Autor: Elisabete Tavares

  • Ricardo Araújo Pereira pode boicotar políticos no seu programa, mas SIC tem de encontrar formas de compensação

    Ricardo Araújo Pereira pode boicotar políticos no seu programa, mas SIC tem de encontrar formas de compensação

    A Entidade Reguladora para a Comunicação Social aceita que um humorista pode, em plena campanha eleitoral, convidar quem achar por bem, mas que o canal televisivo tem de compensar eventuais desequilíbrios em matéria de igualdade de oportunidades e de tratamento de candidaturas. A deliberação do regulador foi espoletado por duas queixas junto do regulador, uma das quais por causa da ausência de André Ventura no programa de Ricardo Araújo Pereira (RAP) em que entrevistou nove dirigentes políticos. RAP tem assumido que nunca convidará o líder do Chega para o seu programa por razões ideológicas. Mas o regulador também mostra que o tempo dedicado por RAP a cada dirigente foi muito distinto: António Costa foi aquele que teve mais “tempo de antena” em “Isto é gozar com quem trabalha”.


    A Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) aceita que um humorista pode, em plena campanha eleitoral, convidar quem achar por bem, mas que o canal televisivo tem de compensar eventuais desequilíbrios em matéria de igualdade de oportunidades e de tratamento de candidaturas. O caso foi espoletado por duas queixas junto do regulador, uma das quais por causa da ausência de André Ventura no programa de Ricardo Araújo Pereira (RAP) em que entrevistou nove dirigentes políticos. RAP tem assumido que nunca convidará o líder do Chega para o seu programa por razões ideológicas.

    Ricardo Araújo Pereira (RAP) pode ser um excelente comediante, mas a ERC não achou piada ao facto de o humorista ter beneficiado alguns partidos políticos no seu programa na SIC “Isto é gozar com quem trabalha” em plena campanha eleitoral das últimas legislativas.

    Por razões ideológicas, Ricardo Araújo Pereira recusa sentar André Ventura è mesa do seu programa.

    Entre 17 e 28 de Janeiro deste ano, o humorista decidiu, de forma explícita, excluir o líder do partido Chega, André Ventura, quando fez uma série de entrevistas diárias a dirigentes de partidos então com assento parlamentar (Bloco de Esquerda, PCP, PSD, Iniciativa Liberal, PAN, CDS e Partido Socialista) no seu programa especial dedicado às eleições legislativas.

    RAP apenas convidou dirigentes de dois outros partidos então sem assento parlamentar Rui Tavares, do Livre (que deixara de ter deputados com a “desfiliação” de Joacine Katar Moreira) e Vitorino Silva, do RIR). Já em 2020, RAP boicotara André Ventura nas Presidenciais de 2020, brincando com o facto de que o líder do Chega “não aguentaria a experiência”.

    Em deliberação divulgada na sexta-feira passada, a ERC até achou que RAP tem, como “célebre comediante” e “protagonista central” de um “programa de autor”, o direito a “uma maior discricionariedade na forma como é abordado o período eleitoral”, mas que não vale tudo em plena época eleitoral. E que, por isso, a SIC deverá, em futuras ocasiões, “compensar, na restante programação, os desequilíbrios gerados num determinado programa em matéria de igualdade de oportunidades e de tratamento de candidaturas”.

    António Costa foi o dirigente político com mais “tempo de antena” no programa humorístico de RAP em plena campanha eleitoral.

    Saliente-se, aliás, que de acordo com a contabilização da ERC, António Costa foi, nas entrevistas de RAP, o político com mais “tempo de antena” com 19 minutos e 16 segundos, enquanto Catarina Martins teve direito a apenas a 10 minutos e 52 segundos e Inês Sousa Real a 11 minutos e 12 segundos. Rui Rio teve menos 6 minutos e 4 segundos do que o líder do PS. Os restantes entrevistados (Vitorino Silva, Rui Tavares, João Oliveira, João Cotrim Figueiredo, Inês Sousa Real e Francisco Rodrigues dos Santos) estiveram sentados defronte a RAP entre 13 e 16 minutos.

    Na sua análise, a ERC considerou que “num programa em que a política se cruza com o entretenimento e em que os candidatos convidados para o programa beneficiam de grande visibilidade para apresentar os seus programas eleitorais, convicções e personalidade, a escolha de determinados entrevistados, com a exclusão de outros, deve ser objeto de especial ponderação, de modo a respeitar os princípios que enformam a atividade dos órgãos de comunicação social durante o período eleitoral”.

    O regulador não acolheu assim quaisquer dos argumentos da SIC que defendeu que o programa de RAP era “entretenimento de cariz humorístico” e que o autor tem “total independência”, pelo que, não se tratando de “um programa informativo, não está adstrito ao cumprimento das normas da Lei da Televisão e dos Serviços Audiovisuais a Pedido e das leis eleitorais dirigidas a programas de atualidade informativa e serviços noticiosos”. O canal do Grupo Impresa advogou que “o critério de escolha dos convidados [era] também, por isso, do humorista, o qual tem total liberdade de conformação em relação a quem deseja [e a quem não deseja] receber no seu programa”.

    Catarina Martins teve pouco mais de metade do “tempo de antena” de António Costa.

    Admitindo que o boicote a Ventura e ao Chega foi intencional, a SIC defendeu RAP, dizendo que “o humorista tem total liberdade para não querer dar espaço, num programa de humor da sua autoria, à defesa de ideias que, do seu ponto de vista, atentem contra a dignidade da pessoa humana, igualdade e direitos, liberdades e garantias”.

    Esta defesa acabou mesmo por ser duramente criticada pela ERC: “O argumento aduzido pela SIC parece não ter cabimento, uma vez que, no que respeita aos vários partidos sem representação parlamentar, o programa apenas privilegiou o Partido RIR, não parecendo crível” que todos os partidos excluídos – num total de 12, uma vez que participaram 21 partidos nas legislativas deste ano – “atentam contra a dignidade da pessoa humana, igualdade e direitos, liberdades e garantias”.

    Quanto ao argumento de que o programa de RAP não é informativo, pelo que não tem de cumprir os mesmos preceitos legais dos programas informativos no que toca às campanhas eleitorais, a ERC também destrói a defesa da SIC, lembrando que a lei não circunscreve “o princípio da igualdade de oportunidades e de tratamento das diversas candidaturas à cobertura jornalística da campanha ou a programas de atualidade informativa e a serviços noticiosos”.

    ERC defende que canais de televisão devem compensar desequilíbrios, mesmo se causados por programas de entretenimento.

    Assim, o regulador defende que “num programa em que a política se cruza com o entretenimento, em que os candidatos convidados para o programa beneficiam de uma visibilidade para apresentar os seus programas, convicções e personalidade, o operador não pode deixar de fazer uma reflexão sobre a escolha de determinados entrevistados, com a exclusão de outros, nos seus diversos programas”.

    Mais. A ERC frisa que “um programa de entretenimento, apesar de beneficiar de uma maior margem de discricionariedade na forma como aborda o período eleitoral, não pode – atento o seu potencial para conferir visibilidade aos candidatos e influenciar o sentido de voto –, deixar de ser objeto de avaliação de acordo com os princípios que enformam a atividade dos órgãos de comunicação social durante o período eleitoral”.

    O regulador recorda “que a SIC, enquanto serviço de programas televisivos, está obrigada a assegurar o princípio da igualdade de oportunidades e de tratamento das diversas candidaturas e a garantir o pluralismo político-partidário”.

    Por isso, conclui que “o facto de se optar por não convidar determinadas candidaturas para o programa ‘Isto É Gozar Com Quem Trabalha’ imporia à SIC um especial cuidado em compensar desequilíbrios surgidos em virtude de opções editoriais no âmbito dos seus programas de entretenimento”.

  • #TwitterFiles: Elon Musk “desnuda” antigas práticas de censura

    #TwitterFiles: Elon Musk “desnuda” antigas práticas de censura

    Elon Musk, novo dono do Twitter, decidiu divulgar documentos internos da empresa tecnológica que comprovam como a rede social censurou, suprimiu informação e fechou contas de utilizadores para influenciar a opinião pública. Musk publicou um ‘tweet’ com uma ligação para a conta de um jornalista independente que começou a divulgar a “primeira parte” dos ‘Twitter Files’. No seu curto texto, Musk escreveu apenas: “Here we go!”, acrescentando a imagem de dois baldes de pipocas. Esta noite, no espaço de pouco mais de uma hora, numa série de 36 ‘tweets’, o jornalista e autor Matt Taibbi revelou os primeiros documentos. A informação interna do Twitter, que agora foi tornada pública, mostra como, durante a campanha para as últimas eleições presidenciais nos Estados Unidos, o Twitter executou um pedido da equipa de Joe Biden para censurar a divulgação de notícias sobre o famoso escândalo do portátil de Hunter Biden, filho do atual presidente norte-americano, e as suas ligações na Ucrânia. Musk assegurou que a divulgação de informação interna no âmbito do que apelidou de “Twitter Files” vai continuar. O PÁGINA UM publica, neste artigo, a série de ‘tweets’ de Taibbi, relativa à primeira parte dos ‘Twitter Files’, em português, e vai acompanhar a divulgação dos próximos documentos internos do Twitter.


    Tweet 1

    Série: Os Ficheiros do Twitter


    Tweet 2

    O que está prestes a ler é a primeira versão de uma série, baseada em milhares de documentos internos obtidos por fontes no Twitter.


    Tweet 3

    Os Ficheiros do Twitter contam uma história incrível de dentro de uma das maiores e mais influentes plataformas de redes sociais do mundo. É um conto frankensteiniano de um mecanismo construído pelo homem que cresceu fora do controlo do seu designer.


    Tweet 4

    O Twitter era, na sua concepção, uma ferramenta brilhante para permitir a comunicação instantânea em massa, tornando possível uma verdadeira conversa global em tempo real, pela primeira vez.


    Tweet 5

    Originalmente, o Twitter mais do que cumpriu a sua declaração de missão, dando às pessoas “o poder de criar e partilhar ideias e informações instantaneamente, sem barreiras”.


    Tweet 6

    No entanto, à medida que o tempo ia avançando, a empresa foi lentamente forçada a adicionar essas barreiras. Algumas das primeiras ferramentas para controlar o discurso [dos utilizadores] foram concebidas para combater os gostos do spam e dos promotores de fraudes financeiras.


    Tweet 7

    Lentamente, com o passar do tempo, os funcionários e executivos do Twitter começaram a encontrar cada vez mais usos para estas ferramentas. Pessoas externas ao Twitter começaram a pedir à empresa que também manipulasse o discurso [de utilizadores permitido na rede social]: primeiro um pouco, depois mais frequentemente, depois constantemente.


    Tweet 8

    Em 2020, os pedidos de “atores” ligados [a responsáveis do Twitter] para apagar tweets eram rotineiros. Um executivo escreveria a outro: “Mais para rever da equipa Biden.” A resposta voltaria: “Tratado” [“handled”, em inglês].


    Tweet 9

    Contas de celebridades e de outras pessoas podem ser removidas ou revistas a mando de um partido político:


    Tweet 10

    Ambas as partes [do espectro político nos Estados Unidos] tinham acesso a estas ferramentas. Por exemplo, em 2020, tanto os pedidos vindos da Casa Branca de Trump, como da campanha de Biden, foram recebidos e honrados. Todavia:


    Tweet 11

    Este sistema não era equilibrado. Era baseado em contactos. Como o Twitter era e é esmagadoramente constituído por pessoas [funcionários] de uma orientação política, havia mais canais, mais formas de reclamar, abertos à esquerda (bem, democratas) do que à direita [Link].


    Tweet 12

    A inclinação resultante nas decisões de moderação de conteúdo está visível nos documentos que está prestes a ler. No entanto, é também a avaliação que fazem múltiplos executivos atuais e antigos de alto nível.


    Tweet 13

    Ok, havia mais informação sobre o processo, mas que se lixe, vamos saltar para a frente


    (Não existem os tweets 14 e 15)

    Tweet 16

    Os Ficheiros do Twitter, Primeira Parte: Como e Porquê o Twitter Bloqueou a História do Portátil de Hunter Biden


    Tweet 17

    Em 14 de outubro de 2020, o New York Post publicou o artigo EMAILS SECRETOS BIDEN, uma notícia baseada no conteúdo do portátil abandonado de Hunter Biden:


    Tweet 18

    O Twitter levou a cabo medidas extraordinárias para suprimir a história, removendo links e publicando avisos de que podia ser “inseguro”. Até bloquearam a sua partilha através de mensagem direta, uma ferramenta até então reservada a casos extremos, como, por exemplo, pornografia infantil.


    Tweet 19

    A [então] porta-voz da Casa Branca, Kaleigh McEnany, ficou sem poder entrar na sua conta por tweettar sobre a história, o que originou uma carta furiosa do funcionário da campanha de Trump, Mike Hahn, que dizia: “Pelo menos, finja que se importa com os próximos 20 dias”.


