Autor: Elisabete Tavares

  • #TwitterFiles: ‘As pessoas normais não sabem o quanto fazemos’. Twitter confessa antigas práticas de censura, incluindo a Trump

    #TwitterFiles: ‘As pessoas normais não sabem o quanto fazemos’. Twitter confessa antigas práticas de censura, incluindo a Trump

    Novas revelações do “Twitter Files” — sobre as práticas de censura implementadas pelos antigos executivos do Twitter — mostram que a rede social criou “listas negras secretas” e aplicou ferramentas de censura à conta do antigo presidente dos Estados Unidos Donald Trump, que acabou mesmo por ser banido em Janeiro de 2021. As contas de utilizadores incluídas nas “listas negras” eram sujeitas a mecanismos que limitavam a sua visibilidade e alcance. O Twitter também impedia que certos tweets se tornassem populares — ou numa tendência, como é designada a popularidade na rede social — e limitava a visibilidade de determinados tópicos, incluindo temas relacionados com a pandemia de covid-19. Um grupo secreto de responsáveis do Twitter, ao mais alto nível, escrutinava as contas consideradas mais sensíveis. A investigação e divulgação destas informações está a ser feita por um grupo de jornalistas independentes, aos quais Elon Musk, novo dono do Twitter, deu acesso a documentos internos da rede social.


    Antigos executivos do Twitter criaram “listas negras secretas” para censurar contas e conteúdos e mantiveram reuniões regulares com o FBI e agências secretas dos Estados Unidos enquanto decidiam o que censurar na rede social.

    Nas mais recentes revelações da investigação denominada “Twitter Files”, também foi exposta a forma como executivos do Twitter usaram ferramentas de censura na conta de Donald Trump, quando ainda era presidente dos Estados Unidos, nos meses que antecederam as últimas eleições presidenciais nos Estados Unidos, em 2020, as quais deram a vitória ao actual presidente norte-americano, Joe Biden.

    Antes de banir Trump no dia 6 de Janeiro de 2021 (J6), executivos do Twitter já aplicavam ferramentas que limitavam a visibilidade e alcance da conta do antigo presidente do Estados Unidos.

    Trump acabou mesmo por ser banido do Twitter a 8 de Janeiro de 2021, dois dias após a invasão do Capitólio. A investigação encontrou documentos internos que mostram que, nos meses anteriores à decisão de banir Trump, existia já um padrão de comportamento instalado, com uma deterioração das políticas da empresa, e os executivos do Twitter já violavam as regras enquanto reuniam com agências federais.

    Estas são as principais revelações da segunda parte e terceira parte de divulgação de informações produzidas por uma investigação conhecida como “Twitter Files”, conduzida por jornalistas independentes, com destaque para Matt Taibbi e Bari Weiss. A investigação é baseada em documentos que foram disponibilizados por Elon Musk, novo dono do Twitter, e também entrevistas a funcionários da rede social. As mais recentes revelações foram feitas entre quinta-feira e este Sábado.

    As próximas revelações, que serão feitas durante o fim-de-semana, vão debruçar-se sobre os momentos e dias que se seguiram à expulsão do antigo presidente norte-americano do Twitter.

    Twitter assume que houve política de censura sobre Donald Trump

    Segundo Weiss, a publicação de novas informações, em primeira mão, é sempre feita através do Twitter e essa foi a única condição acordada com Musk, tendo os jornalistas acesso livre a toda a documentação.

    Na segunda parte dos “Twitter Files” foi revelado como os executivos da rede social criaram “listas negras secretas”. Uma das contas que foi colocada em listas negras foi a de Jay Bhattacharya. Este reputado professor da Universidade norte-americana de Stanford, onde ocupa o cargo de director do Centro de Demografia e Economia de Stanford para a Saúde e Envelhecimento, foi uma das primeiras vozes a mostrarem-se contra a estratégia de confinamento, alertando que os lockdowns seriam muito prejudiciais para as crianças. Bhattacharya foi um dos três especialistas que escreveu a Great Barrington Declaration, a qual reuniu assinaturas de cientistas e médicos de topo em defesa de uma estratégia de combate à pandemia “focada na protecção”, mas que viria a ser censurada pela generalidade da imprensa mainstream, incluindo a portuguesa.

    Na primeira parte da divulgação de informação das antigas práticas do Twitter, revelado pelo jornalista independente Matt Taibbi, ficou exposto como antigos funcionários do Twitter executaram indicações da campanha presidencial de Joe Biden, para censurar informação sobre o caso polémico em torno do portátil de Hunter Biden, filho do actual presidente dos Estados Unidos.

    Documentos internos do Twitter revelaram como os executivos da rede social começaram a deixar para trás algumas regras da empresa e a implementar as medidas que desejavam.

    Entretanto, Bari Weiss ficou encarregue da divulgação dos “Twitter Files 2”, o que fez através da sua conta no Twitter e também via The Fress Press (A Imprensa Livre, em tradução livre), um órgão de comunicação social fundado por esta jornalista que foi editora no The Wall Street Journal e do The New York Times.

    No primeiro tweet de uma série de 30 tweets sobre o tema, Bari Weiss escreveu: “Uma nova investigação #TwitterFiles revela que equipas de funcionários do Twitter construíram listas negras, impediram que os tweets não apreciados se tornassem uma tendência e limitaram ativamente a visibilidade de contas inteiras ou mesmo tópicos de tendência — tudo em segredo, sem informar os utilizadores”.

    No caso do professor de Stanford Jay Bhattacharya, o primeiro exemplo que Weiss dá, “o Twitter colocou-o secretamente numa “Lista Negra das Tendências”, o que impediu que os seus tweets se tornassem uma tendência”.

    A jornalista dá outro exemplo como o da conta do apresentador de um popular talk show com uma orientação política de direita, Dan Bongino que foi incluído na “Lista Negra de Pesquisa”. Em outro exemplo, o activista conservador Charlie Kirk foi colocado numa lista negra de contas com ordem para não amplificar a sua visibilidade.

    Mas, destaca Weiss, o Twitter assumira sempre que jamais fizesse “estas coisas”, ou seja, que a política desta rede social nunca discriminaria ninguém. E a jornalista recorda mesmo que, em 2018, Vijaya Gadde, então responsável de Política Legal e Confiança do Twitter, e Kayvon Beykpour, director de Produto, garantiram que “não fazemos shadow ban (acto de reduzir visibilidade de contas e conteúdos)”. E reforçaram: “E certamente não fazemos shadow ban baseada em pontos de vista políticos ou ideologias.”

    A investigação da Bari Weiss apurou ainda que aquilo a que “muitas pessoas chamam de shadow ban, executivos e funcionários do Twitter chamam de Filtragem de Visibilidade ou VF [nas iniciais em inglês]”, aditando que “várias fontes de alto nível confirmaram o seu significado” aos jornalistas dos “Twitter Files”.

    A rede social, antes da entrada de Elon Musk na empresa, usou assim a VF para “bloquear pesquisas de utilizadores individuais; limitar o âmbito de descoberta de um determinado tweet; bloquear publicações selecionadas de utilizadores de alguma vez aparecerem na página tendências; e da inclusão em pesquisas de hashtag [tópicos começados com o símbolo #]”.

    Dois funcionários da rede social garantiram ainda aos jornalistas dos Twitter Files que controlavam “bastante a visibilidade e amplificação do seu conteúdo”, acrescentando que “as pessoas normais não sabem o quanto fazemos”.

    Para a prossecução destas práticas, o Twitter tinha um grupo que decidia quais as contas cujo alcance e visibilidade seriam limitados, baptizada de “Equipa de Resposta Estratégica” (Global Escalation Team, em inglês, ou SRT-GET). Este grupo “lidava frequentemente com até 200 casos por dia”, relatou Weiss.

    Mas existia ainda um segundo nível de decisão, além dos moderadores que seguiam a política da empresa que estava estabelecida “no papel”. Este segundo nível era conhecido como “Política de Integridade do Site, Suporte à Escalada de Políticas”, ou “SIP-PES”, nas iniciais em inglês. Este grupo secreto “incluía Vijaya Gadde, Yoel Roth, responsável Global de Confiança e Segurança, os presidentes-executivos subsequentes Jack Dorsey e Parag Agrawal, entre outros”.

    Elon Musk comprou o Twitter em Outubro passado por 44 mil milhões de dólares e prometeu revelar antigas práticas de censura desta rede social.

    Uma das contas escrutinada ao nível deste grupo secreto foi a Libs of TikTok — uma conta que estava na “Lista Negra das Tendências” e foi designada como “não tome medidas sobre o utilizador sem consultar com o SIP-PES”. Aquela conta — “que Chaya Raichik [a quem a conta é atribuída] começou em Novembro de 2020 e tem agora mais de 1,4 milhões de seguidores — foi alvo de seis suspensões só em 2022″. Em cada suspensão, a conta ficado impedida de publicar por uma semana.

    A autora da conta foi sendo informada de que a suspensão se devia a conduta de ódio, mas a investigação de Bari Weiss encontrou uma nota do grupo secreto “SIP-PES”, de Outubro de 2022, após a sétima suspensão, admitindo que a conta “não adoptou diretamente nenhum comportamento que violasse a política de Conduta de Ódio”.

    Weiss revelou também que o grupo justificou internamente as suspensões, alegando que os tweets da Libs of TikTok encorajavam o assédio online de “hospitais e prestadores médicos” ao insinuar que “os cuidados de saúde de afirmação de género equivalem a abuso ou aliciamento infantil”. Mas quando a morada e uma foto da residência de Raichik foram divulgados, o Twitter considerou que nenhuma regra tinha sido violada e permitiu que o conteúdo permanecesse online.

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    Entretanto, soube-se ao longo desta semana que a divulgação da segunda parte dos “Twitter Files” sofreu um adiamento depois de se ter descoberto que James Baker, um antigo advogado do FBI (Federal Bureau of Investigation), contratado pela anterior administração do Twitter em 2020, esteve envolvido no processo de selecção de documentos a serem fornecidos aos jornalistas que estavam a trabalhar nos “Twitter Files”.

    Segundo revelou Matt Taibbi, o advogado James Baker “é uma figura controversa”, é uma “espécie de Zelig de controvérsias do FBI, que remontam a 2016, desde o Dossier Steele até à confusão do Alfa-Server”. Taibbi lembrou ainda que Baker saiu do FBI em 2018, após uma investigação sobre fugas de informação para a imprensa.

    Musk acabou por demitir Baker e garantiu que iria divulgar toda a informação que encontrasse sobre as práticas de censura praticadas pelo Twitter no passado, admitindo que parte dos dados pudessem já ter sido apagados.

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    A divulgação das antigas práticas de censura do Twitter está a incomodar certos meios políticos, sobretudo do Partido Democrata, nos Estados Unidos, e também está a causar desconforto entre os media tradicionais, os quais se viram completamente postos de lado nesta investigação. Musk, que também lidera a Tesla, tem frequentemente criticado a actuação da generalidade dos media mainstream, os quais, em geral, têm recusado publicar notícias sobre os “Twitter Files”, com algumas excepções.

    Até agora, a documentação interna do Twitter já revelada mostra uma maior inclinação de antigos responsáveis e funcionários da rede social para censurar e perseguir contas e conteúdos de ideologia mais conservadora. Elon Musk veio recentemente já levantar a forte suspeita de que as práticas antigas do Twitter poderão ter favorecido a esquerda nas eleições no Brasil, embora até agora não tenha apresentado provas.

  • #TwitterFiles: Antigo funcionário do FBI, despedido por Elon Musk, estaria a condicionar libertação de documentos comprometedores

    #TwitterFiles: Antigo funcionário do FBI, despedido por Elon Musk, estaria a condicionar libertação de documentos comprometedores

    A divulgação de novos dados dos denominados #TwitterFiles sofreu um atraso inesperado, com a descoberta de que um antigo funcionário do FBI, James Baker, esteve envolvido no processo de selecção de documentos a tornar públicos, uma promessa de Elon Musk. Este advogado, contratado pela anterior administração do Twitter em 2020, acabou por ser despedido do Twitter, mas o novo dono desta rede social teme que haja documentos comprometedores que tenham sido apagados.


