Autor: Diogo Cabrita

  • Diana, a destemperança e a irracionalidade

    Diana, a destemperança e a irracionalidade


    Acusações podem ser falsas ou verdadeiras. O grito de alerta pode ser público ou nas instituições adequadas. Todos podemos recorrer aos tribunais para atacar quem nos prejudica ou nos está a causar dolo. Para isso eles existem. O Ministério Público pode ser chamado a filtrar algumas das acusações, mas não impede o cidadão de se constituir assistente num processo e avançar, embora com custas.

    O que não gosto?

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    Não gosto de ver acusar pessoas na praça pública como se fossem roupa suja. Não gosto de ver ataques da honorabilidade que podem redundar em inocência, mas nunca mais branca e imaculada, porque a imprensa e a rede social sujam para sempre.

    Atentar contra a honra de outros deve ser uma cerimónia, um gesto de reflexão com avaliação de amigos. Os amigos verdadeiros não se esticam, não empertigam, não gritam mais que o ofendido.

    A Diana usou a rede social sem cuidar do julgamento. Juntaram-se milhares de pessoas aos gritos do aprendiz de cirurgião, envolvendo as suas emoções, suas circunstâncias, sem cuidar de reflectir, de colocar dúvidas ou de seguir a lógica: inocente até prova em contrário, in dubio pro reo.

    Dezenas de jovens médicos (no triste espectáculo que muitas vezes é o lugar “médicos unidos”) solidarizaram os seus dramas, suas vivências, seus egos narcísicos e pouco humildes com uma história que desconhecem. A boçalidade veio à rua vestida de bata, com estetoscópio aos ombros.

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    Acusações a colegas são legítimas, são necessárias, mas devem decorrer nos lugares certos. Este costume de mal dizer, como agora experimenta o Professor Boaventura de Sousa Santos e outros catedráticos de Coimbra, acarreta um problema psiquiátrico de colagem do eu ao que acabamos de ouvir. “Parece mesmo a história que me emociona e eu vivi”.

    Pumba! Lá estão todos solidários e aos gritos. Boaventura está a comer de um prato que a esquerda adora – o insulto aos adversários políticos, a ofensa gratuita, a mentira abaixo da cintura. Bolsonaro, Trump, Ventura, sabem do que estou a falar. Claro que Lula, António Costa, Seguro já beberam deste cálice também.

    Pode ser que as acusações tenham fundamento, não duvido que algumas tenham lógica, mas pela vida de trinta anos de cirurgia posso garantir que já vi inábeis com grandes sucessos, gente cheia de conhecimento e habilidades ter rotundos fracassos.

    A Medicina não é uma ciência exacta, e não é verdade que aquilo que as pessoas afirmam corresponda a má prática. A maioria das queixas em saúde devem-se à forma como se fala, ou por tempos de espera – e nada disso é Medicina.

    medical professionals working

    A realidade exposta pelo Professor Villaverde Cabral é que “os que pior dizem do SNS nunca o utilizaram”. A verdade também é que mais de 95% das queixas contra médicos em tribunal se mostraram infundadas, sendo uma decisão que não envolve corporativismo. Também é verdade que mais de 95% das pessoas que usaram o SNS se referiram elogiosamente em inquéritos.

    Quanto mais grave a doença melhor a aferição. A verdade é que a sorte e o azar existem. A realidade é que, muitas vezes, o melhor é não causar dano.

    Não sou corporativo, e até sou demasiado conhecido e visado por ser incómodo, e por tudo isso, estou aborrecido com o que se está a passar em Faro, com o protagonismo que a desorientada comunicação social dá a esta Diana, e com o que estão a fazer com Boaventura Sousa Santos de quem já escrevi duras críticas.

    O problema está na inocência – imaginem, por um segundo, a quantidade de mentiras que já brotaram de divórcios. Lembrem-se durante um curto tempo dos inocentes que Portugal encarcerou sem razão alguma. Reflictam sobre a possibilidade de alguém vos fazer o mesmo. Basta entrar sozinho num elevador com uma maluca que se ponha aos gritos e estás acusado de assédio. Basta um tipo gritar que maltratas o teu cão e o mundo incendeia-se.

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    Aquilo que me doeu mais foi a quantidade de gente sofrida, cheia de azedume, que se solidarizou sem qualquer freio ou cuidado com esta jovem. Todos os textos e discursos desta médica são de uma moralidade que não lhe pertence.

    Ninguém é a defesa da moral alheia, ninguém é a fronteira do bem e do mal, ninguém é a garantia da qualidade, ninguém consegue o erro zero. A humildade devia chover sobre esta gente que transporta regadores de trampa nas casas alheias. Talvez um pouco de senso e reflexão, dissolvidos como açúcar na humildade desse jeito também. 