    Tweet 20

    Isto levou a responsável de política externa [do Twitter], Caroline Strom, a lançar uma consulta WTF [acrónimo inglês para ‘willing to fail‘, que corresponde a uma política de tomada de riscos numa empresa]. Vários funcionários observaram que havia tensão entre as equipas de comunicação/política, que tinham pouco/menos controlo sobre a moderação, e as equipas de segurança/confiança:


    Tweet 21

    A nota de Strom gerou a resposta de que a história do portátil tinha sido removida por violação da política de “materiais hackeados [pirateados informaticamente]” da empresa:


    Tweet 22

    Apesar de várias fontes se recordarem de ter existido naquele Verão um aviso “geral” da polícia federal sobre possíveis ataques piratas informáticos estrangeiros, não há provas – que eu tenha visto – de qualquer envolvimento do Governo na história do portátil. Na verdade, pode ter sido esse o problema…


    Tweet 23

    A decisão foi tomada nos mais altos níveis da empresa, mas sem o conhecimento do CEO [presidente-executivo] Jack Dorsey, com a ex-responsável pela área Jurídica, Política e Confiança, Vijaya Gadde, a desempenhar um papel fundamental.


    Tweet 24

    “Eles apenas o fizeram por conta própria”, é como um ex-funcionário caracterizou a decisão. “A pirataria informática foi a desculpa, mas em poucas horas, praticamente todos perceberam que isso não ia aguentar [ou manter-se de pé a desculpa]. Mas ninguém teve a coragem de revertê-lo.


    Tweet 25

    Pode ver a confusão na seguinte longa troca [de e-mails], que acaba por incluir Gadde e o ex-chefe de Confiança e Segurança, Yoel Roth. O funcionário da área de Comunicação, Trenton Kennedy, escreve: “Estou a lutar para compreender a base política para marcar isto como inseguro”:


    Tweet 26

    Por esta altura “toda a gente sabia que isto estava lixado”, disse um antigo funcionário, mas a resposta foi essencialmente para errar do lado de… continuando a errar.


    Tweet 27

    O ex-vice-presidente Global de Comunicação, Brandon Borrman, pergunta: “Podemos afirmar sinceramente que isto faz parte da política?”


    Tweet 28

    Ao que o ex-adjunto do administrador da área jurídica, Jim Baker, parece aconselhar a manter o curso, porque “a cautela é justificada”:


    Tweet 29

    Um problema fundamental com as empresas tecnológicas e a moderação de conteúdos: muitas pessoas responsáveis pelo discurso sabem/preocupam-se pouco com o discurso, e têm de ser informados sobre o básico por pessoas externas. A saber:


    Tweet 30

    Numa troca humorística no dia 1, o congressista democrata Ro Khanna contacta Gadde para sugerir gentilmente que falem ao telefone. Khanna foi o único [congressista] democrata que encontrei nos ficheiros que expressava preocupação.


    Tweet 31

    Gadde responde rapidamente, mergulhando imediatamente nas intrincada política do Twitter, desconhecendo que Khanna está mais preocupado com a Declaração de Direitos:


    Tweet 32

    Khanna tenta redirecionar a conversa para a Primeira Emenda, menção que é geralmente difícil de encontrar nos ficheiros:


    Tweet 33

    No espaço de um dia, a responsável pela Política Pública, Lauren Culbertson, recebe uma carta/relatório medonho de Carl Szabo da empresa de investigação NetChoice, que já tinha inquirido 12 membros do Congresso – 9 Republicanos e 3 Democratas, desde “a Comissão Judiciária da Câmara ao Gabinete da Rep. [Representante] Judy Chu”.


    Tweet 34

    A NetChoice deixa o Twitter saber que haverá um “banho de sangue” nas próximas audições[no Congresso], com os membros a dizerem que é um “ponto de viragem”, queixando-se que as tecnológicas “cresceram tanto que nem conseguem regular-se, por isso o Governo pode ter de intervir”.


    Tweet 35

    Szabo relata no Twitter que algumas figuras no Congresso estão a caracterizar a história do portátil como “o momento de Access Hollywood da tecnologia” [escândalo]:


    Tweet 36

    Os ficheiros do Twitter continuaram:
    “A PRIMEIRA EMENDA NÃO É ABSOLUTA”
    A carta de Szabo contém passagens arrepiantes que transmitem as atitudes dos legisladores democratas. Querem “mais” moderação e, quanto à Declaração de Direitos, “não é absoluta”


    Tweet 1 extra de Matt Taibbi

    Um incrível enredo paralelo, no caso Twitter/portátil de Hunter Biden, foi o que foi feito sem o conhecimento do CEO [do Twitter] Jack Dorsey e quanto tempo demorou para a situação ficar “resolvida” [‘unfucked’ na expressão em inglês usada no tweet] (como um ex-funcionário disse), mesmo depois de Dorsey ter intervindo.


    Tweet 2 extra de Matt Taibbi

    Há múltiplos exemplos nos ficheiros em que Dorsey intervém para questionar suspensões e outras ações de moderação em contas de todo o espectro político

  • Da China ao Catar: dois mundos iguais, com dois olhares escandalosamente diferentes

    Da China ao Catar: dois mundos iguais, com dois olhares escandalosamente diferentes


    De repente, dois regimes opressores, em duas geografias distintas, por dois motivos diferentes, estão debaixo dos holofotes, no centro das notícias a nível mundial: China e Catar.

    No Catar, no meio dos debates tardios sobre os direitos humanos e a exploração de emigrantes. testemunhamos em directo estádios cheios de milhares de pessoas, festas e celebrações.

    Na China, vemos na TV e em vídeos na Internet, pessoas a serem perseguidas e detidas, por polícias vestidos com fatos anti-contaminação, porque o Governo totalitário diz que “o recorde” de 30 mil casos positivos diários ao SARS-CoV-2, numa população de quase 1,5 mil milhões de pessoas, justifica encerrar e condenar à fome e à miséria toda uma população. Mesmo que, em alguns casos, haja pessoas que morram até por incêndios, porque não conseguem escapar das chamas por as casas estarem bloqueadas.

    two person holding papercut heart

    O Mundo assiste assim, em directo e, em simultâneo, aos acontecimentos que se desenrolam nestas duas ditaduras. Dois países que parece estarem em planetas diferentes. E, ainda assim, o Tico e o Teco não se encontram e não despertam as mentes de alguns no Ocidente, incluindo jornalistas e comentadores nos media?

    Perante a trágica e irracional política seguida na China, olhando em simultâneo para o Catar em festa, nem mesmo assim alguns jornalistas e políticos admitem aquilo que é urgente admitir por ser tão óbvio: o que o regime chinês está a fazer à sua população é um crime de gigantescas proporções, que nada tem de estratégia de saúde pública.

    E até se compreende esta atitude de muitos no Ocidente. Há jornalistas e políticos que se assumem hoje, de forma mais ou menos discreta, como porta-vozes do regime totalitário chinês. O modelo tirânico de controlo e submissão a que os cidadãos chineses são forçados a viver, passou a ser apelativo a muitos interesses no Ocidente, ainda livre, onde as liberdades de imprensa e de expressão existem, mas que não param de ser ameaçadas. É só ver a política de censura e perseguição a que assistimos desde 2020 e a supressão da Ciência que não validava as teses “oficiais” dogmáticas, muitas das quais se mostraram ser erradas. E muitos políticos e jornalistas as apoiaram, as incentivaram.

    No Estádio de Lusail, onde a selecção portuguesa venceu o Uruguai, estava uma plateia de quase 90 mil adeptos. (Foto: FPF)

    No caso da China, assistimos nos últimos dias a uma onda de protestos corajosos contra o regime opressor, que continua a impor, em 2022, uma política insana e tirânica usando como desculpa a covid-19. O regime totalitário tem mantido detidas em casa centenas de milhões de pessoas, em condições desumanas, mas parece até merecer uma certa condescendência dos media ocidentais porque, aparentemente, o Governo chinês até está a fazer aquilo que muitos políticos e jornalistas gostariam que, no fundo, se tivesse feito nos países europeus ou norte-americanos durante a pandemia.

    Do outro lado, no Catar, assistimos a estádios cheios de gente, a imagens de glamour e festa – num país igualmente intolerante e cruel. No que toca à covid-19, as condições de entrada no país são iguais para todos, tenham ou não tomado a vacina contra a doença, não sendo necessário apresentar teste negativo. Até porque as vacinas contra a covid-19 não impedem o contágio nem a infecção.

    Também os media estão no centro das atenções, pela forma como estão a cobrir os protestos na China, muitos aparecendo como porta-vozes do regime chinês, a defender a política irracional de “zero covid”.  

    red flag
    As políticas “de saúde” impostas pelo regime totalitário na China desde 2020, apesar de muitas delas não terem base científica e desrespeitarem os direitos humanos e civis, têm sido elogiadas por políticos, jornais, responsáveis de autoridades de saúde e comentadores nos media nos países democráticos ocidentais, que caminham cada vez mais para ditaduras.

    Indo por partes. Uma política de “zero covid” é, em primeiro lugar, completamente impossível, insustentável e insana, sobretudo depois do surgimento da variante Ómicron, mais contagiosa, mas muito menos letal do que as anteriores variantes. Jamais se poderá reduzir a “zero” a presença do SARS-CoV-2 depois da Ómicron. Como disse o epidemiologista Michael Osterholm, diretor do Center for Infectious Disease Research and Policy, da Universidade do Minnesota, nos Estados Unidos: “tentar parar a Ómicron é como tentar parar o vento”.

    Mas, o que ressalta à vista, e deveria ser o destaque em toda a imprensa, é o completo falhanço da China na “gestão” sanitária e social da pandemia de covid-19. Os casos positivos somam-se, apesar das medidas completamente absurdas e tirânicas adoptadas no país liderado por um Governo autoritário e opressor.

    Ao contrário, a Suécia, onde, sem confinamentos, nem máscaras faciais, em geral, temos o caso de maior sucesso na gestão da pandemia no médio e longo prazo. (Aliás, os países europeus apresentam em 2022 um nível extremamente elevado de mortes em excesso – sem explicação e sem vontade de se investigar, curiosamente – enquanto na Suécia, a mesma situação não se verifica.)

    Os confinamentos foram e são uma medida errada. O objetivo “zero covid” é insano, em termos médicos, científicos e económicos. Por isso, é com surpresa que se continuam a ver notícias em alguns media tradicionais (ou mainstream) sobre o que se passa na China. Estão completamente desfasadas da realidade. A falta de contexto em algumas notícias é gritante.

    Mas, mais do que isso, surpreende que alguns media mainstream continuem a defender a estratégia da China na luta contra a covid-19. Ignoram, para isso, não só os factos, os dados e os estudos científicos robustos disponíveis, como se esquecem de algo crucial: a China é uma ditadura. Assim, a informação dita oficial é suspeita, dada a propaganda generalizada e o gigantesco controlo de informação.

    Vejamos, por exemplo, os supostos “casos recorde” na China destacados por jornais como o Público: estamos a falar de 30 mil casos em média, por dia, numa população de 1,44 mil milhões de pessoas. Isto, quando 90% da população chinesa mais de metade da população chinesa está supostamente vacinada contra a covid-19, uma percentagem que sobe no caso das principais cidades do país.

    Registo actual da percentagem de vacinação contra a covid-19. Fonte: Google.

    Vale a pena recordar mais uma vez, e mesmo que se possa parecer repetitivo, que a maioria dos media mainstream continua a ocultar ao seu público: a taxa de letalidade da covid-19. Um artigo científico divulgado no mês passado, onde se destaca como autor John Ioannidis, o epidemiologista mais citado do Mundo, estimou, que a taxa de mortalidade por infecção de covid-19 antes de haver vacinação e do aparecimento da Ómicron foi de 0,095% para os menores de 70 anos, sendo irrelevante nos grupos etários mais jovens. E apontou também que a taxa de letalidade global se situava entre 0,03% e 0,07%.

    Isto são factos. E os jornalistas lidam com factos, não com ilusões, ideologias e lavagens cerebrais da propaganda chinesa ou das farmacêuticas. E muito menos com “consensos sociais“, ao contrário do que é defendido pelo director do Público.

    Por tudo isto, os jornais e os jornalistas deveriam sobretudo reflectir sobre como podem “conviver” com um regime opressor que aprisiona a sua população para reforçar o poder reforçado – e “embrulha” isto como se de uma simples estratégia de saúde pública se tratasse – ao mesmo tempo que assistem a jogos de futebol, noutro Estado autoritário, em estádios lotados.

    man in white robe standing near statue during daytime

    Antigos bastiões da defesa da democracia e da liberdade de imprensa e de expressão, vejo hoje os media, em geral, transformados em porta-vozes de ditadores ou aspirantes a ditadores, enviesando as suas análises, manipulando, omitindo e não dando verdadeira informação, corajosa e independente.

    Por isso, hoje, mais do que desejar a vitória da seleção portuguesa no Catar, desejo a vitória sobre a ditadura por parte do povo chinês, com o qual me solidarizo. Desejo a vitória das minorias e dos que sofrem de perseguição e discriminação no Catar, na China e em outro qualquer país. E desejo que haja uma revolução no jornalismo e que os media voltem a ser aquilo que deveriam ser hoje: uma luz para a liberdade.

