Autor: Elisabete Tavares

  • ‘Se forem embora os turistas, é o colapso da Economia portuguesa’

    ‘Se forem embora os turistas, é o colapso da Economia portuguesa’

    João Duque, presidente do ISEG-Instituto Superior de Economia e Gestão, fala com paixão da ‘sua’ escola, que tem raízes históricas, e do ensino. Nesta entrevista, que decorreu na sede do PÁGINA UM, o professor catedrático de Finanças, de 63 anos, falou sobre os projectos do ISEG e de como a escola é cada vez mais internacional, mas portuguesa, com uma cultura que promove a diversidade de ideias e o debate. Sobre a economia portuguesa, sublinhou os perigos de um modelo económico assente no turismo e no trabalho não qualificado e mal remunerado. Na política, deu um ‘Bom -‘ aos seis meses de governação de Luís Montenegro, até porque, com António Costa, sentia que o país “estava a morrer em lume brando”. João Duque alertou que a demografia é o maior risco e desafio que Portugal enfrenta e que o país deve criar incentivos para atrair imigrantes qualificados e também jovens. Um europeísta convicto, defendeu que, na União Europeia, Portugal deve ter uma voz activa e não ser subserviente e apontou que o perigo são os burocratas com poder, mas não eleitos.



    O turismo é como oxigénio para a Economia portuguesa, mas está a dar sinais de fadiga. Por isso, João Duque, presidente do Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG), recomenda que o Governo crie um novo modelo, com uma economia “assente no conhecimento e no investimento”.

    Nesta entrevista, que decorreu na sede do PÁGINA UM, em Lisboa, o professor catedrático de Finanças defendeu ainda a criação de incentivos para o país conseguir atrair imigrantes qualificados e também jovens, já que a demografia, com o progressivo envelhecimento da população, é o principal desafio que Portugal enfrenta. E aguarda para ver se o primeiro-ministro, Luís Montenegro, vai concretizar a ideia pré-eleitoral de o país vir a pagar a jovens para virem para Portugal estudar, o que poderia ter impacto no modelo de financiamento das universidades, fazendo uma “diferença colossal”, pela positiva.

    Na política, deu nota positiva aos seis meses de governação da AD, mas deixou avisos. “Temos crescido muito com o turismo e estamos a chegar àquele nível de mudar da simpatia para a antipatia e é perigoso. Se forem embora os turistas, é o colapso da Economia portuguesa”, disse João Duque. Defendeu que “o plano é manter o turismo e estimular e fazer crescer outros sectores” de valor acrescentado.

    João Duque, presidente do ISEG desde 2022. O professor catedrático de Finanças já tinha presidido ao ISEG entre 2009 e 2014. (Foto: D.R./ISEG)

    Crítico do Governo de António Costa, João Duque defendeu o diálogo entre o PS e a AD, como a melhor opção para o futuro do país. “Com António Costa, sentia-me como um caracol, a morrer em lume brando”, afirmou. Na actual conjuntura, considera que o Governo “ainda anda a aprender a dançar com o PS e Pedro Nuno Santos”. “Isto é um tango e ainda não se encontraram”, disse.

    Também lamentou que os políticos mudem assim que “chegam ao Terreiro do Paço” e que deviam ter como missão servir o país e não os partidos. “É a questão do poder”, afirmou.

    Como europeísta convicto, não deixa de apontar alguns perigos que existem na União Europeia, com destaque para os burocratas com poder e não eleitos, os quais precisam ser escrutinados e contrariados pelos políticos que receberam os votos dos europeus. Também avisou que pode haver, no futuro, uma ruptura cultural, se a entrada de imigrantes de culturas diversas se descontrolar.

    Mas os seus olhos brilham é quando fala da família e também do ‘seu’ ISEG, que classifica de escola internacional, mas portuguesa. “É preciso saber que, quando se entra no ISEG, há uma sardinha em cima de uma fatia de pão para comer; não são hambúrgueres”, afirmou. A escola tem, actualmente, cerca de 5400 alunos de 40 nacionalidades diferentes.

    João Duque, fotografado no PÁGINA UM.

    Lembrou que metade do financiamento do ISEG vem dos cofres públicos e que a escola vai continuar a ensinar em português. Fundado oficialmente em 1911, recordou que o ISEG tem raízes históricas, que remontam ao Instituto do Comércio criado por Marquês de Pombal, em meados do século XVIII.

    A escola, que já é reconhecida internacionalmente, acaba obter a acreditação das grandes associações de internacionalização, o chamado ‘triple crown‘, e também aderiu, recentemente, à rede internacional de ‘business schools’ Hermes.

    Nesta entrevista, João Duque fala de alguns dos projectos do ISEG, como o projecto de apoio, com bolsas, a novos alunos. Em 2023, foram 80 os alunos que beneficiaram desse apoio. E, numa época em que a ‘moda’ é a cultura de cancelamento e a defesa do ‘pensamento único’ em muitas áreas, João Duque salientou que no ISEG se promove a diversidade de pensamento e o debate de ideias, afastando dogmatismos.


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  • ‘Há um certo preconceito pelo activismo ambiental’

    ‘Há um certo preconceito pelo activismo ambiental’

    Rebeca Mateus, membro da direcção da organização ambientalista Associação Dunas Livres, não tem dúvidas de que as autoridades, autarcas e a Justiça têm falhado no seu dever de proteger o ambiente e o bem-estar das populações, face ao avanço agressivo de projectos turísticos e imobiliários de luxo na costa que vai de Melides a Tróia. Nesta entrevista ao PÁGINA UM, a bióloga faz um balanço da actividade da Associação, que entretanto se juntou a outras 10 organizações de defesa do ambiente na Plataforma Dunas Livres. Além de elencar as principais ameaças ambientais na região, alertou que está a ser feito um ‘greenwashing’ em muitos dos projectos turísticos e imobiliários em andamento naquela zona costeira. Apesar das adversidades, Rebeca Mateus garantiu que a sua Associação, que nasceu de um movimento de cidadãos formado em 2020, não vai baixar os braços na defesa dos habitats e das populações daquela zona costeira. Mas mostra-se algo desiludida com o parco interesse dos cidadãos na protecção do ambiente e diz que existe mesmo um preconceito em relação aos ambientalistas.



    Perante a ameaça de subida do nível do mar e a anunciada emergência das alterações climáticas, o que fazem os ricos e os muito ricos quando constroem e investem em propriedades numa zona costeira, como é o caso da Península de Tróia? E se Portugal enfrenta os perigos de seca e desertificação, porque motivo é autorizada a construção de campos de golfe e plantações de culturas intensivas de abacate, que consomem imensos volumes de água?

