Autor: Diogo Cabrita

  • Omnipanoptismo

    Omnipanoptismo


    Há muitos estudos hoje que comprovam os benefícios da rede de imagens, quer na aplicação de multas quer no reconhecimento facial, que permite a identificação do prevaricador e a sua detenção em tempos record. O desenvolvimento do sistema de videovigilância pública em Bruxelas, Keersmaecker e Debailleul (2016) foi apresentado num magnífico trabalho, o qual recomendo.

    Logo na introdução, define-se circuito fechado de televisão (CCTV) como “um sistema de TV no qual os sinais não são distribuídos publicamente, mas são monitorados, principalmente para fins de vigilância e segurança”.

    A polémica associada ao CCTV surge das questões muito associadas a um discurso das esquerdas do Maio de 60, que privilegiam a protecção da privacidade. Uma série, que muito me agradou, ‘Sob suspeita’, abordava este tema de modo fascinante, pela acção, pelo suspense, e pelas inúmeras questões associadas ao tema. Lançado em 2013, mostrava então como o reconhecimento facial e a inteligência artificial permitiam antecipar alguns gestos desaconselhados. A ideia de reduzir o erro humano, definindo algoritmos que respondem com aprendizagem por máquinas, que interferem na decisão pessoal, é pelo menos polémica.

    a security camera attached to a pole

    O conceito de panoptimo participativo vem do conceito de panóptico, uma estrutura arquitectónica idealizada pelo filósofo e jurista Jeremy Bentham (1748 -1832), que consistia num dispositivo polivalente da vigilância, permitindo que um único observador conseguisse monitorar várias pessoas simultaneamente. 

    O panoptismo tornou-se uma forma de disciplina e vigilância que tem sido aplicada em várias “instituições de sequestro”, como a fábrica, a escola, o hospital, o quartel e a prisão. Aconselho a leitura de umas reflexões sobre os efeitos da vigilância constante, pelos investigadores brasileiros Rafael Matias de Souza e Edu Silvestre de Albuquerque, em Janeiro de 2024, na revista Contradição – Revista Interdisciplinar de Ciências Humanas e Sociais, onde se levantam questões da monitorização criminal e da sensação subjetiva de segurança nas favelas, onde o crime observa a polícia com seus mecanismos de vídeo, móveis e fixos.

    Para Foucault, o panoptismo é uma forma de poder que se baseia na vigilância constante, que por sua vez induz a conformidade. O poder não é exercido apenas por um indivíduo, mas por toda uma rede de instituições que monitoram e controlam a vida das pessoas.

    Tiago Veloso Nabais escreveu em 2023 para o Instituto Superior de Ciências Policiais e Segurança Interna o artigo ‘Proteção de Espaços Públicos: Sistemas de Videovigilância Inteligentes’ onde refere que “numa era em que cada vez mais a noção de privacidade atinge novas dimensões, ao colaborar-se para a difusão de uma cultura de vigilância, as não cedências de privacidade no âmbito securitário afiguram-se revestir de uma forma de hipocrisia”.

    eye, watch, paper

    O tema debruça-se sobre esta contradição da privacidade com a importância da segurança. Na realidade há um processo “omnipanótico participativo” quando os cidadãos colocam as suas câmaras ao serviço da vigilância sem restrições, quando todos desejamos descobrir o criminoso em curto espaço de tempo, e quando podemos antecipar o crime.

    Há uma contradição entre leis de defesa da privacidade, leis fomentadas pelo discurso psiquiátrico em voga, que legitimam toda a diferença e fomentam toda a inclusão, e a realidade dos crimes que podíamos ter impedido se a segurança se sobrepusesse à liberdade.

    Este é um dos temas essenciais do século XXI a que não podemos estar indiferentes, de que não nos devemos afastar.  

    Diogo Cabrita é médico


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.

  • Migrações

    Migrações


    O problema imigrante é um problema que se mete no bolso alheio. Eu coloco-te um pico nas calças que te pica a nádega e te dói o rabo quando te sentas. É o “pico pico serenico” que te enfio na ganga. O problema imigrante é uma estratégia da política gargarejo. O político mete uns sumos bons e faz “gru gru” de pescoço erguido, mas não bebe, não assume, não emborracha.

    Assim se perpétua o problema imigrante. Vejamos os discursos dos demagogos: “As migrações devem-se todas aos países ricos. São os lugares onde vivem os culpados, pois são eles que obrigam as pessoas ao fluxo, porque sobretudo ganham dinheiro com os botes afundados e os corpos afogados”. Ora tende juízo!