  • Os protestos na China são contra uma estratégia de saúde pública ou contra a pura opressão autoritária?

    Os protestos na China são contra uma estratégia de saúde pública ou contra a pura opressão autoritária?

    O PÁGINA UM analisa uma recente notícia da Associated Press sobre as manifestações em Xangai e outras cidades chinesas. E aponta as falhas, agora recorrentes, da imprensa mainstream, desde a falta de contextualização política até à ausência completa e absurda de um enquadramento que tenha em consideração os mais actuais avaliações sobre a pandemia .


    A pergunta é legítima: por que motivo a imprensa mainstream e mesmo as grandes agências noticiosas, mesmo internacionais, publicam agora notícias importantes que apresentam falhas graves de informação e carecem de contexto?

    É por os jornalistas que as escrevem não deterem conhecimentos e ignorarem o contexto? É por negligência ou mesmo incompetência de editores? É propositado por indicação da política editorial ou comercial das empresas de media?

    red and black heart illustration

    Esta semana, de novo, volta a repetir-se um cenário que tem sido comum desde o início da pandemia: notícias de agências noticiosas internacionais, divulgadas em massa pelos restantes meios de comunicação social, apresentam graves falhas de informação e de contexto.

    O caso de divulgação de notícias com falta de contexto, e até tendenciosas, por parte de agências noticiosas, é mais grave devido ao fenómeno das notícias recicladas – denominado como churnalism. Notícias são replicadas até à exaustão sem a devida verificação de factos e sem que os meios de comunicação social que as replicam assumam qualquer responsabilidade pela sua veracidade e qualidade.

    Saliente-se, desde já, que as agências noticiosas são cruciais e o seu trabalho é de fundamental importância. Habitualmente, é através das agências que os restantes meios de comunicação social conseguem rapidamente obter informação de todo o Mundo sobre conflitos ou catástrofes repentinas, mas também sobre todo o tipo de temas da actualidade, por terem correspondentes sempre presentes. Mas as redacções destas agências têm vindo a ser emagrecidas. Jornalistas com mais experiência são demitidos e, quando substituídos, surgem outros com pouca experiência.

    O advento da Internet e das redes sociais teve um papel relevante, já que hoje muita informação surge diretamente de internautas. O Mundo está muito mais rápido. Mas nada disto serve como justificação para as falhas que noticias cruciais continuam a apresentar. E ainda mais nos últimos anos.

    black video camera

    Paradigmática desta situação é, por exemplo, a tendência crescente para uma certa complacência e falta de contexto propositado na cobertura de notícias sobre a China e sobretudo da sua abordagem à gestão da pandemia da covid-19. Mas esta tendência para a chinezisação dos media ocidentais será tema a abordar em análise futura.

    Foquemo-nos num exemplo de uma recente notícia de uma conhecida agência internacional para demonstrar como se falha na independência e isenção jornalística. Trata-se de uma notícia de ontem da Associated Press (AP), intitulada “Protests over China’s COVID controls spread across country”. Em tradução livre: “Protestos sobre medidas covid-19 na China alastram no país”.

    Primeiro, vale a pena sublinhar que esta notícia só foi divulgada pela imprensa mainstream quando já circulavam em abundância na Internet relatos, fotos e vídeos sobre a existência daqueles protestos, como se pode confirmar no canal China Uncensored. Ou seja, as agências noticiosas só acordaram quando se mostrou visível que estavam estranhamente a “dormir” sobre o assunto. Mas avancemos.

    Em causa, segundo a AP, e segundo a sua notícia, estão “os protestos contra as medidas de controlo antivirais na China, que confinaram milhões de pessoas nas suas casas” e que “espalharam-se para Xangai e outras cidades” após denúncias de que um incêndio urbano em Urumqi teria causado um número superior de vítimas face à contabilidade oficial. Naquela região, a política de confinamentos impede a saída das pessoas em quaisquer circunstâncias.

    Notícia da Associated Press analisada pelo PÁGINA UM.

    Continuemos com a notícia da AP que nos revela que “a polícia de Xangai usou spray de gás-pimenta contra cerca de 300 manifestantes, segundo uma testemunha”. A notícia acrescenta ainda: “Vídeos publicados nas redes sociais que dizem ter sido filmados em Nanjing, no leste, e em Guangzhou, no sul, e pelo menos cinco outras cidades, mostraram manifestantes a lutar contra a polícia vestida com fatos de proteção brancos ou a desmantelar barricadas usadas para selar bairros”.

    Ao fim da leitura de um título e dos três primeiros parágrafos, a primeira grande falha mostra-se óbvia: nenhuma menção ao facto de a China ser uma ditadura, um regime totalitário, tradicionalmente repressor e autoritário.

    Num regime ditatorial – que persegue minorias e opositores políticos e onde não existe liberdade de expressão –, o facto de se estar a aprisionar em casa milhões de pessoas deveria merecer dúvidas sobre a real justificação para esse acto. Além disso, convém recordar que um regime totalitário tem como principais instrumentos o controlo de informação e a manipulação de dados. Aliás, a propaganda é crucial em qualquer regime totalitário, como é o caso da China. Assim, contextualizando a situação chinesa, o leitor ficaria logo prevenido quanto à fiabilidade dos dados vindos do Governo chinês. 

    Protestos repelidos pela polícia chinesa, vestida com fatos brancos.

    Mas a segunda falta de contexto na notícia da AP é ainda mais perniciosa, porque remete para mitos criados em todo o Mundo relativamente ao controlo da pandemia. No quarto parágrafo da notícia refere-se que “o Governo do Presidente Xi Jinping enfrenta uma raiva crescente com a sua política de “zero-covid”, que tem encerrado o acesso a áreas em toda a China, numa tentativa de isolar todos os casos numa altura em que outros Governos estão a aliviar os controlos e a tentar viver com o vírus”.

    Naquele parágrafo está um dos erros básicos cometidos por jornalistas na cobertura do combate à pandemia da covid-19: escrevem acriticamente, como se fossem relações-públicas de Governos e autoridades de saúde.

    Assim, quando a notícia refere “tentativa de isolar todos os casos”, não está a ser isenta. Deveria antes referir “alegadamente, numa tentativa de isolar todos os casos”. Porquê? Porque é o Governo chinês que diz que as medidas drásticas – que incluem barricar casas, prédios e bairros inteiros – tem o objetivo de “isolar todos os casos” de covid-19.

    Não é o jornalista, nem a AP, que o dizem. É o Governo. E ainda por cima o Governo chinês – que comanda uma ditadura – a dar aquela justificação. Ao escrever aquela frase na notícia, a impressão que passa para o leitor é que se justifica barricar bairros e aprisionar milhões de pessoas nas suas casas; que é uma justificação “verdadeira” e essencial, apesar de tudo. Na verdade, o que o jornalista sabe, é que aquela é uma justificação dada pelo Governo. Apenas isso. Não é a verdade. Não é um facto.

    Mas, no parágrafo seguinte da notícia da AP, surge a grande machadada no jornalismo: “Isso [os confinamentos] manteve a taxa de infecção da China mais baixa do que a dos Estados Unidos e a de outros países”. Ora, afirmar isto, assim, é extremamente grave.

    Primeiro, porque os dados divulgados na China estão sempre ensombrados pela dúvida, porque se trata de uma ditadura, que controla e manipula a informação de forma sistemática. Aliás, todos deveríamos questionar como um país de quase 1,5 mil milhões de pessoas, e que conta 1,45 milhões de casos positivos – ou seja, 0,1% da sua população – e contabiliza oficialmente 5.233 óbitos por covid-19 – que assim matou 0,00036% da sua população –, pode justificar, por razões de saúde pública, medidas tão draconianas. Ou mente nos números da incidência e letalidade; ou então mente na justificação para as medidas, que nada têm de protecção da saúde pública.

    Segundo, em outros países os confinamentos falharam no propósito de reduzir os casos de covid-19, como comprovam diversos estudos científicos. Para a imprensa mainstream custa cada vez mais assumir que o país com o maior sucesso na redução de casos e na gestão da pandemia a médio e longo prazo foi a Suécia, que recusou, em geral, os confinamentos, bem como o uso de máscaras faciais – e preferiu uma política sustentável de saúde pública enquadrando a covid-19 num contexto global do ponto de vista sanitário e socio-económico. Ao contrário do que a notícia da AP veicula para o público, os confinamentos não reduzem o número de casos nem são um instrumento sensato de se usar em sociedade.

    Assim, com este tipo de notícias, a AP assume, mesmo que inconscientemente, o papel de porta-voz do regime chinês, porque “a taxa de infecção da China” é aquela que o Governo chinês quiser, e quiser que se saiba. Deve sempre um jornalista, por isso, na cobertura de temas de regimes que controlam a informação, ter o cuidado de mencionar que os dados são os divulgados por autoridades sem crédito, uma vez que num regime como o chinês os dados de uma pandemia podem ser verdadeiros ou ser fabricados para impor uma qualquer política. Aliás, nem só em ditaduras, diga-se: veja-se as dificuldades do PÁGINA UM em aceder a bases de dados em Portugal, que o obriga mesmo ao recurso a tribunal.

    Mas continuemos na análise. A notícia da AP prossegue então com a seguinte frase: “Mas o Partido Comunista no poder enfrenta crescentes queixas sobre os custos económicos e humanos à medida que as empresas se fecham e as famílias ficam isoladas durante semanas com limitado acesso a alimentos e medicamentos”.

    Finalmente, aqui temos a primeira menção de que se trata de um regime “comunista”. No quinto parágrafo, contudo. E acrescenta ainda a AP que “alguns manifestantes surgiram em vídeos a gritar para Xi se demitir ou o partido no poder resignar”, sem sequer se preocupar em contextualizar a relevância destas manifestações num país onde a liberdade de expressão e de manifestação é zero. Ou seja, haver manifestações deste género em Xangai é de uma relevância política e social sem precedentes desde Tiananmen.

    Mais à frente, a notícia informa que “os líderes partidários [chineses] prometeram, no mês passado, tornar as restrições menos disruptivas, facilitando a quarentena e outras regras, mas disseram que mantinham a política de “covid zero”. Como têm alertado cientistas e médicos, é impossível atingir “zero covid”, e começam a surgir estudos científicos independentes que demonstram o seu fracasso do ponto de vista económico e social. Mas esta informação de contexto não surge em lado algum na notícia da AP.

    A notícia continua com erros de análise e falta de contexto. Escreve ainda o jornalista da AP: “Entretanto, um aumento das infecções, que empurrou os casos diários acima dos 30.000 pela primeira vez, levou as autoridades locais a impor restrições que os residentes reclamam exceder o que é permitido pelo Governo nacional”. Primeiro, há aqui mais uma (habitual) falta de rigor na contabilização e contextualização dos números da pandemia, que foi erro grave mas corriqueiro desde o início de 2020.

    Na China, as actuais contagens de casos positivos variam diariamente, havendo dias em que se ultrapassaram efectivamente os 30 mil casos, mas nos dias anteriores os números foram muito mais baixos, da ordem dos poucos milhares. Em rigor, a média dos últimos sete dias na China anda agora pelos 25 mil casos positivos por dia, estando ao nível do pico de Abril deste ano. Mas atenção, 25 mil casos num universo de quase 1,5 mil milhões de pessoas é quase nada.

    Em Portugal, em Janeiro destes ano, chegámos aos 58 mil casos positivos (média móvel de sete dias) numa população de 10 milhões – ou seja, de menos de 1% da população chinesa. Haver 25 mil casos na China é como haver cerca de 173 casos por dia em Portugal. Actualmente, temos em Portugal uma média diária de 573 casos, o valor mais baixo do último ano.

    Onde está este tipo de enquadramento na notícia da AP?

    E depois, não acham estranho que em sete parágrafos da notícia da AP não surja nenhuma referência ao nível de vacinação contra a covid-19 na China? Não era suposto ser com a vacina que iria terminar com a pandemia e regressarmos à normalidade? Já agora, convém acrescentar que a vacinação contra a covid-19 na China é de 90,1%, segundo os mais recentes dados do Our World in Data. E mesmo assim justificam-se estes confinamentos atrozes? É tudo ainda por causa da covid-19? A AP nada questiona. A imprensa mainstream nada pergunta.

    Outra informação crucial ausente em toda a notícia da AP: o nível de letalidade da covid-19, a nível mundial e na China, antes e depois do surgimento das vacinas, antes e depois da dominância da variante Ómicron, e até por faixa etária, sabendo-se hoje, com Ciência, que os efeitos da pandemia foram praticamente nulos nas faixas mais jovens da população.

    Por exemplo, um artigo científico divulgado no mês passado, onde se destaca como autor John Ioannidis, o epidemiologista mais citado do Mundo, estimou, a partir de 31 estudos nacionais de seroprevalência sistematicamente identificados na era da pré-vacinação, que a taxa de mortalidade por infecção de covid-19 foi de 0,095% para os menores de 70 anos, sendo irrelevante nos grupos etários mais jovens. E apontou também que a taxa de letalidade global se situava entre 0,03% e 0,07% mesmo antes dos programas de vacinação e antes do surgimento da variante Ómicron.  Nada disto importou na notícia da Associated Press, bem como na generalidade das notícias da imprensa mainstream sobre a pandemia.