    Já agora dizer que as declarações mais lúcidas, assertivas que ouvi foram do Carlos Cortes, bastonário da Ordem dos Médicos.

    Diogo Cabrita é médico


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.

  • Eu e os outros

    Eu e os outros


    Os autorretratos de Gaugin, que estão desde anteontem expostos no Museu de Arte de São Paulo (MASP), são uma sofisticação daquilo que hoje são as selfies, a exposição instagram. O eu narcísico ocupa todo o espaço da nossa existência. O eu dos meus direitos é intrusivo e ameaçador sobre os outros.

    A cultura do outro é humilde, preocupada, tem o seu preceito em não incomodar o próximo, não causar embaraço ou constrangimento. Contrariamente a esta ideia do outro como circunstância, onde nos encontramos, há o eu magnífico, o eu que se projecta na envolvência, que se alicerça sobre a existência alheia.

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    No restaurante eleva-se o som do telemóvel, não importando se incomoda. Na estrada aparca-se onde dá jeito, não merecendo cuidado se atrapalha ou dificulta. Na loja tira-se tudo do lugar, desarruma-se sem pudor. Em casa faz-se ruído após as horas de repouso dos outros. No autocarro, ou na praia, ou no passadiço, coloca-se música a inebriar o sossego dos outros, a violar o direito de todos ao silêncio.

    Não importa se incomoda desde que eu me exiba ou fique bem. Aliás, que importa se incomoda? O centro dos outros sou eu, e eu sou já a circunstância.

    Os novos boçais nascidos desta cultura narcísica são pouco sensíveis a perceber o lugar dos outros, porque neles os outros são likes de redes sociais, são frases nas app, mas não são verdadeiramente as pessoas com quem convivem.

    Olhar e perceber nos olhos que desgostamos, entender a insatisfação do outro, e ajustar o comportamento, corrigir o modo, está a perder o espaço. Abrir a porta a alguém é um gesto antigo que tem componentes de acção/ reacção formatadas.

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    Deves estender a mão para segurar a porta que te abrem. Não deves passar sem agradecer ou mostrar simpatia. Quem te abre a porta não é porteiro, é delicado e cordial. Mas as bestas narcísicas passam sobranceiras.

    A nova esquerda é a dos eus conturbados, a dos narcísicos direitos. Por isso, a nova esquerda luta mais pelos indivíduos, pela agenda dos direitos, pela afirmação das diferenças, pela configuração legislativa da repressão dos lugares-comuns, o apagamento das regras educacionais, a ofuscação da tradição apostólica romana num combate do eu contra os outros.

    Mas os outros serão o espaço social onde gravitará o eu, porque a “inibição de contacto”, o reconhecimento dos outros é a garantia da pertença ao tecido social humano. Não há tecidos de uma célula só. Não há existências de muitos sem conturbação e discussão.

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    O espaço da esquerda tem de continuar a ser a dos direitos colectivos, a de garantir soluções transversais para os direitos dos trabalhadores e dos desfavorecidos.

    O eu e os outros trespassa a identidade dos políticos de hoje.

    Diogo Cabrita é médico


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.

  • Fazendo o papel do Diabo

    Fazendo o papel do Diabo


    Porque há uma enorme insensibilidade crítica na esquerda alcoólica e fumadora contra os direitos dos outros? Fumar e beber, mesmo que em excesso, é uma habilidade social, um escape de todos os que entendem aquelas imagens do intelectual excessivo, do poeta enevoado, do escritor tombando no regresso a casa.

    Esta ideia da bebedeira premiada de Cultura encobre e “justifica” muitos casos de violência sobre as mulheres, muitos acidentes de viação, e muitas causas de doença.

    four clear glass bottles in dim light

    Já o nevoeiro interno e externo, todas as lutas para o direito de fumar, encobrem a brutalidade das patologias que lhe estão associadas e todos pagamos no Serviço Nacional de Saúde (SNS).

    Fumam porque são direitos individuais e direitos de liberdade. As consequências nunca importam.

    Já a presença do jogo livre, em casinos e em Santas Casas de enriquecer com a miséria alheia, é outra coisa muito aceite pela esquerda e pela tolerância actual das lideranças do Mundo.

    Também a completa democracia do açúcar é considerada uma coisa intocável, sendo hoje a maior causa de doença da juventude. O uso de telemóvel nas estradas é outra fantástica causa de acidentes e mortalidade nos condutores mais novos. Não se criam aplicações nem métodos de impedir o seu funcionamento dentro de automóveis, se calhar porque não se quer.