    Mais discursos demagógicos: “A culpa nunca é dos políticos miseráveis que se abarbatam com o dinheiro dos povos, não é dos boçais demagogos que conduzem países inteiros à miséria. Nunca se escreve em grande o nome dos donos dos regimes de partida. Fala-se de Itália que recebe, mas omite-se a Somália, o Sudão, a Nigéria, a Etiópia”. Haja tino!

    Os picos sul-americanos, africanos e asiáticos que se enfiam no bolso alheio, brotam de faunas violentas, de regimes cancerosos, de poderes malignos onde alguns arlequins e pierrots se perpetuam há décadas infligindo morte, perseguição e miséria. São os regimes sustentados no narcotráfico, solidamente apoiados em negócios petrolíferos, associáveis a radicais religiosos, regimes de muitos matizes que murmulham miséria, que semeiam atrocidades.  Os fanáticos querem politizar o que é apenas do domínio do humano insano: os pecados mais óbvios. Regimes de gananciosos, ou psicopatas, ou vaidosos. Não me importa a cor política destes vermes! As guerras infindas que criam fugas massivas de população são outra origem das imigrações.

    As migrações causam problemas? – Causam!

    Que a procrastinação no destino aumenta as mortes? – Aumenta!

    Que a chegada de milhões de homens à Europa e à América é um risco?  – É!

    A mistura de culturas radicais acarreta tensões. Se as sociedades facilitam as entradas em volumes impossíveis de registar, volumes sem definição estratégica, constroem margens inseguras, lugares de alta voltagem.

    O Governo anterior deixou quatrocentos mil picos nos bolsos do Governo actual. Havia um enorme problema que se escondia sob o manto ideológico dos demagogos. Vivemos oito anos de ausência de soluções e agora temos um problema para resolver. Como este Governo vem com a genica toda, passámos dos oito aos oitenta, e agora é tudo a trouxe-mouxe. Intenções não faltam, estonteante poder executivo num lamaçal perigoso. Gosto de soluções muito mais que de problemas e admiro quem quer fazer caminho, mas não esqueço a importância de reflectir, delinear, construir objectivo e por fim criar a logística.

    A Agência para a Integração, Migrações e Asilo (AIMA), que sucedeu ao Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) estava de pantanas e apostou-se numa reforma que era suportada nesta estrutura. Sucumbiu à primeira vaga. Era um super-tubo a cair sobre funcionários que só sabiam chapinhar.

    Mas agora o tal do Chega tinha razão: havia um problema! Os fluxos de pessoas são inevitáveis e ninguém desmente os seus lados bons. O que não queremos é uma realidade adulterada por uma onda insurfável. 

    Diogo Cabrita é médico


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.

  • A bizarria, a única verdade e o crescimento da direita

    A bizarria, a única verdade e o crescimento da direita


    A realidade transformada é agora a percepção da normalidade. A ideia que transmitimos do que é comum e genericamente desejado está pervertida no politicamente correto.

    Hoje vivemos um tempo de várias bizarrias. Um exemplo da forma leve e acrítica como recebemos notícias chegadas dos meios de informação é o fenómeno Castelo Branco. Ou a bizarria em que se converteu a Eurovisão. Ou os julgamentos sumários de pessoas exóticas que servem propósitos mediáticos e depois se destroem sem pudor. Para cantar não se carece de uma extravagância. Para dizer uma letra eloquente não se precisa uma bandeira. Mas acha, quem organiza, que a maioria dos ouvintes prefere a bizarria? Só por dizermos isto incomodamos muita gente!

    brown wooden piano

    A forma quase obrigatória em que os programas da tarde são anunciados por homossexuais é outra face única da realidade. Nada me ofende em Manuel Luís Goucha, excepcional apresentador. Nada me afasta do Malato ou do Cláudio Ramos. Já me parece desproporcional a obrigatoriedade de ser gay para apresentar um programa na televisão. A realidade é uma face de um mundo em que cinco outras faces se escondem. Não há heterossexuais de qualidade? Só o facto de dizer isto, deixa muita gente incomodada!

    A projeção de uma “realidade”, que só transporta uma verdade, é um processo de aculturação perverso que esconde muitas faces da composição da realidade. Deste modo, conduzimos o mundo para um silêncio balizado por discursos corretos, verdades convenientes, políticas de insulto ofuscante. A realidade pode estar desenhada sem perceber que a maioria silenciosa está cansada das montras obrigatórias.

