Autor: Elisabete Tavares

  • Município das Caldas gasta 145 mil euros para ficar com “espólio” de dois jornais, mas não revela o que comprou

    Município das Caldas gasta 145 mil euros para ficar com “espólio” de dois jornais, mas não revela o que comprou


    A Câmara Municipal das Caldas da Rainha decidiu transferir 145 mil euros a dois jornais “da terra” justificando-o como aquisição de “espólio documental”, mas não são revelados detalhes daquilo que efectivamente adquiriu.

    Em causa estão duas despesas no espaço de um ano, e num período que antecede as eleições autárquicas, que beneficiam dois periódicos locais, a Gazeta das Caldas e o Jornal das Caldas. A autarquia é liderada desde finais de 2021 por Vítor Marques, antigo presidente social-democrata da União de Freguesias das Caldas da Rainha (Nossa Senhora do Pópulo, Coto e São Gregório), mas eleito para a Câmara Municipal como independente. E recandidata-se para as eleições do próximo mês de Outubro, com o apoio do Partido Socialista.

    Close-up view of stacked newspapers tied with twine, ideal for recycling and storage concepts.
    Foto: D.R.

    A primeira despesa do município caldense foi feita em 9 de Setembro do ano passado. A autarquia pagou à dona da Gazeta das Caldas, a Cooperativa Editorial Caldense, o montante de 100.280 euros, excluindo o IVA. Segundo os dados desta aquisição que constam a plataforma de registo de compras públicas, o Portal Base, o objecto do negócio foi a “aquisição de espólio documental – arquivo histórico Gazeta das Caldas”.

    Mas o município não fez nenhum contrato escrito, invocando o artigo 95.º do Código dos Contratos Públicos relativo a “locação ou aquisição de bens móveis ou de serviços”. Assim, não existem detalhes sobre esta aquisição, designadamente que tipo de documentos foram comprados e como foram avaliados. Também se desconhece onde é que a autarquia está a armazenar o “arquivo” comprado à Gazeta das Caldas e o que pretende fazer com ele.

    A segunda despesa foi efectuada no dia deste mês de Setembro e envolveu o pagamento de 44.490 euros à Medioeste com a justificação de se tratar da “aquisição de espólio documental do Jornal das Caldas”. Também neste caso não foi efectuado qualquer contrato escrito e também não existem dados sobre o tipo de documentos que foram adquiridos pela autarquia.

    Foto: D.R. / Museu Bordalo Pinheiro

    A Gazeta das Caldas completa no próximo dia 1 de Outubro o seu centenário. Foi fundado em 1925 e terá um arquivo vasto. Já o Jornal das Caldas foi fundado em 1992. Assim, pelo menos no caso da Gazeta das Caldas, a autarquia poderá ter desejado ficar com alguns documentos históricos em termos da imprensa da região. Mas o quê? Ninguém quer dizer.

    O PÁGINA UM questionou o presidente da Câmara Municipal das Caldas da Rainha sobre o que foi adquirido a estes dois jornais. Também quisemos saber o que a autarquia pretende fazer com os “espólios” adquiridos e onde estão armazenados. Até à publicação desta notícia ainda não recebemos qualquer resposta. Saliente-se que toda a documentação associada a estas aquisições, incluindo lista de bens, sua avaliação monetária e destino, são documentos administrativos, susceptíveis de serem solicitados por qualquer cidadão.

    Segundo António Salvador, proprietário da Medioeste – que, além da Jornal das Caldas, gere o Jornal Mais Oeste e Jornal Região da Nazaré -, a aquisição do espólio documental dos dois jornais do concelho “visam salvaguardar o acervo documental destes, antes que fechem, face à crise do sector, tendo sido iniciativa do outro jornal (Gazeta) junto do município”. Salientou ainda que as despesas foram aprovadas pelo “Executivo por unanimidade e deliberado pela Assembleia Municipal, com três forças políticas na Câmara e quatro na Assembleia Municipal”.

    Foto: D.R.

    Certo é que as verbas pagas pelo município das Caldas aos donos dos dois jornais “da terra” ocorreram no último ano, coincidindo com o período que antecede as próximas eleições autárquicas.

    Para as empresas proprietárias dos dois jornais, o dinheiro veio mesmo a calhar. A Medioeste fechou o ano de 2024 com um prejuízo de 70.260 euros depois de obter receitas de 108 mil euros. Assim, a verba que recebeu este mês da autarquia das Caldas de Rainha corresponde a 41% das receitas totais obtidas no ano passado. A não ser que este ano a Medioeste tenha receitas muito superiores às do ano passado, a empresa terá de registar o município das Caldas da Rainha como “cliente relevante” no Portal da Transparência dos Media, gerido pela Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC).

    Acresce que a Medioeste recebeu, no passado dia 12 de Agosto, a verba de 13.940 euros da mesma autarquia a título de “aquisição de publicidade” no Jornal das Caldas, o que representa mais de 10% do total, devendo também ficar registado no Portal da Transparência dos Media.

    Organized filing cabinets stacked with indexed books in a library setting.
    Foto: D.R.

    No caso da dona da Gazeta das Caldas, ainda não houve registo das contas de 2024 no Portal da Transparência. Porém, em 2023, teve um lucro de 42.831 euros e receitas de 393 mil euros. Se as receitas registadas em 2024 forem da mesma ordem, somando a verba recebida da autarquia das Caldas, significa que o montante do encaixe da venda do “arquivo” da Gazeta das Caldas terá superado os 20% das receitas, o que também obriga a registo na ERC da autarquia como “cliente relevante”.

    Acresce que a autarquia pagou à dona deste jornal, no passado dia 12 de Agosto, o montante de 19.045 euros, para a compra de publicidade na Gazeta das Caldas.

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    Foto: D.R.

    Se não restam dúvidas sobre a importância da preservação de arquivos e acervo documental com valor histórico, também se levantam questões sobre se ónus das facturas a pagar para tapar a crise na imprensa, seja ela regional ou nacional, deve sair do bolso do Zé Povinho, ou seja, dos contribuintes.

    No caso destes dois jornais, a factura paga só no último ano pelos contribuintes para a compra de “espólios” e publicidade foi de 178 mil euros, excluindo o IVA. E se estas dependências do poder local nas contas da imprensa regional não são depois reflectidas num portal gerido pelo regulador sobre a transparência dos financiamentos, resta perguntar para que serve esse portal.

  • Hambúrgueres: como uma ‘gaffe’ arrisca engordar (ainda mais) o Chega

    Hambúrgueres: como uma ‘gaffe’ arrisca engordar (ainda mais) o Chega


    Nos últimos dias, multiplicaram-se as celebrações, os comentários jocosos e os memes virais devido à “gaffe dos hambúrgueres” cometida por André Ventura, presidente do partido Chega.

    Os comentários na imprensa e nas redes sociais foram implacáveis com Ventura, que confundiu o evento Bürgerfest – Festa dos Cidadãos – com uma festival de hambúrgueres. O evento, que se realizou a partir de sexta-feira em Berlim, teve Portugal como país convidado e o presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, marcou presença – graças aos contribuintes que “assumiram” as despesas de deslocação.