    Em suma, e sem prejuízo de relatar correctamente uma parte dos acontecimentos na China, a AP – tal como a generalidade da imprensa mainstream – continua a ser a imagem de uma comunicação social auto-sequestrada pela sua conduta durante a pandemia. E que justificou, mesmo no mundo ocidental, uma política de lockdowns nunca vista em tempo de paz, conduzindo a derivas totalitárias que hoje, com apreensão, vemos chegar a extremos na China. E que, a manter-se a falta de rigor informativo, exigível à comunicação social em democracias, podemos ver chegar à Europa um destes dias.

    Aliás, a mudança constitucional prometida pelo PS e pelo PSD, no que diz respeito à retirada de direitos civis em caso de supostas pandemias, não serve para fazer igual ao que se fez desde 2020; é para fazer bem pior. A China está ali para o demonstrar. E com a falta de rigor informativo, patente na imprensa mainstream ocidental, como aqui se demonstra, esse desfecho é não só possível como até aplaudido e comungado por jornalistas do regime.

  • Eis aqui a verdadeira Nova Ordem Mundial! Na versão boa

    Eis aqui a verdadeira Nova Ordem Mundial! Na versão boa


    Quando entrevistei, recentemente, Michael Levitt, um Prémio Nobel da Química, fiquei sensibilizada com o tom com que falava do seu “novo amigo” John Ioannidis. Os seus olhos brilhavam ao mencionar o seu nome. Alargava-se nos elogios ao epidemiologista norte-americano, o mais respeitado e citado do Mundo. Era como se estivesse a ouvir Michael Levitt numa versão de criança, contagiado de alegria por uma nova amizade. (Talvez não estejamos habituados a ver adultos a falar de forma tão efusiva dos seus novos amigos.)

    Eu compreendo a alegria de Levitt. E desconfio que o leitor também compreende porque, desde 2020, muitos de nós “perdemos” amigos que dávamos como garantidos para a vida, e “ganhámos” novos amigos que parece estarem connosco desde sempre.

    four person hands wrap around shoulders while looking at sunset

    Serão talvez as chamadas “almas gémeas” que se encontraram a partir de 2020, não no sentido amoroso, mas no afectivo e empático: somos do mesmo “planeta”; viemos da mesma “nave”.

    No caso de Levitt e de Ioannidis, são agora parceiros na investigação científica. Mas não só. Partilham agora uma amizade forte, forjada em tempos desafiantes, onde todos fomos testados.

    As amizades forjadas nesta pandemia – em tempos de retrocesso civilizacional, de “guerra” aos humanos e à comunidade, em tempos de censura, desinformação e segregação – ficarão para a vida, suspeito.

    Mas não só amizades. Não são simples amizades, estas que têm sido formadas nos últimos quase três anos. Porque a estas amizades somam-se muitas outras também nascidas na pandemia e que, no seu todo, formam comunidades.

    Ainda esta semana, Aseem Malhotra, um especialista em cardiologia britânico que tem feito uma campanha para suspensão da administração de vacinas mRNA contra a covid-19, partilhou a sua alegria no Twitter, após ter finalmente conhecido, em carne e osso, Ryan Cole, um reputado patologista que tem educado sobre o que as vacinas causam no corpo humano. Ambos têm sido alvo de censura e perseguição, numa altura em que o dinheiro da indústria farmacêutica e dos seus associados – incluindo políticos, grupos de media e tecnológicas – ainda tem algum poder.

    A foto de alegria dos dois, sentados lado a lado, na plateia de uma conferência, em Oslo, na Noruega, dizia tudo. Não necessitava de legendas.

    Pessoalmente, vivi também esta sensação de alegria que se sente ao conhecer pessoalmente alguém com quem se partilha algo importante em comum. Em 2020, escrevia eu nas redes sociais – sobretudo no Facebook e no LinkedIn – sobre o que não batia certo na narrativa oficial sobre a pandemia. Os dados que não estavam correctos, a cobertura dos media mainstream que, além de sensacionalista, era, por vezes, falsa e persecutória. Etc, etc. Assistíamos todos, ao vivo, a crimes a serem cometidos contra a população. Tínhamos de fazer algo, além de escrever e expor os crimes nas redes sociais.

    Conhecer os “colegas” da Plataforma Cívica – Cidadania XXI foi mais do que uma alegria. Foi mágico. Como se estivesse destinado a acontecer. Montar as Tertúlias da Junqueira e moderá-las, semana após semana. Tudo presencialmente, numa altura em que se espalhava medo e até pânico pela população. Mas nunca parámos. Fizemos muitas noitadas. Debatemos, discordámos, rimos. Foi intenso. E foi bonito. Cada convidado que aceitava participar, cada painel que ficava fechado, era como… se algo superior estivesse a operar. Tudo se encaixava.

    Dirão que estou a entrar num registo lamechas. Talvez. Mas não fica por aqui, o meu relato. Recordo também como foi conhecer cada um dos convidados das Tertúlias. Cada um dos que se deslocaram semanalmente ao Vinyl para ouvir o contraditório que não se ouvia em mais lado nenhum, em Portugal, praticamente. Lá, revi amigos que não via há muito. Fiz novas amizades. Algumas são hoje cruciais na minha vida.

    Seguiu-se o Farol XXI. E, claro, o PÁGINA UM com o Pedro Almeida Vieira.

    Posso, hoje, não conseguir dar atenção por igual a todas as amizades novas que fiz desde 2020. Mas são muito especiais para mim. Claro que amizades que já tinha se mantiveram e, algumas, até se reforçaram.

    Mas, para muitos, desde 2020 que se formaram novas ligações afectivas, profissionais. Novas comunidades.

    E era aqui que eu queria chegar.

    No meu caso, da Cidadania XXI ao PÁGINA UM, passando por todos os projetos que outros “colegas” e amigos criaram em defesa da Ciência, da medicina, da democracia, dos direitos humanos e civis, estão formadas diversas novas comunidades.

    Tivemos de criar páginas nas redes sociais e na Internet, tivemos de aderir a plataformas encriptadas como o Signal e o Telegram. Tudo para divulgar e partilhar informação rigorosa e verdadeira, contrariando a propaganda e a desinformação divulgada no mainstream. Uma aventura! O mesmo se vê “lá fora”. Tanto na Ciência, na academia, no jornalismo, na advocacia. Muitas comunidades se formaram. E muitas com base em novas amizades bonitas e fortes que se forjaram.

    person in red sweater holding babys hand

    Mesmo sem a pandemia, e antes da pandemia, já várias comunidades se formavam, indiferentes a Governos, políticas… e a Novas Ordens Mundiais.

    Desde comunidades em torno da permacultura, até a sistemas de ensino focados na natureza e nas crianças e suas diferenças e criatividade, passando por novas formas de “dinheiro”, muitas comunidades se desenvolveram. E cresceram.

    Para mim, só o facto de ter começado a cultivar uma horta – por coincidência, em Março de 2020 –, trouxe-me todo um novo conjunto de amizades boas e bonitas. E, não uma, mas várias comunidades onde hoje me integro.

    Ver nascer novos projetos, novos jornais, plataformas cívicas, grupos de cientistas, de médicos, de professores, … Vislumbra-se o nascimento de um novo mundo. Uma verdadeira Nova Ordem Mundial. Mas na versão boa.

  • O ódio nos olhos dos jornalistas “fascistas”

    O ódio nos olhos dos jornalistas “fascistas”


    Tudo começou com uma notícia sensacionalista. E falsa. Naquele tempo, naquele lugar, havia jornalistas racistas, com ódio. Também em boa parte da população “branca”, o ódio era grande. Uma notícia, na primeira página de um jornal, tornou-se, segundo várias fontes, no “gatilho” que iniciou o massacre racial de Tulsa, nos Estados Unidos. Decorreu entre 31 de maio e 1 de junho de 1921. O número de vítimas mortais é incerto, oscilando entre dezenas e centenas.   

    Ainda hoje, o massacre de Tulsa vive, através dos registos e testemunhos que sobreviveram, para lembrar a todos do que o ódio, as multidões cegas com ódio podem fazer. E o que notícias sensacionalistas e falsas podem causar.

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    O tempo passa, mas o ódio parece sempre conseguir encontrar lugar no coração dos homens e mulheres. Como hoje, nas redacções portuguesas, europeias, o que não falta é jornalistas com ódio. Sim, também os há racistas, homofóbicos, machistas, antissemitas, xenófobos.

    Mas há, sobretudo, hoje, vários jornalistas adeptos de medidas e regimes totalitários, defensores da ditadura em nome de um alegado “bem comum”. Odeiam a liberdade, a democracia, a liberdade de expressão, a liberdade individual e a soberania sobre o próprio corpo (pelo menos, no caso das vacinas contra a covid-19). Este ódio foi (e é ainda) visível na cobertura que fazem (ou não fazem) de eventos e acontecimentos.

    Odeiam todos os que resistiram à propaganda da pandemia, os que se mantiveram sem vacinas contra a covid-19, os que se mantiveram sem máscaras faciais e sem álcool-gel na mão, os que recusaram denunciar vizinhos por receberem amigos ou familiares para jantar nos confinamentos.

    Odeiam os que se manifestaram a favor dos direitos humanos e civis, a favor da Ciência verdadeira e da liberdade. Odeiam os que preferiram abandonar empregos onde lhes era exigido que tomassem obrigatoriamente as vacinas contra a covid-19.

    Novak Djokovic vai voltar a competir na Austrália, depois de ter sido recusada a sua entrada por se manter sem vacina contra a covid-19. As notícias sobre o tenista tinham, por vezes, um tom negativo e depreciativo para o atleta.

    Odeiam os atletas que preferiram ficar de fora de competições do que abdicar da soberania sobre o seu corpo e protegê-lo de novas substâncias injectáveis cujos riscos para a sua saúde superavam amplamente os eventuais benefícios.

    Odeiam os que fazem perguntas e também os que apresentam dados e evidências de que os confinamentos foram errados e um crime, de que as vacinas carecem de informação crucial, de que as mortes em excesso na Europa são graves e devem ser investigadas por entidades independentes. Estes jornalistas e diretores de publicações não trabalham para informar o público. Trabalham para ajudar a criar “consensos sociais” – como diria o director do Público.

    Notícia do jornal Tulsa Tribune publicada no dia em que teve início o massacre racial de Tulsa e breve a noticiar o arquivamento do processo contra Dick Rowland.

    O ódio nestes jornalistas nasceu na pandemia, com a desinformação e a propaganda que muitos deles ajudaram a espalhar. O ódio nestes jornalistas nasceu da mesma forma como sempre nasceu o ódio: por ignorância e por medo. Onde há medo e ignorância, está o terreno tratado para semear o ódio.

    Este ódio semeado na pandemia dá muito jeito para os que pretendem tomar de assalto o mundo livre, o mundo ocidental. O ódio semeado na pandemia é perfeito para gerar a destruição do que tem estado a impedir o nascimento de um novo mundo, em que apenas uns ditam “a verdade” e ganham todos os lucros e todo o poder. Um mundo sem democracia, sem direitos civis, sem direitos humanos, sem liberdade, sem liberdade de expressão. Como na China. Como na Alemanha nazi. Como em Tulsa, em 1921.

    Numa entrevista ao PÁGINA UM, um dos melhores jornalistas de investigação, Bostjan Videmsek, alertou que espera que a pandemia não tenha servido como “ensaio” para serem aplicadas mais medidas totalitárias, agora com a ‘desculpa’ do combate à grave crise ambiental que vivemos.

    Videmsek não é apenas jornalista, escritor e activista pelo ambiente. É embaixador do European Climate Pact da União Europeia na Eslovénia.

    O seu alerta faz sentido. Imagine: e se os jornalistas que ajudaram a distribuir dogmas e propaganda na pandemia – destruindo a democracia e a Ciência verdadeira – agora forem espalhar eventual propaganda e promoverem como “boas para o consenso social” medidas totalitárias anunciadas para alegadamente combater a crise ambiental. Combater as alterações climáticas.

    Isto é possível, dado o ódio à liberdade à democracia que se instalou em boa parte das redacções dos media mainstream portugueses e europeus e que é visível pelo apoio que deram à segregação da população e à desinformação científica que espalharam. Pior. Ainda hoje, muitos jornalistas acreditam que “seguem a Ciência” e que os confinamentos eram bons e que “vai ficar tudo bem”. Nem com a inflação, as mortes em excesso e os estudos e dados científicos, muitos desses jornalistas despertam do sono em que mergulharam nos últimos quase três anos.

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    Mas, temos um problema. Não só não despertaram, como agora odeiam. E o ódio é potente.

