Autor: Estraca

  • Viva a Liberdade!

    Viva a Liberdade!

    A pretexto dos 50 anos da Revolução dos Cravos, um texto da autoria do rapper Estraca.

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    Viva a Liberdade!

    A liberdade do politicamente correto,

    do pensamento único,

    do silêncio das cantigas.

    Cuidado, avisem os poetas que existe um novo dicionário das palavras proibidas.

    Liberdade moderna, dirias tu, o maior ditador das nossas vidas.

    Fascistas que se acham democratas,

    democratas que são fascistas,

    são as feridas do passado que reflectem na ignorância deste povo fraco, que a única coisa que sabe fazer é andar com cravo na mão a gritar Liberdade…

    É Abril, a igualdade, grita a tia da Lapa, toda ela cheia de privilégios com a sua mala de marca, a cantar o Grândola Vila Morena.

    Mas sabem uma coisa? Eu não tenho pena.

    Que se lixem todos com este sistema que legitimam com a vossa cegueira ideológica.

    Acreditam mais em políticos do que em vocês mesmos.

    É este o país que temos, onde o voto virou um acto de preguiça.

    Votas para ser governado, entregas tudo ao senhor engravatado, que te rouba, explora,

    e diz-te que não és escravo.

    E tu repetes: eu não sou escravo, isso são coisas do passado, eu não sou escravo, eu dou metade daquilo que eu ganho a um Estado que nada me dá,

    mas não sou escravo…

    Eu penso algo diferente daquilo que eles querem que eu pense, e sou censurado,

    mas não sou escravo.

    É a política do tem que ser,

    tem que haver respeitinho…

    Então, isto agora é assim?

    Viramos todos uns rebeldes?

    Temos que respeitar os senhores que cuidam com muito carinho e dedicação da nossa vida e da nossa nação,

    que nos oferecem a ração,

    que nós pagamos,

    que nos dão metade daquilo que nos tiram,

    mas pelo menos dão.

    E sim! Eu sou livre.

    A televisão disse-me que eu era livre.

    Os políticos e até os meus ídolos me confirmaram que eu era livre…

    É porque eu sou livre.


    Só seremos livres quando soubermos que somos escravos. Esse é o primeiro passo para a Liberdade!


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  • Vício

    Vício

    Os números são assustadores: um estudo recente da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto revelou que um em cada cinco estudantes do ensino superior lidam (e obviamente mal) com o vício do jogo. E esse problema atinge mesmo faixa etárias mais baixas: 5% das crianças de 13 anos já se envolvem em jogos online com dinheiro, segundo dados do Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências (SICAD). Os pedidos de ajuda de jovens dependentes também aumentam e as idades de novos jogadores nunca foram tão baixas: só no ano passado, 40% dos novos jogadores registados nas plataformas de jogo online tinham entre 18 e 24 anos.

    Todo este cenário é alimentado por um negócio que gera milhões de euros, desde os impostos arrecadados pelo Estado – que atingiu a marca de 280 milhões de euros apenas no primeiro semestre de 2023 – até os montantes recebidos pelos meios de comunicação social e figuras públicas para promover essas plataformas. Para contextualizar, em 2023 os portugueses chegaram a apostar uma média diária de 38 milhões de euros em jogos online.

    Contudo, toda esta riqueza contribui também para fomentar um silêncio (demasiado) comprometedor sobre este vício e os seus efeitos catastróficos, económicos, sociais, individuais. Numa clara discrepância com a realidade em Portugal, o Governo de Espanha decidiu agir nos últimos anos, proibindo os patrocínios e publicidade a casas de apostas ou jogos de azar, com excepção para os anúncios durante um curto período da madrugada. Uma medida que pretende atenuar os impactos negativos do jogo, sobretudo entre os mais jovens.

    Mais do que uma simples música, “Vícios” é assim uma oportunidade, a minha oportunidade, para ajudar a reflectir sobre este (nosso) problema social, bem real e muito urgente, que já deixou de ser apenas emergente. Pode afogar-nos.

    Este é também o meu contributo, expresso através da minha arte, sobre um tema que me tocou e toca profundamente. Agradeço, por isso, a todos aqueles que dedicarem uns breves momentos para ler estas palavras, pedindo que partilhem esta mensagem. Ajudem a quebrar o silêncio, dando voz a um problema.