    O bizarro facto de haver dezenas de comentadores do “centrão político”, do globalismo feroz, dos fascinados por certificações, dos sucumbidos da tecnociência, tenta apagar o homem religioso, a componente mágica da mente, a importância do desconhecido, as consequências da utilização de aditivos, medicações, vigilância informática. Qualquer dúvida sobre os temas fortes do globalismo, tornou-se um alvo dos canhões dos crentes na emergência climática, dos defensores das energias ditas sustentáveis, na aposta nos carros elétricos. Os outros são negacionistas e terraplanistas. Logo depois, são fascistas e toda a lista de ‘istas’ que fervem na boca de ‘Catrina Martins’.  A total indiferença que o candidato do Chega ofereceu a Catarina Martins foi tonitruante. A verborreia insultuosa com que esta retorquiu reduz a protagonista.

    A realidade deve ser um cubo, e está vertida numa exposição de uma face, apresentando-se como um quadrado simples, que esconde as cinco faces restantes. A melhor visão da realidade é supormos um cubo inclinado na perspetiva de observarmos três faces, ou se quiserem três verdades. Um ser humano é social, mental, biológico, circunstancial, genético e celular. Nunca estes capítulos são observáveis em simultâneo.

    grayscale photo of rabbit plush toy

    Nunca o conhecimento do outro integra a totalidade das verdades do cubo. Por outro lado, cada face é um título cheio de capítulos. A mente é emoção, razão, memória, comportamento, atitude, relação. A circunstância é ambiente, tempo, política. A genética é isso mesmo com suas consequências boas e más. A célula é o homem só, o ser na completa solidão, as características da pessoa sem observação.

    Serve este texto para explicar como a ferocidade ideológica se está a impor no Mundo. Aqueles que não concordam com algumas evoluções encontram um radicalismo bizarro que só se pode combater com uma bizarria igual. Os actores são cada dia mais bufões, mas carregam com eles os silêncios das cinco faces que não se quer mostrar. São bufões, como os cantores da eurovisão que vestem a música que não cantam. Imaginem que se candidatam à europa trajados assim…  

    Diogo Cabrita é médico


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.

  • A Matrix aqui à nossa frente

    A Matrix aqui à nossa frente


    Um jovem contou no programa da Antena 1 “Portugueses no Mundo”, como é a sua vida na China, dependente de um telemóvel. Na China, diz ele, é impossível viver sem telemóvel: ” se a bateria do telemóvel acaba, não dá para apanhar o metro para ir para casa, não dá para chamar um táxi, não dá para pagar a comida, não dá para fazer nada”.

    O dinheiro como objecto praticamente desapareceu e se queremos um bilhete de metropolitano, temos uma aplicação; para um restaurante, outra aplicação; para o táxi, nova aplicação; para entrar no prédio há dependência de outra aplicação, ou de um registo biométrico. Somos controlados no tempo gasto, na presença nos espaços e na actividade de compras ou de ócio.

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    O telemóvel é agora um porta-moedas, um bilhete de identidade e uma chave. Na China passaram do dinheiro para as aplicações. Por acaso também regista fotos, permite filmes e jogos e também acesso à Internet e a telefonar. Tendo localizadores e mecanismos de orientação, o telefone é agora o que garante a nossa cidadania vigiada. Estamos protegidos pois indica quem se aproxima, e escolhe os encontros que desejamos ter. O telemóvel é uma rede de encontros, uma forma de negociar e sobretudo uma fonte de informação.

    O jovem gostava, e achava que as aplicações, que só são disponibilizadas em chinês, são amigas do utilizador, fáceis de perceber, e de interiorizar, mesmo não conhecendo a língua. Nos restaurantes, por exemplo, nem sequer precisa de interagir com os empregados. Tudo se faz por um aplicativo.

    Do ponto de vista conceptual estamos perante um telemóvel que nos ajuda a orientar, que nos garante não esquecer a medicação, que nos relaciona com sistemas de segurança, que nos identifica na relação institucional. Associado às pulseiras, que hoje parecem relógios, o telemóvel é um analista de saúde registando pulsações, glicemias, pO2. Os telemóveis estão, portanto, para além da privacidade, e convertem-se em nós mesmos. Eles interligam-se com os carros, com a televisão, com a luz de casa, e permitem abrir os estores e persianas, mesmo quando vamos de férias. A tecnologia invade o nosso quotidiano e começa a ser uma limitação da cidadania info-excluída.

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    Na China o poder lembrou-se de utilizar isto tudo para catalogar a cidadania e pontuar as pessoas em níveis de qualidade. Podemos ser multados, repreendidos, mudados de emprego se os pontos obtidos são inadequados. O protesto ou o desvio da norma paga-se em retirada de pontuação.

