Autor: Elisabete Tavares

  • “Ilha da pedofilia” de Epstein foi vendida, mas o mistério sobre a sua alegada rede de “amigos” permanece

    “Ilha da pedofilia” de Epstein foi vendida, mas o mistério sobre a sua alegada rede de “amigos” permanece


    Hoje, no 122º episódio de Caramba, ó Galamba, a jornalista Elisabete Tavares comenta o mistério em torno da alegada rede de tráfico sexual de adolescentes liderada pelo falecido magnata Jeffrey Epstein. A sua ilha nas Caraíbas, que integra várias casas e um templo, e onde recebia frequentemente celebridades, políticos e milionários, foi vendida. Era conhecida pelos locais como “Ilha da pedofilia” ou “Ilha das orgias”. Mas o mistério sobre o que lá se passou e sobre quem participou permanece. Teorias falam em orgias, pedofilia e até em rituais. Mas também há suspeitas de que poderia envolver uma rede de chantagem de poderosos. Os famosos e celebridades que visitavam a ilha frequentemente não se livram da nuvem de suspeitas, mesmo que não tenham feito parte da alegada rede. Alguma vez se vai saber a verdade?

    Acesso: LIVRE

    Subscreva o P1 PODCAST para garantir a ampliação do trabalho do PÁGINA UM.


  • ‘O comportamento da imprensa durante a pandemia é uma tragédia’

    ‘O comportamento da imprensa durante a pandemia é uma tragédia’

    Cientista de corpo e alma, Michael Levitt dá a sua visão sobre a influência da política na Ciência. E não duvida que hoje “tudo se resume a política. Nesta segunda parte de uma entrevista exclusiva ao PÁGINA UM, Levitt critica a gestão política e comunicacional da pandemia, lamentando que o resultado seja a “inflação e recessão e uma situação económica má, que vai afetar toda a gente”. Sobre o papel do jornalismo, defende que é sempre crucial, mas critica fortemente a actuação dos media mainstream durante a pandemia. Laureado com o Prémio Nobel da Química em 2013, o reputado bioquímico e biofísico fala ainda sobre as redes sociais e dois problemas que o preocupam: o envelhecimento da população mundial (mas sobretudo o poder dos idosos sobre os jovens) e as alterações climáticas. Esta é a segunda parte de uma entrevista a não perder. Veja a primeira parte aqui.


    Participou, na semana passada, no Congresso Internacional sobre a Gestão de Pandemias, mas por Zoom. Mas já conhece Portugal?

    Conheço um pouco, não muito bem. Conheço Lisboa e o Porto. Conheço o Algarve, razoavelmente bem, porque os meus filhos vivem em Lagos. É um país belíssimo. Gosto muito, muito das pessoas.

    Os seus filhos gostam de viver em Portugal?

    Gostam muito. Vieram de Israel. Tenho dois filhos e cinco netos em Portugal. Tenho uma ligação muito forte com o vosso país.

    Voltando ao tema das alterações climáticas, é algo que o preocupa?

    Sobre as alterações climáticas, há um livro que li de uma autora norte-americana, Naomi Oreskes, chamado The collapse of western civilization [O colapso da civilização ocidental, escrito em parceria com Erik Conway]. Ela escreveu este livro no género ficção: a história é escrita daqui a 300 anos por um historiador chinês. Ele questiona como é que as civilizações ocidentais colapsaram por causa do aquecimento global. A China ficou bem. É ficção. É provocador. Mas tem muito de censura e de não se debater… Também uma incapacidade para agir.

    Faz lembrar algo, não?

    Uma coisa que a China demonstrou durante a pandemia é que consegue tomar decisões difíceis muito facilmente. Nem pensar que se consegueria fechar Nova Iorque como a China conseguiu fechar cidades enormes. Conseguiu fechar Xangai. Não penso que fosse o melhor a fazer-se em nenhum dos locais. Mas imaginemos que subia o nível do mar a ponto de se ter de mover Xangai para um terreno mais elevado, e o mesmo em Nova Iorque. Em Nova Iorque iriam discutir politicamente e chegaria a calamidade. É um livro interessante. Mas depois fiquei desapontado com a autora, porque comuniquei com ela no Twitter, e também em privado, e vi que estava muito assustada com a covid-19. Não via que o seu livro fosse uma previsão do que aconteceu com a covid-19. Penso que tudo se resume a política. Tudo o que Trump tivesse dito, teria de estar errado. Não está certo.

    Michael Levitt com o seu filho David.

    Agora, há a questão do dinheiro que está envolvido na covid-19. Tornou-se num grande negócio, talvez um dos maiores de sempre.

    Mas o dinheiro já se foi, já se gastou. E agora temos a inflação e a recessão, e uma situação económica má, que vai afetar toda a gente. Nos Estados Unidos é interessante analisar, porque o governo mudou a meio da pandemia. Podia discutir-se que muito do dinheiro foi gasto pela Administração Trump. Tenho ligações com os dois lados da política norte-americana e não quero dizer nada. Não quero fazer política. Penso que a política é muito difícil. Penso que é muito mais difícil ser um bom político do que ser um bom cientista. As pessoas veem os políticos pelo que eles são e julgam-nos nas eleições. Vamos ver.

    E também vêem os jornalistas. Participou no Congresso Internacional sobre Gestão de Pandemias, em Fátima, e não houve cobertura do evento por parte de nenhum dos órgãos de comunicação mainstream. O que pensa disto?

    Aquilo que se passa com os media é uma tragédia. O comportamento da imprensa durante a pandemia é uma tragédia. Dei entrevistas à CNN, e depois à Fox. Não me importo de o ter feito. Mas assim que dei uma entrevista à Fox, já mais ninguém me quer entrevistar. Uma tolice. Não fazia sentido nenhum. O que acredito é que os jornais se tornaram muito radicais devido à concorrência dos media online. E os conteúdos online não são melhores. Gosto do Twitter, mas o Twitter mudou muito nas últimas semanas, não sei o que lhe vai acontecer. Penso que algo tem de acontecer.

    Na China, os media são censurados de forma assumida.

    Tenho uma visão global do Mundo. Nasci em África do Sul, vivi em Inglaterra durante muito tempo, vivi em Israel por muito tempo, nos Estados Unidos por muito tempo. Os últimos cinco anos, tenho vivido na China, devido à minha mulher. E questiono-me. Na China, os media são muito censurados, mas as pessoas comunicam, não é como se não comunicassem. Pode desaparecer (o conteúdo), mas ainda assim é dito. Na China as pessoas usam sobretudo o WeChat, que é como o Whatsapp. As pessoas escrevem-me em chinês e leio em inglês. Posso fazer compras com o WeChat. Nunca ando com dinheiro, nem com cartões de crédito. Nunca ando com carteira. Talvez seja porque não há concorrência, não sei. Tal como o WeChat tem o meu código de covid-19. De vez em quando, lá temos de fazer testes. (Tenho pena da coitada da senhora que tem de enfiar o cotonete na boca das pessoas mil vezes por dia.) Mas agora o grande sucesso nos media é o Tik Tok.

    Os media legacy têm afora muita concorrência, em termos de conteúdos e distrações online.

    Penso que ainda estamos à procura da forma certa de termos jornais. Eu ainda subscrevo três jornais: o New York Times, o Guardian, e o South China Morning Post, de Hong Kong, que tem visões muito abertas sobre a situação política na China. O Guardian é apenas uma cópia do New York Times – é aborrecido, tenho de parar de o subscrever. Também subscrevo, no iPhone, o Flipboard, que todos os dias me mostra notícias diversas, de esquerda e de direita, do ponto de vista político. Gosto disso, porque vejo as notícias diversificadas e decido o que gosto e o que não gosto.

    Sente falta de diversidade e de um jornalismo que não seja todo igual e monotemático. É isso?

    O jornalismo é incrivelmente importante. Há pessoas que escrevem no Substack, mas acho enfadonho. Pode discutir-se se jornalismo independente é algo bom de se fazer. Em mundo da Ciência, costumava ser muito importante estar integrado numa grande entidade – Stanford, Cambridge, publicar na Nature –; agora, é menos relevante, mas ainda é importante. Na imprensa, não sei como será no futuro. Vai mudar, mas não sei como vai ser o modelo seguinte.

    E há as redes sociais…

    Sobre o Facebook, acho que não é bom para o Mundo. Gosto do Google, mas acho que vão tentar impingir as suas coisas. Gosto do Twitter, mas preocupa-me o que lhe vai acontecer. Penso que a diversidade é muito importante. Ouvir as pessoas únicas, que pensam, que têm senso comum. E há muitas pessoas como essas. O problema é… Por exemplo, um jornal que me desapontou foi o The Economist. A sua cobertura da covid-19 foi extremamente desmazelada. Tinham modelos que exageravam as mortes em excesso.

    Michael Levitt mostra a sua Medalha do Nobel, em 2013.

    As redes sociais mudaram a forma de usar a Internet. Como vê isso?

    Penso que a maior mudança foi o facto de duas pessoas quaisquer poderem contactar uma com a outra, praticamente a partir de qualquer parte do Mundo, e falar gratuitamente. E isso é algo muito positivo. Nunca tivemos antes. Há 10 anos, teria custado talvez 1 euro por segundo fazermos esta entrevista por videochamada. Hoje, clicamos no Whatsapp ou outra tecnologia, e conversamos.  

    Sobre o futuro, o que é que mais o preocupa?

    Preocupa-me o poder das pessoas mais velhas. O número de idosos no Mundo nunca foi tão elevado. Preocupa-me que tenham demasiado poder. O número de pessoas com mais de 65 anos é muito maior do que o número de pessoas com menos de 30. Das pessoas com menos de 30, só as pessoas com mais de 18 podem votar. Preocupa-me. O futuro do Mundo depende apenas das pessoas mais jovens.


    Veja a primeira parte desta entrevista aqui.

  • Uma nova onda de ideologia totalitária chegou há muito, mas só agora os “revoltados” com a lei do tabaco perceberam

    Uma nova onda de ideologia totalitária chegou há muito, mas só agora os “revoltados” com a lei do tabaco perceberam


    Hoje, no 123º episódio de Caramba, ó Galamba, a jornalista Elisabete Tavares comenta a “revolta” que está a causar a “nova” lei do tabaco, que inclui diversas proibições. Se estes novos “revoltados” acham que a nova lei é sinal de tempos de ditadura é porque têm estado distraídos. Muitas leis e regulamentação aprovadas em diversos países e também na União Europeia provam que uma nova onda de ideologia totalitária e de tirania está aqui. A censura instalada e o fim da liberdade de imprensa bem como a eliminação de direitos e liberdades civis, são apenas alguns exemplos. E, se nada fizermos, esta nova onda totalitária, fascista, está aqui para ficar e só vai piorar.

    Acesso: LIVRE

    Subscreva o P1 PODCAST para garantir a ampliação do trabalho do PÁGINA UM.