    Letra

    Vícios, by Estraca

    Perdido nas insónias fico noite dentro
    penso no vício que se torna no meu alimento
    comportamento sem controle e arrependimento
    nem a minha força de vontade já é suficiente

    e eu só lamento e digo basta por breves instantes
    já sem planos, recaídas viraram constantes
    alucinantes emoções tornaram-se viciantes
    a adrenalina e depressão os meus acompanhantes

    isto nunca fez sentido
    mergulhei na fraqueza sem ter percebido
    ha yo, desculpa, eu não consigo partilhar contigo
    aquela dor que eu aprendi só a partilhar comigo

    tão reflicto, penso na cota e o que eu prometi
    dar-te o descanso nesta vida e mostrar que eu consegui
    é em ti que eu penso sempre que eu me sinto a fugir de mim
    e por ti me encontro, ganhei forças sempre que eu me perdi

    todo o homem cai, não há vergonha disso
    é saber levantar, assumir compromisso
    fica longe desse vício, longe desse vício
    todo o homem cai, não há vergonha disso
    mais forte a cada dia, escrevo um novo início
    vive longe desse vício, longe desse vício

    terra da tentação onde o diabo vive
    triste quando te apercebes que nunca foste livre
    preso a vícios que te vendem, e onde eu preso tive
    mesmo rijo, eu perdi o sentido do meu real motivo

    peço desculpa pelas mentiras
    o medo e a vergonha nas atitudes escondidas
    fingidas as palavras da alegria que tu vias
    tentativas são falhadas com ideias suicidas

    acreditas? sei que pareço forte
    mostro sem coragem, foco passa o tempo
    eu já nem noto e quando acordo
    já só peço que bom tempo antigo volte
    hoje eu assumo a fraqueza e faço dela o meu suporte

    este é o meu lado fraco
    na verdade, abençoado ao pensar como esta história
    podia ter acabado
    desabafo ao som das estrelas e dou vida ao teu recado
    apenas umas linhas do que eu escrevo mas não gravo


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  • Manifesto de Natal by Estraca

    Manifesto de Natal by Estraca


    De volta a Dezembro, esquecemos tudo novamente

    Voltamos a ser mais humanos, a sopa quente do sem-abrigo,
    dos Aliados ao Oriente

    e este ano, excepcionalmente, temos o apoio do Parlamento,
    dos partidos

    Toma uma sopa e um panfleto, mas só comes se votares! Ouviste?

    Viva a campanha eleitoral

    em época de Natal.

    Viva Portugal!

    Tudo ao rubro entre o Wonderland, as compras e o trânsito infernal, o funeral da democracia e o orgulho nacional,

    da bandeira sem as quinas e os castelos.

    [Já agora, mudem também a poesia de Fernando Pessoa, o fado de Amália e o nome de Lisboa para… Lisbon; é mais bonito.]

    Vai, cala-te e come.

    Come mais um aumento da renda,

    da luz,

    da água.

    Reclama que está caro; é o progresso da agenda globalista: sem nada, feliz e cada vez mais escravo.

    A casa não é tua,

    o carro também não.

    Até o teu filho já é propriedade do Estado.

    Mas aguenta, aguenta, Zé Povinho, lamenta, mas no sofá: sentadinho, caladinho, a mandar postas de pescada na internet.

    “Eu sou Chega”, “ele é PS”, “o meu partido é que é honesto!”.

    “Mas que cor é que ele veste?”

    Isso é que importa, não é?

    Tirar o poder ao povo e dar aos políticos, e eles adoram isto, de dar aos políticos e tirar ao povo.

    Até aqui, nada de novo,

    mas pronto, vamos dar seguimento.

    Este ano, tivemos o aparecimento em massa do movimento burguês pelo clima, com um enorme esforço e financiamento internacional.

    Tivemos também o desentendimento da família PS. Eu relembro: 10 mudanças no alinhamento do Governo,

    com despedimentos por corrupção.

    Mais recentemente, o afastamento do Costa, que de repente voltou ao posto. Em breve… está na Europa.

    Tivemos o Galamba, o aluno do nosso querido engenheiro, o grande José.

    Ele está fora, mas continua sempre lá no meio.

    Ó Galamba passa a ganza que a bófia não vê, e o povo não sente o cheiro,

    nem da ganza, nem do dinheiro.

    Faz um esforço, corta no jantar, reduz no almoço.

    Hospital, ou é privado, ou acabas morto.

    Saúde é para quem tem dinheiro. Neste país, é assim,

    já dizia o outro: uns são filhos, outros enteados, e outros… Nuno Rebelo de Sousa.

    Mas que venha 2024, com este grande aumento de ordenado.

    Já dá para comprar uma tenda nova e um casaco para os dias mais frios.

    É que isto com as alterações climáticas nunca se sabe.

    Aumenta a mortalidade, os enfartes,

    está tudo comprovado.

    Um aparte, cenário internacional: Rússia, Ucrânia, Israel, Palestina. Já só falta China e Taiwan.

    Não querendo ser chato, para terminar… desculpa, podes-me… um obrigado à Cristina Ferreira, ao Cavaco, ao Marques Mendes, ao Malato, ao ChatGPT, ao José Alberto Carvalho, ao Papa Francisco, à Kikas, à Joana Marques, à Prozis, ao lítio de Montalegre e às bifanas de Vendas Novas.

    Acho que não me esqueci de ninguém.

    Um obrigado.

    Feliz Natal e Bom Ano Novo.

    Até para o ano.

    Estraca é um rapper e activista


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