Autor: Elisabete Tavares

  • De que falamos quando elogiamos Graça Freitas?

    De que falamos quando elogiamos Graça Freitas?


    Graça Freitas vai reformar-se. É com as mãos na cabeça que assisto aos elogios e agradecimentos ao trabalho que Graça Freitas fez na liderança da Direcção-Geral de Saúde. É com assombro que vejo os retratos angelicais e endeusados que muitos dos media mainstream – transformados hoje em autênticas máquinas de marketing político e corporativo – fazem de Graça Freitas.

    O legado daquela que tem sido a directora-geral da Saúde não é só terrível: é trágico, e vai afectar a saúde e os bolsos dos portugueses durante largos e largos anos.

    Mas, ficando eu estupefacta com tanta gente que faz vénias a Graça Freitas, também concluo que fica explicado como é possível haver em Portugal casos como o da TAP. E casos como o de Alexandra Reis.

    Se, depois de quase três anos de decisões catastróficas para o país, há portugueses gratos a Graça Freitas, o caso da “indemnização de 500 mil euros” está explicado.

    Das duas uma: ou o povo que está grato a Graça Freitas vive totalmente alheado da realidade; ou é mesmo sadomasoquista. Sendo uma hipótese ou outra, entende-se que seja fácil haver, neste país, casos de Alexandras Reis em cada gaveta de empresas públicas ou companhias como a TAP – ligada a máquinas e alimentada com o dinheiro de todos nós há anos e anos.

    Graça Freitas geriu a pandemia como se tem gerido o país: com muito marketing; manipulação de informação com ajuda dos media; e dinheiro a rodos para muita gente. O rasto de despesa e sofrimento, ficou para o Estado (nós) e para os mais vulneráveis, como sempre.

    person lying on bed and another person standing

    Passo a explicar. Vejamos os “feitos” daquela que tem sido a directora-geral da Saúde:

    1. Portugal é um dos piores casos de excesso de mortalidade da Europa! Não há explicação, sobretudo porque aumenta também a mortalidade nos mais jovens. Mas há portugueses gratos a Graça Freitas.
    2. Portugal é dos países europeus com mais mortes acumuladas com covid-19 por milhão de habitantes também dos que registam mais casos positivos. Isto, apesar do marketing em torno da elevada taxa de vacinação. Mas há portugueses que agradecem a Graça Freitas.
    3. Os portugueses, incluindo os jornalistas, estão impedidos de aceder a documentos públicos e bases de dados de relevo sobre saúde em Portugal. Reina a opacidade e o esconde-esconde no Ministério da Saúde e na DGS de Graça Freitas (lá saberá porque esconde o que esconde). Mas há portugueses que elogiam Graça Freitas.
    4. A manipulação de dados sobre a covid-19 por parte da DGS foi algo que ocorreu desde o início da pandemia. Contando com a ajuda da imprensa mainstream – a tal máquina de marketing oficial –, apenas foi dada ao público informação tosca e ao gosto do que interessava à DGS, não aos portugueses. Mas há portugueses gratos a Graça Freitas.
    5. A DGS cometeu ilegalidades, e Graça Freitas assinou documentos ilegais, com medidas sem fundamentação nem na Lei nem na Ciência (quarentenas, fecho de supermercados concentrando todos no mesmo local e à mesma hora, etc., etc., etc.). Mas portugueses agradecem a Graça Freitas.
    6. A DGS liderou campanhas de desinformação e arranjou até influencers para lhe fazer o trabalho de marketing local. Mas portugueses elogiam Graça Freitas.
    7. Graça Freitas e a DGS promoveram e compraram com o nosso dinheiro um medicamento que vale zero para a covid-19: o Remdesivir. Mas portugueses admiram Graça Freitas.
    8. Graça Freitas alberga na DGS peritos como Filipe Froes, um contratado por farmacêuticas com milhares de euros mensais de vencimento “extra”. Mas portugueses louvam Graça Freitas.
    9. Graça Freitas promoveu a vacinação para crianças e jovens, quando pediatras e outros especialistas alertavam para os elevados riscos e as dúvidas sobre se as novas vacinas seriam seguras e eficazes para os mais novos. Graça Freitas fê-lo, sabendo o que estava a fazer, e sabendo que as crianças e jovens estão fora do grupo de risco da covid-19. Agora, começa a ver-se um rasto de miocardites e outros efeitos adversos nos mais jovens. A procissão vai no adro. Mas portugueses adoram Graça Freitas.
    10. Graça Freitas ajudou a desacreditar médicos e peritos, ao fechar os olhos em processos da Ordem dos Médicos e a muitas outras situações inaceitáveis, quando questionaram as medidas sem precedentes e erradas que foram implementadas em Portugal. Mas portugueses fazem vénias a Graça Freitas.
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    Em resumo, Graça Freitas abriu uma Caixa de Pandora em várias frentes.

    Pôs em causa a saúde de crianças e jovens.

    Contribuiu para destruir a Ciência – que é distinta da religião dogmática que Graça Freitas promoveu.

    Deixa um rasto de mortalidade covid e não-covid em Portugal – sem explicação ainda.

    E abriu as portas para a implementação definitiva de um estado policial em Portugal e uma tirania sanitária e segregacionista, sem base científica e sem qualquer eficácia em termos de Saúde Pública, sobretudo se avançarem as alterações à Constituição a que se juntará o ameaçador e terrível Tratado Internacional sobre Pandemias.

    E alguns portugueses dizem: “mas ela não tinha alternativa”; “foi o melhor que soube fazer”, etc., etc.

    Errado! Preferiu a via da cobardia (ou da preguiça) e, em vez de fazer o que fez a autoridade de saúde na Suécia – que, efectivamente, seguiu a Ciência e não o marketing político –, adoptou medidas que destruíram a economia portuguesa (devido aos confinamentos e fecho de actividades) e que afectaram a saúde dos portugueses numa dimensão gravíssima, e ainda não totalmente conhecida.

    Anders Tegnell, reputado epidemiologista sueco, liderou a resposta da Suécia à pandemia de covid-19 com um grande sucesso. O país, ao contrário de outros, como Portugal, regista um excesso de mortalidade residual. A Suécia recusou aplicar, em geral, confinamentos e o uso generalizado de máscara facial.

    Mas o que é que isto tem a ver com a TAP e Alexandra Reis?

    Tem tudo a ver.

    Um povo que fica grato a uma directora-geral da Saúde que deixa um rasto de destruição e catástrofe, como fez Graça Freitas, é um povo que não consegue compreender como tem sido gerida grande parte do país, nomeadamente na esfera pública. Ou não percebe e ignora a realidade, ou gosta de sofrer e de ter carrascos.

    Seja como for, espero apenas que sejam muitos os portugueses que compreendam bem que o que Graça Freitas fez nos últimos quase três anos não é para elogiar, e muito menos para se estar grato. Só se for por estar de saída.

    red and white no smoking sign

    O que Graça Freitas fez foi algo de tão terrível e tirânico que desejo que nunca mais se repita. Há quem possa considerar que foi mesmo um crime, sobretudo na recomendação de vacinas com riscos a crianças e jovens saudáveis que não precisavam delas, perante os alertas de pediatras e estudos.

    Penso que, mesmo com toda a informação que a DGS, o Governo e o Infarmed estão a esconder sobre o que se passa com a saúde dos portugueses (e a mortalidade em excesso), Graça Freitas não poderá dormir descansada. Não haverá marketing e media mainstream suficientes para agora parar a informação real e verdadeira que, mais tarde ou mais cedo, irá surgir.

    Mas o pior será para os que sofrem e para os que sofreram devido a Graça Freitas. E pior para os que ainda irão sofrer. Mas enquanto a máquina de marketing funcionar, haverá gratidão. Haverá TAPs e Alexandras Reis. E todos dormirão descansados. Porque o povo – eles sabem – o povo é grato. Sempre muito grato.

  • Afinal, passa-se alguma coisa extraordinária com as acções da Tesla? E com Elon Musk?

    Afinal, passa-se alguma coisa extraordinária com as acções da Tesla? E com Elon Musk?

    Hoje, a sessão em Wall Street fechou com as acções da Tesla a subirem 8%, mas têm sido as desvalorizações ao longo do ano de 2022 que têm marcado a “vida” da mediática empresa do sector automóvel de Elon Musk, que apresenta uma queda de mais de 60% desde Janeiro. Os media mainstream têm freneticamente noticiado, em êxtase, o suposto colapso da Tesla, e culpam a postura de Elon Musk e a sua compra e gestão do Twitter. Mas será uma grande surpresa esta descida das acções da Tesla, após uma vertiginosa subida de mais de 1.000% em menos de dois anos? O PÁGINA UM apresenta uma análise.


    The smart money is selling; the dumb money is buying“. A frase aplica-se hoje como ontem aos mercados de capitais. Quem percebe de mercados financeiros, vende na altura certa; quem não percebe, compra na altura em que não deve.

    Foi Luís Gomes, economista e co-fundador da Criptoloja, que recordou ao PÁGINA UM aquela frase, a propósito da queda recente das acções da Tesla.

    Elon Musk

    Quando falamos da Tesla, falamos do maior fabricante automóvel do mundo em valor em bolsa, com uma capitalização (actual) de quase 350 mil milhões de dólares. O segundo lugar é ocupado pela nipónica Toyota, a uma grande distância do líder: tem pouco mais de metade da capitalização bolsista. Empresas como a Volkswagen, onde está integrada a Autoeuropa, tem uma capitalização bolsista de 20% da Tesla.

    A Tesla chegou a valorizar cerca de 1.300% em menos de dois anos: em Janeiro de 2020 estava nos 28 dólares e atingiu um pico nos 414 em Novembro de 2021. O seu valor em bolsa chegou a ultrapassar um bilião de dólares, ou seja, 1.000.000.000.000 dólares.

    Já no final de 2020, quando a acção chegou então aos 240 dólares, houve grandes investidores que apostaram na sua queda (short sellers), mas erraram e viram a vida a andar para trás. Num só mês, no final daquele ano, a Tesla valorizou 44%.

    Foi o caso de Michael Burry, que ficou conhecido por ter antecipado a crise financeira de 2008 e de ter lucrado com ela. Mas, este ano, este tipo de investidores acertou em cheio.

    Capitalização bolsista em 29 de Dezembro de 2020 das 10 principais empresas do sector automóvel, em mil milhões de dólares. Fonte: companiesmarketcap.com

    Agora, em 2022, as acções da companhia estão a registar uma descida de 68%, mas isso também compara com uma descida de 45% de rivais como a Ford Motor e a Volkswagen.

    Era natural que, após uma valorização tão forte, as acções da Tesla recuassem? Sim. Mas há outros factores que têm contribuído para esta descida, incluindo indicadores suportados na análise técnica, e, em particular, a expectativa sobre a evolução das vendas de veículos eléctricos e da economia em 2023, entre outros.

    Mas então, e a compra do Twitter por Elon Musk está a provocar a queda da Tesla em bolsa, como transparece nas notícias de alguma imprensa mainstream?

    O investimento de Elon Musk no Twitter – uma empresa que vinha a perder receitas e não estará nas melhores condições financeiras – contribui, certamente, para um sentimento de incerteza, mas não é um factor crucial para a evolução da cotação da Tesla, ao contrário da redução de produção na sua fábrica em Xangai, na China, como noticiou  recentemente a Reuters.

    Variação (%) da cotação de empresas do sector automóvel em 2022 (até dia 22 de Dezembro). Fonte: Yahoo Finance.

    É verdade que alguns analistas no mercado temem que Musk esteja distraído com a gestão do Twitter, que tem mais de 400 milhões de utilizadores, mas a precisar de mais receitas. Por outro lado, com a compra do Twitter por 44 mil milhões de dólares, operação que concluiu em Outubro, Musk vendeu, em 2022, quase 40 mil milhões de dólares em ações da Tesla. E o mercado não fica indiferente.