    Elon Musk, o novo dono do Twitter, garantiu hoje que continuará a divulgação de documentos internos desta rede social que provam actos de censura durante a anterior gestão, que visavam esconder informação comprometedora e influenciar a opinião pública.

    Esta é a mais recente reacção do multimilionário sobre os já denominados Twitter Files, que esta semana deveriam ter tido novas revelações, que foram suspensas após se descobrir que um dos membros da equipa responsável pela seleccção dos documentos, a entregar aos jornalistas, era o advogado James Baker, um antigo funcionário do FBI (Federal Bureau of Investigation), contratado em 2020 pela anterior administração da rede social.

    Elon Musk comprou o Twitter em Outubro passado por 44 mil milhões de dólares e prometeu revelar antigas práticas de censura desta rede social.

    O envolvimento de James Baker foi denunciado por Matt Taibbi, o jornalista independente, aparentemente escolhido por Musk, para revelar como, durante a campanha para as últimas eleições presidenciais nos Estados Unidos, o Twitter executou um pedido da equipa de Joe Biden para censurar a divulgação de notícias sobre o famoso escândalo do portátil de Hunter Biden, filho do atual presidente norte-americano, e as suas ligações na Ucrânia.

    Taibbi revelou anteontem num tweet que “o processo para a produção dos ‘TwitterFiles’ envolveu a entrega [de documentos] a dois jornalistas [Bari Weiss e o próprio Taibbi], através de um advogado próximo da nova administração”, acrescentando que “depois do lote inicial, as coisas [novas entregas] tornaram-se complicadas”.

    Bari Weiss – uma jornalista independente que foi editora do The New York Times entre 2017 e 2020, resignando através de uma carta muito crítica às práticas dos media mainstream – foi quem descobriu a participação de James Baker. Taibbi revelou num tweet que Weiss teve uma reacção peculiar: “O meu maxilar bateu no chão”.

    O jornalista independente Matt Taibbi revelou a primeira série dos chamados Twitter Files.

    De facto, segundo revelações de Matt Taibbi, o advogado James Baker “é uma figura controversa”, é “uma “espécie de Zelig de controvérsias do FBI, que remontam a 2016, desde o Dossier Steele até à confusão do Alfa-Server”. Taibbi lembrou ainda que Baker “se demitiu [do FBI] em 2018 após uma investigação sobre fugas de informação para a imprensa”.

    Saliente-se que Baker trabalhou no FBI quando o diretor era James Comey, tendo tido um papel central nas revelações sobre o alegado conluio em 2016 entre a campanha presidencial de Trump e a Rússia, e que vieram a ser consideradas falsas. Baker trabalhou no FBI com operacionais como Peter Strzok e Lisa Page que assumiram uma postura anti-Trump.

    O advogado James Baker, antigo funcionário do FBI, e contratado pelo Twitter em 2020, estaria a condicionar a divulgação de documentos prometidos por Ellon Musk. Foi entretanto demitido.

    Elon Musk, aparentemente ignorava a presença de James Baker na equipa que estava responsável pela entrega dos documentos aos jornalistas. Anteontem, Musk disse num tweet que apenas soubera da participação daquele antigo funcionário do FBI no domingo passado, tendo depois acrescentado que o demitiu.

    Integrado num seu tweet, em que informava ser necessário mais algum tempo para novas revelações, e em resposta a um comentário do ex-presidente executivo do Twitter, Jack Dorsey, que apelava para serem revelados todos os documentos “sem filtro”, Elon Musk disse que “os dados mais importantes foram escondidos”, até mesmo a Dorsey, e que temia que “alguns podem ter sido apagados”. E garantia que tudo o que fosse encontrado seria revelado na íntegra.

    A primeira série dos Twitter Files puseram a nu a forma como a equipa do então candidato presidencial Joe Biden articulou com o Twitter a censura e supressão de informação sobre o famoso caso dos conteúdos do portátil do filho do actual presidente dos Estados Unidos, Hunter Biden, que mostravam as suas ligações comprometedoras à Ucrânia.

    Nesta fase, as revelações foram realizadas via conta do Twitter de Matt Taibbi, através de uma série de 36 tweets, também traduzidos para português e publicados no PÁGINA UM. A segunda fase da divulgação de informação vai ser agora feita pela jornalista Bari Weiss.

    A divulgação do despedimento de Baker e do seu envolvimento na selecção de documentos a divulgar ao público pelo Twitter atraiu alguma atenção da imprensa mainstream, que tem estado largamente a recusar publicar notícias sobre os Twitter Files. Na imprensa internacional, entre as excepções estão o The New York Post, a CNN Internacional e a Forbes.

    Troca de comentários entre Jack Dorsey, ex-presidente executivo do Twitter, e Elon Musk sobre a revelação dos documentos sobre antigas práticas de censura desta rede social.

    Contudo, após a demissão de James Baker a atenção mediática da imprensa mainstream internacional tem aumentado, mas não na imprensa nacional, que continua a ignorar um caso com repercussões políticas incalculáveis. Em todo o caso, observa-se um grande incómodo no sector dos media por estas revelações estarem a ser feitas por jornalistas independentes. Alguns jornalistas e responsáveis de media mainstream têm mesmo atacado Taibbi, com uma grande parte a repetir as mesmas expressões, acusando-o de estar a prestar um serviço de relações públicas a Musk.

    Até agora, a documentação interna do Twitter já revelada mostra uma maior inclinação de antigos responsáveis e funcionários da rede social para proteger o Partido Democrata nos Estados Unidos, censurando contas de personalidades com visões mais conservadoras. Essa postura da rede social estaria a ser escondida até do antigo CEO, Jack Dorsey, que aparentemente desconhecia os actos de censura cometidos sobre as notícias verídicas em relação a Hunter Biden.

    Elon Musk veio também já levantar a forte suspeita de que as práticas antigas do Twitter poderão ter favorecido a esquerda nas eleições no Brasil, embora até agora não tenha apresentado provas.

  • Conteúdo comercial ilegal: Público diz que só destacou Tabaqueira como “promotora de inovação tecnológica e do desenvolvimento sustentável”

    Conteúdo comercial ilegal: Público diz que só destacou Tabaqueira como “promotora de inovação tecnológica e do desenvolvimento sustentável”

    A Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) concluiu que o jornal Público violou mesmo a lei que proíbe a publicidade ao tabaco, e arrisca um multa até 250 mil euros. Em causa estão conteúdos comerciais pagos pela Tabaqueira e publicados pelo jornal da Sonae no início de Outubro. A ERC também anunciou que vai informar a Direcção-Geral da Saúde sobre a ilegalidade cometida pelo jornal dirigido pelo jornalista Manuel Carlos Carvalho (CP 963), que se defendeu dizendo que o conteúdo comercial pretendeu apenas potenciar a Tabaqueira como “entidade promotora de inovação tecnológica e do desenvolvimento sustentável”.


    O Conselho Regulador da Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) abriu um processo de contraordenação ao jornal Público por violação da lei que proíbe publicidade ao tabaco, depois de o jornal ter publicado, no início de Outubro, conteúdos comerciais da Tabaqueira.

    A informação surge numa deliberação da ERC, tomada em 16 de Novembro, no seguimento de um processo de averiguações suscitadas por um pedido de esclarecimento do PÁGINA UM (vd. nota da direcção no final do texto). O jornal do Grupo Sonae arrisca assim uma coima que pode ir até aos 250 mil euros. A ERC anuncia também, na sua deliberação, que vai informar a Direcção-Geral da Saúde da violação da lei por parte do Público, como manda a legislação.

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    Em causa está a violação da Lei 37/2007, mais concretamente o artigo 14º-E, referente a publicidade e patrocínio dos cigarros electrónicos e recargas, e o artigo 18º, relativo ao tema do patrocínio, que a ERC considera susceptível de constituir “uma contraordenação económica muito grave punível nos termos do Regime Jurídico das Contraordenações Económicas”.

    Como o PÁGINA UM noticiou no dia 14 de Outubro passado, o regulador abrira um “procedimento” para averiguar a eventual ilegalidade do Público por inserir um conteúdo comercial da Tabaqueira, que elogiava as tecnologias do tabaco aquecido e que coincidiu com um novo sistema daquela empresa.

    A divulgação da ilegalidade foi feita pelo PÁGINA UM, e não é caso único. Na mesma semana de Outubro em que a ERC indicou ao PÁGINA UM que tinha aberto um “procedimento” contra o Público, o regulador anunciou também a abertura de outro processo de contraordenação à Global Media pela inserção de quatro conteúdos patrocinados pela Tabaqueira: dois no Jornal de Notícias, um no Diário de Notícias e outro no Dinheiro Vivo, todos publicados este ano.

    Conteúdo comercial da Tabaqueira foi aceite pelo Público como “conteúdo comercial” três dias após o lançamento do IQOS Iluma. ERC diz ser publicidade ilegal a produtos de tabaco.

    A publicidade directa ou indirecta aos produtos de tabaco em toda a imprensa está proibida desde 2005. No caso das televisões e rádios, a proibição remonta a 1980. Foram, entretanto, sendo implementadas outras restrições em termos de divulgação de marcas, incluindo em provas desportivas.

    No caso concreto do conteúdo comercial pago pela Tabaqueira que foi publicado no Público, o texto termina mesmo com uma foto claramente de carácter publicitário, com a apresentação do novo sistema de tabaco aquecido por indução IQOS Iluma. Este equipamento é uma grande aposta comercial da Philip Morris neste sector, e que começara a ser comercializado três dias antes da inserção do conteúdo patrocinado no Público.

    Em resposta ao procedimento aberto pela ERC, que levou agora à instauração do processo de contraordenação, o jornal do Grupo Sonae defendeu que estes conteúdos, embora comerciais, “não traduz qualquer incentivo, publicidade ou mesmo promoção aos produtos de tabaco”.

    E diz mesmo que a intenção é mesmo a inversa, ou seja, que o conteúdo comercial, que coincidiu com o lançamento do IQOS Iluma, “teve por principal e único objetivo potenciar a notoriedade e posicionamento da marca ‘Tabaqueira’, enquanto entidade promotora de inovação tecnológica e do desenvolvimento sustentável, procurando o envolvimento da comunidade neste movimento transformacional, que visa promover soluções mais sustentáveis”.

    Porém, para a ERC, não existem dúvidas de que “o texto é inequivocamente promocional, sendo inclusivamente patrocinado por uma empresa que tem como atividade principal a venda e distribuição de produtos de tabaco, com ou sem combustão.

    O regulador deita por terra todos os argumentos utilizados pelo Público, o que pode, desde já, induzir à “condenação” no processo de contraordenação. Segundo a ERC, é completamente diferente escrever-se um artigo sobre os benefícios para a saúde da disponibilização de dispositivos de combustão sem nicotina patrocinada por entidades para fins de prevenção do consumo de tabaco e promoção de saúde. Ainda mais quando os conteúdos em questão são patrocinados por uma empresa de venda de produtos de tabaco.

    Assim, para a ERC, “estes conteúdos visam um posicionamento das marcas e dos produtos, através de uma prática social encapotada, que não revela os malefícios dos produtos”, assentando “numa mensagem claramente promocional, onde se reforça a imagem de uma empresa socialmente consciente e atenta aos potenciais consumidores”.

    Sede da ERC, em Lisboa.

    A ERC sustenta ainda que, apesar de não se tratar de publicidade tradicional, o conteúdo veiculado não deixa de ser patrocinado por uma empresa sob a qual é proibida a publicidade directa e indirecta, concluído que no conteúdo comercial do Público “existe a finalidade de promover uma marca, uma imagem, e, consequentemente, os produtos/ serviços por esta distribuídos, promovendo o engagement do leitor com a marca”.

    Por fim, o regulador também esclarece que, apesar de os conteúdos editoriais estarem separados dos comerciais, o Público “não pode desvincular-se da propriedade do espaço em que os mesmos se encontram publicados”.