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    Porque vem um tipo com os dedos amarelos da nicotina, de copo de whisky na mão gritar contra a liberdade da prostituição protegida pela lei?

    Porque não somos a favor da máxima liberdade sujeita a códigos de boa convivência?

    A construção de regras e de limites permite definir as condutas e os gestos em tecido social.

    Detesto que ouçam teleparvoíces nos lugares públicos. Detesto ouvir as conversas alheias à porta da consulta e no bar do Hotel. Teremos de regrar esta poluição sonora trazida pela tecnologia que hoje é o novo tabaco dos aviões, das salas de espera, dos restaurantes. Os cidadãos têm mecanismos de nos poupar aos seus sons – usem-nos.

    O som espalhado pelas Câmaras Municipais nas cidades. O tonto que vai para a floresta ouvir rock aos berros, o estúpido que nos impede de escutar o vento e os pássaros ao pôr do Sol. Mas há uma lista de coisas que sim e outra que não, mesmo que o contraditório não se coloque. O que importa são as minhas certezas e as minhas convicções.

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    Não, não tendes razão. A prostituição de seja quem for, deve ser livre e protegida, e pagar impostos e permitir a reforma. Sim, o trabalho de casa pode e deve ter algum valor que permita a mulher, mãe e dona de casa defender-se num divórcio com um abusador. Sim, o alcoolismo deve ser causa favorável de divórcio e protecção de menores. Sim, o tabaco é uma droga e deve ter as mesmas opções terapêuticas que as outras dependências. Sim, o tabaco é causa de absentismo laboral e de menor trabalho em muitas circunstâncias.

    Dito tudo isto, defenderei sempre o direito de fumar, o direito de beber, o direito de estar ao telemóvel, o direito de dares umas voltas cobrando o teu corpo, mas sempre no respeito da existência do outro. O outro está antes do teu egoísmo, é isso? – é boa educação.   

    Diogo Cabrita é médico


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.

  • Prostituição legal – já

    Prostituição legal – já


    Como entroncam as questões referentes à prostituição na nova lei espanhola do “só sim é sim”? Como entra o convénio de Istambul na tentativa de ilegalização da prostituição em Espanha?

    Como duas mulheres, as ministras da Justiça, Pilar Llop, e da Igualdade, Irene Montero, conseguem mudar o código penal para que o conceito de abuso vá casar com o de violação. Que fronteiras se abatem e que muros se criam?

    A verdade é que tudo começa com cinco selvagens autointitulados de La Manada que saíram em Pamplona à rua e violaram uma jovem. Veio depois uma sentença polémica de um tribunal de primeira instância e seguiu-se a raiva, a manifestação de milhares de mulheres e o movimento cuenta-lo.

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    Do “Metoo” para um denuncia-o.

    A Lei de Garantia Integral da Liberdade Sexual conhecida por “só sim é sim” tem sido uma farpa na coligação governativa de Espanha e levanta muitas questões. Trata-se de defender as mulheres ou penalizar os homens?

    Não há violência das mulheres sobre os homens? A penalização, o aumento de penas corrigiu ou alterou o crime em algum país?

    Os números comprovam que países com muitas cadeias e milhares de presos não são mais seguros que os que optaram pelo inverso. Educar, formar, construir cedo barreiras de elegância e limites estritos à má conduta, associados com vigilância, comportamentos assertivos das instituições que devem monitorizar os comportamentos suspeitos, sempre teve mais eficácia nestes problemas.

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    Também é uma consequência das oportunidades, uma consequência dos salários maus e dos custos de vida altos, que pessoas decidam enveredar pelo negócio do sexo.

    Há prostituição que é forçada e, por isso, a luta contra as redes de tráfico de humanos, a luta contra a miséria e o apoio das mulheres e homens que se prostituem tem de ser substantivo se vítimas de abuso ou de qualquer tipo de violência ou ignorância.

    Há prostituição que nasce apenas da mais triste das misérias – a intelectual, enraizada no machismo mais primário, que esta lei quer combater. Saúda-se! Mas estes problemas são associados à pobreza mais desafortunada e muitas vezes ligada ao alcoolismo e ao consumo de drogas. Existe numa marginalidade que a sociedade demora em erradicar nas suas políticas distributivas.

    Mas há venda de sexo que é consentida, escolhida e procurada sem qualquer violência, sem qualquer abuso. O problema de confundir leva ao passo de alterar a legislação sobre os clubes de sexo, os hotéis famosos de toda a Espanha.