    “A Tesla tem muito ruído à sua volta. Mas, se olharmos para a Meta (Facebook) ou para a Amazon, estão também em valores mínimos de ciclo. Não é só a Tesla”, diz Filipe Garcia, economista da IMF-Informação de Mercados Financeiros. Acresce que, “na Tesla, há a notícia de que a pausa na produção na China vai continuar. Ou seja, há factores intrínsecos e outros que são de mercado”.

    Note-se, por exemplo, que as acções da Meta desvalorizaram 65% desde o início deste ano. As da Amazon caem 50%.

    E, em termos de análise técnica, Luís Gomes apontou que, desde Maio deste ano, a Tesla iniciou uma tendência descendente, com a ocorrência de máximos e mínimos decrescentes. Além disso, rompeu todos os denominador suportes Fibonacci, em particular o de 61,8%. Ou seja, desde o máximo de Novembro de 2021, em que se encontrava em torno de 414 dólares norte-americanos, já corrigiu mais de 70%, faltando agora o último suporte Fibonacci, o de 78,6%. E estamos perto.

    Variação (%) da cotação de empresas do sector automóvel desde 31 de Dezembro de 2019 e 22 de Dezembro de 2022. Fonte: Yahoo Finance

    Ontem, a Tesla já subira 3,31%, fechando nos 112,72 dólares na abertura. Hoje fechou nos 121,82 dólares, recuperando assim 11,7% em apenas duas sessões. Mas, em mercados bolsistas, estas variações têm pouco significado. A acção pode ainda não ter tocado “no fundo” desta descida, e, caso rompa o já mencionado nível 78,6% Fibonacci, que estará situado em redor dos 90 dólares, poderá deixar de “ter fundo”.

    Mesmo assim, perante a constante desvalorização ao longo de 2022, nos últimos três anos as acções da Tesla somam um ganho de “apenas” 300%”. Ou seja, quadruplicaram!

    Saliente-se que nas últimas semanas, à medida que muitos investidores institucionais fecham posições nas suas carteiras com a chegada do final do ano, alguns movimentos nos mercados tornam-se mais expressivos. Estes movimentos são usuais em Dezembro.

    Filipe Garcia lembrou que “empresas como a Tesla são muito grandes” e “têm um peso muito grande em índices ETF, por exemplo”. Ora, nesta altura do ano, basta que grandes investidores estejam a “desfazer” o seu investimento num desses índices para abanar a cotação de ações como as da Tesla.

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    A menor liquidez nestes dias que se aproximam do final de ano, devido ao facto de haver menos investidores no mercado, também contribuem para grandes oscilações das cotações.

    O facto é que, apesar da descida que as acções da Tesla registam em 2022, a maioria dos analistas continua a recomendar a sua compra. O preço médio estimado atribuído às acções da Tesla no final de 2023 situa-se nos 248 dólares por acção.

    George Gianarikas, analista que acompanha há muitos anos as ações da Tesla, é dos que está positivo em relação à evolução da companhia. Analista na Canaccord Genuity, Gianarikas disse, em entrevista à Yahoo Finance, que “actualmente, o mercado não parece estar muito positivo em relação às Tesla, e é compreensível”.

    E explica: “Ouvimos Elon Musk numa conversa no Twitter Spaces e soa decididamente negativo no curto prazo. Há muita incerteza sobre as vendas (de viaturas novas) no quarto trimestre. Há muita incerteza sobre as vendas em 2023. Há muito incerteza sobre a trajectória da margem da empresa”.

    Variação da cotação diária (em dólares) da Tesla entre finais de 2019 e 22 de Dezembro de 2022. Fonte: Yahoo.

    Nessa entrevista, Gianarikas está, porém, optimista quanto ao futuro da empresa de Elon Musk, porque a Tesla “tem um balanço incrivelmente forte para resistir às adversidades de uma recessão” e, por outro lado, “estão destinados a aumentar a sua liderança em veículos eléctricos”, um segmento que pensa “estar prestes a penetrar realmente no mercado automóvel global”.

    Por sua vez, Elon Musk também tem justificado a queda da cotação da Tesla, que é generalizada a outros títulos, às decisões da Reserva Federal norte-americana (FED), devido ao aumento das taxas de juro, que tornaram o mercado de acções menos atraentes para os investidores.

    Quanto à imprensa mainstream, parece previsível que os ataques a Musk vão continuar. Até porque o multimilionário, ao comprar o Twitter, acabou com aquele que era o receio dos seguidores da religião ‘woke’ e dos que têm apoiado a censura e a desinformação em torno da pandemia nas redes sociais.

    Os media tradicionais têm passado a ideia ao público de que Musk permitiu que surgisse desinformação no Twitter e até discurso de ódio, o que é falso. Pelo contrário: desinformação era o que existia antes de Musk assumir a liderança da rede social Twitter, como comprovam os documentos internos que Musk tem tornado públicos, nos chamados Twitter Files.

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    Com a divulgação dos Twitter Files, Musk tirou todos os esqueletos do armário da empresa que agora lidera, mostrando o nível de censura elevado que existia naquela plataforma e que se estende a todas as outras redes sociais e grandes tecnológicas. Ou seja, ganhou muitos inimigos entre os defensores da censura e desinformação.

    E agora que Musk apontou novas baterias à imprensa mainstream, classificando-a de “obsoleta”, abriram-se feridas insanáveis. O novo dono do Twitter assumiu já que deseja criar uma alternativa aos media tradicionais, que acusa de parcialidade e de se limitarem a propagar propaganda. E entretanto disse mesmo que está aberto à ideia de comprar a plataforma de conteúdos Substack, muito usada por escritores e jornalistas independentes, para rivalizar com os media mainstream. Por isso, a guerra entre Musk e os media mainstream parece estar para durar.


    N.D. Luís Gomes é sócio minoritário (5%) da Página Um Lda., a empresa gestora do PÁGINA UM.

  • #TwitterFiles confirmam censura sobre informação verdadeira e estratégia para desacreditar especialistas incómodos

    #TwitterFiles confirmam censura sobre informação verdadeira e estratégia para desacreditar especialistas incómodos

    Já não há dúvidas: o Twitter manipulou o debate sobre a pandemia de covid-19, censurando informação verdadeira mas considerada inconveniente tanto para a Administração Trump como para a Administração Biden. A revelação foi feita esta segunda-feira, no âmbito dos chamados “Twitter Files”, por David Zweig, autor que publica artigos de investigação. Segundo Zweig, o governo dos Estados Unidos pressionou outras redes sociais a censurarem conteúdos sobre covid-19. No caso do Twitter, antigos executivos da rede social tomaram a decisão de considerar que apenas os dogmas das autoridades públicas de saúde eram “A Ciência”, mesmo que outras visões de cientistas e médicos estivessem correctas. Zweig questionou: “Como teria sido esta pandemia e o seu rescaldo, se tivesse havido um debate mais aberto no Twitter e noutras plataformas das redes sociais — para não falar da imprensa mainstream — sobre as origens da covid, sobre os confinamentos, sobre os verdadeiros riscos da covid em crianças, e muito mais”?


    Nas novas revelações dos chamados “Twitter Files” – que têm desvendado antigas práticas de censura aplicadas pelo Twitter –, fica provado que aquela rede social censurou informação verdadeira sobre a pandemia de covid-19.

    Antigos funcionários e executivos do Twitter também censuraram contas de médicos e especialistas com visões e soluções diferentes das adoptadas pelo governo norte-americano na gestão da pandemia. Segundo as novas revelações, até contas de utilizadores comuns foram alvo de censura, sendo suprimida informação com dados oficiais verdadeiros da CDC (Centers for Disease Control and Prevention).

    Estas novas informações sobre censura aplicada pelo Twitter no passado, foram feitas esta tarde por David Zweig, autor que publica artigos de investigação, nomeadamente na revista The Atlantic, New York Magazine e Wired.

    Na segunda parte dos “Twitter Files”, já tinha sido tornado público que a rede social criou no passado listas negras para censurar contas de alguns utilizadores, incluindo especialistas de topo e vozes mais conservadoras. Um dos especialistas que foi alvo de censura por parte do Twitter, e que estava incluído em listas negras, foi Jay Bhattcharya, reputado professor da Universidade de Stanford e um dos três autores da Great Barrington Declaration, que defende uma gestão da pandemia de “protecção focada”, protegendo os grupos de maior risco.

    Mas muitos outros cientistas, académicos e médicos foram censurados, alguns foram mesmo banidos do Twitter, e só agora está a ser levantada a suspensão das suas contas.

    Os “Twitter Files” surgiram da vontade de Elon Musk, novo dono do Twitter, de expor as antigas práticas de censura da rede social. Musk tem estado a entregar documentos internos do Twitter a jornalistas independentes e autores para análise e publicação.

    Até agora, foi revelado que o Twitter censurou vozes conservadoras, suprimiu e desacreditou informação verdadeira sobre o escândalo envolvendo o filho do actual presidente dos Estados Unidos, Joe Biden.

    O Twitter também censurou cientistas e especialistas de topo, executou “pedidos” do FBI e serviços de informação norte-americanos e ajudou o Pentágono a espalhar desinformação, incluindo através da criação de perfis falsos.

    A divulgação dos “Twitter Files” é feita através do Twitter, tendo sido essa a única condição acordada entre Musk e os jornalistas e autores encarregues da análise e publicação da informação.

    Mas ainda não tinha sido divulgada informação específica e detalhada sobre a censura em torno do tema covid-19, a qual é abordada nesta parte dos “Twitter Files” que foi hoje divulgada.

    Segundo Zweig, O governo norte-americano pressionou o Twitter e outras redes sociais a dar mais visibilidade a determinado tipo de conteúdos sobre covid-19 e a suprimir outro.

    A pressão sobre o Twitter para censurar conteúdos relativos à pandemia veio tanto da parte da administração de Donald Trump, como da administração de Joe Biden. Documentos internos do Twitter revelam que ambas as administrações colocaram pressão sobre antigos executivos do Twitter para moderarem os conteúdos sobre covid-19 partilhados na rede social.

    Segundo a nova informação tornada hoje pública por David Zweig, a administração de Trump manteve reuniões com representantes de redes sociais e grandes tecnológicas, incluindo do Twitter, Google, Facebook, Microsoft e outros.

    Mas a administração de Biden pediu mesmo que contas fossem banidas permanentemente e pressionou o o Twitter a censurar conteúdos sobre vacinas. Um exemplo dado é o do antigo jornalista do New York Times e escritor Alex Berenson, que fez diversos alertas sobre vacinas contra a covid-19 e foi banido pelo Twitter a pedido da Casa Branca. Berenson acabou por processar o Twitter e ambos chegaram a um acordo em Tribunal.

    Berenson alertou, diversas vezes, para o facto de as vacinas contra a covid-19 serem ineficazes a impedirem a infecção e a transmissão – como se veio a confirmar – e defendeu mesmo que as vacinas eram perigosas.

    Zweig contou: “um resumo, de Dezembro de 2022, das reuniões com a Casa Branca, de Lauren Culbertson, chefe de política pública dos EUA do Twitter, acrescenta novas provas da campanha de pressão da Casa Branca, e cimenta que repetidamente tentou influenciar diretamente a plataforma”.

    Aquela responsável do Twitter escreveu que a equipa de Biden queria que a rede social fosse mais agressiva na censura de conteúdos sobre a pandemia.

    Os antigos executivos da rede social não acataram todos os “pedidos” de censura da equipa de Biden, “mas o Twitter reprimiu opiniões – muitas de médicos e especialistas científicos – que entraram em conflito com as posições oficiais da Casa Branca”. “Como resultado, as conclusões legítimas e as questões que teriam ampliado o debate público desapareceram”, escreveu Zweig.

    A manipulação de conteúdos existia em relação a outros temas, como se tem comprovado com os “Twitter Files” e, “com a covid[-19], este preconceito inclinou-se fortemente para os dogmas do establishment“.

    Assim, “inevitavelmente, o conteúdo dissidente mas legítimo foi rotulado como desinformação, e as contas de médicos e outros foram suspensas tanto por tweetar opiniões como por informações comprovadamente verdadeiras”.