    N.D. A deliberação da ERC refere que “em 12 de Setembro [na verdade, foi a 12 de Outubro] de 2022, com registo nº 2022/7327, deu entrada na ERC, um pedido de esclarecimento da publicação Página Um relativo à publicação periódica Público, nomeadamente à alegada publicidade/ patrocínio a uma tecnologia de cigarros electrónicos (…). Deve esclarecer-se que o PÁGINA UM pediu apenas um “comentário” à ERC sobre a situação detectada, pelo que se lamenta que, numa deliberação, a ERC deixe ficar a ideia de que o PÁGINA UM faz uma queixa contra o Público ou contra outro qualquer jornal. Aliás, acresce que o PÁGINA UM apenas contactou a ERC, para a obtenção do desejado comentário, após a indicação da Direcção-Geral do Consumidor, que tinha sido questionada pelo nosso jornal no dia 10 de Outubro.

  • Ricardo Araújo Pereira pode boicotar políticos no seu programa, mas SIC tem de encontrar formas de compensação

    Ricardo Araújo Pereira pode boicotar políticos no seu programa, mas SIC tem de encontrar formas de compensação

    A Entidade Reguladora para a Comunicação Social aceita que um humorista pode, em plena campanha eleitoral, convidar quem achar por bem, mas que o canal televisivo tem de compensar eventuais desequilíbrios em matéria de igualdade de oportunidades e de tratamento de candidaturas. A deliberação do regulador foi espoletado por duas queixas junto do regulador, uma das quais por causa da ausência de André Ventura no programa de Ricardo Araújo Pereira (RAP) em que entrevistou nove dirigentes políticos. RAP tem assumido que nunca convidará o líder do Chega para o seu programa por razões ideológicas. Mas o regulador também mostra que o tempo dedicado por RAP a cada dirigente foi muito distinto: António Costa foi aquele que teve mais “tempo de antena” em “Isto é gozar com quem trabalha”.


    A Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) aceita que um humorista pode, em plena campanha eleitoral, convidar quem achar por bem, mas que o canal televisivo tem de compensar eventuais desequilíbrios em matéria de igualdade de oportunidades e de tratamento de candidaturas. O caso foi espoletado por duas queixas junto do regulador, uma das quais por causa da ausência de André Ventura no programa de Ricardo Araújo Pereira (RAP) em que entrevistou nove dirigentes políticos. RAP tem assumido que nunca convidará o líder do Chega para o seu programa por razões ideológicas.

    Ricardo Araújo Pereira (RAP) pode ser um excelente comediante, mas a ERC não achou piada ao facto de o humorista ter beneficiado alguns partidos políticos no seu programa na SIC “Isto é gozar com quem trabalha” em plena campanha eleitoral das últimas legislativas.

    Por razões ideológicas, Ricardo Araújo Pereira recusa sentar André Ventura è mesa do seu programa.

    Entre 17 e 28 de Janeiro deste ano, o humorista decidiu, de forma explícita, excluir o líder do partido Chega, André Ventura, quando fez uma série de entrevistas diárias a dirigentes de partidos então com assento parlamentar (Bloco de Esquerda, PCP, PSD, Iniciativa Liberal, PAN, CDS e Partido Socialista) no seu programa especial dedicado às eleições legislativas.

    RAP apenas convidou dirigentes de dois outros partidos então sem assento parlamentar Rui Tavares, do Livre (que deixara de ter deputados com a “desfiliação” de Joacine Katar Moreira) e Vitorino Silva, do RIR). Já em 2020, RAP boicotara André Ventura nas Presidenciais de 2020, brincando com o facto de que o líder do Chega “não aguentaria a experiência”.

    Em deliberação divulgada na sexta-feira passada, a ERC até achou que RAP tem, como “célebre comediante” e “protagonista central” de um “programa de autor”, o direito a “uma maior discricionariedade na forma como é abordado o período eleitoral”, mas que não vale tudo em plena época eleitoral. E que, por isso, a SIC deverá, em futuras ocasiões, “compensar, na restante programação, os desequilíbrios gerados num determinado programa em matéria de igualdade de oportunidades e de tratamento de candidaturas”.

    António Costa foi o dirigente político com mais “tempo de antena” no programa humorístico de RAP em plena campanha eleitoral.

    Saliente-se, aliás, que de acordo com a contabilização da ERC, António Costa foi, nas entrevistas de RAP, o político com mais “tempo de antena” com 19 minutos e 16 segundos, enquanto Catarina Martins teve direito a apenas a 10 minutos e 52 segundos e Inês Sousa Real a 11 minutos e 12 segundos. Rui Rio teve menos 6 minutos e 4 segundos do que o líder do PS. Os restantes entrevistados (Vitorino Silva, Rui Tavares, João Oliveira, João Cotrim Figueiredo, Inês Sousa Real e Francisco Rodrigues dos Santos) estiveram sentados defronte a RAP entre 13 e 16 minutos.

    Na sua análise, a ERC considerou que “num programa em que a política se cruza com o entretenimento e em que os candidatos convidados para o programa beneficiam de grande visibilidade para apresentar os seus programas eleitorais, convicções e personalidade, a escolha de determinados entrevistados, com a exclusão de outros, deve ser objeto de especial ponderação, de modo a respeitar os princípios que enformam a atividade dos órgãos de comunicação social durante o período eleitoral”.

    O regulador não acolheu assim quaisquer dos argumentos da SIC que defendeu que o programa de RAP era “entretenimento de cariz humorístico” e que o autor tem “total independência”, pelo que, não se tratando de “um programa informativo, não está adstrito ao cumprimento das normas da Lei da Televisão e dos Serviços Audiovisuais a Pedido e das leis eleitorais dirigidas a programas de atualidade informativa e serviços noticiosos”. O canal do Grupo Impresa advogou que “o critério de escolha dos convidados [era] também, por isso, do humorista, o qual tem total liberdade de conformação em relação a quem deseja [e a quem não deseja] receber no seu programa”.

    Catarina Martins teve pouco mais de metade do “tempo de antena” de António Costa.

    Admitindo que o boicote a Ventura e ao Chega foi intencional, a SIC defendeu RAP, dizendo que “o humorista tem total liberdade para não querer dar espaço, num programa de humor da sua autoria, à defesa de ideias que, do seu ponto de vista, atentem contra a dignidade da pessoa humana, igualdade e direitos, liberdades e garantias”.

    Esta defesa acabou mesmo por ser duramente criticada pela ERC: “O argumento aduzido pela SIC parece não ter cabimento, uma vez que, no que respeita aos vários partidos sem representação parlamentar, o programa apenas privilegiou o Partido RIR, não parecendo crível” que todos os partidos excluídos – num total de 12, uma vez que participaram 21 partidos nas legislativas deste ano – “atentam contra a dignidade da pessoa humana, igualdade e direitos, liberdades e garantias”.

    Quanto ao argumento de que o programa de RAP não é informativo, pelo que não tem de cumprir os mesmos preceitos legais dos programas informativos no que toca às campanhas eleitorais, a ERC também destrói a defesa da SIC, lembrando que a lei não circunscreve “o princípio da igualdade de oportunidades e de tratamento das diversas candidaturas à cobertura jornalística da campanha ou a programas de atualidade informativa e a serviços noticiosos”.

    ERC defende que canais de televisão devem compensar desequilíbrios, mesmo se causados por programas de entretenimento.

    Assim, o regulador defende que “num programa em que a política se cruza com o entretenimento, em que os candidatos convidados para o programa beneficiam de uma visibilidade para apresentar os seus programas, convicções e personalidade, o operador não pode deixar de fazer uma reflexão sobre a escolha de determinados entrevistados, com a exclusão de outros, nos seus diversos programas”.

    Mais. A ERC frisa que “um programa de entretenimento, apesar de beneficiar de uma maior margem de discricionariedade na forma como aborda o período eleitoral, não pode – atento o seu potencial para conferir visibilidade aos candidatos e influenciar o sentido de voto –, deixar de ser objeto de avaliação de acordo com os princípios que enformam a atividade dos órgãos de comunicação social durante o período eleitoral”.

    O regulador recorda “que a SIC, enquanto serviço de programas televisivos, está obrigada a assegurar o princípio da igualdade de oportunidades e de tratamento das diversas candidaturas e a garantir o pluralismo político-partidário”.

    Por isso, conclui que “o facto de se optar por não convidar determinadas candidaturas para o programa ‘Isto É Gozar Com Quem Trabalha’ imporia à SIC um especial cuidado em compensar desequilíbrios surgidos em virtude de opções editoriais no âmbito dos seus programas de entretenimento”.

  • #TwitterFiles: Elon Musk “desnuda” antigas práticas de censura

    #TwitterFiles: Elon Musk “desnuda” antigas práticas de censura

    Elon Musk, novo dono do Twitter, decidiu divulgar documentos internos da empresa tecnológica que comprovam como a rede social censurou, suprimiu informação e fechou contas de utilizadores para influenciar a opinião pública. Musk publicou um ‘tweet’ com uma ligação para a conta de um jornalista independente que começou a divulgar a “primeira parte” dos ‘Twitter Files’. No seu curto texto, Musk escreveu apenas: “Here we go!”, acrescentando a imagem de dois baldes de pipocas. Esta noite, no espaço de pouco mais de uma hora, numa série de 36 ‘tweets’, o jornalista e autor Matt Taibbi revelou os primeiros documentos. A informação interna do Twitter, que agora foi tornada pública, mostra como, durante a campanha para as últimas eleições presidenciais nos Estados Unidos, o Twitter executou um pedido da equipa de Joe Biden para censurar a divulgação de notícias sobre o famoso escândalo do portátil de Hunter Biden, filho do atual presidente norte-americano, e as suas ligações na Ucrânia. Musk assegurou que a divulgação de informação interna no âmbito do que apelidou de “Twitter Files” vai continuar. O PÁGINA UM publica, neste artigo, a série de ‘tweets’ de Taibbi, relativa à primeira parte dos ‘Twitter Files’, em português, e vai acompanhar a divulgação dos próximos documentos internos do Twitter.


    Tweet 1

    Série: Os Ficheiros do Twitter


    Tweet 2

    O que está prestes a ler é a primeira versão de uma série, baseada em milhares de documentos internos obtidos por fontes no Twitter.


    Tweet 3

    Os Ficheiros do Twitter contam uma história incrível de dentro de uma das maiores e mais influentes plataformas de redes sociais do mundo. É um conto frankensteiniano de um mecanismo construído pelo homem que cresceu fora do controlo do seu designer.


    Tweet 4

    O Twitter era, na sua concepção, uma ferramenta brilhante para permitir a comunicação instantânea em massa, tornando possível uma verdadeira conversa global em tempo real, pela primeira vez.


    Tweet 5

    Originalmente, o Twitter mais do que cumpriu a sua declaração de missão, dando às pessoas “o poder de criar e partilhar ideias e informações instantaneamente, sem barreiras”.


    Tweet 6

    No entanto, à medida que o tempo ia avançando, a empresa foi lentamente forçada a adicionar essas barreiras. Algumas das primeiras ferramentas para controlar o discurso [dos utilizadores] foram concebidas para combater os gostos do spam e dos promotores de fraudes financeiras.


    Tweet 7

    Lentamente, com o passar do tempo, os funcionários e executivos do Twitter começaram a encontrar cada vez mais usos para estas ferramentas. Pessoas externas ao Twitter começaram a pedir à empresa que também manipulasse o discurso [de utilizadores permitido na rede social]: primeiro um pouco, depois mais frequentemente, depois constantemente.


    Tweet 8

    Em 2020, os pedidos de “atores” ligados [a responsáveis do Twitter] para apagar tweets eram rotineiros. Um executivo escreveria a outro: “Mais para rever da equipa Biden.” A resposta voltaria: “Tratado” [“handled”, em inglês].


    Tweet 9

    Contas de celebridades e de outras pessoas podem ser removidas ou revistas a mando de um partido político:


    Tweet 10

    Ambas as partes [do espectro político nos Estados Unidos] tinham acesso a estas ferramentas. Por exemplo, em 2020, tanto os pedidos vindos da Casa Branca de Trump, como da campanha de Biden, foram recebidos e honrados. Todavia:


    Tweet 11

    Este sistema não era equilibrado. Era baseado em contactos. Como o Twitter era e é esmagadoramente constituído por pessoas [funcionários] de uma orientação política, havia mais canais, mais formas de reclamar, abertos à esquerda (bem, democratas) do que à direita [Link].