    Pondo o ‘dedo na ferida’, Rebeca Mateus, membro da direcção Associação Dunas Livres, uma organização ambientalista, apontou que os ricos não querem campos de golfe em zonas ambientalmente degradadas, “querem jogar golfe e ter vista para o mar” e “ir para a praia de carro”. Por isso, estão a ‘tomar de assalto’, com a conivência das autoridades competentes e de autarcas, o ‘paraíso’ que é a costa que vai de Tróia a Sines. “O dinheiro compra e corrompe quase toda a gente e as autoridades responsáveis por dizer ‘não’”, disse Rebeca Mateus em entrevista ao PÁGINA UM.

    Rebeca Mateus na sede do PÁGINA UM. A investigadora foi uma das três fundadoras do movimento de cidadãos que depois deu origem à Associação Dunas Livres, formalmente criada em 2022.

    A bióloga e investigadora, de 30 anos, também não duvida de que há muito greenwashing em muitos dos projectos e empreendimentos turísticos que nascem como cogumelos naquela costa e que, para a sua Associação, põem em risco a biodiversidade e o futuro de muitas espécies e habitats da região. Mas não só. Também estão a ter um impacto social e cultural e afastam cada vez mais a população local, que está a ser praticamente ‘expulsa’ do paraíso que é aquela zona com 40 quilómetros de dunas a beijar o mar.

    Nesta entrevista ao PÁGINA UM, a ambientalista faz um balanço da actividade da sua Associação, que nasceu formalmente em 2022, mas que teve na sua origem o movimento de cidadãos fundado por Rebeca Mateus, Maria Santos e Catarina Rosa em 2020, em plena pandemia. Entretanto, fruto de uma coligação com outras 10 organizações de defesa do ambiente, nasceu a Plataforma Dunas Livres, que agrega organizações não governamentais como a Quercus, a Zero e a Liga para a Protecção da Natureza (LPN).

    Além de sensibilizar para a necessidade de proteger aquela zona costeira da agressiva construção de empreendimentos de luxo e casas para os ricos e os muito ricos, através das redes sociais e dos media, a Associação Dunas Livres tem promovido acções de protesto e mobilizado a população a actuar em consultas públicas e petições. Mas também avançou para a Justiça para pedir acesso a informação a avançar com um procedimento cautelar. (Aliás, a Dunas Livres tem tido como advogado Rui Amores, que é também advogado do PÁGINA UM nas muitas acções que o jornal tem tido na Justiça, graças ao Fundo Jurídico do jornal).

    A esperança parece desvanecer-se para a Associação, que vai vendo as gruas e os avanços dos muitos projectos na zona, alguns classificados como Projecto de Interesse Nacional (PIN), a nascer em cimas das dunas ou ao lado de outros habitats ricos e únicos. (Recorde-se que o Ministério Público suspeitou que o antigo ministro da Economia, Manuel Pinho, favoreceu o Grupo Espírito Santo na classificação da Herdade da Comporta e da Herdade do Pinheirinho como PIN). Mas, ouvindo Rebeca Mateus, percebe-se que a Dunas Livres está muito longe de desistir de combater os avanços dos empreendimentos de luxo.

    A costa que abrange Melides e se prolonga até Tróia é vista como um paraíso que está sob a ameaça da pressão do negócio do imobiliário e do turismo para os ricos e muito ricos. (Foto: D.R./ Vítor Oliveira).

    Rebeca Mateus mostra-se desiludida e sobretudo lamenta que as autoridades e entidades responsáveis por protegerem o ambiente, a água (que escasseia) e os acessos livres às praias da região estejam a ser cúmplices da construção de cada vez mais projectos imobiliários e outros, que têm riscos ambientais.

    Mas também deixou uma nota sobre a falta de envolvimento de grande parte da população da luta pela causa ambiental. Atribui este afastamento, às dificuldades financeiras em que vive boa parte dos portugueses, mas também defende que “há um certo preconceito pelo activismo ambiental”. Também aponta que “há uma falta de noção de que este planeta é a nossa casa”. E de que é preciso mantê-la e cuidar dela.


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  • Em cada tia um Tarantino

    Em cada tia um Tarantino

    Título

    Você nunca mais vai ficar sozinha

    Autora

    TATI BERNARDI 

    Editora

    Tinta da China (Junho de 2024)

    Cotação

    16/20

    Recensão

    Este é um livro fácil de ler. Se pensou que este comentário é superficial e fútil, aviso já que vai gostar menos do próximo. Este livro leva-se bem para qualquer lado. Pode parecer algo de somenos, mas o peso conta quando só queremos levar a toalha no ombro para a praia e pouco mais.

    Dito isto, desaconselho a leitura deste livro a homens. (A autora e a editora que me desculpem). Está cheio de detalhes sórdidos e crus de coisas que só acontecem mesmo a mulheres. Iriam ficar com as imagens na mente. Não seria bonito. Como quando comemos aquela folha de alface que estava murcha no fundo do pacote de salada ‘já lavada’. Só que, neste caso, algumas imagens gráficas ficariam gravadas na mente. Talvez para sempre. Não seria algo que passaria comendo outra coisa, logo a seguir, como no caso da alface podre. Ainda por cima, é narrado por uma mulher que é ‘overthinker’. Penso que apenas uma minoria de homens conseguiria ler, compreender e até apreciar (mesmo ficando traumatizado para a vida).

    Depois, também não será aconselhável a mulheres românticas e sensíveis. Nem a crentes ou religiosas. Não entra nas listas de livros aconselhados a cristãos. Em algumas das famílias que encontramos no livro, Jesus só há ao Domingo, e, e… 

    As ansiosas em relação a relacionamentos, a partos ou com traumas com a mãe, vão rever-se em muitas partes.

    Ademais, está cheio de detalhes, daqueles que conseguimos mesmo ver a acontecer, como se estivesse ali, à nossa frente.

    E tem muitas histórias e peripécias. São histórias deliciosas (outras repugnantes, algumas chocantes, muitas vulgares) dentro da ‘história’ principal do livro. Como as histórias da Tia do Gás e as da Tia Perseguida. Não vou contar para não estragar. (Mas, se tiver oportunidade, espreite a história sobre a Tia do Gás, a partir do segundo parágrafo da página 62.)

    Sendo leve no peso e fácil de ler, não quer dizer que seja fácil no mastigar e no digerir. Não é. Tem capítulos que fazem doer. Tem outros que fazem rir. Conseguimos sentir o que o personagem sentiu. Em outros, ficamos apenas boquiabertos, parados, congelados, como quando vemos algumas cenas de um filme do Tarantino, pela primeira vez.

    Sem dúvida, é um livro a ler. Não porque se leva bem com a toalha para a praia, mas por aqueles parágrafos que nos tocam. Como um verso triste e belo que se agarra a nós e já não nos larga. Nem se comermos algo logo a seguir.   