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    A prostituição regulada, pagando impostos como todas as profissões, exercida em livre consentimento em lugares protegidos e vigiados, é segura para todos os que a praticam e utilizam. Regressar às ruas, aos lugares sem qualquer segurança é a inevitável consequência do fecho dos puticlubs, não é uma melhoria da vida de quem optou pela prostituição.

    O sexo livre e pago é honesto e é seguro se utilizar lugares apropriados onde vai quem quer e está lá quem escolheu essa via. Não tenham ilusões os moralistas de que uma pessoa que se prostitui nos clubes pode garantir salários que muita(o)s formada(o)s e doutorada(o)s nunca alcançarão.  

    Diogo Cabrita é médico


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.

  • O estado de abandono das casas do Estado

    O estado de abandono das casas do Estado


    A Parpública é uma estrutura em forma de empresa de capitais públicos, e gere coisas como a TAP, a Imprensa Nacional-Casa da Moeda, a Águas de Portugal, a Estamo e a Efacec.

    Por vezes, gere privatizações de objectos mobiliários ou imobiliários do estado com criação de lucros. Outras vezes é condenada em tribunal, como em 2021 a propósito de uma das equipas de gestão da TAP que conseguiu 1,7 milhões de euros.

    Na Parpública sobem à liderança sobretudo os amigos do partido do Governo, e claro que, nas subsidiárias, de igual modo se come a ceia, estando actualmente inundadas de ex-membros do executivo da Câmara de Lisboa do tempo Medina. Perdido num lado, recuperado noutro. São todos funcionários públicos e gerem os bens públicos.

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    A Estamo é uma sociedade que tem por objecto a compra e venda de imóveis do Estado.

    Entre a Estamo e a Parpública, algumas hastas públicas, algumas reuniões com Ministério da Defesa, Ministério da Educação, Ministério da Justiça e Câmaras Municipais colocariam ao dispor do povo e dos empresários, milhões de metro quadrados edificados em degradação e abandono.

    Já vi abandonado património da EDP, da CP, escolar, hospitalar, militar, prisional em todo o país. O Estado é o maior incumpridor das leis e o maior predador da imagem nacional, deixando tombar muralhas, castelos, palácios e instituições.

    Podíamos fazer uma lei em que o abandono era penalizado, mas tínhamos de recordar o Estado. Afinal a ministra da Habitação sem percurso, sem história, sem currículo de vida, além de servente de Pedro Nuno Santos, teria um mundo para lavrar ideias conexas.

    A habitação para estudantes em grande número obrigava milhares de donos de casa a repensar a sua utilização, os seus arrendamentos. O Estado ou as Câmaras entravam num negócio que tem sido rentável a muita gente e que permite a manutenção e preservação de edifícios.

    aerial photography of rural

    A criação de centros de trabalho para empresas com salas comuns, auditórios rotativos, salas de reunião, localizava pequenas e médias empresas e libertava espaço na cidade.

    Os centros das cidades devem ser para as famílias, mas as leis têm de ser eficazes para construir acessibilidades à mobilidade, facilitar a construção de elevadores, permitir alterações de estruturas para criar qualidade de vida.

    Os centros velhos devem ser renovados sem um peso em anos de licenças e custos brutais de burocracia. Há muito para fazer na construção e na habitação, mas o Governo entrou pela porta alheia e fechou a sua.

    Diogo Cabrita é médico


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.

  • O silêncio rasgado

    O silêncio rasgado


     

    A ti, que estiveste internado nos serviços de saúde durante a tal crise de 2020 a 2021, abre a porta do silêncio e conta-lhes o que viveste.

    Cidadão com teste na narina positivo era internado numa cama, num quarto de um ou vários, janelas fechadas e penico alto debaixo da cama.

    Preso na habitação fechada, sem renovação de ar com o penico pertinho da mesa da comida, confundindo cheiros.

    A spotlight coming from a hole in a dark underground cave in Minorca

    Vinham pessoas impossíveis de identificar, vinham técnicos completamente limitados por roupas de protecção, e ajudavam a higiene, despejavam os penicos e traziam comidas.

    A medicação decorria nas mesmas condições. Não pode sair! Não pode abrir a janela! Deite-se!

    O musgo acumulava-se nos tectos e o mau cheiro crescia.

    A doença nuns progredia de modo inexorável para um fim trágico, e noutros havia um despertar.

    A liberdade dependia do cotonete na narina.

    A progressão da doença assustava os técnicos que viviam em pânico de ir para um daqueles insalubres lugares.

    O susto era produto da informação externa aos hospitais, veiculada por alarmistas médicos, alucinados matemáticos que previam o apocalipse. Assustados iam para casa e dela voltavam.

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    Os meses passavam e os cenários eram iguais, cada vez mais simples, mais previsíveis, com mais gente que ficara infectada e regressava sã. A larga maioria das pessoas contraía a doença e melhorava.