    Tweet 12

    A inclinação resultante nas decisões de moderação de conteúdo está visível nos documentos que está prestes a ler. No entanto, é também a avaliação que fazem múltiplos executivos atuais e antigos de alto nível.


    Tweet 13

    Ok, havia mais informação sobre o processo, mas que se lixe, vamos saltar para a frente


    (Não existem os tweets 14 e 15)

    Tweet 16

    Os Ficheiros do Twitter, Primeira Parte: Como e Porquê o Twitter Bloqueou a História do Portátil de Hunter Biden


    Tweet 17

    Em 14 de outubro de 2020, o New York Post publicou o artigo EMAILS SECRETOS BIDEN, uma notícia baseada no conteúdo do portátil abandonado de Hunter Biden:


    Tweet 18

    O Twitter levou a cabo medidas extraordinárias para suprimir a história, removendo links e publicando avisos de que podia ser “inseguro”. Até bloquearam a sua partilha através de mensagem direta, uma ferramenta até então reservada a casos extremos, como, por exemplo, pornografia infantil.


    Tweet 19

    A [então] porta-voz da Casa Branca, Kaleigh McEnany, ficou sem poder entrar na sua conta por tweettar sobre a história, o que originou uma carta furiosa do funcionário da campanha de Trump, Mike Hahn, que dizia: “Pelo menos, finja que se importa com os próximos 20 dias”.


    Tweet 20

    Isto levou a responsável de política externa [do Twitter], Caroline Strom, a lançar uma consulta WTF [acrónimo inglês para ‘willing to fail‘, que corresponde a uma política de tomada de riscos numa empresa]. Vários funcionários observaram que havia tensão entre as equipas de comunicação/política, que tinham pouco/menos controlo sobre a moderação, e as equipas de segurança/confiança:


    Tweet 21

    A nota de Strom gerou a resposta de que a história do portátil tinha sido removida por violação da política de “materiais hackeados [pirateados informaticamente]” da empresa:


    Tweet 22

    Apesar de várias fontes se recordarem de ter existido naquele Verão um aviso “geral” da polícia federal sobre possíveis ataques piratas informáticos estrangeiros, não há provas – que eu tenha visto – de qualquer envolvimento do Governo na história do portátil. Na verdade, pode ter sido esse o problema…


    Tweet 23

    A decisão foi tomada nos mais altos níveis da empresa, mas sem o conhecimento do CEO [presidente-executivo] Jack Dorsey, com a ex-responsável pela área Jurídica, Política e Confiança, Vijaya Gadde, a desempenhar um papel fundamental.


    Tweet 24

    “Eles apenas o fizeram por conta própria”, é como um ex-funcionário caracterizou a decisão. “A pirataria informática foi a desculpa, mas em poucas horas, praticamente todos perceberam que isso não ia aguentar [ou manter-se de pé a desculpa]. Mas ninguém teve a coragem de revertê-lo.


    Tweet 25

    Pode ver a confusão na seguinte longa troca [de e-mails], que acaba por incluir Gadde e o ex-chefe de Confiança e Segurança, Yoel Roth. O funcionário da área de Comunicação, Trenton Kennedy, escreve: “Estou a lutar para compreender a base política para marcar isto como inseguro”:


    Tweet 26

    Por esta altura “toda a gente sabia que isto estava lixado”, disse um antigo funcionário, mas a resposta foi essencialmente para errar do lado de… continuando a errar.


    Tweet 27

    O ex-vice-presidente Global de Comunicação, Brandon Borrman, pergunta: “Podemos afirmar sinceramente que isto faz parte da política?”


    Tweet 28

    Ao que o ex-adjunto do administrador da área jurídica, Jim Baker, parece aconselhar a manter o curso, porque “a cautela é justificada”:


    Tweet 29

    Um problema fundamental com as empresas tecnológicas e a moderação de conteúdos: muitas pessoas responsáveis pelo discurso sabem/preocupam-se pouco com o discurso, e têm de ser informados sobre o básico por pessoas externas. A saber:


    Tweet 30

    Numa troca humorística no dia 1, o congressista democrata Ro Khanna contacta Gadde para sugerir gentilmente que falem ao telefone. Khanna foi o único [congressista] democrata que encontrei nos ficheiros que expressava preocupação.


    Tweet 31

    Gadde responde rapidamente, mergulhando imediatamente nas intrincada política do Twitter, desconhecendo que Khanna está mais preocupado com a Declaração de Direitos:


    Tweet 32

    Khanna tenta redirecionar a conversa para a Primeira Emenda, menção que é geralmente difícil de encontrar nos ficheiros:


    Tweet 33

    No espaço de um dia, a responsável pela Política Pública, Lauren Culbertson, recebe uma carta/relatório medonho de Carl Szabo da empresa de investigação NetChoice, que já tinha inquirido 12 membros do Congresso – 9 Republicanos e 3 Democratas, desde “a Comissão Judiciária da Câmara ao Gabinete da Rep. [Representante] Judy Chu”.


    Tweet 34

    A NetChoice deixa o Twitter saber que haverá um “banho de sangue” nas próximas audições[no Congresso], com os membros a dizerem que é um “ponto de viragem”, queixando-se que as tecnológicas “cresceram tanto que nem conseguem regular-se, por isso o Governo pode ter de intervir”.


    Tweet 35

    Szabo relata no Twitter que algumas figuras no Congresso estão a caracterizar a história do portátil como “o momento de Access Hollywood da tecnologia” [escândalo]:


    Tweet 36

    Os ficheiros do Twitter continuaram:
    “A PRIMEIRA EMENDA NÃO É ABSOLUTA”
    A carta de Szabo contém passagens arrepiantes que transmitem as atitudes dos legisladores democratas. Querem “mais” moderação e, quanto à Declaração de Direitos, “não é absoluta”


    Tweet 1 extra de Matt Taibbi

    Um incrível enredo paralelo, no caso Twitter/portátil de Hunter Biden, foi o que foi feito sem o conhecimento do CEO [do Twitter] Jack Dorsey e quanto tempo demorou para a situação ficar “resolvida” [‘unfucked’ na expressão em inglês usada no tweet] (como um ex-funcionário disse), mesmo depois de Dorsey ter intervindo.


    Tweet 2 extra de Matt Taibbi

    Há múltiplos exemplos nos ficheiros em que Dorsey intervém para questionar suspensões e outras ações de moderação em contas de todo o espectro político

  • Da China ao Catar: dois mundos iguais, com dois olhares escandalosamente diferentes

    Da China ao Catar: dois mundos iguais, com dois olhares escandalosamente diferentes


    De repente, dois regimes opressores, em duas geografias distintas, por dois motivos diferentes, estão debaixo dos holofotes, no centro das notícias a nível mundial: China e Catar.

    No Catar, no meio dos debates tardios sobre os direitos humanos e a exploração de emigrantes. testemunhamos em directo estádios cheios de milhares de pessoas, festas e celebrações.

    Na China, vemos na TV e em vídeos na Internet, pessoas a serem perseguidas e detidas, por polícias vestidos com fatos anti-contaminação, porque o Governo totalitário diz que “o recorde” de 30 mil casos positivos diários ao SARS-CoV-2, numa população de quase 1,5 mil milhões de pessoas, justifica encerrar e condenar à fome e à miséria toda uma população. Mesmo que, em alguns casos, haja pessoas que morram até por incêndios, porque não conseguem escapar das chamas por as casas estarem bloqueadas.

    two person holding papercut heart

    O Mundo assiste assim, em directo e, em simultâneo, aos acontecimentos que se desenrolam nestas duas ditaduras. Dois países que parece estarem em planetas diferentes. E, ainda assim, o Tico e o Teco não se encontram e não despertam as mentes de alguns no Ocidente, incluindo jornalistas e comentadores nos media?

    Perante a trágica e irracional política seguida na China, olhando em simultâneo para o Catar em festa, nem mesmo assim alguns jornalistas e políticos admitem aquilo que é urgente admitir por ser tão óbvio: o que o regime chinês está a fazer à sua população é um crime de gigantescas proporções, que nada tem de estratégia de saúde pública.

    E até se compreende esta atitude de muitos no Ocidente. Há jornalistas e políticos que se assumem hoje, de forma mais ou menos discreta, como porta-vozes do regime totalitário chinês. O modelo tirânico de controlo e submissão a que os cidadãos chineses são forçados a viver, passou a ser apelativo a muitos interesses no Ocidente, ainda livre, onde as liberdades de imprensa e de expressão existem, mas que não param de ser ameaçadas. É só ver a política de censura e perseguição a que assistimos desde 2020 e a supressão da Ciência que não validava as teses “oficiais” dogmáticas, muitas das quais se mostraram ser erradas. E muitos políticos e jornalistas as apoiaram, as incentivaram.

    No Estádio de Lusail, onde a selecção portuguesa venceu o Uruguai, estava uma plateia de quase 90 mil adeptos. (Foto: FPF)

    No caso da China, assistimos nos últimos dias a uma onda de protestos corajosos contra o regime opressor, que continua a impor, em 2022, uma política insana e tirânica usando como desculpa a covid-19. O regime totalitário tem mantido detidas em casa centenas de milhões de pessoas, em condições desumanas, mas parece até merecer uma certa condescendência dos media ocidentais porque, aparentemente, o Governo chinês até está a fazer aquilo que muitos políticos e jornalistas gostariam que, no fundo, se tivesse feito nos países europeus ou norte-americanos durante a pandemia.

    Do outro lado, no Catar, assistimos a estádios cheios de gente, a imagens de glamour e festa – num país igualmente intolerante e cruel. No que toca à covid-19, as condições de entrada no país são iguais para todos, tenham ou não tomado a vacina contra a doença, não sendo necessário apresentar teste negativo. Até porque as vacinas contra a covid-19 não impedem o contágio nem a infecção.

    Também os media estão no centro das atenções, pela forma como estão a cobrir os protestos na China, muitos aparecendo como porta-vozes do regime chinês, a defender a política irracional de “zero covid”.  

    red flag
    As políticas “de saúde” impostas pelo regime totalitário na China desde 2020, apesar de muitas delas não terem base científica e desrespeitarem os direitos humanos e civis, têm sido elogiadas por políticos, jornais, responsáveis de autoridades de saúde e comentadores nos media nos países democráticos ocidentais, que caminham cada vez mais para ditaduras.

    Indo por partes. Uma política de “zero covid” é, em primeiro lugar, completamente impossível, insustentável e insana, sobretudo depois do surgimento da variante Ómicron, mais contagiosa, mas muito menos letal do que as anteriores variantes. Jamais se poderá reduzir a “zero” a presença do SARS-CoV-2 depois da Ómicron. Como disse o epidemiologista Michael Osterholm, diretor do Center for Infectious Disease Research and Policy, da Universidade do Minnesota, nos Estados Unidos: “tentar parar a Ómicron é como tentar parar o vento”.

    Mas, o que ressalta à vista, e deveria ser o destaque em toda a imprensa, é o completo falhanço da China na “gestão” sanitária e social da pandemia de covid-19. Os casos positivos somam-se, apesar das medidas completamente absurdas e tirânicas adoptadas no país liderado por um Governo autoritário e opressor.

    Ao contrário, a Suécia, onde, sem confinamentos, nem máscaras faciais, em geral, temos o caso de maior sucesso na gestão da pandemia no médio e longo prazo. (Aliás, os países europeus apresentam em 2022 um nível extremamente elevado de mortes em excesso – sem explicação e sem vontade de se investigar, curiosamente – enquanto na Suécia, a mesma situação não se verifica.)

    Os confinamentos foram e são uma medida errada. O objetivo “zero covid” é insano, em termos médicos, científicos e económicos. Por isso, é com surpresa que se continuam a ver notícias em alguns media tradicionais (ou mainstream) sobre o que se passa na China. Estão completamente desfasadas da realidade. A falta de contexto em algumas notícias é gritante.