    O Estado manda e tu obedeces. A sociedade caminha para uma mutação uniformizada, previsível, redutora de riscos, indutora de segurança, obsessiva de rotinas e normalização. 

    Como sempre, há coisas boas e más. Se a esta vigilância corresponder uma distribuição igualitária de bens e riqueza, se com ela houver igualdade de acesso à Saúde e à Educação, se forem induzidas para estilos de vida saudáveis, com endorfinas sempre em alta, sentem-se felizes – e são autómatos a quem se pode dar a droga da felicidade permanente. A Matrix é, pois, uma escolha à nossa frente.  

    Diogo Cabrita é médico


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.

  • Os do “fascismo nunca mais” e a liberdade

    Os do “fascismo nunca mais” e a liberdade


    Por um processo doente e travesso fui descobrindo como um discurso com memória de postal se sobrepõe à realidade. A memória de postal é a imagem de coisas que vimos, mas não visitámos. É a memória fotográfica da infância que assumimos na adultez como vivenciada, mas é um embuste da memória. A larga maioria do vivido até aos seis anos é esquecido. A ideia de que se recorda de mamar é uma irrealidade.

    Neste processo de recordação, as pessoas tendem a não perdoar. As pessoas que valorizam o trauma e dão primazia à dor (involuntariamente ou não) sofrem obviamente mais que as do copo meio cheio. Esta capacidade inata para o optimismo ou a visão benigna foi levada à hipérbole no filme de “A Vida é Bela” sobre o judeu Guido Orefice.

    Roberto Benigni, realizador de ‘A Vida é Bela’, numa das cenas do filme no qual é também protagonista.
    (Foto: D.R.)

    Já os do copo meio vazio observam sempre a borra do café, excluem todos os brindes para lá do estritamente pedido, desgostam de mudanças, insistem teimosos na sua observação icónica. Para eles os outros têm culpa. A culpa nunca é deles.

    Os do “fascismo nunca mais” pertencem a este plano inclinado onde o mundo se divide em bons e maus e os primeiros nunca cometeram crimes.

     Já agora, os bons são sempre, e somente, eles. A visão retorcida de um mundo onde Estaline não cometeu erros, onde as barbaridades pintadas de ideologia socialista se justificam por um bem maior. Para eles a culpa não tem fim. Os do holocausto foram os alemães, e, portanto, desconfiam de todos eles. A visão retalhada da história onde o genocídio de 1994, em cem dias, de oitocentos mil tutsis no Ruanda, pela mão dos comandados por Agathe Habyarimana foi encoberto pelo partido socialista francês, não conta! O genocídio de mais de cento e cinquenta mil alemães em Dresden, depois da rendição em 1945, não conta. Foi uma ordem trabalhista. O Holodomor entre 1931 e 1933 que matou milhões de ucranianos, às ordens de Estaline, não existiu. A morte dos opositores de Fidel Castro não existiu. O mundo da esquerda foi-se pintando desta maré de lavar os erros dos bons e colocar à tona os dos maus.

    E o que é a expiação de culpa? Depois dela continua a mágoa e o crime? Os crimes de direita, admitindo como só existindo esses, não prescrevem? Os assassinatos do Primo de Rivera são eternos e os da Dolores Ibarurí (a Pasionara) prescrevem?  A ela se atribui a frase: “Más vale matar a cien inocentes que dejar escapar a un solo culpable”. Uma doçura!

    Monumento em Memória das Vítimas do Comunismo, em Praga, República Checa. (Foto: D.R.)

    É por esta forma viciada de observar o mundo que os do fascismo nunca mais defendem agora a coartação da liberdade na internet, a redução da informação às verdades que eles escolhem, os discursos inflamados contra todos os que não são os bons. A unidade dos partidos de esquerda em Portugal é um sintoma desta perniciosa realidade. Todos utilizam estribilhos ofensivos e arrogantes contra os partidos de direita. Os maus (sempre a direita) querem as trevas, o obscurantismo, o fim do SNS, o fim da educação para todos. Na realidade, nada disto é verdadeiro e nada disto tem respaldo programático ou da prática recente.

    Recentemente um velho conhecido escrevia-me – “não quero que os meus amigos leiam o que tu escreves” – e assim me retirou dos seus espaços sociais. O democrata, que teve liberdade de usar o meu espaço sempre que quis, e dizer o que lhe apeteceu, censurou-me! Diz-se de esquerda, como habitual. É um dos do “fascismo nunca mais” desde que mande eu! Direi como Dolóres Ibarrúri – No pasarán!

    Diogo Cabrita é médico


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.

  • Infortúnio

    Infortúnio


    O azar do mundo pode ser medido em candidatos.