    E é grave porque a democracia está prestes a capitular em Portugal – se avançar a revisão constitucional ilegal proposta – e em muitos outros países, onde medidas fascistas se tornaram a norma desde 2020. Não é preciso mencionar o Canadá, a Nova Zelândia, a Austrália, Itália, França, Alemanha, Estados Unidos…

    Em todos estes países foram implementadas medidas que, não só foram erradas cientificamente e não ajudaram a combater eficazmente o vírus SARS-CoV-2, como ainda deixaram um rasto de danos gigantesco, em termos de saúde, humanos, sociais e económicos. E danos na democracia, liberdades, direitos e garantias.

    Como democrata, pouco me interessa a ‘esquerda’ ou a ‘direita’. O que conta, para mim, é o que se vê os governos e partidos a fazerem, na prática. Essa suposta diferença entre ‘esquerda e ‘direita’ não passa, para mim, hoje, de puro marketing. Publicidade. Como nas campanhas de propaganda para convencer a população de que o tabaco fazia bem à saúde.

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    Há anos que vejo medidas de partidos e governos de ‘esquerda’ mais próximos do fascismo. Nos anos recentes, sobretudo desde 2020, acentuou-se a ideia: o fascismo crescente instalou-se nos países ditos do Ocidente.  

    A nova moda de totalitarismo vem disfarçada, envolta em marketing, em campanhas de propaganda, como só se viu em regimes totalitários.

    O papel dos jornalistas na instalação de regimes totalitários, fascistas, é crucial. Também hoje, muitos alinham na moda fascista para manterem o ‘seu poder’ e financiamento. E porque alguns diretores e jornalistas são… “fascistas”. Sempre o foram. Outros defendem hoje a instalação de uma ditadura. E nem sabem, o que é trágico.

    Quem passou por redacções em Portugal, sabe que estão cheias de jornalistas de ‘esquerda’. Incluindo desta nova ‘esquerda’ – supostamente – que tem vindo a eliminar direitos civis e direitos humanos.

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    Que partidos com tiques fascistas queiram eliminar direitos civis e direitos humanos, e a liberdade de imprensa, compreende-se. Afinal, são assumidamente fascistas. Mas ver o mesmo acontecer a partidos ditos de ‘esquerda’ e de ‘centro’ e os seus apoiantes – incluindo jornalistas – é completamente atroz.

    É inacreditável que os direitos humanos e direitos civis na pandemia tenham sido sobretudo defendidos por partidos e políticos mais conservadores e de direita. Como é possível?

    Como se os pólos terrestres se tivessem invertido e o caos se tivesse instalado na Terra.

    Colocar em causa a manutenção e a defesa de direitos humanos e civis é ameaçar diretamente a democracia. Quem quer ficar refém e à mercê de propagandistas, de um regime baseado numa falsa ciência (como era também o de Hitler), num regime em que tudo (e todos) o que se quiser passa a ser uma ameaça ‘à segurança nacional’, a ‘estabilidade’, ‘o bem comum’. Basta que possa questionar o regime novo ou a falsa ciência. Basta que mostre evidências científicas que contrariam a ciência comercial em voga no Mundo Ocidental.

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    Torna-se curioso, do ponto de vista científico e comportamental, assistir a demonstrações fascistas de pessoas que, sem o saber que são, falam nas TVs, nas redes sociais, nas rádios. Escrevem nos jornais os seus artigos de opinião e até as suas notícias. Sim, os jornalistas “fascistas” escrevem as suas notícias enviesadas, pejadas de propaganda, só ouvem as fontes que promovem o novo regime fascista. Como na Alemanha nazi, no Portugal do Estado Novo, na América ‘anti-comunista’ Macarthista.

    O novo Macarthismo instalou-se. Agora, ‘os comunistas’ são os que defendem a liberdade e a democracia, a Ciência verdadeira, e que são vistos como ameaça aos novos “fascistas”.

    Dirão: ah, mas este fascismo é necessário por causa da… pandemia. Por causa da crise ambiental, da crise climática. Como é que alguém pode ser tão burro? Sim, burro. Não uso a palavra de modo leviano. É preciso muita burrice, muitas palas nos olhos para, em 2022, alguém racional se deixar levar por propaganda descarada. Como os alemães na Alemanha nazi. Só, de facto, o medo e ódio podem gerar tantas palas nos olhos de tantos.

    A Suécia foi o país que melhor geriu a pandemia. De longe! É só olhar para as estatísticas covid e não covid. Para a diferença entre as mortes excessivas nos países que aderiram ao fascismo do seculo XXI e a Suécia. A diferença é abissal!

    A Suécia não alinhou com os confinamentos e imposição de máscaras, em geral, tornando-se um caso de sucesso na gestão da pandemia de covid-19.

    Ainda assim, perante as evidências e os factos, a massiva propaganda paga por fundos públicos e privados – incluindo da indústria farmacêutica e todos os que lhe estão ligados, como colaboradores, acionistas ou “parceiros comerciais”, como os jornais – tem conseguido enganar boa parte da população. Aqui se incluem jornalistas e uma pseudo ‘elite’ que de pensante pouco tem, hoje em dia. Estão atulhados pelos medos, a sensação de insegurança. A baixa literacia científica que têm vindo a demonstrar é um dos calcanhares de Aquiles que os ajudou a tornarem-se vítimas do novo fascismo e a nova ideologia de totalitarismo.

    Custou ver jornalistas a atacar cidadãos e cientistas por mostrarem as evidências científicas sobre a inutilidade das máscaras num vírus como SARS-CoV-2, sobretudo a violência do seu uso em crianças. Custou ver, mas deu para se perceber que estavam cheios de medo. Emocionais. O tom dos seus ataques era transparente. O seu ódio.

    Por isso, quando políticos e propagandistas das farmacêuticas espalharam a fake news de haver uma ‘pandemia de não vacinados’, tantos jornalistas se prestaram a propagar a falsa notícia. A desinformação nesta pandemia foi atroz. Mas o que mais custou ver, e continua a custar ver, é a ignorância que jornalistas e políticos aceitam demonstrar publicamente.

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    A Ciência verdadeira foi atacada desde 2020 e substituída por políticas erráticas ou baseadas numa ‘ciência’ dogmática e comercial, vocacionada sobretudo para impulsionar a venda de produtos diversos.

    A Ciência só o é se for baseada na evidência. Estudos de farmacêuticas ou cientistas ligados à indústria, ou entidades financiadas por alguém ligado à indústria, não contam, naturalmente.

    Nesta altura, quando temos uma ameaça sobre a democracia, saúdo todos os socialistas e social-democratas que se estão a levantar em defesa da pureza da Constituição e em defesa dos direitos humanos e direitos civis. Que estão a opor-se a esta revisão ilegal e perigosa.

    Agora, também seria bom começar a ver jornalistas, directores de media mainstream, se levantarem a favor da democracia, dos direitos humanos, dos direitos civis. Da liberdade.

    Os jornalistas têm muitas responsabilidades. Só espero que, ao contrário do que a maioria fez desde 2020, desta vez as usem para o verdadeiro bem comum, a democracia, a liberdade e o progresso da Humanidade.

  • Pandemia: media mainstream tiveram ‘um papel central’ na perseguição de cientistas

    Pandemia: media mainstream tiveram ‘um papel central’ na perseguição de cientistas

    É um cenário de terror, aquele que é descrito por um estudo feito por cinco investigadores de universidades de Israel e da Austrália. Os investigadores entrevistaram cientistas e médicos de renome a nível mundial que contestaram as políticas seguidas na gestão da pandemia de covid-19 e apresentaram outras soluções. O que descobriram é perturbador: foram usadas tácticas de censura “extremas e sem precedentes” contra aqueles reputados cientistas e médicos. Além da supressão e censura das suas publicações e declarações públicas, outras tácticas foram usadas, como a difamação e perseguição de várias formas, incluindo pelos media mainstream, e a eliminação das suas contas em redes sociais. O estudo conclui que os grupos de comunicação social tiveram aliás um “papel central” na perseguição de ‘opositores’ às políticas que foram seguidas, com as tecnológicas, como Facebook, Google, Twitter e LinkedIn, a terem um papel especial. Conclui também que entidades públicas e farmacêuticas estiveram envolvidas na censura que foi levada a cabo. Mas, as tácticas extremas de censura usadas e a falta de transparência têm tido o efeito oposto do pretendido, levando a população a desconfiar das autoridades de saúde e das políticas seguidas.


    Tácticas de censura “extremas e sem precedentes” foram utilizadas para calar cientistas e médicos de topo a nível mundial que manifestaram posições discordantes das medidas políticas de gestão da pandemia da covid-19. Os media mainstream tiveram um papel central na perseguição das vozes ‘dissidentes’, a par das tecnológicas, como Facebook e Google, estando Governos e farmacêuticas envolvidos em actos de censura.

    Estas são algumas das conclusões de um estudo publicado na prestigiada revista científica Minerva uma publicação especializada em estudos sociológicos do grupo Springer por cinco investigadores de universidades de Israel e da Austrália. O estudo detalha como cientistas e médicos de topo a nível mundial foram visados por acções difamatórias, de censura e perseguição em larga escala.

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    Os investigadores Yaffa Shir-RazEty ElishaBrian MartinNatti Ronel e Josh Guetzkow, destacam no seu artigo intitulado Censorship and Suppression of Covid-19 Heterodoxy: Tactics and Counter-Tactics, que os métodos e tácticas usadas na pandemia foram anti-científicos e podem colocar em risco a vida de pessoas e a saúde pública, constituindo também uma ameaça à liberdade individual e liberdade de expressão. E avisam que a censura acabou por ter um efeito contrário, aumentando a desconfiança pública nas políticas seguidas.

    “Criar um falso consenso, censurando informação e impedindo debates científicos, pode levar os cientistas, e, portanto, também os decisores políticos, a afundarem-se no paradigma dominante, fazendo com que ignorem outras opções mais eficazes para lidar com a crise ou talvez até a impeçam”, alertam.

    Além da censura, que se tornou “a norma” na pandemia, os cientistas e médicos que apresentaram soluções alternativas às oficiais para gerir a pandemia foram alvo de técnicas de difamação e perseguição.

    A metodologia dos investigadores, para a prossecução desta análise, incluiu entrevistas a “13 médicos e cientistas bem estabelecidos [12 homens e 1 mulher], de diferentes países do mundo (nomeadamente, Austrália, Canadá, República Checa, Alemanha, Israel, Reino Unido e Estados Unidos]”.

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    Os media mainstream, a par das tecnológicas, executaram campanhas de perseguição a médicos e cientistas, incluindo classificando as suas pesquisas como “desinformação”, não os entrevistando, e eliminando as suas contas nas redes sociais.

    Destes médicos e cientistas, destacam os investigadores, “11 têm formação médica formal de diversas áreas [por exemplo, epidemiologia, radiologia, oncologia, cardiologia, pediatria, ginecologia, gestão das urgências] e dois são cientistas de investigação sem diplomas médicos [nas áreas da gestão de riscos e psicologia]”. Aqueles especialistas, frisam, “têm um mestrado ou doutoramento, e quatro têm ambos”, sendo que a maioria deles “é bem conhecida nas suas áreas, com um acervo de investigação comprovado que inclui muitas publicações académicas”.

    Os investigadores utilizaram “um método de amostragem propositado, ou seja, uma amostragem não probabilística, segundo a qual é feita uma seleção deliberada de indivíduos que nos podem ensinar sobre o fenómeno em estudo” e, “para preservar o anonimato dos inquiridos, são omitidos detalhes que podem levar à sua identificação”.

    À semelhança de situações anteriores em que houve censura e perseguição de cientistas e médicos, também na pandemia de covid-19 “os resultados de investigação indicam um envolvimento significativo dos meios de comunicação social e do establishment médico na censura e supressão de dissidentes”.

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    Mas salientam que houve “três grandes diferenças” que ocorreram na perseguição e censura de cientistas e médicos durante a pandemia de covid-19.

    Segundo o estudo, “em primeiro lugar, no que diz respeito ao conhecimento relacionado com a covid-19, as tácticas de censura utilizadas contra dissidentes foram extremas e sem precedentes na sua intensidade e extensividade, com revistas científicas e instituições académicas e médicas a participarem na censura de vozes críticas”.

    Por exemplo, um dos participantes do estudo referiu que “até páginas de publicação de estudos ainda não revistos por pares e sites de colaboração académica censuraram artigos e estudos científicos que não estavam alinhados com a narrativa mainstream“, acrescentando que se foi observando”, e isto parece ser “uma tendência crescente”.

    Os investigadores citam também um exemplo recente que ocorreu com um estudo que analisou um inquérito de mais de 300 mil pessoas em 175 países que decidiram não tomar as vacinas contra a covid-19. O estudo “foi removido da página ResearchGate.net nove dias depois de ter sido publicado, citando quebra dos seus termos e condições”.

    Mas o estudo publicado na Minerva apresenta mais preocupantes casos: “o que os nossos inquiridos descrevem vai muito além da censura, e inclui um vasto leque de métodos de supressão destinados a destruir a sua reputação e carreira, apenas porque se atreveram a tomar uma posição diferente da ditada pelo establishment médico”.

    red and white love letter
    Os media mainstream também ajudaram a espalhar o medo pela população durante a pandemia,
    criando um clima de desespero e mesmo de pânico, em algumas situações.