  • ‘As pessoas têm sido assustadas para se tornarem estúpidas’

    ‘As pessoas têm sido assustadas para se tornarem estúpidas’

    Aos 75 anos, Michael Levitt mostra uma energia e entusiasmo contagiantes. Laureado com o Prémio Nobel da Química em 2013, o biofísico com quatro nacionalidades (britânica, israelita, sul-africana e norte-americana) tem sido um dos cientistas de topo a analisar os dados da pandemia com a sua equipa da Universidade de Stanford, apesar de residir agora na China. As conclusões dos seus cálculos e pesquisas, que contrariaram a narrativa oficial, levaram a que chegasse a ser “desconvidado” de eventos científicos. Em entrevista exclusiva ao PÁGINA UM, Michael Levitt lança críticas à ligação da Ciência à política e ao dinheiro. Lamentando os gastos excessivos em vacinas e, sobretudo em testes PCR, defende que essas verbas poderiam ter sido aplicadas no desenvolvimento de energias renováveis para ajudar o Mundo a lidar com a crise climática. A viver atualmente com a mulher em Xangai, Levitt falou ainda da sua forte amizade recente com o conceituado epidemiologista John Ioannidis, uma das “coisas boas” que ganhou desde 2020. E fala ainda da sua forte ligação a Portugal, um “país belíssimo”, ainda mais porque tem dois filhos e cinco netos a viverem em Lagos, no Algarve. Esta é a primeira parte de uma entrevista a não perder.


    Passaram dois anos desde que começou a estudar os dados da pandemia e a assumir posições contrárias às da “narrativa oficial”. Quais foram as consequências para si, para o seu trabalho, para a sua vida, tomar uma via fora do “consenso”?

    É mais do que dois anos. Estou envolvido com a covid-19 desde Janeiro de 2020. São mais do que 1.000 dias, está próximo de três anos. A boa consequência é que comecei a interessar-me muito pela Epidemiologia. O meu campo natural era o da biologia computacional, em moléculas, em sequências, a uma escala microscópica. Tem sido interessante aplicar agora isto a uma escala diferente. Esse foi um aspecto muito positivo. Provavelmente, trabalhei nestes anos mais do que em alguma outra altura da minha vida. É muito interessante fazer o que chamo de “Ciência em tempo real”. Normalmente, em Ciência, faz-se um cálculo, espera-se três meses, verifica-se. Mas para a covid-19 havia uma pressão real do tempo. Mas aquilo que mais me surpreendeu foi a atitude muito difundida de não se querer ouvir ideias diferentes. A Ciência é discordar; os cientistas discordam.

    Houve atitudes dogmáticas…

    Todas as novas descobertas são rejeitadas, inicialmente. Isto é natural, e eu tenho consciência disso; é basicamente assim que a Ciência funciona. E fiquei muito surpreendido quando, a partir de meados de Março de 2020 – estava a trabalhar no tema há quase três meses –, comecei a comunicar com cientistas ocidentais, e muitos não queriam saber. Achavam que eu estava errado ao fazer isto, e que não o devia fazer, não queriam saber dos dados. Basicamente, disseram-me: “não és um epidemiologista, não tornes a nossa vida perigosa”. Penso que havia muito medo. Sinto que essas pessoas estavam muito, muito assustadas.

    Havia muito medo.

    Fosse pelos media ou por epidemiologistas, eles sentiam que estavam assustados e tinham medo que, se eu dissesse às pessoas que deviam pensar mais cuidadosamente… eles pensavam que era pior do que a gripe de 1918. Mas eu compreendi muito cedo, no início, que as pessoas ricas e inteligentes não são prejudicadas. Os pobres, infelizmente, esses têm sido prejudicados, e isso perturbou-me, porque há uma injustiça aqui.    

    Estava sobretudo preocupado, então.

    Estava muito preocupado. Historicamente, primeiro olhei para a China, e inicialmente comuniquei com colegas chineses, e os resultados colocavam os modelos muito, muito bem. Depois houve o modelo do cruzeiro Diamond Princess – que foi como uma experiência com pessoas –, e em seguida vimos que a mortalidade era menos de 0,5% para as pessoas idosas. Tem de se compreender que as pessoas idosas têm sempre mortalidade elevada. Antes da pandemia, na maioria dos países ocidentais, menos de 1% da população morre num ano normal. Se a população for 10 milhões, há cerca de 70 mil mortes em situação normal, mas depende do país. Se tem uma população muito jovem tem cerca de 50 mil mortes; se tem uma população muito idosa tem 100 mil mortes [como era o caso de Portugal antes da pandemia]. Eu defendi que, com a pandemia, as mortes por covid-19 seriam o equivalente a cerca de um mês extra de óbitos. Seria algo como talvez 6.000 mortes extra, ou seja, 8% a mais. E isso acabou por ser verdade em grande parte dos país. Publiquei essas previsões na Medium [uma rede social de debate] em 22 de Março de 2020. Eu não estava a inventar os números! Precisavam ser discutidos. E não foram. Foi a coisa mais triste para mim.

    Ficou desapontado?

    Eu sempre vi a Ciência como algo muito puro. Não sou uma pessoa religiosa, não acredito numa religião em particular. Acredito na maravilha da Natureza; acredito que os seres humanos são a coisa mais fantástica, eu gosto de todas as pessoas. Mas, de repente, a Ciência não importava, e a Ciência é sobre a verdade. A Ciência é, realmente, sobre a verdade, a beleza. A verdade e a beleza: é a Ciência. Se a taxa de mortalidade é de 0,5%, não importa quanto se grite, nunca será de 5%. Não será 50%. E temos de saber qual é a resposta. Outras pessoas chegaram às mesmas conclusões que eu cheguei. A minha resposta foi baseada numa parcela de população muito pequena, 700 pessoas.

    Passou a estar mais em contacto com outros cientistas?

    Uma outra coisa boa que aconteceu foi que eu fiquei mais exposto à comunidade [científica]. Há um cientista em Stanford muito famoso, um epidemiologista, o John Ioannidis. Há agora um documentário maravilhoso sobre ele. Ele é meu amigo agora. Eu não o conhecia antes da covid-19. Ele foi uma coisa boa e importante durante esta pandemia, para mim. Publicámos já artigos científicos juntos. Penso que há pessoas que sabiam que a narrativa estava errada. O problema é que o mal já foi feito; o mal foi feito para pessoas que não estavam bem e para os mais novos. Os mais jovens sofreram imenso. Artistas sofreram; tudo foi fechado. Teatros…

    E era necessário fechar?

    Não era preciso fechar. Em muitos, em muitos países o número de óbitos devido à covid-19 foi similar à de uma gripe má. Talvez similar à gripe A, de 2009 e 2010. Penso que a gripe de 1957 foi muito pior, mas não há bons dados. Precisamos de ter bons dados.

    Michael Levitt com a sua equipa da Universidade de Stanford.

    Mas houve países onde o impacte foi grande…

    Os Estados Unidos são uma excepção. Nos Estados Unidos tem havido algo estranho, porque na maioria dos países europeus a esperança de vida tem aumentado. Nos Estados Unidos, atingiu-se um máximo em 2005 e, a partir daí, está em queda. E isso é estranho. E, nos Estados Unidos, as pessoas que estão a morrer de covid-19 também são jovens, não especialmente os mais idosos. Os Estados Unidos são um caso invulgar e não sabemos ainda porquê.

    Disse que lhe aconteceram-lhe coisas boas durante a pandemia, mas também foi “cancelado”.

    Sou muito resiliente. Um bom cientista está habituado a que discordem da sua opinião. Algumas das coisas que foram escritas não foram simpáticas. Mas, surpreendentemente, não fui afectado. Por exemplo, o John Ioannidis não queria ir, não queria escrever para o Twitter. Eu achei o Twitter muito estimulante. Fiz três ou quatro amigos, não apenas amigos, mas colegas com quem vou trabalhar. A minha personalidade é sempre retirar coisas boas de qualquer situação.

    Mas houve situações difíceis?

    Houve coisas más, e deixaram-me triste, porque foram o reflexo de uma mentalidade estreita e de uma mente fechada. Isso preocupa-me: não é assim que os cientistas devem ser. Nos Estados Unidos, e não só, também em Israel, o problema ficou muito politizado. Se Donald Trump tivesse dito: “temos de fechar tudo e todos”, então os democratas – a maioria dos académicos – teriam dito: “não, não, não, temos de analisar e não fazer confinamentos”. Porque a posição inicial de Trump foi de que “isto não é uma doença muito perigosa”. E eles tomaram a posição contrária. A Ciência não se mistura com a política. E penso que isto é um problema, porque a Epidemiologia é uma Ciência que se mistura com a política.

    Antes, era diferente?

    A Epidemiologia não teve tanta atenção no passado. Os modelos epidemiológicos são muito antigos. Alguns dos números que são calculados não são muito úteis. Toda a gente no Mundo ficou a falar no número de reprodução epidemiológico [Rt]. E esse número é apenas aplicável a crescimento exponencial. Se tem outro tipo de crescimento, o número não faz sentido. Os números de crescimento epidemiológicos são como as taxas de juro dos bancos. Se o dinheiro está a crescer exponencialmente, então vai querer saber se a taxa de juro vai crescer 1% ou 5%. Mas se o dinheiro está a seguir outro caminho, não faz sentido. Parcialmente, o problema é que os epidemiologistas, no passado, queriam assustar as pessoas, de uma boa forma. Queriam que as pessoas ficassem tão assustadas que se iriam portar bem. Não esperavam que o Mundo fosse para um lockdown [confinamento]. Ameaçaram sobre o Ébola, ameaçaram sobre o H1N1. Há um longo histórico de ameaças de epidemiologistas. Penso que se habituaram a fazer ameaças muito sérias, embora as pessoas não as levassem tão a sério.

    Agora, foi diferente.

    Desta vez, talvez. Por razões estranhas. Às vezes penso que, se o primeiro grande surto na Europa não tivesse sido na Lombardia, em Itália, e sim em Estocolmo [na Suécia], as coisas teriam sido melhores. A Itália tem população muito idosa naquela região, que é muito social. Muitas das pessoas mais velhas naquela região morrem todos os anos de gripe; talvez umas 25 mil. Não se vacinam, e vivem uma vida boa.

    Esse surto exacerbou a resposta política à covid-19?

    Uma das grandes lições a retirar é que as pessoas morrem. E morrem naturalmente. Morrer faz parte da vida. Penso que, algures na pandemia, surgiu a crença de que não temos mais de morrer. Mas isso não é verdade. As pessoas morrem, e é assim que a vida é.

    Quais as lições a retirar desta pandemia?

    Precisamos de aprender. Precisamos de aprender que o debate é importante.

    Está preocupado com aquilo em que a Ciência se tornou desde 2020?