    Foto: Chega/ D.R.

    Mas os opositores e críticos de Ventura deitaram os foguetes cedo demais. Abriram prematuramente as garrafas de champanhe, vaticinando o início da queda de popularidade do presidente do Chega — e actual líder da oposição —, que continua em ascensão.

    Aliás, quem se tem rido à custa da gaffe de Ventura está, na realidade a fazer-lhe um enorme favor. Por três motivos.

    Por um lado, os portugueses não parecem apreciar muito os “sabichões”. Aquelas pessoas que corrigem as outras. Que citam trechos de livros. Que sabem tudo. Também não parece serem grandes fãs de malta intelectual, que, mesmo sem querer, dá naturalmente ares de superioridade. A não ser que sejam um pouco freaks — como Marcelo, com as suas selfies, modo peculiar de falar e episódios caricatos.

    person holding burger bun with vegetables and meat
    Foto: D.R.

    Por outro lado, os portugueses parecem ter uma “queda” para os “pobrezinhos”, os injustiçados, os vitimizados, os perseguidos. Os “coitadinhos”. Não é que Ventura seja um coitadinho ou pobrezinho, mas, claramente foi diminuído e escarnecido em público pela cómica gaffe que cometeu.

    Por fim, com esta gaffe, Ventura mostrou ter fraquezas e vulnerabilidades. Mostrou que também comete erros. Enfim, mostrou que é humano. Como todos. E comete erros e gaffes.

    Ventura não é um intelectual. Um sabichão. Um sabe tudo. Ventura é um tipo “normal”. E isso é muito apelativo a quem já o admira. Cria empatia. E é apelativo para quem já cometeu erros e gaffes. Para quem não sabia o que é, afinal, o evento Bürgerfest, na Alemanha. Para quem não pertence ao clube restricto dos “intelectuais” de topo do país.

    Foto: Chega / D.R.

    Ou seja, esta gaffe de Ventura tem o potencial de lhe trazer mais seguidores — e votos — vindos de quem se identifica com ele — enquanto português “normal”.

    No livro ‘The the new psychology of leadership‘, os autores elaboram sobre como líderes de sucesso conseguem criar uma espécie de comunidade — uma ideia de “nós”. Assim, o líder não está acima de ninguém, mas está ao lado, faz parte da comunidade. É um semelhante.

    Num artigo que os mesmos autores publicaram antes, em 2007, sobre este mesmo tópico, referem como essa percepção de identificação e proximidade pode ser passada através da linguagem utilizada pelo líder. E dão um exemplo. Quando houve o atentado às Torres Gémeas, George W. Bush, então presidente dos Estados Unidos, fez um discurso ao país em que prometeu “to hunt down and to find those folks who committed this act“. O uso de expressões como “hunt down” e “folks” aproximou o presidente do norte-americano comum. Este tipo de posicionamento ajudou a reforçar o seu poder político nos primeiros anos na Casa Branca.

    Depois, há todo um histórico de marcas, empresas e políticos que aproveitaram crises, erros, gaffes e até acusações de adversários para se promoverem. Por exemplo, em 2018, uma conhecida cadeia de fastfood transformou a sua marca KFC em FCK, para pedir desculpa aos clientes no Reino Unido e Irlanda, durante uma crise que afectou a empresa — uma mudança de distribuidor levou ao fecho de restaurantes por falta de frango. A empresa não só assumiu o erro como o transformou numa campanha de marketing de sucesso.

    Foto: D.R.

    E vale a pena recordar uma das muitas gaffes de Donald Trump, que se tornou um fenómeno, quando, no seu primeiro mandato na Casa Branca, escreveu um tweet com um erro de escrita: “covfefe”. Trump quereria escrever “coverage”. O que é certo é que a gralha tornou-se um fenómeno viral.

    Desengane-se, pois, quem aposta já numa descida a pique do número de admiradores de Ventura e de militantes do Chega. Esta confusão dos hambúrgueres ainda vai parar a uma tese de mestrado sobre marketing político.

    Resta saber se o Chega ainda vai fazer como fizeram algumas marcas, empresas e até políticos, que aproveitaram erros, deslizes e confusões para aumentar a sua popularidade. Talvez com um Chegafest? Com hambúrgueres, claro.

    Elisabete Tavares é jornalista


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.

  • Onda de desinformação diaboliza Charlie Kirk e glorifica o homicida  como um “jovem anti-fascista”

    Onda de desinformação diaboliza Charlie Kirk e glorifica o homicida como um “jovem anti-fascista”


    Charlie Kirk, o jovem conservador norte-americano de 31 anos que foi assassinado no passado dia 10 de Setembro, promovia debates com estudantes pelo menos desde 2012. Foi assassinado quando participava em mais um evento numa Universidade em que debatia com estudantes. Mas, mesmo depois da sua morte, o jovem continua a ser alvo de uma onda de desinformação em alguma imprensa e nas redes sociais, tanto sobre o seu trabalho como sobre as suas posições.

    Para a generalidade da imprensa, Kirk é retratado como um “radical” de direita, ou mesmo da “extrema-direita”. Já o seu alegado assassino, que se encontra detido, está a ser quase glorificado por utilizadores de redes sociais e até alguns órgãos de comunicação social, incluindo em Portugal, que o descrevem como um “jovem anti-fascista”. Isto apesar de ter assassinado um outro jovem apenas por ter ideias diferentes das suas.

    Charlie Kirk (à esquerda na foto), era um jovem conservador moderado e cristão devoto que promovia o debate de ideias. Casado e pai de dois filhos pequenos, fundou a organização Turning Point USA, que organizava eventos em que Kirk debatia com estudantes com diferentes pontos de vista. Nos debates, Kirk convidava alunos para a troca de ideias usando o ‘slogan‘ “prove me wrong” (prova que estou errado). / Foto: D.R.

    Em Portugal, diversos meios de comunicação social têm mostrado falta de rigor na descrição de Kirk mas também do seu alegado assassino. Por exemplo, numa notícia publicada ontem no Jornal de Notícias, assinada pela jornalista Rita Salcedas (CP 7547) — que tem um número de carteira profissional recente —, o título escolhido foi “Tyler Robinson: o jovem anti-fascista que quis calar o conservador Charlie Kirk”.

    Este título tem gerado polémica e nas redes sociais o jornal não tem sido poupado a críticas. Por exemplo, na rede X, a publicação que publicita a notícia tem apenas 55 ‘gostos’ mas recebeu já 154 comentários. “Este título é simplesmente deplorável”, refere um dos comentários. “Que nojo de artigo… Não é um anti-fascista, é um assassino”, lê-se num outro comentário que tem 133 ‘gostos’.

    A notícia começa por fazer um branqueamento do perfil do suspeito, descrevendo-o como um bom aluno criado numa boa família, omitindo as evidências de que sofreu uma radicalização ideológica e política nos últimos anos, levando ao homicídio. A jornalista aproveita ainda para sublinhar que o alegado assassino é “branco, não é imigrante, não é transgénero”. Num dos subtítulos, descreve o alegado assassino como um “crítico do conservadorismo apregoado por Kirk”, apesar de assumir que o suspeito nem sequer terá votado nas duas últimas eleições no país.