    Havia uma recomendação de fechar-se em casa uns dias e depois, apesar do que se diz nos livros, regressava imune, carregava medo igual, e protegia-se do mesmo modo.

    Um tempo de fazer pela ignorância do medo, sem ousar acreditar numa vírgula que fosse do que se escrevera até hoje. Assim fecharam-se milhares de pessoas, incomunicáveis permaneceram durante anos alguns idosos, converteram-se lugares de escrutínio da vontade e da opção livre, em casernas militares e presídios obrigatórios. Os filhos arrasados de receio fugiam dos pais.

    A mim perturba-me imenso aqueles encerramentos de jovens e idosos no sanatório dos Covões durante semanas, como se estivéssemos nas trevas da lepra, no pior tempo da SIDA, no maior obscurantismo da Idade Média.

    woman holding her face in dark room

    Se tivessem morrido 7% das pessoas que contraíam a doença (faleceram menos de 0,9 e sobretudo os muito doentes, ou idosos em fim de vida e, como em tudo na vida, raras excepções), tínhamos voltado à mais negra das noites. Tinham-se matado vizinhos, tinham-se libertado as feras dentro de nós, pessoas viravam bestas – se é que alguns não viraram.

    O que testemunhei nos hospitais durante a crise de 20/21 é uma das facetas mais tristes da menoridade humana e daquilo que o medo expresso nas redes de informação catapulta.

    Diogo Cabrita é médico


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.

  • Vida só com liberdade

    Vida só com liberdade


    Sofisticar a linguagem legal para comprovar que distorcer a lei e incumprir a Constituição está certo – esta foi a prática comum de inúmeros políticos para justificar gastos milionários, impor medidas ditatoriais e conduzir ao colapso de muitas instituições durante a pandemia.

    O objectivo do texto seguinte é, com a luz dos dados, demonstrar como estiveram errados. Primeiro as fontes do conhecimento. É preciso ter dados para depois perceber o que se está a afirmar.

    man in black long sleeve shirt raising his right hand

    A Pordata é uma plataforma de dados disponível a todos os cidadãos portugueses e internacionais, tal como o Euromomo, permitindo colher informação que temos por clara, impoluta e livre. Alguns têm sido colocados em morte aparente desde que houve polémica política na gestão da saúde.

    Depois, há documentos incontornáveis, que demonstram a importância da má qualidade em saúde que se está a viver em Portugal e na Europa: má alimentação, sedentarismo, poluição, excesso de medicação estão relacionados com a má qualidade de vida de muitos jovens.

    Ainda assim, os jovens morrem pouco, e morrem muito menos que os idosos. Na população prisional os jovens são a maioria com prevalência de gente abaixo de 40 anos. Os dados das plataformas referidas acima permitem a qualquer um comprovar que esta pandemia não teve qualquer impacto na mortalidade abaixo dos 40 anos, não teve qualquer alteração entre o pré e o pós-vacina, e sobretudo permite reparar que há um pico por esclarecer após Dezembro de 2022.

    Ou seja, o facto de a população ser mais nova acarreta muito menos perigo dentro dos presídios. Já sabíamos isto em Maio de 2020 devido a uma massiva infecção por covid-19 num porta-aviões da Marinha norte-americana.

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    Sabíamos isto também em Lisboa quando centenas de migrantes contraíram covid-19 numa pensão em Lisboa e não morreram.

    Impedir a visita aos presos de cônjuges não-vacinados é um desrespeito da Constituição. Uma arbitrariedade é sempre uma prepotência de quem se julga para lá da lei. Em Portugal ninguém é obrigado a vacinar-se. A Direcção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais (DGRSP) determinou que para haver contacto tinham de obrigatoriamente estarem vacinados.

    Esta regra da DGRSP servia para provar a sua competência num tema: Durante a pandemia, eles tinham salvado a população de morrer nos presídios por covid-19. Assim pensa o secretário de Estado da Justiça também.

    O que dizem as estatísticas? Não houve alteração de mortalidade total nas idades abaixo de 40 anos durante a pandemia. Bolas! Então, a maior causa de morte nos presídios de Portugal entre 2019 e 2023 em jovens foi de suicídio.  Estamos a falar de gente presa à guarda do Estado!

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    A personalidade autoritária (Hannah Arendt) que decide contra a Constituição, que os presos (porque não cumpriram a lei) não podem ter visitas, acha que tem esse direito porque os está a proteger. Tem? Teremos o direito de coartar liberdade em defesa da vida?