    Um dos alvos de censura e perseguição foi Martin Kulldorff, um reputado epidemiologista da Universidade de Medicina de Harvard e co-autor da Great Barrington Declaration, quando escreveu a sua opinião, como especialista, acerca das vacinas contra a covid-19. Apesar de a sua opinião ser a de um especialista conceituado e até estar em linha com a visão de alguns países, executivos do Twitter decidiram aplicar um aviso de “desinformação” ao tweet de Kulldorf.

    Num outro exemplo, o Twitter classificou como desinformação dados oficiais da norte-americana CDC partilhados por um verificador de factos sobre saúde.

    Curiosamente, este tweet com dados verdadeiros e oficiais da CDC foi publicado como resposta a um outro tweet, esse sim, com informação falsa, ao indicar erradamente que “desde Dezembro de 2021, a covid foi a principal causa de morte por doença nas crianças”. Esta informação é falsa mas o Twitter não só não lhe aplicou a etiqueta de desinformação como o tweet ainda se mantém na rede social e não foi apagado pelo Twitter.

    Também médicos foram visados pela censura do Twitter, simplesmente por partilharem resultados de estudos científicos verdadeiros sobre temas como as vacinas mRNA, como a comercializada pela Pfizer. Foi o caso de um médico que partilhou os resultados de um estudo que apontaram que, no caso dos jovens entre os 18 e os 39 anos, as vacinas mRNA contra a covid-19 foram associadas a situações de paragem cardíaca e não apenas miocardites.

    Um outro médico, acabou por ser banido do Twitter, após ter recebido várias etiquetas de desinformação. Um dos seus tweets era sobre um estudo científico revisto por pares que concluiu que as vacinas mRNA causam uma diminuição temporária da concentração de esperma e da contagem de espermatozoides e questionava se os reforços de vacina também tinham o mesmo efeito.

    Num outro exemplo de como era feita a moderação interna de conteúdos sobre a pandemia, um tweet onde Trump afirmou “não tenham medo da covid-19” resultou num debate sobre se devia ou não ser censurado. Jim Baker, antigo executivo do Twitter e que antes tinha trabalhado no FBI, questionou porque a afirmação de Trump não foi classificada como desinformação, levando Yoel Roth, antigo diretor de Trust & Safety do Twitter, a explicar que optimismo não era desinformação.

    Zweig conclui a divulgação desta nova parte dos “Twitter Files”, com uma série de tweets em que explica que o Twitter “tomou a decisão, através das inclinações políticas do pessoal senior e pressão do governo, de que a abordagem à pandemia das autoridades públicas de saúde – prioritizando a mitigação sobre outras preocupações – era ‘A Ciência’”.

    Toda a informação que desafiasse a visão oficial, como mostrar os riscos das novas vacinas, ou que podiam ser entendidas como estando a reduzir os riscos da covid-19, especialmente para as crianças, era sujeita a moderação ou mesmo supressão, independentemente de os factos estarem correctos ou de corresponderem a medidas que foram adoptadas em outros países.

    Zweig terminou, questionando: “Como teria sido esta pandemia e o seu rescaldo, se tivesse havido um debate mais aberto no Twitter e noutras plataformas das redes sociais — para não falar da imprensa mainstream — sobre as origens da covid, sobre os confinamentos, sobre os verdadeiros riscos da covid em crianças, e muito mais”?

    Além de Zweig, trabalharam nesta parte dos “Twitter Files” o autor Michael Shellenberger, o jornalista Leighton Woodhouse, o jornalista de investigação Lee Fang e a equipa do jornal independente The Free Press.

    [Pode ler aqui toda a cobertura do PÁGINA UM sobre os “Twitter Files”]

  • O primeiro Natal sem ela

    O primeiro Natal sem ela


    “Oh Betinha, coma mais um bocadinho!” E eu comia. Ela ficava tão feliz de nos ver a todos comer. Sentia certamente que o seu dever estava cumprido, sempre que todos comíamos mais um bocadinho. 

    No Natal, fazia fatias douradas. Eu gostava pouco de fatias douradas. Mas comia, nem que fosse um bocadinho. Ela ficava tão feliz por comermos as suas fatias douradas.

    Como ele, o avô, ficava, por comermos o doce antigo que ele fazia ritualmente todos os Natais. Praticamente, só eu e ele o comíamos. No início, quando o provei a primeira vez, não gostei. Mas, lá está: ficou tão feliz por eu ter provado. Desde esse primeiro Natal, passou a preparar-me uma taça para trazer parte do doce para minha casa. Com os anos, fui gostando mais e mais.

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    Há uns anos que não temos o doce do avô no Natal. Tinha pão, açúcar, vinho do Porto e passas. Talvez canela também. Infelizmente, não aprendi com o avô como fazia o seu doce (ou aprendi e já está escondido algures na minha memória). 

    Este ano, dei-me conta de que não me consigo recordar do nome do doce que o avô fazia. Penso nele, vejo-o feliz com o seu doce no tacho de barro, a ver se me lembro do nome. Nada. A avó dizia sempre: “pra quê fazer tanto doce, se ninguém o come”. Mas ele fazia e comia. E dizia sempre: “a Beta também come”. Como comia as fatias douradas da avó. 

    No outro dia, com a árvore de Natal ainda por decorar na sala, apeteceu-me fazer fatias douradas. De vez em quando, faço panquecas aos fins de semana. Os miúdos gostam. É uma forma diferente de começar o dia à mesa. Cada um gosta de as comer à sua maneira, doces ou salgadas. Mas naquele dia, apetecia-me fazer fatias douradas. 

    green pine tree with fireflies

    Fiz de conta que aquelas fatias de pão que tinha em casa serviam para o propósito. Não eram as ideais. Mas era o seu destino, acabarem fatias douradas.

    De repente, ali na minha cozinha, ouvia a voz da avó Fernanda a dar-me indicações. E ela ria. Tenho saudades do seu sorriso. “Faça mais, Beta! Os meninos vão querer!”, ouvi eu na minha cabeça. Era o que ela diria se estivesse ali. E eu fiz. Não sobrou nenhuma.

    (Lembrei-me que também a minha avó Conceição – cá em casa chamamos de bisavó – fazia fatias douradas. Era, aliás, o único doce que me lembro vê-la a fazer no Natal. E, assim, passaram a estar as duas ali na minha cozinha, ao meu lado, a ver-me fazer as fatias.)

    Comer aquelas fatias douradas foi como se voltasse atrás no tempo. Parecia que a qualquer momento, ela iria ligar cá para casa, como fazia. “Olá Betinha! Tá boazinha?”. “Olá Fernandica!”, respondia eu. “Então, querem cá vir almoçar no domingo?”…

    gift boxes with red baubles on top

    Este Natal é o primeiro sem as suas fatias douradas. Eu posso fazer, mas não são iguais. Gosto das minhas. Mas não são as dela. Mas vou fazer fatias douradas este ano. Vou tentar replicar o doce do avô Ventura (sem o tacho de barro, que não tenho). Vou colocar na mesa, para a ceia da véspera de Natal. Ficará ao lado dos doces mais populares (mousse de chocolate e azevias).

    O aroma das fatias douradas e do doce dos avós, encherão a casa, misturando-se com o das couves cozidas, do bacalhau… E eles não estarão aqui. Mas estarão um bocadinho. 

    Fechando os olhos, consigo vê-los sorrir de orelha a orelha ao ver os netos a abrir os presentes, a brincar com os seus brinquedos novos, pela primeira vez.

    “Oh Betinha, comprei-lhe esta camisola que é a sua cara. É muito quentinha e macia – toque aqui. Mas pode trocar se quiser, veja lá se gosta”. E gostava sempre. Como das fatias, que tinham tanto amor. 

  • ‘Karma is a bitch’: jornalistas mainstream em choque porque sofrem “censura” no Twitter

    ‘Karma is a bitch’: jornalistas mainstream em choque porque sofrem “censura” no Twitter


    O Twitter tem menos de 400 milhões de utilizadores. O Facebook tem mais de dois mil milhões de utilizadores, sendo a maior rede social do Mundo. O Twitter suspendeu contas de jornalistas e caiu o Carmo e Trindade. Os media mainstream desataram aos berros, a Comissão Europeia rosnou ameaças. Mas quando um jornalista é censurado no Facebook (como conto mais abaixo neste artigo)… sepulcral silêncio. Nada acontece. Nenhum jornalista se revolta. Nenhuma entidade oficial lança ameaças a Mark Zuckerberg.

    Porquê? A resposta é: Twitter e Musk. O Twitter era antes, até à sua compra por Elon Musk, o recreio da maioria dos que (erradamente classificados como liberais ou de esquerda, porque são, na realidade, fascistas) têm sido a favor de censura de conservadores e de cientistas de topo, os quais discordavam das medidas da pandemia. Aqui estão incluídos muitos jornalistas que trabalham para grandes grupos de comunicação social.

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    Musk mudou tudo e tirou-lhes o recreio. Já não podem brincar à censura e perseguição. Agora, a eles – que são adeptos de censura à moda do regime chinês – saiu-lhes o bolinho da sorte especial (ou a fava, na versão popular portuguesa). Se quiserem brincar à censura, têm de ir para o Facebook ou continuarem a passear no Instagram.

    Mas isto não se inventa. A sério. Depois de terem apoiado durante quase três anos a censura praticada no Twitter, jornalistas estão em choque porque… há censura no Twitter.

    Em resumo, isto foi o que aconteceu agora: o Twitter suspendeu temporariamente uma dezena de contas de jornalistas famosos de grandes meios de comunicação social norte-americanos. O novo dono do Twitter, Elon Musk, alegou que os jornalistas partilharam um link que permite mostrar a localização exacta, em tempo real, do avião privado que o transporta e também à sua família.

    Ontem mesmo, Elon Musk denunciou que um agressor perseguiu um carro onde viajava o seu filho em Los Angeles, tendo bloqueado a viatura e subido para cima do capô do carro.

    Musk alertou que o chamado doxxing – identificação de alguém na Internet, permitindo a sua localização, por exemplo – não seria permitido no Twitter e que as contas que o fizessem seriam suspensas. Mais tarde, depois das contas de jornalistas terem sido suspensas, Musk afirmou que as regras do Twitter também se aplicam a jornalistas, os quais não são especiais face aos restantes utilizadores da rede social.

    Os jornalistas mainstream, que até agora andavam caladinhos sobre as chocantes revelações dos #Twitter Files saíram aos gritos contra Musk. Também a Comissão Europeia, cúmplice e parte activa da censura que se tornou normal nas redes sociais e nos media mainstream desde 2020, saiu também aos gritos e ameaças contra Musk. Sem surpresas. Musk está a expor as mentiras e os crimes cometidos pela anterior administração do Twitter contra muitos dos que lutaram contra as medidas ilegais e anti-científicas que a Comissão Europeia patrocinou.

    Reparem: Musk abriu a guerra aos media mainstream e à Comissão Europeia. Escolheu jornalistas independentes para divulgar os documentos internos que provam as antigas práticas de censura do Twitter. Critica os media mainstream frequentemente, acusando-os de serem parciais e não isentos. E levantou a suspensão de contas no Twitter de cientistas de topo a nível mundial – que tinham sido alvo de censura – e de vozes conservadoras.

    Alguns media tradicionais, incluindo media portugueses, que têm estado tranquilamente a fazer um boicote e a recusar publicar notícias sobre o preocupante e gigantesco escândalo que é os “Twitter Files”, apressaram-se a noticiar em força que Musk suspendeu contas de jornalistas que denunciaram a sua localização em tempo real e da sua família. [O PÁGINA UM tem acompanhado as revelações dos “Twitter Files”, que pode ler aqui]

    Jornalistas a incentivar a localização em tempo real de alguém e da sua família – mesmo sendo uma figura pública – não está correcto. E jornalistas não estão acima das regras. Pelo contrário: por exemplo, no Código Deontológico dos Jornalistas salienta-se que estes devem “respeitar a privacidade dos cidadãos, excepto quando estiver em causa o interesse público ou a conduta do indivíduo contradiga, manifestamente, valores e princípios que publicamente defende.” Não me parece que divulgar em tempo real a localização do avião de Elon Musk seja “interesse público” ou que a sua conduta seja susceptível para tal.