  • Iscas com batatas cozidas (e laranja com açúcar no fim)

    Iscas com batatas cozidas (e laranja com açúcar no fim)

    Título

    Conhece-te a ti próprio

    Autora

    NICOLE LePERA (tradução: Maria do Carmo Figueira)

    Editora

    Albatroz (Junho de 2024)

    Cotação

    14/20

    Recensão

    Olhando para a capa, compraria este livro só pela promessa de ter meditações guiadas. Depois, vejo no topo da capa que o livro vem recomendado por alguém que se chama Inês Gaya. Torço o nariz. Soa-me a uma daquelas pessoas ‘namasté’, que amam todos, mas fazem compras na Shein e mudam o nome porque traz boas vibrações. (E, se calhar, não é nada disto e estou a projectar, só que não compro na Shein nem mudei de nome… ainda). Desconfio desse tipo de gente como das pessoas que “adoram animais”, menos ao sábado de manhã no talho. Há que haver coerência.

    Depois, pergunto-me: será que todos se deveriam conhecer a si próprios? Será seguro? Há pessoas que começam com um livro para se conhecerem melhor a si próprias e a seguir divorciam-se e acabam a frequentar as feiras de roupa vintage, a pensar que isso é ‘cool’, sobretudo com o cheiro a mofo e os preços proibitivos das calças à Bee Gees (e eu gosto de Bee Gees).

    Para piorar, na capa diz que a autora é ‘bestseller’ e tem mais de oito milhões de seguidores. Há muita gente de que me consigo lembrar que tem muitos seguidores, mas isso não é bom.

    Na contracapa, anuncia que o livro é interactivo e oferece um roteiro prático para a autocura. E diz que a autora é uma psicóloga holística. Apesar dos clichés, resolvi dar uma hipótese ao livro, até porque tinha esta recensão para escrever.

    Ao melhor estilo ‘New Age’, resolvi abrir o livro numa página ao calhas e ver o que me saía na rifa. Fui cair na página 212: “Conheça a sua dependência emocional”. Caramba. “As nossas narrativas, os nossos comportamentos, e as nossas respostas autónomas são desencadeadas por ciclos de activação do sistema nervoso”.

    Decido tentar outra, a ver se me sai uma menos difícil. Abro na página 158: “Conheça o seu ego”. Afinal, prefiro a outra anterior.

    Este livro é para trabalhar. Vai dar trabalho. As meditações era só como aquela laranja com açúcar que a mãe prometia se comesse as iscas todas, com as batatas cozidas e tudo. Era engolir, fechando as narinas, para não sentir o sabor. 

    Acabo a tentar uma terceira página e caio na 153: “Ferida da criança interior”. Continuo a preferir a da dependência emocional (apesar de estar tudo ligado, como no Universo).

    Tirando o tom ‘namasté’ da capa e o texto cliché da contracapa, é um livro para partir pedra interior. Ou desentupir canos mentais e emocionais. O faça você mesmo, mas sem tutorial no Youtube. Sem bonecos para pintar, nem cartas de deusas e de arquétipos para responder às nossas perguntas e nos guiarem.

    Fazer tudo o que propõe este livro, levaria anos e anos. Décadas. Uma vida. Melhor orar e pedir a Jesus para ajudar a libertar os fardos, curar a criança interior a acabar com as dependências emocionais. O pior é se Jesus envia este livro para a nossa mesa de cabeceira. (Caramba…)

  • Península de Tróia: Acidentes rodoviários ‘aceleram’ com turismo de luxo

    Península de Tróia: Acidentes rodoviários ‘aceleram’ com turismo de luxo

    Disparou o número de acidentes rodoviários na estrada que liga a agora afamada povoação do Carvalhal à península de Tróia. O ano de 2023 foi responsável por um terço do total de número de sinistros registados na zona no último quinquénio. De 14 acidentes registados em 2022, o número saltou para 45 no ano passado. Mas esta tendência preocupante pode ser apenas o início de uma constante escalada de sinistros automóveis naquela via. Isto porque a Guarda Nacional Republicana observa também um maior número de infracções de trânsito na estrada na zona, nomeadamente o desrespeito pelos semáforos e também pelo traço contínuo. Recorde-se que um acidente recente na EN 261, junto a Comporta, vitimou mortalmente um jovem casal e deixou três feridos graves. O sinistro, em destaque nos media, marcou pela tragédia e deve servir de alerta. A GNR relaciona o maior número de desastres na zona com o aumento do tráfego devido “a deslocações por motivos profissionais bem como ao aumento da atividade turística naquela região” e apela à precaução dos condutores.


    Mais empreendimentos, mais negócios e mais turistas têm levado mais carros para uma zona outrora pacata e que só “animava” em Agosto. A península de Tróia e toda a costa até Melides ganharam ainda mais fama entre os famosos e não só. Os ‘bólides’ chegam pela autoestrada e pelo ‘ferry’ que liga Tróia a Setúbal. O aumento do tráfego na zona está a dar dores de cabeça à Guarda Nacional Republicana (GNR), que registou, em 2023, mais do dobro dos acidentes rodoviários entre o Carvalhal e Tróia, uma via com cerca de 26 quilómetros, quase sempre de rectas. De 14 acidentes em 2022, no ano passado já entraram para as estatísticas 45 acidentes.

    Em 2024, a tendência de aumento do número de sinistros rodoviários na zona mantém-se. Mas não são apenas os desastres na via que são um sinal de alerta para as autoridades. A GNR também observa um maior número de infracções por parte dos condutores.

    “É uma pouca vergonha. Mesmo no centro do Carvalhal, passam constantemente na Avenida a acelerar. Este fim-de-semana recebi 30 ou 40 mensagens e tenho recebido muitas queixas. Mataram um cão de estimação e fugiram”. O relato é de Nuno Carvalho, presidente da Junta de Freguesia do Carvalhal. “A Comporta e o Carvalhal cresceram de uma maneira gigante. Não há sinalização, as autoridades não têm os meios necessários e há falta de civismo”, disse ao PÁGINA UM.

    A praia da Comporta é uma das procuradas na zona. O aumento do turismo na zona entre Melides e Tróia tem gerado um acréscimo de tráfego automóvel e também do número de acidentes e das infracções. (Foto: D.R.)

    Nste mês de Agosto, um acidente na Estrada Nacional (EN) 261, junto a Comporta, vitimou um jovem casal e deixou ainda três feridos. Com a excepção deste trágico acidente, nos últimos cinco anos, os sinistros na região têm causado sobretudo feridos ligeiros. Mas o acidente fatal ocorrido neste mês é visto como um sinal de alerta numa região que se tornou na coqueluche do turismo de luxo a nível nacional.