    Uma América que tem de escolher entre aqueles dois.

    Um Brasil que só tem aqueles dois.

    Depois há os países que estão diminuídos pela ascensão de canalhas, desmiolados, fanáticos, tontos, facínoras. O zoo é ilimitado e muito variado. Estes países normalmente perdem a legitimidade democrática porque os tiranos percebem que o Tribunal Constitucional os perturba, as Assembleias da República são forças de bloqueio, os procuradores levantam suspeições.

    group of person walking on road

    O grande problema das maiorias absolutas está na construção de poderes eternos. Ninguém deveria governar sem limites. Ninguém devia perpetuar-se no poder. Também as instituições não deviam ser geridas por escolhas políticas ou amizades antigas. Os juízes devem ser fiscalizados e ter uma carreira independente do cartão partidário. Deste modo, construímos as linhas que definem a democracia.

    Infortúnio é eleger um canalha sem fronteiras, sem instituições que o vigiem, sem estruturas que fiscalizem as decisões. A democracia tem um pilar na escolha livre dos votos, mas os outros pés da mesa devem incluir a Economia, o primado da Lei, e as instituições que a garantem. A Lei pode mudar? A Lei é como todas as coisas adaptável à dinâmica da vida, mas não a Lei Fundamental que nos garante a liberdade, a igualdade e a fraternidade. Eu sou um grande adepto de incluir aqui a velocidade temperada por reflexão e a estética.

    A rapidez ajuda a melhorar muitas coisas. Portugal está hipotecado por uma Justiça demasiado lenta sobretudo no direito administrativo e na fiscalização das decisões e escolhas do poder. A estética por sua vez traduz uma necessidade de ser mais ético, mais sábio, mais sofisticado.

    O pilar económico devia ter uma regra de limitação da capacidade de endividamento de cada governo. Não podemos ter uma distribuição de emprego com base nos partidos, um endividamento com base no deslumbramento dos eleitos. A edificação de obra pública sem qualquer sentido e necessidade.

    A Pordata é uma ferramenta fria que nos entrega dados de observação. Devia ser de consulta obrigatória nas escolas. Nela podemos ver o que foi o crescimento da dívida total, da dívida relativa, o custo da administração pública, relacionados ou não com o produto interno bruto (PIB). Na verdade, se lhe colarmos os rostos dos nossos Governos após o 25 de Abril de 1974, temos um modo fácil e limpo de conhecer os grandes gastadores. Sócrates é um campeão, mas na análise relativa Cavaco e Guterres não são de cerimónias também.

    O vínculo da governação às obras públicas é uma das grandes fontes das dívidas. A maior, no entanto, é o tamanho da Função Pública. Temos uma enorme quantidade de funcionários, e leis demasiado protectoras das suas ineficiências. A realidade comprova que maus administradores conseguem baixas eficiências. Se toda a gente arrebanhada dos partidos para as Câmaras, SNS, CP, TAP, etc., fosse trabalhadora, e premiada pelo desempenho, íamos carecer de menos gente, e tínhamos melhores serviços.

    rotten green apple

    O Infortúnio é, pois, o que vem de cima. Muito mais dramático para as consequências de uma governação perdulária é a escolha dos seus dirigentes. Se perpetuamos os incapazes de reflexão cuidada, os mancos em decisão sustentada, os lerdos de logística e de organização, construímos um Portugal medíocre e endividado.

    Pior infortúnio seria ter de escolher entre lideranças fracas, demagogos e bufões. Mas acho que estamos perto. 

    Diogo Cabrita é médico


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.

  • Eu sou o Néscio…

    Eu sou o Néscio…


    Eu sou o Néscio.

    Eu sou o que acreditava nas bombas de destruição massiva que estavam debaixo dos colchões de Bagdad. Acreditei porque me fascinava ouvir o Tony Blair – ponderado, lógico, estratégico. Também depois acreditei no Obama, e depois percebi que se fartaram de construir muros com ele, que nunca acabou a tortura aos islâmicos, que nunca terminou guerra nenhuma. Mentiram-me várias vezes. Assumo, sem titubear, que caí. 

    O Néscio, que sou, acreditava no plano de construção de um Portugal moderno, feito por Cavaco Silva, quando chegámos à Europa. Fui um seguidor do Torres Couto nas formações da UGT, com dinheiro da CEE. Acreditava que os Bancos eram geridos por gente séria e não entendia nada do subprime, nem acreditava que a bolsa fosse um jogo onde nos podiam tramar. Nunca me passou pela cabeça, que colocassem produtos que nos fazem mal, nos alimentos, como os corantes, indutores de sabor, viciantes. Jamais me passava pela cabeça que os árbitros alterassem um jogo de futebol. Nunca acreditei que a indústria farmacêutica colocasse preços especulativos nos seus medicamentos para tratar e salvar pessoas. Eu acreditei em tanta coisa, e empenhei-me na defesa de tantas ideias. Possivelmente sou o Néscio. 