    Notícia do Jornal de Notícias publicada ontem que retrata o alegado assassino de Kirk como um “jovem anti-fascista”, apesar de ter morto um jovem conservador que promovia o debate de ideias. / Foto: Captura de ecrã da página do Jornal de Notícias na Internet.

    Por outro lado, a notícia omite que Kirk era um cristão devoto e que os valores cristãos e a promoção da tolerância eram presença constante nos debates. Também omite que Kirk era casado e pai de dois filhos pequenos, retirando intencionalmente a possibilidade de o leitor sentir empatia com a vítima. Por outro lado, descreve Kirk como um “ultraliberal”, procurando “colar” o jovem conservador a uma direita fundamentalista.

    Outros meios de comunicação optaram por destacar em título que as balas encontradas na arma usada no homicídio continham expressões “anti-fascistas”, passando a ideia aos leitores de que o suspeito pretendeu assassinar Kirk por este ser “fascista”, o que é falso.

    Depois, alguns media chegaram mesmo a procurar atribuir culpas ao próprio Kirk pela sua morte, mencionando que era a favor da Constituição norte-americana que permite o porte de armas. Numa notícia publicada no dia 11 de Setembro, a BBC escreveu que Kirk disse “há alguns meses: vale a pena ter o custo de haver, infelizmente, algumas mortes por armas de fogo todos os anos para que possamos manter a Segunda Emenda”.

    Nesta notícia não assinada por nenhum jornalista, publicada no dia do assassinato de Charlie Kirk, a TSF classificou o jovem cristão e conservador como sendo de “extrema-direita”, o que é falso. / Foto: D.R.

    De resto, na cobertura deste atentado contra o conhecido jovem conservador norte-americano, vários meios de comunicação social têm erradamente classificado Kirk como sendo da “direita radical” e até da “extrema-direita. Por outro lado, alguma imprensa tem também optado por diminuir o trabalho que foi desenvolvido pelo jovem conservador, ao classificá-lo como se fosse um mero “apoiante de Trump” ou um “porta-voz da juventude que apoia Trump”.

    Também comentadores, incluindo em Portugal, têm difamado Charlie Kirk atribuindo-lhe posições que não defendia — em temas como os direitos das mulheres e das pessoas LGBT ao tema do racismo — ou classificando-o como sendo extremista e radical, com alguns quase a querer transparecer a ideia de que o jovem conservador mereceu ter sido assassinado. Alguns comentadores, incluindo jornalistas, ao invés de criticarem claramente o homicídio, também têm aproveitado para lançar a ideia de que este homicídio hediondo vai servir para “alimentar Trump” e a “extrema-direita” — que para estes comentadores são todos os conservadores — nos Estados Unidos.

    De resto, não é só nas notícias que tem havido desinformação sobre Kirk ou enviesamento no tratamento deste homicídio. É frequente encontrar publicações em que, por exemplo, frases de Kirk são usadas fora de contexto. E proliferam acusações difamatórias em relação a Kirk. Por exemplo, o famoso autor Stephen King, que na rede social X tem 6,8 milhões de seguidores, veio pedir desculpa por ter escrito numa publicação que Charlie Kirk “defendia o apedrejamento até à morte de pessoas gay”, o que é totalmente falso.

    O autor Stephen King foi uma das personalidades que difundiu acusações difamatórias falsas sobre Charlie Kirk. Algumas têm-se propagado também na imprensa. / Foto: Foto: Captura de ecrã da publicação rede X

    O autor apagou a publicação onde difundia a mentira e tem vindo a desdobrar-se em pedidos de desculpa sucessivos na rede X.

    Já a popular escritora J.K. Rowling, autora de Harry Potter, que tem 14,4 milhões de seguidores na rede X, fez uma publicação no dia 11 de Setembro contra a violência e em defesa do debate, da democracia e da liberdade de expressão. “Se acredita que a liberdade de expressão é para si, mas não para os seus opositores políticos, você é anti-liberal. Se nenhuma evidência contrária puder mudar as suas crenças, você é um fundamentalista. Se acredita que o Estado deve punir aqueles com opiniões contrárias, você é um totalitário. Se acredita que opositores políticos devem ser punidos com violência ou morte, você é um terrorista.”

    A popular autora de Harry Potter, que também é uma defensora dos direitos das mulheres, escreveu no X em defesa da tolerância, da democracia e da liberdade de expressão. / Foto: Captura de ecrã da publicação rede X

    Além de desinformação, também tem havido quem celebre o homicídio do jovem conservador, com vídeos e publicações nas redes sociais. Em Portugal, um dos que festejou o homicídio foi o argumentista João Quadros que escreveu várias publicações na rede X, uma das quais teve cerca de 500 ‘gostos’.

    Numa das publicações, João Quadros escreveu: “vou buscar uma almofada, preciso de espaço para dormir com este sorriso”.

    Nos Estados Unidos, algumas das pessoas que celebraram a morte de Kirk nas redes sociais foram despedidas, depois de os seus empregadores terem tido conhecimento do que publicaram online. Vários vídeos e publicações com festejos têm vindo a ser apagados.

    Também a empresa Office Depôt fez um comunicado onde anunciou despediu um dos seus funcionários que recusou imprimir um poster para anunciar uma vigília em nome de Kirk. Disse ainda que tinha contacto o cliente para resolver a situação, mas entretanto emergiram publicações na rede X indicando que um concorrente, a FedEx Office, tinha avançado com a impressão do poster gratuitamente.

    Foto: Captura de ecrã de publicações na rede social X

    Contudo, a onda de desinformação sobre Kirk deverá continuar nos media e também nas redes sociais. Para a imprensa, este caso de má conduta surge depois de uma outra polémica envolvendo a cobertura que os media fizeram do homicídio de uma jovem refugiada ucraniana, quando regressava a casa de metro vinda do seu emprego.

    Apesar de ter sido divulgado o vídeo do homicídio, que foi cometido por um criminoso reincidente 14 vezes, os media em geral ignoraram o acontecimento e fizeram um ‘blackout‘, não noticiando o crime. Só quando o vídeo e as críticas aos media se tornaram virais na Internet é que a imprensa começou a noticiar o crime. Por detrás do ‘blackout‘ dos media ao caso terá estado o facto de a jovem assassinada ser branca e o criminoso não.

    A forma como a imprensa em geral cobriu estes dois homicídios tem gerado uma onda de críticas e exposto um sector de media que faz as notícias com carga ideológica e que se afastou dos deveres éticos e de rigor e isenção, que são pilares do Jornalismo.

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    Foto: D.R.

    Nesta altura, há quem questione mesmo como teria sido a cobertura mediática destes dois homicídios se o jovem conservador assassinado fosse antes um democrata ou um devoto muçulmano e se a jovem ucraniana tivesse outro tom de pele.

