o Twitter para que corroborasse a sua tese sobre uma alegada interferência russa nas eleições presidenciais nos Estados Unidos. A recém-divulgada súmula de documentos divulgados por Taibbi é mais uma “machadada” na narrativa de uma tentativa de manipulação eleitoral por parte do Kremlin.

    Os Democratas alegaram, em 2018, que o polémico hashtag #ReleaseTheMemo estaria a ser impulsionado por bots de origem russa, apesar dos registos apresentados pelos executivos da rede social negarem categoricamente essa teoria.

    O “Memo” em questão, que milhares de utilizadores do Twitter queriam ver tornado público, era um documento confidencial de quatro páginas que afirmava que o FBI (Federal Bureau of Investigation) teria recorrido a “fontes duvidosas ou politicamente motivadas” e agido de forma tendenciosa contra Donald Trump no início da investigação à suposta interferência russa nas eleições presidenciais, ainda em 2016.

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    Submetido a 18 de Janeiro de 2018 pelo então responsável pelo Comité de Inteligência da Câmara dos Representantes pelo Partido Republicano, Devin Nunes, o relatório punha em causa, sobretudo, a legitimidade da autorização concedida ao FBI para a realização de escutas telefónicas a Carter Page, antigo conselheiro de campanha de Trump.

    O seu conteúdo foi, porém, rapidamente desacreditado pela comunicação social como sendo uma “conspiração” e uma “piada”. Em simultâneo, os democratas Dianne Feinstein e Adam Schiff, argumentaram, numa carta aberta publicada a 23 de Janeiro de 2018, que o frenesim gerado no Twitter em torno do documento havia sido fomentado pelos serviços de inteligência russos.

    No entanto, mensagens reveladas pelo jornalista Matt Taibbi mostram que os executivos da rede social refutaram, em diversas ocasiões, a ideia de que a catadupa de publicações referentes ao hashtag constituía uma manobra de propaganda russa.

    Além disso, Taibbi referiu que a gigante tecnológica alertou “políticos e meios de comunicação” de que as contas que reproduziam tweets sobre #ReleaseTheMemo não tinham conexões à Rússia. Contudo, afirma, os avisos foram “totalmente ignorados”.

    Para além de Feinstein e Schiff, também Richard Blumenthal, um senador de Connecticut, declarou na altura: “consideramos repreensível que agentes russos tenham manipulado tão avidamente americanos inocentes”.

    Donald Trump

    Segundo Matt Taibbi, a fonte das suspeitas levantadas por Feinstein, Schiff, Blumenthal e dos media mainstream resumia-se ao site “Hamilton 68”, que monitorizava campanhas de influência russas e fora criado pelo ex-agente de contra-espionagem do FBI, Clint Watts.

    “Todo o alvoroço sobre #RelaseTheMemo é baseada no Hamilton”, disse Yoel Roth, um executivo do departamento de Segurança e Confiança do Twitter, numa comunicação interna.

    De facto, a “palavra” dos executivos do Twitter, que garantiam que a adesão dos utilizadores da rede social à hashtag era “esmagadoramente orgânico” não foi suficiente para abrandar as teses de manipulação russa pelos democratas.

    Matt Taibbi salientou que as afirmações do controverso documento de Devin Nunes viriam a ser “quase todas confirmadas” por um relatório do Inspector-Geral do Departamento de Justiça, Michael Horowitz, em Dezembro de 2019.

    [Pode ler aqui toda a cobertura dos “Twitter Files” feita pelo PÁGINA UM.]

  • #TwitterFiles: Musk quer Fauci no banco dos réus

    #TwitterFiles: Musk quer Fauci no banco dos réus

    No dia em que o Twitter admitiu ter criado regras exclusivas para banir o antigo presidente dos Estados Unidos Donald Trump da rede social, Elon Musk partiu para um ataque contra Anthony Fauci. Numa curta mensagem (tweet), o novo dono do Twitter escreveu de forma irónica: “Os meus pronomes são Processar/Fauci”. Antes, Musk publicara um tweet com uma imagem cómica (meme), tendo Fauci como alvo. O conselheiro-chefe para a saúde do presidente dos Estados Unidos tem sido o rosto de defesa de medidas rígidas, sobretudo durante a Administração Biden, como os confinamentos e o uso de máscaras, e também da toma obrigatória das várias doses de vacinas contra a covid-19. Musk, que lidera também a Tesla, tem estado a divulgar indirectamente documentos internos do Twitter que mostram como a rede social aplicava técnicas de censura a contas e conteúdos, incluindo de cientistas que criticavam a gestão da pandemia.