    Não sou absolutamente nada a favor de censura (a não ser de situações concretas, como incentivo ao ódio, pedofilia e outros crimes), sobretudo no caso de jornalistas que estão a relatar um acontecimento. No entanto, compreendo Musk. É a segurança da sua família que está em causa. Os jornalistas sabem disso (ou têm a obrigação de saber).

    Mas este caso acaba por ser como que uma armadilha para a Comissão Europeia e os jornalistas apoiantes da censura e da perseguição de vozes “dissidentes” das de governos e “narrativas oficiais”, incluindo as impostas pelos dólares de farmacêuticas a facturar como nunca e em ascensão nos mercado de capitais.

    Ao censurarem a censura aplicada por Musk a contas que fazem doxxing, acabam por cair direitinhos na armadilha do dono do Twitter. Então, afinal os jornalistas e a Comissão Europeia estão contra a censura? A sério?

    Só podem estar a gozar. A sua hipocrisia não tem limites.

    Se há coisa que os “Twitter Files” vieram provar é que cientistas de topo a nível mundial foram alvo de censura pelos antigos executivos do Twitter. Também vozes conservadoras foram visadas.

    A maioria dos jornalistas que trabalham para grandes grupos de comunicação social não só foram cúmplices dessa censura como a incentivaram, incluindo nas notícias que publicavam e no tempo e espaço que recusavam dar aos que tinham “algo diferente” a dizer em relação aos comunicados de imprensa de governos e autoridades de saúde.

    O resultado foi a destruição da percepção pública do que é o Jornalismo e do que é a Ciência – não, não é algo que pessoas “seguem” ou “acreditam, porque isso é religião. Foi também uma campanha de terra queimada – eliminando-se todas as vozes discordantes em temas como política, saúde, ou outros.

    Além da interferência que houve nas eleições presidenciais norte-americanas: antigos funcionários do Twitter censuraram conteúdos de conservadores e suspenderam a conta do então presidente, Donald Trump, enquanto protegiam o candidato democrata, Joe Biden, proibindo a divulgação das notícias sobre o famoso escândalo envolvendo o portátil de Hunter Biden.

    Elon Musk, novo dono do Twitter, tem estado a divulgar documentos internos da rede social que provam as antigas práticas de censura da empresa. Vozes do lado político mais conservador eram visadas pela censura, tal como cientistas de topo que se mostraram contra as medidas de alegado combate à covid-19. As revelações estão a ser feitas por jornalistas independentes e não pelos tradicionais grandes grupos de comunicação social que pactuaram com a censura que era feita anteriormente pelo Twitter.

    Em Portugal, a maioria dos grandes grupos de comunicação social alinharam com as políticas de censura, achando-se “importantes” e parte do “poder”. Que falácia tão grande. Ao alinharem com as políticas de silenciamento e perseguição de vozes discordantes, os media auto-destruíram a sua credibilidade e a do Jornalismo.

    Pela positiva, começaram a nascer e a florescer órgãos de comunicação social, como o PÁGINA UM, ou o The Free Press, nos Estados Unidos. E também blogues, como o Farol XXI, da Plataforma Cívica Cidadania XXI, que foi uma lufada de ar fresco num panorama de censura e obscurantismo que se vivia em Portugal durante a pandemia.

    A diferença na “censura” actual no Twitter é que as contas de jornalistas que praticaram doxxing deixarão de estar suspensas em alguns dias, em princípio, segundo sugeriu Musk. No passado, na era pré-Musk, personalidades foram banidas definitivamente do Twitter. Porque divulgaram mentiras? Não. Porque incentivaram agressões e assédio a figuras públicas e às suas famílias? Não. Simplesmente porque diziam algo diferente do que os governos queriam. E os ajudantes desta PIDE da Internet e da comunicação social executavam as “sentenças” e os “castigos”.

    Enquanto os olhos das redes sociais estão agora voltados para o Twitter, no Facebook, no Google e nas suas apps e empresas continua tudo igual como era desde 2020: censura vasta e precisa aplicada a quem não diz o que governos e autoridades comprometidas e moralmente falidas não autorizam.

    Foi frequente, na pandemia, a censura nos media de vozes discordantes da chamada “narrativa” oficial. Alguns media mainstream passaram notícias falsas e desinformação. Jornalistas incentivaram o ódio e a perseguição de pessoas que discordavam das medidas da pandemia. As pessoas que decidiram não tomar vacina foram alguns dos alvos visados por jornalistas e directores de publicações, sem qualquer justificação científica e claramente em violação do Código Deontológico dos Jornalistas.

    Na semana passada, esta “vossa” jornalista viu a sua conta ser bloqueada por um dia no Facebook e agora os meus conteúdos são “escondidos” durante cerca de um mês. O motivo: partilhei uma notícia do PÁGINA UM – um órgão de comunicação social português constitucionalmente protegido – sobre uma sentença do Tribunal Administrativo de Lisboa. A sentença é verdadeira. A notícia é verdadeira. Mas o tema da sentença e da notícia não é aprovado pelo Facebook.

    Apetece fazer “LOL”, quando uma empresa tecnológica pode decidir que a divulgação de uma sentença de um Tribunal de um país deve ser censurada e bloqueada para não chegar ao conhecimento do público. Apetece rir, porque deveria ser uma anedota, o Facebook poder bloquear uma notícia escrita por um jornalista com carteira profissional e publicada num jornal licenciado junto da Entidade Reguladora para a Comunicação Social.

    Nenhum jornalista se revoltou. Nenhum burocrata na Comissão Europeia vociferou. Dirão: ah, claro, porque és só uma jornalista portuguesa e no Twitter foram suspensos uma dezena de jornalistas famosos norte-americanos. É certo. Mas é normal que uma jornalista europeia, com carteira profissional há mais de 25 anos, seja bloqueada pelo Facebook por… partilhar uma sentença de um Tribunal e uma notícia sobre o tema?

    Não, não é normal. E também não foi caso único. E não será o último. A diferença é que esta jornalista (e muitos outros), além de não ser famosa, nem norte-americana, também nunca apoiou a censura, pelo contrário. Nunca apoiou a perseguição de cientistas de topo durante a pandemia. Essa é a diferença.

    Tecnológicas como a Meta (Facebook) e Google aplicam ferramentas de censura sob o disfarce de bloquear “desinformação”. O bloqueio de notícias e informações verdadeiras é comum, tal como a suspensão de contas de personalidades que discordam das suas “políticas” de informação, disfarçadas de políticas de comunidade. Estas empresas também cedem a governos, como o chinês, na censura e bloqueio de conteúdos e de utilizadores.

    Apetece rir, mas não é para rir. É antes um caso de polícia. É um caso grave e deve fazer-nos a todos pensar se vamos aceitar estas situações durante mais tempo, se vamos aceitar esta “normalização” da censura de notícias verdadeiras, sentenças de tribunais. De opiniões de cientistas sérios e dos melhores do mundo. De opiniões de pessoas de esquerda e de direita.

    Porque é disto que se trata, desta “normalização” da censura que ocorreu desde 2020. Os jornalistas não são a única classe profissional culpada pela normalização da censura. Os médicos também, os juízes, os polícias, os políticos, os professores, os donos de restaurantes, os enfermeiros, os empregados de limpeza, os académicos, os artistas, … todos os que fizeram silêncio e continuam a aceitar esta anormalidade grave.

    A diferença é que os jornalistas não são um profissional qualquer. O código profissional e de ética que os rege, exige rectidão, imparcialidade, verdade, isenção, objectividade. Em lado nenhum diz que jornalistas são (da falsa) de esquerda, “wokistas, defensores da censura, promotores de ódio e perseguição. Mas isso aconteceu desde 2020 e continua a acontecer.

    A suspensão de contas de jornalistas no Twitter está a levar os media a gritar: “censura!; “perseguição!”. Irónico, não é?

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    Alguns jornalistas descobriram agora o que é a censura nas redes sociais.

    Não sei o que aconteceu à classe jornalística. Mas não é bom, nem é bonito de se ver. A classe, em geral, traiu o Jornalismo e a população. Traiu a Ciência e os cientistas. Traiu a democracia e os democratas. Traiu a liberdade de expressão, a liberdade de imprensa e a liberdade, em geral. A mesma que agora jornalistas reclamam a Musk.

    A sua hipocrisia, a hipocrisia da Comissão Europeia e a de todos os que promoveram a censura e perseguição desde 2020 está exposta. Às claras, perante todos.

    Que esta luz que foi colocada nas atitudes hipócritas de jornalistas, políticos e burocratas arrogantes de Bruxelas sirva para que o resto da população entenda isto, de uma vez: a defesa do mundo livre e da democracia, da liberdade de expressão, não está nas mãos de Musk ou de um político. Nem nas mãos de uma só classe, como a dos jornalistas. Está nas nossas mãos. Nas mãos de todos nós. Vamos agir por isso e para isso. Antes que seja tarde para a liberdade e para o Mundo.

    Somos nós que integramos os 400 milhões de utilizadores do Twitter. Os mais de dois mil milhões de utilizadores do Facebook. E, mais importante, somos cidadãos. Deixar este Mundo ser governado por burocratas comprometidos e tecnológicas cheias de poder não é uma opção.


    N.D. Elisabete Tavares é membro fundador da Plataforma Cívica Cidadania XXI, não exercendo actualmente qualquer função executiva

  • John Ioannidis: fase endémica deve mudar estratégia de vacinação e reforços só em grupos de risco

    John Ioannidis: fase endémica deve mudar estratégia de vacinação e reforços só em grupos de risco

    A elevada taxa de imunidade (natural, vacinal e híbrida) e a redução drástica da letalidade da variante Ómicron, são dois dos motivos principais que levam John Ioannidis, um dos cientistas mais citados do Mundo, a defender reforços da vacina contra a covid-19 apenas em grupos de risco: os idosos e as pessoas com determinadas comorbilidades. Num novo artigo científico publicado no mês passado, em co-autoria, o reputado epidemiologista da Universidade de Stanford aconselha cautela com a vacinação massiva, por os riscos poderem ser maiores do que os benefícios, nomeadamente nas crianças e jovens. Além disso, com cálculos, conclui que o custo económico da vacinação massiva pode não compensar, sobretudo na população jovem e de baixo risco, pois esse dinheiro poderia ter uma maior eficácia a salvar vidas em sectores deficitários da Saúde Pública.


    O epidemiologista norte-americano John Ioannidis é um dos seis cientistas mais citados do Mundo, e no seu novo artigo científico, publicado na prestigiada revista European Journal of Clinical Investigation, não podia ser mais claro: as doses de reforço da vacina contra a covid-19 devem ser administradas somente aos grupos de risco, ou seja, os idosos e as pessoas com outras doenças. E diz mesmo que continuar a administrar reforços de vacinas em determinados grupos etários, não é aconselhável do ponto de vista do custo-benefício, nem a nível individual nem comunitário.

    Considerando que os governos e autoridades de saúde devem tomar as suas decisões em evidências científicas, Ioannidis diz ser fundamental reajustar a estratégia de Saúde Pública à evolução da imunidade da população e à perigosidade do vírus e da pandemia, que está actualmente já em fase endémica.

    Estas recomendações, sustentadas em análises e cálculos, surgem num artigo científico publicado, em co-autoria com Stefan Pilz, investigador austríaco da Universidade Graz.

    O artigo começa por sustentar que a imunidade da população é já elevada, pelo contacto com o SARS-CoV-2 ou pela vacinação, ou por ambas as vias. Por outro lado, destaca que a taxa de letalidade da covid-19 caiu drasticamente após o aparecimento da variante Ómicron, muito mais contagiosa mas substancialmente menos perigosa.

    Mas há ainda outros dois factores a ter muito em conta, referem os autores: os possíveis efeitos adversos, que fazem com que, para algumas faixas etárias, os prejuízos superem os benefícios; e os elevados custos para prevenir uma morte por covid-19, que se mostram exorbitantes, podendo ultrapassar um milhão de dólares na população mais jovem. Para os autores do artigo, as verbas que estão a ser gastas com reforços massivos de vacina poderiam ser utilizadas no combate a outras doenças mais prementes e com necessidades de maior investimento.