    Em termos mediáticos, o que transparece destas duas polémicas é que, para alguma imprensa, o tratamento noticioso de acontecimentos tem dois pesos e duas medidas consoante a religião, a cor de pele e a preferência política dos envolvidos. Algo que contraria as boas práticas jornalísticas e, em Portugal, constitui uma violação do Estatuto do Jornalista e do Código Deontológico.

    No caso de Charlie Kirk, a forma como alguma imprensa norte-americana diabolizou o jovem leva que críticos da sua cobertura de Kirk lhe estejam a atribuir uma parte da responsabilidade pelo ódio criado em torno do jovem conservador, que levou a que se tornasse num alvo de um extremista.

  • Manuais digitais: Porto Editora factura quase 40 milhões do Estado em três anos

    Manuais digitais: Porto Editora factura quase 40 milhões do Estado em três anos


    Sem papel, mas com cada vez mais ‘papel’ a escorrer dos cofres públicos. Enquanto em diversos países se começa a repensar o modelo de ensino para regressar às origens, como sucede na Suécia e na Finlândia, em Portugal a adopção de manuais digitais está em incremento. E o vencedor é o do costume: novo ano lectivo, novo Euromilhões nos “bolsos” da Porto Editora.

    A conhecida casa editorial, que sempre teve uma forte presença no livro escolar, detém um quase monopólio no sector dos manuais digitais e só este ano já facturou 11,3 milhões de euros em 71 contratos públicos. Grande partes destes contratos foi por ajuste directo, mas abrangendo tanto licenças de software como material informático,

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    Foto: D.R.

    Mas a factura será porventura maior, à semelhança de anos anteriores, uma vez que alguns contratos adjudicados podem ainda não ser públicos e não constarem do Portal Base, onde ficam registados os contratos feitos por entidades públicas.

    Este ano, o contrato de valor mais elevado foi adjudicado pela Escola Secundária Francisco Franco, no Funchal. O contrato foi assinado no dia 12 de Junho na sequência de um concurso público e custou aos contribuintes o valor de 1.129.313,60 euros.

    Este contrato abrange não só a contratação de licenças de manuais digitais para o ensino secundário, mas também 700 computadores portáteis e respectivas bolsas de protecção para serem entregues aos alunos que irão frequentar o 10.º ano este ano lectivo. O custo por aluno, entre portáteis e licenças, fica em 907,52 euros.

    Para os alunos do 11º ano, o custo unitário, apenas pela aquisição de licenças de manuais digitais, de software e de acesso a uma plataforma de conteúdos educativos sai por 416,64 euros. Para o 12º ano, o valor sobe para 514,54 euros, para o mesmo tipo de produtos.

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    Foto: D.R.

    Mas a editora, controlada e presidida por Rosalia Fernandes Teixeira, ainda deverá facturar mais este ano, à semelhança do que sucedeu em anos anteriores.

    Em 2023, a Porto Editora facturou 12.465.505 euros em 115 contratos públicos. No ano passado, apesar de ter efectuado menos dois contratos — 113 — facturou 15.452.192 euros, segundo uma análise do PÁGINA UM aos contratos publicados no Portal Base.

    No total, nos últimos três anos, a editora obteve receitas de 39,2 milhões de euros na venda de manuais digitais, computadores portáteis e licenças de software a escolas públicas.

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    Foto: D.R.

    O que é certo é que a empresa detém um quase monopólio neste tipo de contratos públicos. Numa breve pesquisa no Portal Base com as palavras “manuais escolares digitais”, todos os contratos que se encontram foram adjudicados à Porto Editora.

    Dos 71 contratos públicos efectuados com a editora este ano, mais de metade — 44 — foram adjudicados por ajuste directo.

    Não se sabe este é um negócio com futuro já que há uma crescente contestação ao uso de manuais escolares digitais e alguns países têm mesmo vindo a recuar na adopção desta ferramenta de ensino.

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    Foto: D.R.

    Até agora, pelo menos nos contratos adjudicados por escolas públicas à Porto Editora, não se observa um recuo na utilização dos manuais digitais, ainda que como complemento aos manuais em papel.

    Por outro lado, já se perspectiva a eventual entrada de inteligência artificial no ensino, e estudantes já recorrem a este tipo de ferramenta, pelo que travar o avanço da digitalização de conteúdos educativos poderá ser um objectivo desafiante. Mas irão sempre ser necessários computadores, pelo que, mesmo que os manuais digitais “vão à vida”, a Porto Editora terá sempre licenças de software e portáteis para vender às escolas públicas.

  • Duas mortes, uma imprensa racista e anti-cristã

    Duas mortes, uma imprensa racista e anti-cristã


    Alterações Mediáticas, podcast da jornalista Elisabete Tavares sobre os estranhos comportamentos e fenómenos que afectam o ‘mundo’ anteriormente conhecido como Jornalismo.

    No 23º episódio, analisa-se a cobertura que a imprensa fez (ou não fez) de dois crimes que resultaram em duas mortes nos Estados Unidos: um jovem conservador e cristão devoto; uma jovem refugiada ucraniana.

    No caso da jovem, que era branca, a imprensa fez um blackout enquanto pôde. Sobre o assassinato do jovem conservador, a imprensa colou-o erradamente à extrema-direita ou tratou de quase justificar a sua morte, optando por destacar apenas algumas das suas posições mais controversas.

    Acesso: LIVRE, mas subscreva o P1 PODCAST com um donativo mensal de 2,99 euros. Ajude o PÁGINA UM a amplificar o seu trabalho.

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  • Agência Nacional de Inovação está a dar os últimos suspiros, mas administração ainda quer almoços com directores de jornais

    Agência Nacional de Inovação está a dar os últimos suspiros, mas administração ainda quer almoços com directores de jornais


    A Agência Nacional de Inovação — cuja polémica fusão com a Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) foi já aprovada em Conselho de Ministros — contratou esta semana uma consultora de comunicação para, entre outros serviços, promover e organizar almoços com directores de órgãos de comunicação social e também com outros jornalistas. Objectivo: dar boa imagem desta entidade e, claro, dos seus administradores com vista a uma eventual condução para a liderança da nova estrutura: a Agência para a Investigação e Inovação (AI2).

    O contrato, que tem um custo de 70.110 euros para os contribuintes, foi assinado na passada segunda-feira e adjudicado à empresa Llorente & Cuenca Portugal, tendo um prazo de duração de 12 meses.

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    Foto: D.R.

    Isto apesar de a ANI estar prestes a ser extinta para se fundir com a FCT, conforme já estabelecido pelo Governo em Conselho de Ministros do passado dia 5, que aprovou o diploma que cria a nova agência, apesar da forte contestação de investigadores. Actualmente, uma petição dinamizada por diversos investigadores conta já com mais de 1.500 assinaturas.

    Ainda assim, três dias depois, a ANI assinou o contrato com a consultora num procedimento que foi feito sem a realização de concurso, tendo sido antes efectuada uma consulta prévia. A ANI justificou a opção por esta modalidade de contratação com o facto de o Código dos Contratos Públicos permitir que seja feita apenas uma “consulta prévia, com convite a pelo menos três entidades, quando o valor do contrato seja inferior a 75.000 euros”.