    Em segundo lugar, outra diferença face a outras situações de censura, é que “embora estudos anteriores também tenham isolado casos em que investigadores e médicos com currículos impecáveis e até mesmo estatuto académico ou médico sénior foram censurados quando se atreveram a expressar opiniões divergentes, o estudo actual mostra que, no caso da covid-19, censurar médicos e investigadores de estatura tornou-se um fenómeno regular”.

    Os autores do estudo fazem ainda um alerta: “os participantes no nosso estudo, bem como os mencionados na introdução e muitos outros não incluídos na nossa amostra, não são cientistas à margem”. Isto porque, “a maioria são figuras de destaque: investigadores e médicos que antes da era covid-19 tinham um estatuto respeitável, com muitas publicações na literatura científica, algumas delas com livros e centenas de publicações, alguns a liderar departamentos académicos ou médicos, alguns deles editores de revistas médicas, e alguns tinham ganho prémios significativos”.

    A terceira diferença “proeminente”, destacada no artigo da Minerva, “é o papel significativo desempenhado pelas organizações de media durante a pandemia da covid-19, e especialmente as empresas de informação tecnológica, na censura de posições contrárias”. São estas organizações comunicação social e donas de redes sociais que “a nível prático”, detêm o poder, “têm maior capacidade e oportunidades para controlar o conhecimento e a divulgação de informação, e através disso, definir e controlar a agenda”.

    Os investigadores apontam que “documentos recentemente divulgados de processos judiciais indicam que pelo menos parte desta censura é orquestrada por funcionários do Governo”. “As nossas conclusões também apontam indirectamente para outras partes interessadas envolvidas no fenómeno da censura evidente na atual crise, especialmente as empresas farmacêuticas”, revelam.

    woman in black tank top covering her face with her hands

    Apesar deste estudo não se ter debruçado especificamente sobre o envolvimento de partes interessadas na censura, diversos relatórios, “tanto antes da era covid-19, como mais recentemente, (…) indicam o envolvimento extensivo de empresas farmacêuticas e de tecnologias de informação em silenciar informações e estudos que podem ser desfavoráveis para eles”.

    Para os investigadores, “dado o papel central destas empresas ao lado dos decisores políticos nas autoridades de saúde e nos governos a nível global, uma grande preocupação é que interesses substanciais, incluindo financeiros e políticos, bem como interesses relacionados com a reputação e a carreira, possam estar por detrás dos esforços de repressão”.

    E salientam ainda que “o interesse das empresas farmacêuticas em controlar o discurso em relação ao covid-19 é evidente”. Por exemplo, foram impostas “medidas altamente incomuns” para impedir que médicos pudessem utilizar medicamentos já existentes no mercado na fase inicial de infecção pelo SARS-CoV-2. Recorde-se que a utilização de medicamentos existentes inviabilizaria a aprovação para uso de emergência de outros fármacos, como é o caso das actuais vacinas.

    Citando um outro estudo publicado este ano, os investidores destacam que a proibição de um debate inicial poderá ter tido consequências económicas [luz verde para vacinas e novos fármacos sob autorização de uso de emergência], financeiras [lucros enormes para grandes empresas] e políticas [restrições globais de liberdades individuais]”.

    traffic light in red

    Segundo este estudo, as tecnológicas “também têm fortes interesses em controlar o discurso sobre a pandemia covid-19” e os autores citam um caso exemplar: “em Junho de 2021, foi revelado que a Google, que foi acusada de silenciar a teoria que o vírus SARS-CoV-2 teve origem no Instituto Wuhan de Virologia, financiou, durante mais de uma década, pesquisas de vírus levadas a cabo por um cientista ligado a Wuhan, Peter Daszak, através do seu ‘braço’ de caridade, Google.org”. Além disso, a Google também “investiu um milhão de dólares numa empresa que usa epidemiologistas e análises de big data para prever e rastrear surtos de doenças”, referem os autores.

    Por outro lado, também o British Medical Journal revelou que o processo de fact-checking do Facebook e do YouTube [da Google] assenta em parcerias com verificadores de factos de terceiros, reunidas sob a égide da International Fact-Checking Network. Acontece que “esta organização é gerida pelo Poynter Institute for Media Studies, uma escola de jornalismo sem fins lucrativos cujos principais apoiantes financeiros incluem a Google e o Facebook”. Saliente-se que todos os fact-checkers portugueses, com destaque para o Polígrafo, mas também as rubricas do Público e do Observador, estão associados ao Poynter Institute.

    Quanto aos interesses pessoais dos decisores políticos, o estudo revela que “um grupo de observadores do Governo dos Estados Unidos tem vindo a exigir dados-chave sobre a história financeira e profissional do Dr. Anthony Fauci”, alegando que “durante a pandemia, o Dr. Fauci tem beneficiado generosamente do seu emprego federal, royalties, regalias de viagem e ganhos de investimento”.

    Mas a informação sobre qual foi o seu salário durante os últimos dois anos nunca se tornou pública, tal como as acções e títulos que comprou e vendeu em 2020 e 2021 no mercado financeiro, apesar de Fauci ter influenciado as políticas da covid-19. Também não se sabe o que recebeu — ou não recebeu — em royalties.

    dead end signage

    Aquilo que se sabe, na sequência de um pedido de acesso a informação [FOIA], nos Estados Unidos, é que “Fauci foi instruído por Francis Collins, então chefe do NIH (National Institutes of Health), para desacreditar a Great Barrington Declaration e desvalorizar os seus autores”.

    Mas o artigo da Minerva cita ainda outros casos de conflitos de interesses, incluindo de médicos que assumiram publicamente posições em linha com a narrativa. Em Portugal, um dos casos mais gravosos é o de Filipe Froes, que ganhou largas somas de farmacêuticas, e continua frequentemente a ser citado e destacado pelos media mainstream, nunca sendo referida a sua posição como consultor de empresas farmacêuticas, mas ao invés é destacado o seu papel como consultor da Direcção-Geral da Saúde.

    Os investigadores israelitas e australianos revelam também que, com este estudo, pretenderam “sensibilizar para o uso crescente de práticas de censura e tácticas agressivas de supressão, visando até figuras de relevo que se atrevem a criticar ou duvidar do ‘consenso’ que é imposto”. E avisam: “a censura e as práticas de silenciamento podem ter consequências de grande alcance, manifestadas na violação da liberdade de expressão e dos princípios éticos, prejudicando a ciência e potencialmente arriscando a saúde e segurança públicas”.

    Os investigadores recomendam, por fim, que sejam realizados mais estudos sobre as implicações da censura e tácticas de perseguição de cientistas e médicos durante a pandemia, concluindo que “a censura e o dogma não fazem parte da verdadeira Ciência e têm de ser abandonados e substituídos por um debate justo e aberto”.

  • Mudar a Constituição: isso, até o III Reich fez

    Mudar a Constituição: isso, até o III Reich fez


    A Suécia é a prova inequívoca e irrefutável de que não é preciso abolir direitos civis e humanos para gerir bem uma crise, seja ela sanitária, energética, económica, climática ou outra qualquer.

    Em Portugal, a legislação em vigor já prevê os mecanismos necessários para lidar de forma eficiente com uma pandemia, nomeadamente a possibilidade de cumprimento de pena pelo crime de propagação de doença contagiosa. Por outro lado, há diversos incentivos para que os cidadãos sigam as recomendações de autoridades de saúde, como o pagamento de baixa médica a 100% devido à necessidade de cumprimento de quarentena. Mais incentivos podem ser introduzidos, incluindo para compensar empresas por faltas de trabalhadores. Os que não cumprirem, enfrentarão a Justiça.

    black and white labeled bottle

    Claro que, como se viu nesta pandemia, muitas medidas e recomendações implementadas careceram de base científica, não encontrando evidência para a sua implementação. A ‘ciência’ utilizada na gestão de uma pandemia ou crise de saúde pública precisa ser baseada na evidência, ou não é Ciência, é política. Muito disso aconteceu desde 2020, infelizmente, com a ´ciência comercial´, baseada em ‘nada’ ou então em estudos pagos e patrocinados por farmacêuticas ou cientistas e entidades financiados por farmacêuticas, a ser utilizada como se tratasse de Ciência. Não é.

    Mas, havendo já todos os mecanismos disponíveis para gerir bem uma crise sanitária, porque querem o PS e o PSD alterar a Constituição para eliminar direitos civis e direitos humanos que lá estão consagrados?

    A resposta é simples: um regime totalitário só pode ficar legitimado com uma consagração na Lei. Por isso, é perfeitamente normal e mais do que esperada a ‘fome’ do PS e do PSD por alterarem a Lei Fundamental do país e eliminar direitos civis e direitos humanos básicos. Uma última machadada na democracia que, moribunda, desfia e definha a cada dia.

    white and black braille machine

    Dirão que é exagerado fazer uma comparação com as alterações legislativas levadas a cabo pelo regime genocida, criminoso, antissemita, homofóbico e xenófobo, anticomunista, nacional socialista de Hitler. É verdade. É exagerado. Mas, para se perceber como se começa a instalar uma ditadura, vale a pena saber que Hitler – como outros ditadores – mudou a Legislação, fez um bypass ao ‘sistema político’ em vigor e concentrou todo o poder. Outros ditadores fizeram ações similares.

    E a verdade é que Hitler precisava disso, ainda assim. Apesar de ter um vasto exército, armamento, de ter uma poderosa máquina de propaganda, e ter grande parte do povo alemão do seu lado. Mas era fundamental que houvesse um quadro jurídico que desse legitimidade à ditadura Nazi. E a Hitler.

    Mesmo as maiores atrocidades tiveram a sua sustentação na ‘ciência’ (do regime), na segurança nacional, na Lei.

    “A detenção sem mandado ou decreto judicial foi um dos actos legislativos e jurisprudência criados no processo gradual pelo qual a liderança nazi transferiu a Alemanha de uma democracia para uma ditadura”, como recorda a United States Holocaust Memorial Museum.

    man in black long sleeve shirt raising his right hand

    Na sua página pode ler-se ainda: “Os Nazis usaram uma estratégia abrangente para controlar todos os aspetos da vida sob o seu regime”. E acrescenta: “Em conjunto com uma agenda legislativa pela qual exigiam unilateralmente ou proibiam certos comportamentos públicos e privados, os dirigentes nazis redefiniram drasticamente o papel da polícia, dando-lhes amplos poderes – independentemente da supervisão judicial – para procurar, prender e encarcerar inimigos do Estado reais ou percebidos e outros que consideravam criminosos”. Aqui estavam incluídos comunistas e radicais de esquerda, também.

    Isto foi antes dos campos de concentração, dos actos criminosos e genocidas, dos assassínios em massa. Primeiro, houve muitos outros passos que tiveram aplausos de muitos alemães. Como, hoje, alguns portugueses incautos e ingénuos, iludidos e enganados, ou fascistas, aplaudem as anunciadas propostas de mudança da Constituição, a Lei Fundamental do país, em vigor praticamente desde que Portugal é uma democracia. Uma Lei criada depois do país ter saído de uma ditadura.

    Hoje, querer-se-á deter cidadãos por “motivos sanitários”, de “bio-segurança”. Amanhã, querer-se-á deter cidadãos por questões “climáticas”, “energéticas”. Por serem “uma ameaça à ordem”, por “quererem organizar manifestações”, por “colocarem em risco a estabilidade” ou o “consenso social” – como diria o director do jornal Público.

    red Emergency Pull lever

    Por umas quaisquer questões de “emergência”, poderem deter, ou seja, privar cidadãos da sua liberdade. Mas não só. Colocar nas mãos de políticos e autoridades de saúde, climáticas ou outras o poder de decidir se um cidadão é livre ou não.

    Imagine-se um qualquer “Filipe Froes” – ‘amigo’ da indústria farmacêutica – a poder decidir sobre detenções de cidadãos por terem estado hipoteticamente, ou de facto, em contacto com alguém ‘infectado com um vírus’.

    Um qualquer “Filipe Froes” que faz parte do grupo de “todos os médicos e todos os cientistas que estão de acordo” sobre um tema, neste caso a pandemia. É que é óbvio existir um “consenso”, quando todos os médicos e cientistas sérios, que não são pagos por farmacêuticas, que discordam do tal “consenso” são simplesmente censurados e afastados! É assim que se criam consensos em ditaduras!

    Na Europa e no Portugal de 2022, o regime totalitário está em marcha. Não é só em Portugal que se têm mudado leis para eliminar direitos civis e direitos humanos. Em outros países, tem havido mudanças e em outros haverá mais alterações. Basta lembrar, no caso português, da censura instituída a coberto de uma Carta Portuguesa de Direitos Humanos na Era Digital, ou a tentativa de eliminar o direito à manifestação, algo impensável em democracia.

