Autor: Diogo Cabrita

  • Cuidado com a ideologia

    Cuidado com a ideologia


    As bandeiras de hoje são a banalização do aborto – a prevenção é que devia ser a política –; a eutanásia – o envelhecimento saudável é que deve ser a alternativa –; o ambientalismo radical – a defesa de uma alimentação com mais plantas e menos carne e peixe é que é o caminho –; a política de género nas escolas – a baralhar crianças e a desconstruir as prioridades. Enquanto isso, temos o excesso de entretenimento para docilizar as gerações que assim vão dependendo dum Estado que “trata”, que “protege”, mas evita prevenir, reduzir, corrigir os erros, porque esta é a estratégia do negócio!

    As bandeiras cegam a racionalidade e obnubilam as decisões e o pensamento. Querem uma medicina totalmente vinculada a linhas de orientação e protocolos.

    woman in black tank top sitting on concrete floor

    Isto viola um dos pés da equação – a individualidade, a particularidade. Concordo com que a exposição frequente melhora a performance, mas nem toda a medicina é massificável.

    O aborto é um mau acontecimento e não deve ser uma bandeira. Deve estar disponível como solução, mas sempre em desfavor da prevenção. As mulheres devem exigir a contracepção masculina e têm ao dispor de modo livre e gratuito mecanismo de contracepção feminina.

    A eutanásia deve estar disponível, mas não pode ser a bandeira. Os princípios e as clamações devem ser por coisas positivas e boas. Devemos lutar por energias menos poluentes, mas não podemos dar passos vigaristas como o encerrar das centrais de carvão e acreditar que as eólicas só têm virtudes. Não podemos achar normal as barragens portuguesas estarem nas mãos de franceses ou chineses.

    As bandeiras estão a cegar a ideologia porque se tornaram fúteis e simplistas.

    Os portugueses sabem pouco sobre as realidades que depois se exibem. Somos o país com menos crimes da Europa e dos que mais presos tem per capita. Somos o país que mais pede detenções e prende indefinidamente em preventiva por perigo de fuga.

    flags on green grass field near brown concrete building during daytime

    Não acredito que Vieira quisesse fugir, e Sócrates veio ter com o Ministério Público pelo que nunca estaria em fuga. O problema desta formatação acrítica é que os cidadãos esquecem que a Justiça é para todos, e, portanto, o que se faz mal ao Bernardo Santos Sócrates é o mesmo que nos podem fazer a nós em circunstâncias improváveis amanhã.

    A sociedade dos canais temáticos, das aplicações com algoritmos de viciação, da construção de não-assuntos que sobem à ribalta da informação, a força da rede social como canal de apagamento do jornalismo, afoga-nos em sofás com televisões defronte. Como tontos levantamos a bandeira e o dedo da indignação sem cuidar de nos informar.

    Os fogos trazem a prevenção que não é negócio, por parente pobre do tratamento que é uma mina de ouro. Há lucros secundários no arder e, por isso, houve políticas que conduziram à desertificação, ao abandono da pastorícia, à delapidação da agricultura portuguesa.

    Se estiverem atentos verão o que se passa na Holanda onde os agricultores explodem de raiva e se manifestam, sem qualquer referência nos nossos canais monopartidários.

    Diogo Cabrita é médico


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do PÁGINA UM.

  • Uma apologia à couve… e não só

    Uma apologia à couve… e não só


    É verde, é resistente ao frio, é de folha grande e caule forte.

    A couve portuguesa é um alimento que nos pode transportar ao estrelato da nutrição. Tem propriedades anti-inflamatórias e tem apresentado, em estudos de laboratório, capacidade de aumentar a produção de anticorpos.

    A couve portuguesa usava-se para acompanhar o bacalhau cozido do Natal e é um alimento rico em inúmeras funções. O seu ferro é de fácil absorção, os seus componentes antioxidantes melhoram a resposta aos tóxicos que ingerimos em excesso e aos que nos expomos em quantidades astronómicas. As fibras dão saciedade e melhoram a obstipação que hoje afecta muita gente.

    Couve selvagem (Brassica oleracea var. oleracea), a base de uma grande variedade de couves usadas na alimentação humana.

    Além de minerais e vitaminas, a couve portuguesa tem um conteúdo baixíssimo de açúcares (hidratos de carbono) e tem a particularidade de não perder propriedades quando cozinhada. Em batidos detox, em pratos gourmet, em tabernas, e à mesa das famílias, devíamos promover a couve e o seu primo brócolo.

    Recentemente, a Ordem dos Médicos e alguns arautos do cientificamente correcto, apedrejaram o médico Manuel Pinto Coelho – quase sugeriam a sua cremação pública, e até a destruição do seu bom nome.

    Em boa verdade Pinto Coelho transporta para o espaço português ideias também divulgadas por Michael Greger, que é um comunicador fora de série.

    Os brócolos, investigados na Universidade de Aveiro por bioquímicos, deram doutoramentos sobre defesa imunitária e também sobre a produção de bioplástico. Estes produtos fabricados a partir de uma biomassa de amido de milho ou batata podem tornar-se muito mais resistentes e elásticos com a adição de substâncias identificadas no brócolo.

    A investigadora Sónia Ferreira, ao centro, concluiu em 2021 um doutoramento sobre as extraordinárias capacidades dos brócolos.

    A Brassica oleracea é uma hortícola com muitas variedades, de talos carnudos, podendo atingir até 90 centímetros de altura, e plantava-se em todos os quintais do Alto Minho na minha infância.

    E então, olhando para aquilo que o Dr. Pinto Coelho tem dito, porque desperta ele tantos ódios e até nas páginas do jornal Expresso? Porque chegou com ar novo a idoso? A Inveja? Porque sabe imenso de dietas? Os Ignorantes?

    A verdade é um cubo de que não conhecemos todas as faces, e portanto fiquei sempre surpreso das razões de tantos se empertigarem contra a informação que Pinto Coelho defende e aborda.

    Não se preocupam com as dietas falhadas que persistem em hospitais, a quantidade de hidratos de carbono que são fornecidos a doentes, a fraca presença de couve portuguesa no Serviço Nacional de Saúde, a falta de apoio à produção, venda e investigação, de um produto que carrega a nossa identidade.

    Manuel Pinto Coelho

    Não se preocupam com a insanidade dos hidratos de carbono que proliferam na alimentação dos portugueses, não fazem cartas nem recomendações contra a comida de plástico, a porcaria que se converteu em negócio dos cinemas.

    As salas de espera cheias, a simpatia e o sucesso de Pinto Coelho incomoda e intoxica alguns, e sobretudo move esse tratado da inépcia e da falta de coerência em que se tem convertido a Ordem dos Médicos.

    Diogo Cabrita é médico


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