    O Twitter admitiu hoje que criou uma política nova para poder banir da rede social o antigo presidente dos Estados Unidos Donald Trump. Mas, enquanto continuam a ser divulgados os “Twitter Files”, com as antigas práticas de censura aplicadas pela rede social, o novo dono do Twitter, Elon Musk, atraiu as atenções com um ataque feroz que lançou contra Anthony Fauci, o epidemiologista que abandona no final deste mês, dias depois de completar 82 anos, a liderança do Instituto de Doenças Infecciosas do país (NIAID, na sigla em inglês), e que aconselhou a Casa Branca no combate à pandemia de covid-19.

    O ataque de Musk a Fauci surge quando o Twitter está a divulgar as antigas práticas de censura aplicadas na rede social por ex-executivos, abrindo a especulação de que pode ter na manga informações sobre supressão de informação que tenha sido feita em torno do tema da pandemia de covid-19.

    Anthony Fauci, conselheiro-chefe de Joe Biden para a saúde.

    Musk, que é também co-fundador e líder da Tesla, fez na manhã deste domingo publicações provocadoras que visam Fauci, que se tornou no rosto das medidas drásticas e sem precedentes que têm sido aplicadas na pandemia de covid-19, como os confinamentos da população e a imposição de máscaras, bem como da toma das várias doses de vacinas, apesar de estas não impedirem nem a infecção nem o contágio. Fauci inspirou-se nas medidas implementadas na China no início de 2020.

    Além de ter partilhado um “meme” sugestivo com as figuras de Fauci e Joe Biden, onde se lê “Just one more lockdown, my king…” [“Só mais um confinamento, meu rei…”], Musk acrescentou uma hora depois um novo tweet: “My pronouns are Prosecute/Fauci” [Os meus pronomes são Processar/Fauci].

    Extremamente activo na sua rede social, Musk também escreveu que “o Twitter tem sido o Wormtongue para o Mundo”. Personagem (fictício) da obra do escritor J. R. R. Tolkien, O Senhor dos Anéis”, Wormtongue era o conselheiro-chefe do rei Théoden, representando alguém que não é de confiança.

    O ataque de Musk a Fauci acontece numa altura em que foram divulgados mais detalhes das operações de censura que o Twitter aplicava de forma vasta e tendenciosa ao longo dos últimos anos, e que teve como alvos desde um especialista de topo que era contra o confinamento na pandemia, como vozes do espectro político mais conservador.

    Nas informações mais recentes, tornadas públicas hoje, ficou a saber-se que os antigos executivos do Twitter criaram uma nova “política” com vista a poderem suspender permanentemente a conta do então presidente norte-americano Donald Trump, no rescaldo da invasão ao Capitólio no dia 6 de Janeiro de 2021, apesar da decisão ir contra os próprios termos da rede social.

    Estas são as principais informações que constituem a quarta parte da investigação denominada “Twitter Files”, publicada durante este sábado, e que expõe as reacções dos funcionários ao ataque ao Capitólio e subsequente escrutínio por parte de Trump e dos seus apoiantes, que foram acusados de difundir “teorias da conspiração” sobre uma alegada fraude eleitoral. Por “incitamento à violência”, o Twitter viria a expulsar o antigo presidente da plataforma em 8 de Janeiro do ano passado.

    Elon Musk tem vindo a delegar em jornalistas independentes, fora do mainstream, a tarefa de investigar e divulgar os documentos internos do Twitter. Os jornalistas têm também entrevistado funcionários da rede social. A divulgação da informação tem sido feita por partes, sempre através do Twitter, a única condição acordada entre os jornalistas independentes e Musk.

    [O PÁGINA UM tem acompanhado e divulgado as revelações tendo já publicado três notícias: sobre a primeira parte; a descoberta-surpresa que levou ao adiamento da publicação da segunda parte da informação; e sobre a segunda e terceira partes do caso.]