    Na realidade, do Carvalhal a Tróia, há duas vias distintas: a EN 261 entre o Carvalhal e a Comporta, com cerca de 10 quilómetros; e a EN 253-1 entre a Comporta e Tróia, com 16 quilómetros. Ambas as vias têm tido um aumento de procura por força da pressão turística e do crescente número de novas construções e obras de empreendimentos na região. O problema estende-se também à EN 253, entre Comporta e Alcácer do Sal, e também à EN 261, mais a sul.

    À crescente pressão ambiental e urbanística, junta-se o maior tráfego rodoviário em estradas compostas sobretudo por rectas, mas com curvas sem visibilidade. Quem conduz na zona sabe que nem todos respeitam as velocidades máximas permitidas, nem os semáforos existentes junto a Comporta. As ultrapassagens velozes, com ‘bólides’ a passar à frente de várias viaturas de uma vez, são o ‘normal’.

    Sinistros rodoviários na estrada que liga o Carvalhal a Tróia. (Fonte: GNR/ Comando Territorial de Setúbal. Dados: Em Unidades)

    Acresce que as vias têm vindo a ser alvo de melhoramentos, com antigos buracos e desníveis a serem substituídos por novo alcatrão, que deixa o convite a mais velocidade. Praticamente não há bermas, apenas areia para onde se têm desviado alguns condutores para evitar acidentes, normalmente a fugir de viaturas a fazer ultrapassagens perigosas.

    A GNR, através do Comando Territorial de Setúbal, contabilizou, nos últimos cinco anos, um total de 144 acidentes entre o Carvalhal e Tróia. Um terço destes acidentes ocorreu em 2023, com a EN 261 a ser responsável por 86 sinistros e a EN 253-1 por 58. A preocupação das autoridades é justificada: de 14 acidentes em 2022, o número disparou para 45 no ano passado. Também nesse ano, a maior parte dos acidentes ocorreu na EN 261, que registou 33 desastres, face aos 17 observados na EN 253-1.

    O número de feridos também aumentou. Nos últimos cinco anos, os acidentes na zona provocaram 45 feridos, dos quais 42 ligeiros e três graves. Dos quatro feridos registados em acidentes na zona em 2022, o número de vítimas saltou para 13 feridos em 2023. O último ano com um número de feridos similar foi o de 2020, mas nos restantes o número de vítimas de acidentes naquelas vias não passava da meia dúzia.

    A EN 261, entre o Carvalhal e a Comporta, registou 33 acidentes rodoviários em 2023, contra oito em 2022. Na EN 253-1, que liga a Comporta a Tróia, o número de sinistros na via duplicou, passando de seis para 12. (Imagem: Mapa do Microsoft Bing)

    A GNR indicou ao PÁGINA UM que, “ao longo dos últimos anos, é possível verificar um aumento de tráfego nestas vias, estando estes factos diretamente associados a deslocações por motivos profissionais bem como ao aumento da atividade turística naquela região”.

    Quanto ao número de infracções, também tem vindo a crescer. “No que diz respeito ao número de contraordenações registadas naqueles troços, comparando igual período de 2023 e 2024 (Janeiro a Julho), verifica-se um ligeiro aumento no registo de infrações relativas ao desrespeito da sinalização luminosa e à transposição de linha longitudinal contínua”, referiu a GNR em resposta a questões do PÁGINA UM.

    A tendência em termos de aumento de sinistros parece manter-se em 2024. Nos primeiros sete meses deste ano, o número total de acidentes vai em 17, com quatro feridos ligeiros a registar, ultrapassando, assim, o número de sinistros registado em todo o ano de 2022. Mas ainda falta contabilizar o mês de Agosto, quando a zona recebe muitos turistas, e também o início do Outono e do Inverno, quando a chuva e o nevoeiro ‘traem’ alguns condutores.

    O parque de estacionamento da praia da Comporta conta agora com uma maior zona alcatroada para receber viaturas ligeiras e autocarros. O cheiro a alcatrão é, de resto, o primeiro cartão de visita que recebem os turistas que se deslocam até esta praia que está rodeada de dunas, arrozais e habitats diversos que estão sob ameaça perante a crescente pressão imobiliária e turística de luxo.
    (Foto: PÁGINA UM)

    No Carvalhal, a Junta de Freguesia conseguiu financiamento privado para instalar lombas e travar os ‘aceleras’, mas a Câmara Municipal de Grândola não autorizou a operação. “Os políticos são todos iguais, só muda a cor. Fica tudo para o último ano, o ano de eleições, para tirarem a fotografia”, lamentou Nuno Carvalhal. Adiantou que “a Câmara tem um plano para a mobilidade e segurança rodoviária”, que “vai arrancar em Outubro, a tempo das eleições”. Mas o presidente da Junta do Carvalhal teme que venha tarde para alguns condutores. “Vai aumentar [o número de acidentes] e a qualquer momento há o risco de haver uma tragédia dentro da aldeia”, referiu, apontando que actualmente, ao fim-de-semana, chegam ao Carvalhal entre 3000 e 4000 pessoas. “É muita gente, há muita juventude, muitas festas”.

    A GNR, “através do Destacamento Territorial de Grândola, para além do patrulhamento existente, tem realizado várias ações de fiscalização de âmbito rodoviário nas principais vias à sua responsabilidade, sendo a segurança rodoviária e a redução do número de vítimas mortais na estrada, uma prioridade estratégica para a Guarda”. Mas, apesar da fiscalização, nem sempre é possível evitar a ocorrência de tragédias, como a que se deu este mês.

    Por isso, e enquanto não chega o ano de eleições autárquicas, que traga sinalização nas estradas e outras medidas de reforço da segurança rodoviária na região, a GNR “apela a que sejam observados alguns conselhos de segurança, aquando do exercício da condução”, nomeadamente “adequar a velocidade às condições meteorológicas, às caraterísticas da via e ao volume de tráfego rodoviário”. Também recomenda aos condutores que evitem “realizar manobras perigosas que possam resultar em embaraço para o trânsito ou que, de alguma forma, possam originar acidentes”, além de que apela ao “cumprimento da sinalização rodoviária” e à adopção de “uma condução atenta, cautelosa e defensiva”.


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  • Pedidos de asilo de menores não acompanhados quase duplicaram no primeiro semestre

    Pedidos de asilo de menores não acompanhados quase duplicaram no primeiro semestre

    Segundo o Conselho Português para os Refugiados (CPR), Portugal registou um aumento de 82% no número de pedidos de protecção internacional por parte de menores não acompanhados, no primeiro semestre deste ano. Os dados mostram que, no total, houve 111 pedidos de asilo feitos pela primeira vez por parte de menores não acompanhados. Estes dados superam os pedidos registados em todo o ano de 2023. Dado o elevado número de requerentes, o CPR não conseguiu acolher todas as crianças e jovens, sendo que alguns foram acolhidos por outras organizações por indicação do Instituto da Segurança Social. 