    Mas, mais do que isso, surpreende que alguns media mainstream continuem a defender a estratégia da China na luta contra a covid-19. Ignoram, para isso, não só os factos, os dados e os estudos científicos robustos disponíveis, como se esquecem de algo crucial: a China é uma ditadura. Assim, a informação dita oficial é suspeita, dada a propaganda generalizada e o gigantesco controlo de informação.

    Vejamos, por exemplo, os supostos “casos recorde” na China destacados por jornais como o Público: estamos a falar de 30 mil casos em média, por dia, numa população de 1,44 mil milhões de pessoas. Isto, quando 90% da população chinesa mais de metade da população chinesa está supostamente vacinada contra a covid-19, uma percentagem que sobe no caso das principais cidades do país.

    Registo actual da percentagem de vacinação contra a covid-19. Fonte: Google.

    Vale a pena recordar mais uma vez, e mesmo que se possa parecer repetitivo, que a maioria dos media mainstream continua a ocultar ao seu público: a taxa de letalidade da covid-19. Um artigo científico divulgado no mês passado, onde se destaca como autor John Ioannidis, o epidemiologista mais citado do Mundo, estimou, que a taxa de mortalidade por infecção de covid-19 antes de haver vacinação e do aparecimento da Ómicron foi de 0,095% para os menores de 70 anos, sendo irrelevante nos grupos etários mais jovens. E apontou também que a taxa de letalidade global se situava entre 0,03% e 0,07%.

    Isto são factos. E os jornalistas lidam com factos, não com ilusões, ideologias e lavagens cerebrais da propaganda chinesa ou das farmacêuticas. E muito menos com “consensos sociais“, ao contrário do que é defendido pelo director do Público.

    Por tudo isto, os jornais e os jornalistas deveriam sobretudo reflectir sobre como podem “conviver” com um regime opressor que aprisiona a sua população para reforçar o poder reforçado – e “embrulha” isto como se de uma simples estratégia de saúde pública se tratasse – ao mesmo tempo que assistem a jogos de futebol, noutro Estado autoritário, em estádios lotados.

    man in white robe standing near statue during daytime

    Antigos bastiões da defesa da democracia e da liberdade de imprensa e de expressão, vejo hoje os media, em geral, transformados em porta-vozes de ditadores ou aspirantes a ditadores, enviesando as suas análises, manipulando, omitindo e não dando verdadeira informação, corajosa e independente.

    Por isso, hoje, mais do que desejar a vitória da seleção portuguesa no Catar, desejo a vitória sobre a ditadura por parte do povo chinês, com o qual me solidarizo. Desejo a vitória das minorias e dos que sofrem de perseguição e discriminação no Catar, na China e em outro qualquer país. E desejo que haja uma revolução no jornalismo e que os media voltem a ser aquilo que deveriam ser hoje: uma luz para a liberdade.

  • Os protestos na China são contra uma estratégia de saúde pública ou contra a pura opressão autoritária?

    Os protestos na China são contra uma estratégia de saúde pública ou contra a pura opressão autoritária?

    O PÁGINA UM analisa uma recente notícia da Associated Press sobre as manifestações em Xangai e outras cidades chinesas. E aponta as falhas, agora recorrentes, da imprensa mainstream, desde a falta de contextualização política até à ausência completa e absurda de um enquadramento que tenha em consideração os mais actuais avaliações sobre a pandemia .


    A pergunta é legítima: por que motivo a imprensa mainstream e mesmo as grandes agências noticiosas, mesmo internacionais, publicam agora notícias importantes que apresentam falhas graves de informação e carecem de contexto?

    É por os jornalistas que as escrevem não deterem conhecimentos e ignorarem o contexto? É por negligência ou mesmo incompetência de editores? É propositado por indicação da política editorial ou comercial das empresas de media?

    red and black heart illustration

    Esta semana, de novo, volta a repetir-se um cenário que tem sido comum desde o início da pandemia: notícias de agências noticiosas internacionais, divulgadas em massa pelos restantes meios de comunicação social, apresentam graves falhas de informação e de contexto.

    O caso de divulgação de notícias com falta de contexto, e até tendenciosas, por parte de agências noticiosas, é mais grave devido ao fenómeno das notícias recicladas – denominado como churnalism. Notícias são replicadas até à exaustão sem a devida verificação de factos e sem que os meios de comunicação social que as replicam assumam qualquer responsabilidade pela sua veracidade e qualidade.

    Saliente-se, desde já, que as agências noticiosas são cruciais e o seu trabalho é de fundamental importância. Habitualmente, é através das agências que os restantes meios de comunicação social conseguem rapidamente obter informação de todo o Mundo sobre conflitos ou catástrofes repentinas, mas também sobre todo o tipo de temas da actualidade, por terem correspondentes sempre presentes. Mas as redacções destas agências têm vindo a ser emagrecidas. Jornalistas com mais experiência são demitidos e, quando substituídos, surgem outros com pouca experiência.

    O advento da Internet e das redes sociais teve um papel relevante, já que hoje muita informação surge diretamente de internautas. O Mundo está muito mais rápido. Mas nada disto serve como justificação para as falhas que noticias cruciais continuam a apresentar. E ainda mais nos últimos anos.

    black video camera

    Paradigmática desta situação é, por exemplo, a tendência crescente para uma certa complacência e falta de contexto propositado na cobertura de notícias sobre a China e sobretudo da sua abordagem à gestão da pandemia da covid-19. Mas esta tendência para a chinezisação dos media ocidentais será tema a abordar em análise futura.

    Foquemo-nos num exemplo de uma recente notícia de uma conhecida agência internacional para demonstrar como se falha na independência e isenção jornalística. Trata-se de uma notícia de ontem da Associated Press (AP), intitulada “Protests over China’s COVID controls spread across country”. Em tradução livre: “Protestos sobre medidas covid-19 na China alastram no país”.

    Primeiro, vale a pena sublinhar que esta notícia só foi divulgada pela imprensa mainstream quando já circulavam em abundância na Internet relatos, fotos e vídeos sobre a existência daqueles protestos, como se pode confirmar no canal China Uncensored. Ou seja, as agências noticiosas só acordaram quando se mostrou visível que estavam estranhamente a “dormir” sobre o assunto. Mas avancemos.

    Em causa, segundo a AP, e segundo a sua notícia, estão “os protestos contra as medidas de controlo antivirais na China, que confinaram milhões de pessoas nas suas casas” e que “espalharam-se para Xangai e outras cidades” após denúncias de que um incêndio urbano em Urumqi teria causado um número superior de vítimas face à contabilidade oficial. Naquela região, a política de confinamentos impede a saída das pessoas em quaisquer circunstâncias.

    Notícia da Associated Press analisada pelo PÁGINA UM.

    Continuemos com a notícia da AP que nos revela que “a polícia de Xangai usou spray de gás-pimenta contra cerca de 300 manifestantes, segundo uma testemunha”. A notícia acrescenta ainda: “Vídeos publicados nas redes sociais que dizem ter sido filmados em Nanjing, no leste, e em Guangzhou, no sul, e pelo menos cinco outras cidades, mostraram manifestantes a lutar contra a polícia vestida com fatos de proteção brancos ou a desmantelar barricadas usadas para selar bairros”.

    Ao fim da leitura de um título e dos três primeiros parágrafos, a primeira grande falha mostra-se óbvia: nenhuma menção ao facto de a China ser uma ditadura, um regime totalitário, tradicionalmente repressor e autoritário.

    Num regime ditatorial – que persegue minorias e opositores políticos e onde não existe liberdade de expressão –, o facto de se estar a aprisionar em casa milhões de pessoas deveria merecer dúvidas sobre a real justificação para esse acto. Além disso, convém recordar que um regime totalitário tem como principais instrumentos o controlo de informação e a manipulação de dados. Aliás, a propaganda é crucial em qualquer regime totalitário, como é o caso da China. Assim, contextualizando a situação chinesa, o leitor ficaria logo prevenido quanto à fiabilidade dos dados vindos do Governo chinês. 

    Protestos repelidos pela polícia chinesa, vestida com fatos brancos.

    Mas a segunda falta de contexto na notícia da AP é ainda mais perniciosa, porque remete para mitos criados em todo o Mundo relativamente ao controlo da pandemia. No quarto parágrafo da notícia refere-se que “o Governo do Presidente Xi Jinping enfrenta uma raiva crescente com a sua política de “zero-covid”, que tem encerrado o acesso a áreas em toda a China, numa tentativa de isolar todos os casos numa altura em que outros Governos estão a aliviar os controlos e a tentar viver com o vírus”.

    Naquele parágrafo está um dos erros básicos cometidos por jornalistas na cobertura do combate à pandemia da covid-19: escrevem acriticamente, como se fossem relações-públicas de Governos e autoridades de saúde.

    Assim, quando a notícia refere “tentativa de isolar todos os casos”, não está a ser isenta. Deveria antes referir “alegadamente, numa tentativa de isolar todos os casos”. Porquê? Porque é o Governo chinês que diz que as medidas drásticas – que incluem barricar casas, prédios e bairros inteiros – tem o objetivo de “isolar todos os casos” de covid-19.

    Não é o jornalista, nem a AP, que o dizem. É o Governo. E ainda por cima o Governo chinês – que comanda uma ditadura – a dar aquela justificação. Ao escrever aquela frase na notícia, a impressão que passa para o leitor é que se justifica barricar bairros e aprisionar milhões de pessoas nas suas casas; que é uma justificação “verdadeira” e essencial, apesar de tudo. Na verdade, o que o jornalista sabe, é que aquela é uma justificação dada pelo Governo. Apenas isso. Não é a verdade. Não é um facto.

    Mas, no parágrafo seguinte da notícia da AP, surge a grande machadada no jornalismo: “Isso [os confinamentos] manteve a taxa de infecção da China mais baixa do que a dos Estados Unidos e a de outros países”. Ora, afirmar isto, assim, é extremamente grave.

    Primeiro, porque os dados divulgados na China estão sempre ensombrados pela dúvida, porque se trata de uma ditadura, que controla e manipula a informação de forma sistemática. Aliás, todos deveríamos questionar como um país de quase 1,5 mil milhões de pessoas, e que conta 1,45 milhões de casos positivos – ou seja, 0,1% da sua população – e contabiliza oficialmente 5.233 óbitos por covid-19 – que assim matou 0,00036% da sua população –, pode justificar, por razões de saúde pública, medidas tão draconianas. Ou mente nos números da incidência e letalidade; ou então mente na justificação para as medidas, que nada têm de protecção da saúde pública.

    Segundo, em outros países os confinamentos falharam no propósito de reduzir os casos de covid-19, como comprovam diversos estudos científicos. Para a imprensa mainstream custa cada vez mais assumir que o país com o maior sucesso na redução de casos e na gestão da pandemia a médio e longo prazo foi a Suécia, que recusou, em geral, os confinamentos, bem como o uso de máscaras faciais – e preferiu uma política sustentável de saúde pública enquadrando a covid-19 num contexto global do ponto de vista sanitário e socio-económico. Ao contrário do que a notícia da AP veicula para o público, os confinamentos não reduzem o número de casos nem são um instrumento sensato de se usar em sociedade.

    Assim, com este tipo de notícias, a AP assume, mesmo que inconscientemente, o papel de porta-voz do regime chinês, porque “a taxa de infecção da China” é aquela que o Governo chinês quiser, e quiser que se saiba. Deve sempre um jornalista, por isso, na cobertura de temas de regimes que controlam a informação, ter o cuidado de mencionar que os dados são os divulgados por autoridades sem crédito, uma vez que num regime como o chinês os dados de uma pandemia podem ser verdadeiros ou ser fabricados para impor uma qualquer política. Aliás, nem só em ditaduras, diga-se: veja-se as dificuldades do PÁGINA UM em aceder a bases de dados em Portugal, que o obriga mesmo ao recurso a tribunal.

    Mas continuemos na análise. A notícia da AP prossegue então com a seguinte frase: “Mas o Partido Comunista no poder enfrenta crescentes queixas sobre os custos económicos e humanos à medida que as empresas se fecham e as famílias ficam isoladas durante semanas com limitado acesso a alimentos e medicamentos”.