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    Várias universidades norte-americanas impõem a obrigatoriedade da toma das vacinas contra a covid-19 aos seus alunos, apesar do baixo risco que a doença apresenta para os jovens.

    No artigo intitulado “Does natural and hybrid immunity obviate the need for frequent vaccine boosters against SARS‐CoV‐2 in the endemic phase?”, Ioannidis e Pilz recomendam taxativamente que apenas “certos grupos de risco”, como os idosos, e, em particular os doentes com necessidade de cuidados prolongados, devem ser vacinados a partir de agora. E dizem mesmo que se a taxa de eficácia contra a covid-19 fosse de 100%, nas actuais circunstâncias, não faria sentido, do ponto de vista da gestão da Saúde Pública, administrar vacinas em massa.

    Os autores exemplificam com estimativas de custos aplicadas à situação da Dinamarca. Em geral, concluem que o número de pessoas que seria necessário vacinar (tratar) e os custos económicos envolvidos para salvar uma vida (ou evitar uma hospitalização) são agora incomensuravelmente superiores ao que ocorria nas fases anteriores da pandemia e sobretudo quando se compara com outras doenças de maior gravidade, como a insuficiência cardíaca. 

    Segundo o estudo, “as anteriores análises de custo-eficácia sobre as medidas contra o SARS-CoV-2 basearam-se, em geral, em IFR (taxa de letalidade) sobrestimadas e, por conseguinte, podem ter sido demasiado optimistas”.

    Assim, concluem que “para a maioria da população, as IFRs do SARS-CoV-2 actualmente são tão baixas que, mesmo se as vacinas de mRNA tivessem 100% de eficácia contra a morte e sem efeitos adversos, o seu custo-benefício poderia ser questionável ou desfavorável”.

    Isto, “a menos que o custo da vacina seja reduzido a níveis insignificantes”, o que não vai ser o caso, pelo contrário, já que as farmacêuticas como a Pfizer já vieram anunciar aumentos no preço. Isso significa que, perante a inexistência de recursos ilimitados, um bom sistema de saúde têm de optar por alocar verbas em função da eficiência, ou seja, em salvar mais vidas por unidade de recurso financeiro.

    O facto destas recomendações virem de John Ioannidis é muito relevante. O epidemiologista não é um “especialista” qualquer, contando mais de 6.000 novas citações por mês, o que o coloca no ranking dos seis cientistas mundiais mais citados. No Google Scholar tem um índice h de 237, um valor estratosférico. Professor de várias especialidades na Universidade de Stanford, incluindo Medicina e Epidemiologia e Saúde da População, Ioannidis foi nomeado responsável por uma área de pesquisa na European Research Area (ERA) da Comissão Europeia e é ainda presidente da Associação Americana de Médicos, entre muitos outros cargos que desempenha.

    Embora sempre de uma forma discreta, e quase sempre através de artigos em revistas científicas, Ioannidis foi um dos especialistas de topo a nível mundial que se opuseram às medidas sem precedentes que foram adoptadas na maioria dos países, como os confinamentos da população – uma medida que copiou a estratégia implementada na China no início da pandemia.

    John Ioannidis

    Agora, neste seu mais recente artigo científico, mostra-se confiante sobre a banalização da covid-19, antecipando ser “concebível que as infecções por SARS-CoV-2 possam em breve seguir um padrão semelhante ao dos outros coronavírus humanos endémicos, com uma primeira infecção, geralmente leve, na infância e, posteriormente, infecções frequentes, mas também geralmente leves, na idade adulta”.

    Com Pilz, o epidemiologista norte-americano conclui que a variante Omicron, surgida em Novembro do ano passado, e ainda agora dominante (com subvariantes), teve um impacte fundamental na pandemia. E, por isso, discordam dos muitos receios difundidos pelos media e alguns peritos sobre a evolução da covid-19 nos próximos anos.

    Com efeito, uma das principais conclusões do artigo é de que o risco de morte e de doença grave por infecção “tem sido muito baixo em 2022, e a maioria das infecções por Ómicron parece ser assintomática”.

    Um caso exemplar, citado no estudo, é o da Dinamarca, que registava pouca disseminação do vírus até o final de 2021, mas teve infecções em massa a partir daí com a variante Ómicron, mesmo numa população amplamente vacinada.

    Naquele país escandinavo, a taxa de letalidade da infecção por Ómicron até meados de Março de 2022 foi estimada em apenas 1,6 por 100.000 infecções (0,0016%) entre pessoas dos 17 aos 35 anos de idade, situando-se nos 6,2 por 100.000 infecções (0,0062%) entre pessoas aparentemente saudáveis dos 17 aos 72 anos de idade. Mesmo para as pessoas mais idosas, a taxa de letalidade desceu substancialmente: é agora de apenas 0,015,1, quando em 2020 atingia os 0,281%.

    Por outro lado, os dois autores observaram ainda que em populações com exposição prévia substancial ao SARS-CoV-2, “as reinfecções [a grande maioria ocorrendo nas ondas de Ómicron] tiveram menos de um quarto do risco de hospitalização e um décimo do risco de mortalidade em comparação com as infecções primárias. Por exemplo, em Vojvodina, na Sérvia, apenas 1% das reinfecções necessitaram de hospitalização e a letalidade para reinfecções foi de apenas 0,15%.

    Aliás, os dois investigadores chegam a citar dados de Portugal que sugerem uma boa protecção a longo prazo adquirida através da imunidade natural, isto é, com o contacto anterior ao coronavírus. Os dados nacionais, abrangendo uma população com 12 anos ou mais, e com uma cobertura de 82% da terceira dose da vacina contra o SARS-CoV-2, mostram que três a cinco meses após uma infecção prévia pela variante BA.1/BA.2, a eficácia da proteção contra a nova variante BA.4/BA.5 foi de 75,3%. Pessoas com infecções prévias pelas variantes Wuhan-Hu-1, Alpha e Delta tiveram respectivas eficácias de proteção de 51,6%, 54,8% e 61,3%, respectivamente.

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    O artigo científico cita dados de Portugal que sugerem que uma infecção por covid-19 confere protecção no longo prazo.

    Em todo o caso, se é a infecção natural ou um reforço da vacina a oferecer a maior protecção, os autores defendem que se torna “uma questão amplamente discutível, uma vez que quase toda a população global já foi infectada e mais de 70% da população global também foi vacinada, pelo menos com alguma dose de vacina”.

    Mas frisam que “uma limitação crítica e grave dos principais estudos na população em geral sobre a eficácia da quarta dose da vacina contra o SARS-CoV-2 é a exclusão quase universal de indivíduos com infecções prévias”.

    Porém, Ionannidis e Pilz citam ainda um estudo realizado em Ontário, no Canadá, que “sugere um efeito protector significativo por infecções anteriores, que provavelmente podem ser maiores do que o conferido por uma dose adicional de vacina”.

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    Quanto aos mais idosos sem infecção prévia por covid-19, os dois investigadores destacam estudos observacionais em Israel que dão pistas sobre a eficácia de uma quarta dose da vacina mRNA contra a infecção.

    Entre 10 de Janeiro e 13 de Março deste ano, 97.499 indivíduos com 60 anos ou mais, sem qualquer infecção prévia mas com um teste positivo de PCR durante esse período, foram analisados para comparar as taxas de infecção por SARS-CoV-2 naqueles que tinham acabado de receber a quarta dose da vacina e os que receberam apenas três doses da vacina.

    Essa análise mostrou que a eficácia relativa da vacina em relação a qualquer infecção por SARS-CoV-2 atingiu o pico durante a terceira semana em 65,1% e diminuiu para 22,0% no final da semana 10. Para a covid-19 grave, as respectivas eficácias após 7-27 dias, 28-48 dias e 46-69 dias foram de 77,5%, 72,8% e 86,5%, respectivamente.

    Ao longo das 10 semanas de acompanhamento, apenas 572 dos 97.499 participantes do estudo tiveram covid-19 grave [internados no hospital ou morreram devido à covid-19] e apenas 106 pacientes morreram.

    A conclusão de Ioannidis e Pilz é de que “os números necessários para tratar (NNT) e salvar uma vida ou uma hospitalização podem ser muito grandes”, devendo ser ponderado se as verbas em causa teriam melhores resultados, em termos de vidas salvas, noutras áreas de Saúde Pública.

    Outra investigação de Israel, relevada pelos dois investigadores, foi realizada em 29.611 profissionais de saúde sem qualquer infecção prévia por SARS-CoV-2. As infecções por SARS-CoV-2 durante Janeiro de 2022 foram documentadas em 7% dos participantes com quatro doses de vacina e em 20% com três doses de vacina, resultando em uma eficácia de proteção de 65%. Neste estudo, em ambos os grupos, não houve infecção grave por covid-19 ou morte.

    Isto significa, segundo Ioannidis e Pilz, que “o número necessário para tratar é, portanto, infinito para esses resultados graves”, pelo que “é de se perguntar se a simples diminuição dos casos detectados oferece um benefício clinicamente significativo”.

    Em conclusão, e dado que o risco de desenvolver uma infecção grave por covid-19 é muito maior em populações muito idosas com fragilidade e comorbilidades, “isso deve ser considerado para a política de vacinas, pois uma eficácia relativa semelhante à da vacina se traduz em uma redução de risco absoluto clinicamente significativa em populações com alto risco subjacente de desfechos graves, mas pode ser quase insignificante em populações com um risco muito baixo”, argumentam.

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    Os cálculos feitos por Ioannidis e Pilz destacam, aliás, que os custos por uma morte evitada por covid-19 tendem a ser “extremamente altos”, excepto em grupos etários com mais idade, com base no custo atual por dose [aproximadamente 20 dólares] e mesmo se os custos diminuíssem para 5 dólares por dose. Se o custo “aumentar para 120 dólares por dose [como recentemente considerado para comercialização futura pela Pfizer], o custo-benefício pode se tornar desfavorável, mesmo para muitas pessoas muito idosas”, concluem ainda.

    Mas isto é na perspectiva económica, porque a análise de Pilz e Ioannidis salienta que, no caso dos mais jovens, os riscos de reações adversas das vacinas, incluindo miocardites, não são compensados pelos eventuais benefícios da vacinação contra a covid-19.

    No caso das crianças e adultos jovens saudáveis, o artigo dos dois investigadores concluem que aqueles já podem ter adquirido imunidade híbrida e, por isso, correm um risco extremamente baixo de desenvolver covid-19 grave. E por isso destacam também que “não é claro, neste momento, que a redução do risco de covid-19 por reforços adicionais de vacinação supera os efeitos adversos gerais em populações com um risco basal muito baixo, como em crianças e adultos jovens saudáveis”.

    E mesmo que isso aconteça, “considerações de custo-benefício seriam desfavoráveis”, admitem, defendendo assim “fortemente a abstenção de recomendações para a vacinação em massa, por exemplo, em crianças e adultos não idosos saudáveis com uma quarta dose de vacina, a menos que tal política se torne apoiada por evidências suficientes”, dizem os investigadores.

    Saliente-se que, por exemplo, na Dinamarca, a vacinação contra o SARS-CoV-2 para crianças saudáveis com idade inferior a 18 anos foi geralmente interrompida, mesmo para a primeira e segunda injecções.

  • Musk e Ronaldo: heróis e vilões num mundo partido e ferido

    Musk e Ronaldo: heróis e vilões num mundo partido e ferido


    É conhecida a história e a lenda de Charles “Pretty Boy” Floyd, um criminoso e ladrão de bancos que, segundo rumores, destruía durante os assaltos notas de hipotecas, libertando assim agricultores (e as suas famílias) do risco de bancarrota. Foi um vilão/herói, cujo destino se coseu, ponto a ponto, com o da Grande Depressão. Foram milhares os que choraram a sua morte, em 1934.