    Assim, o quadro de início de um regime totalitário já é uma realidade desde 2020. Nessa altura, com o surgir da pandemia, os poderes políticos e económicos aperceberam-se que tinham pela frente uma oportunidade de ouro para reforçar o seu poder (e lucros) e produzir reformas profundas em áreas como o mercado de trabalho, aproveitando para atropelar e ir eliminando conceitos como direitos civis e direitos humanos.

    blue spiral staircase

    É exagerada a comparação com o sanguinário e abominável regime de Hitler? Sim, é. Mas fingir que não estão a ser usadas tácticas também usadas por ditadores como Hitler é estar em negação.

    Vejamos. Os atuais governos contam com uma boa parte da população completamente do seu lado (como os alemães estavam do lado de Hitler). Uma população que, tal como a alemã, levou com uma campanha de medo (neste caso, aproveitando-se uma pandemia) e propaganda em larga escala, profissional e bem financiada, tanto por fundos públicos como pelo poder económico, incluindo a indústria farmacêutica.

    Uma campanha de medo que também beneficiou, em parte, da baixa literacia científica da população em geral, incluindo da classe jornalística. Uma coisa é ‘Ciência’, que é baseada na evidência, outra coisa é a ‘ciência comercial’, baseada em ‘estudos’ pagos por farmacêuticas.

    Uma campanha aproveitando uma crise (económica), e que identificava um inimigo a abater. Uma campanha que conseguiu pôr uns contra os outros. Que inventou nomes para os “dissidentes”, que difamou cientistas de renome e com uma reputação inatacável.

    black and white rectangular frame

    O regime totalitário que está a ser construído tem também o apoio dos media tradicionais (ou mainstream) que fazem, com gosto, propaganda às medidas e anúncios do novo regime em voga e à ideologia em que assenta. Sim, também hoje está subjacente uma ideologia, segundo a qual as vontades e desejos do poder político e económico – disfarçados agora de “autoridades de saúde” e de “bem comum” – se sobrepõem aos direitos civis e direitos humanos.

    Não falta sequer a esta ideologia a ideia de que a segregação de cidadãos é, não só “normal” – sustentada na ‘ciência’ criada pelos ‘cientistas’ ligados ao poder político e económico –, como é “fundamental”.

    Além dos media tradicionais e de uma parte dos jornalistas, também uma certa (pseudo) ‘elite’ apoia este novo regime totalitário. Em primeiro lugar, porque foram assustados ao ponto de acharem, efectivamente, que a sua segurança está em risco (como na Alemanha Nazi). Segundo, porque têm sido beneficiados pelas medidas impostas pelos líderes do novo regime: confinamentos, com direito a teletrabalho a partir das casas de campo ou com vista para o mar; fundos europeus; pagamento de créditos suspensos (com incremento da poupança e do consumo pessoal).

    woman holding sword statue during daytime

    Junta-se ainda o bónus de estes jornalistas, esta ‘elite’, se poderem sentir ‘superiores’ – mais do que é habitual – porque fazem parte de “algo maior”, uma “missão” em que trabalham “juntos” e “unidos” com políticos e indústrias, para um “fim comum”. Para o “bem comum”.

    Perseguir, reprimir, difamar, injuriar, censurar cientistas, jornalistas, intelectuais, académicos, políticos, artistas, e todos os que se oponham ao novo regime e à nova ideologia é algo visto como “essencial” para afastar “os vermes tóxicos” (em outros tempos eram os comunistas, os judeus, ….) que impedem que se atinja o “fim comum”.   

    Em Portugal, PS e PSD querem mudar a Constituição para eliminar direitos humanos e civis que lá estão consagrados. Não precisam fazer um bypass ao ‘sistema político’ porque PS e PSD “SÃO” o ‘sistema político’ em Portugal. Os outros partidos, como se viu na pandemia, pouco ou nada fazem para parar este comboio a caminho de uma ditadura, em velocidade acelerada, em Portugal e na Europa.

    A democracia já não existe, na verdade. Só falta assumir isso em texto legal. Fica uma democracia fantoche. Uma democracia fantoche até ‘no papel’.

    persons hand with white snow

    A guerra na Ucrânia e a crise económica espoletada pelos confinamentos e restantes medidas de suposta “gestão” da pandemia apenas ajudam a sustentar mais medo na população. Junta-se ainda a grave crise ambiental e as alterações climáticas, que serão certamente usadas para novas medidas de eliminação de direitos humanos e civis, pois o terreno está tratado para receber esta ideologia do medo. Da “bio-segurança”. Da “segurança” energética. Da “segurança” económica. Da “segurança” ambiental e climática.

    Resta aos democratas, pró-direitos humanos e civis, levantarem-se, unirem-se contra este novo ‘monstro’ que está a ser criado. ‘Monstro’ não no sentido sanguinário e genocida (veremos, daqui a uns anos, contudo, após a análise das mortes excessivas que já se verificam) mas porque implica o fim do Mundo Livre. E, mesmo que este regime atual seja derrotado, tal como outras ditaduras foram derrotadas, serão anos de sofrimento, privação de direitos, de retrocesso civilizacional que se registarão.

    Podem mudar a Constituição, as Leis, impor medidas arbitrárias e alavancadas na falsa ‘ciência’ que é a ‘ciência comercial’. Podem censurar, reprimir, difamar, segregar. Enfrentarão uma crescente corrente de cidadãos do Mundo que não baixarão os braços, nem calarão as suas vozes, enquanto a nova ditadura não for definitivamente derrotada.

    Podem mudar a Constituição, legitimando assim a sua ditadura. Mas saibam isto: serão derrotados, leve o tempo que levar. E será garantido que ficarão na História por esse crime cometido contra os portugueses e contra Portugal. O crime cometido contra os valores europeus, os valores humanos. Querem mudar a Constituição? Mudem. O tempo irá julgá-los pelo que são: ditadores.  

    Links com informação oficial recente sobre as propostas de revisão constitucional do:

    PSPS baliza revisão constitucional para aprofundar Estado social e direitos fundamentais | Partido Socialista

    PSDDesafio António Costa a vestir “fato de reformista” na Constituição | PSD

  • ‘Rigor informativo de uma notícia não assenta exclusivamente na veracidade’, defende SIC para justificar imagens falsas

    ‘Rigor informativo de uma notícia não assenta exclusivamente na veracidade’, defende SIC para justificar imagens falsas

    Já são três as deliberações, envolvendo quatro canais televisivos. A Guerra da Ucrânia tem sido o palco para absurdos e propaganda dos media mainstream portugueses, incluindo uso de imagens de videojogos para retratar a suposta realidade. A Entidade Reguladora para a Comunicação Social lança farpas às televisões, mas para estas parece estar tudo bem. A SIC até defende que se pode ser rigoroso mesmo com imagens falsas.


    Depois da CNN Portugal, agora foi a vez da SIC, da SIC Notícias e da RTP levarem um “puxão de orelhas” da Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC), através de duas deliberações distintas, por terem transmitido imagens falsas sobre a guerra na Ucrânia.

    No caso da SIC e da SIC Notícias, a ERC deliberou sobre uma queixa contra os canais de televisão do grupo Impresa devido à transmissão de uma “peça sobre um piloto ucraniano apelidado de ‘Fantasma de Kiev’”. Os dois canais televisivos abordaram, no passado dia 25 de Fevereiro, a história de “um piloto ucraniano, apelidado de ‘Fantasma de Kiev’, que alegadamente abatera vários caças russos”. As imagens usadas para ilustrar as notícias não eram reais, antes eram imagens de um jogo de vídeo de simulador de voo. E o “Fantasma de Kiev” era um verdadeiro fantasma: nunca ninguém o vira.

    man sitting on chair holding newspaper on fire

    Na verdade, a ERC confirma o teor da queixa: as imagens transmitidas foram retiradas de “um vídeo de YouTube, [o] que demonstra que as peças (…) não reproduzem o atual conflito”. Embora o regulador esclareça na deliberação que este vídeo já não se encontra acessível, “antes da sua remoção foi possível identificar a peça em causa e apreender os fundamentos da presente participação”.

    No caso da RTP, a queixa feita junto da ERC diz respeito a uma peça emitida a 1 de Março sobre a “utilização de cocktails Molotov por civis ucranianos contra carros de combate russos”. Também as imagens eram falsas, por não retratarem a realidade então vigente. Segundo o denunciante, as imagens eram iguais às de um vídeo de YouTube, onde se exibiam imagens de um conflito anterior, de 2014, e não as do actual conflito. De facto, as imagens retratam as manifestações na Praça Maidan em 24 de Fevereiro de 2014, um conflito interno que viria a depois derrubar um governo ucraniano pró-russo.

    Deste modo, em ambos os casos, a ERC não tem dúvidas em garantir que foram difundidas imagens falsas, considerando que “a utilização destas imagens põe em causa o rigor informativo”. Recorde-se que o regulador também já detectara o uso de imagens falsas na CNN envolvendo também o uso de imagens de um videojogo.

    SIC e SIC Notícias divulgaram propaganda ucraniana, através de uma história inverídica e com imagens de um videojogo.

    Assim, o regulador deu “por verificado que a RTP, na emissão de 1 de março de 2022, exibiu imagens de um conflito de 2014, publicadas no Youtube há vários anos, referindo-se às mesmas como imagens do atual conflito na Ucrânia, induzindo os telespetadores em erro quanto à sua atualidade e proveniência”.

    Na análise que fez, a ERC nota que as imagens em causa foram “transmitidas no final da reportagem, por 40 segundos, sem qualquer relato jornalístico sobreposto, apenas se ouvindo o som das explosões”, ou seja, “durante 40 segundos aquele vídeo é verdadeiramente a notícia e o telespectador médio considerará, necessariamente, que são imagens atuais, o que não é o caso”.

    Em sua defesa, a RTP alegou que a ERC não teve em conta “convenções mais correntes e comummente aceites no jornalismo televisivo em todo o mundo no que respeita à distinção entre imagens notícia e imagens meramente ilustrativas”, e argumentou que “nem todas as imagens são notícia”.

    Quanto à SIC, na sua deliberação final, a ERC dá “por verificado que a peça transmitida pela SIC e SIC Notícias utilizou imagens de um jogo de vídeo de simulador de voo para retratar o atual conflito na Ucrânia”. Conclui ainda que “a utilização destas imagens põe em causa o rigor informativo da peça jornalística, imposto” pela Lei da Televisão de Serviços Audiovisuais a Pedido.

    Na deliberação, a ERC considera “que é essencial que, no ambiente atual em que prolifera a desinformação, os media noticiosos ditos tradicionais garantam uma informação rigorosa e pugnem por alcançar a máxima credibilidade junto do público”. Diz também que os media mainstream “devem posicionar-se como portos seguros onde se encontra informação de qualidade”.

    O regulador decidiu “instar a SIC e a SIC Notícias a respeitarem o rigor informativo, sobretudo na cobertura noticiosa de guerra e conflitos armados, devendo assegurar a idoneidade e a atualidade de imagens ou discursos provenientes de fontes de informação oficiais e não oficiais, de forma a não veicularem conteúdos de desinformação ou propaganda”.

    Aliás, com base já nas três deliberações sobre má conduta de quatro canais televisivos (CNN Portugal, RTP, SIC e SIC Notícias), a ERC aproveitou para divulgar novamente a sua directiva sobre cobertura informativa televisiva de guerras e conflitos armados, aprovada em Agosto passado,

    Imagens de Fevereiro de 2014 na Praça Maidan, em Kiev, foram transmitidas pela RTP como se fossem de 2022.

    O regulador ainda decidiu “recomendar à SIC e à SIC Notícias que, nos fact-checks que realizem sobre conteúdos que também divulgaram, assumam o facto de também terem transmitido informação incorreta, reconhecendo o seu erro perante o público”. Isto porque a SIC Notícias, em parceria com o Polígrafo, até acabou por desmentir a história do “Fantasma de Kiev”, mas somente 20 dias depois e nunca revelando que também cometera esse erro, e que não tinha sido algo apenas das redes sociais.

    Na verdade, o mais curioso nestes dois processos acaba por ser os argumentos defendidos pelos canais televisivos.

    Por exemplo, notificada a pronunciar-se sobre as imagens falsas, a SIC admite-as, mas ainda argumentou que, “aquando da elaboração da peça, foram respeitados os deveres” jornalísticos. A SIC defende mesmo que “o rigor informativo de uma notícia não assenta exclusivamente na veracidade, o modo de construção da notícia respeitou os padrões de exigência e rigor jornalístico – ainda que se tenha vindo a provar que as imagens não eram reais – não só por a notícia ter sido apresentada de modo dubitativo, ou pelo menos não confirmado, mas outrossim por se tratar de uma notícia amplamente difundida, em particular por fontes oficiais ucranianas”.

    blue and brown hand painting

    A estação de televisão justificou o erro na difusão da notícia com o facto de estar no início do conflito. Explicou que a “notícia surgiu na sequência da publicação online do vídeo em causa”, a par “de fotografias de um piloto ucraniano – publicadas em 2019 pelo Ministério da Defesa ucraniano –, com a indicação de que um piloto ucraniano teria abatido sete caças russos”. E culpa as redes sociais, destacando que a “informação” foi “difundida, nas redes sociais, por várias contas ucranianas, assim como por órgãos informativos tidos por fidedignos”.