    O objecto do contrato é, formalmente, a “aquisição de serviços de consultoria para assessoria de comunicação; serviços de consultoria em matéria de relações públicas”. E a ANI justificou a contratação da consultora de comunicação com o facto de ter diferentes projectos em curso e ter a “necessidade de apoio especializado” na assessoria de comunicação.

    A decisão de contratação da consultora de comunicação foi aprovada no dia 20 de Agosto pelo presidente da ANI, António Grilo. / Foto: D.R.

    Apesar de a ANI estar à beira da extinção, segundo o caderno de encargos consultado pelo PÁGINA UM tudo aparenta que a entidade está para durar. Entre os serviços a prestar pela consultora, está a “apresentação de uma estratégia global de comunicação, com enfoque na estratégia junto dos meios de comunicação social, gestão de crise com meios de comunicação e stakeholders, nomeadamente, Governo, tutelas e entidades congéneres, estratégia de produção de conteúdos para o site institucional e redes sociais”.

    Mas a ANI também quer ter reuniões privadas com jornalistas. Assim, exige aos consultores, a quem pagará mais de 70 mil euros ao longo de 12 meses, a “organização de encontros ‘one to one‘ [privados] com jornalistas, através, por exemplo, da promoção e organização de almoços entre o conselho de administração ou a responsável de comunicação com a direção dos órgãos de comunicação social e/ou jornalistas”.

    Sendo habitual a prática de empresas e organismos públicos reunirem em privado com jornalistas para melhor ‘venderem o seu peixe’ e encontrar aliados nas redacções, cabe salientar que, no caso de almoços promovidos por entidades do Estado, a factura será sempre paga pelos contribuintes. Além disso, mostra-se polémico que seja uma consultora a fazer ‘lobby’ com dinheiros públicos para que administradores de uma entidade pública apareçam na imprensa.

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    Foto: D.R.

    Além dos almoços, a ANI exige ainda no caderno de encargos que a consultora de comunicação consiga que sejam publicadas três notícias por mês sobre a agência ou os seus projectos nos maiores órgãos de comunicação social a nível nacional, designadamente na SIC, na RTP, no Expresso e no Público. Curiosamente, exclui todos os órgãos de comunicação social da Medialivre, como o Correio da Manhã, a CMTV e a Now. Em todo o caso, a ANI deixa em aberto a possibilidade de a consultora de comunicação conseguir publicar notícias sobre a ANI em outros media de referência. O PÁGINA UM assumirá, desde já, que não publica notícias favoráveis a uma entidade intermediada por uma agência de comunicação.

    A Llorente & Cuenca Portugal foi também contratada para fazer a “gestão da reputação da entidade adjudicante, assim como dos membros que compõem o conselho de administração”, o qual é composto pelo presidente da ANI, António Grilo, Alexandra Vilela e Sílvia Garcia, como vogais executivas, bem como Madalena Alves, presidente da FCT, e José Pulido Valente, presidente do IAPMEI, como vogais não executivos.

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    Foto: D.R.

    Mesmo assim, a ANI pode argumentar que o contrato com esta consultora de comunicação foi uma “pechincha” já que ficou abaixo do preço máximo fixado de 74.500 euros.

    Recorde-se que a ANI, que agora será integrada num novo organismo que juntará a FCT, levou a cabo há poucos meses uma sui generis acção de ‘team building‘. O evento, que teve lugar no dia 28 de Maio, custou 22.890 euros e envolveu a contratação de um touro mecânico. Os quadros da ANI foram ainda brindados com uma tábua de queijos, bar aberto com DJ e uma prova de vinhos.

    Nota:

    Notícia actualizada no dia 11 de Setembro, às 14H48, para corrigir o nome do presidente do IAPMEI e vogal não executivo da ANI. Por lapso, foi mencionado o nome de Luís Guerreiro, o qual deixou a presidência do IAPMEI no final de Setembro de 2024. A Luís Guerreiro e aos nossos leitores, apresentamos o nosso pedido de desculpas.

  • Não, Moedas não é responsável pela tragédia no Elevador da Glória

    Não, Moedas não é responsável pela tragédia no Elevador da Glória


    Quando ocorrem tragédias, há, infelizmente, logo quem delas se quer aproveitar. Foi assim também com o acidente trágico que ceifou 16 vidas depois de, aparentemente, se ter partido um cabo no mítico Elevador da Glória, em Lisboa. Um cabo que prendia os passageiros à vida.

    Nos media e nas redes sociais, foi um desfile de figuras, oportunistas, a por as garras de fora e a tirar proveito do luto e do choque. A principal vítima destes ataques tem sido o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas.

    Yellow tram ascends a steep cobblestone street.
    Foto: D.R.

    Não vou citar um a um porque são muitos e porque não lhes quero dar mais palco. Mas colheram aplausos, ‘likes‘, partilhas nas redes sociais. As hienas puseram-se em campo: políticos; adversários de Moedas e do Governo; comentadores das TVs. Enfim, os do costume. Tudo lhes serve para reforçar a fama, a qual está indexada ao que depois recebem para ir a programas de variedades — que é como classifico os actuais painéis de comentadores televisivos e das rádios.

    Os factos pouco interessam a esta gente. O que interessa é ‘malhar’ no Moedas. É vender ideologias, berrar acusações absurdas. Uns aproveitam para vender as “benesses” e os “milagres” proporcionados pelos sindicatos, e que se “estes tivessem mais poder nada disto acontecia” — uma enorme tolice. (Servem hoje, sobretudo, para manter intacto um mercado de trabalho obsoleto, em que a maioria dos trabalhadores sobrevive com migalhas, num regime democrático corrompido). Outros aproveitaram para “puxar a brasa à sua sardinha” a tempo das eleições autárquicas. Outros opinam porque sim. Os factos? Isso é chato. Não interessa.

    Mas há, pelo menos, 16 razões para atender aos factos. As vítimas mortais merecem o apuramento dos factos. E também os feridos do acidente merecem o apuramento de todos os factos. E de todas as responsabilidades. Técnicas e de gestão.

    Carlos Moedas, com a ministra do Ambiente e o presidente da Carris, no anúncio da formalização da candidatura da empresa para o fornecimento de 15 elétricos, em 28 de Junho de 2024.
    / Foto: CML/ D.R.

    É já evidente que o acidente não ocorreu, assim, do nada. Do que se sabe até agora, terá ocorrido na sequência de uma série de acontecimentos que criaram a “tempestade perfeita” para uma tragédia.

    O acidente terá tido origem em eventos que tiveram início há, pelo menos, três anos, quando a Carris lançou um concurso público para a manutenção dos centenários ascensores.

    No concurso lançado em 2022, concorreram quatro empresas: três sem o obrigatório alvará da Direcção-Geral da Energia e da Geologia (DGEG) e uma empresa muito experiente e com licença. Uma das empresas sem alvará e sem experiência na manutenção de ascensores era a MNTC – Serviços Técnicos de Engenharia.