    Disparou o número pedidos de protecção internacional por parte de crianças e jovens não acompanhados, no primeiro semestre deste ano, em Portugal. No total, foram registados pedidos de asilo pela primeira vez por 111 menores não acompanhados, o que representa um aumento de 82% face ao número de pedidos registados na primeira metade de 2023, segundo o Conselho Português para os Refugiados (CPR). O número de pedidos observado na primeira metade deste ano ultrapassa os 108 que foram observados em todo o ano de 2023.

    O pedido de protecção internacional inclui todos os que fogem de países onde existem conflitos ou onde podem ser perseguidos.

    “Tendo em conta o elevado número de pedidos de proteção internacional apresentados por menores não acompanhados, o CPR não consegue acolher todos os MENA [menores não acompanhados], sendo que são acolhidos por outras organizações por indicação do Instituto da Segurança Social”, indicou Tito Campos e Matos, vice-presidente do CPR, ao PÁGINA UM. O CPR acolheu 27 menores.

    (Foto: D.R./CPR)

    Mas também se observou uma subida no número global de pedidos de protecção internacional, embora não tão expressivo quanto o observado nas crianças e jovens não acompanhados. “De acordo com os nossos registos e com os pedidos de proteção internacional que nos foram comunicados pelas autoridades, verificou-se um aumento de 16% do número de pedidos de proteção internacional no primeiro semestre de 2024 por comparação ao primeiro semestre de 2023”, informa o CPR. O número de pedidos passou de 1.075 na primeira metade de 2023 para 1.246 no mesmo período deste ano.  

    “Quanto ao número de pedidos de protecção internacional apresentados por menores não acompanhados, verificou-se um aumento mais significativo, na ordem dos 82% no primeiro semestre de 2024, por comparação com o primeiro semestre de 2023”, subindo de 61 pedidos para 111.

    Nos termos da Lei do Asilo, do total de pedidos de asilo, “264 requerentes foram identificados como particularmente vulneráveis, incluindo 111 crianças não acompanhadas”, sendo que apenas “21% dos requerentes são mulheres”. Em termos de país de origem, os pedidos foram apresentados “por requerentes de 69 nacionalidades e apátridas, sendo Afeganistão, Colômbia, Gâmbia e Senegal os países de origem mais representativos”.

    (Foto: D.R./CPR)

    O CPR é a única organização em Portugal que gere várias estruturas dedicadas ao acolhimento de requerentes de asilo pela primeira vez. Esta organização sem fins lucrativos gere três centros de acolhimento “para requerentes e beneficiários de proteção internacional dedicados a requerentes espontâneos, refugiados reinstalados, além de um centro especializado para crianças e jovens estrangeiros não acompanhados e uma creche/jardim-de infância”. Este ano, deu-se uma mudança na gestão de pedidos de asilo e acolhimento, com a entrada em funcionamento da Agência para a Integração Migrações e Asilo (AIMA). Outras organizações, para além do CPR, passaram a acolher requerentes de proteção internacional durante a fase de admissibilidade.

    O CPR acolheu, no primeiro semestre deste ano, “915 requerentes espontâneos, incluindo 27 crianças não acompanhadas”. Também “acolheu, a partir de Junho, 120 requerentes espontâneos em fase de instrução no âmbito de Protocolo de Cooperação com o ISS [Instituto da Segurança Social]”.

    No âmbito do Programa Nacional de Reinstalação, o CPR garantiu acolhimento a 54 refugiados reinstalados, nomeadamente nacionais do Irão, Iraque, Síria, Eritreia e Sudão, provenientes da Turquia, do Egipto e da Jordânia. Foram também acolhidos pelo CPR 34 Afegãos ao abrigo do programa de evacuação humanitária e 2 requerentes provenientes de resgates de barcos humanitários no Mediterrâneo. Além disso, o CPR acolheu ainda 10 cidadãos provenientes da Ucrânia.

    Além de acolher os requerentes de asilo, o CPR contabilizou ainda, na primeira metade deste ano, 13.838 atendimentos jurídicos, sociais, de integração e psicológicos a requerentes e beneficiários de proteção internacional de 83 nacionalidades.

    (Foto: D.R./ CPR)

    Na União Europeia, o número de pedidos de pedidos de protecção internacional, diminuiu 5% nos primeiros seis meses deste ano, comparando com o mesmo período de 2023, abrangendo 76.795 pedidos, segundo dados do Eurostat.

    De resto, em termos anuais, Portugal tem registado um aumento dos pedidos, e 2023 não foi uma excepção. No ano passado, foram comunicados ao CPR, 2.565 pedidos de protecção internacional espontâneos, o que representa um aumento 20% face ao ano anterior. Destes, 482 requerentes foram identificados como particularmente vulneráveis, incluindo 108 crianças não acompanhadas. Quanto ao género, apenas 26% eram mulheres.

    Relativamente a 2023, o CPR garantiu acolhimento a 1.937 requerentes espontâneos, o que corresponde a um aumento de 23% relativamente ao ano anterior. No caso dos menores não acompanhados, esta entidade concedeu guarida a 62 crianças em 2023.


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  • Fornecedores escolhidos a dedo: Parques de Sintra gasta quase meio milhão em ‘bibelots’ para turistas

    Fornecedores escolhidos a dedo: Parques de Sintra gasta quase meio milhão em ‘bibelots’ para turistas

    A gestora dos parques e monumentos de Sintra ‘queimou’ 455 mil euros em 15 dias, em dois ajustes directos para rechear as suas lojas com ‘souvenirs’ para turistas. A despesa em ‘marketing cultural’ abrangeu a compra, sem concurso, de produtos como sabonetes, canecas e bases para tachos em cortiça com azulejo pintado. A Parques de Sintra – Monte da Lua alega existirem critérios materiais para contornar a necessidade de fazer concursos públicos. E garante que o merchandising é um negócio lucrativo, não se tratando de despesas, mas de investimento, já que obtém retorno para os seus cofres. Mas estas não foram as únicas compras feitas sem concurso pela Parques de Sintra – Monte da Lua, que em menos de dois meses ‘estoirou’ mais de um milhão de euros em contratos de valor avultado feitos com fornecedores escolhidos a dedo.