    Sim, estou muito preocupado. Espero que seja temporário. Espero que os cientistas olhem para isto com muita atenção. O problema é que está agora tão ligada à política. Especialmente, nos Estados Unidos. A Ciência está ligada à política e ao dinheiro. Infelizmente, as pessoas que recomendaram certas coisas… Foi gasto muito dinheiro em vacinas, mas mais dinheiro foi gasto em testes PCR. Pode argumentar que talvez estejam a mudar a forma como estamos na Ciência. Talvez sejam úteis, mas o teste PCR não tem valor económico. Apenas diz quantas pessoas têm a doença. Se fizéssemos testes PCR todos os anos para a influenza [vírus da gripe] também seria um desperdício. São centenas de milhares de milhões de dólares, talvez mesmo biliões de dólares, que foram gastos em testes PCR. A pessoa que inventou o teste PCR tem um interesse. As empresas que fazem os testes PCR têm um interesse. Estas coisas têm de ser todas debatidas. Ainda espero que haja um ajuste de contas.

    Aguarda que o mundo caia em si e então perceba o que aconteceu?

    Penso que, em parte, as mudanças políticas a que temos assistido, no Reino Unido, agora no Brasil, talvez nos Estados Unidos, mostrem que o público não está contente com as respostas dos Governos à pandemia.

    Considera que a Ciência agora é uma fast science? Hoje, um estudo, um artigo científico leva menos tempo a ser publicado comparando com o passado? Parece-me que muitos foram rapidamente publicados e usados imediatamente por políticos e autoridades para anunciarem medidas…

    O problema é que… Bom, no meu caso, eu quero publicar os meus resultados e conclusões e tem sido muito difícil, ninguém os aceita. Mesmo em publicações onde eu costumava publicar com facilidade. Aquilo que acontece é que os artigos que se encaixam na narrativa são publicados mais facilmente.

    A Ciência é compatível com uma narrativa?

    Há uma narrativa. Preocupa-me que a Ciência não deve ter uma narrativa, porque isso implica que se sabe antes de tempo o que se quer. E tem de se ser muito seguro de si para consolidar uma narrativa. A narrativa forma-se, excluindo tudo o resto. Penso que a Ciência, por definição, não deve ser conduzida por uma narrativa.

    Mas é precisamente o que sucedeu com esta pandemia…

    Por exemplo, as revistas científicas que publicam pesquisa sobre covid-19 ficaram, de repente, muito populares. E depois querem que aqueles autores publiquem ainda mais, mesmo se a pesquisa estiver errada. E isto é muito mau. Talvez estas revistas se arrependam no futuro. Mas entretanto terão a receita da publicação e da publicidade. Se se concluir que a vacina contra a covid-19 tem efeitos adversos, então serão possivelmente processados, tal como os produtores de tabaco foram processados.  Mas continuarão com o dinheiro que já lucraram. Basicamente, no futuro, penso que teremos de ser muito mais inteligentes. As pessoas têm sido assustadas para se tornarem estúpidas.

    E estamos em 2022!

    Desde o início que se perdeu o senso comum. Estou impressionado com Portugal, porque os meus netos estavam em Lagos, mas as escolas estiveram fechadas na altura do Natal de 2020. Em alguns casos, Portugal teve uma atitude mais leve em relação a estas coisas. Na Áustria foi o oposto. As coisas eram muito restritas. Agora, todos desistiram. A China é a grande diferença, mas ali há razões políticas que não compreendo e não se justifica. Curiosamente, todas as pessoas com quem falo, sabem. Todos sabem o que se está a passar. Por isso, não sei o que vai acontecer.

    Publicou recentemente um artigo com o John Ioannidis sobre mortalidade excessiva num vasto conjunto de países de renda elevada. O que pensa que está a acontecer?

    Para se ver a mortalidade em excesso é medir… Se um hospital disser que uma pessoa morreu com covid-19, não sabemos se a morte se deveu 50% à covid-19, se tinha problemas cardíacos, se era idoso. Não sabemos. Imagine que todos os que morreram com covid-19 teriam morrido dois meses mais tarde automaticamente, de forma natural. Quando medisse a mortalidade, no final do ano, teria números normais. Imagine que morriam em Julho, e Julho teve muitas mortes em excesso, mas depois, em Agosto, havia menos mortes. Só se morre uma vez. Quando se morre com covid-19 não se pode morrer devido à idade. Depende de quem está a morrer. A mortalidade excessiva diz: não queremos saber do que se morre, não queremos saber se é de um acidente automóvel ou com covid-19 ou idade avançada; mas olhamos para as mortes de anos anteriores e, com isso, esperamos uma certa quantidade de óbitos. Porque há sempre mortes.

    Pode estimar-se quantas pessoas vão morrer no ano…

    Sim. Se os números forem superiores aos esperados, então deve haver uma razão. Pode-se medir para o ano inteiro. Também se pode medir para cada semana. Por exemplo, em Nova Iorque, na pior semana da covid-19, as mortes em excesso, mortes reais, não as reportadas, foi sete vezes superior ao esperado. Foi uma quantidade enorme. Quer dizer que, por cada pessoa que se esperava que morresse, morreram mais sete, extra. Depois disso, houve menos mortes. Se analisarmos o Estado de Nova Iorque, para todo o período da pandemia, é muito similar à Califórnia, à Flórida e a outros Estados. Os Estados Unidos têm um elevado excesso de mortalidade . Há excesso de mortalidade na Europa, mas é mais como o excesso de mortalidade por gripe em 2009-2010. Há coisas que não entendemos. Mas temos agora um outro artigo, que estamos a tentar publicar, mas está a ser difícil. Enviámos a outras publicações, e eles não gostaram.

    E é sobre o quê, em concreto?

    Mostramos uma forma de calcular as mortes em excesso. Geralmente, dizemos que a mortalidade esperada seria a média de 2017, 2018 e 2019. Isso dir-nos-ia o nível de morte que devíamos esperar. Talvez devêssemos ter escolhido anos diferentes. Assim, pegámos nos países com dados de mortalidade entre 2009 e 2021. E deixámos que o ano com excesso de mortalidade, em comparação, fosse qualquer ano. Só um ano, ou três anos ou cinco anos. Usámos 66 excessos de mortalidade diferentes. E olhámos para todos e encontramos resultados semelhantes. Mas também se vê o excesso de mortalidade que existe em cada ano, não apenas no ano de covid-19. Sabemos quantas mortes em excesso há em 2010, 2011; pode fazer-se comparações. E o que se vê é que, nos países desenvolvidos, na Europa e na América do Norte, o único país onde há excesso de mortalidade, que é pior em qualquer altura dos últimos 10 anos, é os Estados Unidos.

    Voltemos ao estado da Ciência. Quando espera que algo mude? Quando é que um cientista com um Prémio Nobel poderá publicar sem dificuldade?

    Em geral, em Ciência, uma coisa nova e boa não é aceite. Mesmo antes do Prémio Nobel, sempre que eu tinha algo que era novo, era rejeitado. Tem de se lutar. O John Ioannidis publicou, penso, 60 artigos durante a pandemia, mas lutou tanto… Ele é uma pessoa muito especial. Muito inteligente. E não se zanga. Fica chateado. Eu fico zangado, mas não fico chateado. Ele tem muita paciência. Para mim, é realmente um prazer trabalhar com ele. Ele lutou muito… Ele teve artigos durante nove meses a aguardar publicação numa revista científica, e acabou rejeitado. Ele é alguém que foi muito crítico, mesmo antes da pandemia. É alguém que olha para um artigo, e diz: “este artigo não devia ser publicado”. As pessoas estão zangadas com ele. Ele está certo. Felizmente, ele é muito cuidadoso… Enfim, não sei o que acontecerá na Ciência.

    Faculdade de Medicina da Universidade de Stanford.

    Não vê então como será a evolução da Ciência, no futuro?

    Se olharmos para o futuro, por exemplo, para as alterações climáticas – e não me interessa se o aquecimento global é causado pelo Homem ou por explosões solares –, não há dúvidas de que temos um tempo estranho como secas, incêndios, ventos muito fortes, etc.; é uma crise, tal como a covid-19 foi uma crise. Então, aquilo que precisamos aprender é o que temos mesmo de aprender com uma crise. Uma crise, por definição, é inesperada. Mas, durante esta crise da pandemia , as nossas acções causaram mais danos – agora podemos dizer isso com certeza – do que se não tivéssemos feito nada. E isso é muito assustador, porque a quantidade de dinheiro que foi gasto no Mundo para cobrir vacinas, testes PCR, perda de salários e de produtividade, seria o suficiente para fazer uma enorme aposta na energia renovável. Podíamos ter tido um efeito enorme. E não o fizemos.

    Teme que a gestão da crise climática possa ser tão mal gerida como a covid-19, com medidas políticas e económicas erradas?

    Espero que não.

    E com censura?

    Espero também que não. Infelizmente, há dois campos: os que acreditam que tudo é uma fraude; e outros que acreditam que é o fim do Mundo. E eu gostava que estivessem a falar uns com os outros, em vez de dizerem: “nós somos os anjos e vocês são os demónios”. Isto é de loucos. Eu gosto mesmo de debater com pessoas que discordam de mim, porque é mais interessante. Falar com pessoas que concordam conosco… Gostar de falar com respeito e, se se zangar, sair da sala. Mas tentar compreender qual é a atitude do outro. Não convencê-lo daquilo que se está a defender, mas tentar entender o que eles estão a dizer. E, se conseguir entender o que o outro está a dizer, pode ajudar a explicar o que está a dizer de uma forma melhor. Não penso que haja um lado mau e outro bom. É uma mistura.


    Veja a segunda parte desta entrevista aqui.

  • ‘Os psicólogos que instigavam o medo são os mesmos que estão agora a reabilitar crianças e adolescentes’

    ‘Os psicólogos que instigavam o medo são os mesmos que estão agora a reabilitar crianças e adolescentes’

    Nesta segunda parte de uma grande entrevista de Joana Amaral Dias ao PÁGINA UM, a psicóloga fala sobre a sua última obra a chegar às livrarias, Psicopatas Portugueses – Segundo Livro, e revela um novo projecto que vai lançar em breve. Explica ainda como vivemos atualmente numa cultura psicopática, a qual nasceu a partir da cultura maníaca observada nos tempos áureos de Wall Street e que culminou na crise financeira de 2008. Defende que essa cultura psicopática é evidente em muitas das políticas de gestão da pandemia de covid-19 e que muitos dos males provocados à população foram propositados. Admite ainda que gostaria de ver ser feita justiça em relação às crianças e jovens que foram alvos de abusos e penalizados, incluindo na sua saúde mental, devido às medidas desproporcionais aplicadas na pandemia. E sublinha que nunca vai parar de lutar para que essa justiça seja feita, apesar dos desafios.


    Na tua actividade clínica, e em entrevistas, tens falado nos jovens e no impacto que estes anos têm tido nos jovens. Notas algumas melhorias, ou achas que, de facto, ainda se está numa pandemia de problemas de saúde mental, sobretudo nesta camada mais jovem?

    Estamos agora a ver as consequências, porque nestes dois anos e meio houve uma aniquilação das estruturas fundamentais para o desenvolvimento da infância e da juventude. Deixa-me dar-te um exemplo concreto: temos agora nas escolas um aumento brutal de delinquência e de bullying. Já estão a ultrapassar os níveis pré-pandémicos. Houve uma ruptura abrupta destas estruturas organizadoras dos miúdos, e ao rebentarmos com estes pilares… Os problemas estiveram mais ou menos tamponizados durante os confinamentos, mas agora que há um regresso a um determinado ritmo dito normal.