    Finalmente, aqui temos a primeira menção de que se trata de um regime “comunista”. No quinto parágrafo, contudo. E acrescenta ainda a AP que “alguns manifestantes surgiram em vídeos a gritar para Xi se demitir ou o partido no poder resignar”, sem sequer se preocupar em contextualizar a relevância destas manifestações num país onde a liberdade de expressão e de manifestação é zero. Ou seja, haver manifestações deste género em Xangai é de uma relevância política e social sem precedentes desde Tiananmen.

    Mais à frente, a notícia informa que “os líderes partidários [chineses] prometeram, no mês passado, tornar as restrições menos disruptivas, facilitando a quarentena e outras regras, mas disseram que mantinham a política de “covid zero”. Como têm alertado cientistas e médicos, é impossível atingir “zero covid”, e começam a surgir estudos científicos independentes que demonstram o seu fracasso do ponto de vista económico e social. Mas esta informação de contexto não surge em lado algum na notícia da AP.

    A notícia continua com erros de análise e falta de contexto. Escreve ainda o jornalista da AP: “Entretanto, um aumento das infecções, que empurrou os casos diários acima dos 30.000 pela primeira vez, levou as autoridades locais a impor restrições que os residentes reclamam exceder o que é permitido pelo Governo nacional”. Primeiro, há aqui mais uma (habitual) falta de rigor na contabilização e contextualização dos números da pandemia, que foi erro grave mas corriqueiro desde o início de 2020.

    Na China, as actuais contagens de casos positivos variam diariamente, havendo dias em que se ultrapassaram efectivamente os 30 mil casos, mas nos dias anteriores os números foram muito mais baixos, da ordem dos poucos milhares. Em rigor, a média dos últimos sete dias na China anda agora pelos 25 mil casos positivos por dia, estando ao nível do pico de Abril deste ano. Mas atenção, 25 mil casos num universo de quase 1,5 mil milhões de pessoas é quase nada.

    Em Portugal, em Janeiro destes ano, chegámos aos 58 mil casos positivos (média móvel de sete dias) numa população de 10 milhões – ou seja, de menos de 1% da população chinesa. Haver 25 mil casos na China é como haver cerca de 173 casos por dia em Portugal. Actualmente, temos em Portugal uma média diária de 573 casos, o valor mais baixo do último ano.

    Onde está este tipo de enquadramento na notícia da AP?

    E depois, não acham estranho que em sete parágrafos da notícia da AP não surja nenhuma referência ao nível de vacinação contra a covid-19 na China? Não era suposto ser com a vacina que iria terminar com a pandemia e regressarmos à normalidade? Já agora, convém acrescentar que a vacinação contra a covid-19 na China é de 90,1%, segundo os mais recentes dados do Our World in Data. E mesmo assim justificam-se estes confinamentos atrozes? É tudo ainda por causa da covid-19? A AP nada questiona. A imprensa mainstream nada pergunta.

    Outra informação crucial ausente em toda a notícia da AP: o nível de letalidade da covid-19, a nível mundial e na China, antes e depois do surgimento das vacinas, antes e depois da dominância da variante Ómicron, e até por faixa etária, sabendo-se hoje, com Ciência, que os efeitos da pandemia foram praticamente nulos nas faixas mais jovens da população.

    Por exemplo, um artigo científico divulgado no mês passado, onde se destaca como autor John Ioannidis, o epidemiologista mais citado do Mundo, estimou, a partir de 31 estudos nacionais de seroprevalência sistematicamente identificados na era da pré-vacinação, que a taxa de mortalidade por infecção de covid-19 foi de 0,095% para os menores de 70 anos, sendo irrelevante nos grupos etários mais jovens. E apontou também que a taxa de letalidade global se situava entre 0,03% e 0,07% mesmo antes dos programas de vacinação e antes do surgimento da variante Ómicron.  Nada disto importou na notícia da Associated Press, bem como na generalidade das notícias da imprensa mainstream sobre a pandemia.

    Em suma, e sem prejuízo de relatar correctamente uma parte dos acontecimentos na China, a AP – tal como a generalidade da imprensa mainstream – continua a ser a imagem de uma comunicação social auto-sequestrada pela sua conduta durante a pandemia. E que justificou, mesmo no mundo ocidental, uma política de lockdowns nunca vista em tempo de paz, conduzindo a derivas totalitárias que hoje, com apreensão, vemos chegar a extremos na China. E que, a manter-se a falta de rigor informativo, exigível à comunicação social em democracias, podemos ver chegar à Europa um destes dias.

    Aliás, a mudança constitucional prometida pelo PS e pelo PSD, no que diz respeito à retirada de direitos civis em caso de supostas pandemias, não serve para fazer igual ao que se fez desde 2020; é para fazer bem pior. A China está ali para o demonstrar. E com a falta de rigor informativo, patente na imprensa mainstream ocidental, como aqui se demonstra, esse desfecho é não só possível como até aplaudido e comungado por jornalistas do regime.

  • Eis aqui a verdadeira Nova Ordem Mundial! Na versão boa

    Eis aqui a verdadeira Nova Ordem Mundial! Na versão boa


    Quando entrevistei, recentemente, Michael Levitt, um Prémio Nobel da Química, fiquei sensibilizada com o tom com que falava do seu “novo amigo” John Ioannidis. Os seus olhos brilhavam ao mencionar o seu nome. Alargava-se nos elogios ao epidemiologista norte-americano, o mais respeitado e citado do Mundo. Era como se estivesse a ouvir Michael Levitt numa versão de criança, contagiado de alegria por uma nova amizade. (Talvez não estejamos habituados a ver adultos a falar de forma tão efusiva dos seus novos amigos.)

    Eu compreendo a alegria de Levitt. E desconfio que o leitor também compreende porque, desde 2020, muitos de nós “perdemos” amigos que dávamos como garantidos para a vida, e “ganhámos” novos amigos que parece estarem connosco desde sempre.

    four person hands wrap around shoulders while looking at sunset

    Serão talvez as chamadas “almas gémeas” que se encontraram a partir de 2020, não no sentido amoroso, mas no afectivo e empático: somos do mesmo “planeta”; viemos da mesma “nave”.

    No caso de Levitt e de Ioannidis, são agora parceiros na investigação científica. Mas não só. Partilham agora uma amizade forte, forjada em tempos desafiantes, onde todos fomos testados.

    As amizades forjadas nesta pandemia – em tempos de retrocesso civilizacional, de “guerra” aos humanos e à comunidade, em tempos de censura, desinformação e segregação – ficarão para a vida, suspeito.

    Mas não só amizades. Não são simples amizades, estas que têm sido formadas nos últimos quase três anos. Porque a estas amizades somam-se muitas outras também nascidas na pandemia e que, no seu todo, formam comunidades.

    Ainda esta semana, Aseem Malhotra, um especialista em cardiologia britânico que tem feito uma campanha para suspensão da administração de vacinas mRNA contra a covid-19, partilhou a sua alegria no Twitter, após ter finalmente conhecido, em carne e osso, Ryan Cole, um reputado patologista que tem educado sobre o que as vacinas causam no corpo humano. Ambos têm sido alvo de censura e perseguição, numa altura em que o dinheiro da indústria farmacêutica e dos seus associados – incluindo políticos, grupos de media e tecnológicas – ainda tem algum poder.

    A foto de alegria dos dois, sentados lado a lado, na plateia de uma conferência, em Oslo, na Noruega, dizia tudo. Não necessitava de legendas.

    Pessoalmente, vivi também esta sensação de alegria que se sente ao conhecer pessoalmente alguém com quem se partilha algo importante em comum. Em 2020, escrevia eu nas redes sociais – sobretudo no Facebook e no LinkedIn – sobre o que não batia certo na narrativa oficial sobre a pandemia. Os dados que não estavam correctos, a cobertura dos media mainstream que, além de sensacionalista, era, por vezes, falsa e persecutória. Etc, etc. Assistíamos todos, ao vivo, a crimes a serem cometidos contra a população. Tínhamos de fazer algo, além de escrever e expor os crimes nas redes sociais.

    Conhecer os “colegas” da Plataforma Cívica – Cidadania XXI foi mais do que uma alegria. Foi mágico. Como se estivesse destinado a acontecer. Montar as Tertúlias da Junqueira e moderá-las, semana após semana. Tudo presencialmente, numa altura em que se espalhava medo e até pânico pela população. Mas nunca parámos. Fizemos muitas noitadas. Debatemos, discordámos, rimos. Foi intenso. E foi bonito. Cada convidado que aceitava participar, cada painel que ficava fechado, era como… se algo superior estivesse a operar. Tudo se encaixava.

    Dirão que estou a entrar num registo lamechas. Talvez. Mas não fica por aqui, o meu relato. Recordo também como foi conhecer cada um dos convidados das Tertúlias. Cada um dos que se deslocaram semanalmente ao Vinyl para ouvir o contraditório que não se ouvia em mais lado nenhum, em Portugal, praticamente. Lá, revi amigos que não via há muito. Fiz novas amizades. Algumas são hoje cruciais na minha vida.

    Seguiu-se o Farol XXI. E, claro, o PÁGINA UM com o Pedro Almeida Vieira.

    Posso, hoje, não conseguir dar atenção por igual a todas as amizades novas que fiz desde 2020. Mas são muito especiais para mim. Claro que amizades que já tinha se mantiveram e, algumas, até se reforçaram.

    Mas, para muitos, desde 2020 que se formaram novas ligações afectivas, profissionais. Novas comunidades.

    E era aqui que eu queria chegar.

    No meu caso, da Cidadania XXI ao PÁGINA UM, passando por todos os projetos que outros “colegas” e amigos criaram em defesa da Ciência, da medicina, da democracia, dos direitos humanos e civis, estão formadas diversas novas comunidades.

    Tivemos de criar páginas nas redes sociais e na Internet, tivemos de aderir a plataformas encriptadas como o Signal e o Telegram. Tudo para divulgar e partilhar informação rigorosa e verdadeira, contrariando a propaganda e a desinformação divulgada no mainstream. Uma aventura! O mesmo se vê “lá fora”. Tanto na Ciência, na academia, no jornalismo, na advocacia. Muitas comunidades se formaram. E muitas com base em novas amizades bonitas e fortes que se forjaram.

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    Mesmo sem a pandemia, e antes da pandemia, já várias comunidades se formavam, indiferentes a Governos, políticas… e a Novas Ordens Mundiais.

    Desde comunidades em torno da permacultura, até a sistemas de ensino focados na natureza e nas crianças e suas diferenças e criatividade, passando por novas formas de “dinheiro”, muitas comunidades se desenvolveram. E cresceram.

    Para mim, só o facto de ter começado a cultivar uma horta – por coincidência, em Março de 2020 –, trouxe-me todo um novo conjunto de amizades boas e bonitas. E, não uma, mas várias comunidades onde hoje me integro.

    Ver nascer novos projetos, novos jornais, plataformas cívicas, grupos de cientistas, de médicos, de professores, … Vislumbra-se o nascimento de um novo mundo. Uma verdadeira Nova Ordem Mundial. Mas na versão boa.

  • O ódio nos olhos dos jornalistas “fascistas”

    O ódio nos olhos dos jornalistas “fascistas”


    Tudo começou com uma notícia sensacionalista. E falsa. Naquele tempo, naquele lugar, havia jornalistas racistas, com ódio. Também em boa parte da população “branca”, o ódio era grande. Uma notícia, na primeira página de um jornal, tornou-se, segundo várias fontes, no “gatilho” que iniciou o massacre racial de Tulsa, nos Estados Unidos. Decorreu entre 31 de maio e 1 de junho de 1921. O número de vítimas mortais é incerto, oscilando entre dezenas e centenas.   

    Ainda hoje, o massacre de Tulsa vive, através dos registos e testemunhos que sobreviveram, para lembrar a todos do que o ódio, as multidões cegas com ódio podem fazer. E o que notícias sensacionalistas e falsas podem causar.

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    O tempo passa, mas o ódio parece sempre conseguir encontrar lugar no coração dos homens e mulheres. Como hoje, nas redacções portuguesas, europeias, o que não falta é jornalistas com ódio. Sim, também os há racistas, homofóbicos, machistas, antissemitas, xenófobos.