    Girl and Boy Fooling Around with Doughnuts

    O incrível de tudo é que ainda tenho fé!  Depois deste texto, talvez devam desconfiar das minhas certezas, porque:

    1 – Acredito que vamos repensar os seis mil milhões de euros que estamos a perder com o fecho das centrais de carvão do Pego e de Sines.

    2 – Acredito que o Ministério Público tem explicações para o golpe de estado que demitiu António Costa e o governo da Madeira. Tenho a certeza que vão demitir a Procuradora da República.

    3 – Estou convicto de que os médicos vão abrir o SICO – eVM, e por fim, ver como não existiu qualquer mortalidade pandémica abaixo de 50 anos, mesmo em 20 de Janeiro de 2021 (o pico da doença em Portugal).   

    4 – Tenho a certeza que Zeinal Bava explicará como perdeu mil milhões na RioForte. Alguém justificará como se gastaram três mil milhões na TAP para depois a vender por preço muito inferior ao “investido”. Joe Berardo mostrará como se enriquece com empréstimos.   

    pink pig coin bank on brown wooden table

    Enfim, sou um Néscio que deu em protestar! Não consigo ficar indiferente à falta de vergonha do “método comentador” para influenciar a percepção que os ouvintes tiveram dos debates entre candidatos. Não consigo silenciar as dúvidas que se me colocam com a agenda dos novos moralistas. Os embandeirados, transportam suas insofismáveis garantias sobre a imoralidade alheia.

    Eu, Néscio, que acreditava em quase tudo, agora tenho incertezas sobre o clima, sobre o sexo, sobre a Educação, e sobretudo sobre a evangelização ideológica. Não quero ser doutrinado! Não quero ser induzido religiosa ou ideologicamente. 

    Diogo Cabrita é médico


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.

  • … e extinguiram-se

    … e extinguiram-se


    A Breve História do Mundo deveria dizer: os humanos modificam o ambiente, transformam paisagens. Os humanos alteram os cursos dos rios e aplainam montanhas. A Breve História do Mundo deveria referir: os homens matam-se, mas não o suficiente pois reproduzem-se como poucos.

    Então, os humanos são uma praga? Um infortúnio?

    A Breve História do Mundo só podia ter sido escrita por pessoas. A História só existe porque há pessoas. A Humanidade canta a beleza da Terra, descreve-a em livros e pinta-a. O Mundo diria que os humanos o endeusam! Os humanos carregam características tremendas, sendo difíceis de amar.

    view of Earth and satellite

    Mas, se não fossem assim, não eram pessoas. Refilam, protestam, discordam, fogem dos carreiros, inventam e criam coisas novas. O legado dos homens é incomparavelmente mais importante para o Mundo do que o dos cães. Não haveria nenhum destes cães se não os inventassem os humanos.

    A detalhada história da Humanidade diria que um caniche ou um chihuahua não sobreviveriam em selva alguma. Já dos gatos, a realidade é bem diferente. Predadores natos, eles se reproduziriam, matariam tudo o que mexe e tem menos de dez centímetros, e acabariam por se adaptar.

    Aos homens se deve o toiro das corridas de toiros. Aos humanos temos de atribuir as galinhas brancas dos aviários. A espécie, para sobreviver sem fome, percebeu que tinha de evoluir num sentido de uma ferocidade inovadora. A História do Mundo falará das varas, manadas, cardumes, aviários que os humanos produziram para criar seus excessos alimentares.

    Uma coisa feroz e violenta que permite a alimentação de quase oito mil milhões de criaturas, pensadores, e religiosos habitantes da terra. Porque se viram para Deus estas criaturas criadoras que cumprem uma missão divina?

    person holding black and brown globe ball while standing on grass land golden hour photography

    Eles mudam a paisagem, constroem prédios até às nuvens, habitam desertos e gelos que deviam ser inóspitos. Eles voam, navegam, comunicam sem carecer de se ver ou tocar. Eles arquivam informação e escrevem sonhos e fantasias. São tenebrosos e apocalípticos, fizeram desaparecer centenas de outros habitantes da Terra, desmataram florestas, abriram canais e misturaram águas antes intocadas.