    Longe da vista…

    As clínicas de saúde mental, como a minha, estavam de portas fechadas. E havia situações em que podíamos observar os pacientes e dar resposta online, mas muitas tinham de ser presencialmente, como é óbvio. Isto da telemedicina e da telepsicologia, é uma teletanga! Isso não existe. Portanto, não havendo cuidados de saúde, escolas, espaços de socialização, ar livre e desporto, o que é que sobrou às crianças e adolescentes? Estarem fechados em casa numa redoma de vidro. Agora é que nós estamos a apanhar os cacos. Muitos miúdos nessa altura descompensaram, foram internados. Muitos foram abusados, agredidos, tiveram de ficar fechados com o inimigo dentro de casa – devo dizer que considero isto um crime contra a Humanidade. Para mim é um dos pontos mais negros desta história, porque de antemão nós já sabíamos – é do conhecimento comum – que a maior parte dos abusos e crimes de sangue acontece no primeiro anel das crianças. Portanto, espancamentos, homicídios, abusos sexuais, pedofilias, negligência, isso é tudo no primeiro anel. E, se estas crianças não vão à escola, ao centro de saúde, à junta de freguesia, ao centro desportivo, quem é que as sinaliza? Quem vê que estas crianças precisam de ajuda? Não há. Portanto, por ordens do Estado, estas crianças ficaram fechadas com os seus agressores. Foram, então, sujeitas à maior tortura que já se julgou possível.

    Joana Amaral Dias, fotografada por Júlia Oliveira.

    Houve quem avisasse sobre esses riscos.

    Nesse aspecto, eu tenho muito a dizer. Como se nota, até tenho demais, sobre a gestão da covid-19 nestes dois anos e meio. Mas isto é absolutamente imperdoável, porque o Estado sabe disto. O Ministério da Saúde sabe disto. O Ministério da Educação sabe disto. O Ministério da Segurança Social sabe disto. Todos sabem que as crianças não podem ficar fechadas com os seus agressores, e que a única maneira que nós temos de ajudar estas crianças é deixá-las circular. Deixá-las ir à escola, que é onde vemos as nódoas negras… E agora que voltaram às escolas e aos centros de saúde, é que nós vemos que elas estão todas destruídas. Absolutamente destruídas. Perguntam-me: mas como é que é possível este nível de bullying juvenil agora?

    E houve países que não fecharam as escolas e que têm agora melhores indicadores de gestão da covid-19 do que Portugal, por exemplo. E já há estudos que comprovam que foi um erro enorme fechar escolas. Portanto, aquelas teses de que era algo imperativo, caíram por terra…

    Entre todas as medidas, a que teve menos impacto no controlo da covid-19 foi justamente o fecho de escolas. Foram medidas estéreis e improdutivas. E, claro, já tenho falado com muitos professores, e se estivesse um aqui, dir-te-ia também que há aqui muitas aprendizagens, situações que são irrecuperáveis. Eu, como psicóloga clínica, sei que há janelas de desenvolvimento óptimas e que, se, efectivamente, a aquisição de competências e conhecimentos não é feita nessa altura, ela é irreversível. Ou seja, perde-se para sempre essa onda. Ela não regressa. Eu estou realmente muito focada nesta parte do trauma, porque se essas aprendizagens foram perdidas – como na Matemática, no Estudo do Meio e outras –, há, contudo, uma centelha de esperança que se possam recuperar. Mas se a criança está traumatizada, se foi violada todos os dias pelo avô, se foi espancada todos os dias pela mãe ou deixada à fome todos os dias pelo pai… essa centelha de esperança morreu. Portanto, não é só pelos ossos do ofício que eu coloco aqui a tónica, mas porque esse aspecto é anterior e é basilar.

    Se os vários ministérios sabiam desta situação, não deveria haver agora uma intervenção de gestão de crise, em que se gastassem alguns milhões – tal como se gastam noutros lados? Um investimento para ajudar crianças e colocar psicólogos nos centros de saúde, nas escolas, e onde for necessário…

    Vejo que tu ainda estás de boa fé. Isso seria o passo seguinte normal, se os governantes, os responsáveis e os decisores tivessem instituído estas medidas por erro. Se eles próprios, ao engano, mas crentes de que estavam a seguir as melhores práticas, e de que estas medidas de fechar negócios, escolas…

    Era para o bem comum.

    Para o bem comum. Se eles tivessem estado enganados, e se agora se tivessem apercebido que realmente houve coisas desnecessárias; tinham a tal desculpa de que foi a primeira vez. E agora corrigiam o erro. Mas tu ainda estás de boa-fé a achar que eles se enganaram. Eu não acho que eles se tenham enganado.

    Fizeram de propósito?

    Desde Março de 2020, mantenho a minha posição – casmurra! [risos]. E estou receptiva a que me desmintam de que isto foi feito deliberadamente. Repito: o objectivo desta gestão insana da covid-19 era abrir uma cratera nos regimes democráticos. E ela já aí está, em carne viva. Foi feito intencionalmente.

    Foi visto como uma oportunidade?

    Sim, uma oportunidade, para derrotar o pouco que ainda sobra dos regimes democráticos, que já estavam ameaçados.

    Isso explica porque é que não seguiram por exemplo as práticas comprovadas cientificamente e com estatísticas, como foi o caso da Suécia?

    Explica sim. E explica, porque neste momento não vão investir em nada na Educação, não vão reabilitar ou recuperar nada disto porque não querem saber, não se importam com isto. Eles veem isso como efeitos colaterais da sua missão principal, que era fazer a tal cratera na democracia. Mais ainda. Um exemplo concreto na minha área: havia uma task force para a vacinação e havia uma task force comportamental. Não é por acaso, porque efectivamente há vários níveis belicistas – e não é por acaso também que tivemos em Portugal muitos fardados a intervir nesta questão da covid-19 –, mas o centro é a guerra psicológica. Vacinas e psicologia, foram as duas task force. Eram os dois grandes motores desta narrativa. Isto é muito importante, ter esta noção. Na task force da Psicologia – a comportamental –, eles tinham vários fascículos que saíam regularmente com as guidelines para os agentes no terreno. Portanto, eles tinham a task force comportamental com os seus documentos e divulgava a metodologia a ser empregue.

    Um programa…

    Havia um programa. E nesse programa – e eu denunciei isso na CNN Portugal –, eles instigavam directamente ao medo. Voltamos à história da amígdala. Era uma decisão do Governo fazer a gestão e o controlo das medidas sanitárias para instigar medo na população. Isto era assumido. Normalmente, perante uma situação de emergência, a psicologia de intervenção e de crise recomenda que a primeira coisa a fazer é manter a calma. A primeira coisa que nós fazemos quando chegamos a um cenário de acidente é fazer o abaixamento da tensão e manter a ordem e a tranquilidade junto das populações. Se um colega meu tiver de ir buscar alguém que saltou para a linha de metro, a primeira coisa que lhe vamos fazer é justamente o abaixamento da tensão e dizer às pessoas que estamos a controlar a situação – não vamos lançar o caos e o pânico, e dizer que sim, que o mundo vai acabar!

    Mas isso é o que foi e tem sido feito.

    Exactamente. Na task force recomendava-se que se instigasse directamente ao medo! Os meus colegas psicólogos – porque eram psicólogos que estavam a trabalhar nessa task force comportamental –, que instigavam o medo, são os mesmos que estão agora a reabilitar crianças e adolescentes. É a mesma equipa. Isto tem de ser denunciado. São eles que agora estão a combater a delinquência juvenil e os problemas de integração na escola, o aumento do bullying… São as mesmas pessoas! Eu denunciei isto na CNN, mostrei esses boletins, que estavam na Internet; eu fiz questão de os imprimir. Mostrei-os, e dois dias depois eles desapareceram da Internet, os links agora estão vazios.

    O PÁGINA UM confirma. Aliás, conseguimos recuperá-los da Internet e disponibizá-lo novamente em Janeiro passado

    É preciso perceber que não houve boa fé, nunca! Com todo o respeito, algumas pessoas ainda podem estar com um certo grau de ingenuidade, mas eu sempre achei desde o princípio que isto era feito de uma forma psicopática, deliberada, com um objectivo claro e usando instrumentos de manietação e de mesmerização da população, que levaria a um determinado fim. Haveria efeitos colaterais, pessoas que se iam suicidar, que iam à falência, miúdos que iam ficar analfabetos aos 10 anos… mas isso eram pequenas contrariedades, empecilhos que iam surgir. Aquilo que interessava era chegar à cratera na democracia. Pronto! E por isso é que não vão reabilitar ninguém, por isso é que as equipas são as mesmas e não querem saber destas desgraças e efeitos perniciosos que aconteceram com a covid-19 e estão muito para além dos mortos e da mortalidade excessiva. Há aqui, de facto, uma série de consequências sociais que vão perdurar durante décadas. Para mim, isto foi um plano friamente gizado desde o início.

    Mas acreditas que pode haver justiça algum dia para estas crianças?

    Como disse no princípio, estou expectante mas apreensiva! [risos] Gostava muito que existisse justiça, e luto por ela também todos os dias. Mas sei que este combate é profundamente desigual. Estou disposta a continuar a terçar armas, a tentar que outras pessoas também estejam nessa luta. Eu parti para esta luta sabendo que a probabilidade é muito magra – não de eu ganhar, porque eu não ganho nada com isto, só perco, mas de haver reposição da verdade, do bem, do belo, do justo.

    Nunca pensaste simplesmente desistir desta luta contra estas medidas e ficar em silêncio?

    Não. Desistia e ia para onde? [risos]. Não, prefiro morrer.

    Publicaste agora um novo livro sobre psicopatas. E já disseste publicamente que os maiores psicopatas não são aqueles que tens estudado e referido nos teus livros. Depois do que disseste agora, acreditas que, de facto, existe mesmo essa tendência psicopata de algumas pessoas que estão por trás da gestão da pandemia, ou dizes isso apenas em tom de brincadeira?

    Não, não digo a brincar. Costuma-se dizer, e a frase já é muito antiga: o homem é o homem e as suas circunstâncias. As épocas também criam perfis psicológicos. Costumo dizer aos meus alunos, e é um exemplo muito gráfico, que já foi moda, na Europa, as pessoas matarem-se. Já houve uma vaga de suicídios na Europa, muito induzida pelas elites, de escritores e artistas. Era uma tendência, as pessoas porem termo à vida. Portanto, se foi possível haver uma moda deste tipo, é fácil perceber que as pessoas são também as suas circunstâncias. Quando foi a crise do Lehman Brothers e a derrocada do sistema financeiro, vejo que a pandemia ainda engaja com essa narrativa e a necessidade de repor alguns meios e riqueza de baixo para cima…

    Transferência de riqueza?