    Mas há, sobretudo, hoje, vários jornalistas adeptos de medidas e regimes totalitários, defensores da ditadura em nome de um alegado “bem comum”. Odeiam a liberdade, a democracia, a liberdade de expressão, a liberdade individual e a soberania sobre o próprio corpo (pelo menos, no caso das vacinas contra a covid-19). Este ódio foi (e é ainda) visível na cobertura que fazem (ou não fazem) de eventos e acontecimentos.

    Odeiam todos os que resistiram à propaganda da pandemia, os que se mantiveram sem vacinas contra a covid-19, os que se mantiveram sem máscaras faciais e sem álcool-gel na mão, os que recusaram denunciar vizinhos por receberem amigos ou familiares para jantar nos confinamentos.

    Odeiam os que se manifestaram a favor dos direitos humanos e civis, a favor da Ciência verdadeira e da liberdade. Odeiam os que preferiram abandonar empregos onde lhes era exigido que tomassem obrigatoriamente as vacinas contra a covid-19.

    Novak Djokovic vai voltar a competir na Austrália, depois de ter sido recusada a sua entrada por se manter sem vacina contra a covid-19. As notícias sobre o tenista tinham, por vezes, um tom negativo e depreciativo para o atleta.

    Odeiam os atletas que preferiram ficar de fora de competições do que abdicar da soberania sobre o seu corpo e protegê-lo de novas substâncias injectáveis cujos riscos para a sua saúde superavam amplamente os eventuais benefícios.

    Odeiam os que fazem perguntas e também os que apresentam dados e evidências de que os confinamentos foram errados e um crime, de que as vacinas carecem de informação crucial, de que as mortes em excesso na Europa são graves e devem ser investigadas por entidades independentes. Estes jornalistas e diretores de publicações não trabalham para informar o público. Trabalham para ajudar a criar “consensos sociais” – como diria o director do Público.

    Notícia do jornal Tulsa Tribune publicada no dia em que teve início o massacre racial de Tulsa e breve a noticiar o arquivamento do processo contra Dick Rowland.

    O ódio nestes jornalistas nasceu na pandemia, com a desinformação e a propaganda que muitos deles ajudaram a espalhar. O ódio nestes jornalistas nasceu da mesma forma como sempre nasceu o ódio: por ignorância e por medo. Onde há medo e ignorância, está o terreno tratado para semear o ódio.

    Este ódio semeado na pandemia dá muito jeito para os que pretendem tomar de assalto o mundo livre, o mundo ocidental. O ódio semeado na pandemia é perfeito para gerar a destruição do que tem estado a impedir o nascimento de um novo mundo, em que apenas uns ditam “a verdade” e ganham todos os lucros e todo o poder. Um mundo sem democracia, sem direitos civis, sem direitos humanos, sem liberdade, sem liberdade de expressão. Como na China. Como na Alemanha nazi. Como em Tulsa, em 1921.

    Numa entrevista ao PÁGINA UM, um dos melhores jornalistas de investigação, Bostjan Videmsek, alertou que espera que a pandemia não tenha servido como “ensaio” para serem aplicadas mais medidas totalitárias, agora com a ‘desculpa’ do combate à grave crise ambiental que vivemos.

    Videmsek não é apenas jornalista, escritor e activista pelo ambiente. É embaixador do European Climate Pact da União Europeia na Eslovénia.

    O seu alerta faz sentido. Imagine: e se os jornalistas que ajudaram a distribuir dogmas e propaganda na pandemia – destruindo a democracia e a Ciência verdadeira – agora forem espalhar eventual propaganda e promoverem como “boas para o consenso social” medidas totalitárias anunciadas para alegadamente combater a crise ambiental. Combater as alterações climáticas.

    Isto é possível, dado o ódio à liberdade à democracia que se instalou em boa parte das redacções dos media mainstream portugueses e europeus e que é visível pelo apoio que deram à segregação da população e à desinformação científica que espalharam. Pior. Ainda hoje, muitos jornalistas acreditam que “seguem a Ciência” e que os confinamentos eram bons e que “vai ficar tudo bem”. Nem com a inflação, as mortes em excesso e os estudos e dados científicos, muitos desses jornalistas despertam do sono em que mergulharam nos últimos quase três anos.

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    Mas, temos um problema. Não só não despertaram, como agora odeiam. E o ódio é potente.

    E é grave porque a democracia está prestes a capitular em Portugal – se avançar a revisão constitucional ilegal proposta – e em muitos outros países, onde medidas fascistas se tornaram a norma desde 2020. Não é preciso mencionar o Canadá, a Nova Zelândia, a Austrália, Itália, França, Alemanha, Estados Unidos…

    Em todos estes países foram implementadas medidas que, não só foram erradas cientificamente e não ajudaram a combater eficazmente o vírus SARS-CoV-2, como ainda deixaram um rasto de danos gigantesco, em termos de saúde, humanos, sociais e económicos. E danos na democracia, liberdades, direitos e garantias.

    Como democrata, pouco me interessa a ‘esquerda’ ou a ‘direita’. O que conta, para mim, é o que se vê os governos e partidos a fazerem, na prática. Essa suposta diferença entre ‘esquerda e ‘direita’ não passa, para mim, hoje, de puro marketing. Publicidade. Como nas campanhas de propaganda para convencer a população de que o tabaco fazia bem à saúde.

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    Há anos que vejo medidas de partidos e governos de ‘esquerda’ mais próximos do fascismo. Nos anos recentes, sobretudo desde 2020, acentuou-se a ideia: o fascismo crescente instalou-se nos países ditos do Ocidente.  

    A nova moda de totalitarismo vem disfarçada, envolta em marketing, em campanhas de propaganda, como só se viu em regimes totalitários.

    O papel dos jornalistas na instalação de regimes totalitários, fascistas, é crucial. Também hoje, muitos alinham na moda fascista para manterem o ‘seu poder’ e financiamento. E porque alguns diretores e jornalistas são… “fascistas”. Sempre o foram. Outros defendem hoje a instalação de uma ditadura. E nem sabem, o que é trágico.

    Quem passou por redacções em Portugal, sabe que estão cheias de jornalistas de ‘esquerda’. Incluindo desta nova ‘esquerda’ – supostamente – que tem vindo a eliminar direitos civis e direitos humanos.

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    Que partidos com tiques fascistas queiram eliminar direitos civis e direitos humanos, e a liberdade de imprensa, compreende-se. Afinal, são assumidamente fascistas. Mas ver o mesmo acontecer a partidos ditos de ‘esquerda’ e de ‘centro’ e os seus apoiantes – incluindo jornalistas – é completamente atroz.

    É inacreditável que os direitos humanos e direitos civis na pandemia tenham sido sobretudo defendidos por partidos e políticos mais conservadores e de direita. Como é possível?

    Como se os pólos terrestres se tivessem invertido e o caos se tivesse instalado na Terra.

    Colocar em causa a manutenção e a defesa de direitos humanos e civis é ameaçar diretamente a democracia. Quem quer ficar refém e à mercê de propagandistas, de um regime baseado numa falsa ciência (como era também o de Hitler), num regime em que tudo (e todos) o que se quiser passa a ser uma ameaça ‘à segurança nacional’, a ‘estabilidade’, ‘o bem comum’. Basta que possa questionar o regime novo ou a falsa ciência. Basta que mostre evidências científicas que contrariam a ciência comercial em voga no Mundo Ocidental.

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    Torna-se curioso, do ponto de vista científico e comportamental, assistir a demonstrações fascistas de pessoas que, sem o saber que são, falam nas TVs, nas redes sociais, nas rádios. Escrevem nos jornais os seus artigos de opinião e até as suas notícias. Sim, os jornalistas “fascistas” escrevem as suas notícias enviesadas, pejadas de propaganda, só ouvem as fontes que promovem o novo regime fascista. Como na Alemanha nazi, no Portugal do Estado Novo, na América ‘anti-comunista’ Macarthista.

    O novo Macarthismo instalou-se. Agora, ‘os comunistas’ são os que defendem a liberdade e a democracia, a Ciência verdadeira, e que são vistos como ameaça aos novos “fascistas”.

    Dirão: ah, mas este fascismo é necessário por causa da… pandemia. Por causa da crise ambiental, da crise climática. Como é que alguém pode ser tão burro? Sim, burro. Não uso a palavra de modo leviano. É preciso muita burrice, muitas palas nos olhos para, em 2022, alguém racional se deixar levar por propaganda descarada. Como os alemães na Alemanha nazi. Só, de facto, o medo e ódio podem gerar tantas palas nos olhos de tantos.

    A Suécia foi o país que melhor geriu a pandemia. De longe! É só olhar para as estatísticas covid e não covid. Para a diferença entre as mortes excessivas nos países que aderiram ao fascismo do seculo XXI e a Suécia. A diferença é abissal!

    A Suécia não alinhou com os confinamentos e imposição de máscaras, em geral, tornando-se um caso de sucesso na gestão da pandemia de covid-19.

    Ainda assim, perante as evidências e os factos, a massiva propaganda paga por fundos públicos e privados – incluindo da indústria farmacêutica e todos os que lhe estão ligados, como colaboradores, acionistas ou “parceiros comerciais”, como os jornais – tem conseguido enganar boa parte da população. Aqui se incluem jornalistas e uma pseudo ‘elite’ que de pensante pouco tem, hoje em dia. Estão atulhados pelos medos, a sensação de insegurança. A baixa literacia científica que têm vindo a demonstrar é um dos calcanhares de Aquiles que os ajudou a tornarem-se vítimas do novo fascismo e a nova ideologia de totalitarismo.

    Custou ver jornalistas a atacar cidadãos e cientistas por mostrarem as evidências científicas sobre a inutilidade das máscaras num vírus como SARS-CoV-2, sobretudo a violência do seu uso em crianças. Custou ver, mas deu para se perceber que estavam cheios de medo. Emocionais. O tom dos seus ataques era transparente. O seu ódio.

    Por isso, quando políticos e propagandistas das farmacêuticas espalharam a fake news de haver uma ‘pandemia de não vacinados’, tantos jornalistas se prestaram a propagar a falsa notícia. A desinformação nesta pandemia foi atroz. Mas o que mais custou ver, e continua a custar ver, é a ignorância que jornalistas e políticos aceitam demonstrar publicamente.

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    A Ciência verdadeira foi atacada desde 2020 e substituída por políticas erráticas ou baseadas numa ‘ciência’ dogmática e comercial, vocacionada sobretudo para impulsionar a venda de produtos diversos.

    A Ciência só o é se for baseada na evidência. Estudos de farmacêuticas ou cientistas ligados à indústria, ou entidades financiadas por alguém ligado à indústria, não contam, naturalmente.

    Nesta altura, quando temos uma ameaça sobre a democracia, saúdo todos os socialistas e social-democratas que se estão a levantar em defesa da pureza da Constituição e em defesa dos direitos humanos e direitos civis. Que estão a opor-se a esta revisão ilegal e perigosa.

    Agora, também seria bom começar a ver jornalistas, directores de media mainstream, se levantarem a favor da democracia, dos direitos humanos, dos direitos civis. Da liberdade.

    Os jornalistas têm muitas responsabilidades. Só espero que, ao contrário do que a maioria fez desde 2020, desta vez as usem para o verdadeiro bem comum, a democracia, a liberdade e o progresso da Humanidade.

  • Pandemia: media mainstream tiveram ‘um papel central’ na perseguição de cientistas

    Pandemia: media mainstream tiveram ‘um papel central’ na perseguição de cientistas

    É um cenário de terror, aquele que é descrito por um estudo feito por cinco investigadores de universidades de Israel e da Austrália. Os investigadores entrevistaram cientistas e médicos de renome a nível mundial que contestaram as políticas seguidas na gestão da pandemia de covid-19 e apresentaram outras soluções. O que descobriram é perturbador: foram usadas tácticas de censura “extremas e sem precedentes” contra aqueles reputados cientistas e médicos. Além da supressão e censura das suas publicações e declarações públicas, outras tácticas foram usadas, como a difamação e perseguição de várias formas, incluindo pelos media mainstream, e a eliminação das suas contas em redes sociais. O estudo conclui que os grupos de comunicação social tiveram aliás um “papel central” na perseguição de ‘opositores’ às políticas que foram seguidas, com as tecnológicas, como Facebook, Google, Twitter e LinkedIn, a terem um papel especial. Conclui também que entidades públicas e farmacêuticas estiveram envolvidas na censura que foi levada a cabo. Mas, as tácticas extremas de censura usadas e a falta de transparência têm tido o efeito oposto do pretendido, levando a população a desconfiar das autoridades de saúde e das políticas seguidas.