    O leão se conseguisse escolher a morte ou a jaula eterna, talvez deixasse de comer. Infelizmente durante a pandemia a predisposição autoritária (Karen Stenner) pôde viver sem qualquer contraditório, arrasando a democracia e a constituição. Legitimar o discurso para decidir contra os dados e a lei chama-se despotismo, autoritarismo e normalmente precede o fim das democracias.

    Aquando do ataque às Torres Gémeas, muitos sonharam com a coartação de liberdades, muitos quiseram impor medidas draconianas sobre os islâmicos. A Democracia resistiu. A Liberdade impôs-se às histerias pela defesa da vida.

    Quando permitimos o discurso sem contraditório e promovemos apenas os que repetem a nossa linguagem, construímos um mundo de autómatos, uma sociedade de religiosos vigiados por vizinhos, apontados e denunciados pelos amigos.

    person standing near table

    A DGRSP podia estar bem-intencionada, mas a sua decisão foi intolerante e antidemocrática. Coisas muito semelhantes fizeram alguns directores de lares (os presídios de velhos durante a pandemia), que tiveram acções igualmente déspotas e inconstitucionais.

    Este é um problema que, infelizmente, vem da natureza humana e do seu pé que foge para o chinelo. Por esta razão, muitos pensadores têm tentado construir instituições que colocam a Democracia acima da eleição, que balizam os poderes por pressupostos legais, e por esta razão os Estados Unidos sobreviveram a Donald Trump, enquanto a Rússia, a Turquia, as Filipinas quase sucumbem aos ditadores narcísicos. Reconheço esta genética em vários comentadores do Público e do Expresso.

    Diogo Cabrita é médico


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.

  • A revolução é sair da cadeira

    A revolução é sair da cadeira


    Os deputados gozam do direito de livre-trânsito, considerado como livre circulação em locais públicos de acesso condicionado, mediante a exibição do cartão próprio, além de possuírem ainda o direito a passaporte diplomático por legislatura, renovado em cada sessão legislativa.

    Esta é a revolução mais extraordinária que os deputados podiam fazer e nunca foi feita. Um deputado pode chegar a um hospital e exigir entrar e verificar in loco o que se está a passar na instituição. O seu mandato é o voto legítimo do povo e a sua representação é a garantia da democracia.

    Os deputados podem entrar quando e à hora que quiserem num presídio e verificar os dados tremendos que a Direção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais (DGRSP) publica sem medo e sem cessar, sobre a verdade das cadeias.

    Estive num evento da Organização Mundial de Saúde em 15 e 16 de Fevereiro em representação da Associação Portuguesa de Apoio ao Recluso (APAR) onde se falou de saúde nas prisões.

    Os deputados portugueses se procedessem à visita sem aviso prévio de muitas instituições eram um garante da democracia. O exercício desta acção surpreenderia os absentistas, os que se acham acima da lei, os que impõem regras antidemocráticas nos lugares onde foram colocados para gerir.

    Os deputados não são vigilantes, não são empresas de avaliação e certificação, mas têm o direito de ir ver, irromper e ser testemunhas da coisa pública.

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    Por esta razão os deputados podiam ser muitos mais, contrariamente ao que afirma alguma demagogia. Um deputado que fosse à porta do estabelecimento prisional de Lisboa, pedisse para entrar, descobria que é mentira que temos 12 mil celas para cumprir as penas de privação de liberdade. Temos é celas para um que estão declaradas para três, o que é uma manifesta aldrabice, e que surge em relatórios exaustivamente repetidos.

    Um eleitor pediria a um deputado que fosse ver como o estão a tratar na CP, ou na Brisa e o gesto de aparecer faria diferença, porque os cobardes temem a autoridade, os velhacos temem as consequências dos seus atropelos. A perpetuação de muitas ilegalidades deve-se ao rabo sentado de muitos dos eleitos pelo povo para os representar.

    Num país onde a certificação é sinónimo de compadrio, e actualmente de negócio, onde a auditoria é sinónimo de simpatia e ganhos secundários, onde a palavra vigiar é feia, avaliar chefias é mal interpretado, só uma acção individual pode alterar as coisas.

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    Desafio os deputados do CHEGA a percorrerem as cadeias de Portugal. Desafio-os a levarem colegas do PCP e depois fazerem um documento menos demagógico sobre o que é preciso mudar na justiça portuguesa. O documento de 500 páginas está bem feito e compõem-se dos dados que são feitos chegar aos relatores; o problema é quando os dados não são exactamente aquilo que a observação directa demonstrariam.

    Recordem sempre que Mandela esteve preso 28 anos. Recordem que todos podemos ir parar a um presídio.

    Diogo Cabrita é médico


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.