    Nesse concurso, o preço era de 1.728.000 euros. A MNTC ganhou com uma proposta que esmagou esse preço. O contrato acabou por lhe ser adjudicado por 995.515,20 euros.

    Foto: D.R.

    Além do preço, o que é chocante é ver que o caderno de encargos desse concurso é paupérrimo em termos de exigências e requisitos para a prestação da manutenção.

    O que se seguiu foi uma catadupa de acontecimentos que resultaram no trágico desfecho.

    Como é que a Carris colocou nas mãos de uma empresa sem experiência e com alvará com poucas semanas a manutenção dos ascensores? Sabemos o porquê: poupar nos custos.

    Quem tomou a decisão de adjudicação deste contrato, em 2022, pode enfrentar acusações criminais. Os nomes que constam do contrato são dois: Pedro Gonçalo de Brito Aleixo Bogas, presidente da Carris; e Maria de Albuquerque Rodrigues da Silva Lopes Duarte, vice-presidente da empresa. O conselho de administração da Carris tem ainda outra vogal executiva: Ana Cristina Coelho.

    Pedro Bogas, presidente da Carris. / Foto: D.R.

    Entretanto, este ano, a Carris cancelou um concurso público para a manutenção dos ascensores. No dia do acidente, não havia nenhum contrato válido e eficaz publicado no Portal Base referente à manutenção daqueles elevadores. O anterior contrato conhecido, com a MNTC, tinha terminado a 31 de Agosto.

    Pressionada, a Carris mostrou então aos jornalistas uma minuta de um contrato, alegadamente adjudicado por ajuste directo à mesma empresa, MNTC, com data de 20 de Agosto. A Carris tem mantido a narrativa de que o contrato foi mesmo assinado a 20 de Agosto, mas sem assinaturas digitais, vale a palavra dos gestores da Carris. (Resta saber se terá algum valor para as seguradoras e o Ministério Público.)

    Será que a tragédia poderia ter sido evitada se, em 2022, a Carris tivesse entregado a manutenção dos elevadores a uma empresa experiente? Será que teria sido evitada se, no passado mês de Agosto, a Carris tivesse entregado a manutenção a uma empresa com mais experiência? Será que a nova empresa teria conseguido detectar, no dia 1 ou 2 de Agosto, que o cabo dos ascensores da Glória não se encontrava em condições? Jamais saberemos.

    O que sabemos é que a manutenção dos ascensores foi deficiente. Falhou. Foi negligente. Foi uma brincadeira. Isso é evidente. Se tivesse sido bem feita, não teria havido esta tragédia.

    Foto: D.R.

    O que sabemos é que uma empresa, a Carris, para poupar nos custos, entregou a manutenção dos emblemáticos elevadores nas mãos de uma empresa que fazia sobretudo contratos de manutenção de piscinas públicas.

    O que sabemos é que a empresa de manutenção MNTC não tinha experiência. E nunca deveria ter postos os pés na Calçada da Glória para ali prestar serviços à Carris.

    O que sabemos é que as 16 vidas perdidas no acidente tiveram um preço: 732.484,80 euros. É o valor da “poupança” que a Carris teve em 2022, quando decidiu adjudicar o contrato de manutenção à MNTC.

    732.484,80 euros. Foi por este valor que se perderam 16 preciosas vidas. Foi por este valor que os gestores da Carris meteram as suas responsabilidades debaixo do tapete e entregaram a vida dos passageiros dos ascensores nas mãos da sorte.

    a hand with a finger pointing at a red and white dice
    Foto: D.R.

    Desde o dia 1 de Agosto de 2022, quando a MNTC começou a fazer a manutenção dos elevadores da Carris, os passageiros arriscaram cada vez que subiram os degraus para andar nos ascensores. Nos últimos três anos, a Carris fez os passageiros dos elevadores jogar uma espécie de roleta russa, sem que nenhum suspeitasse que aquela viagem poderia ser a última na vida.

    Agora, é preciso atender aos factos e apurar responsabilidades. Tudo parece apontar para a existência de negligência, menosprezo pelas regras de segurança e de cuidados com a manutenção do elevador da Glória.

    É certo que num país “preso por fios”, onde o bem público é muitas vezes gerido como bem privado de alguns, só surpreende que não haja mais tragédias.

    Mas querer usar esta tragédia para promover ideologias, reforçar a fama de comentador ou ganhar votos nas eleições é simplesmente nojento — e raramente uso esta palavra.

    Foto: D.R.

    Os factos já conhecidos são claros. Concretos. Querer culpar Moedas não só não faz sentido, como é estúpido. É fechar os olhos a dos maiores males que corrói o país: a eterna desresponsabilização efectiva.

    Alguém tomou decisões de gestão. Alguém fez um trabalho deficiente. Alguém foi negligente. Alguém matou 16 passageiros que apenas queriam subir a Calçada da Glória no histórico Elevador da Glória (não se excluindo que entre as vítimas haja pessoas que circulavam no passeio). Isto é indiscutível.

    Esta tragédia precisa servir para alguma coisa. Pode servir para se corrigir alguns grandes males do país. E garanto que tudo mudará, em Portugal, se houver, desta vez, pelo menos uma coisa que nunca há: Justiça. Célere.

    Elisabete Tavares é jornalista


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.

  • Jornalismo: entre o abismo e a (necessária) revolução

    Jornalismo: entre o abismo e a (necessária) revolução


    Num mundo em revolução, com o advento da inteligência artificial e a evolução da Internet, é absurdo — e negligente — pensar-se que é viável manter a lógica de os meios de comunicação social terem estruturas rígidas, com custos enormes, acumulando passivos insanos e até dívidas ao Estado.

    O Jornalismo tem sido a principal vítima desta ilusão. E, claro, os jornalistas.

    Tantos jornalistas bons que conheço que já abandonaram a profissão porque o sector os… abandonou.

    a close up of an old fashioned typewriter
    Foto: D.R.

    Neste mundo em mudança, ousar criar meios de comunicação social com um modelo de negócios inovador é algo disruptivo e enfrenta resistência. Foi também o que sucedeu com a economia blockchain. Mas é absolutamente necessário.

    A ideia de empregos fixos, bem pagos, com benefícios. A ideia de directores pagos a peso de ouro, com carro novo e despesas extra. A ideia de departamentos comerciais que entram pelas redacções e “arrastam” directores e jornalistas para podcasts, conferências, talks, parcerias … A ideia de meios de comunicação social que fazem tudo, vão a todas. Tudo isto está… obsoleto. 

    Pensar em meios de comunicação social com uma filosofia colaborativa, que envolve os investidores/empresários, os jornalistas, e leitores. Pensar em meios de comunicação social modernos, ajustados a este mundo em revolução, em que a informação deixou de ser centralizada e passou a ser descentralizada. Isto, sim, faz sentido.

    a white mailbox with a bunch of books in it

    O verdadeiro “power to the people” está aí, mas traz riscos. O Jornalismo é, não só, viável neste novo ecossistema, como é essencial. Pode ser uma peça-chave nesta revolução global. Mas só se largar os vícios e os grilhões que o prendem. Só se aceitar passar por uma revolução. E isso envolve quebrar barreiras culturais e de mentalidade sobre o mercado de trabalho e estruturas de funcionamento das empresas no sector dos media. E recentrar no essencial: levar informação de valor aos leitores, telespectadores ou ouvintes.