    Nem sempre a linha que separa o ser-se um herói ou um vilão é clara. Para as forças policiais, Floyd era um assassino e um assaltante de bancos. Para muitas famílias, foi um Robin dos Bosques do seu tempo.

    Os anos 20 do século XXI também estão a produzir castas de heróis que são vilões, e vilões que são heróis. Vivemos numa época de polaridade e divisão. Um Mundo que parece, desde 2020, estar partido ao meio, na política, nas famílias, na Ciência…

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    Não falo de vilões bandidos, criminosos, assaltantes de bancos, nem falo de heróis que são Robins dos Bosques. Falo de um outro tipo de heróis/vilões, que têm surgido como retrato desta época de polaridade que vivemos. Uma época tribal, em que os heróis de uma tribo são os vilões de outra, e em que a “religião” que é o wokismo veio trazer à tona muito do que de mau a Humanidade pode produzir: totalitarismo, censura, divisão, perseguição, cancelamento, dogmatismo.  

    Cristiano Ronaldo é um desses exemplos. Reúne todas as características para ser um herói e, contudo, alguns tratam-no como vilão. Para começar, reúne diversas características que enervam muitos dos que vivem na bolha “wokista” (numa versão pindérica lusa) da esfera mediática em Portugal: é rico, bem-sucedido, inteligente, bem-parecido, independente, venera a família – que é o seu pilar – e não anda em manada. Além disso, veio de um meio pobre, de uma família com dificuldades, e tem orgulho nas suas origens. Pior: pensa por si próprio. Pior ainda: ninguém o viu a vender máscaras nem vacinas contra a covid.

    Cristiano Ronaldo é um vencedor. De menino pobre, ascendeu a estrela maior do futebol e da identidade de Portugal.  Há muito que é um Astro do Mundo e já não só de Portugal. E um certo Portugal, adepto da nova religião wokista, e que se acha importante porque aparece nas TVs, ainda gosta do drama, do fado e do destino. É pequenino, vive num cantinho. Já Ronaldo, é do Mundo.

    Outro exemplo de vilão e herói dos dias de hoje é Elon Musk, co-fundador e líder da Tesla e novo dono do Twitter. Desde que concluiu a compra da rede social em outubro passado, Musk tornou-se num grande herói – para uns – e num terrível vilão – para outros.

    Para dar contexto: o Twitter era o Céu na Terra da tribo woke. Era de uma “beatice insuportável” – definição de wokismo do jornalista João Miguel Tavares. E este wokismo anda de mãos de dadas com fascismo e cultura de cancelamento. Assim, o Twitter era como um território gerido por uma tribo com mentalidade woke e tiques fascistas, onde visões diferentes tinham direito a castigo e até expulsão. Quem frequentava o Twitter e era beato, estava simplesmente no Paraíso. Era lá que se podia encontrar a tribo woke (versão pindérica lusa) portuguesa.

    Ora, isso mudou com a chegada de Musk. O milionário pegou na vassoura e começou por limpar as contas e conteúdos pedófilos que por lá viviam em plena harmonia com a censura dos conservadores e cientistas de topo que discordaram das medidas covid-19. Está também a limpar bots.

    Elon Musk comprou o Twitter em Outubro passado por 44 mil milhões de dólares e está a revelar antigas práticas de censura desta rede social.

    Mas a limpeza “da casa” não ficou por aqui: Musk chamou uma equipa especial, composta de jornalistas independentes, a quem entregou documentos internos sobre as malfeitorias que os antigos funcionários e ex-executivos do Twitter faziam. Musk quer tudo em pratos limpos para fazer do Twitter uma rede social verdadeiramente global e onde o debate é real. E livre.

    Ora, isso não agradou MESMO NADA a muitos. As revelações da roupa suja da censura que era aplicada na rede social chama-se #TwitterFiles, e vai já no quinto episódio de uma série hoje mais popular do que muitas no Netflix. [Pode ler aqui a cobertura que o PÁGINA UM está a fazer].

    E promete aquecer ainda mais! Musk prometeu revelações sobre a censura em torno da covid-19. Como aperitivo, o magnata atacou ferozmente Anthony Fauci, conselheiro do presidente dos Estados Unidos e o rosto das medidas sem precedentes adoptadas na pandemia – como confinamentos, máscaras e vacinas obrigatórias.

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    O Twitter é, hoje, um espelho do Mundo, que está quebrado e ferido, após três anos de promoção da censura e incentivos ao ódio e à divisão e eliminação de direitos humanos e civis.

    Hoje, Musk é herói para muitos. É um vilão para muitos também. Há quem peça que o nomeiem para Prémio Nobel da Paz. Há quem peça que ele seja processado na Justiça.

    Aliás, é isso mesmo que Musk quer que aconteça a Fauci. “Os meus pronomes são processar/Fauci”, escreveu este fim-de-semana num tweet.

    Fauci surge hoje como um outro vilão e herói, em simultâneo. Perante os ataques de Musk, muitos vieram em defesa de Fauci dizendo que “é um herói” e que “salvou vidas”. Para Musk, e muitos outros, no Mundo, Fauci é o pior dos vilões: acreditam que, disfarçado com capa de médico – e de bom –, Fauci levou à morte de milhares de humanos.

    Musk foi directo numa resposta no Twitter, acusando Fauci de ter financiado uma pesquisa para tornar o coronavírus mais perigoso e mais transmissível para os humanos – “gain-of-function”. Fauci negou que a autoridade de saúde dos Estados Unidos tivesse financiado essa perigosa pesquisa, apesar do NIH ter admitido que uma entidade que financiou, e que colabora com o laboratório de Wuhan, quebrou as regras ao não relatar que conduziu investigação de coronavírus em morcegos.

    Fauci, que está agora de saída do sector da saúde pública, arrisca mais investigações por parte dos republicanos por causa da sua eventual ligação, como diretor do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infeciosas (NIAID), à origem da pandemia de covid-19.

    Anthony Fauci, conselheiro-chefe de Joe Biden para a saúde, está de saída de um setor onde exerce funções há mais de 50 anos.

    Informação sobre financiamento deste tipo de pesquisa surgiu no Congresso norte-americano, sendo que se sabe que a autoridade de saúde dos Estados Unidos tem financiado pesquisa nesta área.

    Fauci também defendeu os confinamentos, os quais foram fatais para muitos (é ver as mortes em excesso e por outras doenças, suicídios, etc.), além das sequelas que deixaram em crianças e a devastação que causaram na economia. Defendeu ainda a vacinação obrigatória contra a covid-19, mesmo sabendo-se que as vacinas não travam nem a infecção nem o contágio e podem causar reacções adversas. Por fim, defendeu ainda mecanismos de controlo e discriminação e o uso de máscaras – apesar de ter defendido o oposto no início da pandemia.

    Musk e Fauci são hoje, em lados bem opostos, dois super-heróis para uns. E dois super-mega-vilões para outros. Será raro que ambos sejam vilões para uma mesma pessoa; ou ambos heróis para a mesma pessoa.

    Uns desejam que Musk ou outro milionário compre o Facebook e promova o debate e a liberdade de imprensa e de expressão em mais redes sociais. Outros querem já o seu afastamento.

    Uns querem endeusar Fauci – como em Portugal se endeusa o responsável pelo transporte e distribuição logística das vacinas, Gouveia e Melo – enquanto outros querem vê-lo na prisão por homicídio.

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    Sobre os três de que falei, pessoalmente, admiro Cristiano Ronaldo. Estou-lhe grata pela postura e excelente imagem que transmite do povo português. Admiro-o pela sua força e independência. Pela sua cabeça boa e forte apoio à família. Pelo caminho que trilhou com trabalho e talento. Por pensar por si próprio e não ir em manadas.

    Elon: vejo-o como um homem de negócios puro. Diz que quer derrotar o wokismo e isso é bom – porque implica derrotar ideais fascistas, censura e cancelamento –, mas também penso que é porque pode lucrar muito com isso. O Twitter é hoje mais vibrante. Promove o debate. É uma rede social para “gente grande”, académicos, jornalistas, cientistas, malta sem medo de um bom debate de ideias. O oposto da mentalidade fascista e woke que por lá reinava na era pré-Musk.

    Sobre Fauci, vejo-o como alguém que falhou. Não o vejo como herói. Nem como vilão. Falhou no combate à pandemia. Impingiu mecanismos fascistas e que violam direitos humanos. Vejo-o como alguém que sabe agradar e servir o poder político e, sobretudo, o económico. Alguém que jamais deveria estar num posto ligado a saúde pública, mas que teve a sorte de ser conselheiro de um presidente dos Estados Unidos numa pandemia global. Azar o nosso.

    Já heróis, tenho muitos outros, que conheço, mas que não coloco os seus nomes por reserva da intimidade. “Herói” (ou “heroína”), para mim, nos dias de hoje, é aquela mulher, quatro vezes vacinada, que abraça o irmão e restantes familiares não-vacinados e com eles faz jantaradas em família (e, agora, os preparativos para o Natal). Ignora as chamadas nas TV e nos jornais para promover o ódio e a discriminação entre “os com vacina” e “os sem vacina”. Ignora os “especialistas” mediáticos que a seduzem para o ódio. Eles são os únicos que lucram com esta “guerra”, vendendo o ódio para se promoverem a si próprios e aparecerem mais e mais nos programas e nas revistas sedentos de sangue e terror.

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    “Herói” para mim é uma patriarca que, no alto dos seus 80 anos, se mantém sem nenhuma vacina contra a covid-19, soberana da sua saúde e do seu corpo, quando, à sua volta, filhos e noras vão na segunda e terceira doses. Uma “heroína” porque cuida de si e da sua saúde, tal e qual como acha que é melhor, como sempre o fez ao longo da vida. Não cede à propaganda das TVs, nem das caras lindas e hiper-maquilhadas das estrelas da música que aparecem em campanhas da Direcção-Geral da Saúde a promover as doses. E está saudável que nem um pêro. Vive como sempre viveu. E, como diz o filho, “está muito boa cabeça, mesmo”.   

    “Herói”, para mim, é o “puto” que, no meio da desgraça em que os seres humanos conseguiram transformar o mundo nos últimos três anos, aprendeu, de algum modo, a fazer-se a si próprio feliz, a continuar com a sua vida de escola, amigos e actividades.  

    “Herói”, é a “miúda” que saiu da depressão, ganhou coragem para seguir com um namoro com um rapaz amigo e agora já vislumbra o que quer fazer com a vida.

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    Esses são alguns dos meus “heróis”.

    São aqueles e aquelas que continuam com as suas vidas, adaptando-se, decidindo por si, respeitando os demais. E amando. Amando, a si próprios. Amando, os seus. E amando aquilo que têm de bom e em comum. E isso é o mais valioso que há neste Mundo, por vezes, na aparência, tão perdido, mas que, afinal, só parece estar perdido nos jornais – e na sua desinformação, parcialidade e incentivo à divisão –, nas redes sociais – e na sua censura. Porque nas casas de muitos, nos corações de muitos, nas famílias de muitos, o Mundo está bem, bem encaminhado. Em muitos lugares, em muitos lares, o Mundo está num bom rumo.

    E eu gosto desse rumo. Sem divisões nem ódios – celebrando a verdade, o amor e o que há em comum. Porque deve ser o nosso rumo. É o rumo certo. O único rumo que vale a pena seguir.

  • #TwitterFiles: ‘As pessoas normais não sabem o quanto fazemos’. Twitter confessa antigas práticas de censura, incluindo a Trump

    #TwitterFiles: ‘As pessoas normais não sabem o quanto fazemos’. Twitter confessa antigas práticas de censura, incluindo a Trump

    Novas revelações do “Twitter Files” — sobre as práticas de censura implementadas pelos antigos executivos do Twitter — mostram que a rede social criou “listas negras secretas” e aplicou ferramentas de censura à conta do antigo presidente dos Estados Unidos Donald Trump, que acabou mesmo por ser banido em Janeiro de 2021. As contas de utilizadores incluídas nas “listas negras” eram sujeitas a mecanismos que limitavam a sua visibilidade e alcance. O Twitter também impedia que certos tweets se tornassem populares — ou numa tendência, como é designada a popularidade na rede social — e limitava a visibilidade de determinados tópicos, incluindo temas relacionados com a pandemia de covid-19. Um grupo secreto de responsáveis do Twitter, ao mais alto nível, escrutinava as contas consideradas mais sensíveis. A investigação e divulgação destas informações está a ser feita por um grupo de jornalistas independentes, aos quais Elon Musk, novo dono do Twitter, deu acesso a documentos internos da rede social.