    A detalhada História do Mundo falará das bombas e das guerras, dos morticínios e das chacinas.  Haverá um capítulo que explicará como toda a inteligência era intolerante e como todas as ideologias eram evangélicas. Todos desejavam convencer os restantes das suas certezas.

    Assim, um dia, a Breve História do Mundo dirá que os humanos que habitaram na época de um dos aquecimentos da Terra seriam extintos como os dinossauros. Eram inteligentes, criativos, intolerantes e mataram-se. A Terra recuperou nos milhares de anos seguintes.   

    Diogo Cabrita é médico


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.

  • PS e as surpresas eleitorais

    PS e as surpresas eleitorais


    E se até a flor perfuma a mão que a esmaga, a estratégia que destrói ou reduz nem sempre vence. Fica o aroma das pétalas contorcidas, fica a potência da vítima caída aos pés do carcereiro. Nem sempre as estratégias contundentes, e que lançam medos, ofuscam. O executor que vai derramando seu poder nos incautos, ou nos atrevidos, se exagera, enaltece-os.

    Este é o mistério da política. Uma frase bem usada catapulta uma decisão. Uma vaidade, ou uma resposta confusa, despertam a dúvida que se insinua na eleição.

    Pode-se ganhar porque se colocou o oponente num pedestal: que vem ele para aqui fazer? Ele é bom onde está! Pode lançar-se uma farpa dura – esse não é daqui! Pode erguer-se a bandeira independentista para manchar uma boa intenção. Na Madeira está lançada a ideia do invasor que chegou de avião para vingar o PS.

    Eles, os colonialistas, chegaram aos molhos para cumprir a Justiça, apoucando os de lá. A Madeira prepara-se, com este jeitinho bem urdido, para uma vitória esmagadora do PSD. A pesporrência de um director da PJ, que todos sabem ser próximo do PS, levar 300 funcionários, e acabar na prisão inglória de apenas três pessoas, que imediatamente a seguir ficam sem ser ouvidas demasiado tempo, ajuda ao estribilho. A canção já se trauteia por lá. Presumo que teremos outro bailinho da Madeira.

    A PJ decidiu ser protagonista após a queda do Governo, e agora a PSP foi para o Porto destapar o que todos sabem, falar daquilo que se sabe à boca cheia. Faz-se bem em atacar o enriquecimento ilícito? Claro. Faz-se bem em intervir sobre a violência? Claro. O tempo destas acções sobre a reflexão e o protagonismo eleitoral é que parece estranho.

    Portugal vive um tempo de enorme importância, pois é a primeira vez na democracia que ficámos com todos os Governos demitidos e temos tantas eleições sequenciais. Tudo isto porque o PS não honrou com sabedoria e inteligência a sua maioria. Enquistou-se, lavrou as sentenças da vaidade e da arrogância, esqueceu que era necessário corrigir a Lei Eleitoral. Passar a ter um circulo de compensação, como sucede nos Açores, é o mínimo que já se exige. O PS colocou os seus acólitos em todos os púlpitos e esmoreceu os combates que careciam ser feitos. Há inúmeras imaturidades e indecências que conduziram à revolta das polícias, à revolução dos agricultores, à zanga da geração melhor preparada de sempre.

    A isto, o PS respondeu com ataques constantes, com ausência de humor, com falta de sensibilidade política e fez crescer a vítima das marradas! Como o marido cornudo que levanta a mão e perde a razão. Todos os canais insultando a voz contra. Todos os cronistas a despejarem insanidades e calunias sem perceber que a vítima estava a perfumar a mão que lhe batia.

    Foi assim na Suécia, na Holanda, na Argentina, e a cegueira ideológica não percebia que era mais importante corrigir a imagem do poder. Aquilo que está a conduzir ao mal-estar provém de quem governa, e não da sua oposição. Se há turismo a mais, fuga aos impostos em barda, desperdício financeiro a rodos, pobres e más figuras na governação, a culpa não é da oposição.

    Foi deste modo que chegámos ao crescimento para o dobro do Chega e à redução anacrónica da esquerda além do PS. Aqui estão também os resultados evidentes no dia a dia que são afinal o que importa ao cidadão. Não nos toca directamente o banqueiro anarquista e ladrão, mas afecta o quotidiano a rua coberta de pedintes e sem abrigo, o preço das rendas, a enormidade Lagarde de duplicar os encargos com as rendas.

    É mais importante para o voto de 10 de Março a mudança no apartamento do lado do que o banco que faliu. Dói mais a insensibilidade com as casas de banho onde irão os filhos, as certezas das minorias vitimizadas e exigentes e acusadoras do que a ineficácia em escolher um lugar para o aeroporto.