  • Toda a vida fui arguido

    Toda a vida fui arguido


    “O arguido pode ser definido como a pessoa que é formalmente constituída como sujeito processual e relativamente a quem corre processo penal como eventual responsável pelo(s) crime(s) que constitui(em) objeto desse mesmo processo.”

    O arguido é, pois, uma condição para a qual se pode ser constituído ou se pedir. Se um processo de acusação – sobre o qual não significa que esteja consubstanciado num crime ou suspeita de crime – é deduzido sobre um cidadão, ele fica protegido ao tornar-se arguido.

    Protegido? Sim.

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    “Entre os [seus] direitos, destacam-se os direitos de presença (nos atos processuais que diretamente lhe disserem respeito), de audiência, ao silêncio (que não pode ser interpretado como presunção de culpa, atendo o princípio da presunção de inocência), a assistência por defensor, de intervenção e de recurso.”

    Não me lembro dos dias da minha vida em que não fui arguido. Quase toda a carreira profissional decorreu nesse estatuto, por ter sido acusado mais de 28 vezes de crimes que não cometi. Na maioria das vezes fui acusado de difamação quando tinha dito a verdade. Duas vezes fui condenado por me exceder nos termos utilizados para definir uma pessoa que detestava.

    O excesso de termos é punido, mas não retira a sua adequação sobre a vítima. Há pessoas mesmo estúpidas! Não lhes podemos chamar isso em público ou escrever no jornal. Nunca utilizei a justiça nos meus conflitos. Insulto-os nos lugares próprios, e eles zangam-se e respondem com a lei.

    De facto, ser acusado num país de narcisos é fácil. Ser acusado por crimes que não se cometeram também é prática de muitos conflitos familiares. Conheci pais afectados por acusações falsas, mães torpedeadas por exageros da acusação. Conheço jornalistas assediados pelos advogados das instituições.

    black trash bin

    Ultimamente, um tipo que foi levado ao colo pelo seu sindicato, chamado Pedro Abreu, que se constituiu defensor das ideias do Governo para a pandemia, perseguiu-me no Facebook, insultou-me, moveu-me processos na Ordem dos Médicos e, por fim explodi, num post violento, excessivo sobre ele.

    Fui constituído arguido e o Ministério Público julgou o meu excesso e sugeriu uma injunção para suspensão provisória do processo. O “castigo”, que não significa qualquer condenação, pareceu-me adequado e justo: pagar uma verba ao Instituto Português de Oncologia (IPO). Assim farei.

    Ao Abreu jamais daria, sem batalha, um tostão que fosse. Não deixa de ser verdade que me excedi, e não deixa de ser verdade que não lhe movi processo difamatório (como talvez devesse), tal como o não fiz à infame revista Sábado. Não gosto da utilização de tribunais para minudências e os insultos fazem parte da vida pública.

    Estamos num tempo de exaltações. Há quem acuse a sogra de 90 anos de lhe ter chamado cabra. Há quem gaste tribunais porque odeia o pai dos filhos e não quer permitir-lhe o conforto da paternidade. Gente estúpida e egoísta.

    school of fish in water

    Ser arguido é sinal de actividade. Não se incomoda quase ninguém se não se fizer nada. Claro que a inépcia tem consequência para as instituições. O silêncio cúmplice também. Na minha opinião estas pessoas incomodam empreendedores como eu. Revolto-me, destrato-os, excedo-me, aqui e ali. Assim, sou arguido e frequentemente lá vou ao DIAP; à Judiciária, à PSP.

    Não me tira o sono, não me irrita, não me dá palpitações. Faz parte da minha vida ser arguido por uma acusação de um incauto que se sentiu lesado pela minha actividade. Nunca pensei ser arguido por ter opinião, por ter convicções e isso só foi possível com a pandemia. Mandela foi preso pelas ideias. Senti-me um Mandelazinho. Álvaro Cunhal esteve preso por convicções. Senti-me um Cunhalzinho.

    Participo, deste modo, em todas as vezes que sou arguido. Não minto, não fujo das responsabilidades, não douro a pílula, não misturo assuntos.

    Por vezes, o Ministério Público usa a palavra arrependimento para a subtileza de se reconhecer um excesso. Arrependido é quem não está convicto da sua verdade. Outra coisa é a percepção de que a lei é uma, una, fria, imperturbável, e que ao ultrapassar a sua fronteira nos excedemos, e portanto devemos ser punidos. A aceitação sem rebuço da punição também não é arrependimento.

    O Abreu é uma pessoa desinteressante, viperina, deselegante, de má índole, mas também dele não devo expor dados pessoais, que foi o crime que cometi. Na altura soube-me pela alma. Infiro ser esse o sabor do crime na sua concretização – um alívio, uma descompressão plena.