    Antigos executivos do Twitter criaram “listas negras secretas” para censurar contas e conteúdos e mantiveram reuniões regulares com o FBI e agências secretas dos Estados Unidos enquanto decidiam o que censurar na rede social.

    Nas mais recentes revelações da investigação denominada “Twitter Files”, também foi exposta a forma como executivos do Twitter usaram ferramentas de censura na conta de Donald Trump, quando ainda era presidente dos Estados Unidos, nos meses que antecederam as últimas eleições presidenciais nos Estados Unidos, em 2020, as quais deram a vitória ao actual presidente norte-americano, Joe Biden.

    Antes de banir Trump no dia 6 de Janeiro de 2021 (J6), executivos do Twitter já aplicavam ferramentas que limitavam a visibilidade e alcance da conta do antigo presidente do Estados Unidos.

    Trump acabou mesmo por ser banido do Twitter a 8 de Janeiro de 2021, dois dias após a invasão do Capitólio. A investigação encontrou documentos internos que mostram que, nos meses anteriores à decisão de banir Trump, existia já um padrão de comportamento instalado, com uma deterioração das políticas da empresa, e os executivos do Twitter já violavam as regras enquanto reuniam com agências federais.

    Estas são as principais revelações da segunda parte e terceira parte de divulgação de informações produzidas por uma investigação conhecida como “Twitter Files”, conduzida por jornalistas independentes, com destaque para Matt Taibbi e Bari Weiss. A investigação é baseada em documentos que foram disponibilizados por Elon Musk, novo dono do Twitter, e também entrevistas a funcionários da rede social. As mais recentes revelações foram feitas entre quinta-feira e este Sábado.

    As próximas revelações, que serão feitas durante o fim-de-semana, vão debruçar-se sobre os momentos e dias que se seguiram à expulsão do antigo presidente norte-americano do Twitter.

    Twitter assume que houve política de censura sobre Donald Trump

    Segundo Weiss, a publicação de novas informações, em primeira mão, é sempre feita através do Twitter e essa foi a única condição acordada com Musk, tendo os jornalistas acesso livre a toda a documentação.

    Na segunda parte dos “Twitter Files” foi revelado como os executivos da rede social criaram “listas negras secretas”. Uma das contas que foi colocada em listas negras foi a de Jay Bhattacharya. Este reputado professor da Universidade norte-americana de Stanford, onde ocupa o cargo de director do Centro de Demografia e Economia de Stanford para a Saúde e Envelhecimento, foi uma das primeiras vozes a mostrarem-se contra a estratégia de confinamento, alertando que os lockdowns seriam muito prejudiciais para as crianças. Bhattacharya foi um dos três especialistas que escreveu a Great Barrington Declaration, a qual reuniu assinaturas de cientistas e médicos de topo em defesa de uma estratégia de combate à pandemia “focada na protecção”, mas que viria a ser censurada pela generalidade da imprensa mainstream, incluindo a portuguesa.

    Na primeira parte da divulgação de informação das antigas práticas do Twitter, revelado pelo jornalista independente Matt Taibbi, ficou exposto como antigos funcionários do Twitter executaram indicações da campanha presidencial de Joe Biden, para censurar informação sobre o caso polémico em torno do portátil de Hunter Biden, filho do actual presidente dos Estados Unidos.

    Documentos internos do Twitter revelaram como os executivos da rede social começaram a deixar para trás algumas regras da empresa e a implementar as medidas que desejavam.

    Entretanto, Bari Weiss ficou encarregue da divulgação dos “Twitter Files 2”, o que fez através da sua conta no Twitter e também via The Fress Press (A Imprensa Livre, em tradução livre), um órgão de comunicação social fundado por esta jornalista que foi editora no The Wall Street Journal e do The New York Times.

    No primeiro tweet de uma série de 30 tweets sobre o tema, Bari Weiss escreveu: “Uma nova investigação #TwitterFiles revela que equipas de funcionários do Twitter construíram listas negras, impediram que os tweets não apreciados se tornassem uma tendência e limitaram ativamente a visibilidade de contas inteiras ou mesmo tópicos de tendência — tudo em segredo, sem informar os utilizadores”.

    No caso do professor de Stanford Jay Bhattacharya, o primeiro exemplo que Weiss dá, “o Twitter colocou-o secretamente numa “Lista Negra das Tendências”, o que impediu que os seus tweets se tornassem uma tendência”.

    A jornalista dá outro exemplo como o da conta do apresentador de um popular talk show com uma orientação política de direita, Dan Bongino que foi incluído na “Lista Negra de Pesquisa”. Em outro exemplo, o activista conservador Charlie Kirk foi colocado numa lista negra de contas com ordem para não amplificar a sua visibilidade.

    Mas, destaca Weiss, o Twitter assumira sempre que jamais fizesse “estas coisas”, ou seja, que a política desta rede social nunca discriminaria ninguém. E a jornalista recorda mesmo que, em 2018, Vijaya Gadde, então responsável de Política Legal e Confiança do Twitter, e Kayvon Beykpour, director de Produto, garantiram que “não fazemos shadow ban (acto de reduzir visibilidade de contas e conteúdos)”. E reforçaram: “E certamente não fazemos shadow ban baseada em pontos de vista políticos ou ideologias.”

    A investigação da Bari Weiss apurou ainda que aquilo a que “muitas pessoas chamam de shadow ban, executivos e funcionários do Twitter chamam de Filtragem de Visibilidade ou VF [nas iniciais em inglês]”, aditando que “várias fontes de alto nível confirmaram o seu significado” aos jornalistas dos “Twitter Files”.

    A rede social, antes da entrada de Elon Musk na empresa, usou assim a VF para “bloquear pesquisas de utilizadores individuais; limitar o âmbito de descoberta de um determinado tweet; bloquear publicações selecionadas de utilizadores de alguma vez aparecerem na página tendências; e da inclusão em pesquisas de hashtag [tópicos começados com o símbolo #]”.

    Dois funcionários da rede social garantiram ainda aos jornalistas dos Twitter Files que controlavam “bastante a visibilidade e amplificação do seu conteúdo”, acrescentando que “as pessoas normais não sabem o quanto fazemos”.

    Para a prossecução destas práticas, o Twitter tinha um grupo que decidia quais as contas cujo alcance e visibilidade seriam limitados, baptizada de “Equipa de Resposta Estratégica” (Global Escalation Team, em inglês, ou SRT-GET). Este grupo “lidava frequentemente com até 200 casos por dia”, relatou Weiss.

    Mas existia ainda um segundo nível de decisão, além dos moderadores que seguiam a política da empresa que estava estabelecida “no papel”. Este segundo nível era conhecido como “Política de Integridade do Site, Suporte à Escalada de Políticas”, ou “SIP-PES”, nas iniciais em inglês. Este grupo secreto “incluía Vijaya Gadde, Yoel Roth, responsável Global de Confiança e Segurança, os presidentes-executivos subsequentes Jack Dorsey e Parag Agrawal, entre outros”.

    Elon Musk comprou o Twitter em Outubro passado por 44 mil milhões de dólares e prometeu revelar antigas práticas de censura desta rede social.

    Uma das contas escrutinada ao nível deste grupo secreto foi a Libs of TikTok — uma conta que estava na “Lista Negra das Tendências” e foi designada como “não tome medidas sobre o utilizador sem consultar com o SIP-PES”. Aquela conta — “que Chaya Raichik [a quem a conta é atribuída] começou em Novembro de 2020 e tem agora mais de 1,4 milhões de seguidores — foi alvo de seis suspensões só em 2022″. Em cada suspensão, a conta ficado impedida de publicar por uma semana.

    A autora da conta foi sendo informada de que a suspensão se devia a conduta de ódio, mas a investigação de Bari Weiss encontrou uma nota do grupo secreto “SIP-PES”, de Outubro de 2022, após a sétima suspensão, admitindo que a conta “não adoptou diretamente nenhum comportamento que violasse a política de Conduta de Ódio”.

    Weiss revelou também que o grupo justificou internamente as suspensões, alegando que os tweets da Libs of TikTok encorajavam o assédio online de “hospitais e prestadores médicos” ao insinuar que “os cuidados de saúde de afirmação de género equivalem a abuso ou aliciamento infantil”. Mas quando a morada e uma foto da residência de Raichik foram divulgados, o Twitter considerou que nenhuma regra tinha sido violada e permitiu que o conteúdo permanecesse online.

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    Entretanto, soube-se ao longo desta semana que a divulgação da segunda parte dos “Twitter Files” sofreu um adiamento depois de se ter descoberto que James Baker, um antigo advogado do FBI (Federal Bureau of Investigation), contratado pela anterior administração do Twitter em 2020, esteve envolvido no processo de selecção de documentos a serem fornecidos aos jornalistas que estavam a trabalhar nos “Twitter Files”.

    Segundo revelou Matt Taibbi, o advogado James Baker “é uma figura controversa”, é uma “espécie de Zelig de controvérsias do FBI, que remontam a 2016, desde o Dossier Steele até à confusão do Alfa-Server”. Taibbi lembrou ainda que Baker saiu do FBI em 2018, após uma investigação sobre fugas de informação para a imprensa.

    Musk acabou por demitir Baker e garantiu que iria divulgar toda a informação que encontrasse sobre as práticas de censura praticadas pelo Twitter no passado, admitindo que parte dos dados pudessem já ter sido apagados.

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    A divulgação das antigas práticas de censura do Twitter está a incomodar certos meios políticos, sobretudo do Partido Democrata, nos Estados Unidos, e também está a causar desconforto entre os media tradicionais, os quais se viram completamente postos de lado nesta investigação. Musk, que também lidera a Tesla, tem frequentemente criticado a actuação da generalidade dos media mainstream, os quais, em geral, têm recusado publicar notícias sobre os “Twitter Files”, com algumas excepções.

    Até agora, a documentação interna do Twitter já revelada mostra uma maior inclinação de antigos responsáveis e funcionários da rede social para censurar e perseguir contas e conteúdos de ideologia mais conservadora. Elon Musk veio recentemente já levantar a forte suspeita de que as práticas antigas do Twitter poderão ter favorecido a esquerda nas eleições no Brasil, embora até agora não tenha apresentado provas.

  • #TwitterFiles: Antigo funcionário do FBI, despedido por Elon Musk, estaria a condicionar libertação de documentos comprometedores

    #TwitterFiles: Antigo funcionário do FBI, despedido por Elon Musk, estaria a condicionar libertação de documentos comprometedores

    A divulgação de novos dados dos denominados #TwitterFiles sofreu um atraso inesperado, com a descoberta de que um antigo funcionário do FBI, James Baker, esteve envolvido no processo de selecção de documentos a tornar públicos, uma promessa de Elon Musk. Este advogado, contratado pela anterior administração do Twitter em 2020, acabou por ser despedido do Twitter, mas o novo dono desta rede social teme que haja documentos comprometedores que tenham sido apagados.


    Elon Musk, o novo dono do Twitter, garantiu hoje que continuará a divulgação de documentos internos desta rede social que provam actos de censura durante a anterior gestão, que visavam esconder informação comprometedora e influenciar a opinião pública.

    Esta é a mais recente reacção do multimilionário sobre os já denominados Twitter Files, que esta semana deveriam ter tido novas revelações, que foram suspensas após se descobrir que um dos membros da equipa responsável pela seleccção dos documentos, a entregar aos jornalistas, era o advogado James Baker, um antigo funcionário do FBI (Federal Bureau of Investigation), contratado em 2020 pela anterior administração da rede social.

    Elon Musk comprou o Twitter em Outubro passado por 44 mil milhões de dólares e prometeu revelar antigas práticas de censura desta rede social.