    À grande e à francesa. Foi assim que, no espaço de duas semanas, a Parques de Sintra – Monte da Lua (PSML) fez ‘voar’ 455,1 mil euros de dinheiro dos contribuintes na compra de sabonetes e outros ‘recuerdos‘ para vender a turistas, através de duas compras a fornecedores escolhidos a dedo, sem concurso.

    num dos contratos, firmado a 7 de Agosto, a gestora dos parques e monumentos de Sintra ‘largou’ 307,5 mil euros (com IVA incluído) para rechear as suas lojas com canecas, bases para tachos em cortiça com azulejo, cadernos, sacos e outros ‘bibelots‘ de ‘marketing cultural’. A ‘sorte grande’ saiu à empresa Liquid Brand Unipessoal, que ganhou o contrato para fornecer, durante três anos, “produtos de merchandising cultural com design de autor para revenda” sem ter de enfrentar concorrência.

    (Foto: D.R.)

    A carta-convite enviada a esta empresa foi assinada pela presidente da PSML, Florinda Cruz. A Parques de Sintra justificou a opção pelo ajuste directo com o artigo 24º, número 1, alínea a), do Código dos Contratos Públicos (CCP), que prevê a excepção quando “em anterior concurso público ou concurso limitado por prévia qualificação, nenhum concorrente tenha apresentado proposta, todas as propostas tenham sido excluídas com fundamento na primeira parte da alínea a) do n.º 2 do artigo 70.º, nenhum candidato se haja apresentado, ou todas as candidaturas tenham sido excluídas com fundamento nas alíneas c), j) ou l) do n.º 2 do artigo 184.º” do CCP.

    Contudo, consultado o Diário da República, não se encontra nenhum anúncio da PSML relativo a abertura de concurso para a compra de produtos de merchandising. Contactada, a PSML respondeu que houve um “lapso” e que, afinal, o ajuste directo foi feito ao abrigo do artigo 24º, número 1, alínea e), subalínea iii) do CCP, ou seja, por ser “necessário proteger direitos exclusivos, incluindo direitos de propriedade intelectual”. E indicou que esta fundamentação está expressa nas peças de procedimento que acompanham o anúncio do ajuste directo.

    Entretanto, a PSML corrigiu a fundamentação que constava no anúncio no Portal Base. Contudo, consultadas peças de procedimento que acompanham o anúncio do ajuste directo, apenas na carta-convite se encontra a fundamentação referida pela PSML, mas sem mencionar a alínea iii) do mesmo artigo do CCP, a qual justifica a ausência de concurso com a fundamentação de que é necessário proteger direitos, incluindo de propriedade intelectual. O que consta da carta-convite é a apenas a invocação do artº 24, número 1, alínea e), que justifica o ajuste directo quando “as prestações que constituem o objeto do contrato só possam ser confiadas a determinada entidade por uma das seguintes razões”. Fica-se, assim, sem saber oficialmente, de forma documentada, o motivo para a ausência de concurso.

    Segundo o CCP, o ajuste directo em caso de compra de bens ou serviços deve ser de montante inferior a 20 mil euros. Mas a Lei admite excepções em caso de haver ‘critérios materiais’ específicos. Consultando o Portal Base, verifica-se que a excepção passou a ser a norma e muitas entidades públicas passaram a entregar milhares ou mesmo milhões de euros a um só fornecedor, que é escolhido a dedo, sem que haja um procedimento concursal, alegando as mais diversas justificações, as quais não são aplicáveis em diversos casos.

    O segundo fornecedor escolhido a dedo para fornecer bens para as lojas da PSML foi a conhecida fabricante de sabonetes nortenha Castelbel Artigos de Beleza, que facturou 147,6 euros (com IVA incluído) num contrato por ajuste directo firmado no dia 30 de Julho.

    Neste caso, ao invés de lançar um concurso, dando a oportunidade a outros fornecedores para fornecerem as lojas da PSML, a empresa decidiu escolher sozinha a Castelbel para fornecer sabonetes, velas aromáticas, difusores de perfume e saquetas perfumadas. Para realizar este ajuste directo, a PSML alegou ser “necessário proteger direitos exclusivos, incluindo direitos de propriedade intelectual”.

    Este é o segundo ajuste directo firmado com a Castelbel. Em 2018, a PSML firmou um contrato com a empresa nortenha invocando o artigo 24.º, n.º 1, alínea e), subalínea ii), do CCP, ou seja, alegando que não exista mais nenhuma empresa que pudesse fornecer os artigos pretendidos de perfumaria para revenda por motivos técnicos.

    Mas a opção pelo ajuste directo para ‘rechear’ as lojas com artigos de revenda é recorrente. Em Novembro de 2023, a PSML publicou no Portal Base um contrato por ajuste directo no montante de 150 mil euros com a empresa Gatafunhos para a aquisição de artigos de merchandising, nomeadamente canecas, t-shirts e sweat-shirts. Em Setembro de 2022, já tinha sido celebrado um contrato similar no valor de 75 mil euros, sem que fosse divulgado o preço unitário de cada produto a comprar. Aliás, chegaram a ser vendidos, no âmbito deste contrato, produtos que não constavam do contrato celebrado com a Gatafunhos. Na altura, o director de comunicação da PSML, Rui Mateus, justificou ao PÁGINA UM que “inicialmente, o contratante pode estabelecer os produtos que previsivelmente pretende obter, mas podem ser criados, ao longo da execução do contrato, novos produtos ou produtos que sejam claramente mais vendáveis”, dependendo do ‘apetite’ dos consumidores e das tendências do mercado. Também garantiu que o negócio compensou, já que “uma despesa de 75 mil euros originou uma receita superior a 200 mil euros”.

    Mas estes são apenas dois dos ajustes directos feitos pela PSML, mas a empresa, só nos últimos dois meses, gastou cerca de um milhão de euros dos contribuintes em 16 contratos por ajuste directo relativos à compra de bens e contratação de serviços diversos, desde a instalação de máquinas de venda automática de bebidas, a actividades equestres e compra de material de canalização, passando pela contratação de serviços de comunicações móveis à Meo. Tudo sem concurso ou por serem de valor abaixo dos 20 mil euros ou alegando-se critérios materiais específicos.

    (Foto: D.R./Parques de Sintra)

    Dos ajustes directos contratados desde o início de Julho, cinco envolvem montantes globais acima dos 100 mil euros. É o caso dos dois contratos com a Castelbel e a Liquid Brand Unipessoal e mais três. Um deles, publicado no dia 14 de Agosto no Portal Base, diz respeito a “Aquisição de chocolate quente, derivados, chás, bebidas sem glúten e açucaradas para venda nos espaços de Cafetaria e Restauração sob a gestão da Parques de Sintra”. Neste caso, a PSML escolheu a empresa Natfood Portugal, Limitada, que factura 98.000 euros (sem IVA), para fazer o fornecimento daqueles produtos a quiosques e cafetarias da PSML durante dois anos.