    Estou convicto de que o tempo demonstrará as inverdades da gestão da pandemia. Estou convicto que haverá uma demonstração cabal dos excessos e dos ganhos secundários obtidos com as medidas de contenção e a vacinação de crianças. Estou com os pensadores críticos desta imensa loucura: Agamben, Biung Chul-Han, Raquel Varela, e não estou com outros que também cuidei de ler e são intensos engajados do status WHO/OMS como Juan Luis Arsuaga que escreve divinalmente, ou Manuel Carrilho. 

    Diogo Cabrita é médico


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM. Porém, neste caso, o director do PÁGINA UM decide subscrever, integralmente, esta opinião. E, provavelmente, se considerasse ser a persona em causa suficientemente relevante para lhe dedicar algumas palavras, então seria ainda mais acutilante e incisivo.

  • 31 maneiras de tornar a vida insuportável

    31 maneiras de tornar a vida insuportável


    Palavras que significam má relação, que provocam instabilidade e desarrumam o colectivo social estão definidas nos pecados mortais.

    São uma lista de modos de estar que provocam picardias e irritações. As formas de agir que dificultam a conversa, o estar em partilha, foram desenhadas por Evágrio do Ponto (345-399) que teria escrito uma lista de oito crimes (culpas) e “paixões” humanas, em ordem crescente de importância (ou gravidade). Da sua vivência com os monges, interpretou os seus defeitos no quotidiano da partilha, definindo os oito males do corpo, mas também doenças espirituais que os afligiam e conduziam à disputa e à discussão.

    woman covering her face with red apple

    Com ele nasceram os “pecados mortais”. Mas há muito mais defeitos, ou negatividades, correspondendo a todos um antónimo sorridente. 

    É difícil codificar numa palavra algumas das características más, apesar de perceber exactamente o que queremos representar. Há comportamentos que são a representação da necessidade do bando, da vara, da manada.

    A “matilha”, ou a predilecção de alguns pela existência protegida, pela pertença ao grupo ou ao gang, não tem uma linguística perfeita, mas apouca a cidadania. Inclua-se aqui a subjugação à moda. A pertença ao clube de futebol, a exuberância de agradar ao líder do partido, tudo isso chamaremos de “enquistamento”. Os enquistados usam linguagem semelhante, roupas idênticas, discursos em frases feitas.  

    A interiorização da “fronteira”, a incapacidade de não invadir o espaço alheio que encontramos no toque, na abusiva presença, na falta de linhas que digam “a partir daqui não” (inibição de contacto), é também de difícil nomeação. Chamar-lhe-emos de “o desbragamento”. Era mais fácil se o outro tivesse um semáforo na testa. 

    man face covered with white tape

    Mas são adjectivos bem qualificativos do género e fáceis de definir: a preguiça, a melancolia (a tristeza), o ciúme, o dogmatismo (fanatismo), o medo, a apatia (ou desinteresse), a vergonha, a timidez, a ira, a luxúria, a vingança, a sujidade (a falta de higiene), o mutismo, o vício (qualquer um deles por si só, ou todos), a vozearia, o desprezo, a mentira, a vaidade, a idolatria, a gula.

    Mantendo o menu do que devíamos evitar, perto de nós, estão a avareza, a inconsciência (ou irresponsabilidade), a infantilidade, o egoísmo, a incoerência, o ser esquivo. Por tudo isto, a relação de pessoas em espaços confinados vira fervura.

    E agora temos 28 “pecados mortais”, verdadeiras asperezas à relação entre pessoas e não há relação de pessoas com animais, porventura mais simples, pois eles não são assim.

    A vida contemporânea introduziu mais três motes, agora tecnológicos. O utilizador incessante de telemóveis e o jogador de computador. Estamos em 31 maneiras de tornar a vida em família, ou de um grupo numa casa, insuportável.

    woman in pink jacket lying on gray couch

    Acrescentem-lhe o fanatismo de ver filmes e séries de televisão: binge-watching, traduzido de modo livre por “visionamento bulímico”, a doença de ver televisão (séries, filmes, etc.) ininterruptamente. Sabemos que os canais tendem a adequar os seus conteúdos aos alvos que somos nós e que vão construindo armas de percepção dos interesses de cada um. 

    Se quiserem um exercício interessante perceberão que conhecem a Alexandra que é desassombrada, o Sá que é preguiçoso, o José que é aldrabão. Mas facilmente descobrirão amigos incríveis que são abnegados, empenhados, trabalhadores, solidários, e sobretudo pagadores de impostos.

    Diogo Cabrita é médico


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.