    Sim. Porque essa mossa nos mercados financeiros, de facto, foi poderosa. Foi responsabilidade deles, mas foi significativa. Mas, nessa altura, houve estudos internacionais que mostravam que havia uma cultura maníaca – não psicopática, mas maníaca – que rodeava toda essa questão das Bolsas Financeiras, de Wall Street. E, dentro dessa cultura maníaca, havia várias questões associadas, desde o consumo de cocaína, à compra de serviços sexuais em barda por muitos correctores de Wall Street. Enfim, havia vários indicadores.

    Fazia parte da cultura da maníaca…

    Sim. E, como psicóloga clínica e criminóloga, vejo também isso como a semente da cultura psicopática que nós atravessamos agora. Porque existem vários tipos de psicopatas mas, provavelmente, aquele que nós mais devemos recear e aquele que é mais canibal, são os psicopatas com esta vertente maníaca.

    Porquê?

    Eles devoram tudo à sua passagem, tudo. Tudo o que estiver à frente, vai; é imparável. Na altura, eu ainda estudei um bocadinho desta cultura maníaca – longe de mim imaginar o que se seguiria. Aliás, debrucei-me sobre isso num outro livro meu, no Sonhos públicos. E, agora, quando apareceram estes sinais em Março de 2020, realmente fiquei bastante preocupada. Porque quando olhei para os números da transferência de riqueza – e nós estamos perante a maior transferência de riqueza da História da Humanidade –, é estranho realmente como é que a esquerda, outrora tão preocupada com as desigualdades do Mundo, assistiu a isto impávida e serena, porque só isso deveria ter-lhe feito disparar todos os alertas vermelhos. A mim fez-me disparar. Se eu já achava que esta gestão da covid-19 não fazia sentido nenhum logo em Março de 2020, então quando comecei a ver essa transferência de riqueza: alto e pára o baile! Então, estamos efectivamente perante a cultura maníaca a cristalizar-se num funcionamento psicopático. E o que é o funcionamento psicopático?

    No teu recente livro, a segunda parte de Psicopatas portugueses, descreves sobretudo psicopatas de sangue, pessoas que assassinaram. Estes, de que falas agora, são bem diferentes…

    O psicopata mais comum não mata, não precisa de matar. O psicopata mais comum é aquele que pura e simplesmente se dedica à tal instrumentalização e manietação do outro, para que o outro seja apenas um escravo seu. A partir do momento em que o psicopata está à frente de outra pessoa, ele só pensa numa coisa: como é que esta pessoa me vai ser útil para as minhas necessidades, desejos e vontades? Sexualmente, materialmente, logisticamente… Se um psicopata for interlocutor de alguém, ele está desde o primeiro momento a sacar informação, todos os dados, tudo o que lhe for possível para depois o usar contra aquela pessoa, para poder depois escravizá-la e só vai sobrar no fim a carcaça. Isto é o funcionamento psicopata. Os psicopatas têm uma prevalência de 1 em 10 na população normal; portanto, todos nós conhecemos algum psicopata. Claro, nem todos são tão sofisticados, nem todos são tão carnívoros como este perfil que eu estou a descrever; alguns são um bocadinho mais suaves. Mas todos nós conhecemos algum. Acontece que quando nós chegamos às cúpulas de poder – e isto também já está amplamente estudado –, e nas esferas do poder financeiro, científico, económico e político, essa prevalência aumenta. E porquê? Porque ter poder sobre o outro é aquilo que respira um psicopata.

    Ou seja, não conseguem ver as pessoas como seres humanos…

    O psicopata está sempre a exercer poder sobre o outro, é o que ele faz. Através da mentira e da manipulação, é o que ele faz desde que se levanta até que dorme, e provavelmente a dormir também. O comum mortal está orientado para se divertir, brincar, amar e, às vezes, também para ter poder – o poder de transformação, que é diferente do poder sobre alguém. O poder sobre o outro é o que dá gozo ao psicopata, porque é aquilo que o satisfaz. Portanto, os psicopatas têm uma prevalência muito superior nas esferas de poder, porque o poder é o seu código genético.

    E há estudos sobre isso…

    Exactamente, há muitos estudos sobre isso. Nós também podemos às vezes querer o poder, e não tem mal nenhum; o poder para fazer algo é saudável; precisamos de mudança, flexibilidade e transformação, e tudo isso é o poder para. Mas nós conjugamos isso com outros objectivos na nossa vida, como referi. O psicopata só tem uma coisa na sua cabeça, e por isso é que tem muito espaço e muitos recursos, porque só isso é que lhe interessa e só investe nisso – que é o poder sobre o outro.

    Mas se nestes dois anos, estes psicopatas sentiram o sabor deste “sangue dos crimes” que foram cometidos, agora não vão querer abrir mão… Já se nota um grande à vontade na sua conduta, é isso? Agora estão agarrados a este “sabor a sangue”?

    Quando os psicopatas estão muito cheios de si próprios e as suas partes narcísicas e maníacas estão extremamente ao rubro, muitas vezes já não se preocupam tanto em não deixar rasto. Como dizia o Freud, acabam por deixar o cartão de visita no local do crime. Já não tapam as pistas, deixam muitas dicas… Por exemplo, não fazem actas [caso da Comissão Técnica de Vacinação para a Covid-19], que é uma coisa básica, não lhes custava nada. Ou, então, não cometem erros boçais deste género de pôr no boletim da task force comportamental a assumir que estão a instigar ao medo.

    Já não têm medo?

    Um psicopata não tem medo. Isso é uma das coisas que o distingue. Uma pessoa quando vai saltar de pára-quedas sente o coração a bater e a adrenalina a subir. O psicopata não sente nada. Pode esfaquear a avó e se medires os batimentos cardíacos, o mar está flat. Portanto, não há medo, e o facto de não haver medo é muito perigoso. Porque o medo tem estes efeitos que discutimos hoje, mas também é protector. Se eu vir um leão e não fugir, estou tramada. Mas os psicopatas quando estão numa fase muito narcísica, deixam rasto, e não se preocupam em deixar provas para quem vier a seguir investigar. Mas, mesmo assim, se for encurralado, o psicopata tem dois caminhos: ou mata-se, ou mata. Normalmente é isso que acontece. Porque é que nós temos, como falo nos meus livros, psicopatas que mataram de forma absolutamente gélida e arrepiante, e a seguir se mataram? Porque não podem perder a face. Esta é a dimensão narcisista, maníaca, do psicopata… Ele nunca irá para a prisão, nunca enfrentará a justiça. Nunca vai dar parte fraca, ou levar com ovos na cabeça. Portanto, prefere matar-se. Para se perceber o que é um psicopata: o último condenado à morte em Portugal matou a mulher, o filho, a empregada, limpou a casa toda, e a preocupação dele era aparecer em tribunal imaculado. Com as calças engomadas, o colete perfeito, e ficou zangado quando a forca não funcionou bem nesse dia, porque aquilo era desagradável. Enfim, quando o psicopata está encurralado, as opções são extremas. E por isso é que eu disse que o combate é desigual. Porque agora, eles, ou matam, ou matam-se.

    Havendo investigações, começando a existir mais dúvidas na população, e mais pessoas a questionarem o que tem estado a ser feito e as reais intenções por trás de determinadas políticas, algumas dessas figuras de poder poderão sentir-se encurraladas? Porque há aquela ideia de que pessoas que estão no poder jamais poderiam ser psicopatas, porque estudam, vêm de boas famílias…

    Isso não tem nada a ver. Estão encurralados, estão parcialmente encurralados.

    É preocupante, porque como referiste, temos a indústria farmacêutica, as grandes tecnológicas, a Comissão Europeia, o governo dos Estados Unidos… Apesar de haver muitas pessoas que estão a despertar para algumas situações, o que é certo é que eles também têm a comunicação social a puxar para o seu lado. Poderão alguma vez sentir-se encurralados?

    Sim, poderão sentir parcialmente. A primeira coisa que farão, antes de chegar ao tal extremo, é a fuga em frente. Portanto, pôr mais uma camada nesta narrativa. Por isso digo, é a minha perspectiva, que isto desde o início foi feito de uma forma deliberada e premeditada. Porque como a cratera da democracia está lá, possibilita que, caso seja necessário, se meta outra dose numa narrativa extrema e mutante, e facilmente entra. O portal já está aberto.

    E a crise económica, que foi criada pelos confinamentos, ajuda a isso.

    Quando as pessoas estiverem com fome, e a inflação estiver ainda mais galopante do que já está, e houver mais do que latas de atum com detectores de roubo; quando já estiver tudo a ferro e fogo, as pessoas talvez se esqueçam um bocadinho da covid-19. Não digo que não [risos]. E não estarem tão preocupadas com máscaras, nem com a verdade e com a mentira, mas com comer… A crise económica pode ser a tal camada suplementar… ou uma crise nuclear. Qualquer coisa. A imaginação é o limite. A partir do momento que existe essa cratera gigante, cabe lá muita coisa dentro. A minha luta desde o princípio foi essa. Façam lá a gestão que quiserem da covid-19, mas não toquem nos nossos direitos, liberdades e garantias. Claro, vozes de burro não chegam ao céu; andei a lutar contra moinhos de vento. Mas, por isso é que eu tive sempre esta preocupação. Eu lembro-me de estar em Março de 2020, ainda na CMTV, a dizer isto: protejam os grupos de risco – as pessoas que têm mais de 60 ou 65 anos –, que é aí que se concentra a maior parte das comorbilidades. A covid-19 não ataca tudo e todos, e já sabíamos isso.

    (Fotografia: Júlia Oliveira)

    E a tua voz vai ser usada no futuro de uma outra forma? Que projectos é que podes ter, o que é que podemos esperar? Retomar a carreira na política?

    Da política nunca saí. Faço política de outra maneira, porque cheguei à conclusão, na minha intimidade, nestes últimos anos, que não nasci para estar na vida politico-partidária, pelo menos tal como ela existe agora. Pode ser que se invente outra coisa, entretanto; e se se inventar, estou receptiva. Mas pelo menos não agora. Mas eu continuo a fazer política, de manhã à noite, todos os dias. E gosto. Gosto muito porque é natural, é inevitável para mim. Quanto aos meus projectos, eu andei todo o último ano a ensaiar um registo um bocadinho diferente, que é um misto entre Michael Moore e o Borat. Comecei a ir para a rua, com uma intervenção nas praxes no jardim do Campo Grande, porque as pessoas preocupam-se muito com o bullying mas aplaudem o bullying nas universidades. É um paradoxo social curioso e perigoso. Portanto comecei a fazer essa intervenção nas praxes e depois continuei. Até lhe chamei A Nova Variante. Entrevistei pessoas, comentava algumas coisas, ia para rua… Fui ao McDonald’s jantar a recusar-me a entregar certificado de vacinação; inscrevi-me num ginásio e fiz o mesmo também, entre outras coisas. Não só sobre a covid-19. E diverti-me imenso a fazê-lo; as pessoas gostaram muito, tive milhares de visualizações, e vejo que as pessoas estão receptivas a este tipo de intervenção, que não existe em Portugal. Então, não posso revelar tudo, mas decidi que este ano vou dar-lhe um formato um pouco mais consistente. Apurei o que funcionou melhor nessa experiência e vou dar seguimento a este tipo de intervenção agora durante este ano lectivo. Vou andar nesse modo, meio Borat, meio Michael Moore.