    À escala de Portugal, é isso que o PÁGINA UM tem vindo a fazer. A testar um modelo colaborativo em que os leitores também são participantes activos. Há aqui uma responsabilização de todos os chamados “stakeholders“. Incluindo os jornalistas e outros profissionais.

    person holding black iPad

    Há quem diga que isto é utopia. Mas isto é já a realidade. Só alguns ainda não perceberam que a revolução chegou e o modo antigo de funcionar já está obsoleto.

    E, convenhamos, não era positivo. Nem para a gestão carreira/família dos profissionais, nem para o Jornalismo. Nem para o Estado, que é credor de empresas de media. Nem para os jornalistas com salários em atraso ou que foram parar ao desemprego.

    O futuro disruptivo traz riscos, mas também oportunidades para, no sector dos media, haver maior eficiência, maior justiça nas remunerações dos vários profissionais e mais tempo, mais alegria, tanto na forma de viver a vida, como a carreira. E mais alegria e propósito na forma de gerir negócios. 

    Two people shake hands, possibly a deal.

    Propósito é a palavra. Surfar o mundo em revolução com propósito. No caso do Jornalismo isso é crucial. Pois chegou o tempo de realmente respirar e valorizar o Jornalismo, a sua autenticidade e absoluta necessidade de independência de poderes políticos e económicos.

    Só assim o Jornalismo vai, não apenas sobreviver à revolução, mas prosperar e contribuir para a construção de um mundo totalmente novo, que pode ter na cooperação e na solidariedade dois pilares fundamentais.

    Adenda:

    Publicado ontem no Diário de Notícias, este artigo do Filipe Alves contém afirmações falsas graves e passíveis de levarem a vários processos judiciais contra o seu autor e as publicações que o divulgaram.

    Como o Filipe Alves sabe e finge não saber, o jornal PÁGINA UM tem um modelo de negócios assente num modelo colaborativo e solidário, com os custos indexados às receitas.

    Os jornalistas e outros profissionais que decidiram colaborar com o jornal já trabalhavam por conta própria antes de decidirem apoiar o jornal.

    O modelo de negócios está condicionado às receitas. Se houver mais receitas, é possível ter mais colaboradores e trabalhos jornalísticos ou de cultura, como crónicas, e opinião, entrevistas, etc.

    O PÁGINA UM é um jornal de acesso livre para que mesmo quem não tem meios possa aceder aos artigos.

    O jornal adoptou o conceito willingness to pay, no qual os leitores podem subscrever o jornal voluntariamente, ou contribuir com donativos cujas regras estão fixadas desde o dia 1 de vida do jornal.

    A maravilhosa redacção física do jornal, com um custo fixo da ordem dos 1000 euros mensais, permite aos colaboradores ter um espaço onde é possível fazer entrevistas e podcasts e, no futuro, ter novos colaboradores ali a trabalhar, quando as receitas o permitirem.

    O jornal tem como pilares: não contrair dívida; não ter apoios do Estado ou instituições e grupos económicos; não ter prejuízo.

    Assim, obviamente que a sua estrutura tem de ser flexível e assente na parceria, cooperação e colaboração. Quem colabora com o PÁGINA UM fá-lo porque sabe quão importante o jornal é para o Jornalismo em Portugal. E como a sua existência é, não só, importante como crucial.

    O Filipe Alves sabe tudo isto. Ainda assim, publica mentiras e insiste em fazer acusações difamatórias e graves.

    Entendo que para Filipe Alves, haver jornais com uma estrutura flexível, com os custos ajustados às receitas e o foco na qualidade jornalística, seja algo estranho.

    Mas os tempos exigem inovação e um regresso da qualidade e isenção total no Jornalismo. E as coisas ainda vão mudar muito mais daqui em diante com o avanço tecnológico e a IA.

    Concluo, lamentando que o Diário de Notícias esteja a ser instrumentalizado para publicar notícias falsas e artigos com desinformação evidente.

    Mas isso também mostra quais são as prioridades do seu director e os motivos da crónica crise do jornal.

    Para se vingar de uma notícia verdadeira sobre as contas da empresa que o emprega, avançou com um ataque vingativo com falsas acusações. É agora evidente que Filipe Alves não está a defender o melhor interesse do Diário de Notícias. Nem da imprensa.

  • Director de jornal? Só se tiver salário chorudo e um ‘topo de gama’

    Director de jornal? Só se tiver salário chorudo e um ‘topo de gama’


    Só em Portugal se critica um empreendedor, um jornalista, que funda um jornal e abdica de salário, enquanto director, para permitir que o projecto arranque e cresça.

    Mas, pelos vistos, o jornal PÁGINA UM é tão incómodo para alguns directores de outros jornais que se tenta tudo para procurar denegrir o jornal (mais uma vez…). Até inventar. Foi o que fez o director do Diário de Notícias (DN), Filipe Alves.

    signage displaying open
    Foto: D.R.

    Se o director do PÁGINA UM, Pedro Almeida Vieira, tivesse derretido dinheiro do jornal num carro novo ou estivesse a ganhar um bom salário, se tivesse feito um mega empréstimo bancário, ninguém o atacaria.

    O Pedro Almeida Vieira é uma ameaça à forma como se tem gerido a comunicação social em Portugal. As mordomias. Os desperdícios. O desinvestimento nos jornalistas a troco de comentadores amigos e afins.

    No PÁGINA UM, pode não haver os salários bons de muitos directores de jornais em Portugal. Nem cartões de crédito e carros de topo para directores. Mas há um espírito de coragem, de cooperação, de luta, de companheirismo, de colaboração, de profissionalismo. De ambição e de partilha. De responsabilidade. De amizade. De comunidade. De investimento pessoal e profissional.

    person in red sweater holding babys hand
    Foto: D.R.

    É um jornal que é verdadeiramente dos leitores. Só vive dos donativos e subscrições de leitores. Do barbeiro ao juiz. Da enfermeira ao motorista de autocarro. Do professor da Primária ao professor universitário. De jornalistas e fotógrafos.

    Talvez o maior incómodo para muitos, seja o facto de, no PÁGINA UM, ainda se acreditar que é possível e viável fazer Jornalismo isento e rigoroso. Fazer Jornalismo sem depender do departamento comercial, aquele que trata dos “projectos especiais”, das “conferências”, dos “podcasts”… cheios de marcas e representantes de empresas e de entidades públicas a vender o seu peixe. E que atropela a lei que proteje a imprensa de atropelos.

    white printer paper on green typewriter

    Numa era em que o negócio da comunicação social olha o abismo, lutar por um projecto de Jornalismo independente é uma luz. E é isso que o PÁGINA UM é: uma luz brilhante.