    A proximidade é o importante. O país zangado detesta que culpem quem nunca governou. Não esqueceu o caso do Impostos Único de Circulação (IUC), não esqueceu a nacionalização da TAP, e depois a sua venda em curso, não esqueceu milhares de prédios devolutos do estado, e uma lei que metia as mãos nos bolsos dos herdeiros, e nas posses de cada um. Individualmente, escandaliza mais o ruído, legitimado pelas Câmaras, de um bar frente à porta, que a morte do banqueiro na África do Sul.  

    E assim chegámos à surpresa eleitoral dos Açores – surpresa para os meus amigos do PS. Este é – e será – o novo normal!    

    Diogo Cabrita é médico


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.

  • Reclusão: uma crónica em tom de divulgação

    Reclusão: uma crónica em tom de divulgação


    Pertenço à APAR – Associação Portuguesa de Apoio ao Recluso. É uma associação de direitos humanos que luta na franja mais complexa da rejeição e da demagogia. Uns utilizam as penas de prisão como solução de inevitabilidades, como desincentivo ao crime, redução de maus comportamentos. Claro que inibitório é utilizar o medo como fazem os talibans. Queremos isso para nós? Claro que as ditaduras tendem a ter menos criminalidade e muito mais policiamento. Queremos ditadura?  

    É nessa linha que, em Abril de 2024, nos dias 6 e 7, lançamos um Congresso para debater o sistema prisional, bem como o sistema judiciário e as políticas para a saúde mental. É um conjunto de seis mesas de debate e apresentações onde estarão vinte pessoas de reconhecidos conhecimentos, idoneidade e inigualável coerência na luta pelos direitos humanos.

    Cintaremos com a presença do Professor José Manuel Silva actual presidente da Câmara Municipal de Coimbra, do Arquitecto Jorge Mealha, do Engenheiro Almeida Santos da OVAR, entre outros advogados, médicos, arquitectos, engenheiros, artistas, jornalistas e entidades envolvidas nesta temática. 

    man in black long sleeve shirt raising his right hand

    Vamos discutir a Saúde no contexto de ausência de liberdade. As crianças e as mães nas prisões. A estrutura e desenvolvimento do sistema prisional, desde a arquitectura das cadeias até à importância da reintegração. Se existem, onde se devem localizar os presídios? Aqui se inclui a sobrelotação dos estabelecimentos, a organização e gestão do sistema prisional, o regime de execução das medidas privativas da liberdade, a reinserção social, as religiões no seio prisional, a tecnologia no contexto das soluções para a verificação do cumprimento de penas.

    E tantas outras questões. Por exemplo, carecemos de tantas prisões? Podemos pensar a Inteligência Artificial num modo de suprimir os presídios? Até que limite podemos utilizar a tecnologia? Pulseiras com medicação? Controlo de distância com descargas punitivas de aviso? Devemos usar sempre a limitação de liberdade como castigo? Faz sentido Portugal ser o país com mais longas prisões preventivas e menor percentagem de acusações aos que estiveram em reclusão? Faz sentido manter a inimputabilidade das decisões dos juízes e do Ministério Público?

    Estaremos a discutir urbanismo e lugares adequados para este tipo de instituições. Estaremos a discutir o que é um sistema punitivo e os mecanismos de prevenção e antecipação da violência. Não pode estar de fora a inocência que vai para a cadeia, nem a permissividade de processos sem fim. Um inocente preso é uma barbaridade sem nome. Um doente num presídio é uma deformidade.  

    A APAR arrisca assim um congresso internacional onde deseja ouvir e dar a conhecer pessoas que pensam e discutem há décadas os sistemas prisionais. As prisões deverão servir como lugares de expiação de castigos, ou como lugares de reinserção, ou ainda como a montra mais dura da exclusão social? O que é que penalizamos e podíamos resolver com políticas adequadas, na toxicodependência, na violência de género, nas questões de trânsito? 

    man holding chain-link fence

    Sabemos hoje que o sistema judicial e as políticas de saúde mental estão diretamente ligados ao sistema penal, e por isso nunca poderiam ficar de fora desta reunião. Também a saúde terá, por isso, de estar neste debate. A Saúde nas prisões insere-se num conceito moderno de Saúde para todos, desde a componente psicológica, emocional e física, nunca esquecendo a alimentação e o trabalho e o desporto. Quem sabe se este assunto não seria uma excelente base de desenvolvimento de uma solução sem grades e sem guardas?

    Sou desta Associação e sou deste desafio incrível: o debate e a discussão na franja da exclusão, na zona de fronteira onde se perdem votos e se ganha demagogia.

    Diogo Cabrita é médico


    N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.