    Estranhamente, para justificar não ter feito concurso, a PSML invocou o artigo 20º, número 1, alínea d) do CCP que permite a opção pelo ajuste direto, “quando o valor do contrato for inferior a € 20 000”.

    Um outro ajuste directo avultado foi feito no início de Julho com a Multimac Hito Innovation, no montante global de 239 mil euros referente a “serviço de suporte e manutenção do sistema de bilhética”. Também no início do mês passado, a PSML assinou um contrato por ajuste directo com a Revelamos Jornalismo e Fotografia no valor de 125 mil euros, a que acresce IVA, para a “aquisição de artigos com imagens de autor”.

    A verdade é que a vida não corre mal à PSML, uma sociedade anónima de capitais públicos criada em 2000, e que tem como actuais acionistas a Direção-Geral do Tesouro e Finanças, com uma participação de 35%, o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, também com uma participação de 35% e o Turismo de Portugal e a Câmara Municipal de Sintra, ambos com 15% do capital.

    Pormenor do Palácio Nacional de Queluz. (Foto: D.R./PSML)

    Em 2023, as receitas da empresa pública subiram 25,3% face ao ano anterior, fixando-se em 34,7 milhões de euros, mas o valor ficou ligeiramente abaixo da facturação em 2019, antes da pandemia de covid-19 e das medidas radicais impostas pelo Governo, que arrasaram o sector do turismo e da restauração e atiraram a PSML para o registo de prejuízos em 2020 e 2021.

    Segundo a empresa, a sua principal fonte de receitas continua a ser a venda de bilhetes (para se visitar o Palácio da Pena, por exemplo, o custo de um bilhete normal é de 20 euros), que representou 80% total em 2023. A restauração corresponde a 9% das receitas e as lojas 4%. A empresa teve um lucro de 7,132 milhões de euros em 2023, uma ligeira descida face aos 7,264 milhões de euros obtidos em 2022. Ainda assim, os valores estão aquém do lucro de 10,2 milhões de euros observados em 2019.

    Mas, seja com lucro ou com prejuízo, a obrigação de observação de regras de transparência no uso de dinheiros públicos é a mesma e o que é certo é que em vários contratos celebrados pela PSML a justificação para a opção pelo ajuste directo deixa muito a desejar.


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  • ‘Pseudo-milionário’ das cripto promovido pela TVI faz troça do Banco de Portugal

    ‘Pseudo-milionário’ das cripto promovido pela TVI faz troça do Banco de Portugal

    O site do suposto jovem milionário das criptomoedas, que foi promovido pela TVI numa reportagem polémica, há cerca de um ano, mantém-se activo e apresenta agora uma mensagem que aparenta ser também uma resposta ao Banco de Portugal. A entidade liderada por Mário Centeno tem a seu cargo a regulação e registo das empresas de criptomoedas em Portugal. Na sequência da reportagem da TVI, emitiu um alerta sobre o ‘jovem milionário’, Renato Duarte Júnior, e a sua suposta empresa, a Digital Bank Labs. Em resposta, o site da DBL diz que não tem planos para fazer negócios em Portugal, por ser “um dos países mais corruptivos da Europa”. Entretanto, a TVI já eliminou do seu site a reportagem, conduzida pela jornalista Conceição Queiroz, depois de ter levado um ‘puxão de orelhas’ do regulador dos media por não ter verificado a veracidade das informações sobre o ‘jovem milionário’ e a sua suposta empresa, os quais promoveu em horário nobre.


    O site do ‘jovem milionário das criptomoedas’, que foi promovido numa reportagem polémica da TVI em Junho do ano passado, continua operacional e a captar potenciais investidores, apesar dos alertas dos reguladores financeiros. Clicando no site mencionado pela TVI, dbl.pt, direcciona para um novo site que contém uma mensagem que aparenta ser uma resposta ao aviso que o Banco de Portugal fez sobre o ‘jovem milionário’ e a sua suposta empresa, Digital Bank Labs.

    O site com fundo preto apresenta em letras grandes o nome ‘Digital Bank Labs’ e, por cima, um aviso em inglês onde se pode ler: “tomámos a decisão de não continuar a utilizar o domínio .pt devido a preocupações regulatórias. Como não temos planos para registar a nossa empresa ou realizar negócios em Portugal, que tem sido identificado como um dos países mais corruptivos da Europa, vamos abandonar gradualmente a nossa associação a este domínio até 2024”.

    Esta mensagem surge na sequência de um aviso emitido pelo Banco de Portugal na sequência da forte polémica que se instalou após a emissão da reportagem da TVI, que continua disponível no site da estação de Queluz.

    Na reportagem, a jornalista Conceição Queiroz parecia estar deslumbrada com a vida de luxo do ‘jovem milionário’ e aparentava desconhecer o funcionamento do mercado de criptomoedas. A TVI nunca esclareceu se recebeu alguma contrapartida pela reportagem nem informou se a jornalista e restantes membros da equipa de reportagem da estação beneficiaram de viagens e estadia pagas pelo ‘jovem milionário’ ou a sua suposta empresa.
    (Foto: Captura a partir de imagem da reportagem da TVI)

    No aviso, publicado em Junho do ano passado, o supervisor financeiro advertia que “a suposta entidade ‘Digital Bank Labs’ e ‘Renato Júnior’ (Silvério Renato Carneiro Duarte, NIF 253371341) que atuam através do endereço de internet ‘http :// dbl.pt’, não estão, na presente data, nem nunca estiveram, habilitados a exercer, em Portugal, qualquer atividade financeira reservada às instituições sujeitas à supervisão do Banco de Portugal, nomeadamente, atividades com ativos virtuais e rece[p]ção de depósitos ou outros fundos reembolsáveis”.

    Mas também a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários e a Federação Portuguesa das Associações da Cripto Economia fizeram avisos aos investidores.

    Recorde-se que a Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) deu recentemente um ‘puxão de orelhas’ à TVI pela reportagem que promoveu a vida de luxo de Renato Duarte Júnior no Dubai e o seu alegado negócio de criptomoedas. Na reportagem, da jornalista Conceição Queiroz (CP 7851), em cenários luxuosos e idílicos gravados no Dubai, Renato Duarte Júnior (Silvério Renato Carneiro Duarte), é apresentado como o ‘milionário improvável’, rodeado de fausto.

    A reportagem foi transmitida em 21 de Junho de 2023 em horário nobre e gerou uma onda de contestação na Internet pelo carácter duvidoso das informações veiculadas pela reportagem, incluindo do próprio sector regulado das criptoactivos.