    E onde é que podemos acompanhar-te? Vais divulgar nas redes sociais?

    Sim, em formato de vídeo, e tenho a certeza que as pessoas vão gostar muito. Vou abordar sempre estes temas vistos como radicais na nossa sociedade – como a liberdade de expressão, a não aceitação de medidas avulsas e arbitrárias, a recusa da vacinação, a abordagem monoteísta da guerra na Ucrânia… Sempre a fazer um contraponto; lá está a minha costela de jornalista, e talvez também um bocadinho palhaça, como o Borat. Os temas serão variados. Estou mesmo prestes a arrancar agora em breve, mas devo dizer que na preparação, o receio que não existissem temas suficientes para fazer isto durante um ano, foi, infelizmente, infirmado. Existem temas e de sobra. E eu gosto de estar na rua, é para a rua que eu vou.

    Transcrição: Maria Afonso Peixoto

    Fotografias: Júlia Oliveira

    Edição: Pedro Almeida Vieira

  • ‘Estamos na antecâmara dos regimes totalitários’

    ‘Estamos na antecâmara dos regimes totalitários’

    Acutilante, irreverente, incómoda. A psicóloga Joana Amaral Dias não hesita em pôr constantemente o dedo na ferida e a denunciar o que considera serem injustiças e políticas erradas. Activista política e escritora, tem sido uma das vozes críticas sobre a forma como Portugal tem gerido a pandemia de covid-19. Tem também denunciado a censura crescente, dentro e fora da Internet, não poupando fortes críticas à atuação da comunicação social nos últimos dois anos. Nesta primeira parte de uma grande entrevista ao PÁGINA UM, a ex-deputada conta como a sua família foi ameaçada devido às suas posições públicas. Diz que parte da população está hipnotizada, ou mesmerizada, como prefere dizer. E avisa que estamos já a caminho de passarmos a viver em regimes totalitários na Europa.


    Já se pode fazer um balanço sobre a gestão da pandemia, em Portugal e em outros países? Como vês os últimos desenvolvimentos?

    Podemos fazer não um balanço, mas um balancete. Talvez ainda não tenhamos terminado esta fase, e há quatro ou cinco pontos que eu penso que devem estar inclusos nesse balancete. O primeiro é que Portugal fez uma gestão absolutamente calamitosa da covid-19, porque somos dos países que tem números mais impressivos de mortes registadas por covid-19, mas somos também um dos países que tem maior excesso de mortalidade. Inclusivamente, alguns números que eu considero particularmente sensíveis no que diz respeito à mortalidade materno-infantil. Por outro lado, simultaneamente, Portugal é dos países com maior taxa de vacinação, e eu acho incrível como é que não se estabelecem relações – não digo nexos causais, mas pelo menos correlações – e não há um debate amplo, aberto e franco sobre esses elementos. Porque talvez ainda não possamos chegar às tais conclusões finais, mas penso que já ia sendo altura de haver espaço na nossa sociedade para fazer esse debate. Portanto, é com perplexidade e, sobretudo, muita apreensão que eu reparo que a mordaça e a censura que vem sendo agravada desde Março de 2020 ainda perdura. Esse é um aspecto.

    E há outros…

    Sim, há um mais amplo e não apenas nacional. Nestes últimos anos houve uma alteração profunda daquilo que são as regras na democracia. Ao nível dos direitos, liberdades e garantias abriram-se alçapões, debutou-se um regime de excepção que não é revogável e não é reversível. Pelo menos, não de uma forma tão simples. Isso não sarou nem fechou de uma forma assim tão linear quanto isso, e que podem ser aproveitados, ou pelos mesmos que os criaram ou por outros. E isso gera também muita preocupação. A parte da censura que eu falava há bocado. Embora tenhamos sido apodados de negacionistas, conspiracionistas, chalupas, etc., a verdade é que o Tribunal Constitucional, quer em Portugal quer noutros países, já nos vêm validando e dando razão. De facto, a Constituição da República Portuguesa foi atropelada e esmagada neste processo. Vejo com muito maus olhos e com muita apreensão esta alteração das regras no regime democrático. E, por outro lado, vejo que ao nível europeu e internacional – Estados Unidos, inclusivamente – as informações que vão sendo libertadas, por exemplo, agora mais recentemente, sobre a Pfizer ter lançado no mercado a vacina sem ter feito a devida testagem para garantir que ela não prevenia a transmissão…

    E com esses acórdãos do Tribunal Constitucional, julgas que existirá uma tomada de consciência?

    Essas notícias e este tipo de informação e de dados continuam também a ser abafados, a não ser debatidos e a ter as devidas consequências. Isso preocupa-me. Portanto, estou apreensiva e expectante. Não sei se este Inverno nos vai trazer, de novo, outra vaga de covid-19, ou se agora vão assumir que há gripes e que há outras doenças que afinal nunca desapareceram. Mas, de qualquer maneira, mesmo que não consigam voltar a impor a narrativa “covid” pura e dura, como ela foi em 2020 e 2021, e até 2022, o resto está lá. Tomara que esteja errada, mas tenho para mim que esta narrativa “covid” serviu sobretudo para isso: para abrir esta cratera no regime democrático. E, portanto, esse aspecto está feito, check. Foi alcançado por parte destas forças, muitas delas não eleitas, e que seguir-se-ão outras narrativas, outras novidades, digamos assim, para os quais a cama está feita, o terreno está fertilizado.

    Até porque já se criam estratégias e programas para futuras pandemias. Ou seja, já está essa porta aberta, essa brecha, para voltar a violar a Lei e a Constituição.

    Acho que o solo está fertilizado para pandemias ou para outras coisas quaisquer. Porque quando falamos na retirada de direitos, liberdades e garantias essenciais, como o direito ao trabalho e a teres a tua porta aberta, ou à saúde, e teres assistência médica independentemente de estares vacinado ou não estares vacinado, o direito a visitares os teus familiares, etc… Quando falamos da supressão ou da negação desses direitos, essa supressão depois pode ser aplicada a muitas situações. O portal está escancarado para pandemias ou para qualquer outra invenção que lhes ocorra ou que na sua mente, seja necessária.

    Neste momento, há pedidos para uma maior transparência, nomeadamente em torno dos contratos de compra das vacinas. A Procuradoria Europeia está a investigar. Vai haver essa investigação, vai apurar-se efetivamente por que motivo há tanto secretismo, tanta opacidade, não só na compra dos contratos? Também agora se sabe que não existem actas das reuniões da Comissão Técnica de Vacinação da Direcção-Geral da Saúde (DGS), que é algo um pouco estranho.

    Esta parte da censura, de facto, casa bem com a opacidade. A censura é um instrumento de transformar certas partes do discurso e da intervenção pública opacas, mas da própria ação dos agentes políticos e dos governantes também opacas. Portanto, a censura tem estes dois lados. Eles autocensuram-se, autobloqueiam-se, não há transparência, não há prestação de contas. Ou seja, todos estes mecanismos que fazem parte de uma democracia madura e de regimes democráticos avançados. Portugal nunca esteve propriamente no pelotão da frente no que diz respeito a essas boas práticas. Esteve sempre na cauda, e continua, noutros sectores que temos vindo a falar, além da questão da covid-19, destas matérias sobre a participação em empresas, nomeadamente em empresas que fazem negócios com o Estado. Nota-se bem que nunca conseguimos estar na dianteira. Mas, neste caso específico das vacinas, isto passou todos os limites. Lá está, a tal cratera que foi criada. À “pala” da desculpa das patentes, que enfim, já era uma desculpa de mau pagador, porque se era serviço público, a União Europeia não tinha que pagar estas vacinas três vezes: pagar para financiar a investigação e o desenvolvimento destas vacinas, e depois pagar para as comprar, e depois pagar para ressarcir as pessoas que tiveram problemas com efeitos secundários adversos, etc., etc.

    A questão das patentes foi pouco abordada pelos media. Tal como os efeitos adversos das vacinas…

    As patentes deviam ter sido levantadas, e nós devíamos ter todos direito a saber e a conhecer a composição precisa destas vacinas, algo que até hoje continuamos sem ter acesso e esta é que é a verdade pura e dura. Não sabemos qual é a composição destas vacinas. Portanto “à pala” disso, da proteção da indústria farmacêutica, foi dito que os contratos tinham que ter várias cláusulas que funcionassem efetivamente como sombras e biombos, o que não é justificado. E isso perdura até agora, até hoje. A semana transata foi fértil em boas notícias, para quem tem estado nesta luta já há tanto tempo, porque faz parte, essa questão também está inclusa. Mas esta comissão (especial sobre a pandemia de covid-19 no Parlamento Europeu) já está a lidar com dificuldades. Albert Bourla, CEO [presidente executivo] da Pfizer, teve o desplante de se recusar a depor perante uma instância que, para todos os efeitos tem poderes judiciais. É como aqui, uma comissão parlamentar de inquérito no parlamento português à Assembleia da República. Portanto, vejamos, um bom caso para ilustrar o nível ufano a que estas personagens se acham e se posicionam. Pode dar-se ao luxo de não ir depor. Estou expectante justamente por isto, porque houve alguns avanços, mas sou moderadamente otimista e também estou apreensiva. Porque houve um concílio de interesses muito forte. A grande indústria farmacêutica teve uma alteração dramática nestes últimos dez, quinze anos.

    Não foi apenas o sector farmacêutico…

    Foi todo o capitalismo, mas isso nota-se mais numas áreas do que em outras. No sector farmacêutico, até há dez ou quinze anos, havia muitos pequenos e médios laboratórios, produziam medicamentos, vacinas, etc… Houve aqui uma alteração radical deste caminho do capitalismo para um sistema monopolista. Também aconteceu na big pharma. Os pequenos e médios laboratórios foram todos engolidos praticamente por quatro ou cinco grandes empresas que existem neste momento, nesta área. Portanto, deixaram de existir esses pequenos e médios laboratórios, deixou de existir uma sã competição e concorrência e passou a haver apenas dois ou três suppliers [fornecedores], como eles gostam de dizer no mercado. O que desvirtua aquilo que o capitalismo tinha de melhor. [risos] Porque na minha perspectiva, se alguma coisa o capitalismo tinha de salubre, era justamente a competição e a rivalidade. Depois, tinha muitos inconvenientes também, na minha perspectiva, muitas coisas que precisam de ser dirimidas, e precisam de ser cinzeladas, mas das poucas coisas boas que tinha que é de facto haver competição, isso desapareceu. E neste momento, no sistema monopolista, é o que se verifica. No big pharma isso nota-se muito, e no big tech também. Esta conjugação de interesses que houve durante a pandemia, entre proteger os quatro ou cinco grandes grupos económicos que estão em franco crescimento, como as grandes tecnologias e as grandes farmacêuticas, teve como um dos resultados de facto o insuflar destes agentes a ponto de se acharem que podem não responder no Parlamento Europeu. Portanto, volto a dizer, estou expectante, mas apreensiva, o meu otimismo é muito moderado.