    Que seja uma luz que continue a iluminar o caminho, nestes tempos nebulosos em que a comunicação social vive mergulhada.

    Adenda:

    Sendo honesto, o director do Diário de Notícias, Filipe Alves, teria de ter sublinhado, nas suas notícias e publicações sobre o PÁGINA UM, que Pedro Almeida Vieira ganhou, como autor, … 6.000 euros … em 22 meses. São 273 euros por mês. Mas não. Preferiu deixar no ar a ideia da existência de ilegalidades ou de esquemas para fugir ao fisco, o que obviamente é falso e difamatório. É Lamentável.

    Na realidade, o que o director do PÁGINA UM tem feito é investido no jornal que fundou e que é de acesso livre, para que todos possam aceder a informação mesmo que não tenham meios financeiros.

    Pedro Almeida Vieira tem feito sacrifícios para o jornal crescer, mediante um modelo de negócios que assenta numa filosofia colaborativa e solidária, em que os leitores são chamados a cooperar. Também jornalistas e outros profissionais colaboram com o PÁGINA UM, por acreditarem na importância do jornal e no seu contributo para o futuro do Jornalismo.

    Mas tudo isto, o director do DN, intencionalmente omitiu.

    Elisabete Tavares, Jornalista


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.

  • Comunicação social: Depois da catástrofe dos fogos, Governo ‘despeja’ 725 mil euros em publicidade

    Comunicação social: Depois da catástrofe dos fogos, Governo ‘despeja’ 725 mil euros em publicidade

    Uma campanha publicitária de prevenção de incêndios rurais, que foi aprovada pelo Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) no mês de Maio, só agora viu a luz do dia. Foi assinado ontem o contrato que pode já não vir a tempo de prevenir alguns grandes incêndios, mas, que vem mesmo a calhar para empresas de comunicação social, sedentas de receitas.

    Em causa está uma verba de 589.900 euros, (ou 725.577, com IVA) que sai dos cofres do ICNF e vai direitinha para a comunicação social para a “difusão de publicidade institucional, no âmbito da campanha de sensibilização para a redução dos incêndios rurais”. Trata-se de uma campanha publicitária que arranca com dois meses de atraso, face ao previsto. Isto numa altura em que há uma forte pressão mediática em relação aos incêndios rurais, dado o acumular de tragédias e a grande dimensão da área ardida este ano.

    looking up at a tall tree with no leaves
    Foto: D.R.

    O contrato foi adjudicado à empresa Nova Expressão, através de concurso público — sem ser divulgado se houve mais concorrentes. A decisão de adjudicação foi tomada pelo ICNF no dia 4 de Agosto e, segundo as condições do procedimento, o contrato entrou em vigor no 11º dia após aquela data, ou seja, no dia 19 deste mês. Isto apesar de o contrato só ter sido assinado ontem, segundo a data que consta na plataforma de registo de contratos públicos, o Portal Base.

    O contrato vai vigorar durante cinco meses “não devendo a respectiva vigência estender-se para além de 31/12/2025, incluindo eventuais prorrogações dos prazos de execução contratualmente previstas”.

    Os principais beneficiários desta “chuva” de anúncios — e de receita — serão os canais de televisão generalista de âmbito nacional, os quais irão arrecadar entre 59% e 61% dos anúncios, de acordo com o caderno de encargos consultado pelo PÁGINA UM. “A difusão da campanha [a nível nacional] deve utilizar preferencialmente os canais ‘free-to-air’ (FTA) RTP 1, SIC e TVI,
    atingindo, no mínimo, 85,00 % da população-alvo”, refere o documento.

    O contrato do ICNF de distribuição de publicidade pela comunicação social foi assinado no mesmo dia em que a ministra do Ambiente e da Energia, Maria da Graça Carvalho, visitou as áreas protegidas da Serra do Açor afetadas por incêndios rurais. Fizeram parte da comitiva ministerial Nuno Sequeira, vogal do conselho diretivo do ICNF , e Paulo Farinha Luís, diretor regional da Conservação da Natureza e das Florestas do Centro. / Foto: ICNF

    Mas o ICNF admite que “podem ser utilizados outros canais de televisão, de abrangência nacional, desde que não seja prejudicada a performance pretendida”.

    A comunicação social regional e local também vai receber entre 39% e 41% do ‘bolo’ que vai ser distribuído nesta receita publicitária, designadamente rádios e imprensa. Aqui enquadram-se estações de rádio de grandes grupos de media. “A difusão da campanha [em rádios regionais] deverá considerar as seguintes estações: Rádio M80 e Rádio TSF, com um mínimo de 200 spots em cada uma”, diz o mesmo documento.

    Serão ainda beneficiadas “pelo menos, 30 estações a nível local” e “um mínimo de 40 jornais regionais e ou locais”, com o foco nos que cobrem os concelhos e freguesias de risco prioritário em matéria de fogos.

    Foto: ICNF

    Esta campanha de prevenção de incêndios estava prevista ser feita em três fases, sendo que a primeira, dedicada ao tema das “queimadas”, deveria ter tido início 15 de Junho e terminado a 24 de Junho, de acordo com o caderno de encargos.

    A segunda fase da campanha, sobre o tema “fogos de artifício, churrascos e beatas”, deveria ter arrancado a 25 de Junho e prolongar-se até 23 de Setembro. Por fim, a terceira fase da campanha, dedicada ao tema das “máquinas” tinha data marcada de início para 24 de Setembro e iria terminar a 31 de Outubro. Contudo, o próprio caderno de encargos já previa que pudesse vir a haver um ajustamento das datas das três fases, dependendo da data de adjudicação.

    A “chuva” de anúncios milionária que vai cair no “colo” de alguma comunicação social nacional surge depois de Portugal registar o pior incêndio rural de sempre — em Arganil — e quando a área ardida do país está em níveis recorde da última década.

    a piece of wood that has been burned
    Foto: D.R.

    Segundo dados provisórios do Sistema de Gestão de Informação de Incêndios Florestais, até hoje, 27 de Agosto, a área ardida em espaços rurais atingiu os 251.131 hectares, com o registo de 6.939 ocorrências. O ano de 2025 é, assim, o pior da década em matéria de incêndios rurais.

    Esta distribuição de verbas pelos media, sobretudo pelos três grandes canais de televisão, surge quando os fogos ocupam quase diariamente a abertura dos telejornais, com imagens de tragédias e desolação, com serras, casas e campos pintados de negro ou ainda em chamas.

    Anúncio de sensibilização do ICNF divulgado na sua página no Facebook. / Foto: ICNF

    Mas, se é certo que a campanha de prevenção de incêndios rurais do ICNF começa tarde, não começa a más horas. Pelo menos para as empresas de media que vão ter receita extra graças a esta oportuna campanha do ICNF.

    O PÁGINA UM contactou o presidente do ICNF, Nuno Banza, que remeteu esclarecimentos para o departamento de imprensa daquele organismo. Até à hora de publicação desta notícia, ainda não foi possível obter um comentário do ICNF sobre este contrato publicitário.