    A exposição de mais uma parte dos “arquivos do Twitter” ficou, desta vez, a cargo de Michael Shellenberger, activista climático e antigo candidato pelo Partido Democrata, depois dos documentos já revelados pelos jornalistas Matt Taibbi e Bari Weiss.

    A braços com pressões internas para banir Donald Trump da plataforma, o antigo CEO do Twitter, Jack Dorsey – que estava de férias na Polinésia Francesa na semana em que ocorreu o ataque ao Capitólio –, disse à sua equipa que a empresa “tinha de se manter consistente com as suas políticas, incluindo o direito dos utilizadores de regressarem ao Twitter após uma suspensão temporária”. No entanto, Dorsey acabaria por relegar grande parte das decisões a altos executivos, com destaque para Yoel Roth, antigo chefe do departamento de “Confiança e Segurança” da rede social.  

    As conversas agora divulgadas entre Yoel Roth e um funcionário cuja identidade não foi revelada, mostram o seu contentamento quando Jack Dorsey finalmente dá o seu aval para a criação do estatuto de “repeat offender”, que determinaria a suspensão permanente de um utilizador do Twitter após cinco “strikes” “[violações]” das normas, e que viria a ser aplicado para suspender a conta de Trump.

    Donald Trump era ainda presidente dos Estados Unidos quando foi alvo de políticas de censura por parte de ex-executivos do Twitter. A censura foi aplicada inclusive durante a campanha para as eleições presidenciais que acabaram por dar a vitória ao candidato do Partido Democrata, Joe Biden. O Twitter admitiu, no âmbito dos “Twitter Files”, que protegeu Biden, ao impedir a partilha de informação sobre o escândalo em torno do portátil de Hunter Biden, do filho do atual presidente dos Estados Unidos. O Twitter também censurou contas de utilizadores do espectro político conservador.

    No entanto, esta decisão foi tomada em “contra-mão” com as normas desta rede social. Como explica Shellenberger, havia uma “política de excepção” que permitia que os governantes se mantivessem na plataforma, mesmo se as suas publicações violassem as regras, pois estaria em causa matéria de interesse para o público.

    As mensagens reveladas mostram que Roth queria suspender também a conta de Matt Gaetz, um político conservador. Mas faltava-lhe um motivo. Assim, decidiu utilizar a mesma justificação que usou para expulsar Trump: “conspiração que incita à violência”.

    Além destes aspectos, a quarta parte dos “Twitter Files” revelou o pedido de Yoel Roth a um colega para que acrescentasse “stopthesteal” [“páremoroubo”] e “kraken” às “listas negras” de hashtags a serem censuradas. “Stopthesteal” aludia à manipulação das eleições que Trump e os seus apoiantes diziam ter ocorrido, e os funcionários do Twitter consideravam “notícias falsas”. Por seu turno, “kraken” foi um termo usado por proponentes da famigerada conspiração intitulada “QAnon”. 

    Shellenberger afirmou que os funcionários do Twitter utilizavam muitas vezes o termo “one-off”, e explicou que “O seu uso frequente revela discrição significativa dos funcionários sobre quando e se aplicar rótulos de advertência em tweets e ‘strikes‘ aos utilizadores.”

    Elon Musk comprou o Twitter em Outubro passado por 44 mil milhões de dólares e prometeu revelar antigas práticas de censura desta rede social.

    O “plano” encetado para suspender o antigo presidente da rede social mereceu, na altura, a reprovação de apenas um membro júnior da equipa, que declarou: “Pode ser uma opinião pouco popular, mas decisões ad hoc como esta, que não estão sustentadas na nossa política, são areias movediças (…) e reflectem um problema alternativo igualmente ditatorial (…)”. No passado, várias figuras públicas, incluindo a antiga primeira-dama, Michelle Obama, já tinham apelado a que as grandes tecnológicas de “Sillicon Valley” banissem Donald Trump das suas plataformas.

    Para contextualizar esta actuação contra Trump por parte dos executivos do Twitter, Michael Shellenberger lembrou que a cúpula da empresa é maioritariamente “progressista” [termo frequentemente utilizado para designar a esquerda radical] e que mais de 95% dos donativos políticos feitos pelos funcionários em 2018, 2020 e 2022 foram para democratas.