    No novo site da dbl.pt pode ler-se a seguinte nota, que aqui se reproduz em português: “Tomámos a decisão de não continuar a utilizar o domínio .pt devido a preocupações regulatórias. Como não temos planos para registar a nossa empresa ou realizar negócios em Portugal, que tem sido identificado como um dos países mais corruptivos da Europa, vamos abandonar gradualmente a nossa associação a este domínio até 2024”.

    Agora, no site da DBL, pode ainda ver-se um relógio em contagem decrescente prometendo o aparecimento de “Uma nova geração de plataforma de investimento privado e confidencial”, alegando que a DBL tem 2,3 mil milhões de dólares de activos sob gestão.

    No mesmo site, com o domínio ‘.capital’, para o qual os internautas são direccionados quando clicam em dbl.pt, é ainda mostrado um alegado portfólio de criptomoedas, incluindo 191,98 milhões de dólares em bitcoin. De resto, o site não tem mais nenhuma informação ou contactos, tendo apenas dois links para uma conta da rede social X (antigo Twitter) e para outra conta na plataforma de mensagens encriptadas Telegram.

    Contactado, o Banco de Portugal remeteu apenas para o aviso que emitiu no final de Junho de 2023, que foi publicado na sequência da celeuma que a transmissão da reportagem da TVI provocou.

    Apesar das queixas e dos avisos dos reguladores financeiros, a TVI manteve durante mais de um ano, até há poucos dias, a sua reportagem disponível no seu site na Internet. Na sua deliberação recente sobre o caso, a ERC instou a TVI a colocar uma advertência na reportagem. Mas a TVI optou mesmo por eliminar a reportagem do site, aparecendo agora apenas um fundo preto com o logo da TVI Player. O texto que anunciava a reportagem da jornalista Conceição Queiroz ainda pode ser lido aqui.

    A TVI decidiu eliminar a reportagem do seu site, depois de a ter mantido disponível, sem qualquer advertência, durante mais de um ano.
    (Foto: Captura a partir de imagem da reportagem da TVI)

    Este caso polémico veio expor a baixa literacia de muitos jornalistas na cobertura de temas financeiros, incluindo o do sector dos criptoactivos, e também a facilidade com que se podem promover negócios suspeitos num canal de TV de topo, em horário nobre. A tardia intervenção da ERC, que demorou um ano a decidir sobre as queixas que recebeu sobre a reportagem, é, ainda assim, melhor do que a reacção da Comissão da Carteira Profissional de Jornalista (CCPJ), que até hoje nunca se pronunciou sobre a polémica reportagem.

    Já a ERC, na sua deliberação, na sua análise, sugere ter havido amadorismo na elaboração da reportagem. “O caso em análise é eloquente quanto à necessidade de evidenciar a diferença de paradigma que deve existir entre, por um lado, os conteúdos oferecidos pelos órgãos de comunicação social, em especial os de natureza informativa, necessariamente marcados pela insubstituível intermediação crítica especializada do profissional jornalista e, por outro, os demais conteúdos audiovisuais criados por entusiastas, autodidatas ou quaisquer pessoas que não jornalistas, incluindo para fins promocionais, que a cada vez maior acessibilidade das tecnologias de informação e comunicação tem permitido banalizar”, afirmou na deliberação.


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  • Desporto feminino & Protestos no Reino Unido

    Desporto feminino & Protestos no Reino Unido


    Alterações Mediáticas, o podcast da jornalista Elisabete Tavares sobre os estranhos comportamentos e fenómenos que afectam o ‘mundo’ anteriormente conhecido como Jornalismo. No quarto episódio, analisa-se a ausência de contexto e até algum amadorismo na cobertura da polémica em torno de duas atletas autorizadas a competir no boxe feminino nos Jogos Olímpicos. Também em análise, a cobertura mediática dos protestos no Reino Unido.

    Acesso: LIVRE, mas subscreva o P1 PODCAST com um donativo mensal de 2,99 euros. Ajude o PÁGINA UM a amplificar o seu trabalho.


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  • ‘Não há detentores da Ciência’

    ‘Não há detentores da Ciência’

    O HORA POLÍTICA regressa com uma entrevista a Fernando Nobre, médico-cirurgião, professor catedrático, antigo candidato à Presidência da República e fundador da AMI-Assistência Médica Internacional, que celebra este ano o seu 40º aniversário. Nesta entrevista ao PÁGINA UM, que decorreu na sede da AMI, em Lisboa, Fernando Nobre, de 73 anos, recorda os anos que antecederam a criação da instituição que está hoje presente em 86 países. Mas o médico fala também sobre os tempos actuais e os perigos emergentes para a democracia, a liberdade e a Ciência. Nobre foi atacado, nomeadamente na imprensa e na Internet, por ter defendido posições diferentes das da Direcção-Geral da Saúde na pandemia e também por ser um crítico feroz das novas vacinas contra a covid-19. A Ordem dos Médicos chegou a abrir-lhe um processo que colocou numa gaveta. Já com o gravador desligado, Fernando Nobre não afastou um eventual regresso à política activa e desmentiu que tivesse dado o seu apoio ao ADN, frisando que não é apoiante do partido e “nunca” será.



    Na parede, um quadro com Aristides Sousa Mendes marcou o tom desta entrevista a Fernando Nobre, que garantiu já o seu lugar na História do país. Médico-cirurgião, activista, político, gestor, professor catedrático, Nobre é também indissociável da AMI-Assistência Médica Internacional, organização ‘do Mundo’ que fundou há 40 anos e que dirige.

    Sempre com a frontalidade e transparência que lhe são características, Fernando Nobre recordou os primeiros passos na medicina e também no trabalho como voluntário na Médicos Sem Fronteiras. Mas também abordou o seu percurso na política e alguns dos episódios mais marcantes.

    Fernando Nobre no jardim da sede da AMI, em Lisboa, rodeado de árvores que plantou. A Assistência Médica Internacional, fundada e dirigida pelo médico-cirurgião, celebra este ano o seu 40º aniversário e tem espalhado os seus ‘frutos’ pelo Mundo, estando presente em 86 países. (Foto: PÁGINA UM)

    Nesta entrevista ao PÁGINA UM, Fernando Nobre aborda ainda os ataques de que foi alvo, nomeadamente na imprensa e na Internet, devido a algumas das posições que defendeu durante a pandemia de covid-19. E deixou alertas sobre os actuais perigos para a democracia, a liberdade e a Ciência.

    Aos 73 anos, Nobre não descartou um regresso à política activa. Já com o gravador desligado, o antigo candidato a Presidente da República afirmou que é algo que irá avaliar, consoante o evoluir da situação do país.

    Aristides Sousa Mendes ‘observou’ e ‘influenciou’ o tom da entrevista a Fernando Nobre, onde não faltou a defesa da liberdade de consciência, da liberdade de expressão e da democracia. (Foto: PÁGINA UM)

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