    Mas a SIC admitiu que “como se veio a perceber dias depois […] as imagens e a notícia foram veiculadas no âmbito da guerra de propaganda em curso nas redes sociais, utilizando imagens de um simulador de voo e imagens de um piloto ucraniano, de 2019”.

    Mas estes argumentos não foram acolhidos pela ERC, que enfatizou, na sua deliberação, que “a exibição de imagens virtuais como sendo imagens reais não configura um ‘modo dubitativo’ [como alegou a SIC], mas antes uma violação grosseira do dever de assegurar o rigor informativo”.

    O regulador salientou ainda que “o dever de rigor informativo impõe a verificação da autenticidade das imagens exibidas, de forma a detetar imagens virtuais, manipuladas digitalmente, etc.”, sustentando ser “necessário exercer um especial cuidado na utilização de imagens retiradas de redes sociais, nomeadamente através da confirmação da sua veracidade, sob pena de a sua exibição configurar desinformação”.

    man in white dress shirt wearing black framed eyeglasses

    Sobre a alegação da SIC, de que a notícia foi desmentida, tendo o programa ‘Polígrafo SIC’ abordado o assunto no dia 14 de março, a ERC discorda que se trate de uma rectificação.

    “Tendo sido visionado o programa ‘Polígrafo SIC’, verifica-se que, de facto, a história foi desmentida”, salienta o regulador, relembrando, porém, que a SIC não aproveitou a oportunidade para referir que aquelas imagens tinham também sido transmitidas naquele canal. “Na verdade, não procedeu à devida retificação da sua notícia”, conclui a entidade presidida pelo juiz conselheiro Sebastião Póvoas.

    Quanto à alegação dos canais da Imprensa de a sua peça ter sido apresentada em tom dubitativo, o regulador entende que “perante as dúvidas existentes quanto a veracidade da história e daquelas imagens, deveria a SIC ter refletido sobre a pertinência de contar aquela história”.

    Para a ERC, com a difusão daquela notícia falsa, “a SIC acaba por aderir à propaganda ucraniana”. E frisa que “não parece, assim, que fosse necessário um trabalho jornalístico minucioso para verificar que se tratava de imagens de um simulador de jogo, e não imagens reais”.

    Saliente-se, contudo, que apesar de ter esse poder, a ERC não obrigou a SIC, a SIC Notícias e a RTP, tal como já sucedera com a CNN Portugal, a pedirem desculpas aos telespectadores.

  • Mafia style: uma fake news dos media mainstream… que correu mal

    Mafia style: uma fake news dos media mainstream… que correu mal


    Este foi um episódio vergonhoso que ficará na História do Jornalismo em Portugal: quando os media mainstream se uniram para espalhar uma notícia falsa e difamar um jornal independente que acabara de nascer. E como recusaram todos publicar o direito de resposta previsto na Lei. Correu-lhes mal.

    Dez meses depois, é certo, ainda não foi reposta a verdade e nem todos os media mainstream corrigiram uma notícia falsa que divulgaram. Um deles, o Público, lutou até aos tribunais para evitar ter de acrescentar o direito de resposta à sua notícia falsa.

    person in black knit cap and gray sweater

    Mas o director do jornal Público foi esta semana derrotado em Tribunal. Aliás, toda a direcção do jornal, e também a sua editora de Sociedade, a qual teve um papel na publicação de uma notícia falsa e difamatória contra o PÁGINA UM. A juíza não teve dúvidas e não cedeu às pretensões do jornal que queria escapar à publicação de um direito de resposta do director do PÁGINA UM.

    A atitude do director do jornal Público é simplesmente uma lástima. Uma vergonha para o jornal (onde anda a Sonae?).

    Mas neste episódio vergonhoso, o director do Público não é o único protagonista. A questão principal até é esta: como é que diretores de jornais, da Lusa, de TVs, de rádios, de revistas e de media online aceitaram executar a distribuição de uma notícia claramente falsa e difamatória contra um jornal que nascera dois dias antes?

    Em primeiro lugar, analisemos a forma como foi lançada a campanha de difamação contra o PÁGINA UM, em Dezembro de 2021. Foi pouco ou nada original, convenhamos. Aliás, foi mesmo muito vulgar. Vem nos “livros”. Os ingredientes usados para tentar “fritar” o alvo foram os que estão em manuais dos sem carácter, para quem todos os meios justificam os seus lucrativos fins e que mexeram os cordelinhos para orquestrar uma campanha que visava matar um jornal à nascença. E não se tratava de um jornal qualquer.

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    É um jornal liderado por um jornalista com vasta experiência, e que era visto como uma ameaça. Porquê? Porque andava a investigar médicos comprometidos com a indústria farmacêutica, com óbvios conflitos de interesses. E andava a investigar as sociedades médicas. E a poderosa e temida Ordem dos Médicos.

    Portanto, em 23 de Dezembro do ano passado, dois dias após o nascimento do PÁGINA UM, uma suposta “cacha” caiu “por milagre” no colo da recém-estreada CNN Portugal. E logo num estagiário. E parecia fantástica. E era falsa. Mas, rapidamente, para sustentar a falsidade, “surgiram” vários médicos, prontinhos, com agenda disponível, a prestar depoimento, a dar a cara contra o “alvo” a abater. Uma coincidência. Ou melhor, uma providência. Uma “sorte”!

    Para a CNN Portugal, para não queimar jornalistas tarimbados, foi só pôr um estagiário a fingir que ouvia o “alvo”, para dizer que até o contactaram. Mas era a fingir. Tudo o que o alvo dissesse seria para ignorar – como foi –, porque estragava a “cacha” que consistia nisto: uma página negacionista anti-vacinas expôs dados clínicos de crianças online. Grande “cacha”. Só que não.

    wolf pack on rock formation

    Como o estagiário da CNN Portugal apurou junto do “alvo” (o diretor do PÁGINA UM), tratou-se de uma notícia publicada por um jornal online registado na Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC), fruto de uma investigação jornalística e elaborada por um jornalista com carteira profissional. Os dados eram anonimizados, respeitando a Lei e a deontologia. E o resultado da investigação comprometia o imaginado “consenso” sobre o impacte da covid-19 nas crianças, e portanto devia vacinar-se tudo o que mexesse.

    Mais. A CNN Portugal além de saber tudo isto, também tinha a posição da Comissão Nacional de Proteção de Dados que confirmou que não havia problema nenhum na notícia do PÁGINA UM.

    Mas mesmo sabendo que a notícia era falsa, a CNN Portugal avançou. Tinha, por milagre, cinco (CINCO!!!) médicos prontinhos a falar. E não era uns quaisquer. Era o presidente do Conselho Regional do Sul da Ordem dos Médicos. Era a presidente da Sociedade Portuguesa de Cuidados Intensivos Pediátricos. Era o presidente do Sindicato Independente dos Médicos. Era um pediatra do Centro Materno Infantil do Norte. Era o director do Serviço de Humanização e Ética do Hospital de S. João.

    person hands with black liquids

    E voilá: com este naipe, a notícia falsa e difamatória ficou pronta a divulgar. E foi isso que a CNN Portugal fez em destaque, várias vezes ao dia, nos seus noticiários e no site. Em loop. Em replay. Dois dias depois de nascer o PÁGINA UM.  Dois dias, apenas.

    Convenientemente, e apesar de a CNN Portugal saber que tinha sido um jornal a publicar a notícia e não uma qualquer “página no Facebook”, a estação de TV mentiu. E cobardemente omitiu sempre o nome do jornal e do jornalista em questão. Um “truque” sujo que ajudaria a evitar um processo judicial com a desculpa de que não se queria fazer publicidade à tal página “negacionista”.

    Depois, por outro “milagre”, rapidamente chegou aos ouvidos dos outros media que a CNN Portugal tinha publicado a notícia “chocante”. Em tempo recorde, a notícia falsa estava plasmada nos principais órgãos de comunicação social em Portugal.

    Atenção: a própria Comissão Nacional de Protecção de Dados indicava que não havia problema nenhum com a notícia, porque não havia dados nominativos expostos; estava tudo anonimzado. Ainda assim, e apesar disso, a notícia falsa espalhou-se.

    silver corded microphone in shallow focus photography

    E note-se: na semana anterior, a directora-geral da Saúde tinha revelado a condição vacinal (um dado pessoal) de uma jovem com síndrome de Dravet, identificada pela comunicação social com nome e residência, e que alegadamente terá morrido em consequência de complicações por covid-19. Isto sim era revelar dados pessoais, mas nenhum dos médicos que quis participar na farsa da CNN Portugal deu um pio sobre aquilo que a Direcção-Geral da Saúde fez. Nem nenhum media mainstream.

    Se o modus operandi seguido é vulgar e até amador, neste caso, não me espantou. Qualquer agência ou gabinete de comunicação (com maus princípios) dá conta do recado. “Facilita” informação. “Agiliza” nomes a entrevistar. Na sombra ou às claras.

    Assim, a grande surpresa, para mim, foi mesmo a rapidez com que tantos directores de órgãos de comunicação social em Portugal acataram o “esquema” lançado inicialmente através da CNN Portugal.

    people protesting inside building

    Aquilo que o director do Público indicou agora ao Tribunal traz alguma luz e pode responder à questão. Os directores dos media trabalhavam para contribuir para “um consenso social” em torno do tema da vacinação.

    O próprio Público assume a difamação! Ou seja, em nome do “consenso social”, valeu tudo: desinformação, mentiras, falsidades, fake news, destruição da reputação do “alvo” e assassinato de carácter. Mafia style.  

    Jornalismo? Código Deontológico? Estatuto do Jornalista? Tudo para a gaveta!

    Só a ideia, na perspectiva do Jornalismo, é grotesca e aberrante. É o anti-jornalismo puro.

    De resto, sabe-se que o que não existia era “consenso” em torno da vacinação, sobretudo de crianças e jovens.

    gray stainless steel fork and spoon on white ceramic plate

    O tal “consenso social”, imaginado pelas cabeças de directores de jornais e media em geral, só existiu devido à sua sede de agradar ao poder, aliado à baixa literacia científica existente na classe jornalística portuguesa. Mas não explica tudo. Os laços estreitos dos media mainstream com anunciantes e financiamento estatal deram uma ajuda.    

    Enfim, derrotado, o jornal Público, depois da CNN e do Observador terem feito o mesmo apenas após deliberações da ERC, vai ter agora de publicar o direito de resposta do PÁGINA UM na sequência da notícia falsa e difamatória que publicou em Dezembro do ano passado.

    Mas note-se bem: o director do jornal, além de ter permitido a publicação da notícia falsa e difamatória, e conhecendo o trabalho do director do PÁGINA UM, tentou manter a difamação. Perdeu. Perdeu ele, o Público e o jornalismo. Porque é inaceitável este comportamento, ainda mais por parte de um director de um jornal como o Público.

    Foram assim 10 meses de luta para tentar publicar um direito de resposta. A Sonae estará atenta ao seu jornal? Tempo gasto. Dinheiro gasto. E a reputação do Público a ser arrastada na lama pelo seu director que admitiu, perante o Tribunal, que defende que o jornal, que por agora dirige, deve contribuir para um “consenso social”. Saberá o que é Jornalismo?

    kitchen utensils on stone washing station

    Espero, sinceramente, que da próxima vez que a CNN Portugal divulgue uma notícia falsa para fazer uma campanha de difamação, alguém no Público actue para que o director do jornal não a copie para ajudar a criar… um “consenso social”. A desinformação e a difamação nunca foram artes de fazer jornalismo.

    Mas espero também, pelo menos, que, se não aprenderem com os erros e os atropelos ao jornalismo (não só deontológicos), os media mainstream encontrem os leitores que merecem. E o futuro que merecem.

    Aqueles que forem a tempo de aprender e de mudar o rumo, desejo boa sorte.

    Mas, digo já, em tom de desabafo, que tenho pouca esperança de que algum tenha aprendido. Até porque os directores se manterão, os mesmos para quem valeu tudo nos últimos anos, até notícias falsas e difamação. Além de campanhas de ódio – que as houve – e de apoio ao regime de segregação e discriminação, sem qualquer base científica.

    man reading newspaper in bulletin board

    Por isso tudo, desejo o melhor, sim, mas ao PÁGINA UM, que após 10 meses de luta contra gigantes, continua a desempenhar o seu papel de investigar, de publicar notícias e de lançar o debate em temas cruciais para os portugueses. São já 10 meses de luta contra os Golias nos media, no poder político e no poder económico. São 10 meses de luta contra golpes baixos. Contra a ignorância, contra os conflitos de interesses, contra a opacidade e contra a corrupção.   

    Contra as pressões internas, incluindo as da ERC e da Comissão da Carteira Profissional de Jornalista.

    Bem sei que os Golias podem ser muitos e às vezes aparentar serem avassaladores. Mas, de direito de resposta em direito de resposta; de processo em processo; de notícia em notícia, este David avança.

    É uma ameaça para estes Golias? Sem dúvida. E ainda bem.