    Tácticas de censura “extremas e sem precedentes” foram utilizadas para calar cientistas e médicos de topo a nível mundial que manifestaram posições discordantes das medidas políticas de gestão da pandemia da covid-19. Os media mainstream tiveram um papel central na perseguição das vozes ‘dissidentes’, a par das tecnológicas, como Facebook e Google, estando Governos e farmacêuticas envolvidos em actos de censura.

    Estas são algumas das conclusões de um estudo publicado na prestigiada revista científica Minerva uma publicação especializada em estudos sociológicos do grupo Springer por cinco investigadores de universidades de Israel e da Austrália. O estudo detalha como cientistas e médicos de topo a nível mundial foram visados por acções difamatórias, de censura e perseguição em larga escala.

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    Os investigadores Yaffa Shir-RazEty ElishaBrian MartinNatti Ronel e Josh Guetzkow, destacam no seu artigo intitulado Censorship and Suppression of Covid-19 Heterodoxy: Tactics and Counter-Tactics, que os métodos e tácticas usadas na pandemia foram anti-científicos e podem colocar em risco a vida de pessoas e a saúde pública, constituindo também uma ameaça à liberdade individual e liberdade de expressão. E avisam que a censura acabou por ter um efeito contrário, aumentando a desconfiança pública nas políticas seguidas.

    “Criar um falso consenso, censurando informação e impedindo debates científicos, pode levar os cientistas, e, portanto, também os decisores políticos, a afundarem-se no paradigma dominante, fazendo com que ignorem outras opções mais eficazes para lidar com a crise ou talvez até a impeçam”, alertam.

    Além da censura, que se tornou “a norma” na pandemia, os cientistas e médicos que apresentaram soluções alternativas às oficiais para gerir a pandemia foram alvo de técnicas de difamação e perseguição.

    A metodologia dos investigadores, para a prossecução desta análise, incluiu entrevistas a “13 médicos e cientistas bem estabelecidos [12 homens e 1 mulher], de diferentes países do mundo (nomeadamente, Austrália, Canadá, República Checa, Alemanha, Israel, Reino Unido e Estados Unidos]”.

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    Os media mainstream, a par das tecnológicas, executaram campanhas de perseguição a médicos e cientistas, incluindo classificando as suas pesquisas como “desinformação”, não os entrevistando, e eliminando as suas contas nas redes sociais.

    Destes médicos e cientistas, destacam os investigadores, “11 têm formação médica formal de diversas áreas [por exemplo, epidemiologia, radiologia, oncologia, cardiologia, pediatria, ginecologia, gestão das urgências] e dois são cientistas de investigação sem diplomas médicos [nas áreas da gestão de riscos e psicologia]”. Aqueles especialistas, frisam, “têm um mestrado ou doutoramento, e quatro têm ambos”, sendo que a maioria deles “é bem conhecida nas suas áreas, com um acervo de investigação comprovado que inclui muitas publicações académicas”.

    Os investigadores utilizaram “um método de amostragem propositado, ou seja, uma amostragem não probabilística, segundo a qual é feita uma seleção deliberada de indivíduos que nos podem ensinar sobre o fenómeno em estudo” e, “para preservar o anonimato dos inquiridos, são omitidos detalhes que podem levar à sua identificação”.

    À semelhança de situações anteriores em que houve censura e perseguição de cientistas e médicos, também na pandemia de covid-19 “os resultados de investigação indicam um envolvimento significativo dos meios de comunicação social e do establishment médico na censura e supressão de dissidentes”.

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    Mas salientam que houve “três grandes diferenças” que ocorreram na perseguição e censura de cientistas e médicos durante a pandemia de covid-19.

    Segundo o estudo, “em primeiro lugar, no que diz respeito ao conhecimento relacionado com a covid-19, as tácticas de censura utilizadas contra dissidentes foram extremas e sem precedentes na sua intensidade e extensividade, com revistas científicas e instituições académicas e médicas a participarem na censura de vozes críticas”.

    Por exemplo, um dos participantes do estudo referiu que “até páginas de publicação de estudos ainda não revistos por pares e sites de colaboração académica censuraram artigos e estudos científicos que não estavam alinhados com a narrativa mainstream“, acrescentando que se foi observando”, e isto parece ser “uma tendência crescente”.

    Os investigadores citam também um exemplo recente que ocorreu com um estudo que analisou um inquérito de mais de 300 mil pessoas em 175 países que decidiram não tomar as vacinas contra a covid-19. O estudo “foi removido da página ResearchGate.net nove dias depois de ter sido publicado, citando quebra dos seus termos e condições”.

    Mas o estudo publicado na Minerva apresenta mais preocupantes casos: “o que os nossos inquiridos descrevem vai muito além da censura, e inclui um vasto leque de métodos de supressão destinados a destruir a sua reputação e carreira, apenas porque se atreveram a tomar uma posição diferente da ditada pelo establishment médico”.

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    Os media mainstream também ajudaram a espalhar o medo pela população durante a pandemia,
    criando um clima de desespero e mesmo de pânico, em algumas situações.

    Em segundo lugar, outra diferença face a outras situações de censura, é que “embora estudos anteriores também tenham isolado casos em que investigadores e médicos com currículos impecáveis e até mesmo estatuto académico ou médico sénior foram censurados quando se atreveram a expressar opiniões divergentes, o estudo actual mostra que, no caso da covid-19, censurar médicos e investigadores de estatura tornou-se um fenómeno regular”.

    Os autores do estudo fazem ainda um alerta: “os participantes no nosso estudo, bem como os mencionados na introdução e muitos outros não incluídos na nossa amostra, não são cientistas à margem”. Isto porque, “a maioria são figuras de destaque: investigadores e médicos que antes da era covid-19 tinham um estatuto respeitável, com muitas publicações na literatura científica, algumas delas com livros e centenas de publicações, alguns a liderar departamentos académicos ou médicos, alguns deles editores de revistas médicas, e alguns tinham ganho prémios significativos”.

    A terceira diferença “proeminente”, destacada no artigo da Minerva, “é o papel significativo desempenhado pelas organizações de media durante a pandemia da covid-19, e especialmente as empresas de informação tecnológica, na censura de posições contrárias”. São estas organizações comunicação social e donas de redes sociais que “a nível prático”, detêm o poder, “têm maior capacidade e oportunidades para controlar o conhecimento e a divulgação de informação, e através disso, definir e controlar a agenda”.

    Os investigadores apontam que “documentos recentemente divulgados de processos judiciais indicam que pelo menos parte desta censura é orquestrada por funcionários do Governo”. “As nossas conclusões também apontam indirectamente para outras partes interessadas envolvidas no fenómeno da censura evidente na atual crise, especialmente as empresas farmacêuticas”, revelam.

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    Apesar deste estudo não se ter debruçado especificamente sobre o envolvimento de partes interessadas na censura, diversos relatórios, “tanto antes da era covid-19, como mais recentemente, (…) indicam o envolvimento extensivo de empresas farmacêuticas e de tecnologias de informação em silenciar informações e estudos que podem ser desfavoráveis para eles”.

    Para os investigadores, “dado o papel central destas empresas ao lado dos decisores políticos nas autoridades de saúde e nos governos a nível global, uma grande preocupação é que interesses substanciais, incluindo financeiros e políticos, bem como interesses relacionados com a reputação e a carreira, possam estar por detrás dos esforços de repressão”.

    E salientam ainda que “o interesse das empresas farmacêuticas em controlar o discurso em relação ao covid-19 é evidente”. Por exemplo, foram impostas “medidas altamente incomuns” para impedir que médicos pudessem utilizar medicamentos já existentes no mercado na fase inicial de infecção pelo SARS-CoV-2. Recorde-se que a utilização de medicamentos existentes inviabilizaria a aprovação para uso de emergência de outros fármacos, como é o caso das actuais vacinas.

    Citando um outro estudo publicado este ano, os investidores destacam que a proibição de um debate inicial poderá ter tido consequências económicas [luz verde para vacinas e novos fármacos sob autorização de uso de emergência], financeiras [lucros enormes para grandes empresas] e políticas [restrições globais de liberdades individuais]”.

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    Segundo este estudo, as tecnológicas “também têm fortes interesses em controlar o discurso sobre a pandemia covid-19” e os autores citam um caso exemplar: “em Junho de 2021, foi revelado que a Google, que foi acusada de silenciar a teoria que o vírus SARS-CoV-2 teve origem no Instituto Wuhan de Virologia, financiou, durante mais de uma década, pesquisas de vírus levadas a cabo por um cientista ligado a Wuhan, Peter Daszak, através do seu ‘braço’ de caridade, Google.org”. Além disso, a Google também “investiu um milhão de dólares numa empresa que usa epidemiologistas e análises de big data para prever e rastrear surtos de doenças”, referem os autores.

    Por outro lado, também o British Medical Journal revelou que o processo de fact-checking do Facebook e do YouTube [da Google] assenta em parcerias com verificadores de factos de terceiros, reunidas sob a égide da International Fact-Checking Network. Acontece que “esta organização é gerida pelo Poynter Institute for Media Studies, uma escola de jornalismo sem fins lucrativos cujos principais apoiantes financeiros incluem a Google e o Facebook”. Saliente-se que todos os fact-checkers portugueses, com destaque para o Polígrafo, mas também as rubricas do Público e do Observador, estão associados ao Poynter Institute.

    Quanto aos interesses pessoais dos decisores políticos, o estudo revela que “um grupo de observadores do Governo dos Estados Unidos tem vindo a exigir dados-chave sobre a história financeira e profissional do Dr. Anthony Fauci”, alegando que “durante a pandemia, o Dr. Fauci tem beneficiado generosamente do seu emprego federal, royalties, regalias de viagem e ganhos de investimento”.

    Mas a informação sobre qual foi o seu salário durante os últimos dois anos nunca se tornou pública, tal como as acções e títulos que comprou e vendeu em 2020 e 2021 no mercado financeiro, apesar de Fauci ter influenciado as políticas da covid-19. Também não se sabe o que recebeu — ou não recebeu — em royalties.

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    Aquilo que se sabe, na sequência de um pedido de acesso a informação [FOIA], nos Estados Unidos, é que “Fauci foi instruído por Francis Collins, então chefe do NIH (National Institutes of Health), para desacreditar a Great Barrington Declaration e desvalorizar os seus autores”.

    Mas o artigo da Minerva cita ainda outros casos de conflitos de interesses, incluindo de médicos que assumiram publicamente posições em linha com a narrativa. Em Portugal, um dos casos mais gravosos é o de Filipe Froes, que ganhou largas somas de farmacêuticas, e continua frequentemente a ser citado e destacado pelos media mainstream, nunca sendo referida a sua posição como consultor de empresas farmacêuticas, mas ao invés é destacado o seu papel como consultor da Direcção-Geral da Saúde.

    Os investigadores israelitas e australianos revelam também que, com este estudo, pretenderam “sensibilizar para o uso crescente de práticas de censura e tácticas agressivas de supressão, visando até figuras de relevo que se atrevem a criticar ou duvidar do ‘consenso’ que é imposto”. E avisam: “a censura e as práticas de silenciamento podem ter consequências de grande alcance, manifestadas na violação da liberdade de expressão e dos princípios éticos, prejudicando a ciência e potencialmente arriscando a saúde e segurança públicas”.

    Os investigadores recomendam, por fim, que sejam realizados mais estudos sobre as implicações da censura e tácticas de perseguição de cientistas e médicos durante a pandemia, concluindo que “a censura e o dogma não fazem parte da verdadeira Ciência e têm de ser abandonados e substituídos por um debate justo e aberto”.