    Em todo o caso, há aqui um avanço, no sentido de haver escrutínio sobre um tema que, por exemplo, a maioria dos principais media nem sequer toca. A comunicação social, o facto de não querer escrutinar este e outros temas, levanta preocupação?

    Eu vejo isto com muita preocupação porque, na verdade, a covid-19 enfraqueceu quatro ou cinco outros poderes importantes na sociedade mundial. Enfraqueceu o poder médico, nós sabemos que o poder e o prestígio da classe médica é muito importante. Era muito importante, mas foi claramente enfraquecido. Hoje sabe-se que há estados nos Estados Unidos onde os médicos vão perder a sua liberdade de ir contra, ou de questionar, aquilo que são as decisões políticas. Mas isso já se adivinhava antes, alguns médicos podem olhar para isto agora com admiração, mas é evidente que se não o fizeram atempada e oportunamente, agora vão pagar caro as consequências. Portanto, o poder médico vergou-se perante o poder político. Vamos lá ver a sequência e olhar do grande peixinho para o pequeno peixinho. O grande poder económico vergou o poder político, o poder político vergou o poder médico, e vergou também o poder da comunicação social.

    Como viste esse “vergar” da comunicação social?

    A comunicação social teve, outrora, uma função primordial de watchdog, de escrutinador, de fazer a pergunta incómoda, ser a pedra no sapato… Eu não sou jornalista, embora trabalhe na comunicação social há mais de vinte anos, e, portanto, sou um bocadinho jornalista, digamos assim, e tenho já uma costela por aquisição. Mas, de facto, como se costuma dizer, se a pergunta não for incómoda, é só propaganda. Se a pergunta não for difícil, é só publicidade. O papel do jornalista é justamente ser chato! É ser, de facto, inconveniente. Se o jornalista não é inconveniente, não é jornalista. É assim que eu leio, na minha experiência de trabalho e como cidadã. As duas coisas. O jornalismo abdicou de ter esse papel, e, portanto, tal como os médicos, se inicialmente abdicou desse papel para não se prejudicar, achando que se fosse na corrente era mais fácil, agora provavelmente vai pagar cara essa fatura, tal como estes médicos, que já começa a aparecer estas situações, que agora não podem levantar “grimpa”, caso contrário, “levam na cabeça”. E, portanto, o grande poder económico engoliu o poder político, o poder político por sua vez devorou o poder médico e da comunicação social. Ou seja, ao fim ao cabo, o tal regime monopolista que se vinha desenhando na transição do século XX para o século XXI, neste momento está de pedra e cal, é assim que eu vejo.

    Como um padrão que se vai repetindo, estaremos numa época em que estão de novo a surgir regimes totalitários na Europa? Vai por ondas, um bocadinho como as crises financeiras. Estamos nessa fase ou podemos travar e impedir que isso venha a acontecer?

    Não, nós não estamos num regime totalitário, na minha perspectiva. Nós já vivemos num. Há quem diga que nós já estamos a viver a Terceira Guerra Mundial, e que estes movimentos que vamos vendo na Rússia, Ucrânia, Taiwan, vão aparecer na História, um dia, como a antecâmara da Terceira Guerra Mundial. Não sei se isso é verdade ou não, mas sei que estamos na antecâmara dos regimes totalitários, isso eu já tenho mais certezas. Porque a chamada transição digital, que também já está em curso, tem sido feita contra os cidadãos. Tudo aquilo que era benéfico, tudo o que era vantajoso para as populações nessa transição digital, nomeadamente os processos de descentralização, têm sido fortemente atacados. Ou seja, aquilo que eram os processos de descentralização da informação, há cada mais censura nas redes sociais. Aquilo que têm sido os processos de descentralização da moeda, há cada vez mais ataques à criptomoeda, e por aí fora. Ou seja, aquilo que podia representar uma mais-valia para a cidadania e para a participação cívica, está a desaparecer na transição digital. E aquilo que era benéfico para os grandes poderes centrais e para o tal regime monopolista, está a ganhar raízes. Refiro-me, nomeadamente, à possibilidade de haver um euro digital; refiro-me, nomeadamente, à tal narrativa única e ao unanimismo.

    O tal consenso que não existe, o falso consenso.

    Eu não sei se ele é falso, ele parece como unanimista. Não sei se é falso. Falso pressupunha que havia aqui uma vontade e valores de fazer de outra forma. E aquilo que há é, de facto, uma postura unanimista, mais do que um consenso, é unanimista. Portanto, todos numa só nota, afinados por um só diapasão. E essa transição digital parece-me que é sobretudo centralista, monopolista. Ou seja, engrossando esse caudal totalitário, para responder à tua pergunta. Portanto, eu acho que nós estamos definitivamente já na pré-história do tal regime totalitário. Embora eu repudie e não me reveja na maior parte das coisas, ou em nada, da extrema-direita, na verdade eu não acho que isso seja a grande ameaça neste momento. Acho que isso são espantalhos que são colocados no campo para que o cidadão mais incauto ache que ali é que está o perigo e o risco, mas o risco não está na extrema-direita. Pode estar ali algum risco, mas o verdadeiro risco não está aí. Está nos senhores do mundo, no tal 1% ou 2% que detém quase toda a riqueza mundial e se apresentam como invencíveis.

    Aliás, o principal ataque à população, que foi a maior campanha de discriminação e segregação depois da II Guerra Mundial e que veio da Comissão Europeia – que não é de extrema-direita -, com a criação do certificado digital. E que já se sabia que não tinha qualquer base científica.

    Sim, já sabíamos e agora confirmámos. E estamos a falar de poderes não eleitos, convém sublinhar de novo. Como Ursula von der Leyen, e outros. Estou a dar este exemplo porque ela é casada com uma pessoa muito importante na indústria farmacêutica e as suas comunicações com as várias farmacêuticas estão também sob investigação, que – lá está –, é algo que devia ser absolutamente translúcido. Mas ela não foi eleita, portanto há aqui uma mistura também perigosa até nesse nível, de pessoas que nunca foram a votos.

    Tens sido uma voz muito activa. Sofreste alguns ataques, insultos, injúrias. Como é que está agora a situação? Já te dão razão?

    O meu caso é um bocado particular, porque quando eu cheguei a esta questão de 2020, já vinha com muito traquejo e muitos haters, ameaças de morte e muita maledicência, boatos e mentiras. Portanto, eu já vinha com uma bagagem grande, e isso foi bom para mim, porque ao contrário de outras pessoas que passaram a ser vozes dissonantes a partir de Março de 2020, eu já vinha levando “porrada” desde que cheguei à esfera pública, há quase 25 anos. Não é que eu faça de propósito, mas acabei por estar sempre um bocadinho contra a maré. Algumas vezes, se calhar de uma forma errada ou involuntária, mas a verdade é que já me tinha acontecido muitas vezes. O meu pai brincava comigo e dizia: “Joana, tu até do Bloco de Esquerda conseguiste ser expulsa!” O que não é verdade. Eu não fui expulsa, saí pelo meu próprio pé; fui eu que entreguei a carta a revogar a minha militância. Mas, pronto, ele dizia isso com piada, porque eu sempre fui muito contestatária. Portanto, em Março de 2020 eu já estava preparada, já tinha um bom sistema imunitário para aguentar [risos].

    Mas atingiu níveis mais elevados durante a pandemia, certo?

    Chegaram até às ameaças de morte, e a dizerem que me iam internar e decretar-me como louca. Eu tenho esses e-mails todos guardados. Eu sei que muitas pessoas têm aproveitado para se vitimizar, desde o almirante Gouveia e Melo, e outros, mas na verdade isso aconteceu com muita gente. Ameaçaram a vida dos meus filhos, a minha carreira profissional… Mas isso aconteceu sempre, desde o início, e eu não dou grande importância, não dou muito crédito nem tenho medo disso. Sempre achei que devia era ignorar e prosseguir, os cães ladram e a caravana passa. Tenho essas comunicações guardadas, feitas quer por telemóvel, quer por e-mail, e também pessoais, que essas não pude guardar, mas as que pude, tenho-as arquivadas. Tenho esse acervo, mas nunca quis fazer nada de especial em relação a isso.

    Mas chegaram a ameaçar-te pessoalmente, cara-a-cara?

    Sim, sim. Na rua, e também em contextos semi-privados já me fizeram várias ameaças. Mas, como te digo, seja pela minha personalidade ou formação profissional, a verdade é que não estou para perder tempo com isso. Houve um ou outro caso muito particular que eu tive que dar resposta e perder um bocadinho de tempo com isso, mas o meu tempo é escasso. Eu quero alocar os meus recursos àquilo que eu valido como sendo prioritário na minha vida, e o recurso mais precioso que nós temos é o tempo, definitivamente. E, do ponto de vista da minha intervenção no espaço público, não quero perder tempo com haters, e aliás, não lhes respondo aos e-mails nem nas redes sociais. Mas, para dar um exemplo mais concreto, cheguei a ter colegas meus de profissão que não me conhecem de lado nenhum e arranjaram o meu número, sabe-se lá como, a ligarem-me a um domingo às 16h e a aconselharem-me a retirar posts ou a ameaçarem-me veladamente, portanto a interromper o meu descanso dominical e as horas de família com isto. Eu guardo essas comunicações religiosamente, mas só para o caso de um dia mais tarde ser necessário. Mas não perco tempo com vermes.

    Aliás, para ligarem a um domingo, sendo psicólogos…

    São tácticas de pressão, e que estão amplamente estudadas pela psicologia. Aliás, se há coisa que para mim foi evidente desde o primeiro momento com a covid-19, foi que estávamos perante a utilização de alguns dos principais instrumentos e técnicas da psicologia – social e experimental – não ao serviço das populações, como elas devem estar, mas contra as populações.

    Foi uma guerra psicológica…

    Isto é uma guerra psicológica. Nós estamos perante vários níveis belicistas, mas este faz parte do centro dessa guerra. Aliás, o medo e a angústia de morte são as principais emoções humanas, das mais antigas que nós temos. O cérebro humano é um fóssil vivo, porque nós temos todas as camadas, desde a reptiliana, depois das aves, dos mamíferos, dos primatas superiores e depois uma parte do cortéx frontal – que permite processos de tomada de decisão complexos, que é exclusiva do homo sapiens sapiens. Mas estas camadas estão lá todas, e quando nós activamos partes muito primárias do nosso funcionamento, que salivam perante emoções muito fortes como a morte e o medo… não há medo mais forte do que o medo de morrer, como é evidente. Aliás, todo o medo é o medo da morte; ele pode depois aparecer colorido de outra maneira no nosso pensamento, mas todo o medo é o medo da morte. Portanto, quando nós activamos principalmente isto, estamos a manipular e a manietar os cidadãos da forma mais primal e mais agressiva que se pode fazer. E foi isto que foi feito com a covid-19. Nós estimulámos directamente a parte mais arcaica do funcionamento humano, e depois isto tem muitos floreados do ponto de vista das técnicas psicológicas, mas foi efectivamente isso que aconteceu.