    O envolvimento de James Baker foi denunciado por Matt Taibbi, o jornalista independente, aparentemente escolhido por Musk, para revelar como, durante a campanha para as últimas eleições presidenciais nos Estados Unidos, o Twitter executou um pedido da equipa de Joe Biden para censurar a divulgação de notícias sobre o famoso escândalo do portátil de Hunter Biden, filho do atual presidente norte-americano, e as suas ligações na Ucrânia.

    Taibbi revelou anteontem num tweet que “o processo para a produção dos ‘TwitterFiles’ envolveu a entrega [de documentos] a dois jornalistas [Bari Weiss e o próprio Taibbi], através de um advogado próximo da nova administração”, acrescentando que “depois do lote inicial, as coisas [novas entregas] tornaram-se complicadas”.

    Bari Weiss – uma jornalista independente que foi editora do The New York Times entre 2017 e 2020, resignando através de uma carta muito crítica às práticas dos media mainstream – foi quem descobriu a participação de James Baker. Taibbi revelou num tweet que Weiss teve uma reacção peculiar: “O meu maxilar bateu no chão”.

    O jornalista independente Matt Taibbi revelou a primeira série dos chamados Twitter Files.

    De facto, segundo revelações de Matt Taibbi, o advogado James Baker “é uma figura controversa”, é “uma “espécie de Zelig de controvérsias do FBI, que remontam a 2016, desde o Dossier Steele até à confusão do Alfa-Server”. Taibbi lembrou ainda que Baker “se demitiu [do FBI] em 2018 após uma investigação sobre fugas de informação para a imprensa”.

    Saliente-se que Baker trabalhou no FBI quando o diretor era James Comey, tendo tido um papel central nas revelações sobre o alegado conluio em 2016 entre a campanha presidencial de Trump e a Rússia, e que vieram a ser consideradas falsas. Baker trabalhou no FBI com operacionais como Peter Strzok e Lisa Page que assumiram uma postura anti-Trump.

    O advogado James Baker, antigo funcionário do FBI, e contratado pelo Twitter em 2020, estaria a condicionar a divulgação de documentos prometidos por Ellon Musk. Foi entretanto demitido.

    Elon Musk, aparentemente ignorava a presença de James Baker na equipa que estava responsável pela entrega dos documentos aos jornalistas. Anteontem, Musk disse num tweet que apenas soubera da participação daquele antigo funcionário do FBI no domingo passado, tendo depois acrescentado que o demitiu.

    Integrado num seu tweet, em que informava ser necessário mais algum tempo para novas revelações, e em resposta a um comentário do ex-presidente executivo do Twitter, Jack Dorsey, que apelava para serem revelados todos os documentos “sem filtro”, Elon Musk disse que “os dados mais importantes foram escondidos”, até mesmo a Dorsey, e que temia que “alguns podem ter sido apagados”. E garantia que tudo o que fosse encontrado seria revelado na íntegra.

    A primeira série dos Twitter Files puseram a nu a forma como a equipa do então candidato presidencial Joe Biden articulou com o Twitter a censura e supressão de informação sobre o famoso caso dos conteúdos do portátil do filho do actual presidente dos Estados Unidos, Hunter Biden, que mostravam as suas ligações comprometedoras à Ucrânia.

    Nesta fase, as revelações foram realizadas via conta do Twitter de Matt Taibbi, através de uma série de 36 tweets, também traduzidos para português e publicados no PÁGINA UM. A segunda fase da divulgação de informação vai ser agora feita pela jornalista Bari Weiss.

    A divulgação do despedimento de Baker e do seu envolvimento na selecção de documentos a divulgar ao público pelo Twitter atraiu alguma atenção da imprensa mainstream, que tem estado largamente a recusar publicar notícias sobre os Twitter Files. Na imprensa internacional, entre as excepções estão o The New York Post, a CNN Internacional e a Forbes.

    Troca de comentários entre Jack Dorsey, ex-presidente executivo do Twitter, e Elon Musk sobre a revelação dos documentos sobre antigas práticas de censura desta rede social.

    Contudo, após a demissão de James Baker a atenção mediática da imprensa mainstream internacional tem aumentado, mas não na imprensa nacional, que continua a ignorar um caso com repercussões políticas incalculáveis. Em todo o caso, observa-se um grande incómodo no sector dos media por estas revelações estarem a ser feitas por jornalistas independentes. Alguns jornalistas e responsáveis de media mainstream têm mesmo atacado Taibbi, com uma grande parte a repetir as mesmas expressões, acusando-o de estar a prestar um serviço de relações públicas a Musk.

    Até agora, a documentação interna do Twitter já revelada mostra uma maior inclinação de antigos responsáveis e funcionários da rede social para proteger o Partido Democrata nos Estados Unidos, censurando contas de personalidades com visões mais conservadoras. Essa postura da rede social estaria a ser escondida até do antigo CEO, Jack Dorsey, que aparentemente desconhecia os actos de censura cometidos sobre as notícias verídicas em relação a Hunter Biden.

    Elon Musk veio também já levantar a forte suspeita de que as práticas antigas do Twitter poderão ter favorecido a esquerda nas eleições no Brasil, embora até agora não tenha apresentado provas.

  • Conteúdo comercial ilegal: Público diz que só destacou Tabaqueira como “promotora de inovação tecnológica e do desenvolvimento sustentável”

    Conteúdo comercial ilegal: Público diz que só destacou Tabaqueira como “promotora de inovação tecnológica e do desenvolvimento sustentável”

    A Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) concluiu que o jornal Público violou mesmo a lei que proíbe a publicidade ao tabaco, e arrisca um multa até 250 mil euros. Em causa estão conteúdos comerciais pagos pela Tabaqueira e publicados pelo jornal da Sonae no início de Outubro. A ERC também anunciou que vai informar a Direcção-Geral da Saúde sobre a ilegalidade cometida pelo jornal dirigido pelo jornalista Manuel Carlos Carvalho (CP 963), que se defendeu dizendo que o conteúdo comercial pretendeu apenas potenciar a Tabaqueira como “entidade promotora de inovação tecnológica e do desenvolvimento sustentável”.


    O Conselho Regulador da Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) abriu um processo de contraordenação ao jornal Público por violação da lei que proíbe publicidade ao tabaco, depois de o jornal ter publicado, no início de Outubro, conteúdos comerciais da Tabaqueira.

    A informação surge numa deliberação da ERC, tomada em 16 de Novembro, no seguimento de um processo de averiguações suscitadas por um pedido de esclarecimento do PÁGINA UM (vd. nota da direcção no final do texto). O jornal do Grupo Sonae arrisca assim uma coima que pode ir até aos 250 mil euros. A ERC anuncia também, na sua deliberação, que vai informar a Direcção-Geral da Saúde da violação da lei por parte do Público, como manda a legislação.

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    Em causa está a violação da Lei 37/2007, mais concretamente o artigo 14º-E, referente a publicidade e patrocínio dos cigarros electrónicos e recargas, e o artigo 18º, relativo ao tema do patrocínio, que a ERC considera susceptível de constituir “uma contraordenação económica muito grave punível nos termos do Regime Jurídico das Contraordenações Económicas”.

    Como o PÁGINA UM noticiou no dia 14 de Outubro passado, o regulador abrira um “procedimento” para averiguar a eventual ilegalidade do Público por inserir um conteúdo comercial da Tabaqueira, que elogiava as tecnologias do tabaco aquecido e que coincidiu com um novo sistema daquela empresa.

    A divulgação da ilegalidade foi feita pelo PÁGINA UM, e não é caso único. Na mesma semana de Outubro em que a ERC indicou ao PÁGINA UM que tinha aberto um “procedimento” contra o Público, o regulador anunciou também a abertura de outro processo de contraordenação à Global Media pela inserção de quatro conteúdos patrocinados pela Tabaqueira: dois no Jornal de Notícias, um no Diário de Notícias e outro no Dinheiro Vivo, todos publicados este ano.

    Conteúdo comercial da Tabaqueira foi aceite pelo Público como “conteúdo comercial” três dias após o lançamento do IQOS Iluma. ERC diz ser publicidade ilegal a produtos de tabaco.

    A publicidade directa ou indirecta aos produtos de tabaco em toda a imprensa está proibida desde 2005. No caso das televisões e rádios, a proibição remonta a 1980. Foram, entretanto, sendo implementadas outras restrições em termos de divulgação de marcas, incluindo em provas desportivas.

    No caso concreto do conteúdo comercial pago pela Tabaqueira que foi publicado no Público, o texto termina mesmo com uma foto claramente de carácter publicitário, com a apresentação do novo sistema de tabaco aquecido por indução IQOS Iluma. Este equipamento é uma grande aposta comercial da Philip Morris neste sector, e que começara a ser comercializado três dias antes da inserção do conteúdo patrocinado no Público.

    Em resposta ao procedimento aberto pela ERC, que levou agora à instauração do processo de contraordenação, o jornal do Grupo Sonae defendeu que estes conteúdos, embora comerciais, “não traduz qualquer incentivo, publicidade ou mesmo promoção aos produtos de tabaco”.

    E diz mesmo que a intenção é mesmo a inversa, ou seja, que o conteúdo comercial, que coincidiu com o lançamento do IQOS Iluma, “teve por principal e único objetivo potenciar a notoriedade e posicionamento da marca ‘Tabaqueira’, enquanto entidade promotora de inovação tecnológica e do desenvolvimento sustentável, procurando o envolvimento da comunidade neste movimento transformacional, que visa promover soluções mais sustentáveis”.

    Porém, para a ERC, não existem dúvidas de que “o texto é inequivocamente promocional, sendo inclusivamente patrocinado por uma empresa que tem como atividade principal a venda e distribuição de produtos de tabaco, com ou sem combustão.

    O regulador deita por terra todos os argumentos utilizados pelo Público, o que pode, desde já, induzir à “condenação” no processo de contraordenação. Segundo a ERC, é completamente diferente escrever-se um artigo sobre os benefícios para a saúde da disponibilização de dispositivos de combustão sem nicotina patrocinada por entidades para fins de prevenção do consumo de tabaco e promoção de saúde. Ainda mais quando os conteúdos em questão são patrocinados por uma empresa de venda de produtos de tabaco.

    Assim, para a ERC, “estes conteúdos visam um posicionamento das marcas e dos produtos, através de uma prática social encapotada, que não revela os malefícios dos produtos”, assentando “numa mensagem claramente promocional, onde se reforça a imagem de uma empresa socialmente consciente e atenta aos potenciais consumidores”.

    Sede da ERC, em Lisboa.

    A ERC sustenta ainda que, apesar de não se tratar de publicidade tradicional, o conteúdo veiculado não deixa de ser patrocinado por uma empresa sob a qual é proibida a publicidade directa e indirecta, concluído que no conteúdo comercial do Público “existe a finalidade de promover uma marca, uma imagem, e, consequentemente, os produtos/ serviços por esta distribuídos, promovendo o engagement do leitor com a marca”.

    Por fim, o regulador também esclarece que, apesar de os conteúdos editoriais estarem separados dos comerciais, o Público “não pode desvincular-se da propriedade do espaço em que os mesmos se encontram publicados”.


    N.D. A deliberação da ERC refere que “em 12 de Setembro [na verdade, foi a 12 de Outubro] de 2022, com registo nº 2022/7327, deu entrada na ERC, um pedido de esclarecimento da publicação Página Um relativo à publicação periódica Público, nomeadamente à alegada publicidade/ patrocínio a uma tecnologia de cigarros electrónicos (…). Deve esclarecer-se que o PÁGINA UM pediu apenas um “comentário” à ERC sobre a situação detectada, pelo que se lamenta que, numa deliberação, a ERC deixe ficar a ideia de que o PÁGINA UM faz uma queixa contra o Público ou contra outro qualquer jornal. Aliás, acresce que o PÁGINA UM apenas contactou a ERC, para a obtenção do desejado comentário, após a indicação da Direcção-Geral do Consumidor, que tinha sido questionada pelo nosso jornal no dia 10 de Outubro.