    A tua formação em Psicologia terá ajudado…

    Eu lembro-me de ser muito miúda, quando tinha uns 19 anos, e numa aula da faculdade de Psicologia Experimental – que era uma das minhas favoritas –, ter dito ao meu professor: “eu espero que isto nunca seja usado contra as pessoas!” Porque são autênticos superpoderes, e não é para “puxar a brasa à minha sardinha” da Psicologia, mas a Psicologia tem superpoderes. Basta dizer que nós conseguimos hipnotizar pessoas. A hipnose não tem nada de mágico ou sobrenatural, é simplesmente induzir um estado que está entre as ondas cerebrais Alfa e Beta, que não é da consciência nem é onírico, está entre ambos. E onde nós conseguimos telecomandar as pessoas; telecomandar no sentido literal da palavra. A hipnose tem várias técnicas e meios. Dou um exemplo com o qual, enfim, penso que toda a gente está familiarizada, que são as mensagens subliminares na publicidade, e que emanam de conhecimentos científicos da psicologia. E, portanto, há várias maneiras de o fazer, e que foram empregues não para o bem – como aliás já vinha a acontecer, porque já se tinham aberto várias caixinhas de pandora que deviam ter ficado fechadas –, mas desta vez abriram a caixinha toda e soltaram-se as serpentes. Eu acredito que nada na sociedade deve existir se não for para servir o bem comum, e se não for para servir os povos. A Economia só faz sentido se for para servir os povos, a ciência só faz sentido se for para servir os povos. E aqui ela está a ser empregue exactamente no sentido oposto.

    Dirias que uma boa parte da população portuguesa e europeia está hipnotizada?

    Está mesmerizada, que é uma palavra que eu resgatei do nosso vocabulário científico. Franz Anton Mesmer foi a primeira pessoa muito antes da hipnose clínica experimental, que depois foi desenvolvida pelo Charcot e pelo Freud, entre outros. E enfim, hoje em dia é utilizada para muitos meios. Há pessoas que até, seja por motivos médicos ou religiosos – como as testemunhas de Jeová  –  não podem querer ou não podem ser anestesiadas e faz-se uma hipnose para poderem ser sujeitas a intervenção cirúrgica. A hipnose é poderosa. Mas a hipnose clínica experimental ganhou consistência com Freud e Charcot, mas foi Mesmer que foi um dos seus pioneiros e é definitivamente um marco nessa área. Mas eu gosto dessa ideia de mesmerização da população, porque não é uma hipnose individual como ela é aplicada no contexto clínico-experimental; é uma hipnose em grupo, e com recurso a várias técnicas complementares e coadjuvantes. Portanto, eu decidi resgatar este termo – mesmo internacionalmente com os colegas com quem vou trocando experiências e impressões – da mesmerização, que dá um pouco a ideia da amplitude e da profundidade da hipnose a que fomos sujeitos. Por isso, a resposta é sim [risos].

    (Fotografia: Júlia Oliveira)

    E isso explica, se calhar, como é que algumas pessoas consideradas racionais, cientistas e matemáticos, conseguem não questionar algumas regras e noções que são tão disparatadas e, logo à primeira vista, se consegue perceber que não têm racionalidade nenhuma…

    Sim, há uma parte que nós percebemos que é absurda, não é? Eu, sobre isso, acho duas ou três coisas. Acho que o absurdo faz parte dos regimes totalitários. Esses regimes sempre misturaram a sua missão absoluta e definitiva com medidas contraditórias e estapafúrdias para baralhar e confundir as populações e alargar os seus poderes. Portanto, há aqui elementos que foram ziguezagueantes, e, aparentemente, um sortido escaganifobético de medidas durante a covid-19. Pessoas que foram multadas por comerem gomas na rua… As pessoas podiam estar todas no calçadão na Marginal ao mesmo tempo, mas a praia estava vazia. Coisas assim esquizofrenizantes, que algumas pessoas dizem: “ah, isto é absurdo e contraditório”. Se calhar, algumas dessas medidas foram sem querer, mas algumas que eram aparvalhadas, era de propósito, justamente para “quebrar a espinha” em definitivo.

    As pessoas, na generalidade, aceitaram todas as restrições…

    Quem aceita coisas aparvalhadas, aceita tudo. E, portanto, esse princípio totalitário não é novo. Eu também não sou historiadora, da História das Ditaduras, mas sei o suficiente para saber que isto não foi inédito. Quanto ao facto de haver pessoas informadas, racionais, inteligentes e dotadas de espírito crítico, que aceitaram de uma forma amorfa todas estas medidas, é preciso dizer que algumas aceitaram porque receberam dinheiro. E isto é importante sublinhar, e já é público. Nós sabemos que houve influencers sanitários que fizeram isso. Aceitaram porque, efectivamente, foram subornadas – a palavra é essa. Houve um suborno e há aqui uma história paralela de corrupção e de crime que importa ser levantada. Há bocado, falávamos sobre isso, cláusulas opacas, mentiras… Há aqui esta parte que importa perceber, esta é a primeira camada. Depois, noutra camada: houve pessoas que tiveram uma fala dúplice. O seu discurso público era uma coisa, e depois na reserva da vida privada era outra. Isto encontra-se muito facilmente.

    Voltamos à Psicologia…

    Sim. Por exemplo, algumas experiências na Psicologia, que têm sido muito badaladas por causa da covid-19, são aquelas da pressão de grupo, em que convencemos o grupo grande de pessoas que o segmento de recta A, que é pequenino, é maior do que o B, que é muito maior. É uma coisa básica e concreta, uma experiência clássica da Psicologia Experimental. Mas, as pessoas que acabam por dizer que o pequenino é que é o grande, sabem intimamente qual é o maior e o mais pequeno, apenas dizem o mesmo que os outros para não se chatearem! Porque não estão para enfrentar a pressão de grupo e da autoridade, e querem fazer parte do rebanho. Portanto, esses que tiveram um discurso duplo são outro grupo. E, finalmente, há os que são inteligentes e racionais, mas que ficaram de facto com a amígdala cerebral inflamada [risos]. Há muitas pessoas que, quando activaram essa parte reptiliana do cérebro, embora sejam inteligentes e racionais, não têm uma estrutura de personalidade suficientemente robusta e capaz para aguentar o embate dessa angústia extrema da morte. E que depois de terem embarcado, logo em Março de 2020, nessa nave de loucos do receio de que íamos todos morrer com covid-19, não conseguiram voltar atrás.

    Algumas não terão querido dar o braço a torcer…

    Não conseguiram admitir que estavam erradas. Outras já não conseguiram desengajar dessa profunda angústia de morte. A angústia de morte é uma coisa poderosíssima. Lovecraft, que é um dos meus escritores favoritos, dizia que o medo é a única emoção que importa. Eu dantes discordava um pouco dele, agora começo a dar-lhe razão [risos]. Até mesmo pessoas eruditas sucumbem. Mas, isso para mim também não foi uma novidade, porque eu trabalho com a personalidade. O que é que eu faço todo o dia como psicóloga? E, mesmo na história da humanidade, por exemplo, sabemos que os nazis ouviam Mozart. Portanto, as pessoas podem ter dinheiro, beleza, cultura, erudição, mas se não tiverem uma personalidade, se não tiverem valores, essa hombridade e carácter, acabam por sucumbir. E foi o que nós vimos a acontecer.

    Fotografia: Júlia Oliveira

    Transcrição: Maria Afonso Peixoto

  • Estados Unidos retomam financiamento de cientistas ligados ao laboratório de Wuhan

    Estados Unidos retomam financiamento de cientistas ligados ao laboratório de Wuhan


    Hoje, no 119º episódio de Caramba, ó Galamba, a jornalista Elisabete Tavares comenta o anúncio de que o Governo norte-americano retomou o financiamento da EcoHealth Alliance, uma organização polémica liderada pelo controverso zoologista britânico Peter Daszak, cujas experiências no laboratório de Wuhan foram questionadas devido ao surgimento da pandemia de covid-19. Documentos e e-mails que foram tornados públicos sugerem que a organização conduziu experiências que envolviam a manipulação perigosa de coronavírus para o tornar perigoso para os humanos (gain-of-function). Cientistas têm pedido uma investigação para apurar a eventual responsabilidade da EcoHealth (e do Governo dos Estados Unidos) na origem da covid-19.

    Acesso: LIVRE

    Subscreva o P1 PODCAST para garantir a ampliação do trabalho do PÁGINA UM.


  • Apoiaram as medidas erradas na pandemia. Agora, estão “revoltados” com os lucros recorde da banca…

    Apoiaram as medidas erradas na pandemia. Agora, estão “revoltados” com os lucros recorde da banca…


    Hoje, no 118º episódio de Caramba, ó Galamba, a jornalista Elisabete Tavares comenta a reacção aos lucros recorde da banca, em 2022, por parte de muitos dos que apoiaram as medidas erradas adoptadas na pandemia, em Portugal. Avisos não faltaram acerca das consequências financeiras e económicas da estratégia catastrófica seguida no combate à covid-19, além das consequências nefastas na saúde pública. Agora, muitos dos que apoiaram as medidas estão revoltados. Agora é tarde.

    Acesso: LIVRE

    Subscreva o P1 PODCAST para garantir a ampliação do trabalho do PÁGINA UM.


  • Não OMS, a emergência não acabou. Então, e a chacina da mortalidade em excesso?

    Não OMS, a emergência não acabou. Então, e a chacina da mortalidade em excesso?


    Hoje, no 117º episódio de Caramba, ó Galamba, a jornalista Elisabete Tavares comenta a declaração feita pela Organização Mundial da Saúde do fim da emergência relativamente à covid-19. Mas a emergência não acabou. Aliás, está no pico. É só olhar para o gigantesco registo de mortes em excesso. É só olhar para o facto de, na Europa, só este ano, terem morrido quase nove pessoas por dia devido às vacinas contra a covid-19. E temos ainda de garantir que a desumanização, segregação, censura, violência, atropelo da Ciência e perseguição observadas nesta pandemia nunca mais se volta a repetir.

    Acesso: LIVRE

    Subscreva o P1 PODCAST para garantir a ampliação do trabalho do PÁGINA UM.


  • A “arma” que os portugueses têm para navegar a tormenta do “Cabo Galamba”

    A “arma” que os portugueses têm para navegar a tormenta do “Cabo Galamba”


    Hoje, no 116º episódio de Caramba, ó Galamba, a jornalista Elisabete Tavares fala sobre como os portugueses precisam hoje de esperança. E precisam reflectir sobre como podem usar a sua principal “arma” para ultrapassar o “Cabo Galamba”, e avançar para um futuro em que Portugal tem um papel crucial no progresso da Humanidade e no Mundo.

    Acesso: LIVRE

    Subscreva o P1 PODCAST para garantir a ampliação do trabalho do PÁGINA UM.